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Língua Portuguesa 2

Academia Militar das Agulhas Negras

Comandante - Gen Bda João Felipe Dias Alves

Chefe da Divisão de Ensino- Cel Janilson Campos Teixeira

Organização e Coordenação – Seção de Ensino H

Chefe da Seção De Ensino H – Cel Alessandra Martins Gomes Feitosa

Coordenador da Cadeira de Red/Est – Maj Heitor Fredmann

Professores Adjuntos – Maj Saulo Freire Landgraf

Ten Bárbara Barreiros Cruz


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INTRODUÇÃO

Prezado Cadete,

O estudo da Língua Portuguesa apresenta uma importância


considerada para a formação do Oficial do Exército Brasileiro. A alta
proficiência em leitura e escrita, além de diferenciar vocês como
cidadãos, certamente serão importantes ferramentas na qualificação
ao longo da carreira que, em breve será iniciada.
Tomemos como base a Competência Principal dos currículos
de sua Formação:

Desempenhar as funções de oficial subalterno e intermediário


não aperfeiçoado, bacharel em Ciências Militares, alicerçado nos
valores e tradições do EB.

nossa atividade deverá focar na preparação específica de todos os


cadetes para as atribuições nos postos de Tenente e Capitão. As
ações que serão empreendidas por todos, nos diferentes lugares do
nosso Brasil continental, serão permeadas por diferenças linguísticas
específicas da Língua Portuguesa e pela necessidade em produzir
textos dentro do rigor da norma culta.
Por esse motivo, apresentamos esse material didático, que
será construído ao longo de todo o ano escolar e adaptado às reais
necessidades de todos os Cadetes.
Por fim, teremos um ano escolar bem ativo e buscaremos
estudar a Redação e Estilística aplicada à leitura e elaboração dos
gêneros textuais militares que estarão bem mais relacionados à
pratica de vida de todos.
Desejamos um ano cheio de aprendizagens especiais e de especiais
plantios para futuras colheitas mui excelentes!

Bons Estudos!!

Cel Alessandra M. G. Feitosa


Chefe da Seção de Ensino H
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Caro Cadete,

este material foi elaborado para o seu preparo intelectual. Abaixo, você
encontrará alguns ícones que orientarão seu estudo:

- parte teórica

- exercícios

- tome nota

- desafios

- links de vídeos complementares

- aprofundando

- AVA

- texto para leitura fora da sala de aula


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CÓDIGOS DE CORREÇÃO DE REDAÇÃO

Código O que tem que ser verificado


Ø Ausência de palavra
Tv Tempo verbal inadequado
xxxxxxx Ortografia
Repetição de palavras
Concordância nominal ou verbal
/ Pontuação
Co Coesão
Coer Coerência
Regência verbal ou nominal
Colocação pronominal
TF Tópico frasal
Arg Argumento
Conc Conclusão
IL Incoerência localizada
Red Redundância
Clic Clichê
Mo Marcas de oralidade
MP Mudança de pessoa
Parágrafo
Margem
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GRADE DE CORREÇÃO DE REDAÇÃO

GRADE DE CORREÇÃO – AMAN – RED EST

COMPETÊNCIA ESCRITORA

1- MODALIDADE Deverá ser observado se o CADETE demonstra domínio da


ESCRITA modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.

0 Demonstra desconhecimento da modalidade escrita da língua portuguesa.

1 Demonstra domínio precário da modalidade escrita, de forma sistemática, com


diversos e frequentes desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções de
escrita – até 02 ocorrências para cada desvio citado.

2 Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de


escolha de registro e de convenções de escrita – até 01 ocorrência para cada desvio
citado.

3 Demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa e


de escolha de registro e de convenções de escrita – nenhuma ocorrência

2- COMPETÊNCIA Deverá ser observado se o CADETE compreendeu a


LEITORA/ proposta da redação, articulou as diferentes leituras da
INTERTEXTUALIDADE coletânea e aplicou conceitos das diferentes áreas e
‘diferentes leituras’ para desenvolvimento do tema de
acordo com o gênero textual proposto.

0 Fuga total ao tema/ não atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa.

1 Apresenta o assunto, tangenciando o tema, ou demonstra domínio precário do texto


dissertativo-argumentativo, com traços constantes de outros tipos textuais.

2 Desenvolve o tema recorrendo à cópia de trechos dos textos da coletânea ou


apresenta domínio insuficiente do texto dissertativo-argumentativo, não atendendo à
estrutura com proposição, argumentação e conclusão.

3 Desenvolve o tema por meio de argumentação previsível e apresenta domínio


mediano do texto dissertativo-argumentativo, com proposição, argumentação e
conclusão.

4 Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente, apresenta bom domínio


do texto dissertativo-argumentativo, com proposição, argumentação e conclusão.
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3. COMPETÊNCIA
ESCRITORA/ Deverá ser observado se o CADETE organiza,
TEXTUALIZAÇÃO/ relaciona e interpreta fatos, opiniões e argumentos.
INFORMATIVIDADE/
INTENCIONALIDADE

0 Apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados à proposta de


produção textual.

Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados à proposta de


1
produção textual.

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados à proposta de produção


2 textual, mas desorganizados ou contraditórios e/ou limitados aos textos
motivadores.

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados à proposta de produção


3
textual, mas limitados aos textos motivadores ou pouco organizados.

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados à proposta de produção


4
textual, de forma organizada, com indícios de autoria.

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados à proposta de produção


5
textual, de forma consistente e organizada, configurando autoria.

Deverá ser observado se o CADETE domina:


4. COMPETÊNCIA a) domina a ordenação paragrafal, ou seja, elabora
ESCRITORA / os parágrafos e estes guardam uma lógica entre si;
TEXTUALIZAÇÃO/
COERÊNCIA – (Coer) b) a lógica interna dos parágrafos e, em
consequência, a organização de ideias básicas em
cada parágrafo;
c) a coerência externa, mantendo conexão com a
coletânea e com a temática abordada.

1 Texto apresenta incoerências localizadas que comprometem a lógica textual.

Texto apresenta incoerências localizadas, ou inter ou intra parágrafos, que


2
não afetam a lógica interna, ou somente paragrafação inadequada.

Texto apresenta uma paragrafação coerente, mantendo de forma lógica as


3 coerências inter/intraparágrafos, guardando, ainda, uma coerência externa
com a temática provocada pela coletânea.
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Quanto ao aspecto da coesão, deverão ser


observados:
a) os mecanismos que se referem à retomada, à
5. COMPETÊNCIA progressão textual, atentando para o uso variado
ESCRITORA / desses recursos como a elipse, a nominalização, a
TEXTUALIZAÇÃO/ pronominalização, o sintagma nominal, os
COESÕES (coes) conectivos e a pontuação e
b) da capacidade de inserir novos referentes que
apresentem indícios de autoria e de posicionamento
crítico.

Não faz uso de elementos coesivos, ou o faz de maneira inadequada e ineficaz,


1
contribuindo para a construção de um texto truncado, ambíguo e ilegível.

Faz uso de poucos e, às vezes, inadequados elementos coesivos com


2 prejuízos pontuais para a progressão textual. Predomínio de períodos simples,
orações absolutas.

Faz uso de poucos elementos coesivos, com predomínio de um ou dois


3 mecanismos de coesão (por exemplo, pronominalização e repetição), com
certo prejuízo para a progressão textual.

Faz uso de variados elementos coesivos de maneira adequada, mas sem


4
apresentar marcas de autoria.

Faz uso de elementos coesivos de maneira adequada, contribuindo para a


5
progressão textual, apresentando marcas de autoria.
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Introdução à Redação e Estilística

Escrever um texto não é uma atividade fácil e de rápida execução.


Há quem diga que para escrever bem tem-se que ler muito. Engano.

Para se escrever bem, tem-se que escrever muito. Para se ler bem,
tem-se que ler muito. São competências que, embora interligadas, possuem
naturezas diferentes por requererem habilidades, também, diferentes e bem
específicas, como podemos destacar abaixo:

LER ESCREVER
Decodificar Codificar
Compreender Normatizar (ortografia, notações)
Interpretar Comunicar
Estabelecer relações Textualizar
Criticar, replicar Intertextualizar

A partir das habilidades podemos observar que a escrita demanda


trabalhos de elaboração bem mais avançados que a leitura, como por exemplo
o normatizar, ou seja, escrever dentro dos padrões da norma culta da Língua, ou
o intertextualizar e o textualizar que, juntos, retratam as qualidades de um texto
bem elaborado.

Sobre a Leitura, podemos nos apoiar na definição da Professora Ingedore


Koch (2006),

A leitura é a atividade de captação das


ideias do autor, sem se levar em conta as
experiências e os conhecimentos do leitor. O
foco de atenção é, pois, o autor e suas
intenções, e o sentido está centrado no autor,
bastando tão-somente ao leitor captar essas
informações.

A leitura faz parte do nosso dia a dia. O tempo todo estamos lendo. Lemos
textos escritos, escutamos textos orais. As diversas semioses (*) que nos
circundam fazem com que estejamos sempre atentos, até de forma
subconsciente nosso cérebro lê. Quer ver um exemplo?
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Imagina que você está dirigindo e, desatento. Percebe que o sinal ficou
vermelho e que seu carro está muito acelerado. O que você faz? Ou erradamente
vai avançar o sinal, ou vai dar uma brusca freada. Esses dois comportamentos
foram acionados a partir da leitura de um código visual, que acionou uma série
de comportamentos internos em você sobre o que é certo ou errado no trânsito.

Acontece que, como seres multifacetados (*) e multiletrados (*) que


somos, participamos de diversas esferas ou círculos sociais. Essas esferas de
convivência podem ser a escola, a família, a Igreja, o trabalho... enfim,

Esferas são instâncias de atividade humana que produzem


textos com algumas características comuns, isto é o lugar onde
os textos ocorrem/circulam (lugar de produção/recepção), Como
o literário, o religioso, o jornalístico, o escolar, etc.

TOME NOTA

ESCREVA COM SUAS PALAVRAS

SEMIOSES

MULTIFACETADO

MULTILETRADO
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UDI – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE TEXTO

Assunto: a) Noção de Gênero Textual, conceito e características.

Os textos produzidos em contextos específicos chamaremos de


GÊNERO TEXTUAL.

Segundo Baktin (1997), gêneros textuais são tipos relativamente estáveis


de enunciados elaborados nas diferentes esferas de utilização da língua.
Tomados como enunciados concretos (orais e escritos), refletem as condições
específicas e as finalidades de cada esfera pelo conteúdo temático, pelo estilo
verbal e pela construção composicional.

Podemos resumir gênero textual como

✓ um enunciado estável;
✓ com estrutura prototípica definida pelo conteúdo temático;
✓ propósito comunicativo; e
✓ estilo verbal.

Outro estudioso importante, Bazerman (2006), define Gênero Textual


como um conjunto de convenções (ou “códigos de significação”) associados a
uma prática social e à prescrição de papéis e identidades, com formas tipificadas
de interação social.

A expressão “prescrição de papéis” está relacionada aos diferentes


momentos e posturas que os interlocutores ocupam no processo de interação
social. Trata-se de entender com quem se fala, o que se fala, por que se fala e
como se fala.
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1- Identifique os gêneros textuais abaixo e justifique a partir da tríade: tema,


estrutura composicional e propósito comunicativo

a) ______________________________
_____________-_______________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________

b) ______________________________
____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________

c) ______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
______________________________
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d) ______________________________
_____________________________
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_____________________________
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______________________________
_____________________________

e) ______________________________
_____________________________
______________________________
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_____________________________
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_____________________________

f) ______________________________
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______________________________
_____________________________
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_____________________________
______________________________
_____________________________
______________________________
_____________________________
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Tome Nota!

Fonte: Aula Inaugural Red Est- Cel Alessandra- 01 FEV 23

As diferentes esferas, de que o indivíduo/sujeito participa, requerem dele


conhecimento específico para interagir e participar das atividades daquele grupo.
Esses posicionamentos e essas práticas possuem discursos próprios, ligados
aos seus sistemas de crenças.

Por esse motivo que, quando você está da Igreja, participando de alguma
reunião religiosa, você precisa acreditar nas temáticas que ali são professadas,
você precisa participar das práticas discursivas e se posicionar quanto ao que ali
é difundido.

Quando você está na AMAN, você participa das reuniões, instruções e


acredita na Instituição, na missão que ela possui e se identifica com a Doutrina
Militar e com suas tradições e seus valores. Esse conjunto de práticas é regido
por textos específicos para as diferentes finalidades. Dentre eles citamos as Leis,
os Decretos, os Regulamentos, as Instruções Gerais, os Manuais, os
documentos próprios da rotina militar, dentre outros. Aqui, listamos os mais
importantes, nesse momento de formação enquanto Cadete: alusivo, DIEx,
Relatório, Nota para BI, Ordem de Serviço, Ofício, dentre outros.

