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Microbiologia ao alcance de todos

Maria Isabel Madeira Liberto


Maulori Curié Cabral

Parte 5

MICROARQUEOLOGIA OU ARQUEOMICROBIOLOGIA

Motivação:

Foram isoladas e classificadas como arqueias (domínio Archaea), em 1970, pelo microbiologista Carl
Woese. Não são bactérias (não têm núcleo compartimentalizado), mas são procariontes.

Diferenças entre bactérias , arqueias (ambas procariontes => sem núcleo


compartimentalizado) e eucariontes (com núcleo limitado por membrana)

Característica Bactérias Arqueias Eucariontes

Parede Peptideoglicano (com polissacarídeos e Ausente (animais)


ácido murâmico) proteínas (sem ácido Celulose (plantas)
murâmico) Quitina (fungos)

Histonas Não Sim Sim

Lipídios de Ligação éster Ligação éter Ligação éster


membrana

Cromossomo Único, circular Único, circular Múltiplo, linear

Ribossomos 70 S 70 S 80S

Fotossíntese com Sim (cianobactérias) Não Sim (algas)


clorofila

Ambiente em que Comum aos demais Inóspito para os Comum aos demais seres
vivem seres vivos demais seres vivos vivos

A maioria das arqueias é extremófila, ou seja, são tipos microbianos que vivem em ambientes de
condições inóspitas para os demais seres vivos. Alguns extremófilos são adaptados ao calor, vivem em
água fervente, como aqueles comuns nos gêiseres do Parque Nacional de Yellowstone-USA . Como
recorde de temperatura máxima registrada suportada por um ser vivo, os membros da espécie
Methanopyrus kandleri sobrevivem em temperatura de até 122°C. Outro tipo de extremófilos os
halófilos, vivem em ambientes hipersalinos, extremamente salgados. Há Arqueias que são encontradas
em mares gelados, como os polares.

Mas, nem todas as Archaea, são extremófilas, algumas vivem em regiões pantanosas, esgoto, oceanos,
solos e, até mesmo, dentro do organismo de animais, racionais ou não. Há indícios que corroboram a
ideia de que as arqueias presentes nas comunidades de plânctons, nos oceanos de todo o mundo,
auxiliam, essencialmente, no ciclo do nitrogênio oceânico.
As arqueias constituem até 20% da biomassa total do Planeta e fazem parte do processo de reciclagem
natural da Terra: Elas processam o carbono, o nitrogênio e o enxofre. As arqueias absorvem dióxido de
carbono (CO2), nitrogênio (N2), ou sulfeto de hidrogênio (H2S). Como degradadoras, produzem
gás metano como produto residual da atividade metabólica, demonstrando assim que conseguem resistir
ao efeito tóxico desse gás.

As arqueias são as mais antigas expressões de vida na Terra.

http://www.windows2universe.org/earth/Life/archaea.html

As interações entre Arqueias e outros organismos são conhecidas como: mutualismo ou comensalismo.
No mutualismo, cada indivíduo deriva um benefício conveniente e recíproco , no comensalismo, um se
beneficia e o outro não é significativamente prejudicado ou beneficiado. Esses organismos foram
encontrados no trato digestivo de alguns animais, onde produzem metano. Os organismos produtores de
metano são chamados metanogênicos e o ato de produzir metano é chamado metanogênese. Os
micróbios metanogênicos são os membros mais comuns e dispersos das arqueias, sendo encontrados
em sedimentos onde não há oxigênio, tais como pântanos, lagos, alagados, campos de cultivo de arroz,
depósitos de lixo, esgoto, no intestino de cavalos, coelhos, cachorros, vacas e humanos e no trato
digestivo de insetos como cupins e baratas.

Alguns vivem no fundo do oceano, dentro de organismos marinhos e até podem habitar depósitos de
petróleo no subsolo.

Elas ainda podem habitar ambientes criados pelo homem como os efluentes de usinas geotérmicas

As arqueias têm contribuído como excelente fonte de enzimas, e outras substâncias com grande
potencial para aplicação industrial e biotecnológica. Enzimas como as amilases (responsável pela quebra
do amido), proteases (quebram proteínas), lipases (quebram lipídeos) e glicosidases (quebram
carboidratos) têm sido extensivamente estudadas e usadas na indústria de alimentos, produtos de
limpeza, cosméticos, síntese de peptídeos e no desenvolvimento de novos fármacos e reagentes.
Arqueias podem ser aplicadas em processos de biorremediação, onde vários microrganismos são usados
para despoluir áreas contaminadas.

