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Nota: Este instrumento pedagógico que se espera que seja útil não substitui as
aulas de Macroeconomia de caráter presencial; Trata-se de um resumo, revisto
e atualizado, de Ramos (1999).
Referências Bibliográficas................................................................................................................................... 43
4
1. Introdução à Análise e Política Macroeconómica
A problemática do crescimento económico pode ser vista como uma parte da macroeconomia
porque:
Lida com os grandes agregados macroeconómicos;
Adota uma abordagem dominantemente não-racionalística (pelo menos tradicionalmente).
Figura 1
A teoria do crescimento económico ocupa-se das razões porque isto é assim, porque existe
geralmente tal tendência secular ao aumento do produto.
O que se passa contudo na realidade é que o trajeto do produto não é geralmente uma linha tão
regular quanto no diagrama em cima (Figura 1). A tendência ascendente existe, mas o produto
oscila em torno dessa tendência (Figura 2):
1
Produto real (em oposição a produto nominal). Essa é também a noção de produto usada em outros
conceitos abordados nesta seção: curva do produto potencial, produto efetivo, hiato do produto.
5
Figura 2
À tendência do diagrama anterior (Figura 2) é costume chamar Curva do Produto Potencial; à linha
efetivamente percorrida Curva do Produto Efetivo.
A ideia em economia é que a Curva do Produto Potencial corresponde ao pleno emprego (ou plena
utilização) dos recursos produtivos (ou o que é o mesmo dos fatores de produção).
Pleno emprego não é sinónimo de máxima utilização física até à exaustão - as pessoas não
trabalham 16 horas por dia. Pleno emprego significa somente a utilização eficiente dos fatores de
produção. O que quer dizer que em pleno emprego do fator trabalho pode haver mesmo
indivíduos completamente desempregados…(os que transitam entre dois empregos - não é
possível, nem eficiente, anular este período de transição).
Daí que não seja estranho que no diagrama anterior (Figura 2) se possa estar para além do produto
potencial, ou o que é o mesmo do pleno emprego.
Hiato do produto é a diferença entre produto potencial e produto efetivo, que pode pois ser
negativa quando se está para além do pleno emprego.
6
- Se examinarmos à lupa o diagrama anterior (Figura 3)…
Figura 3
É agora patente que o que é relevante, através da lupa, é a existência de oscilações (do produto
efetivo em torno do produto potencial); é saber se o produto efetivo está aquém ou além do pleno
emprego; a tendência subjacente nem sequer é percetível se olharmos através da lupa.
É claro que tal como a teoria do crescimento pode fundamentar uma política de crescimento,
também a análise de estabilização pode fundamentar uma política de estabilização.
Compreendendo o porquê das oscilações pode-se tentar minimizar a flutuação, de tal modo que o
produto efetivo não se afaste muito do nível eficiente de utilização dos fatores.
Precisemos ainda, em termos de terminologia, o que vemos através da lupa (Figura 4):
Figura 4
7
Modelos macroeconómicos em análise
O nosso objetivo não é prosseguir o estudo da teoria do crescimento, mas debruçarmo-nos sobre a
análise e política de estabilização.
Por outro lado, como é habitual na economia, vamos fazer uso de modelos.
Vamos iniciar o nosso estudo do mercado dos bens e serviços, ou o que é o mesmo do mercado do
produto.3
A oferta e procura no mercado do produto têm designações específicas que são respetivamente
Produto (Y) e Despesa (D). Produto e Despesa não são pois a mesma coisa (são conceptualmente
diferentes), embora possam assumir o mesmo valor (serem quantitativamente iguais) se o
mercado estiver em equilíbrio.
Note-se que Produto e Rendimento não são também conceptualmente a mesma coisa. Produto é
uma medida do valor da produção, enquanto o Rendimento refere-se à massa de rendimentos
auferidos pelos agentes, na sequência desse processo de produção. Já sabemos contudo que
Produto e Rendimento apesar de conceptualmente distintos, valem quantitativamente o mesmo.
Daí que Produto e Rendimento sejam doravante identificados pelo mesmo símbolo Y.
2
O longo prazo, evidentemente, corresponde aos modelos de crescimento em que a capacidade produtiva é
variável. Dentro dos modelos que assumem a hipótese de capacidade produtiva fixa, uma segunda variante
são modelos de preços variáveis que diremos corresponder ao médio prazo. O que é curioso nesta
classificação é que ela está no cerne da grande divergência entre os economistas nos nossos dias. Esta
consiste em boa medida em saber o que quer dizer, em quanto medem, estes curto, médio e longo prazos.
Na seção 3.3, fazemos considerações introdutórias sobre os modelos de preços variáveis.
3
Este mercado é na realidade não um só, mas um agregado de diferentes mercados. Esta abordagem
agregada é naturalmente típica da macroeconomia.
8
Em modelização, quando falamos em despesa referimo-nos à despesa ex-ante (despesa desejada).
Há equilíbrio no mercado dos bens e serviços quando: Y = despesa planeada = despesa verificada.
Por definição:
D=C+I
Isto é obviamente uma simplificação: admite-se provisoriamente que só há duas fontes de procura
(motivos de despesa), consumo (C) e investimento (I).
Função consumo:5
C = C(Y) CY > 0
Note-se que o consumo é um assunto das famílias, donde depende só do rendimento das famílias.
A nossa hipótese que depende de Y - o rendimento de todos os agentes, que para já são só as
famílias que consomem, e as empresas que investem - é uma simplificação. Admite-se
implicitamente que todo o lucro obtido pelas empresas é distribuído aos seus acionistas, que são
parte das famílias.
