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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL:

BALANÇO PRELIMINAR

Surya Aaronovich Pombo de Barros/UFPB


surya.pombo@gmail.com

Resumo

Pretende-se apresentar os resultados obtidos na pesquisa “Estado da Arte da Produção


sobre História da Educação da População Negra no Brasil”, desenvolvida durante 2010
no CE/UFPB, cujo principal objetivo foi levantar e analisar as pesquisas desenvolvidas
no Brasil sobre a escolarização da população negra na perspectiva da história da
educação. A fim de proporcionar maior visibilidade aos trabalhos que evidenciem a
relação deste segmento com a educação escolar, foram consultados periódicos e anais
de eventos da área, e o banco de dissertações e teses da Capes. Verificou-se o
significativo aumento das pesquisas acerca da relação entre população negra e cultura
escolar, já que estas podem ser encontradas referentes aos diversos períodos da história
da educação e nas diversas regiões brasileiras.

Palavras-chave

História da Educação, População Negra, Estado da Arte

Introdução

Já não há novidade em analisar o fortalecimento da História da Educação


Brasileira no cenário acadêmico do país. Tal movimento, como vem sendo discutido na
área, trouxe profundas transformações ao campo. Dentre elas, podemos destacar a
emergência de diferentes sujeitos históricos analisados no que se refere ao acesso (ou
não) à cultura escolar: mulheres, imigrantes, pobres, população negra, por exemplo.
Nesse contexto, trabalhos relacionando população negra e educação escolar pelo viés da
história da educação começaram a vir a lume desde o final dos anos 80 do século XX,
como o pioneiro trabalho de Zeila DEMARTINI (1989), e se foram se ampliando,
especialmente na primeira metade dos anos 2000 (SILVA, 2000, FONSECA, 2002).
Ainda que de maneira pouco sistemática no início, o interesse pela educação da
população negra vem se ganhando força entre as pesquisas da área, como é possível
constatar pela existência de trabalhos de pós-graduação, publicações científicas e eixos
temáticos em eventos que comportam debates sobre a História da Educação Brasileira.
O incremento dessas pesquisas reflete a força que tais questões vêm ganhando na
sociedade brasileira, extrapolando, inclusive, os limites acadêmicos. Discussões sobre
multiculturalismo, diversidade racial e educação, Lei 10639/03 e Ações Afirmativas,
cujo impacto na primeira década do século XXI aparece tanto em publicações
acadêmicas como em produções para formação docente, jornais impressos, debates em
fóruns educacionais, entre outros.
Esse novo cenário da reflexão sobre a difícil relação entre as relações raciais
entre negros e brancos no Brasil e a escola também vem ocupando as preocupações dos
historiadores da educação. O aumento destas pesquisas, no entanto, faz parte da história
recente da pesquisa acadêmica brasileira. Embora já possamos falar de mais de uma
década de produção sobre o tema, comparada a outros objetos consolidados há mais
tempo no campo (como formação docente, educação feminina, legislações, por
exemplo), a história da educação da população negra ainda é uma área relativamente
nova. A relevância do tema e a maior quantidade de investigações que tem vindo à
público através de diversas modalidades de trabalhos – livros, teses, dissertações,
comunicações em eventos científicos, na forma de artigos –, apontou para a necessidade
de se realizar um balanço historiográfico. Tal interesse é compartilhado com diversas
pesquisas denominadas de “estado da arte”, que se justificam pela preocupação de
“sustentados e movidos pelo desafio de conhecer o já construído e
produzido para depois buscar o que ainda não foi feito, de dedicar
cada vez mais atenção a um número considerável de pesquisas
realizadas de difícil acesso, de dar conta de determinado saber que se
avoluma cada vez mais rapidamente e de divulga-lo para a sociedade
(...)” (FERREIRA, 2002, p. 259).

O objetivo deste trabalho é divulgar os resultados obtidos na primeira fase da


pesquisa “Balanço da História da Educação da População Negra no Brasil” que foi
iniciada em 2010 na Universidade Federal da Paraíba, destacando o crescente volume
de investigações que vêm sendo desenvolvidas sobre o tema da história da educação da
população negra no Brasil. Dessa forma, pretendemos dar visibilidade às pesquisas,
demonstrando a ampliação da área, fornecendo assim um quadro geral sobre o tema.
Pretendemos, também, discutir eventuais lacunas na produção sobre a história da
educação da população negra no Brasil.
Inicialmente, faremos uma breve discussão acerca da história da educação no
Brasil, refletindo sobre a ampliação dos sujeitos pesquisados e, finalmente, da
emergência dos estudos inserindo a população negra nos processos educativos, algo
relativamente recente na área. A seguir, discutiremos as pesquisas do tipo “estado da
arte”, chamando a atenção para sua relevância para os estudos sobre a história da
educação da população negra. Finalmente, apresentaremos os resultados obtidos até
então, elencando os trabalhos apresentados nos Congressos organizados pela Sociedade
Brasileira de História da Educação, os artigos publicados na Revista Brasileira de
História da Educação e na Revista Histedbr on line, as pesquisas divulgadas em
encontros anuais da ANPEd e, finalmente, trabalhos que compõem o banco de teses e
dissertações da CAPES. Com isso, esperamos contribuir com o campo de
conhecimento, demonstrando a importância desses estudos e as possibilidades deles
advindas.

