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(2007-2014)
Resumo
Estado da arte
A análise da coesão social por este prisma é inédita. Apesar de ter procurado
intensamente interpretações similares, não localizei nenhum trabalho que a tenha
considerado como o fiz em minha tese de doutoramento. Na ocasião, defendi que o
1
Parte da documentação sobre o programa pode ser acessada on-line por aqui:
https://ec.europa.eu/regional_policy/sources/docgener/informat/country2009/pt_pt.pdf
2
Disponível aqui: http://www.seg-
social.pt/documents/10152/13341/Referencial+Coes%C3%A3o+Social_PORTAL/7ed6f9a2-97d8-4e96-
8c74-59047fefadae/7ed6f9a2-97d8-4e96-8c74-59047fefadae).
horizonte da “coesão social” expressaria o enfrentamento das tensões surgidas das
relações sociais de produção de tipo capitalista, com o fito de superar conflitos,
assegurando a reprodução do modo de produção pela acomodação das classes e frações
de classes sociais às hierarquias estruturantes daquela forma social. Não sem razão um
dos patronos da ideia é Emile Durkheim, cuja interpretação da solidariedade orgânica
contém um projeto de futuro, no qual a estabilidade política, econômica e social derivaria
do respeito à divisão social do trabalho e aos papeis sociais tradicionais, inclusive de
gênero e raça. A coesão social, deste ponto de vista, representa uma resposta à guerra de
classes, seja a tocada pelas classes dominantes e seus acólitos (como Herbert Spencer e
Friedrich Hayek), seja a levada a cabo por críticos do capitalismo, do patriarcado e do
racismo 3.
3
PAULO, Diego Martins Dória. As contradições da democracia e o Instituto Fernando Henrique Cardoso.
Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Universidade Federal Fluminense,
2020.
4
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, 6v.
durante o combate aos fascismos5. Já a segunda e a terceira contribuições vêm de autores
franceses. De Grégoire Chamayou, aproveito muito os estudos sobre a ofensiva
empresarial nos Estados Unidos dos anos 1970, ocasião em que se começa a gestar
soluções à “crise de hegemonia” aberta em nível mundial em meio a conflituosa década
dos anos 19606. De Dardot e Laval, incorporo os estudos sobre o chamado neoliberalismo,
destacando as transformações por ele impostas aos aparelhos públicos. À luz destas obras,
a noção de coesão social surge como um parâmetro capaz de condensar experiências
políticas de pacificação social bem-sucedidas.
5
FONTES, Virginia. Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e história. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.
6
CHAMAYOU, Grégoire. A sociedade ingovernável. Uma genealogia do liberalismo autoritário. São
Paulo: Ubu, 2020.
investiguei o Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC) e suas conexões nacionais e
internacionais de 2004 a 2019. Demonstrei como a fundação - criada pelo ex-presidente
brasileiro, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso - integrava uma rede de trocas de
tecnologias políticas que contava ainda com organizações europeias, estadunidenses e
outras entidades latino-americanas. Constatei ter sido o IFHC um dos operadores da
noção de coesão social na América do Sul, contando para tanto com parceiros
importantes, como a Comissão Econômica para América Latina (Cepal) e aparelhos
espanhóis, como a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento (Aecid) 7. Defendi que o processo deveria ser entendido como projeção
política de interesses classistas, daí ser apoiado por grandes empresas transnacionais
espanholas (como a Telefónica e o Santander), todas donas de grande volume de
investimentos externo direto (IED) na região.
7
O projeto redundou no livro O desafio latino-americano – a coesão social na democracia, publicado pelo
IFHC e parceiros em 2008, durante, portanto, o período de execução do plano que se pretende investigar.
8
Ver: CASTRO, José Luís; GONÇALVES, Alda Teixeira. A Rede Social e o Desenvolvimento Local.
Revista: Cidades – comunidades e territórios. Junho de 2002, nº 4, pp. 71-82.
9
Autarquia responsável por gestão da segurança social em Portugal.
10
Cujo objetivo autoproclamado é a “investigação e prestação de serviços que procura combinar a avaliação
de programas e políticas públicas com a fundamentação técnica de intervenções de natureza económica e
social”. Ver: http://www.iese.pt/?t=sobre-nos&p=2
nosso ponto de vista, trata-se de mais uma crise de superprodução de capital, como Marx
definiu as crises do capitalismo 11. O “sistema financeiro”, portanto, foi tão somente uma
caixa de ressonância, e não seu princípio causador12. De sorte que em 2007 e antes disso
já se viviam turbulências que irromperiam mais fortemente com o estouro da crise.
Referências bibliográficas
BLANCHARD, Olivier. Adjusting within the euro. The difficult casse of Portugal, MIT,
Department of Economics, 11 de Novembro de 2006. Disponível em:
http://econ-www.mit.edu/files/740
11
MARX, Karl. O capital. O processo global da produção capitalista. Livro 3. São Paulo: Boitempo, 2017.
12
Como quer o ponto de vista hegemônico sobre o assunto. Ver: Emanuel A actual crise económica e a
sua origem na esfera financeira. Revista Dirigir, nº 105, 2009.
CASTRO, José Luís; GONÇALVES, Alda Teixeira. A Rede Social e o Desenvolvimento
Local. Revista: Cidades – comunidades e territórios. Junho de 2002, nº 4, pp. 71-82.
DICKSON, Paul. Think Tanks: Centrais de Ideias. São Paulo: Melhoramentos, 1975.
GUILHOT, N. The democracy makers. Human rights and International order, New
York, Columbia University Press, 2005.
MARX, Karl. O capital. O processo global da produção capitalista. Livro 3. São Paulo:
Boitempo, 2017
MCGANN, James G. WEAVER, R. Kent. Think Tanks and Civil Societies in a Time of
Change in: MCGANN, James G. WEAVER, R. Kent: Think Tanks and Civil Societies.
USA, UK: Transaction Publishers, 2005;