4
Y é comandado por D. A Lei de Say afirma que qualquer oferta cria a sua própria procura, o que é uma
forma de dizer que a oferta comanda a procura. Ao contrário, no modelo keynesiano a procura comanda a
oferta.
5
No caso mais geral podemos tomar o consumo não apenas dependente do rendimento mas também da
taxa de juro (neste caso, de forma inversa). Ver mais em baixo também sobre a função poupança.
9
C
Figura 5 Y
ΔC/ΔY + ΔS/ΔY = 1
S/Y e ΔS/ΔY são respetivamente as propensões média e marginal a poupar, por regra maiores que
0, pelo que a PMC e a PMgC vêm inferiores a 1.6
Supõe-se, portanto, que é uma “lei psicológica fundamental” das sociedades modernas que,
quando o rendimento aumenta, o consumo aumenta, mas que à medida que o rendimento
aumenta o consumo aumento menos do que o aumento do rendimento.
6
A poupança no nosso modelo é, portanto, função do rendimento. Mas muitos autores acrescentam a ideia
clássica de que a taxa de juro determina (de forma direta) a poupança. A taxa de juro é simplesmente a
remuneração da poupança ou o preço que os consumidores têm de pagar para consumirem e não
pouparem. No fundo, a taxa de juro assegura uma repartição harmoniosa de um rendimento fixo, entre por
um lado consumo e poupança, por outro consumo e investimento.
10
Por último:
S = I é uma forma alternativa de exprimir o equilíbrio no mercado dos bens e serviços, já que
resulta de, só é verdadeira se, Y = D, ou seja:
e em consequência S = I
Em qualquer dos casos deve haver uma relação inversa entre investimento (I) e taxa de juro (i):7
I= I(i) Ii < 0
Uma nota importante é que a taxa de juro, como nós a vamos considerar, não existe, é uma
abstração. Na realidade existem várias taxas de juro.
A hipótese que implicitamente admitimos é que todas as taxas de juros evoluem em paralelo,
donde podemos tomar qualquer uma para o nosso modelo, dado que os seus movimentos são
representativos do movimento de todas as taxas de juro.
Podemos elaborar um pouco mais o nosso raciocínio, segundo o qual existe uma relação inversa
entre investimento e taxa de juro.
A ideia base é que face a cada projeto concreto, um empresário decide investir consoante a taxa de
rentabilidade esperada – por vezes designada de Eficiência Marginal do Capital (EMK) – é superior
ou não à taxa de juro.
7 e
É sabido que a expressão correta para a função investimento é: I = I(r), com r = i - π , sendo r a taxa de juro
e
real, i a taxa de juro nominal e π a taxa de inflação esperada. Mas, como estamos a analisar modelos em que
e
se subentende que o nível de preços é constante, então π = 0 e, portanto, i = r, ou seja, as taxas de juro
nominais e reais são iguais.
11
Assim, considerando os projetos de investimento existentes na economia, uma elevação da taxa de
juro levará ao abandono de alguns projetos de investimento doutro modo concretizados
(exatamente daqueles que, com essa elevação taxa de juro, passaram a ter uma taxa de
rendibilidade esperada inferior à taxa de juro), e consequentemente à queda do valor global do
investimento. O inverso acontecerá numa situação em que a taxa de juro se reduza.
Conjugando as principais motivações intuitivas resulta que quanto maior é a taxa de juro maiores
serão os custos de financiamento dos investimentos e menos serão os projetos de investimento
com taxas de rentabilidade superiores a essas taxas de juro, pelo que é de concluir que aumentos
da taxa de juro provocam diminuições no nível de investimento.
Vamos abandonar temporariamente o nosso estudo do mercado dos bens e serviços, e vamos falar
de moeda.
O nosso objetivo, entre outros, é introduzir no nosso estudo a possibilidade de política monetária,
já que todos temos a ideia que a quantidade de moeda em circulação, em parte controlada pelas
autoridades, é importante nas economias.
A riqueza é o património, isto é, o conjunto de bens duráveis ou outros ativos detidos pelos
indivíduos.
Moeda: M1, M2 e outros agregados monetários mais ou menos estreitos (mais abaixo
clarificados);
Obrigações (taxa fixa / taxa indexada);
Ações;
Ativos físicos.
8
Confrontando a estrutura efetiva de riqueza (oferta) com a estrutura desejada de riqueza (procura) verifica-
se a seguinte igualdade: o excesso de oferta de moeda somado com o excesso de oferta de obrigações tem
12
Daí que cinjamos a nossa atenção ao mercado da moeda, mas ainda assim e de forma implícita o
mercado das obrigações esteja presente no nosso modelo.
A massa monetária total engloba, portanto, todos esses agregados definindo-se como um conjunto
M que inclui todos os ativos que podem desempenhar alguma(s) das funções da moeda.
Os indivíduos procuram muita moeda se decidirem deter a sua riqueza numa forma
essencialmente líquida.
("Líquida" significa que a riqueza pode ser facilmente mobilizada, em ordem a ser despendida)
Ao contrário, os indivíduos procuram pouca moeda se escolherem uma estrutura pouco líquida
para a sua riqueza.
Neste último caso, a riqueza não pode ser facilmente mobilizada com o objetivo de ser despendida.
de ser nulo. Logo, ambos os mercados têm que estar em equilíbrio, ou então, um mercado tem que estar em
excesso de oferta e o outro em excesso de procura. Esta é uma particularização da lei de Walras.
9
Taxa de juro nominal, já que é esta que representa o custo de oportunidade total da posse de moeda.
13
Esta ideia pode ser expressa em termos intuitivos:
Se a taxa de juro for elevada então os agentes económicos prescindem da liquidez, isto é,
preferem deter a sua riqueza essencialmente em ativos que proporcionam rendimento
(juros, dividendos, etc.);
Se a taxa de juro for baixa os agentes económicos preferem liquidez...
