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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA.

PROCESSO Nº 0086511-95.2014.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
ORIGEM: 3ª VSJE DO CONSUMIDOR (BROTAS MATUTINO)
RECORRENTES: QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFICIOS S/A E
EDUARDO RUY CARDOSO BRAZ
RECORRIDAS: QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFICIOS S/A, SUL
AMERICA COMPANHIA DE SEGURO SAUDE E EDUARDO RUY CARDOSO
BRAZ
RELATOR: JUIZ EDSON PEREIRA FILHO

EMENTA

RECURSO INOMINADO. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. IDOSO. REAJUSTE


DE MENSALIDADE EM FUNÇÃO DE MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA E ANUAL.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E DESERÇÃO REJEITADAS.
SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE, EM PARTE, O PEDIDO, DECLAROU
A LEGALIDADE DO REAJUSTE ANUAL APLICADO, BEM COMO AUTORIZOU
O REAJUSTE POR FAIXA ETÁRIA, NO PERCENTUAL DE 30% (TRINTA POR
CENTO). RECONHECIMENTO DA ILEGALIDADE DO AUMENTO POR FAIXA
ETÁRIA PRETENDIDO PELA OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE POR
MALFERIR NORMAS E PRINCÍPIOS CONSAGRADOS NO CDC. REFORMA
PARCIAL DO RECURSO DA AUTORA PARA PERMITIR APENAS, A TÍTULO DE
REAJUSTE DA MENSALIDADE DO PLANO DE SAÚDE DISCUTIDO, O ÍNDICE
ANUAL INDICADO PELA ANS PARA O PERÍODO QUESTIONADO,
EXCLUINDO-SE O REAJUSTE POR FAIXA ETÁRIA, DEVENDO, OS VALORES
PAGOS A MAIOR, SEREM RESTITUÍDOS, DE FORMA SIMPLES, COM JUROS
E CORREÇÃO MONETÁRIA. NÃO PROVIMENTO DO RECURSO DA RÉ.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/951.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de


registro, saliento que as Recorrentes pretendem a reforma da sentença lançada
nos autos que considerou abusivo o reajuste da mensalidade do plano de saúde
da autora, autorizando somente o reajuste de 30% (trinta por cento).

Presentes as condições de admissibilidade dos recursos, conheço-


os, apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos
demais membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Inicialmente, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva da


1
Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação
sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de
acórdão.

Assinado eletronicamente por: EDSON PEREIRA FILHO;


Código de validação do documento: 4f0735ec a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
recorrente/acionada, tendo em vista que a mesma é a administradora do plano de
saúde em comento, sendo a responsável pelos reajustes ora questionados nos
autos, não havendo que se falar em ilegitimidade para figurar no polo passivo da
presente demanda.

Da mesma forma, não procede a preliminar de deserção


aventada pela parte recorrente/autora, tendo em vista que os atos de intimação e
citação, são em benefício do autor, como se verifica no presente caso, não
gerando a falta de preparo arguida. Portanto, rejeito a presente preliminar.

No mérito, a sentença recorrida, tendo analisado os aspectos do


litígio, merece confirmação quase integral. A reforma deve se ater ao valor
estabelecido pelo para o reajuste de faixa etária e para que os reajustes anuais
ocorram na forma estabelecida pelo ANS, sob devolução simples. Vejamos

Realmente, os direitos fundamentais à vida e à saúde gozam de


proteção constitucional, cujo texto magno reserva especial abrigo à dignidade da
pessoa humana2, condutor interpretativo de toda e qualquer legislação vigente em
nosso País.

Por outro lado, embora regidos por lei específica (Lei nº 9.656/98) e
sigam orientações da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS e do órgão
que a antecedeu (Conselho de Saúde Suplementar – CONSU), os planos privados
de assistência à saúde não estão imunes aos princípios e normas contidos do
CDC, porque integram a categoria dos contratos de consumo.

Como norma de ordem pública constitucional, o Código de Defesa


do Consumidor foi promulgado com o objetivo precípuo de restabelecer o equilíbrio
de direitos e deveres entre o consumidor e o fornecedor nas relações de consumo,
pautado nos princípios da boa fé e lealdade.

Também o Código Civil consagra os princípios da probidade e boa-


fé não só na conclusão, como também, na execução do contrato (art. 422),
impondo, ainda, balizas à liberdade de contratar, a qual será “exercida em razão e
nos limites da função social do contrato” (art. 421).

Outrossim, não se deve esquecer que o art. 6º, da Lei nº 9.099/95,


autoriza ao juiz adotar “em cada caso a decisão que reputar mais justa e
equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum”.

Assim, por força das normas legais aqui lembradas, ao juiz é


permitido restabelecer o equilíbrio entre as partes quando houver onerosidade
excessiva decorrente ou não de fatos supervenientes e, não necessariamente
imprevisíveis, podendo, assim, promover a exclusão das cláusulas e condições
que estabeleçam prestações desproporcionais, bem como a revisão das que forem
2
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
...
III - a dignidade da pessoa humana;

Assinado eletronicamente por: EDSON PEREIRA FILHO;


Código de validação do documento: 4f0735ec a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
excessivamente onerosas ao consumidor, reconhecendo a abusividade ou o
desacordo com o sistema de proteção ao consumidor (art. 51, IV e XV, do CDC 3),
privilegiando a interpretação que lhe seja mais favorável (art. 47, CDC4).