A História da Educação e a população negra

Vinculada inicialmente à formação de professores em Escolas Normais e cursos


de Pedagogia e, concomitantemente, à construção da memória de grandes feitos
educacionais do passado, a História da Educação ganhou, nas quatro últimas décadas do
século XX, estatuto de campo de conhecimento. O fortalecimento como disciplina nos
cursos de formação de professores (especialmente na Pedagogia) como autônoma à
Filosofia da Educação e, principalmente, sua inserção em diversos programas de pós-
graduação em universidades brasileiras, assim como a criação de Sociedades e Grupos
de Pesquisas, a ampliação de publicações para a divulgação das pesquisas e a
organização de encontros científicos em nível nacional e internacional demonstram o
fôlego obtido pela História da Educação Brasileira (VIDAL, FARIA FILHO, 2003).
Como mencionado, nos últimos anos esse fortalecimento trouxe profundas
transformações ao campo. Dentre elas, a emergência de diferentes sujeitos históricos
analisados no que se refere ao acesso (ou não) à cultura escolar é destacada por
importantes pesquisadores da área :
“vários sujeitos da educação vêm sendo valorizados em suas ações
cotidianas, o que se explicita no aumento de interesse pelas trajetórias
de vida e profissão e no engajamento que observa em análises
organizadas em torno de questões de gênero, raça e geração” (FARIA
FILHO, et. all., 2004, p. 141).
Ainda que compondo um importante segmento da população brasileira, e sendo
alvo de pesquisas em diversas áreas das ciências humanas, a população negra durante
muito tempo não fez parte dos sujeitos históricos observados em pesquisas da história
da educação. Em 1992 a pesquisadora Regina Pahim Pinto, no artigo “Raça e Educação:
uma relação incipiente”, ao realizar um balanço geral das pesquisas educacionais que
trabalhavam com a questão racial, denunciava a ausência da categoria raça também
entre os trabalhos de história da educação:
A História da Educação, por sua vez também vem ignorando
sistematicamente as iniciativas de grupos negros no campo da
educação, tais como a criação de escolas, centros culturais seu
engajamento em campanhas de alfabetização visando à população
negra, ou mesmo suas propostas de uma pedagogia que leve em conta
a pluralidade étnica do alunado (PINTO, 1992, p. 47).
Algumas explicações para tal ausência podem ser encontradas na interdição legal
à matrícula e freqüência de escravos (e, por vezes, negros livres) à escola durante a
vigência da escravidão e a aparente ausência de fontes sobre o tema. Segundo Fonseca
(2005), a pequena presença da temática sobre a educação escolar dos negros se baseava
no argumento da ausência ou da raridade das fontes documentais e numa crença
generalizada, divulgada nos manuais, de que a escola primária oitocentista era uma
instituição de caráter elitista e, portanto, freqüentada por uma população
majoritariamente branca. Os resultados dos diversos trabalhos aqui elencados
demonstram que esse argumento foi superado, já que uma grande diversidade de fontes
vem sendo utilizada pelos investigadores.
Apesar dos poucos trabalhos anteriores, a renovação na História da Educação,
com a inserção da população negra como potenciais sujeitos nas pesquisas teria ocorrido
especialmente a partir da década de 90. Mariléia dos Santos Cruz (2005), caracteriza
este período como aquele em que se teria inserido a temática sobre os negros na história
da educação pois,até então, quantidade e qualidade das pesquisas da área deixavam a
desejar quando colocadas diante das necessidades da educação brasileira. Além disso, a
maioria dos pesquisadores interessados no tema seriam afro-brasileiros. De acordo com
Fonseca (2009), isto seria uma demonstração do papel da subjetividade na produção do
conhecimento em história da educação e também representaria um padrão de
invisibilidade no tratamento da temática. As pesquisas que tratam de negros nos espaços
escolares antes mesmo da expansão da escola pública, pretendem superar uma tradição
de entendimento que promoveu a invisibilidade dos negros, como aponta Fonseca
(2009) para o fato de que raça não é uma categoria periférica na construção da
sociedade brasileira, mas sim, um elemento estrutural que se manifesta em as suas
dimensões, inclusive na educação.
Essa mudança acompanhou, também, o movimento presenciado na historiografia
brasileira. Na década de 1980, impulsionada pelo centenário da abolição, assim como
pelo fortalecimento de novas abordagens historiográficas, a participação da população
negra na sociedade brasileira tomou outro rumo nos trabalhos de pesquisadores da
história do Brasil, que durante muitas décadas não abordava tal questão: “a partir de
então, de forma mais visível, novas perspectivas teóricas e novas fontes e metodologias
passaram a integrar os livros e artigos de historiadores já consagrados e de novos
historiadores” (MATTOS, 1998, p. 13).
O aumento de pesquisas associando a discussão sobre relações raciais no Brasil
e a história da educação, ocorrido especialmente no início do século XXI reflete a força
que tais questões vêm ganhando na sociedade brasileira, que exigem lastros históricos
para explicá-las. A edição de um livro pela SECAD (Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade) com o tema História da Educação dos Negros
e Outras Histórias (ROMÃO, 2005), é um exemplo disso.

A pesquisa do tipo “estado da arte” e a relevância para a História da


Educação da população negra

O crescimento do interesse sobre o tema e a ampliação das pesquisas, assim


como sua relevância para diversas áreas de conhecimento, especialmente no campo de
formação de professores, aponta para a necessidade de se realizar um balanço
historiográfico acerca do tema. O que nos propusemos, ao iniciar este trabalho, foi
realizar um estado da arte da história da educação da população negra no Brasil.
Ao analisar as pesquisas denominadas de “estado da arte”, Norma Ferreira
afirma:

Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em


comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção
acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando
responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e
privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que
condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses
de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de
congressos e de seminários. Também são reconhecidas por realizarem
uma metodologia de caráter inventariante e descritivo da produção
acadêmica e científica sobre o tema que busca investigar, à luz de
categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais em cada
trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser
analisado (2002, p. 258).

Nos inserimos nas preocupações identificadas pela autora:


sustentados e movidos pelo desafio de conhecer o já construído e
produzido para depois buscar o que ainda não foi feito, de dedicar
cada vez mais atenção a um número considerável de pesquisas
realizadas de difícil acesso, de dar conta de determinado saber que se
avoluma cada vez mais rapidamente e de divulgá-lo para a
sociedade, todos esses pesquisadores trazem em comum a
opção metodológica, por se constituírem pesquisas de levantamento e
de avaliação do conhecimento sobre determinado tema (FERREIRA,
2002, p. 259).