Pela mesma ordem de ideias se compreende, de forma intuitiva, que a procura de moeda varia
diretamente com o nível de rendimento.
A maior facilidade (ou dificuldade) das condições de crédito ao restante sistema bancário,
consubstanciam-se numa taxa de redesconto mais baixa (ou mais alta). O mesmo sucede com o
instrumento chamado de taxa de reserva legal.
Outras duas formas de injetar moeda na economia, mas sobre as quais o Banco Central tem um
controlo relativo, são:
O contrário se verifica com amortizações da dívida do Estado ao Banco Central e deficits na balança
de pagamentos…
10
Retomaremos este assunto na seção 2.3.1.
11
Abordaremos este documento contabilístico na seção 2.4.1.
14
2.3 Setor Público (Não Financeiro)
Estas despesas e receitas são inscritas num documento que se designa Orçamento Geral do Estado
– documento que apresenta uma previsão das Receitas e das Despesas do Estado para o ano
seguinte àquele em que é elaborado.
Orçamento Geral do Estado versus Conta Geral do Estado: Na realidade o que é importante, em
termos económicos, não é o que se orçamenta, mas o que efetivamente se despende e coleta.
Na realidade o que se passa, por exemplo em termos das Contas Nacionais portuguesas, é o
seguinte (Figura 6):
Figura 6
Administração Central;
Administração Regional e Local;
Segurança Social.
Estado;
Serviços e Fundos Autónomos;
Outros organismos dependentes da Administração Central.
15
(o setor das Administrações Públicas não inclui as empresas públicas)
Falar em Estado é pois uma simplificação de linguagem. Trata-se sim do Estado em sentido lato ou
do Setor Público Administrativo (SPA).
Mas deixemos esta questão e discutamos, então, que despesas e receitas se inserem na Conta das
Administrações Públicas, ou simplificadamente conta do setor público, tendo por base as principais
componentes do Orçamento do Estado / SPA (Figura 7).
Figura 7
16
Principais (não todas…) rubricas das Despesas Correntes:
o Transferências do Estado:13
o Impostos Diretos (Td): impostos que incidem sobre o rendimento das famílias e
empresas:
12
Ver mais em baixo o ponto referente ao financiamento do défice público.
13
Transferências em Economia significa transacções unilaterais, isto é fluxos monetários a que não subjaz
uma contrapartida real, ou – menos frequente – fluxos reais sem contrapartida monetária.
14
Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF): despesas em bens de capital fixo (fábricas, maquinaria,
equipamento, material de transporte, entre outros) feitas pelas empresas. Em rigor, a FBCF divide-se em
pública e privada, sendo a última composta pelo investimento empresarial, ao qual se adiciona ainda o
investimento dos particulares em habitação.
17
o Impostos Indiretos (Ti): impostos que incidem sobre os bens e serviços:
Se RP < DP, o saldo orçamental é negativo, mais conhecido por Défice Orçamental (Défice
Público);
Se RP > DP, o saldo orçamental é positivo, mais conhecido por Excedente Orçamental;
Se RP = DP, o saldo orçamental é nulo, mais conhecido por Equilíbrio Orçamental.
As duas principais saídas para o Estado cobrir o seu défice, isto é, financiar a parte das despesas
públicas que não é financiada pelas receitas públicas:
Contração de dívida pública: pedindo empréstimos junto do setor privado, isto é, emitindo
obrigações conhecidas por Títulos da Dívida Pública (TDP).
No segundo caso, ao contrário do que sucede no primeiro, não há criação de moeda e apenas
transferência de moeda dos cidadãos para o Estado.16
15
O saldo primário consiste no saldo orçamental convencional (ou saldo global) expurgado da despesa em
juros (juros da dívida); pretende-se dar uma ideia do saldo orçamental, após se ter anulado o “peso do
passado”.
16
A proibição de “emissão de moeda” (para financiamento do défice público) visa permitir que o Banco
Central possa prosseguir uma política monetária independente, excluindo, portanto, possibilidades de
pressão de órgãos do governo. É o que sucede, por exemplo, no seio da UEM/União Económica e Monetária.
18
Há, contudo, outras formas adicionais de o Estado financiar o seu défice:
Stock da Dívida Pública: representa o total acumulado da dívida do Estado, isto é, o montante que
o Estado deve (em capital e juros) até ao corrente ano.17
Impostos e rendimento
Em termos de modelística, não vamos sequer introduzir todas aquelas receitas e despesas, mas
apenas as seguintes:
Na definição de despesa:18
D=C+I+G
Yd = Y - Td + tr
17
Sendo que há sempre uma parcela que é dívida pública externa…
18
Note que I pode subentender ser público e privado. Contudo, por simplificação (embora sem perda de
generalidade), não introduzimos o investimento do setor público.
19
No fato de ser o rendimento disponível (e não o rendimento, que por um conjunto de
hipóteses era igual ao rendimento das famílias) que se reparte em consumo privado e
poupança das famílias (Sf):
Sf = Yd – C
Por outro lado, como temos outro agente económico, o Estado, a poupança desse outro agente
não pode ser esquecida. Assim:
Sabemos que
Y=D=C+I+G
Fazemos
Y - Td + tr = C + I + G - Td + tr
Yd = C + I + G - Td + tr
(Yd – C) + (Td - tr – G) = I
Sf + Se = I
A poupança do setor público (Se) é o saldo orçamental corrente, por simplificação, igual ao saldo
orçamental, já que não introduzimos o investimento do setor público.