Nesse contexto emerge o conceito de Discurso, que será aqui entendido


como o uso da linguagem como forma de prática social e não como
atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais.

1- é o modo de ação sobre o mundo e sobre os outros, um modo de


representação;
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2- a relação dialética entre o discurso e a estrutura social (é moldado e


restringido pela estrutura social);

Por isso é tão importante a percepção das práticas discursivas, dada a


relevância desse conceito no desenvolver a elaboração de textos orais ou
escritos com a finalidade de influenciar os leitores e/ou interlocutores.

GÊNEROS TEXTUAIS DA ESFERA MILITAR

No âmbito militar, várias documentações são produzidas com o intuito de


orientar atividades, missões, manobras e de promover as visitas, inspeções e
coordenação do Comando do Exército Brasileiro: Regulamentos, Manuais,
Ordem de Serviço, Relatórios, Pareceres, Requerimentos, Alusivos, Memórias,
Notas Técnicas, são documentos específicos que são produzidos sob a
orientação específica de um setor com tipos textuais bem especificados.

Documentos de rotina, que buscam a comunicação interna e externa


da OM são veiculados por meio de um sistema eletrônico, o Sistema de
Protocolo e Eletrônico de Documentos (SPED). Trata-se de uma ferramentas
desenvolvida pelos profissionais da Força para consumo e divulgação interna do
Exército Brasileiro.

Dentro do SPED, ao clicar em redigir documentos, abre-se a tela com os


documentos da rotina militar:
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Nesse rol de documentos, você vai encontrar todos esses listados acima,
com as seguintes especificidades:

a) DIEx - Forma de correspondência utilizada pela autoridade militar ou


pelo militar, com a finalidade de tratar de assuntos oficiais, transmissão de
ordens, instruções, decisões, recomendações, encaminhamentos de
documentos, solicitações, comunicar assuntos de serviço, esclarecimentos,
informações e outros, devendo ser preferencialmente utilizado com suporte
eletrônico (0 documento arquivado/enviado por rede de computadores ou por
meio físico de transporte de dados, outros, porém continua sendo um DIEx), para
permitir agilidade e oportunidade.

b) DIEX simplificado - é destinado para encaminhamento, remessa e


restituição de outros documentos, como capa de 'FAX', restrito no âmbito da
Força e para rápida comunicação entre as partes interessadas.

c) Ofício- documento pelo qual as autoridades militares se correspondem


com autoridades da Administração Pública e Privada, nas esferas Nacional e
Internacional, a respeito de assunto técnico ou administrativo, de caráter
exclusivamente oficial, podendo:

1. tramitar por meio físico / papel impresso;


2. substituir o documento FAX, desde que seja citada a forma de
transmissão no corpo do documento, e
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3. ser utilizado com suporte eletrônico (o documento é


arquivado/enviado por rede de computadores ou por meio físico de transporte de
dados, outros, porém continua sendo um oficio), desde que seja certificado
digitalmente por estrutura definida pelo Ministério da Defesa.
d) Nota para Boletim- documento proposto por uma autoridade
subordinada competente, sujeito à aprovação do comandante, chefe ou diretor,
para fim de publicação em seu BI, podendo ser utilizado suporte eletrônico (o
documento é arquivado/enviado por rede de computadores), ou ser substituído
por mensagem eletrônica, sempre que houver meios físicos adequados.

e) Informação para requerimento:

A informação sobre o requerente segue as disposições estabelecidas e


deve possuir:

1. cabeçalho.

2. texto.

a. o amparo do requerente - apenas citar o enquadramento completo do


texto legal sobre o assunto, que constitua o fundamento legal da pretensão;

b. o estudo fundamentado - onde são apreciados os dados informativos


sobre o requerente, verificando-se a coerência entre o que é requerido e o
amparo legal, e

c. Parecer - nos escalões de comando diferentes daquele a quem é


dirigido o requerimento, caberão apenas dois tipos de pareceres básicos, o
encaminhamento ou o arquivamento, conforme exemplificado a seguir: Todo
requerimento que satisfizer às exigências legais sairá da OM de origem instruído
com as informações e os documentos necessários ao seu estudo e à decisão,
sendo encaminhado à autoridade competente (despacho final), por meio do
escalão de comando.

f) Requerimento- documento em que o signatário pede à autoridade


competente o reconhecimento ou a concessão de direito que julga possuir,
amparado na legislação que regula o objeto pretendido.
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Fora do SPED, os demais documentos que transitam na esfera,


eminentemente, militar são:

a) Relatório – Expediente contendo exposição minuciosa de fatos ou


atividades que devam ser apreciados por autoridade competente e modelos para
elaboração deste documento são encontrados em regulamentos, manuais e
instruções específicas, podendo ser manuscrito ou utilizado suporte eletrônico,
sempre que houver meios físicos adequados. O relatório consta de três partes:
1) cabeçalho, destinado à identificação;
2) parte expositiva, na qual constará o assunto propriamente dito do
relatório; e
3) conclusão, contendo os principais resultados obtidos e as sugestões
sobre determinados assuntos que devam ser postos em evidência.

b) Ordem de Serviço – Documento formal emitido por uma autoridade


com a finalidade de determinar e orientar ao escalão subordinado a execução de
alguma atividade administrativa, eventual ou de rotina. A ordem de serviço consta
das seguintes partes:
1) Finalidade;
2) Referências;
3) Objetivos;
4) Execução (participantes, período, uniforme, cronograma sintético);
5) Ordem aos Elementos subordinados; e
6) Prescrições diversas.

c) Ordem de Instrução – Documento formal emitido por uma autoridade


com a finalidade de determinar e instruir o escalão subordinado a execução de
alguma ação em combate, instrução militar ou serviço de escala.

d) Parecer – é a manifestação de um órgão técnico sobre assunto


submetido à sua consideração e pode fazer parte de um processo para o qual
apresenta uma solução, justificando-a por meio de dispositivos legais e
informações
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e) Ata - é lavrada, geralmente, em livro próprio, devidamente autenticado,


cujas páginas são rubricadas pela autoridade que redigiu o termo de abertura,
ou em folhas de papel, tais como ata de exame, ata de inspeção de saúde e
outras. É constituída das seguintes partes: preâmbulo, contendo a data, o local
da reunião, as pessoas presentes e o assunto (s) a ser (em) tratado(s); parte
expositiva, onde são narrados todos os assuntos tratados na reunião (sessão);
e fecho, onde constará a hora, o motivo do encerramento e a assinatura do
presidente e do secretário dos trabalhos.
Os termos utilizados na parte expositiva serão escritos por extenso, sejam
números, abreviaturas ou siglas. Quando lavrada em livro próprio, não haverá
abertura de parágrafos, bem como espaços e/ou linhas em branco.
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f) Memória – Documento utilizado para a auxiliar a tomada de decisão


do escalão superior. Caracteriza-se pela análise de algum problema,
discriminando de forma sucinta o assunto; a origem do problema; a descrição do
problema; o levantamento dos dados disponíveis; a apreciação à luz dos dados
disponíveis e da legislação vigente; o relacionamento da legislação pertinente;
e, a apresentação de uma proposta de solução. É marcada pelo perfeito
entendimento de seu objeto (o problema), e pelo ordenamento dos dados e das
ideias que possibilitem a solução, por intermédio da aplicação de método
simplificado de raciocínio lógico. Constitui um instrumento de grande valor à
disposição do chefe militar para a tomada de decisões, particularmente em
assuntos mais simples. Em seu timbre, a colocação das Armas Nacionais é
opcional.
Língua Portuguesa 21

g) Nota Técnica- É um documento elaborado por técnicos


especializados em determinado assunto e difere do Parecer pela análise
completa de todo o contexto, devendo conter histórico e fundamento legal,
baseados em informações relevantes. É emitida quando identificada a
necessidade de fundamentação formal ou informação específica da área
responsável pela matéria e oferece alternativas para tomada de decisão.

h) Manual- Documento que trata de questões relativas a doutrina,


instrução e emprego das organizações militares da Força Terrestre.

i) Instruções Gerais – prescrevem normas de procedimento relativas às


atividades gerais do Exército, não especificadas em outras publicações.

j) Regulamentos- conjunto de preceitos que regulam o comportamento,


as atitudes militares e a vida administrativa das organizações militares.

k) Decretos- ato administrativo de competência do Presidente da


República, destinado a prover situações gerais ou individuais, abstratamente
previstas, de modo expresso ou implícito, na lei.

i) Alusivos – documentos de caráter histórico-enaltecedor das virtudes


militares de antigos líderes militares ou de momentos históricos de grande
relevância, com a finalidade de celebrar um dia de importância festiva no Exército
Brasileiro. São divididos em quatro momentos, a saber:
1) Primeiro momento – contextualização da data e o que ela comemora.
2) Segundo momento – dados sobre a vida de determinado vulto histórico
3) Terceiro momento- importância do vulto ou data para o EB.
4) Quarto momento – convocação aos discípulos ou reflexão dos
integrantes da Força quanto ao contexto histórico do fato.

APROFUNDANDO
Essas orientações podem ser acessadas na EB10IG 01.001
INSTRUÇÕES GERAIS PARA. A CORRESPONDÊNCIA. DO EXÉRCITO
Língua Portuguesa 22

Em nível acadêmico, considerando a formação do futuro Bacharel em


Ciências Militares, temos inclusive a elaboração de:

a) Resumo- é um gênero textual que busca sintetizar, evidenciar,


destacar as ideias principais de um texto maior, sem apresentar juízo de valor
ou emitir opinião pessoal a respeito do tema. De caráter meramente expositivo,
ressalta as ideias principais.

b) Resenha- é um gênero textual que mescla o resumo, e descreve, ou


analisa, ou opina, sobre determinado livro, filme, álbum musical ou qualquer obra
de natureza cultural. Esse gênero pode ser dividido em duas modalidades:
- resenha descritiva (de caráter expositivo); e
- resenha crítica (de caráter expositivo-argumentativo).

c) Artigo de Opinião- é um texto de caráter argumentativo em que o


autor defende um ponto de vista sobre determinado tema. Escrever um artigo de
opinião é manifestar no papel o seu ponto de vista sobre determinado assunto.
É utilizar-se de seu conhecimento de mundo para convencer o seu leitor a aceitar
ou adotar as suas percepções e impressões sobre determinado tema. Esse tipo
de texto está presente no cotidiano de todos e, por meio dele, tomamos
conhecimento de uma infinidade de perspectivas sobre um mesmo fato, o que
auxilia no desenvolvimento da capacidade crítica e argumentativa.
Língua Portuguesa 23

Reconhecendo o texto:

➢ A linguagem é não literária


➢ O assunto é amplo e deve ser objeto da expressão da realidade
(ecologia, terrorismo, educação, direitos humanos, entre outros).
➢ O tema é a especificidade do assunto, um recorte do assunto. Repare:

Assunto Tema

Guerra O conflito entre a Rússia e a Ucrânia

➢ A tese é o posicionamento de quem redige e aparece, na estrutura do


texto, depois do tema. Repare:

O desenvolvimento intelectual é um esforço contínuo de aprendizagem


(tema). Somente muito estudo alcança-se o raciocínio crítico, entende-se com
clareza diversos assuntos, questiona-se falsos conceitos e, por consequência,
desenvolve-se a inteligência (tese).
O título constitui o resumo do tema e sua importância
consiste em chamar a atenção do leitor para o seu texto.
Portanto, recomenda-se que seja criativo, curto e simples.

Lembre-se: palavras rebuscadas não


costumam atrair leitores.

Reconhecendo a estrutura do Gênero, o artigo de opinião possui três


partes:

a. Introdução;
b. Desenvolvimento e
c. Conclusão

d) Trabalho de Conclusão de Curso – Trata-se de uma pesquisa


acadêmica realizada como avaliação final de um Curso de Graduação. O tipo de
pesquisa e a orientação do TCC variam de acordo com a área do curso de
graduação. No caso da AMAN, bacharelado em Ciências Militares, a pesquisa é
Língua Portuguesa 24

voltada para os objetos de estudo de interesse do EB e apreendidos durante o


curso de formação de oficial combatente.

