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O Comportamento

O Sistema Nervoso
Vegetativo

Luis Bigotte de Almeida


Universidade Lusófona
Comportamento de espécie e individual

 Específico de espécie ou instintivo


Ex.: Idade em que o bebé começa a gatinhar (8 a 12 meses)

 Individual – Comportamento apetitivo e defensivo

Indivíduos especialistas (satisfeitos com pouco)

Indivíduos oportunistas (experimentadores)


Por autodefesa – Alimentação
Integridade física
Sequência do comportamento de espécie ou
instintivo - I

1ª Fase – Comportamento apetitivo

Respostas variáveis que fazem o indivíduo procurar


estímulos ambientais apropriados ou um objecto-
finalidade (companhia, comida, água, material para o lar)
Sequência do comportamento de espécie ou
instintivo - II

2ª Fase – Comportamento consumatório

Série de movimentos estereotipados – padrões de


acção fixos – cada um é uma sequência comportamental
desencadeada por um estímulo ambiental, que não
requer aprendizagem, semelhante a um reflexo
embora mais complexo e precedido de uma fase
de comportamento apetitivo
O comportamento do homem

 Tem um comportamento exploratório - é o mamífero


mais curioso (o mais oportunista)

 É neofílico – tem atracção pela novidade (não é


neofóbico)

 O conhecimento conduz o homem ao desprezo mas


retém a experiência

 A neofilia persiste na idade adulta ao contrário dos


outros primatas
Dois princípios do comportamento humano

 Exploração – Recompensa

Ex. 1. Uma criança de ano e meio gosta da bola


que mais saltita ao ser atirada com
pouca força

Ex. 2. Gosta também do risco e do ruído que é


feito ao bater com o bico do lápiz numa
folha de papel – torna-se uma forma de
comunicação

 Recompensa ampliada
A recompensa ampliada

O comportamento exploratório prolonga as brincadeiras infantis

1. Tornar o desconhecido conhecido


2. Repetição rítmica do que é conhecido
3. Introduzir na repetição todas as nuances possíveis
4. Seleccionar e desenvolver as variações mais satisfatórias
5. Combinar as variações de todas a forma possível
6. Fazer tudo para ter a consciência do ambiente que o
rodeia (o animal actua para um fim e não como meio)
Estas regras aplicam-se tanto a uma criança que brinca como a um pintor que cria uma obra de arte
Aplicações actuais do comportamento exploratório

 Conforto
 Agricultura e alimentação
 Agressão
 Acasalamento
 Arquitectura (construção de refúgios)
 Medicina
 Investigação científica

É uma luta entre o instinto neofílico (que faz progredir) e o neofóbico (a


consciência, que o faz recuar e preferir o conhecido)
Mecanismos antiexploratórios
em situações de stress

 Tamborilar com os dedos


 Segurar e manusear a carteira
 Passear para a frente e para trás
 Mastigar o lápis
 Cofiar o bigode

São actividades deslocadas que reproduzem as acções


antiexploratórias da infância, úteis quando praticadas com moderação
mas que podem tornar-se obsessivas
A agressão

 No homem existem três motivos:


1. Estabelecer domínio numa hierarquia social
2. Estabelecer direitos territoriais
3. Defender a família (apenas no homem)

 Há espécies animais exclusivamente territoriais, outras


hierárquicas. O homem estabelece hierarquias no seu
território
“A ordem no poleiro da capoeira”
Alterações orgânicas no comportamento
agressivo

 Sistema Nervoso Vegetativo ou Autónomo:

– Simpático

– Parassimpático

2 subsistemas opostos que se equilibram!

 Posturas características
Sistema Nervoso Simpático - I

 Prepara o organismo para a violência, eliminando


temporariamente a fadiga:

Aumenta a adrenalina no sangue


Aumenta a produção de glóbulos vermelhos
O sangue é expulso da pele para o músculo e cérebro
O fígado expele a reserva de glúcidos para o sangue
Aumenta a tensão arterial
Taquicárdia, taquipneia e respiração mais profunda
Sistema Nervoso Simpático - II

Erecção dos pelos (excepto no homem)


Interrompe-se a digestão e o armazenamento alimentar
Inibem-se os movimentos peristálticos
Esvazia-se mais dificilmente o recto e a bexiga
Inibe-se a salivação e a secreção de sucos digestivos
Activam-se os mecanismos reguladores da temperatura
Sistema Nervoso Parassimpático