Ou seja, de forma genérica, o saldo orçamental aparece como a diferença entre as receitas totais
cobradas pelo Estado e as suas despesas totais. No contexto do modelo, às receitas totais
correspondem os impostos diretos, e às despesas totais, o consumo público e as transferências do
Estado com os particulares.
(note-se que utilizamos a expressão saldo orçamental, apesar de nos referirmos à conta do setor
público, isto é, às receitas e despesas efetivamente ocorridas)
Como é óbvio Se pode ser negativa, e é mesmo frequente que o seja. A conta do setor público é
então deficitária, pelo que a poupança das famílias, além de financiar o investimento da economia,
tem de compensar o saldo negativo do Estado.
No que especificamente respeita aos impostos diretos, a ideia de que dependem do nível de
rendimento é intuitiva:
20
Seguem-se duas hipóteses possíveis para a função imposto:
Td= u + ty u<0
Td= tY (u = 0)
Se na equação Td = tY se tiver t = 0,2 o que isto significa é que, quaisquer que sejam os seus
rendimentos, os cidadãos pagam 20% do seu rendimento em impostos diretos.
Na realidade, a grande maioria dos impostos diretos são progressivos com o rendimento, ou seja,
os cidadãos com maior rendimento pagam uma maior percentagem do seu rendimento em
impostos.
Então, quando o rendimento real do conjunto dos cidadãos aumenta, estes no seu conjunto
deverão também pagar mais impostos em proporção do rendimento.
A função T = u + tY, com u < 0, é uma boa aproximação linear a um sistema fiscal com impostos
progressivos, como poderão verificar considerando, para um exemplo concreto, vários níveis de
rendimento e consequentemente de impostos.
A BP regista apenas o fluxo monetário de um fluxo real. Por exemplo, a exportação (saída) de
mercadorias tem como contrapartida a entrada de divisas e é esta última que se regista com sinal
positivo (entrada) na BP, mais propriamente, na Balança Comercial.
21
A Balança Corrente, por sua vez, comporta as seguintes balanças:19
Balança Comercial;
Balança de Serviços;
Balança de Rendimentos;
Balança de Transferências Correntes.
19
Embora esta seja a expressão retida nos atuais manuais estatísticos internacionais de BP (que têm a
paternidade do FMI/Fundo Monetário Internacional), a teoria económica usa também por vezes
alternativamente a expressão Balança de Transações Correntes (BTC). Embora esta expressão tivesse,
quando era utilizada nas estatísticas internacionais, um conteúdo ligeiramente diferente do da atual Balança
Corrente, as duas designações devem ser vistas hoje como equivalentes.
20
Embora esta designação de Balança Financeira seja neste momento a designação oficial, utilizada nas
estatísticas de BP, nos livros de Macroeconomia é usada também a expressão Balança de Capitais para
designar os mesmos fluxos. Note-se pois que Balança de Capitais (no plural) é diferente de Balança de Capital
(no singular).
21
Por definição são fluxos que visam a constituição ou aquisição de um activo, sendo pois que a
contrapartida do fluxo monetário é o direito que é conferido por esse activo. Note-se que enquanto as
aquisições ou alienações de activos se registam na Balança Financeira, já diferentemente o rendimento
desses mesmos activos vem registado na Balança Corrente (Balança de Rendimentos).
22
Saldo da Balança Corrente = Entradas de Divisas (ED) – Saída de Divisas (SD)
Se ED < SD, o saldo da balança corrente é negativo, traduzindo que a atividade económica
do país não gera receitas suficientes para cobrir os seus encargos com o exterior;
Se ED > SD, o saldo da balança corrente é positivo, traduzindo que a atividade económica
do país gera receitas suficientes para cobrir os seus encargos com o exterior;
Se ED = SD, o saldo da balança corrente é nulo, traduzindo uma situação de equilíbrio da
economia perante o exterior.
Se o Saldo da BP é sempre nulo, então um défice na balança corrente exige excedentes na balança
financeira e de capital e vice-versa.
Agora o que pode acontecer é que ex-ante procura e oferta desejadas de moeda estrangeira
podem não ter sido coincidentes, tendo as autoridades – o Banco Central (BC) – vindo ao mercado
para, de duas uma:
Satisfazer um eventual excesso de procura (cedendo moeda estrangeira das suas reservas);
Absorver um excesso de oferta (aceitando aumentar assim as suas reservas de moeda
estrangeira).
Quando tal ocorre diz-se que a BP registou um desequilíbrio no seu saldo global (apesar de
contabilisticamente o lado esquerdo da BP totalizar exatamente o mesmo montante que o lado
direito).
Uma forma simples de verificar a ocorrência deste desequilíbrio no saldo global da BP é procurar
no interior da BP a variação de ativos de reserva do BC e ver se esta foi (aproximadamente) nula,
positiva ou negativa.23
22
Embora procura e oferta num qualquer mercado possam diferir à partida (ex-ante), é inevitável que a
posteriori elas sejam iguais (ex-post). Isto é, se alguém vendeu outro comprou, pelo que as vendas totais de
um certo produto num certo período são sempre e necessariamente iguais às compras totais. Este princípio
aplica-se obviamente à procura e oferta de moeda estrangeira, que sendo registadas ex-post na BP, são
nesse quadro sempre iguais.