No presente caso, não resta dúvida que houve conduta abusiva da


ré, ao impor aumento excessivo no valor da prestação, em razão de mudança de
faixa etária, agindo bem o Juízo a quo ao vedar tal aumento exorbitante, mas, ao
estabelecer que o aumento permanecesse no patamar de 30% (trinta por cento),
tal fato colocou, a meu ver, o consumidor em situação desfavorável, merecendo
reforma nesse sentido.

O reajuste pretendido pela ré, baseado apenas na mudança da faixa


etária da parte autora, desrespeita os limites legais, sendo iníqua, inclusive por
trazer desequilíbrio à relação do consumo, conferindo vantagem exagerada em
seu favor, onerando demasiadamente a avença, podendo até mesmo inviabilizar a
permanência da consumidora no plano de saúde.

Entendo que deva ser afastada a incidência dos aumentos


questionados, não só aquele por faixa etária, na forma buscada na exordial; como
aqueles outros anuais que ficaram acima dos índices permitidos pela ANS. Porém,
a devolução do indébito, diante da inexistência da má-fé na contratação (inexiste,
pois, a incidência da hipótese contida no parágrafo único, do art. 42 do CDC),
deverá ocorrer, apenas, na forma simples.

Ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER os RECURSOS, para e


NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto pela QUALICORP
ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS S/A, e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao
recurso interposto por EDUARDO RUY CARDOSO BRAZ, para permitir apenas, a
título de reajuste da mensalidade do plano de saúde discutido, o índice anual
indicado pela ANS para o período questionado, excluindo-se o reajuste por faixa
etária, devendo, os valores pagos a maior, serem restituídos, de forma simples,
com juros e correção monetária. Condena-se a ré ao pagamento das custas e
honorários advocatícios, à razão de 20% sobre o valor da condenação aqui
imposta (inteligência do art. 55 da Lei 9099/95).

Salvador, Sala das Sessões, em 01de setembro de 2015.

EDSON PEREIRA FILHO


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


3
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
...
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
4

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;... Art. 47. As cláusulas contratuais serão
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

Assinado eletronicamente por: EDSON PEREIRA FILHO;


Código de validação do documento: 4f0735ec a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS
QUINTA TURMA - CÍVEL E CRIMINAL

PROCESSO Nº 0086511-95.2014.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
ORIGEM: 3ª VSJE DO CONSUMIDOR (BROTAS MATUTINO)
RECORRENTES: QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFICIOS S/A E EDUARDO RUY
CARDOSO BRAZ
RECORRIDAS: QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFICIOS S/A, SUL AMERICA
COMPANHIA DE SEGURO SAUDE E EDUARDO RUY CARDOSO BRAZ
RELATOR: JUIZ EDSON PEREIRA FILHO

EMENTA

RECURSO INOMINADO. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. IDOSO. REAJUSTE DE


MENSALIDADE EM FUNÇÃO DE MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA E ANUAL. PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA E DESERÇÃO REJEITADAS. SENTENÇA QUE JULGOU
PROCEDENTE, EM PARTE, O PEDIDO, DECLAROU A LEGALIDADE DO REAJUSTE ANUAL
APLICADO, BEM COMO AUTORIZOU O REAJUSTE POR FAIXA ETÁRIA, NO PERCENTUAL
DE 30% (TRINTA POR CENTO). RECONHECIMENTO DA ILEGALIDADE DO AUMENTO POR
FAIXA ETÁRIA PRETENDIDO PELA OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE POR MALFERIR
NORMAS E PRINCÍPIOS CONSAGRADOS NO CDC. REFORMA PARCIAL DO RECURSO DA
AUTORA PARA PERMITIR APENAS, A TÍTULO DE REAJUSTE DA MENSALIDADE DO
PLANO DE SAÚDE DISCUTIDO, O ÍNDICE ANUAL INDICADO PELA ANS PARA O PERÍODO
QUESTIONADO, EXCLUINDO-SE O REAJUSTE POR FAIXA ETÁRIA, DEVENDO, OS
VALORES PAGOS A MAIOR, SEREM RESTITUÍDOS, DE FORMA SIMPLES, COM JUROS E
CORREÇÃO MONETÁRIA. NÃO PROVIMENTO DO RECURSO DA RÉ.

ACÓRDÃO

Realizado Julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a QUINTA


TURMA, composta dos Juízes de Direito ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA,
WALTER AMÉRICO CALDAS e EDSON PEREIRA FILHO, decidiu, à unanimidade
de votos, CONHECER os RECURSOS, para e NEGAR PROVIMENTO ao recurso
interposto pela QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS S/A, e DAR
PROVIMENTO PARCIAL ao recurso interposto por EDUARDO RUY CARDOSO
BRAZ, para permitir apenas, a título de reajuste da mensalidade do plano de
saúde discutido, o índice anual indicado pela ANS para o período questionado,
excluindo-se o reajuste por faixa etária, devendo, os valores pagos a maior, serem
restituídos, de forma simples, com juros e correção monetária. Condena-se a ré ao
pagamento das custas e honorários advocatícios, à razão de 20% sobre o valor da
condenação aqui imposta (inteligência do art. 55 da Lei 9099/95). Salvador, 01 de
setembro de 2015.

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Presidente

JUIZ EDSON PEREIRA FILHO


Relator

Assinado eletronicamente por: EDSON PEREIRA FILHO;


Código de validação do documento: 4f0735ec a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

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