 Mantém e reconstitui as reservas do organismo, tentando


controlar o sistema desencadeante e restabelecer a calma
fisiológica:

Salivação excessiva
Incontinência de esfincteres
Rubor facial
Arfadas e suspiros
Roncos e grunhidos irregulares
Desmaios
O combate ritualizado
simpático-parassimpático

 Muitas vezes existe um jogo entre a resposta agressiva


e o receio que a vai inibindo

O combate ritualizado – atitudes de ameaça e contra-


ameaça – foi substituindo a luta física no homem

 Determina uma alternância de actuação dos dois


subsistemas e um esforço enorme ao SN Parassimpático
Posturas características na agressão - I

 Contracção muscular
 Em bicos dos pés e cabeça para a frente
 Oscilações do corpo para diante e para trás
 Flexão do braço com punho cerrado
 Murros para o ar ou objecto próximo (actividade de
redireccionamento)
Posturas características na agressão - I

 Expressões faciais ameaçadoras:


Olhar fixo
Sobrancelhas franzidas
Testa lisa
Cantos da boca para a frente
Lábios formando uma linha firme e enrugada
Sinais exteriores de medo e actos de
apaziguamento

 Os componentes da mímica facial retraiem-se


 Testa franzida e dentes à mostra
 Palidez
 Atitudes de apaziguamento ou submissão:
Reverência ou inclinar a cabeça e baixar os olhos
Curvar
Ajoelhar
Piscar os olhos
Aperto de mão (sublimação do apresentar uma mão aberta)
Beija-mão
Conversa de bebé e trocas de comida (fase de namoro)
Actividades deslocadas
em situação de tensão

 Arrumar objectos que já estão no sítio certo


 Acender um cigarro sem vontade especial
 Limpar os óculos
 Olhar para o relógio sem dar atenção às horas
 Comer ou beber compulsivamente

Uma actividade deslocada não cumpre a sua função


normal e é apenas uma tentativa de aliviar a tensão
Actividades deslocadas mais primitivas
na tensão agressiva intensa

 Coçar a cabeça
 Roer as unhas
 Limpar a cara
 Cofiar o bigode
 Ajeitar o penteado
 Fungar ou assoar-se
 Esfregar o queixo
 Esfregar as mãos

Actividades comuns a outros primatas


Indivíduos submissos e dominadores

 Indivíduos submissos - executam com mais frequência este


tipo de gestos deslocados

 Indivíduos dominadores - não se entregam habitualmente a


tais práticas

 Pode haver simuladores para atingir um certo fim, mas


desmascaram-se por sinais de que não se apercebem
Exemplo I. A multa no trânsito automóvel

 As justificações ou a afirmação de inocência


correspondem à defesa de território do multado

 Para o agente de autoridade o multado é como um rival


territorial e a atitude do condutor constitui um estímulo
ao contra-ataque do agente

 Mais conveniente seria uma atitude de baixa submissão,


que levará o polícia a uma sensação de apaziguamento
Exemplo II. A posição de sentado - uma
excepção do comportamento humano

 É uma excepção à Regra Geral da Verticalidade


Agressiva:

“A submissão varia na razão inversa da altura do corpo”

No homem a posição de sentado tem força, é uma posição


de domínio!
Profissionais da mentira do comportamento

 Os actores, políticos e diplomatas dedicam a sua vida


profissional a representar mentiras do comportamento

 A sociedade só aos primeiros dá licença para a mentira, pelo


que os outros podem ter alguns sentimentos interferenciais

 O homem é mais mentiroso com palavras do que com outras


formas de comunicação que incluem sinais não simuláveis
Problemas actuais da espécie humana

 Defesa territorial

 Expansão territorial

 Associação viciosa da agressão a distância (com armas) com a


cooperação de grupo (ajuda na caça e na luta)

Deslocaram a agressão do seu objectivo inicial, a dominação,


para o assassinato sem possibilidade de apaziguamento directo
Soluções possíveis para os problemas actuais
da espécie humana

 Desarmamento (teria de se voltar ao combate corpo a corpo)

 Despatriotização dos membros dos grupos sociais (seria agir


contra a tendência natural de agrupamento)

 Promoção de substitutos simbólicos e inofensivos da guerra (jogos


de futebol não resolveriam a defesa e expansão territoriais)

 Controlo intelectual da agressão (para defesa e expansão


territorial a reacção é quase sempre irracional e instintiva)
As soluções biológicas possíveis

 Despovoamento intensivo – grande limitação dos nascimentos:


Uso generalizado de métodos anticoncepcionais
Uso generalizado de métodos abortivos (agressão!)