23
Na realidade esta é uma forma imperfeita de verificar a ocorrência de um desequilíbrio global da BP, já que
o BC pode ter “financiado” este desequilíbrio, isto é colmatado o excesso de procura ou absorvido o excesso
de oferta por moeda estrangeira, por outro mecanismo que não uma variação dos ativos de reserva. Um
exemplo doutro processo de financiamento do desequilíbrio é o recurso pelo próprio BC a empréstimos
internacionais (fique contudo com a ideia que estas operações, exceto em situações particulares de crise, são
infrequentes). Os ativos de reserva do BC são também frequentemente designados reservas de divisas. Estas
23
Algumas notas adicionais em relação à balança comercial e suas componentes24
Se X < M, o saldo da balança comercial é negativo, mais conhecido por Défice Comercial;
Se X > M, o saldo da balança comercial é positivo, mais conhecido por Excedente
Comercial;
Se X = M, o saldo da balança comercial é nulo, mais conhecido por Equilíbrio Comercial.
Taxa de Cobertura das importações pelas exportações: a percentagem das importações que é
coberta pelas exportações.
Em relação às importações pode-se admitir que são crescentes com o nível de rendimento:
M= M(Y) MY > 0
Ou seja, uma relação positiva entre importações – a procura (pelos residentes) de bens de
consumo e de investimento produzidos no exterior – e o rendimento.
não têm que consistir mesmo exclusivamente em dinheiro estrangeiro, mas podem ser aplicações de curto
prazo facilmente mobilizáveis – depósitos ou similares – denominadas em moeda estrangeira. Por razões
históricas, as reservas dos BC podem consistir também em ouro, para além das divisas.
24
Embora haja alguma tradição na Economia de designar os fluxos de bens (tangíveis) com o exterior como a
Balança Comercial, a verdade é que hoje o mais frequente é usar-se essa expressão para designar as
exportações e importações, quer de bens quer de serviços. Alguns autores, contudo, para evitar confusões,
preferem a expressão Balança de Bens e Serviços para o conjunto dessas duas linhas.
25
Sobre o cálculo do PIB pela ótica da despesa, veja-se a seção seguinte (seção 2.5).
24
A justificação desse comportamento tem a ver com o fato de um aumento do produto exigir o uso
de mais energia, matérias-primas e bens de consumo intermédio e de equipamento, sendo uma
boa parte destes produtos importados.
Por outro lado, um aumento do rendimento origina, como se sabe, um aumento do consumo e
parte desse consumo adicional vai dirigir-se a bens importados.
Quanto às exportações (procura externa), podemos supor pela mesma ordem de razões que
dependem do rendimento estrangeiro (do resto do mundo). De fato, na medida em que dependem
essencialmente de fatores ligados à economia mundial, exteriores ao país, as exportações são
normalmente assumidas como uma variável exógena.
O Produto Interno pode então ser calculado segundo três óticas: Despesa, Produto (ou, melhor
ainda, Valores Acrescentados) e Rendimento.
25
Vejamos o cálculo do PIB pela ótica da despesa (Figura 8):
Figura 8
Produção Interna (PIBpm): produção que ocorre em território nacional (no país).26
Produção Externa ou Importações (M): produção que ocorre no estrangeiro.
Procura Interna (PI): procura por agentes económicos internos (famílias, empresas e
Estado).
Procura Externa ou Exportações (X): procura por agentes económicos estrangeiros
(exterior).
Consumo Privado (C): despesas em bens e serviços feitas pelas famílias.
Consumo Público (G): despesas em bens e serviços feitas pelo Estado/SPA.
Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF): despesas em bens de capital fixo (fábricas,
maquinaria, equipamento, material de transporte, entre outros) feitas pelas empresas. Em
rigor, a FBCF divide-se em pública e privada, sendo a última composta por investimento
empresarial, ao qual se adiciona ainda o investimento dos particulares em habitação.
Variação de Existências/Stocks (VE): diferença entre o stock final e o stock inicial de bens
que não são bens de capital fixo (bens armazenados e não vendidos).
26
Mais concretamente, produção que ocorre em território nacional, quer seja realizada por residentes, quer
por não residentes (Critério da territorialidade: ONDE se gera a produção/rendimento?). Em contrapartida, a
Produção Nacional (PNBpm) pode definir-se como a produção realizada por agentes económicos residentes,
quer seja em território nacional, quer seja no estrangeiro (Critério da residência: A QUEM pertence a
produção/rendimento gerado?).
26
Em síntese, a medição do produto segundo a ótica da Despesa (PIBpm) consiste em adicionar as
despesas feitas pelas famílias, empresas, Estado e exterior (ou RM/Resto do Mundo) em bens e
serviços produzidos internamente (no território nacional).27
PIBpm = D = C + I + G + X - M
I
C+I+G+(X-M)
C
X-M G
S C+I+G+(X-M)-Ti
Ti
Famílias Exterior Governo Empresas
Tre Tr-Td
Y+Tr+Tre-Td
Y
Figura 9
Os rendimentos que as famílias auferem das empresas (Y) são aumentados pelas transferências
recebidas do Estado (Tr), pelas transferências provenientes do exterior (Tre) – simplificadamente, o
saldo da balança de transferências correntes – e deduzidos pelos impostos diretos (Td).
O resultado é o que se designa por rendimento disponível dos particulares (Yd), ou seja, o
rendimento que as famílias efetivamente dispõem depois de pagarem os impostos por elas devidos
e depois de receberem certas transferências vindas do Estado (exemplo: prestações sociais) e do
Exterior (exemplo: remessas de emigrantes).
27
Logo, PIBpm = DI, em que por DI se entende a Despesa Interna. Se à Despesa Interna adicionarmos os
Rendimentos Líquidos Recebidos do Resto do Mundo obtemos a Despesa Nacional (DN). Portanto,
DN=PNBpm.