Esse tipo de trabalho não é novidade no campo da História da Educação. Sejam


apresentados em balanços de eventos, sejam análises já estruturadas de um determinado
conjunto de pesquisas por período, tema ou localidade, pesquisadores vêm se
debruçando sobre a historiografia da educação brasileira e realizando estados da arte da
área (VIDAL, 2005, SAVIANI, 2007). Acerca história da educação e população negra
também existem trabalhos que inventariam pesquisas realizadas sobre a área
(FONSECA, 2007).
A pesquisa aqui apresentada pretendeu realizar o levantamento e análise dos
trabalhos localizados nos mais diversos estados brasileiros, assim como sobre todos os
períodos da história. Com isso não pretendemos produzir algo estático ou definitivo, já
que
não é possível elaborar um balanço total, tampouco definitivo da
produção de um dado campo intelectual, se entendemos que os
diagnósticos são elaborados por perspectivas específicas e os campos
de saber são móveis, em virtude dos movimentos e das forças que o
integram e o redefinem permanentemente, sem que seja possível
definir de antemão e de modo pleno o ritmo e a direção a ser assumida
em cada domínio (GALVÃO, 2008, p. 176).
No entanto, como alertam os autores na reflexão sobre os trabalhos de balanços
de pesquisa sobre história da educação,
Pensar uma história dos “balanços” produzidos em um campo bem
determinado, como o da história da educação, consiste em ação a ser
feita com base no manejo das matérias que compõem o solo desse
campo, suas camadas, partículas e produtos. Matérias, cujo contato
leva-nos a interrogar o velho, o já feito, já escrito, como estratégia
para fazer expandir, dilatar e estender a compreensão que temos do
hoje e de nossa breve experiência humana. Portanto, é sobre os restos,
esse humus depositado materialmente na escrita que incidem os
balanços produzidos (e a produzir). Como vem sendo afirmado pelos
que se têm dedicado a esse tipo de prática, o humus com o qual temos
trabalhado é heterogêneo. Algumas evidências de suas diferenças são
perceptíveis, por exemplo, no tipo de questionário que tem orientado
os balanços: uma região, um período, um tipo de documento, uma
modalidade de instituição, uma forma educativa ou mesmo da
perspectiva que preside a constituição das matérias postas em exame
(GALVÃO, 2008, p. 177).
Ao elencar os trabalhos realizados no Brasil sobre negro e educação na
perspectiva da história da educação, construindo um banco de dados com esta produção
pretendemos não apenas mencionar tais pesquisas, mas demonstrar a importância do
aumento desse campo no debate sobre as relações raciais no Brasil.
Ao analisarmos a importância de produzir um balanço historiográfico,
percebemos que o mesmo surge de intenções que visam reconhecer o que já foi
elaborado em um determinado período. Para tanto, é necessário esclarecer que eles
devem constantemente estar sendo renovados, devido às transformações e avanços que
ocorrem em uma dada área do conhecimento que nos propomos a investigar, por este
motivo é que o balanço não pode ser considerado como definitivo.
A fim de realizar este trabalho, diversos procedimentos foram realizados, de
buscas em sites por expressões como “história da educação da população negra” a
bibliotecas universitárias virtuais, de levantamento em bibliografias de obras de
referência na história da educação brasileira a consultas em currículos lattes de
pesquisadores que vêm se destacando por atuar na área. Especialmente, realizamos o
levantamento em anais de encontros científicos da área, banco de teses e dissertações e
revistas científicas de história da educação.
Neste artigo destacaremos os resultados encontrados em locais reconhecidos por
serem de difusão do conhecimento produzido na área. São eles: anais dos Congressos
Brasileiros de História da Educação; anais dos encontros da ANPEd; Revista Brasileira
de História da Educação; Revista HISTEBR on line e Banco de Teses e Dissertações da
CAPES.

Resultados e Discussões
Apresentaremos os resultados obtidos dividindo-os de acordo com o local onde
estão publicados, destacando os títulos, autores e ano de veiculação dos trabalhos. O
avanço das investigações não é apenas numérico, mas também qualitativo: é possível ter
acesso a pesquisas sobre todos os períodos históricos, regiões, faixas etárias, estado
(livres ou escravos), realizadas em diversos tipos de instituições e regiões do Brasil,
assim como utilizando diferentes fontes e procedimentos teórico-metodológicos.

Revista Brasileira de História da Educação

A Revista Brasileira de História da Educação (RBHE) foi fundada em 2001,


demonstrando a consolidação da Sociedade Brasileira de História da Educação, de
1999, com o objetivo de divulgar as pesquisas da área. Todas as Revistas foram lidas, e
8 artigos foram destacados.
O quarto número da RBHE, de 2002, torna-se especial por ser o primeiro dossiê
de uma série publicada pela revista, contendo o tema “Negros e a Educação”. O artigo
de Eliane Peres, “Sobre o silêncio das fontes... A trajetória de uma pesquisa em história
da educação e tratamento das questões étnico-raciais” discute a escolarização em curso
noturno para adultos na Biblioteca Pública Pelotense, que funcionou entre 1877 a 1915,
inclusive escravos e negros livres. O texto “Educação e Escravidão: um desafio para a
análise historiográfica”de Marcus Vinícius da Fonseca detecta uma tensão entre a
educação e a escravidão, compreendendo a formação do trabalhador escravo como uma
prática educativa. Em “Cartas, procurações, escapulários e patuás: os múltiplos
significados da escrita ente escravos e forros na sociedade oitocentista brasileira”, Maria
Cristina C. Wissenbach reflete, entre outras questões, sobre a existência de escravos
alfabetizados em São Paulo e as condições históricas que propiciaram tal aprendizado.
O último artigo do dossiê, “A escola de Pretextato dos Passos e Silva: questões a
respeito das práticas de escolarização no mundo escravista” de Adriana Maria P. da
Silva relata a experiência do professor Pretextato dos Passos e Silva, autointitulado
preto, que não só lecionava, como também foi responsável pela fundação de escola
voltada para meninos pretos e pardos na Corte, em 1853.
A RBHE nº 13, de 2007, traz outro artigo do Marcus V. da Fonseca, “A arte de
construir o invisível: o negro na historiografia educacional brasileira”, no qual o autor
debate a forma como os negros vêm sendo tratados nas narrativas da historiografia
educacional.
Em 2008, edição 18, no artigo “Leituras de formação: raça, corpo e higiene em
publicação pedagógica do início do século XX”, Regina C. E.Gualtieri, pretende
demonstrar como a forma de lidar com assuntos relacionados ao corpo, à raça e à
higiene eram veiculados na Revista de Ensino, publicada entre 1902 e 1918 pela
Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo. Embora os principais
sujeitos não fossem alunos ou professores negros, consideramos importante para a
discussão sobre relações raciais e educação considerar também trabalhos que
destacassem conteúdos ligados ao tema.
Finalmente, a RBHE, nº 20, de 2009, publicou dois artigos pertinentes para este
trabalho. Em “Colônia Orfanológica Isabel: uma escola para negros, índios e brancos”,
Adlene Silva Arantes investiga práticas educativas voltadas para essas “classes” na
instituição que funcionou em Pernambuco, na segunda metade do século XIX, sob os
cuidados dos missionários capuchinhos, com o objetivo de receber crianças órfãs e
ingênuas. Já “Políticas de ações negativas e aspirações de famílias negras pelo acesso à
escolarização na província do Maranhão no século XIX”, de Mariléia dos Santos Cruz,
discute aspectos da relação entre negros e a escolarização na província do Maranhão
durante o século XIX.