Afectaria a unidade básica da nossa sociedade - a família

 Emigração para outros planetas (!?)


Três razões de agressão social para o homem

 Defesa de um território de grupo

 Defesa do território familiar dentro do território de grupo

 Manutenção da posição hierárquica pessoal na sociedade


I - Defesa de território

 Território de grupo – País, região, cidade

 Território familiar – Habitação

 Subterritórios (prolongamentos da habitação) – Locais de


trabalho

A necessidade biológica de demarcação territorial leva à


personalização, com símbolos de identificação pessoal
II - Manutenção de uma posição
hierárquica dominante

 Entram em jogo sinais de agressividade


e de submissão:
1. No vestuário e comportamento:
Vestir à moda
Usar gravata e lenço no bolso do casaco
Acentuação vocal
2. Na reprodução de um pequeno grupo tribal
Agenda de contactos pessoais
Comportamento anticontacto com os alheios à tribo

A sociedade é uma série complicada de grupos tribais que se entrelaçam e sobrepõem


O papel da religião - I

 O membro dominador passou de tirano a tolerante e


cooperante, perdendo-se a figura todo-poderosa que
mantinha o grupo sob controlo

 É necessária uma crença comum (para manter a união e o


controlo no grupo)

 Ela tem de impressionar visivelmente (para substituir o


antigo domínio total do membro dominador)
O papel da religião - II

 “Deus” é um factor de coesão e uma medida da tendência


biológica do homem a submeter-se a um membro todo-
poderoso no grupo

 A figura-deus é um ser vivo ou ideal, um humano idoso ou


uma entidade abstracta como o “estado”, o conhecimento,
a compreensão científica do mundo ou equivalente

 A religião é rejeitada quando se torna inaceitável, mas


surge logo outra com os mesmos elementos básicos
O ritmo da evolução cultural pode
ultrapassar o da evolução genética

 Na fase de primata caçador os genes não seriam tão nocivos


para o homem como podem ser na actualidade

 A evolução sócio-cultural ultrapassou por vezes o ritmo das


alterações biológicas, superou os genes sem que o cérebro
tivesse a possibilidade de reorganizar todos os instintos de
animal primata

 O cérebro emocional nem sempre pode estar de acordo com o


cérebro racional

 A nossa civilização complexa só poderá sobreviver se a


profunda exigência animal do homem não fôr contrariada
bruscamente (“a besta complicada que há em cada homem”)
O comportamento

Alimentação e higiene

Luis Bigotte de Almeida


Universidade Lusófona
As actividades humanas

 Alimentação
 Higiene – hábitos de conforto
 Luta
 Fuga
 Acasalamento
A evolução da actividade do homem

 De apanhador de fruta a caçador cooperativo

 De caçador cooperativo a colhedor de alimentos (agricultor)

 De colhedor de alimentos a trabalhador

Persistência de instintos básicos ancestrais só mutáveis por alteração genética


Da caça ao trabalho!
Características comuns - I

 Deslocação regular
 Actividade de predomínio masculino
 Interacção de machos em grupo
 Implicação de riscos e planificação estratégica
Da caça ao trabalho!
Características comuns - II

 Descanso em clubes para machos, bandos de jovens


 Grupos desportivos, sindicatos, sociedades secretas
 Emblemas, uniformes e outros símbolos identificativos
 Perspectivas e linguagem semelhantes
(“caçar clientes”, “razia na bolsa”, “campanha de província”)
A persistência da caça com intuito diferente

A caça desportiva
 Desafio ou jogo com regras estrictas

 Derrota simbólica de um rival

 A recompensa cresce com a dificuldade na perseguição

 Menos praticado pela classe média, que se compensa mais


pelo trabalho
Os actos alimentares

 A procura ou “caça”

 A matança – Substituída pelo triunfo simbólico no


trabalho e no jogo. Persiste na caça
desportiva e nas touradas

 O repasto – As grandes refeições espaçadas resultam da


evolução do homem no sentido carnívoro

Dois ou mais sistemas de motivação


Porque se aquece a comida?