1- Reconheça os gêneros textuais abaixo, justificando-o por meio


de sua estrutura composicional, de seu propósito comunicativo e de sua
temática abordada.

a)
Língua Portuguesa 25

b)
Língua Portuguesa 26

c) Em uma determinada fase da evolução da


humanidade, nossos ancestrais
conscientizaram-se de que era necessário
se reunir em grupos para enfrentar as
dificuldades da melhor maneira possível.
Essa organização de auxílio mútuo foi
evoluindo, e seus integrantes passaram a
pintar seus corpos com cores específicas e
a usar vestimentas semelhantes, permitindo
o seu reconhecimento. Mas apenas isso não
bastava, pois era importante que outros
grupos pudessem identificar, a certa
distância, seus componentes, suas terras e suas propriedades. Dessa forma, as cores
identificadoras começaram a ser levantadas em lanças e mastros, criando, então, a
bandeira. Essa distinção por meio de formas e cores ganhou tanta força que perdura
até os dias atuais.

A Bandeira Nacional significa muito mais do que nos foi ensinado nos bancos escolares.
Além das riquezas naturais, da índole pacífica do nosso povo e da aspiração de ordem
para que haja progresso, o verde, o amarelo, o azul e o branco representam um passado
de conquistas, árduas lutas e intensos esforços por parte de nossos antecessores para
que, hoje, possamos desfrutar da herança que nos legaram neste vasto território. As
cores também traduzem o compromisso que assumimos para transmitir aos nossos
descendentes um País ainda melhor.

(...)

Soldados do invicto Exército Brasileiro, diante de vós desfralda-se o símbolo


máximo da unidade indivisível de nossa Pátria, tesouro histórico, invicto e imortal! Esta
Bandeira encerra o heroísmo e o sacrifício das vitórias passadas, os desafios do
presente e a grandiosidade do futuro do Brasil. A ela deveis vos dedicar. Com fé
inabalável na nossa missão constitucional, estejamos sempre preparados para
defender, com nosso sangue generoso, o símbolo maior de nossa Pátria. Assim
seremos dignos de viver sob sua majestosa proteção como cidadãos honrados e
conscientes de nossas obrigações para com a Bandeira e o povo de nosso amado
Brasil.

Exército Brasileiro, em continência à Bandeira, apresentar arma!

Brasília - DF, 19 de novembro de 2022.


Língua Portuguesa 27

Assunto: b) Critérios de Textualidade dentro dos Gêneros


Textuais

Para se ler bem um texto, precisamos utilizar as seguintes estratégias:


seleção - antecipação - inferência e verificação.

Todas essas estratégias são iniciadas pela leitura do título e das


informações que circulam esse texto, tais como, nome do autor, meio de
veiculação do texto, gênero textual, título e a distribuição e configuração das
informações no texto.

A partir desses dados, fazemos a antecipação de informações e


levantamos hipóteses que, durante a leitura do texto, serão refutadas ou
rejeitadas. Se as hipóteses forem rejeitadas, nossa mente fará o processo de
reformulação novamente, estabelecendo, assim, o processo de interação com o
texto. Este mesmo processo deve ser projetado para o texto a ser produzido.

Um texto bem escrito precisa atender aos critérios de textualidade:


✓ INFORMATIVIDADE,
✓ INTENCIONALIDADE,
✓ INTERTEXTUALIDADE,
✓ ACEITABILIDADE,
✓ SITUACIONALIDADE,
✓ COESÃO E
✓ COERÊNCIA.

Vejamos esses critérios:

Informatividade

- refere-se à distribuição da informação no texto e ao grau de


previsibilidade/redundância com que a informação nele contida é veiculada. Para
que seu texto tenha um bom nível de informatividade é preciso que seu
conhecimento de mundo seja amplo, diversificado e, se possível, dependendo do
assunto, aprofundado de modo a que você tenha repertório para elaborar o seu
projeto de dizer.
Língua Portuguesa 28

A leitura é a principal porta de alimentação para a informatividade.


Quem lê muito, angaria condições de desenvolver as habilidades de
criticar, replicar e estabelecer relações entre os assuntos, os temas, os fatos e
os argumentos.
Segundo Koch (2006),
“todo texto organiza-se pela combinação de dois
movimentos, um de retroação, por meio do qual se
retoma a informação anteriormente introduzida, que vai
servir de ancoragem para o movimento de progressão,
responsável pela introdução de informação nova.
(KOCH, 2006; p.41)”

Vamos aplicar esse conhecimento:

Título: A educação em tempos de Covid-19


Tema: educação e pandemia

1- A respeito do título, enuncie três hipóteses de argumentação que podem


ser traçadas no artigo de opinião.
a)___________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

b)___________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

c)___________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

2- A partir de suas hipóteses, sua perspectiva discursiva é a de que o texto


agregue informações positivas, ou apresente questões para reflexão?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Língua Portuguesa 29

3- O texto que será apresentado é um trecho de um artigo de opinião escrito


por Mozart Neves Ramos, professor do Instituto de Estudos Avançados da USP-
Ribeirão Preto. Publicado no Correio Braziliense, 02/04/2020. Considerando a
qualificação do autor do texto, você acredita que ele trará soluções ou
questionamentos, ou nenhum dos dois?
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Vamos à leitura do Texto:

A educação em tempos de Covid-19

Possivelmente, aqui no Brasil, a melhor solução para os alunos das redes


públicas de ensino consistirá no uso de conteúdos transmitidos por meio dos
celulares com internet. Exemplo dessa situação vem do estado de São Paulo,
no qual a Secretaria de Educação negocia com as operadoras o patrocínio para
bancar a conexão de Wi-Fi dos alunos que tenham ao menos um smartphone.
Esse período vai exigir dos gestores que pensem fora da caixa.
No meu ponto de vista, essa será oportunidade para repensar o papel da
escola e dos pais na vida escolar dos estudantes. Os pais, sobrecarregados
pelos diferentes afazeres, estão cada vez mais terceirizando para a escola o seu
dever de educar, na contramão do que apregoa o art. 205 da Constituição
Federal, que afirma que educar é um dever do Estado e das famílias. Em uma
de suas homilias, o papa Francisco afirmou, em tom preocupado: “Chegou a
hora de os pais e as mães voltarem do seu exílio e recuperarem a sua função
educativa. Oremos para que o Senhor conceda aos pais esta graça: a de não se
autoexilarem da educação dos filhos”.
Outro aspecto que podemos tirar como lição: é preciso estudar como usar
as novas tecnologias em harmonia com as aulas presenciais e como estabelecer
um equilíbrio entre o ensino presencial e o ensino virtual. Hoje enfrentamos em
nosso país árdua discussão sobre o uso do ensino mediado por tecnologias.
Talvez esse período nos ensine que ambas as modalidades podem conviver em
harmonia em prol de um projeto pedagógico que atenda às necessidades de
uma educação voltada para o século 21. O não enfrentamento da questão
talvez nos remeta à situação atual no que se refere às enormes desigualdades
de acesso entre escolas públicas e particulares.
Trecho de artigo de opinião escrito por Mozart Neves Ramos, professor do
Instituto de Estudos Avançados da USP-Ribeirão Preto. Publicado no Correio
Braziliense, 02/04/2020.
Língua Portuguesa 30

4- Após a leitura do artigo, como se dá a avaliação da informatividade do


texto em relação ao título? Suas hipóteses foram concretizadas?

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5- Na sua opinião, o texto é pontual, esclarece ou deixa o tema em aberto?

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6- Observe a estrutura do texto, e responda?

a) Qual a tese que é defendida?


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b) É possível observar a retroação e progressão temática/informativa no


texto? Quais palavras garantem essa atividade textual?
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Língua Portuguesa 31

Aceitabilidade

É a contraparte da intencionalidade. Refere-se à concordância do


interlocutor em entrar num "jogo discursivo” e acatar as regras e os papéis
prescritos. Trata-se de um aspecto relacionado aos interlocutores e à interação
propriamente dita, pois indica a expectativa do receptor em compreender a
mensagem do texto.

É por meio da aceitabilidade que sentidos são acionados, pois


dependendo do lugar e de quem fala, determinado texto pode ter ou não sentido
e aceitação dentro da esfera social. O sentido não se constrói somente pela
intenção do autor em apresentar uma ideia, mas o receptor, por sua vez, também
tentará estabelecer uma coerência possível para ofertar uma interpretação
plausível ao documento.

Imagine esse corpo de um DIEx resposta. O DIEX original solicitava a


informação de quantos alunos foram aprovados em um determinado concurso.
A resposta foi a seguinte:

1. Informo que nenhum aluno deste Estabelecimento de Ensino foi aprovado


no processo seletivo indicado.
2. Esclareço, conforme a tabela abaixo, o efetivo de alunos aprovado:

1 º ano 0

2 º ano 0

3 º ano 0

3. Para maiores esclarecimentos, coloco à disposição desta Diretoria, o Maj


xxxxxxxxxxx, por meio do ramal 6087.

Como pode ser operado o fator da Aceitabilidade (tanto na perspectiva do


emissor quanto do receptor) nesse documento?

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Língua Portuguesa 32

Retomando ao texto constante do fator INFORMATIVIDADE, apresente


suas considerações sobre a questão da aceitabilidade associada ao fator
informatividade.
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Intencionalidade

Refere-se aos diversos modos como os sujeitos usam os textos para


concretizar suas intenções comunicativas. Está relacionada à intenção como o
locutor mobiliza os tipos de texto, os gêneros textuais, as manifestações
linguísticas e coesivas de modo a obter efeitos específicos.
Uma das formas de marcar a intencionalidade é por meio da combinação
das diversas semioses, ou das palavras, dentre elas destaca-se o uso de
modalizadores, do léxico valorativo e de uma seleção lexical específica para
obter o efeito e o objetivo desejados; dentre outras.
Dessa forma, podemos afirmar que não existe discurso neutro, isso
porque todo texto é produzido através da mediação de nossos propósitos,
perspectivas e convicções, marcados pela nossa subjetividade e pelos nossos
conhecimentos (de mundo, enciclopédico, linguístico...).
A mensagem pode estar implícita ou explícita no texto. Caberá ao leitor
desvendar esses segredos a partir das pistas textuais nele constantes.

Observe o cartaz abaixo:

Disponível em: acnur.org. Acesso em: 11 dez. 2018.


Língua Portuguesa 33

No cartaz acima, o uso da imagem do calçado aliada ao texto verbal tem


o objetivo de:

a) criticar as difíceis condições de vida dos refugiados.


b) revelar a longa trajetória percorrida pelos refugiados.
c) incentivar a campanha de doações para os refugiados.
d) denunciar a situação de carência vivida pelos refugiados. E simbolizar a
necessidade de adesão à causa dos refugiados

Leia a tirinha abaixo e responda:

a. Qual a intencionalidade inicial presumida na tirinha?


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b. Essa intencionalidade se preserva após a leitura de todo o texto? Por
quê? Justifique argumentando qual o recurso discursivo acionado para construir
esse critério de textualidade.
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Intencionalidade na comparação de textos escritos com a mesma


temática

Gênero Textual: Notícia


Notícia 1: O que se sabe sobre os objetos voadores derrubados pelos EUA

A derrubada pelos Estados Unidos de quatro objetos voadores não


identificados (óvnis) que sobrevoavam a América do Norte nos últimos dias
levantou preocupações de segurança e acirrou as já tensas relações entre os
governos americano e chinês.
No domingo (12/2), os EUA anunciaram que derrubaram o quarto objeto
perto do Lago Huron, na fronteira com o Canadá. A ordem veio do presidente
americano, Joe Biden.
Por meio de um comunicado, o Pentágono, sede do Departamento de
Defesa dos Estados Unidos, informou que havia uma preocupação de que o
Língua Portuguesa 34

objeto, voando a uma altitude de 6,1 mil metros, interferisse no tráfego aéreo
comercial.
O artefato foi detectado pela primeira vez no Estado americano de
Montana no sábado, acrescentou o órgão.
O general Glen VanHerck, chefe do Comando de Defesa Aeroespacial,
descreveu o objeto como não tripulado, de forma octogonal, e não como uma
ameaça militar. Ele foi abatido por um caça F-16 às 14h42, horário local.
"O que estamos vendo são objetos muito, muito pequenos que produzem
uma seção transversal de radar muito, muito baixa," disse ele.
A especulação sobre o que os objetos podem ser se intensificou nos
últimos dias.
Em um pronunciamento nesta segunda, o porta-voz de Segurança da
Casa Branca John Kirby afirmou que os EUA concluíram que a China tem um
programa militar de balões de altitude para coleta de dados de inteligência - ou
seja, um programa de balões espiões.
Kirby afirmou que o primeiro objeto é um balão chinês, mas que ainda faltam
informações sobre os outros três. Segundo ele, alguns deles caíram no mar
ainda não foram recuperados - e só então o governo terá certeza sobre sua
finalidade.
Tanto os Estados Unidos quanto o Canadá continuam trabalhando para
recuperar os destroços, mas a busca no Alasca foi dificultada pelas condições
no Ártico.
Ele também disse que, embora os três objetos derrubados no fim de
semana não sejam uma ameaça militar, eles oferecem um alto risco para a
aviação civil por poderem causar acidentes.