Revolucionaram a área da Biologia Molecular, com uma DNA polimerase termo-tolerante, denominada
Taq polimerase, utilizada na reação em cadeia das polimerases (PCR), uma técnica fácil e rápida para a
clonagem de DNA.
Algumas arqueias produzem enzimas utilizadas em processos ecológicos, na síntese de compostos
orgânicos e também são vitais no tratamento de esgotos, enquanto outras fazem parte da digestão
anaeróbia em bovinos.

Algumas arqueias podem sobreviver aos efeitos de águas com elevadas concentrações de sal, que
causariam desidratação em outros organismos. As salinas, onde é produzido o sal, são exemplo desse
tipo de ambiente.

As arqueias são os únicos organismos vivendo em habitats extremos, como fontes termais ou águas
hipersalinas, sendo abundantes em ambientes que são prejudiciais às outras formas de vida. No entanto,
elas não estão restritas a esses ambientes extremos. Pesquisas têm demonstrado que as arqueias
também podem viver em mar aberto, junto com o plâncton (organismos minúsculos que servem de
alimento a outros animais marinhos).

Mas, e outras formas de vida? Você já pensou nisso?

Planetas que têm ambientes compatíveis com a sobrevivência das arqueias são: Vênus. Marte, Júpiter e
um de seus satélites, Io, além de Saturno.
http://www.jornalciencia.com/meio-ambiente/vida-microscopica/488--arqueas-incriveis-microrganismos-
As arqueias halofílicas são excelentes ferramentas para professores fazerem aulas práticas com seus
alunos, por serem aeróbicas, fáceis e seguras de trabalhar, não promoverem risco de infectar os
manipuladores e serem de fácil descontaminação ao final dos trabalhos.

Sendo células, servem como modelo experimental, permitindo observar diversos fenômenos que podem
ser extrapolados a todos os tipos celulares.

A atividade prática objetiva:

- comprovar a presença de micróbios viáveis em carnes conservadas em sal (bacalhau, carnes para
feijoada). Atenção, carne seca não é carne salgada, informe-se sobre a diferença;

- mostrar a ação de desinfetantes e antissépticos sobre as arqueias halofílicas;

- constatar a ação dos raios ultra violeta solares sobre as arqueias halofílicas.

1) Deixar de molho em água, por um período superior a meia hora, um pedaço de carne,
conservada em sal.

2) Em uma placa de Petri, contendo meio Agar nutritivo com 10% de sal, faz-se uma marcação,
dividindo-a ao meio:

3) Adicionar à placa, com o auxílio de um bulbo de plástico, 2 a 3 mL da água onde a carne ficou de
molho e, com suave movimento rotatório, certifique-se que nenhuma região do meio nutritivo
deixou de ter contato com esse líquido do molho.
4) Retire todo o excesso de líquido, com o bulbo de plástico, e aguarde alguns minutos para que
todo o líquido seja adsorvido.

5) Coloque em uma das metades, discos de papel filtro embebidos com diferentes produtos
químicos que você deseje saber se têm ação antimicrobiana.

6) Cubra com papel opaco (sem colocar a tampa), a metade da placa onde se encontram os discos
de papel embebidos e coloque-a em um local onde haja incidência de luz solar, deixando-a
iluminada por um tempo mínimo de 30 minutos.

7) Tire o papel que cobre a metade da placa, coloque a tampa e incube-a, com os cuidados que
você já aprendeu, fazendo observações diárias por 72h, anotando cuidadosamente todos os
fenômenos observados.

8) Sugestão de leitura:

Atenção, no lado da incidência de UV, pode ser observada uma redução da


população arqueliana, em relação à que não foi exposta.
Esta atividade permite observar a presença de micróbios nas carnes salgadas, utilizadas na
feijoada. São esses micróbios que fazem uma digestão parcial da carne (sem cheiro de
podridão, pois não existem as enzimas liberadoras de enxofre).

Permite também demonstrar a ação de agentes químicos (antissépticos e desinfetantes) e


físicos (radiação Ultra Violeta) sobre as células. Os resultados alertam para a alteração de
ecossistemas (desorganizando a microbiota natural, pela ação indiscriminada de elementos
A UV
químicos) e também demonstra a ação deletéria da radiação UV sobre células.
promove o aparecimento de dimeros de timina no DNA genômico,
fazendo com que o sistema de reparo celular não atue, então, ao final da
exposição ao sol, após tampar a placa, a mesma deve ser mantida
embrulhada com papel opaco, para evitar a incidência de radiação
luminosa, pois esta estimula o sistema de reparo.

Referências:
Liberto, M.I.M.; Cabral, M.C.; Lins, U.G.C. Microbiologia. Vol.2, Ed. CECIERJ. Rio de Janeiro. 2010. 218p

http://www.windows2universe.org/earth/Life/archaea.html
http://www.jornalciencia.com/meio-ambiente/vida-microscopica/488--arqueas-incriveis-
microrganismos-

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