Revista HISTEDBR on line

Importante grupo de pesquisa sobre História da Educação Brasileira, o


HISTEDBR - Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil"
disponibiliza no site as edições da Revista HISTEDBR on line desde o primeiro número,
de 2000.
Na 3ª edição, de 2001, encontra-se disponível o trabalho “A concepção
pedagógica de Jorge Benci para os escravizados coloniais” de Ana Palmira Bittencourt
Santos Casimiro.
A revista de n° 13, de 2004, traz o trabalho “José de Melo e Silva e os problemas
de diversidade cultural e educacional na fronteira de Mato Grosso (1930-1947)” de
Carla Villamaina Centeno.
Em 2005, a edição 17, contem o artigo “Educar para a Nação: Escravidão e
desenvolvimento do Brasil no pensamento de Hipólito José da Costa” de Fernanda
Regina Cinque e Marcília Rosa Periotto. No mesmo ano, nº 18 encontramos o artigo
“Educação e racismo no Brasil” de Sueli Melo Silva, que contempla todo o período da
história brasileira, da colônia aos dias atuais.
Em 2007, o nº 27 traz dois artigos: “Apontamentos sobre maçonaria, abolição e
a educação dos filhos de escravos na cidade de Sorocaba no final do século XIX” de
Ivanilson Bezerra da Silva e “O negro no pensamento educacional brasileiro durante a
Primeira República (1889-1930)” de Delton Aparecido Felipe e Teresa Kazuko Teruya.
A edição seguinte, do mesmo ano, traz o trabalho “As duas pedagogias: Formas de
educação dos escravos; mecanismos de formação de hegemonia e contra-hegemonia” de
Jaci Maria Ferraz de Menezes.
Em 2009, edição 36, temos “Abolição no Brasil: a construção da liberdade” de
Jaci Menezes. No ano seguinte, o número 37, contem “Intelectuais, História e
pensamento brasileiro: escravidão, trabalho e educação no ´América Latina - mals de
origem´de Manoel Bomfim” de Jean Carlo de Carvalho Costa, Amanda Galvíncio e
Maíra Lewtchuk Espindola.

É notória a diferença de trabalhos sobre o tema entre os apresentados nos


veículos da SBHE e os do HISTEDBR. Na Revista deste último grupo, dos 42 números
editados, apenas sete artigos contemplam a história da educação e raça no Brasil. Na
RBHE, de 23 edições, oito trabalhos foram aqui apresentados. Uma possível explicação
pode ser o forte componente marxista do segundo grupo, que muitas vezes afasta a
discussão sobre relações raciais. Durante muito tempo no Brasil, e ainda hoje, existiu
“entre a esquerda brasileira, a opinião uniforme de que a democracia racial era um mito,
(...) entre os marxistas brasileiros, ainda prevalecia a idéia de que o único meio de
combater o preconceito racial era a organização e luta da classe trabalhadora”
(GUIMARÃES, 2004, p. 21).

Congressos Brasileiros de História da Educação (CBHE)