Sem evidência de alienígenas


Embora sejam associados a naves de procedência extraterrestre no
imaginário popular, óvnis consistem em qualquer objeto voador que não possa
ser imediatamente identificado ou explicado, o que inclui balões meteorológicos,
aeronaves militares, veículos privados ou fenômenos naturais.
Antes do pronunciamento de Kirby nesta segunda, a secretária de
Comunicação do governo, Karine Jean-Pierre, afirmou que não há nenhuma
indicação de que os objetos tenham origem alienígena.
A secretária de Comunicação provocou risadas entre muitos jornalistas ao
dizer que adorava o filme ET - O Extraterreste, mas queria assegurar a
população dos EUA que não há indicação de seres vindos de outros planetas
para a Terra.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cprvewwy8j9o acesso em 15 FEV23

Notícia 2: Não há evidência de que ovnis abatidos sejam da China, dizem


EUA Segundo informações do NY Times, o governo norte-americano diz
que os objetos voadores podem ter objetivos comerciais ...

Os Estados Unidos afirmaram nesta 3ª feira (14.fev.2023) não terem


indícios de que os 3 objetos voadores derrubados pelas Forças Armadas do país
desde 6ª feira (10.fev.2023) sejam de origem chinesa. Segundo o governo, existe
a possibilidade de os ovnis (objetos voadores não identificados) terem fins
comerciais. As informações são do jornal New York Times. Até o momento, o
Língua Portuguesa 35

governo norte-americano abateu objetos voadores no Alasca, no Lago Huron,


entre o Estado de Michigan e a província de Ontário, e no Canadá....
O porta-voz dos EUA, John F. Kirby, disse na 2ª feira (13.fev) que a
origem e o objetivo dos equipamentos voadores ainda não haviam sido
identificados e não existiam evidências de que os objetos abatidos estariam
relacionados ao suposto balão chinês. Na manhã desta 3ª feira (14.fev), os
Estados Unidos recuperaram equipamentos que estavam no balão chinês
derrubado em 4 de fevereiro por militares norte-americanos, incluindo “todos os
sensores prioritários e peças eletrônicas, bem como grandes partes da
estrutura”. O Departamento Federal de Investigação dos EUA (FBI, na sigla em
inglês) está a analisando as novas partes encontradas do objeto. A derrubada
desencadeou uma nova onda de tensão diplomática entre EUA e China. A Casa
Branca acusou o governo chinês de invadir o espaço aéreo norte-americano para
fins de espionagem. A China disse que o objeto era um “dirigível chinês” usado
para fins meteorológicos e teve a trajetória alterada por correntes de
vento. Segundo o Pentágono, o balão adentrou o território norte-americano pelo
Alasca e percorreu uma trajetória diagonal pelos EUA a uma altitude de 60.000
pés (cerca de 18.000 metros de altura) até ser abatido na costa marítima da a
Carolina do Sul. Depois da derrubada do objeto, os EUA anunciaram que
também abateram ovnis que sobrevoavam o Alasca e o lago Huron, em
Michigan, além de um no território canadense...

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/internacional/nao-ha-evidencia-de-


que-ovnis-abatidos-sejam-da-china-dizem-eua/), acesso em 15 FEV 23.

Após a leitura dos textos, considerando que a publicação ocorreu no mesmo


período, responda aos itens abaixo:
a) Em qual dos textos a linguagem é mais IMPESSOAL? Por quê?

b) Qual palavra presente no texto precisou ser trabalhada conceitualmente para


evitar distorções? Justifique o motivo a partir de elementos textuais.

c) Que recursos estilístico-gramaticais são empregados para tornar o texto mais


pessoal?

d) Considerando os princípios da intencionalidade, aceitabilidade e


informatividade, apresente uma avaliação comparativa entre os dois textos
Língua Portuguesa 36

Intertextualidade

Relaciona-se com as diversas formas de um texto se reportar a outros,


ou de que forma, o entendimento de um depende do conhecimento de outros. A
intertextualidade também se refere aos diversos tipos de relações que um texto
mantém com outros textos.
Trata-se de uma virtude e denota capacidade de estabelecer relações e
de demonstrar conhecimento de mundo.
É por meio da intertextualidade que um texto responde a outro e que se
constrói, em parte, a coerência geral, considerando que existe um atrelamento
temático ao contexto geral, à esfera e ao letramento a que se está vinculado.

Observe os gêneros textuais abaixo e explique como se constrói a


intertextualidade:

a)

b)

c)
Língua Portuguesa 37

Situacionalidade

Pode ser em duas direções: da situação para o texto e vice-versa. Refere-


se às condições de produção e recepção em que um dado texto será inserido.
Estes fatores afetam à seleção lexical, as regras de polidez, o grau de
formalidade, a variedade linguística, o tratamento do tema, etc.
Um segundo sentido aponta para os reflexos que este texto causará no
mundo. Reflete a mediação mundo real e mundo construído pelo texto.

Exemplo:

Coesão

A forma como os elementos linguísticos se interligam e se interconectam


de modo a compor a trama textual.
Temos dois tipos de coesão: sequencial e referencial. Num texto esses
tipos ocorrem intraparágrafos e interparágrafos.

1- Coesão Sequencial – é a responsável pela sequência entre as frases, as


orações, os períodos e os parágrafos. Para isso, podemos nos valer das palavras
de transição, conectivos, operadores argumentativos, todos esses significam a
mesma coisa e executam o mesmo papel: promover a progressão sequencial do
texto.
Língua Portuguesa 38

2- Coesão Referencial – é a responsável pela progressão do texto na


perspectiva do bem escrever, da fluidez das ideias, sem repetir palavras, ou
expressões que muitas vezes, empobrecem o texto. É por meio de recursos da
coesão referencial que o autor marca sua autoria, por exemplo ao empregar
encapsuladores anafóricos.
A coesão referencial acontece quando uma palavra remete a outra para
ser entendida, essa remissão pode ser:

a) Endófora. A referência é endofórica quando o referente se acha


expresso no próprio texto, é dividida em: anáfora e catáfora.

-Anáfora: Ela acontece quando o referente precede o item coesivo.


Por exemplo: Antônio saiu. Ele volta logo.

- Catáfora: Ela acontece quando o referente vem após o item


coesivo.
Por exemplo: João trouxe vários objetos: lápis, borracha,
caneta, etc.

b) Exófora. Ela acontece quando a remissão é feita a algum elemento


que está fora do texto.
Por exemplo: Você está no [Português | Concurso]
O referente "você" está fora da estrutura textual, ou seja, uma remissão
exofórica.

Para se escrever bem, há uma série de recursos coesivos, tais como:

1) Epítetos – palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa.


Ex: Olavo Bilac escreveu poesias memoráveis. Pena que o poeta
brasileiro tenha morrido tão cedo.

2) Nominalizações – quando se emprega um substantivo que remete a um


verbo enunciado anteriormente.
Ex: Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal
testemunho não era válido por serem parentes do assassino.
Obs: pode ocorrer o contrário: o verbo retomar um substantivo já
enunciado.
3) Palavras ou expressões sinônimas ou quase-sinônimas

Ex: Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época.
Houve telas que serviram até de portas de galinheiro

4) Repetição de uma palavra – podemos repetir uma palavra (com ou sem


determinante) quando não for possível substituí-la por outra.
Língua Portuguesa 39

Ex: “A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos
objetivos e aos interesses da classe dominante. Essa ligação, no entanto, é
ocultada por uma inversão: a propaganda sempre mostra quem sai ganhando
com o consumo de tal ou qual produto ou ideia não é o dono da empresa, nem
os representantes do sistema, mas sim, o consumidor. Assim, a propaganda é
mais um veículo da ideologia dominante.”
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires.
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 1993. P.50.

5) Um termo- síntese

Ex: O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher um sem-


número de papéis. Depois pagar uma infinidade de taxas. Todas essas
limitações acabam prejudicando o importador.

6) Pronomes

• Vitaminas fazem bem à saúde; mas não devemos tomá-las ao acaso.


• O Colégio é um dos melhores da cidade. Seus dirigentes se preocupam
muito com a educação integral.
• Aquele político deve ter um discurso muito convincente. Ele já foi eleito
seis vezes.
• Há uma grande diferença entre Paulo e Maurício. Este guarda rancor de
todos, enquanto aquele tende a perdoar.

7) Numerais

• Recebemos dois telegramas. O primeiro confirmava a sua chegada; o


segundo dizia justamente o contrário.
• Não se pode dizer que toda a turma esteja mal preparada. Um terço pelo
menos parece estar dominando o assunto.

8) Advérbios pronominais (aqui, ali, lá, aí)

Ex: Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo


da Vinci: a “Monalisa”.

9) Elipse

Ex: O ministro foi o primeiro a chegar. (Ele) Abriu a sessão às oito em ponto
e (ele) fez então seu discurso emocionado.
10) Repetição do nome próprio (ou parte dele)

Ex: Manuel da Silva Peixoto foi um dos ganhadores do maior prêmio da


loto. Peixoto disse que ia gastar todo o dinheiro na compra de uma fazenda e
em viagens ao exterior.
Língua Portuguesa 40

11) Metonímia – é o processo de substituição de uma palavra por outra,


fundamentada numa relação de contiguidade semântica.

Ex: O governo tem-se preocupado com os índices de inflação. O Planalto diz


que não aceita qualquer remarcação de preço.

12) Associação – uma palavra retoma outra porque mantém com ela, em
determinado contexto, vínculos precisos de significação.

Ex: São Paulo é sempre vítima das enchentes de verão. Os alagamentos


prejudicam o trânsito, provocando engarrafamentos de até 200 quilômetros.

Obs: alagamentos foi empregada por associação a enchentes, mas outras


palavras poderiam, também, ser empregadas: Transtornos, acidentes,
transbordamento do Tietê, dentre outras.

1- Identifique nos textos a seguir todos os termos que retomam as palavras


em itálico:

a) Em outubro de 1839, Paris ainda possuía a mesma mística


embriagadora que Chopin experimentara ao chegar lá em setembro de 1831. A
ausência de 11 meses só servira para aumentar seu apaixonado fascínio pela
magnífica metrópole espraiada ao longo das sinuosas margens do Sena. Paris
havia-se tornado a amante de Chopin muito antes de ele conhecer Mme. Sand
e durante vários anos subsequentes suas afeições ficariam divididas entre as
duas. Ambas o adoravam, do mesmo modo que eram, por sua vez, cultuadas
por ele, e ambas eram essenciais à sua existência. Com a saúde debilitada, o
jovem músico não podia sobreviver ao estímulo de uma sem o amparo da outra.
ATWOOD, William. A leoa e seu filhote. Trad. Bárbara Heliodora. Rio
de Janeiro, Zahar, 1982. P. 139.

b) Um antigo morador de São Cristóvão contava que, na mocidade, viajara


diariamente, na barca que fazia o trajeto entre aquela praia e o Cais Pharoux, ou
dos Franceses, como então se dizia, com um adolescente aparentando 13 ou 14
anos, magrinho, modesta, mas limpamente vestido. A barca vinha cedo para a
cidade, e voltava à tarde, conduzindo sempre os mesmos passageiros, gente
que tinha empregos no centro. Como era natural, a camaradagem se
estabeleceu entre esses companheiros diários, todos conversavam para matar
o tempo. Só o mocinho magro, sempre com um livro na mão, nunca dirigiu a
palavra a ninguém. Mal se sentava, logo afundava na leitura, e assim, ia e
Língua Portuguesa 41

voltava, parecendo ignorar os que o cercavam, sem levantar os olhos do livro,


indiferente aos espetáculos da viagem, à beleza da baía, às embarcações que
encontravam. Era Machado de Assis.
Afinal, a única informação segura, clara, que nos chega sobre o
princípio da adolescência de Joaquim Maria é essa imagem. Com certeza, só
sabemos que ia todas as manhãs, bem cedo, do seu bairro para o centro urbano.
PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis. Belo
Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1988. Pp45-6.

2- Para cada uma das frases abaixo, redija uma segunda, utilizando o
recurso de coesão sugerido entre parênteses.

• Um dos graves problemas das metrópoles são os meios de locomoção.


(palavra sinônima ou quase sinônima)
• Ayrton Senna foi um dos maiores esportistas brasileiros. (epíteto)
• Não se pode comparar São Paulo com o Rio de Janeiro. (uso de
pronomes)
• Muitas pessoas estão preferindo ir morar em pequenas cidades do
interior. (advérbio pronominal)
• O crescimento desordenado degrada qualquer cidade. (nominalização)

3- Para cada item do exercício anterior, acrescente uma terceira frase que
dê continuidade ao seu pensamento, utilizando um recurso de coesão a sua
escolha.
Língua Portuguesa 42

APROFUNDANDO...

