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Recurso Inominado

(assunto: Ação de Obrigação de Fazer Cumulada Com Dano Moral e


Pedido de Tutela Antecipada)

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JUÌZO DE DIREITO DA VARA DO 2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA


COMARCA GRAVATAÍ/RS.

PROCESSO Nº: xxx


JUSTIÇA GRATUITA
RECORRENTE: MARTA BRAVO
RECORRIDA: GRANA ALTA S/A ADMINISTRADORA DE CARTÃO
DE CRÉDITO.

MARTA BRAVO , já qualificado nos autos em epígrafe, por


seus advogados subscritos, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
tempestivamente, nos termos dos Artigos 41 e seguintes da Lei 9.099/95, interpor o
presente RECURSO INOMINADO, em face da douta Sentença de 1º grau que julgou
parcialmente procedente a presente Ação de Obrigação de Fazer Cumulada Com Dano
Moral e Pedido de Tutela Antecipada, com as razões anexas, Requerendo que as mesmas
sejam remetidas à TURMA RECURSAL ÚNICA, em 30/11/2020.

O pedido de Assistência Judiciária Gratuita foi deferido, razão que


deixa de recolher custas recursais, documento juntado ao movimento xxxx do PROJUDI.

Nestes termos,

Pede deferimento.

local, data

ADVOGADO

OAB/RS
EGRÉGIA TURMA RECURSAL ÚNICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

AÇÃO: Ação de Obrigação de Fazer Cumulada Com Dano Moral e Pedido de Tutela Antecipada.
PROCESSO Nº: xxxx
ORIGEM: VARA DO 2º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE xxxxx.
RECORRENTE: MARTA BRAVO
RECORRIDA: GRANA ALTA S/A ADMINISTRADORA DE CARTÃO DE CRÉDITO

RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

EGRÉGIA TURMA RECURSAL

I – DOS FATOS

Trata-se de Recurso Inominado, interposto pela recorrente


inconformada com a R. sentença de fls..., que julgou improcedente o pedido de
indenização por danos morais, nos termos do art. 41 da Lei 9.099/95,

Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso
para o próprio Juizado.
§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício no
primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

A indenização pretendida pela autora é pelo fato de que a


requerente quitou as parcelas que estavam em atraso vencidas e não pagas, em
05/03/2019, conforme comprovante anexado aos autos, para que pudesse assinar o
contrato de financiamento habitacional, mas até a data da distribuição da demanda a
requerida não havia retirado o nome da requerente do SPC, o que a levou a perder o
contrato para aquisição de sua casa própria

Com efeito, em que pese o saber jurídico inquestionável do


eminente Julgador da Instância Singular, não primou à decisão atacada pela justa
aplicação do dano moral cabível na situação fática.

II - RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO


II.I – DO QUANTUM DO DANO MORAL

As ações por danos morais movidas por indivíduos com suas


tentativas frustradas de compra de imóveis por terem seu nome no SPC indevidamente
vem sendo recorrente. Nesse tipo de caso, a vítima alega ter passado por sofrimento, dor,
angústia, nervosismo ou preocupação.

O que de fato ocorreu, na presente ação, pois a autora pagou as


referidas contas vencidas, quitando quaisquer valores que ficaram para trás, contudo não
foi retirado seu nome do SPC, como fora solicitado pela mesma várias vezes.

A devida resposta foi que iria ser retirado, dentro de uma data, a
qual era sempre a mesma, que seria o mais breve possível, porém, ao final, a Recorrente
perdeu seu financiamento por conta disto, mesmo tendo pago os valores, ora anexado os
comprovantes.

Por hora, o magistrado indeferiu o pedido de danos morais, sendo


que este não atende o sofrimento e angustia da autora, que infelizmente teve que implorar
pessoalmente, telefonando e que nada foi resolvido.

A jurisprudência nesse caso, o Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul já decidiu:

RECURSOS INOMINADOS. CONSUMIDOR. AÇÃO DE


DESCONSTITUIÇÃO DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INSCRIÇÃO EM ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. PAGAMENTO REALIZADO APÓS
PROPOSTA DE ACORDO. MANUTENÇÃO INDEVIDA DA INSCRIÇÃO LEVADA A EFEITO PELA
RÉ. DANOS MORAIS CONFIGURADOS IN RE IPSA. QUANTUM REDUZIDO. 1- Trata-se de caso
onde a parte autora teve seu nome levado a registro em órgão de proteção ao crédito (fls. 20/21) em razão
de débito com a empresa ré, que ofereceu acordo para o pagamento (fl. 87), que foi aceito e efetivado pela
autora (fl. 18), mantendo a anotação negativa após o prazo de 5 dias úteis do pagamento, pelo que requer a
desconstituição do débito e indenização por danos morais. 2- Em contestação, a demandada não demonstra
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito postulado, ônus que lhe competia, a teor do disposto
no artigo 373, inciso II, do CPC, aliado à inversão do ônus da prova, por se tratar de relação consumerista.
3- Gize-se que as telas sistêmicas acostadas pela demandada, não são suficientes para comprovar o débito
alegado, na medida de sua flagrante unilateralidade, além de passíveis de adulteração. 4- Alegação recursal,
de que a autora contratou dois cartões da loja que não se encontra minimamente demonstrada nos autos,
sequer tal argumento constou da peça de defesa, pelo que não merece conhecimento. 5- Sentença de
procedência, que desconstituiu o débito de R$ 1.593,12 (fl. 20), e condenou a demandada ao pagamento de
indenização por danos morais, que merece ser mantida, por seus fundamentos. 6- No que toca ao quantum
indenizatório, merece redução para R$ 3.000,00 (três mil reais), pois se trata de manutenção indevida do
registro negativo e não inscrição indevida por ausência de débito, situações diversas. Valor que melhor
atende aos princípios de proporcionalidade e razoabilidade, e aos parâmetros atualmente adotados por esta
Turma Recursal, em casos análogos.RECURSO DA RÉ PARCIALMENTE PROVIDO E RECURSO DA
AUTORA DESPROVIDO. UNÂNIME.