No período abarcado por este levantamento, cinco congressos foram organizados


pela SBHE - de 2000 a 2008. Estes se tornaram importante espaço de comunicação para
os pesquisadores da área, fomentando a produção do conhecimento no campo e a
divulgação de resultados parciais e de trabalhos inéditos.
Foram levantadas trinta e cinco textos nestes congressos que têm como objeto de
estudo a escolarização da população negra escrava, alforriada ou liberta. As instituições
responsáveis pela instrução foram as mais diversificadas, assim como as idades dos
alunos, o período histórico e as regiões abarcadas. Conforme afirmam Gondra e
Schueler (2008), “experiências educativas não se encontram plenamente determinadas
por marcos temporais tão rígidos” (p.10). Assim, apenas a título de levantamento,
dividimos as pesquisas por sua filiação ao período: Colônia (três publicações que trazem
experiências educativas dos jesuítas relacionadas aos escravos), Império (quartoze
publicações, destacando escravos e/ou homens livres) e o Brasil República (dezesseis
artigos).
Nos anais do I CBHE (2000) existem três trabalhos que se enquadram na
pesquisa aqui apresentada: “Educação jesuítica e crianças negras no Brasil colonial” de
Amarílio Ferreira Jr. e Marisa Bittar; “Judeus, Cristãos-Novos e Escravos; Barbeiros,
Sangradores e Parteiras: Gêneses da História da Cirurgia” de Antonio Carlos de
Miranda, ambos discutindo questões referentes, também, à educação de negros no
período colonial e a pesquisa realizada por Maria Cecília C. C de Souza e Maria Lúcia
Hilsdorf, intitulada “Entre Oligarquias Republicanas e a Igreja ultramontana, um olhar
para os esquecidos: José Vicente de Azevedo e a educação das meninas negras”, cujo
objetivo foi investigar instituições que cuidavam de meninas negras, de velhos ex-
escravos e, também, da profissionalização de jovens negros.
É possível perceber um gradativo aumento das publicações que divulgam as
experiências educativas da população negra. No II CBHE (2002) dez textos fazem parte
dos anais do evento. Acerca do Brasil colônia, o trabalho de Ana Palmira Bittencourt
Santos Casimiro, “Uma concepção pedagógica consistente para os escravizados da
Bahia Colonial”. Sobre o período, o trabalho “Etnicidade, Nação e Culturas: população
de Maioria Afrodescendente, História da Educação Pública e Contradições em
Laranjeiras - Sergipe” Maria Batista Lima investiga a presença de professores e alunos
negros no sistema educacional do século XIX na cidade sergipana. Já Selma Maria da
Silva, em “As etnias africanas como elemento da estrutura do discurso ´didático´ no
Brasil: Construtoras históricas de uma prática pedagógica anti-racista”, destaca as
reflexões no discurso didático por meio da ótica da africanidade, que tiveram como
cenário a cidade do Rio de Janeiro durante os séculos XIX e XX. Temos, ainda, o
trabalho “Negrinhos que por ahi andão: escolarização da população negra em São Paulo
(1870-1920)” no qual Surya A. P.de Barros, discute o processo de escolarização da
população negra na província de São Paulo.
Os demais trabalhos versam sobre o período republicano: “Etnicidade, nação e
culturas: discursos dos movimentos negros sobre educação ao longo do século passado”
de Henrique Cunha Júnior; “Mulher negra: diretora do Grupo Escolar Paula Rocha” de
Hozana Penha de Souza; “Etnicidade, nação e culturas: intelectuais negros – educação e
militância” de José Antônio dos Santos; “História da escolarização de uma comunidade
negra em Sergipe: o caso dos ´Pretos mais pretos´ do Berço da cultura negra Sergipana”
de Henrique Cunha Júnior e Maria B. Lima; “Professoras negras no Rio de Janeiro:
história de um branqueamento” de Maria Lucia R. Mueller e Ana Luciana Santos; e,
finalmente, “Teatro, Política e Educação: a experiência histórica do teatro experimental
do negro (TEN) (1945/1968)” de Ricador Gaspar Muller.
Entre os trabalhos apresentados no III CBHE (2004), três publicações nos
interessam diretamente. A pesquisa “Alunos negros em São Paulo no final do século
XIX”, de Surya A. P. de Barros, discute apresença de alunos negros na escola pública
de primeiras letras na província de São Paulo, pensando possíveis diferenças no acesso à
escola para escravos e livres. Já Cynthia G. Veiga, demonstra a presença de crianças
negras e mestiças no processo de institucionalização da instrução elementar em Minas
Gerais ao longo do século XIX, no artigo “Crianças negras e mestiças no progresso de
Institucionalização da instrução elementar. Minas Gerais, século XIX”. Já no artigo
“Escolas para crianças negras: Uma análise a partir do congresso agrícola do Rio de
Janeiro e do Congresso Agrícola do Recife em 1870”, Marcus Vinicius da Fonseca,
destaca as propostas apresentadas pelos agricultores, as escolas que foram criadas a
partir destas iniciativas, suas relações com o processo de abolição da escravidão e os
motivos que o impediram a questão educacional de ter impacto estrutural na
emancipação plena dos escravos.
O IV CBHE (2006) traz quatro publicações que têm como foco a escolarização
do negro. Abarcando o período imperial temos o trabalho “Sujeitos da Educação no
Império: O caso de negros e índios nas reformas da Instrução Pública em 1854” de
Dimas S. Neves. Analisando a relação entre imprensa negra e educação na primeira
metade do século XX temos o trabalho “O Clarim da Alvorada: imprensa, etnia e
educação (São Paulo, 1924-1940)” de Pedro de S. Santos e Maria Ângela B. Salvadori.
Já sobre a segunda metade do século XX, foram publicados “A criança negra no
Maranhão: uma leitura a partir da infância afro-descendente no Brasil” de Kilza F. M.
de Viveiros e “Trajetórias de longevidade escolar em famílias negras e de meios
populares (Pernambuco, 1950-1970)” de Fabiana Cristina da Silva..
No V CBHE (2008) foram publicados seis trabalhos. Adlene S. Arantes, em
“Uma análise das imagens e representações dos negros em livros escolares de leitura da
segunda metade do século XIX em Pernambuco” apresentou uma análise das imagens e/
ou representações de negros nos livros didáticos. Já Paulo Sergio Dutra discute a
presença de professoras negras nas escolas região do Vale Guaporé durante o século
XIX, na pesquisa intitulada de “Documentos e memórias: a presença de professoras
negras no Vale do Guaporé”. Temos, ainda, a pesquisa “Práticas educacionais e
abolicionistas: aspectos da configuração do trabalho docente através das trajetórias de
Etelvina Amália de Siqueira (Sergipe, 1862-1937) e Maria Firmina dos Reis (Maranhão.
1825-1917)” de Anamaria Gonçalves B. de Freitas, na qual a autora discute a
importâncias das duas professoras para a educação dos negros no século XIX e XX. A
pesquisa desenvolvida por Itacir Marques Luz,“Ofícios declarados, letras sutis: processo
de apropriação da leitura e da escrita entre os escravos urbanos (1830-1850)” discute
alguns aspectos dos processos de apropriação e uso das letras no Brasil da primeira
metade do século XIX, dentro da dinâmica cotidiana vivida pelos escravos que atuavam
em ofícios especializados em Pernambuco.
Chegando aos últimos trabalhos catalogados no congresso, o artigo do Marcus
V. da Fonseca, “O predomínio de negros nas escolas de Minas Gerais do século XIX:
uma análise a partir da relação entre população e escolarização” discute a presença
marcante de negros nas escolas de Minas Gerais do século XIX. A pesquisadora
Rosângela Ferreira Souza, no trabalho “Olhares sobre a infância: perspectivas étnico-
raciais (1880-1940)” discute a presença da criança negra no contexto educacional.