IDEIA DE TEMPO CONCLUSÃO COMEÇO, SEMELHANÇA


CONTINUAÇÃO INTRODUÇÃO CONFORMIDADE
ainda mais logo depois enfim antecipadamente da mesma forma
por outro lado imediatamente em síntese antes de mais de acordo com
do mesmo modo frequentemente em suma nada igualmente
juntamente com ao mesmo tempo definitivamente a princípio segundo
posteriormente afinal de antemão sob o mesmo ponto de
nesse ínterim dessa forma à primeira vista vista
simultaneamente assim desde já assim também
logo primeiramente por analogia,
de maneira idêntica, de
conformidade com,
conforme,
tal qual,
tanto quanto,
como,
assim como,
bem como,
corno se.
PRIORIDADE, CONDIÇÃO, CONTRASTE, AFIRMAÇÃO CAUSALIDADE
RELEVÂNCIA HIPÓTESE OPOSIÇÃO,
RESTRIÇÃO,
RESSALVA
Em primeiro lugar, Se, Pelo contrário em Consistir, Causar,
acima de tudo caso, contraste com, salvo, constituir, motivar,
precipuamente, eventualmente, exceto, menos, mas, significar, originar,
principalmente, desde que, contudo, todavia, denotar, ocasionar,
primordialmente, contanto que, entretanto, embora, mostrar, gerar,
sobretudo a não ser que, apesar, ainda que, traduzir-se por, propiciar,
salvo se, mesmo que, posto expressar, resultar,
como, que, conquanto que, representar, provocar,
conforme, se bem que, por mais evidenciar. produzir,
segundo, que, por menos que, contribuir,
de acordo com, porém, contudo, determinar,
em conformidade todavia, entretanto, criar.
com, no entanto, não
consoante, obstante, senão,
para, opor-se, contrariar,
em consonância. negar, impedir, surgir
em oposição, surgir
em contraposição
apresentar em
oposição, ser
contrário.
Língua Portuguesa 43

Coerência
É o que vincula o texto ao mundo real garantindo interpretabilidade ao
texto e alinhamento às ordens discursivas.
Uma das responsáveis pela coerência do texto é a coesão e a construção
da cadeia coesiva. A construção do sentido do texto progride por meio da coesão
sequencial.
1- Em cada um dos itens abaixo – (a), (b), (c), (d), ( e) – são apresentados cinco
temas sobre o mesmo assunto. Numere-os de 1 a 5, ordenando-os do mais
amplo para o mais delimitado.
a) ( ) A televisão
( ) Influência da televisão no comportamento social
( ) Influência da televisão sobre as crianças
( ) Efeito da televisão
( ) A violência na televisão e seus efeitos no comportamento das crianças

b) ( ) A música popular brasileira


( ) Tendências atuais da música popular brasileira
( ) Evolução da música popular brasileira
( ) A música como veículo de comunicação
( ) A música popular brasileira como expressão da cultura brasileira
c) ( ) Leitura
( ) Causas do interesse pela história em quadrinhos
( ) lmportância da leitura
( ) O livro de que mais gostei
( ) Livro ou revista?

d) ( ) A eficácia da publicidade
( ) A publicidade no mundo atual
( ) Efeitos da publicidade sobre o comportamento social
( ) Publicidade: exigência de uma sociedade de consumo
( ) Influência da publicidade sobre o nível de aspiração dos indivíduos.

e) ( ) Papel do vestibular no sistema de ensino brasileiro


( ) O acesso ao ensino superior no Brasil
( ) Vantagens e desvantagens do vestibular como mecanismo de seleção
ao curso superior
( ) O ensino superior no Brasil
( ) Solução para o desequilíbrio entre oferta e demanda de vagas no
ensino superior
Língua Portuguesa 44

UDII – LEITURA E ANÁLISE TEXTUAL

Assunto: a) Leitura e Interpretação

Começamos essa unidade com uma indagação: será que já nos


questionamos, de fato, sobre a importância da leitura em nossas vidas
e como ela pode ser coautora da nossa capacidade intelectual?

De um lado, a leitura tem a capacidade de suavizar o nosso caráter,


tornar-nos mais empáticos, transformar-nos em pessoas mais solidárias e mais
atentas ao mundo que nos cerca. Por outro lado, o ato de ler ativa ao mesmo
tempo, todas as capacidades superiores do cérebro: concentração voluntária,
memória, abstração, generalização, linguagem, inferência…

Sendo assim, entende-se que quanto mais lemos, mais o nosso cognitivo
é estimulado e com ele, todas as nossas múltiplas inteligências. Esse
desenvolvimento não é algo que acontece por força da genética ou por herança
ou divindades, mas por capacidades voluntárias ou involuntárias que ocorrem no
decorrer da vida; seja por influência do grupo social no qual se está inserido e/ou
por meio da educação da qual se teve acesso.

Considerando os multiletramentos, as diferentes esferas sociais, os


diferentes gêneros textuais, conforme estudado na UDI, entendemos que os
textos são diversificados e dotados de diversas semioses e recursos de
polissemia para alcançar seu objetivo comunicativo. Isso significa que, para
cada tipo de texto, temos um tipo de leitor e de leitura diferentes.
Um bom leitor deve ser capaz de interagir com o texto, ler as entrelinhas
e produzir sentidos. Ou seja, deve ser crítico e ativo, com plenas capacidades
interpretativas.
Embora o conhecimento da gramática seja um fundamental suporte nesse
processo, é preciso destacar que, sozinho, ele não dá conta de todo esse
processo. A leitura demandará sempre um algo a mais do leitor.

2.1- CONCEITO DE LEITURA E SEUS NÍVEIS1


A leitura é uma atividade presente em todos os momentos da vida de um
indivíduo. Pode-se afirmar que, praticamente, desde o momento em que o ser
humano tem condições de exercer o entendimento do sim e do não, mesmo na
fase infantil, ao se compreenderem as entonações destas palavras, exerce-se a
atividade leitora.

1
Texto extraído e adaptado da Dissertação de Mestrado da Cel Alessandra M.G. Feitosa: UERJ
2017)
Língua Portuguesa 45

Diante disso a leitura não se restringe apenas a textos escritos, leem-se,


também, imagens, sons, gestos, cores e textos, enfim, leem-se diferentes signos
o que caracteriza a leitura como uma atividade plural, sendo considerada por
muitos pesquisadores como uma atividade complexa, plural e semiotizada (cf.
JOUVE, 2002).
Thérien (1990), pesquisador francês, caracterizando a leitura como um
processo complexo, elabora uma proposta “Pour une sémiothique de la lécture”
em que vê na leitura um processo em cinco dimensões2 que se integralizam:
1- processo neurofisiológico;
2- processo cognitivo;
3- processo afetivo;
4- processo argumentativo; e um
5- processo simbólico.
Essas dimensões favorecem a um entendimento completo do ato de ler
que, integrado às concepções discursivas que perpassam à construção do
discurso/projeto de dizer do indivíduo.
Ao se referir ao processo neurofisiológico, a primeira dimensão,
Thérien (1990) entende a leitura como um ato concreto e observável, e que
recorre a faculdades definidas do ser humano. Nesse sentido, não se lê sem que
o aparelho visual e o cérebro funcionem. Assim, segundo o autor, a ação de ler
é “anteriormente a qualquer análise do conteúdo, uma operação de percepção,
identificação e memorização dos signos”. Considerada no seu aspecto físico, a
leitura apresenta atividades de antecipação, estruturação e interpretação,
constituindo-se num ato fortemente subjetivo.
O processo cognitivo, ou segunda dimensão, é apontado como
subsequente ao neurofisiológico. Segundo o autor, depois de perceber e decifrar
os signos, o leitor tenta entender do que se trata, ou seja, constitui-se num
processo que implica “a conversão das palavras e de grupo de palavras em
elementos de significação”, pressupondo um importante esforço de abstração.
Segundo Kleiman (1993), essa dimensão é a que norteia a concepção
não escolar da leitura3, ou seja, a concepção que lida com a questão do
processamento do texto, no aspecto micro do processar as informações, da
relação entre sujeito enquanto leitor e do texto como objeto.
A terceira dimensão diz respeito ao processo afetivo. Para Thérien
(1990), “o charme da leitura provém das emoções que ela suscita”; assim, as

2
As dimensões propostas por Thérien (1990) referem-se a uma especificação para a leitura numa visão
semiótica. Elas não se vinculam à dimensão discursiva proposta por Fairclough (2001), nem ao conceito
de letramento.
3
À guisa de esclarecimento inicial, a autora apresenta duas concepções: uma escolar e outra não escolar.
Enquanto uma se atém aos processos cognitivos, a outra entende a leitura como uma atividade a ser
ensinada na escola já que é uma prática interdisciplinar. Ambas as concepções serão detalhadas nesta
seção.
Língua Portuguesa 46

emoções são a base reflexiva da leitura. Uma vez que estas são acionadas
durante a leitura do texto, o engajamento afetivo torna-se um componente
essencial da leitura.
A quarta dimensão aponta para o processo argumentativo. Segundo
Thérien (1990), a intenção de convencer está presente em todos os tipos de
textos, com especial destaque para a narrativa, sobre a qual o autor evidencia
que a intenção de mudar as perspectivas e comportamentos é colocada através
das ações dos personagens, como “discurso de engajamento”, ou seja, essa
intenção ilocutória (a vontade de agir sobre o destinatário) é inerente a textos de
ficção.
Jouve (2006) aponta que neste tipo de processo, o leitor está sempre
sendo interpelado, devendo assumir ou não para si a argumentação que está
sendo desenvolvida. Nesse sentido, neste processo, o leitor está sempre sendo
questionado sobre o seu modo de conceber o sentido.
O último processo é o simbólico. A percepção de leitura nesse viés
dialoga com toda uma perspectiva sociointeraacionista , a saber:
“Toda leitura interage com a cultura e os esquemas
dominantes de um meio e de uma época. A leitura afirma
sua dimensão simbólica agindo nos modelos do
imaginário coletivo quer os recuse, quer os aceite.”

A leitura está vinculada ao contexto cultural em que se insere o leitor.


Nesse sentido, todo o imaginário social que permeia esse leitor será fator
integrante na construção dos sentidos que serão produzidos após a leitura. Esse
conhecimento prévio entra no “jogo” da produção de sentido. É o que afirma
Thérien (1990):
O sentido no contexto de cada leitura é valorizado
perante os outros objetos de mundo com os quais o leitor
tem relação. O sentido fixa-se no plano imaginário de
cada um, mas encontra, em virtude do caráter
forçosamente coletivo de sua formação, outros
imaginários existentes, aquele que divide com os outros
membros de seu grupo ou de sua sociedade.

Diante desses cinco processos, percebe-se que a leitura “impõe”


condições para a sua materialização. O texto oral evita muitas dúvidas porque o
leitor pode se apoiar em outros elementos como entoação, gestos, perfis, para
compreender a mensagem. A questão da atividade leitora mais complexa está
na vinculação ao texto escrito.
Segundo Jouve (2006), no texto escrito, autor e leitor não possuem um
espaço comum de referência, o texto apresenta-se para o leitor, muitas vezes,
fora de sua situação de origem. Assim, para reconstruir o contexto, para
compreender a obra, o leitor terá que se fundamentar na estrutura do texto, ou
seja, no jogo das relações internas do texto.
Para entender essas relações, a leitura solicita do leitor uma competência,
pois o texto exige deste um saber mínimo que o leitor deve possuir, se quiser
prosseguir a leitura.
Língua Portuguesa 47

Umberto Eco (1985) afirma que o texto, dada a sua incompletude,


necessita da colaboração do leitor. Para isso, ele aponta saberes (ou
conhecimentos) indispensáveis ao leitor modelo:

• um conhecimento linguístico, relativo ao domínio de um


“dicionário” e uma “gramática” básica, chamada pelo autor de “dictionnaire et
grammaire de base” referentes à gramática internalizada de que o indivíduo
possui sobre sua língua, embora ele entenda que esse mínimo também seja
incompleto porque o dicionário não explicita as propriedades semânticas. Estas
serão depreendidas com o auxílio dos outros conhecimentos no “completar” do
texto;
• um conhecimento enciclopédico relativo aos conhecimentos
prévios, escolares;
• um conhecimento lógico que comporta as relações de analogia, de
oposição, de causa, de consequência, que dão sentido ao texto. Esse
conhecimento permite ao leitor a formulação de hipóteses sobre as intenções do
texto. O reconhecimento das estratégias textuais empregadas por meio das
estruturas citadas permite ao leitor elaborar hipóteses sobre a enunciação e
determinar escolhas interpretativas;
• um conhecimento retórico que evoca matrizes de saberes e textos
literários ou canônicos, como esquemas e modelos de textos com os quais já
teve contato;
• um conhecimento ideológico que perpassa o senso de atualização
com o contexto social do indivíduo, ou seja, com as “ordens discursivas” que
estão vigendo sobre a sociedade.