27
Donde:28
Yd = Y – Td + tr + tre
O rendimento disponível das famílias Yd será consumido (C) ou poupado (Sf), ou o mesmo é dizer
que a parte do rendimento disponível que não é gasta na compra de bens e serviços pelas famílias
constitui a poupança das famílias (Sf), ou seja:
Sf = Yd – C
Supondo que o Estado e o Exterior não realizam poupança, ou seja, há equilíbrio orçamental e
equilíbrio na balança corrente, a poupança das famílias Sf resume a poupança da economia (S).29
Essa poupança (S=Sf) é canalizada através do sistema financeiro para as empresas que com ela
financiam o seu investimento (I), a compra de bens de capital pelas empresas.
S=I
A soma das despesas ou dos gastos em bens de consumo realizados pelas famílias (C), das
despesas em bens de capital realizadas pelas empresas (I) e das despesas em bens realizadas pelo
Estado (G) e pelo exterior (X), deduzida dos gastos em bens produzidos no exterior (M)
corresponde ao chamado Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm).
Daqui resulta a fórmula mais comum para o cálculo do PIB pela ótica da despesa:
PIBpm = D = C+ I + G + X – M
Ao PIBpm devemos deduzir os impostos indiretos pagos ao Estado (Ti) e acrescer os subsídios
recebidos pelas empresas (Sub, parte de Tr). O resultado a que chegamos designa-se PIBcf, ou seja:
Agora que fizemos a distinção do produto (Y) entre o produto avaliado a preços de mercado (Ypm)
e o produto avaliado a custo de fatores (Ycf), podemos reescrever as equações anteriores onde o
produto Y aparece, sendo elas, basicamente, duas:
28
Em rigor, poder-se-iam ainda deduzir as contribuições para a segurança social…
29
Aliviaremos esta hipótese mais em baixo.
30
Note que I pode subentender ser público e privado. Contudo, por simplificação (embora sem perda de
generalidade), não introduzimos o investimento do setor público.
28
Yd = Y - Td + tr + tre passa agora a Yd = Ycf - Td + tr + tre
(o rendimento disponível tem na sua origem a remuneração dos fatores de produção - isto
é, o custo de fatores, trabalho e capital; de fato, o rendimento disponível é o rendimento
auferido pelas famílias pela sua participação no processo produtivo).
Sendo certo, como vimos, que o rendimento disponível é o rendimento das famílias sobre o qual
elas tomam a decisão de consumir, ou ao invés, de poupar, também é certo que a poupança das
famílias não resume a poupança da economia.
Y=D=C+I+G+X-M
Y - Td + tr + tre = C + I + G + X - M - Td + tr + tre
Yd = C + I + G + X - M - Td + tr + tre
Sf + Se + Sext = I
A poupança do exterior (Sext) é medida pelo simétrico do saldo da balança corrente, ou seja:
Verificamos, portanto, que a economia de um país pode beneficiar de uma parcela da poupança
dos agentes económicos não residentes, do Exterior.
De fato, o exterior é um agente económico com receitas e despesas correntes, sendo que a
diferença entre as duas componentes corresponde à poupança desse agente. Ora, considerando as
relações económicas entre a nossa economia e o exterior, as receitas correntes do exterior
resultam das nossas importações e as despesas correntes do exterior são provenientes das nossas
exportações e transferências correntes/unilaterais. Deste modo se determina a parcela da
poupança externa dirigida à nossa economia.32
31
Em relação às empresas continuaremos a supor que todo o lucro obtido pelas empresas é distribuído aos
seus acionistas, que são parte das famílias.
32
Uma explicação alternativa passa por atender ao outro lado da BP/Balança de Pagamentos, em particular à
balança financeira e variação dos ativos de reserva do BC/Banco Central. De facto, a parcela de poupança do
exterior que a economia beneficia num determinado período resulta sobretudo de haver entradas líquidas
29
3. Modelos Macroeconómicos – Implicações de Política
Como vimos na seção 2.1, há equilíbrio no mercado do produto quando é verificada Y = D, que
exprime a igualdade entre oferta e procura no mercado do produto ou, alternativamente, quando
a poupança é igual ao investimento, isto é, I = S.
Graficamente, esse equilíbrio no mercado do produto é representado pela curva IS no espaço (i, Y)
– Figura 10:
Figura 10
Por outras palavras, não existe um único valor de equilíbrio para o nível de rendimento Y, mas sim
uma infinidade de valores, que dependem dos valores atribuídos à taxa de juro i.
M/P=L
de capitais (mais aquisições que vendas de ativos pelo exterior) e diminuição das reservas de ouro e divisas
(equivalente a uma venda de um ativo – moeda estrangeira – pelo Banco Central).
30
M é oferta nominal de moeda (porque o controlo do Banco Central se exerce em termos nominais)
e L a procura real de moeda.
Para igualar oferta à procura é pois necessário deflacionar a oferta de moeda, dividindo-a pelo
nível geral de preços P.
Nos modelos de preços fixos com que estamos a trabalhar, contudo, porque P é constante, não
varia (taxa de inflação nula), atribuímos-lhe o valor mais conveniente, no caso 1, e faz-se:33
M=L
Figura 11
Logo, há uma infinidade de rendimentos de equilíbrio no mercado de moeda, um para cada taxa de
juro.
33
Alternativamente, M/P = L (eq. equilíbrio) e M/P = M/P (eq. comportamento), com M e P ambos exógenos.
34
Tal como acontece na IS, também na LM não se desenha o que está escrito em termos algébricos (Y = Y(i)).
31
Quando se atende simultaneamente aos dois mercados obtém-se um único equilíbrio que se
convencionou designar por equilíbrio IS/LM – Figura 12:
Figura 12
Significa, portanto, que embora haja uma infinidade de equilíbrios no mercado do produto, e uma
infinidade de equilíbrios no mercado monetário, há um só equilíbrio simultâneo nos dois
mercados.