Reuniões Anuais da ANPED

Os Anais dos encontros organizados pela Associação Nacional de Pós-


graduação e Pesquisa em Educação compõem uma mostra significativa da produção
acadêmica brasileira. Para este levantamento foram lidos os resumos dos Grupos de
Trabalho 02 e 21 dos encontros de 23 a 33, realizados entre o ano 2000 e 2010, que se
encontram disponíveis no site da ANPEd.
No GT 02 (História da Educação) foram apresentados os seguinte trabalhos: 23ª
reunião (2000): “O documento fotográfico: um caminho a mais para o conhecimento da
presença negra na escola pública brasileira”, de Lidia N. Cunha; 24ª (2001): “A história
da educação: uma abordagem sobre a escolarização de afro-brasileiros”. Na Reunião
31(2008) Cynthia G. Veiga apresentou “O processo escolarizador da infância em Minas
Gerais (1835-1906): geração, gênero, classe social e etnia”.
A partir da criação do GT 21 (Educação e Relações Étnico-Raciais), em 2005, a
maioria dos trabalhos sobre história da educação negra foram encaminhados para esse
grupo. No 28º (2005): “Fontes para a história da educação da população negra em São
Paulo” de Surya A. P. Barros e “Negro livre no final do Brasil Império: cidadania e
educação no projeto nacional de André Rebouças” de Fabio Pinto Gonçalves dos Reis.
Na 29ª Reunião, foi apresentado o trabalho “Ler e escrever: habilidades de escravos
forros? (Comarca do Rio das Mortes, Minas Gerais, 1731-1850) de Christianni C.
Morais. Na Reunião 30 (2007), encontramos os trabalhos “Educação de crianças
desvalidas na Província de Pernambuco no século XIX” de Adlene S. Arantes, “Entre o
sentimento da infância e a invisibilidade das crianças negras: ambiguidade no século
XIX” de Ione da S. Jovino e “O papel exercido por famílias negras e de meios populares
na trajetória de escolarização dos filhos (PE, 1950-1970) de Fabiana Cristina da Silva.
Em 2009, na 32ª reunião, Marcus V. Fonseca apresentou o trabalho “O predomínio dos
negros nas escolas de Minas Gerais no século XIX”. No último encontro avaliado, de
2010, Juarez José Tuchinski dos Anjos apresentou o instigante “Práticas em torno da
escolarização dos ingênuos na cidade da Lapa, Província do Paraná (1880-1887)”.
Podemos perceber, através da observação desses eventos, a diversidade na área:
pesquisas sobre diferentes épocas, espaços educativos, regiões, assim como a ligação
com questões referentes à escolarização: gênero, trabalho docente, material didático... É
visível, também, o leque de regiões investigadas: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Maranhão, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Paraná... Outra questão digna de ser
destacada é a emergência das pesquisas sobre educação negra no século XIX. Ao
contrário do que vigorou na área, o período imperial é, atualmente, entendido como um
momento crucial para os rumos da educação nacional. Um período de debates e
realizações que, no exame a posteriori, ajudam a compreender diversas questões
relacionadas à educação brasileira. Quando se trata da perspectiva dos diferentes grupos
étnicorraciais que compõem a sociedade e sua inclusão (ou o contrário) na escola, a
análise das origens da institucionalização do ensino pode lançar luzes ao debate sobre as
questões atuais no que diz respeito à diversidade cultural e à cultura escolar. A
ampliação das pesquisas aqui citadas parece sugerir isso.

Banco de Teses e Dissertações da CAPES

A consulta ao banco de dados da Capes ocorreu entre julho e setembro de 2010.


Foram realizadas buscas com as expressões “história da educação” e “história da
educação negra”. A partir das centenas de resultados, destacamos 25 dissertações e 4
teses que tratam da educação dos negros na perspectiva da história da educação.
A principal característica dos trabalhos dedicados à história da educação do
negro é a tentativa de demonstrar a existência de relações entre os negros e a educação
em diferentes momentos e locais dos processos de organização da sociedade brasileira
(Fonseca, 2010). Nas pesquisas contidas no Banco de Teses e Dissertações, é possível
verificar essa tendência em trabalhos sobre todos os períodos históricos e diversas
regiões geográficas, assim como em diferentes instituições. Apresentaremos o título,
autoria, instituição e ano de defesa.
Teses
Dentre as diversas teses catalogadas até o momento, uma versa sobre o período
colonial, duas sobre o Império e quatro sobre o século XX.
- “Igualdade e liberdade, pluralismo e cidadania: o acesso à educação dos negros
e mestiços na Bahia”, de Jaci Maria de Menezes (Universidade Católica de Córdoba,
1997).
- “Economia Cristã dos senhores no governo dos escravos: uma proposta
pedagógica jesuítica no Brasil colonial”, de Ana Palmira Bittencourt Casimiro. A autore
discute a relação entre jesuítas, escravidão e períoodo colonial, (UFBA, 2002).
- “Pretos, pardos, crioulos e cabras nas escolas mineiras do século XIX”, de
Marcus V. da Fonseca (USP, 2007). Ele analisou a relação do processo de
institucionalização da instrução pública e a participação demográfica da população
negra livre, classificada através de diferentes terminologias (pretos, pardos, crioulos,
cabras), a mais expressiva da sociedade.
- “Escravos, forros e ingênuos em processos educacionais e civilizatório na
sociedade escravista do Maranhão no século XIX”, de Mariléia dos S. Cruz
(UNESP/Araraquara, 2008), teve como objetivo evidenciar a participação da população
negra em processos educacionais e civilizatórios na sociedade escravista do Maranhão.
- “Práticas sociais relativas às crianças negras em impressos agrícolas e projetos
de emancipação de escravizados (1822-1888)”, Fábio Pinto Gonçalves dos Reis, (USP,
2010).

Dissertações
Confirmando o interesse recente das pesquisas sobre a população negra no
campo da história da educação, a maioria dos trabalhos sobre o tema, já defendidos nos
programas de pós-graduação brasileiros, são dissertações. Apresentaremos aqui
dividindo-os por sua delimitação temporal.

Século XIX:
- “Uma Trajetória Singular - A Instituição Sagrada Família e a Educação de Meninas e
Moças”, de Marinel P. Abbade (USP, 1995). A autora faz uma reconstrução da história
do Colégio Sagrada Família, recuperando um aspecto da educação feminina ainda
pouco conhecido: a educação de meninas negras. A ação pedagógica desenvolvida na
instituição tinha como meta formação de serviçais domésticas, perpetuando-se na
condição comum às negras no regime escravocrata.
- “Aprender com perfeição e sem coação: uma escola para meninos pretos e pardos na
Corte”, de Adriana Maria P. da Silva (UFF, 1999). A autora recuperou a experiência da
escola particular de primeiras letras do professor Pretextato dos Passos e Silva,
autointitulado preto, que se destacou por ser voltada para alunos de mesma condição.
- “Concepções e Práticas em relação à Educação dos Negros no Processo de Abolição
do Trabalho Escravo no Brasil (1867-1889)”, de Marcus Vinicius da Fonseca, (USP,
2000). Fonseca situa a educação dos negros no processo de abolição do trabalho escravo
no Brasil, compreendendo articulação entre a abolição e a educação como medidas
paralelas e complementares, diante das propostas de transformação da sociedade
brasileira no final do século XIX.
- “O papel da Colônia Orfanológica Isabel na educação e na definição dos destinos de
meninos negros, brancos e índios na província de Pernambuco (1874-1889)” de Adlene
S. Arantes (UFPE, 2005). O trabalho se propôs a compreender a educação, a instrução e
os possíveis destinos pensados para os meninos negros, brancos e índios na instituição.
- “Uma educação imperfeita para uma liberdade imperfeita: escravidão e educação no
Espírito Santo (1869-1889)”, de Aldaires S. França (UFES, 2006). O objeto foram
medidas educacionais, oficiais ou não, em relação aos trabalhadores negros
escravizados, livres ou libertos nas últimas décadas do século XIX na província do
Espírito Santo, a partir do pensamento da elite intelectual e dirigente. Ela pretendeu
destcar as possibilidades de apropriação dessas práticas educacionais por esses
trabalhadores.
- “Cultura e educação de crianças negras em Goiás (1871-1889)”, de Fernanda F.
Rocha, (UFG, 2007). A autora verificou que a educação oferecida às crianças negras no
período destinava-se à formação de mão-de-obra, uma vez que se assentou no ensino
agrário e na formação militar a partir de dois estabelecimentos que ofertaram educação
a essas crianças: a Colônia Orfanológica Blasiana e a Companhia de Aprendizes
Militares.
- “PATER INCERTUS, MATER CERTA: as práticas de assoldadamento em Estância e
sua contribuição para a História da Educação da Infância em Sergipe (1865-1895)”,
Nelly Monteiro Santos Silva, (UFS, 2007).
- “ ´Matéria livre... espírito livre para pensar´: um estudo das práticas abolicionistas em
prol da instrução e educação de ingênuos na capital da província sergipana (1881-
1884)” de Meirevandra Soares Figueiroa, (UFS, 2007).
- “A escravidão, a educação da criança negra e a lei do ventre livre (1871)”, de Claudia
M. da R. Ramos (UNICAMP, 2008). O objeto investigado é o contexto das mudanças
da sociedade brasileira do século XIX, no qual emergiu a Lei do Ventre Livre de 1871,
que contemplou aspectos da educação das crianças nascidas livres do ventre escravo.
- “Compassos Letrados: profissionais negros entre instrução e ofício no Recife”, de
Itacir Marques da Luz (UFPB, 2008). O autor procurou investigar apropriação da leitura
e da escrita na cidade do Recife pelos escravos urbanos.