A concepção de leitura traçada até agora aponta para dois enfoques: uma
concepção não escolar e uma escolar da leitura. A primeira (a não escolar)
relaciona o ato de ler ao processamento cognitivo, ou seja, às maneiras como
se processam as informações.
Segundo Kleiman (1993), esse processamento, inicialmente, é resultado
do processo neurofisiológico, ou seja, “o processamento começa pelos olhos que
permitem a percepção do material escrito, que passa então a uma memória”.
Dado todo o processamento neurofisiológico que se realiza, segundo
Kleiman (1993) e Thérien (1990), a leitura ocorre por sacadas ou pacotes, ou
seja, não se lê palavra por palavra ou frase por frase, lê-se por grupos. Essa
observação sobre como a leitura se desencadeia aponta para a questão da
inferência, da “advinhação” que para “compreensão” depende de cada indivíduo.
Por isso que, do ponto de vista cognitivo, a leitura é considerada um “jogo de
advinhações”. Kleiman (1993) aponta que, para reconhecer estruturas ou
associar significados a elas, são necessárias pistas: a forma da palavra e a
identificação da forma. Segundo a autora, esse reconhecimento está relacionado
diretamente ao conhecimento do leitor sobre o assunto.
É preciso destacar, ainda, que, segundo Lefa (1996), ler é interagir
com o texto, ou seja, ler é o resultado de uma negociação de sentidos entre leitor,
Língua Portuguesa 48

texto e autor. Para que a compreensão do texto ocorra, há necessidade de existir


uma afinidade entre o leitor e o texto, bem como a intenção de ler a fim de atingir
um determinado objetivo, confirmando a tese de que “o leitor é um sujeito ativo
que processa o texto e lhe proporciona seus conhecimentos, experiências e
esquemas prévios" (SOLÉ, 1998: 18).

2.2- SOBRE TÉCNICAS DE LEITURA


Conforme lido anteriormente, a leitura é uma das principais fontes de
aprendizagem e inspiração para a escrita. Quando lemos, estamos expostos a
diferentes formas de escrita, estilos, gêneros, vocabulários e estruturas
gramaticais, o que nos permite ampliar nosso repertório linguístico e melhorar
nossa capacidade de comunicação por escrito.

Existem quatro técnicas de leitura que podem ajudar a aprimorar a


compreensão e a interpretação de textos: exploratória, analítica, assimilativa e
crítica interpretativa.

Leitura exploratória
Útil para obter uma visão geral do texto. É realizada de forma rápida, com
o objetivo de identificar o tema, o propósito do autor e as ideias principais do texto.
É recomendada para textos mais longos, como livros e artigos.

Leitura analítica
Apresenta o objetivo de compreender os detalhes do texto. É realizada de
forma mais cuidadosa e lenta, com o objetivo de identificar o significado de cada
palavra, frase e parágrafo. É recomendada para textos mais complexos, como
textos acadêmicos e científicos.

Leitura assimilativa
Interessante para incorporar as informações do texto à nossa própria
compreensão e conhecimento. É realizada de forma ativa, com o objetivo de
relacionar as ideias do texto com nosso conhecimento prévio e nossa experiência
de vida.

Leitura crítica interpretativa


Seu objetivo é analisar e avaliar o texto de forma crítica, identificando os
argumentos do autor, suas falhas e seus pontos fortes. É realizada de forma
questionadora, com o objetivo de entender as intenções do autor e avaliar a
validade e a relevância de suas ideias.

As quatro técnicas combinadas auxiliam-nos em interpretação profunda


sobre o texto que está sendo lido.
Língua Portuguesa 49

2.3 - O MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO COMO FERRAMENTA DE


ESCRITA

Interpretar um texto pode ser uma ferramenta útil para aprimorar a escrita,
pois ao compreender como o autor construiu o seu texto, suas ideias principais,
como elas se relacionam, quais são os argumentos utilizados, entre outras
informações importantes, o leitor desenvolve habilidades de análise crítica e
argumentação, que serão aplicadas em sua produção escrita.

Para usar esse método como uma ferramenta escrita, você pode seguir
os seguintes passos:

1. Leia cuidadosamente o texto que deseja interpretar e identifique os


principais pontos e ideias apresentadas pelo autor.

2. Analise o texto para entender como o autor apresenta essas ideias.


Observe a estrutura do texto, os argumentos utilizados, os exemplos
apresentados e as técnicas retóricas utilizadas para persuadir o leitor.

3. Considere o contexto em que o texto foi escrito. Pense sobre as intenções


do autor, o público-alvo e as circunstâncias em que o texto foi produzido.

4. Formule uma opinião crítica sobre o texto. Pense sobre os pontos


positivos e negativos apresentados pelo autor, e sobre como suas próprias
opiniões se comparam às ideias apresentadas no texto.

5. Use essa análise para guiar a sua própria escrita. Considere como as
ideias apresentadas no texto podem ser relevantes para o seu próprio trabalho, e
como você pode usar essas ideias para desenvolver seus próprios argumentos e
perspectivas.

2.4- NIVEIS DE LEITOR

É claro que, também, há um nível de leitor para cada tipo de texto, você
sabia disto? Desde o momento em que inicia o processo de alfabetização e o de
letramentos, o indivíduo começa a desenvolver sua capacidade de leitura
independente, e pode, cada uma a seu tempo, ter contato com textos de
diferentes complexidades.
Esse desenvolvimento ocorre em um cotinuum, e está relacionado,
principalmente, com as diferentes esferas sociais de que esse indivíduo participa
e com a maior ou menor relação de produção e consumo de textos.

Leitor iniciante - Livros de imagens ou com frases curtas, poemas curtos


de fácil interpretação. Ilustrações atraentes, poucos personagens, enredo
simples e contexto de fácil identificação. Para leitores que estão começando a
ler de maneira independente ou que estão sendo alfabetizados.
Língua Portuguesa 50

Leitor em processo - Texto um pouco mais longo, mais de um


personagem, enredo mais complexo, estilo simples e envolvente, ilustrações em
cores ou preto e branco.

Leitor Fluente - Textos de vários tamanhos, enredo mais complexo, mais


informação, diversos personagens, vocabulário que enriqueça a experiência
cultural do leitor.

Leitor Crítico - Textos com trama mais complexa que impliquem


interpretações mais elaboradas. Maior quantidade de informações, vocabulário
mais rico, temas de interesse dos jovens.

2.5 – CONDIÇÕES DE PRODUÇÕES DO TEXTO 4

Ao contrário da fala, que pode ser considerada uma atividade natural,


universal e determinada biologicamente (CASTRO, 1999), a escrita só é
acessível por intermédio da cultura e do ensino, ou seja, para que se aprenda a
escrever, é preciso que a língua escrita seja ensinada.
Ainda que a “fala” precise ser ensinada, ou ajustada a determinados
grupos, a escrita exige um pouco mais nesse processo. Embora ela guarde
semelhança com outros processos comunicativos (BAZERMAN, 2007), ela
precisa estar vinculada a um desses, sendo, pois, o mais próximo e o mais ligado
à leitura.
Os conceitos sobre a língua escrita são construídos a partir de práticas
precursoras de letramentos convencionais, ou seja, os indivíduos, quando
chegam à escola, já possuem várias noções sobre o que significa ler e escrever
e como se realizam essas atividades. Elas se apoiam em “esquemas mentais
das estruturas de textos” com os quais convivem nas práticas sociais.
Halliday (1978) afirma que, na aprendizagem da língua escrita, os alunos
fazem uso de conhecimentos e de recursos disponíveis por meio de estratégias
semióticas que lhes permitem se utilizar de um sistema pouco ou mal conhecido,
enquanto ainda o está construindo e de desenvolvê-lo pelo uso.
A escrita constitui-se, pois, na elaboração de um modelo conceitual para
o discurso, composto por estratégias linguístico-semânticas, ligadas ao oral e ao
escrito. Esse modelo, portanto, será elaborado a partir de estratégias
semânticas, ordenações sintáticas e seleção lexical que integram o discurso e
serão mais ou menos operacionalizadas conforme aumente a proficiência do
aluno partindo dos eventos e práticas de letramento de que participe.
Bazerman (2007) ratifica essa concepção ao afirmar que o ser humano,
ao desenvolver essa habilidade, intercambiará diversos pontos de vista,

4
Texto extraído e adaptado da Dissertação de Mestrado da Cel Alessandra M.G.Feitosa- UERJ/2017.
Língua Portuguesa 51

preocupações, bagagens e perspectivas, ou seja, se apoiará na sua capacidade


letrada para interagir nas práticas sociais.
Os elementos citados nos dois parágrafos anteriores são imprescindíveis
e devem permear, segundo o autor, a consciência de qualquer pessoa que
queira lidar com a escrita. Além disso, deve-se ter, também, o correto
entendimento da posição que se ocupa entre os interlocutores, assim como das
relações, poderes, papéis, autoridade, obrigação social, limites e variáveis
sociais que delimitam e definem as ações entre os membros dos grupos, ou seja,
a prescrição de papéis (MEURER, 2004).
A escrita demanda estratégias que acionem o mundo do leitor para
construir os sentidos necessários para determinado texto. Na verdade, a escrita
deve ter condições de solicitar do leitor o acionamento das cinco dimensões da
leitura proposto por Thérien (1990), conforme citado no item 2.1. O texto emerge,
pois, num complexo processo interativo como um enquadre para uma
determinada ação.
Segundo Bazerman (2007), o indivíduo, ao reconhecer uma situação que
requer o uso da escrita, vai avaliar se vai responder, por que e como vai fazer;
ou seja, vai reconhecer comportamentos e pensamentos que precisará acionar
para se inserir na escrita. Esse posicionamento do indivíduo está ligado ao
processamento cognitivo, já falado anteriormente: LER-ESCREVER-LER, a
escrita é uma resposta a um “já dito”.
Esse entendimento sobre a escrita é amparado, teoricamente, nas
concepções dialógicas propostas por Bakhtin (1997) e na proposta de formação
discursiva de Foucault (2007).
Segundo ROJO (2009), para exercer as habilidades de leitura e de escrita,
é necessário dominar algumas capacidades, descritas no quadro abaixo:

LER ESCREVER

Decodificar Codificar

Compreender Normatizar (ortografia, notações)

Interpretar Comunicar

Estabelecer relações Textualizar

Criticar, replicar Intertextualizar

Quadro 1- Capacidades letradas envolvidas no conceito de alfabetismo

Ao se destacar, cf. Rojo (2009), as capacidades que envolvem o ato de


escrever: codificar, normatizar, comunicar, textualizar e intertextualizar, observa-
se que a escrita não se resume apenas ao domínio do código e da norma, mas
a habilidades que abrangem o domínio de ações discursivas.
Língua Portuguesa 52

Capacidades Escritoras Critérios de textualidade

Aceitabilidade

Codificar Coesão

Coesão

Normatizar Intencionalidade

Aceitabilidade

Intertextualidade
Comunicar
Situacionalidade

Coerência

Informatividade

Textualizar Intertextualidade

Situacionalidade

Intertextualidade

Intertextualizar Coerência

Quadro 2- interseção entre as capacidades escritoras e os critérios de textualidade ( FEITOSA, 2017)

A autora esclarece que a capacidade de normatizar o texto está ligada ao


bom uso da norma, ou seja, fazer uso de ortografia, pontuação, concordância,
dentre outros aspectos gramaticais; a capacidade de comunicar está implicada
na adequação do texto à situação de produção, aos interlocutores, ao suporte.
A ação de textualizar refere-se às ações de organização, progressão temática,
coerência, coesão; e por fim, a capacidade de intertextualizar que leva em conta
a resposta, o conhecimento, e a incorporação de outros textos e discursos.
Essas cinco capacidades propostas podem estabelecer pontos de contato
com a proposta acerca dos fatores de textualidade de Beaugrande & Dressler
(1981) para os sete critérios que contribuem para a construção textual do
sentido: coesão, coerência, situacionalidade, informatividade, intencionalidade e
aceitabilidade. Para os autores, os dois primeiros (coesão e coerência) estão
centrados no texto e os demais no usuário. Todos esses, critérios de
textualidades já estudados na UD 1 dessa Apostila.
A interseção dos critérios e dos fatores permite observar que existe uma
predominância dos aspectos centrados muito mais no usuário do que,
puramente, do domínio do código e da norma – que não são excludentes.
Língua Portuguesa 53

Partindo da interseção dos conceitos, observa-se que não basta só


“escrever por escrever”. Todas as estratégias devem estar vinculadas a
propósitos comunicativos que se ligam, diretamente, à formação discursiva do
indivíduo, o que implica no entendimento da escrita como uma manifestação
discursiva que deve ser analisada sob esses aspectos para ser desenvolvida
plenamente.