Note-se que este modelo IS/LM permite equacionar um primeiro problema de política económica.
O problema elementar de política económica: "como atingir o pleno emprego?" tem dois tipos de
soluções: deslocar a IS ou deslocar a LM
Figura 13
32
Com impactos diferentes ao nível da taxa de juro!
Por outras palavras, o problema elementar de política económica pode ter dois tipos de soluções:
uma é o recurso à política orçamental, pela via de um aumento dos gastos públicos G, de
uma diminuição dos impostos diretos Td, ou outra variável inscrita no orçamento do
Estado e, portanto, ligada às finanças públicas; em qualquer caso o resultado será sempre
uma deslocação da IS para cima e para a direita;35
Quer a política monetária quer a política orçamental, em cima, incrementam o nível de produto,
pelo que são ditas expansionistas.36
Intuição Económica: É importante compreendermos em termos económicos a lógica que lhes está
subjacente…
No caso da política orçamental, por que razão ΔG (ou Δ↘ Td) provoca ΔY e Δi?
ΔG → ΔD → ΔY (efeito direto)
Δ↘ Td → ΔYd → ΔC → ΔD → ΔY (efeito indireto)
Tendo em conta não só o mercado do produto, mas também o mercado monetário, o processo
continua…
Mas
Δ i → Δ↘ I → Δ↘ Y
35
Apesar de não termos introduzido em termos de modelística o investimento público, note-se que falamos
de uma variável de finanças públicas e, portanto, de decisão direta das autoridades.
36
Por outras palavras, a Figura 13 apresenta os efeitos de uma expansão monetária e os efeitos de uma
expansão orçamental.
33
Note-se que no fim do processo o rendimento aumenta, não diminui. No esquema em cima a Δ↘ Y
final em parte compensa o ΔY, determinando uma flutuação de menor amplitude do rendimento.
No caso da política monetária, uma ΔM, ao criar um excesso de oferta de moeda, deve baixar a
taxa de juro:
Vemos ainda no diagrama em cima (Figura 13) que, deslocando-se a LM, também deve aumentar o
nível de rendimento.
(ou seja, a quebra da taxa de juro (Δ↘i), implica não só aumento da procura de moeda (ΔL), mas
também aumento do investimento (ΔI))
Outra possibilidade é considerar que o nível de produto de equilíbrio na economia está para além
do pleno emprego, isto é, supera o nível eficiente de utilização dos recursos, gerando-se então
inflação (Figura 14).
Figura 14
Como é visível no diagrama também a inflação pode ser combatida pelas duas políticas: monetária
e orçamental. Neste caso as políticas são ditas restritivas.
34
Objetivos e instrumentos; eficácia dos instrumentos
A questão que vamos agora debater é uma questão óbvia, e de máxima importância, embora não
tenha uma resposta simples:
Uma primeira via de análise, para responder à questão suscitada, é construir indicadores de
eficiência das políticas.
Já sabemos que um rácio de variações percentuais se chama elasticidade, pelo que o que aqui
temos é uma elasticidade objetivo-instrumento.
Podem-se calcular elasticidades deste tipo, para os gastos públicos e a oferta de moeda, como no
nosso exemplo, ou para outros instrumentos de política (impostos, transferências correntes,
investimento autónomo,…).
Ora diferentes economias caracterizam-se por diferentes parâmetros, e até na mesma economia
em momentos diversos do tempo, pelo que estes indicadores não nos permitem chegar a nenhuma
conclusão geral.
Isto é, o mais que podemos dizer é que nalgumas economias a política orçamental é mais eficiente,
noutras é a política monetária.
Nalgumas épocas a política orçamental foi mais eficiente, noutras a política mais eficiente foi a
política monetária.
37
Uma política (orçamental ou monetária) é tanto mais eficaz, quanto maior for o seu impacto no nível do
produto.
35
Nível de atividade; crowding out
Uma pista para esta conclusão mais geral consiste em verificarmos que as políticas monetárias e
orçamentais têm efeitos diferentes sobre a taxa de juro.
Isto significa que no caso da política orçamental a expansão da economia resulta essencialmente
da expansão da procura pública (à custa do investimento privado, já que a taxa de juro aumenta).
Esta ideia que as políticas orçamentais expansionistas privilegiam o papel do Estado, e "expulsam"
o investimento privado (isto é, que o aumento dos gastos públicos provoca um diminuição do
investimento privado), tem um nome bastante sugestivo em inglês: crowding out, que significa
precisamente expulsar a multidão (dos investidores privados).
Uma política monetária restritiva eleva a taxa de juro prejudicando o setor privado;
Uma política orçamental restritiva baixa a taxa de juro beneficiando o setor privado (à
custa obviamente de serviços públicos "mais degradados" ou transferência de
responsabilidades do setor público para o setor privado).
Quando se diz na comunicação social "austeridade sim, mas o Estado deve dar o exemplo" o que se
está a dizer implicitamente é que a política restritiva deve ser a orçamental e não tanto a
monetária.
Note-se, contudo, que as políticas orçamentais restritivas são geralmente de difícil implementação.
36
Mas também é verdade que há interesses poderosos dentro do setor público, que resistem às
políticas orçamentais restritivas (serviços públicos que não sabemos bem para que existem,
necessidade de satisfação de clientelas políticas, etc.).
Em contrapartida, se o objetivo for combater a inflação, a preferência acaba por recair em políticas
monetárias restritivas (redução da M, cujas implicações são a redução do nível do produto e
aumento da taxa de juro), dada a impopularidade das políticas orçamentais restritivas
(concretizadas com a redução das despesas públicas (G, tr, Ipúblico) ou o aumento dos impostos e
resultando, portanto, em reduções do nível do produto e da taxa de juro).