Transição do Século XIX para o XX:


- “Os negros e a construção da sua cidadania: estudo do Colégio São Benedito e da
Federação Paulista dos Homens de Cor (1896 a 1915)”, de José G. Pereira, (UNICAMP,
2001). Este trabalho teve como objetivo o resgate da história de uma instituição
destinada à educação dos negros e seus filhos.
- “´Negrinhos que por ahi andão´: escolarização da população negra em São Paulo
(1870-1920)”, de Surya A. P. de Barros (USP, 2002). Discute a escolarização da
população negra em São Paulo entre o final do século XIX e início do XX a partir dos
posicionamentos de brancos e negros.
- “Cidadania e Educação nos projetos de educação do negro na sociedade brasileira:
século XIX e início do XX” de Fábio Pinto G. dos REIS (USF, 2005). O autor buscou
realizar uma reflexão sobre questões relativas à escolarização e a educação do escravo,
ex-escravo e forro, sob o ponto de vista da historiografia social da escravidão e da
história da educação brasileira.
- “Anália Franco e sua ação sócio-educacional na transição do império para República
(1868-1919)” de Samantha L. Corrêa (UNICAMP, 2009). A professora Anália Franco é
objeto da pesquisa, assimo como seu trabalho junto a população negra de São Paulo.
- “A influência do racismo na educação mato-grossense na transição do século XIX ao
XX”, de Paulo Divino R. da Cruz (UFMT, 2009). O autor analisa a influência das
concepções racistas no campo educacional e a instrução pública primária em Mato
Grosso, a partir da atuação das elites dirigentes e das políticas educacionais do período,
que discriminava a população preta, parda e branca pobre.
- “Negros e educação: as trajetórias e estratégias de dois professores da Faculdade de
Direito de São Paulo nos séculos XIX e XX” de Ricardo Alexandre Cruz (PUC/SP,
2009).

Século XX
- “Educação, modernização e afrodescendentes: 1920-1936 (Estado do Pernambuco)”,
de Lídia Nunes Cunha (UFPE, 1999).
- “Mulher não branca e magistério primário: uma versão em preto e branco da
professorinha de azul e branco”, de Gláucia Romualdo dos Santos (UFMG, 2001).
- “Trajetórias de longevidade escolar em famílias negras e de meios populares
(Pernambuco 1950-1970)”, de Fabiana C. da Silva (UFPE, 2005).
- “Cidadania e educação dos negros através da imprensa negra em São Paulo (1915-
1937)”, de Pedro de S. Santos (USF, 2007).
- “Mulheres negras e educadoras: de amas-de-leite a professoras. Um estudo sobre a
construção de identidades de mulheres negras na cidade de São Paulo”, de Arlete dos
Santos Oliveira (USP, 2009).
- “Representações dos negros nos livros escolares utilizados em Mato Grosso na
Primeira República” de Maricilda do Nascimento Farias (UFMT, 2009).

Trabalhos defendidos em outros programas de pós-graduação


Além das anteriormente citadas, três dissertações foram levantadas no Banco de
Dados. Estão aqui destacadas por não terem sido apresentadas em programas de pós-
graduação em Educação, como a maioria, mas em programas de pós-graduação em
História, demonstrando o vigor da intersecção entre essas duas áreas.
- “O aprendizado da liberdade: educação de escravos, libertos e ingênuos na Bahia
oitocentista” de Miguel Luiz da Conceição (UFBA, 2007)
- “População negra e escolarização na cidade de São Paulo nas décadas de 1920 e
1930”, de Carlos Eduardo Dias Machado (USP, 2009).
- “Educação no pós-abolição: um estudo sobre as propostas educacionais de
afrodescendentes (São Paulo/1918-1931)” de William R. Soares Lucindo (UESC,
2010).