2.6 – ANÁLISE TEXTUAL

Considerando a natureza do texto dissertativo-


expositivo que será objeto de trabalho pelos Cadetes,
apoiar-nos-emos nos textos dessa natureza e na
preparação da análise desse material.

1- Partindo da leitura do texto: A atualidade da liderança do Sargento


Max Wolf Filho, proceder a uma análise textual baseando-se nos critérios de
textualidade estudados em sala.

2- Leitura do artigo científico disponibilizado para análise textual em


sala.
Língua Portuguesa 54

UD II – LEITURA E ANÁLISE TEXTUAL


Assunto: b) Análise Crítica de textos

2.7- INTENCIONALIDADE DISCURSIVA

A intencionalidade discursiva se refere à intenção ou propósito que um


falante ou escritor tem ao produzir um discurso. É o que se pretende comunicar
e realizar com a mensagem transmitida, levando em consideração o contexto em
que está inserido e o público a que se dirige. Dos sete critérios de textualidade
estudados na UD I, este critério é o mais centrado no autor:

Figura 1: Critérios de textualidade

Essa intencionalidade pode ser explícita ou implícita, consciente ou


inconsciente, e pode variar de acordo com fatores como o gênero textual
utilizado, o registro da linguagem, o tema abordado e a situação comunicativa.
Por exemplo, um discurso político pode ter como
intenção persuadir o público a apoiar determinada causa ou
candidato, enquanto um discurso acadêmico pode ter como
intenção informar e apresentar argumentos embasados em
evidências. A intencionalidade discursiva pode, portanto,
influenciar a escolha do vocabulário, a organização das
ideias e até mesmo o tom utilizado na comunicação.
Segundo Marcuschi (1977), a análise das intenções comunicativas dos
participantes de uma conversa pode ajudar a identificar as estratégias
linguísticas utilizadas para atingir essas intenções, bem como as possíveis
interpretações dessas estratégias pelos outros participantes da conversa.

BRASIL!?
Língua Portuguesa 55

Como a intenção do falante ou escritor influencia a organização e a


estrutura do texto?
Vejamos:

Canção dos Comandos

Na paz ou na guerra sempre há


Um Comandos preparado para lutar!
Se a pátria lhe pedir, está pronto para partir,
Não importa o lugar!
Na selva, na montanha ou no mar,
Onde seja necessário atuar,
Surge do céu seu braço forte,
Se preciso enfrenta a morte:
Sua estrela há de brilhar!

O céu é seu abrigo,


O solo o seu colchão.
À retaguarda do inimigo
Leva a morte e grande confusão!

Surpresa e sorte natural,


Acompanham a caveira e o punhal!
Quando a chuva for intensa
E a escuridão imensa, é a hora ideal!
O rosto dos comandos ninguém vê,
Suas garras quem sentir não viverá!
O ataque é mortal, a destruição total:
A missão se cumprirá!

O céu é seu abrigo,


O solo o seu colchão.
À retaguarda do inimigo
Leva a morte e grande confusão!

Letra e música de Benedito Ferraz de Oliveira


Língua Portuguesa 56

Quais informações implícitas podemos destacar na canção dos


Comandos acerca da natureza da missão dessa tropa?

Na paz ou na guerra sempre há


Um Comandos preparado para lutar!
Se a pátria lhe pedir, está pronto para partir,
Não importa o lugar!

No trecho destacado acima podemos observar que a intenção do autor foi


evidenciar a prontidão da tropa: “Se a Pátria lhe pedir está pronto para partir, não
importa o lugar!”. Continuemos:

Na selva, na montanha ou no mar,


Onde seja necessário atuar,
Surge do céu seu braço forte,
Se preciso enfrenta a morte:
Sua estrela há de brilhar!

Pode-se observar nesse trecho que o autor se refere a três ambientes


característicos do Brasil – selva, montanha e mar –, que possuem tropas
especializadas para atuar em cada um deles, e que o militar que possui o Curso
de Comandos tem capacidade de operar em todos. No trecho “surge do céu seu
braço forte”, podemos observar que implicitamente o autor faz uma referência ao
assalto aeroterrestre, além de fazer menção ao slogan do Exército Brasileiro:
“Braço forte, mão amiga”.
Observe que diversas dessas referências só são apreendidas
inteiramente por militares do Exército Brasileiro. A intenção do autor da canção
– que é um militar Comandos – é destacar a sua especialização perante as
demais especializações do Exército.

O TEXTO É UM PRODUTO SOCIAL E, COMO TAL, É


INFLUENCIADO PELAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO,
INCLUINDO A INTENÇÃO COMUNICATIVA DO AUTOR
Língua Portuguesa 57

Identifique no trecho a seguir a intencionalidade do autor e as informações


implícitas no texto, destacando as palavras que demonstrem a sua
argumentação:

O céu é seu abrigo,


O solo o seu colchão.
À retaguarda do inimigo
Leva a morte e grande confusão!

Surpresa e sorte natural,


Acompanham a caveira e o punhal!
Quando a chuva for intensa
E a escuridão imensa, é a hora ideal!
O rosto dos comandos ninguém vê,
Suas garras quem sentir não viverá!
O ataque é mortal, a destruição total:
A missão se cumprirá!

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Língua Portuguesa 58

2.8- FIGURAS DE LINGUAGEM

As figuras de linguagem são recursos utilizados na construção do sentido


de um texto, e podem ser divididas em diversas categorias. Entre as figuras de
linguagem relacionadas ao aspecto estilístico de um texto militar, destacam-se:
1. Metáfora: consiste em utilizar uma palavra ou expressão em sentido
figurado, que representa uma outra palavra ou expressão que não está
presente no texto. A função da metáfora é enriquecer a linguagem e tornar
a comunicação mais expressiva. Exemplo: "Cavalaria mecanizada, és a
arma encouraçada!".

2. Metonímia: é a substituição de uma palavra por outra que está


relacionada a ela por proximidade ou contiguidade de significado. A
função da metonímia é enriquecer a linguagem e tornar a comunicação
mais precisa. Exemplo: "Não cora o livro de ombrear com o sabre" (a
palavra "livro" refere-se ao estudo e, por extensão, ao estudante; o
“sabre”, por sua vez, refere-se à lide castrense e, por extensão, ao militar,
assim, a citação significa que o militar não se envergonha de adquirir
conhecimento por meio do estudo).

3. Hipérbole: é a ampliação exagerada de uma ideia ou situação, com a


finalidade de enfatizar a mensagem. A função da hipérbole é tornar a
linguagem mais expressiva e persuasiva. Exemplo: "É o escudo de luta,
é o brasão da grandeza e da glória sem fim".

4. Antítese: consiste na aproximação de palavras ou ideias opostas, com o


objetivo de criar um efeito de contraste. A função da antítese é enfatizar
a mensagem e tornar a linguagem mais expressiva. Exemplo: "Noite e dia
sem cessar cumpriremos nosso dever. Pouco importa vida ou morte,
nosso intuito é vencer" (noite/dia; vida/morte).

5. Oxímoro: é uma figura retórica que consiste na combinação de dois


termos que aparentemente se contradizem, mas ao mesmo tempo
formam uma expressão coerente e significativa. Exemplo: “armas
inteligentes”, “Estrela guia em negros horizontes”.
Língua Portuguesa 59

Leia o texto abaixo sobre Adolf Eichmann, um dos responsáveis pelo


Holocausto que foi julgado em Jerusalém, e responda as questões:
A SOLUÇÃO FINAL: ASSASSINATO
Em 22 de junho de 1941, Hitler deu início a seu ataque à União Soviética, e seis ou
oito semanas depois Eichmann foi chamado ao escritório de Heydrich em Berlim. Em 31 de
julho, Heydrich recebeu uma carta do Reichsmarschall Hermann Göring, comandante em
chefe da Força Aérea, primeiro-ministro da Prússia, plenipotenciário do Plano Quadrienal,
e, por último, mas não menos importante, vice de Hitler na hierarquia do Estado (diferente
da hierarquia do Partido). A carta determinava que Heydrich preparasse “a solução geral
(Gesamtlösung) da questão judaica dentro da área de influência da Alemanha na Europa”
e apresentasse “uma proposta geral [...] para a implementação da desejada solução final
[Endlösung] da questão judaica”. No momento que Heydrich recebeu essas instruções,
conforme iria explicar ao Alto-Comando do Exército numa carta datada de 6 de novembro
de 1941, ele já estava “há anos encarregado da tarefa de preparar a solução final para o
problema judaico” (Reitlinger) e, desde o começo da guerra com a Rússia, encarregado dos
assassinatos em massa dos Einsatzgruppen no Leste.
Heydrich iniciou a reunião com Eichmann fazendo “um pequeno discurso sobre
emigração” (que havia praticamente cessado, embora uma ordem formal de Himmler
proibindo toda emigração de judeus exceto em casos especiais, a serem examinados pessoal-
mente por ele, só tenha sido emitida alguns meses depois), e disse: “O Führer ordenou que
os judeus sejam exterminados fisicamente”.
Depois disso, “muito contra os seus hábitos, ficou silencioso por longo tempo, como
se quisesse experimentar o impacto de suas palavras. Ainda hoje me lembro. No primeiro
momento, não consegui captar o sentido do que ele havia dito, porque ele foi muito
cuidadoso na escolha das palavras. Depois entendi e não disse nada, porque não havia mais
nada a dizer. Porque eu nunca havia pensado numa coisa dessas, numa solução por meio da
violência. Agora eu perdia tudo, toda alegria no meu trabalho, toda iniciativa, todo
interesse; eu estava, por assim dizer, arrasado. E ele me disse: ‘Eichmann, vá e procure
Globocnik [um dos comandantes superiores da SS e da polícia de Himmler no Governo-
Geral] em Lublin. O Reichsführer [Himmler] já passou para ele as ordens necessárias. Dê
uma olhada no que ele fez nesse interim. Acho que ele usa as trincheiras dos tanques russos
para a eliminação dos judeus’. Ainda me lembro, e não vou esquecer, enquanto viver, essas
frases que disse durante a reunião, quando já estava terminando”. Na Argentina, Eichmann
se lembrou, mas em Jerusalém, para seu prejuízo, uma vez que isso afetava a questão de
sua autoridade no processo de matança efetivo, ele esqueceu que Heydrich dissera algo
mais: ele contou a Eichmann que todo o empreendimento havia sido posto “sob a autoridade
do Escritório Central para Economia e Administração da SS” – ou seja, não o seu RSHA –
e também que o codinome oficial para o extermínio seria “Solução Final”.
Eichmann não estava absolutamente entre os primeiros a serem informados da
intenção de Hitler. Já vimos que Heydrich já vinha trabalhando nesse sentido fazia anos,
supõe-se que desde o começo da guerra, e Himmler afirmou ter conhecimento (e discordar)
dessa “solução” desde a derrota da França no verão de 1940. Por volta de março de 1941,
cerca de seis meses antes de Eichmann ter essa entrevista com Heydrich, “não era mais
segredo nos altos círculos do Partido que os judeus seriam exterminados”, conforme Viktor
Língua Portuguesa 60