 Para ficar à temperatura da presa

 Porque o homem tem dentes fracos e assim torna os


alimentos mais tenros

 Porque o sabor aumenta quando se aquece, o que se reforça


com condimentos (hábito primata de saborear a comida)
O paladar

Percepção de quatro sabores fundamentais:

Salgado – ponta da língua


Doce – ponta da língua
Ácido – zonas laterais da língua
Amargo – parte posterior da língua

Percepção da consistência e temperatura da comida


O homem – hábitos alimentares primatas e
carnívoros

 É um especialista alimentar (como os outros primatas) e


não um oportunista (como os carnívoros)

 Faz grandes refeições espaçadas (como os carnívoros)


e não petisca aqui e acolá nem mastiga incessantemente
(como os outros primatas)
A alimentação como actividade “deslocada”
frequente

 O homem compensa-se do stress com a alimentação e tem


uma predilecção pelos doces, como os outros primatas

 Os 2 componentes dos alimentos – paladar e valor nutritivo


– equilibram-se habitualmente nos alimentos naturais, o que
pode não acontecer nos artificiais

 As pastilhas elásticas foram criadas como meio de


alimentação “deslocada”
As actividades humanas fundamentais

 Alimentação
 Higiene – comportamento destinado ao conforto
 Luta
 Fuga
 Acasalamento
Comportamento destinado ao conforto

 Higiene

 Manutenção de uma temperatura corporal adequada


(varia só 1 a 1,5 º, com máximo diário ao fim da tarde e mínimo às 4 h da manhã)

 Vasodilatação cutânea e sudação


 Vasoconstricção cutânea e arrepios
 Uso de roupas e do fogo
Comportamentos de conforto semelhantes aos
de outros primatas

 Coçar
 Esfregar os olhos
 Espreguiçar
 Lamber as feridas
 Gostar de banhos de sol

Excepção – Gostar da lavagem com água


Sudação e comportamento humano

 As palmas das mãos e as plantas dos pés apenas suam


com as emoções (constitui uma resposta à ameaça e não
termoregulação)

 A tensão emocional causa sudação nas palmas das mãos,


plantas dos pés, axilas e testa

 As axilas e a testa suam com as emoções e com o calor

 A ingestão de certos condimentos faz apenas suar a face


Os hábitos de conforto e higiene

 São responsáveis pelo aumento da esperança de vida

 Os primatas intercalam catadelas com pequenas


mordeduras dirigidas a causas específicas de irritação
cutânea

 A “catadela social” – um socorro mútuo


A “catadela social”

 Actividade cooperativa não agressiva de apaziguamento

 O sorriso do homem substituiu os estalidos com os


lábios dos outros primatas (convite para catar)

 A linguagem substitui a “catadela social”, tem origem


nos grunhidos e guinchos e é a base da conversa

(Desmond Morris)
Quatro tipos de conversa

 Conversa “catadora” – função de captar a atenção e


reforçar o sorriso em encontros
sociais
“Que lindo tempo!”, “leu algum livro interessante recentemente?”

 Conversa exploratória - esteticamente agradável

 Conversa informativa

 Conversa de expressão emocional


“Estou triste!”, “estou furioso!”
Substitutos no homem da “catadela social”

Satisfazem os instintos primitivos de primata catador

 A conversa “catadora”

 Os animais de estimação

 Os tapetes peludos

 Mobiliário como os sofás

 Barbeiros, cabeleireiros, médicos (“catadores” especializados)


Funções da ida ao cabeleireiro ou barbeiro

 Higiene do cabelo

 Receber a catadela social

 Ornamentar (barbear, depilar, arranjar as unhas, tatuar)


A consulta médica

 Há sintomas que são reflexo de um problema comportamental


que convida à “catadela” (ao aumento da atenção prestada)
Tosse, afonia, cansaço, dores de cabeça ou de estômago

 Os cuidados assistenciais substituem por vezes a antiga


“catadela”, proporcionando um ritual ocupacional – é uma
“catadela” especializada

 A tensão psíquica e física reduz-se com a recompensa obtida

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