Considerações Finais

O balanço é momento do olhar geral, de explicar uma área, de destacar


inovações e permanências, de reconhecer ganhos e admitir lacunas. Como procuramos
apontar ao longo deste trabalho, a história da educação da população negra deu um salto
- da denúncia de PINTO (1992) à uma grande produção, entre artigos, trabalhos em
eventos científicos, pesquisas exaustivas defendidas como teses ou dissertaçõs. Nesses
trabalhos elencados, muitos autores se repetem - podemos acompanhar sua trajetória de
pesquisa apresentando resultados em diferentes fases. Outros, aparecem menos - as
publicações podem ser feitas em locais não mencionados neste artigo. São
pesquisadores de diferentes regiões: Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-oeste - só a região
Norte está ausente, talvez explicada pela proporcionalidade de população negra local,
que ainda não tenha motivado estudos. Diversas províncias regiões estudadas: Paraná,
Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia,
Sergipe, Pernambuco, Maranhão, Mato Grosso. É sentida a ausência de outras: Paraíba,
Rio Grande do Norte, Alagoas, Piauí, Ceará, Santa Catarina, poucos trabalhos da Bahia
quando pensa-se a participação negra naquela província/Estado.
O impacto das pesquisas acerca do período Imperial e transição para a República
é notório e avança nas explicações sobre a educação no Brasil. Tais trabalhos
modificam o sentido da história da educação brasileira no que tange à ausência da
população negra, mostrando que, durante o século XIX, “os próprios negros, sujeitos da
ação educativa, elaboram estratégias e ações variadas para viabilizar o acesso ao mundo
das letras, construindo suas próprias representações sobre a escola e conferindo
múltiplos sentidos a escolarização” (GONDRA e SCHUELER, 2008, p. 254). Já a
também significativa parcela de pesquisas sobre o período republicano traz dificuldades
na catalogação dos trabalhos: o que é história da educação, o que é educação e
diversidade? Ainda que publicados em veículos legitimados pela história da educação
brasileira, trabalhos que não utilizam bibliografia nem procedimentos metodológicos da
área, podem ser considerados história da educação?
As lacunas não são apenas da área destacada mas, principalmente, da autoria do
Balanço. O estado da arte nunca é um trabalho definitivo, é sempre provisório e
inconcluso. O levantamento aqui apresentado carrega esta marca. Em função dos limites
do texto, não foi possível discutir exaustivamente cada pesquisa mencionada. Além
disso, muitas outras questões poderiam ter sido destacadas e discutidas: local de
produção dos trabalhos – se universidades estaduais ou federais, públicas ou privadas,
se realizados em programas de pós-graduação em Pedagogia, História ou outros;
pertencimento teórico dos auores; eixo de apresentação no congresso, entre outros. São
questões que merecem tratamento mais aprofundado.
Ainda assim, as pesquisas encontradas nas Revistas, nos eventos e nas teses e
dissertações defendidas em nosso país nas últimas duas décadas, apontam a busca por
instrução por parte da população negra em diversas províncias, assim como os debates
realizados entre pessoas de diversas camadas da sociedade, de gêneros diversos, sobre a
importância dessa educação. Os trabalhos indicam que esse movimento acompanhou o
processo de institucionalização da escola primária no Brasil, e que o debate sobre
relações raciais ainda ajuda a explicar a escola brasileira hoje.
A história das relações entre negros e educação não pode ser encarada a partir de
uma única perspectiva, por ser uma relação recheada de complexidade e procedimentos
de inclusão e exclusão, de estranhamentos e de esquecimento, mas que também
implicaram mecanismos de inclusão, de conquista, de resistência e de lutas pelo acesso
a educação, permanecendo ainda hoje com um dos grandes desafios a inclusão dos
negros no sistema educativo.
Consideremos importante ter demonstrado o paulatino aumento das pesquisas
sobre a história da educação da população negra, apontando os diversos locais
analisados e períodos estudados. Dessa forma, é possível alterar uma percepção que
esteve em vigor na história da educação durante algum tempo, de que a população negra
não teve acesso à escola antes da democratização do ensino, ocorrida em meados do
século XX. Assim, esperamos que as questões aqui suscitadas possam nortear novas
concepções e discussões acerca das relações raciais e educação e, gradativamente,
modificar preconceitos e discriminações presentes na escola atual. Além disso,
desejamos contribuir no interesse de estudantes e professores em pesquisas que
focalizem as relações raciais e história da educação, bem como ampliar o espaço de
debate referente à temática, tornando-a capaz de instigar os pesquisadores na exploração
desta área de conhecimento.
Referências:

Textos

- DEMARTINI, Zeila. “A escolarização da população negra na cidade de São Paulo nas


primeiras décadas do século XX” in Revista da ANDE, São Paulo (8 - 14), 1989.
- FARIA FILHO, Luciano, VIDAL, Diana G. “História da educação no Brasil: a
constituição histórica do campo (1880-1970)”. Revista Brasileira de História, São
Paulo, v. 23, n. 45, 2003.
- FERREIRA, Norma Sandra de A. “As pesquisas denominadas 'estado da arte'”. In:
Revista Educação e Sociedade, nº 79. Campinas: CEDES, 2002.
- FONSECA, Marcus Vinícius. A educação dos negros: uma nova face no processo de
abolição da escravidão no Brasil. Bragança Paulista: EDUSF, 2002.
- ____ “A arte de construir o invisível: o negro na historiografia educacional brasileira”.
Revista Brasileira de História da Educação, v. 13, 2007.
- GALVÃO, Ana Maria de O., MORAIS, Dislane Z., GONDRA, José G., BICCAS,
Maurilane de S. “Difusão, apropriação e produção do saber histórico: a Revista
Brasileira de História da Educação (2001-2007)”. Revista Brasileira de História da
Educação, nº 16, Campinas: Autores Associados, 2008.
- GONDRA, José, SCHUELER, Alessandra. Educação, poder e sociedade no Império
brasileiro. Rio de Janeiro: Cortez, 2008.
- GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. “Preconceito de cor e racismo no Brasil”.
Revista de Antropologia, São Paulo, v. 47, n. 1, 2004 .
- PINTO, Regina Paim. “Raça e educação: uma articulação incipiente” in Cadernos de
Pesquisa, São Paulo, nº 80, 1992.
- ROMÃO, Jeruse (org). História da Educação do Negro e outras histórias. Brasília:
MEC/SECAD, 2005.
- SAVIANI, Dermeval. “Os balanços na historiografia da educação brasileira – sentidos
e perspectivas”. In: NEPOMUCENO, Maria; TIBALLI, Elianda (orgs.). A educação e
seus sujeitos na história. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2007.
- SILVA, Adriana Maria Paulo da. Aprender com perfeição e sem coação: uma escola
para pretos e pardos na Corte. Brasília: Editora Plano, 2000.
- VIDAL, Diana G.; VICENTINI, P.; SILVA, K. n. ; SILVA, J. C. S. “História da
educação no estado de São Paulo: a configuração do campo e a produção atual (l943-
2003)”. In: GONDRA, J. G. (org.). Pesquisa em história da educação no Brasil. Rio de
Janeiro: DP&A, 2005.

Sites

- ANPEd. http://www.anped.org.br/novo_portal/
- HISTEDBR http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/39/index.html
- SBHE - Sociedade Brasileira de História da Educação http://www.sbhe.org.br/
- CAPES http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses

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