Brack, da Chancelaria do Führer, afirmou em Nuremberg. Mas Eichmann, como tentou


vaidosamente explicar em Jerusalém, nunca pertenceu aos altos círculos do Partido; ele
nunca ficava sabendo nada além do necessário para realizar um trabalho específico,
limitado. É verdade que foi um dos primeiros homens dos baixos escalões a ser informado
dessa questão “altamente confidencial”, que continuava secreta mesmo depois de a notícia
ter corrido por todos os departamentos do Partido e do Estado, por todas as empresas
ligadas ao trabalho escravo e, no mínimo, por todo o oficialato das Forças Armadas. O
segredo tinha uma finalidade prática. Aqueles que eram informados explicitamente da
ordem do Führer não eram mais “portadores de ordens”, mas progrediam ao grau de
“portadores de segredos” e tinham de fazer um juramento especial (Os membros do Serviço
de Segurança, ao qual Eichmann pertencia desde 1934, já haviam feito juramento de
segredo.)
Além disso, toda correspondência referente ao assunto ficava sujeita a rígidas
“regras de linguagem”, e, exceto nos relatórios dos Einsatzgruppen, é raro encontrar
documentos em que ocorram palavras ousadas como “extermínio”, “eliminação” ou
“assassinato”. Os codinomes prescritos para o assassinato eram “solução final”,
“evacuação” (Aussiedlung) e “tratamento especial” (Sonderbehandlung); a deportação – a
menos que envolvesse judeus enviados para Theresienstadt, o “gueto dos velhos” para
judeus privilegiados, caso em que se usava “mudança de residência” – recebia os nomes de
“reassentamento” (Umsiedlung) e “trabalho no Leste” (Arbeitseinsatz im Osten), sendo que
o uso destes últimos nomes prendia-se ao fato de os judeus serem de fato muitas vezes
reassentados temporariamente em guetos, onde certa porcentagem deles era
temporariamente usada para trabalhos forçados. Em circunstâncias especiais, era
necessário fazer ligeiras mudanças nas regras de linguagem. Assim, por exemplo, um alto
funcionário do Ministério das Relações Exteriores propôs uma vez que em toda a
correspondência com o Vaticano a matança dos judeus fosse chamada de “solução radical”.
Isso era engenhoso, porque o governo marionete católico da Eslováquia, no qual o Vaticano
havia interferido, não fora na opinião dos nazistas “suficientemente radical” em sua
legislação antijudaica, cometendo o “erro básico” de poupar os judeus batizados. Só entre
si podiam os “portadores de segredos” falar em linguagem não codificada, e é muito pouco
provável que o fizessem na realização comum de seus deveres criminosos sobretudo na
presença de suas estenógrafas e demais pessoal burocrático. Sejam quais forem as outras
razões para a criação das regras de linguagem, elas se mostraram de enorme valia na
manutenção da ordem e do equilíbrio entre os serviços imensamente diversificados cuja
cooperação era indispensável nessa questão. Além disso, o próprio termo “regra de
linguagem” (Sprachregelung) era um codinome significava o que em linguagem comum
seria chamado de mentira. Pois quando um “portador de segredos” tinha de encontrar
alguém do mundo exterior – como Eichmann quando foi mandado a mostrar o gueto de
Theresienstadt a representantes da Cruz Vermelha da Suíça – recebia, junto com suas
ordens, a “regra de linguagem” que, no seu caso, foi a mentira de uma epidemia de tifo
inexistente no campo de concentração de Bergen-Belsen, que os cavalheiros também
queriam visitar. O efeito direto desse sistema de linguagem não era deixar as pessoas
ignorantes daquilo que estavam fazendo, mas impedi-las de equacionar isso com seu antigo
e “normal” conhecimento do que era assassinato e mentira. A grande sensibilidade de
Eichmann para palavras-chave e frases de efeito, combinada com sua incapacidade de
discurso comum, o tornava, é claro, um paciente ideal para as “regras de linguagem”.
ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal.
Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 98-99
Língua Portuguesa 61

1 - As figuras de linguagem podem servir para enriquecer o vocabulário,


dar maior clareza a uma mensagem, causar um impacto emocional ou persuadir.
Considerando isso, responda:
“e [Heydrich] disse: “O Führer ordenou que os judeus sejam exterminados
fisicamente”.
Depois disso, muito contra os seus hábitos, ficou silencioso por longo tempo, como
se quisesse experimentar o impacto de suas palavras.”

a) Quais figuras de linguagem você identifica?

b) Qual a intenção da autora ao usar a palavra impacto?

2 - O que mudava quanto ao uso da linguagem entre os “portadores de


ordens” e os “portadores de segredo”?

3 - Porque palavras como “extermínio”, “eliminação” ou “assassinato”


eram consideradas ousadas?

4 - O trabalho do estenógrafo é transcrever as palavras que são ditas em


determinado ambiente e, ainda que, naquele contexto, palavras como “eliminar”,
“neutralizar”, “dar um tratamento especial” pertencessem ao mesmo campo
semântico (assassinar), eles transcreviam as palavras de acordo com as regras
de linguagem. Transcreva o trecho abaixo de acordo com as “regras de
linguagem” e, depois, sem as “regras de linguagem” do Reich:

“O Führer ordenou que os judeus sejam exterminados fisicamente”

5 – Em uma guerra soldados matam e morrem entre si, o que não tem o
mesmo equivalente moral do assassinato de inocentes. Nesse sentido, reflita
porque Eichmann (que nunca fora soldado, nem tinha formação militar) era o
“paciente ideal” para as “regras de linguagem”.
Língua Portuguesa 62

2.9- IDEIAS-CHAVE

Se por um lado a escolha do léxico é fundamental para construir uma boa


redação, por outro, no processo de leitura também podemos compreender
melhor um texto destacando as palavras-chave que compõem a obra.
Entretanto, muitas vezes não é fácil chegarmos à síntese de um texto
apenas com as palavras-chave. Quando isso acontece, a melhor solução é
buscar suas ideias-chave. Vejamos como isso pode ser feito:
Justa causa
A lei tradicional do conflito armado não faz distinção entre combatentes baseada em
justa causa (jus ad bellum), ou seja, qual lado está certo. Excluir uma estimativa de justa
causa é fundamental para os direitos de que os soldados gozam. Qualquer combatente
capturado desfruta dos direitos concedidos a um prisioneiro de guerra (POW), incluindo
tratamento humano, isenção de tortura, e o direito de repatriação quando a guerra
terminar. Nenhum soldado, a menos que seja criminoso de guerra (tenha cometido violação
grave à Convenção de Genebra), pode ser considerado criminalmente responsável por seu
comportamento. Isso vale para soldados combatendo mesmo para o mais implacável
agressor.
Guerras justas ou causas nobres, por outro lado, implicam que soldados de um lado
sejam corretos e justos, enquanto seus adversários são maléficos e injustos. A justa causa,
portanto, desafia a norma da igualdade entre combatentes e oferece o palco para a
responsabilidade do combatente (acima referida). Por um lado, muitos Estados impõem
culpa e responsabilidade a guerrilheiros e terroristas internacionais e os rotulam criminosos
e combatentes fora da lei. Por outro lado, nisso repousa uma corrente subterrânea de
legitimidade ao terrorismo, quando utilizado por movimentos de libertação nacional. Isso
torna alguns Estados hesitantes quanto a condenar unilateralmente todas as formas de
terrorismo. Mas, se o terrorismo em busca de uma justa causa é algumas vezes defensável,
aqueles que o combatem – uma potência invasora, por exemplo –, podem também ser
criminosos.
A justa causa também permeia a ideia da intervenção humanitária. Respaldada no
direito da ONU de utilizar força militar para proteger civis de líderes predatórios, a
intervenção humanitária ganha credenciais e demanda apoio internacional, quando um
governo desonesto faz guerras injustas, comete genocídio ou crimes contra a humanidade.
Se forças humanitárias internacionais são justas, as que a elas se opõem, soldados de forças
regulares sudanesas, por exemplo, são gritantemente injustas e criminosas. Uma brisa de
criminalização, portanto, permeia o conflito assimétrico quando cada vez mais adversários
veem uns aos outros como vilões desprezíveis e não inimigos honoráveis ou irmãos em
armas. Isso significa radical mudança da forma convencional de pensar a guerra e enfatiza
a noção emergente de responsabilidade do combatente.
Gross, M. L. Dilemas morais da guerra moderna: tradução de Geraldo Alves Portilho
Júnior (1ª ed.). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2014. pp. 26-27
Língua Portuguesa 63

O título é uma boa pista para encontrar as palavras-chave. No texto acima,


temos: Justa Causa. Essas palavras deverão guiar-nos na busca das ideias-
chave.
Vamos por partes:
• 1º parágrafo: o texto fala sobre os direitos dos soldados segundo as
leis internacionais do conflito armado. Chegamos à seguinte ideia-
chave:
Os soldados em um conflito armado não são responsabilizados criminalmente
por seus atos, a menos que cometam um crime de guerra.
• 2º parágrafo: aqui o problema repousa no dilema em se considerar
uma justa causa para combater, mas sem legitimar o terrorismo
internacional. A ideia-chave do parágrafo é que, apesar de o terrorismo
ser um ato criminoso, o argumento da justa causa será usado em
ambos os lados de um conflito. Podemos traduzir assim sua ideia-
chave:
Em um conflito armado ambos os lados alegam combater por uma justa causa,
entretanto, isso não legitima o terrorismo.
• 3º parágrafo: neste parágrafo a ideia-chave é que a justa causa
fundamenta a intervenção humanitária, respaldando o uso da força
militar internacional contra líderes predatórios que cometem crime
contra a humanidade, como o genocídio. O autor ainda argumenta que
a responsabilização por esses crimes deve alcançar o combatente.
Aqui não é preciso destacar o caso citado das forças regulares do
Sudão, os exemplos não interessam em uma síntese. A ideia-chave
desse parágrafo é:
Uma justa causa respalda a força militar para defender civis diante de uma
violação do direito internacional humanitário.

Com as três ideias-chave podemos formular um esquema que explique


a essência do texto:

1. Soldados em um conflito armado não são responsabilizados


criminalmente por seus atos, a menos que cometam um crime de
guerra.
2. Em um conflito armado ambos os lados alegam combater por uma
justa causa, entretanto, isso não legitima o terrorismo.
3. Uma justa causa respalda a força militar para defender civis diante
de uma violação do direito internacional humanitário.
Daí para a síntese é simples. Basta juntar as ideias-chave e dar-lhe uma
boa redação. Nesse momento podemos acrescentar alguma ideia ou palavras
que destacamos, mas que não entraram no esquema. Síntese a partir das ideias-
chave:
Língua Portuguesa 64

Em um conflito armado, regido por leis internacionais, os soldados não são


responsabilizados criminalmente por seus atos, a menos que cometam um crime de
guerra. Apesar de ambos os lados do conflito poderem alegar que combatem por uma
justa causa, há limites que devem ser respeitados. A justa causa nunca irá referendar o
terrorismo, pois isso inclui o assassinato de civis. Diante de uma grave violação do
direito internacional humanitário, uma força militar internacional pode evocar a justa
causa respaldar a para defesa de civis.

1 – Leia o texto abaixo e retire a ideia-chave de cada parágrafo e, depois,


faça uma síntese.
Nobreza e areté
O sentido do dever é, nos poemas homéricos, uma característica essencial da
nobreza, que se orgulha por lhe ser imposta uma medida exigente. A força educadora da
nobreza reside no fato de despertar o sentimento do dever em face do ideal, que desse modo
o indivíduo tem sempre diante dos olhos. Pode-se sempre apelar para esse sentimento – aidós
–, e a sua violação desperta nos outros o sentimento que lhe está estreitamente vinculado, a
némesis. Ambos são em Homero conceitos constitutivos do ideal ético da aristocracia.
O orgulho da nobreza, baseado numa longa série de progenitores ilustres, é
acompanhado pelo conhecimento de que essa proeminência só se pode conservar através
das virtudes pelas quais foi conquistada. O nome de áristoi (melhores) convém a um grupo
numeroso; mas, no seio desse grupo, que se ergue acima da massa, há luta pelo prêmio da
areté (virtude, honra). A luta e a vitória são, no conceito cavaleiresco, a autêntica prova de
fogo da virtude humana. Elas não significam simplesmente a superação física do adversário,
mas a comprovação da areté conquistada na rigorosa exercitação das qualidades naturais.
A palavra aristeia, empregada mais tarde para os combates singulares dos grandes
heróis épicos, corresponde plenamente àquela concepção. O esforço e a vida inteira desses
heróis são uma luta incessante pela supremacia entre seus pares, uma corrida para alcançar
o primeiro prêmio. Daí o inesgotável gaudio na narração poética dessas aristeiai. Até na paz
se mostra a satisfação da rivalidade pela areté viril, ocasião para cada um se manifestar em
jogos guerreiros, como a Ilíada os descreve a propósito dos jogos fúnebres realizados, numa
curta pausa da guerra, em honra do Pátroclo morto. Foi essa emulação que fixou como lema
da cavalaria o verso citado pelos educadores de todos os tempos, e que o igualitarismo da
novíssima sabedoria pedagógica positivista abandonou: αἰέν ἀριστεύειν καὶ ὑπείροχον
έμμεναι άλλων (Sempre se esforce para alcançar a excelência e vencer os demais).
Jaeger, W. Paideia: A formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira
(6ª ed). São Paulo: Martins Fontes, 2013. p. 26 (adaptado)
Língua Portuguesa 65

Ideia-chave do 1º parágrafo:

Ideia-chave do 2º parágrafo:

Ideia-chave do 3º parágrafo:

Síntese:

2 – Produza um texto dissertativo-argumentativo de 20 a 30 linhas sobre


o tema:

O poder da linguagem na construção da identidade militar: discuta


como a linguagem pode influenciar a forma como as pessoas se veem e
como se relacionam com o mundo ao seu redor.

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