Fazemos agora uma referência muito breve à possibilidade de uma terceira modalidade de política
– a política cambial (PC).
38
Registe-se, contudo, que, no caso referido, não haverá uma baixa de juro se os particulares estiverem
ávidos por moeda, ou seja, se o contexto for de uma taxa de juro especialmente baixa na economia, ainda
que positiva, de modo a que todos os detentores de riqueza quereriam trocar os seus títulos por moeda (não
vale a pena o sacrifício da liquidez) – fenómeno que ficou conhecido na literatura por armadilha de liquidez.
37
No Diagrama IS/LM, que serve de base ao nosso estudo da política macroeconómica, a PC traduz-
se também em deslocações da IS (Figura 15).
Figura 15
Com efeito, se a nossa moeda se apreciar ou valorizar, tal diminui as nossas exportações e
incrementa as importações, o que constitui uma redução da despesa da economia, e
consequentemente uma deslocação da IS para baixo e para a esquerda.
Em rigor, um modelo macroeconómico global é geralmente constituído por três mercados e uma
função de produção. Os mercados são o mercado do produto, o mercado monetário e o mercado
de trabalho.
38
O diagrama referente ao modelo de oferta/procura agregadas é o seguinte (Figura 16):
Figura 16
A procura agregada mostra o nível de produto interno que é procurado a cada nível do
índice de preços;
A oferta agregada mostra o nível de produto interno que é oferecido a cada nível do índice
de preços.
Como referido na seção 1, os modelos macroeconómicos que aqui foram analisados são modelos
com preços fixos. No entanto, esse tipo de modelos pode ser visto como um caso particular
daquele modelo, que no caso geral se refere a preços variáveis (Figura 16). Ou seja (Figura 17):
Figura 17
39
Geralmente medido através de um índice de preços, seja o Índice de Preços no Consumidor (IPC) ou o
Deflator do PIB.
40
De novo, desenhamos o inverso que escrevemos – escrevemos produto em função do nível geral de preços
e desenhamos o nível geral de preços em função do produto.
39
Uma interpretação possível para a curva de oferta agregada horizontal é que a capacidade
produtiva (o produto potencial ou o pleno emprego dos fatores) é de tal maneira excedentária que
as empresas estão dispostas a produzir qualquer quantidade do produto ao nível de preços
existente.
É bem evidente no diagrama apresentado (Figura 17) que o que interessa, neste caso particular, é a
procura. São as deslocações da procura que fazem com que o produto seja superior ou inferior à
capacidade produtiva (produto potencial / pleno emprego) que é fixa.
É nomeadamente uma insuficiência da procura que faz com que haja desemprego, ou seja, se
esteja abaixo da capacidade produtiva em termos de força de trabalho disponível.
A partir do diagrama IS/LM é possível deduzir a curva de procura agregada da economia, que é
definida como sendo a curva que representa os pares de valores do índice de preços e do
rendimento (P, Y) que fazem com que os mercados de produto e monetário estejam
simultaneamente em equilíbrio (Figura 18).
Figura 18
40
A parte superior da Figura 18 representa o equilíbrio simultâneo dos mercados de produto e
monetário, que se verifica no ponto A (ponto de interseção das curvas IS e LM).
Recorde-se que o modelo IS/LM tem como hipótese que o nível geral de preços na economia não
varia, pelo que o índice de preços P é constante, digamos permanece no nível P0.
Pela definição da curva de procura agregada da economia (acima exposta), facilmente se verifica
que o ponto A no diagrama superior tem como correspondência o ponto A’ no diagrama inferior.
Se aumenta o nível de preços, a oferta real de moeda diminui e a LM desloca-se então para cima e
para esquerda, de LM0 para LM1, passando o novo ponto de equilíbrio a ser o ponto B, que tem
como coordenadas (i1, Y1).
Note-se, que a curva de procura agregada é decrescente com o nível de preços e que, à medida
que se desce nessa curva, a taxa de juro vai baixando.
41
Interação entre as curvas de procura e oferta agregadas
Na Figura 19 analisamos os efeitos de uma deslocação para a direita da curva de procura agregada,
observando simultaneamente o que se passa em termos de equilíbrio nos mercados de produto e
monetário (IS e LM):
Figura 19
Como se observa na Figura 19, quer a política orçamental ou a política monetária expansionistas se
traduzem numa deslocação da procura agregada para cima e para a direita, ou seja, traduzem-se
num aumento da procura.
Adicionalmente, a deslocação da curva de procura agregada dá-nos uma indicação não apenas do
impacto da política sobre o nível de rendimento, mas também sobre o nível de preços.
No caso apresentado na Figura 19 – uma deslocação da curva de procura agregada para a direita –,
verifica-se que uma política orçamental expansionista (por exemplo, na modalidade de aumento de
G) ou de uma política monetária expansionista faz com que haja aumentos, tanto de preços como
de produto.
42
Concluímos a presente seção, apresentando os dois casos possíveis a nível de deslocações da curva
de procura agregada (Figura 20):
Figura 20
Referências Bibliográficas
Burda, M. e Wyplosz, C. (2011), Macroeconomia – Uma Visão Europeia, Lisboa: Verlag
Dashofer.
Ramos, P. (1999), Sumário-Guião das Aulas Teóricas de Macroeconomia, online
[17.07.2013].
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Samuelson P., Nordhaus W. (2006), Macroeconomia, 18ª Edição, Mc Graw–Hill, Madrid.
Santos, Jorge, et al. (1994), Macroeconomia: Exercícios e Teoria, Alfragide: McGraw-Hill.
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