(TJ-RS - Recurso Cível: 71009290057 RS, Relator: Elaine Maria Canto da


Fonseca, Data de Julgamento: 30/09/2020, Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação:
08/10/2020)
O dano moral é entendido como privação ou diminuição daqueles bens que têm
valor precípuo na vida do homem e que são a paz, tranquilidade de espírito, a liberdade
individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados afetos.

Também se observa a concordância jurisprudencial quanto ao conhecimento de


valores a título de danos morais.

No âmbito do direito privado, o ordenamento jurídico pátrio adota a tese da


responsabilidade civil subjetiva, disciplinada no art. 186 do CC de 2002, in verbis:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

O dano por sua vez, pode ser patrimonial ou moral, este igualmente indenizável,
nos termos do art. 5º, V, da Lei ápice atual.

Segundo José de Aguiar Dias:

“Para caracterizar o dano moral, basta compreendê-lo em relação ao seu


conteúdo, que ''não é o dinheiro nem coisa comercialmente reduzida
dinheiro, mas a dor, o espanto, a emoção, a vergonha, a injúria física
ou moral, em geral uma dolorosa sensação experimentada pela
pessoa, atribuída à palavra dor o mais largo significado. ''

Contudo, apesar da clareza do conceito, a dificuldade está na avaliação da


existência do referido dano no caso concreto.

O que se requer, é entender que a parte sofreu muito com isso, pois perdeu a
oportunidade de possuir seu primeiro imóvel, saindo do aluguel, o que é uma grande
conquista do individuo e, acima deste, garantido pela Constituição federal.

Outrora, observa-se também que o caso em questão trata-se de relação de


consumo, regida pelo CDC - o art. 6º do referido diploma legal preceitua que são direitos
básicos do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos

Aplica-se ao caso concreto as disposições do microssistema consumerista, que a


responsabilidade do fornecedor é objetiva (artigos. 18 e 26 do Código de Defesa do
Consumidor), de tal sorte que a ele incumbe demonstrar e especificar as condições reais
do produto comercializado, provando a sua perfeita aptidão ao fim destinado.

A saber, regula os artigos:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante
a verificação de culpa.

Art. 6º do CDC, como citado anteriormente – São direitos básicos do


consumidor; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção
ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus
da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

É nítida a frustração da autora que, tendo em vista estar com todos os requisitos
legais para adquirir o imóvel e perde-lo por conta do descaso da parte contrária. Sendo
que o responsável legal deixou de prestar amparo ao consumidor, ficando assim, a
este atribuído a retirada do nome da Recorrente do SPC e tendo que propor a presente
ação para reaver seus valores bem como ser indenizado pelo descaso, desgosto,
humilhação que sofreu. Tal atitude da parte Ré vai de encontro com um dos fundamentos
da República Federativa do Brasil, que é a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da
CF e Art. 4º do CDC).

No presente caso deve ser conhecida a obrigação de pagamento de indenização


por danos morais, visto que o autor foi extremamente prejudicado pela parte ré. Pois, o
consumidor, além de cumprir com suas obrigações legais e contratuais, teve de
desembolsar o montante de R$ xxxxxx para fins de documentação do imóvel, o qual não
conseguiu comprar por conta da irresponsabilidade da parte Ré.Lamentavelmente a
autora da ação, sofreu grande desgosto, humilhação, sentiu-se desamparado, foi
extremamente prejudicado, conforme já demonstrado acima. Nesse sentido, é merecedor
de indenização por danos morais, situação explicada pela doutrina, que segue abaixo:

MARIA HELENA DINIZ, dano moral “é a dor, angústia, o desgosto,


a aflição espiritual,a humilhação, o complexo que sofre a vítima de
evento danoso, pois estes estados de espírito constituem o conteúdo, ou
melhor, a consequência do dano”. Mais adiante: “o direito não repara
qualquer padecimento, dor ou aflição, mas aqueles que forem
decorrentes da privação de um bem jurídico sobre o qual a vítima teria
interesse reconhecido juridicamente” (Curso de Direito Civil –
Reponsabilidade Civil, Ed. Saraiva, 18ª ed., 7ºv., c.3.1, p.92).

“A reparação do dano moral é hoje admitida em quase todos os países


civilizados. A seu favor e com o prestígio de sua autoridade
pronunciaram-se os irmãos Mazeaund, afirmando que não é possível,
em sociedade avançada como a nossa, tolerar a contra-senso de
mandar reparar o menor dano patrimonial e deixar sem reparação o
dano moral”. (Aguiar Dias, In “A Reparação Civil”, tomo II, pág. 737).

Em outro entendimento, importante levar em consideração a ansiedade da Autora


a estar comprando seu primeiro imóvel, e crente que, pagando suas parcelas vencidas
como as fez, teria seu nome retirado do SPC. Todavia, conforme já demonstrado, é
inegável a responsabilidade da Administradora, assim, os danos morais vêm também a
ser aplicado como forma coercitiva, ou melhor, de modo a reprimir a conduta praticada
pela parte ré, que de fato prejudicou o autor da ação.

Para fixar o valor indenizatório do dano moral, deve o juiz observar às funções
ressarcitórias e putativas da indenização, bem como a repercussão do dano, a
possibilidade econômica do ofensor e o princípio de que o dano não pode servir de fonte
de lucro.

Nesse sentido, esclarece Sérgio Cavalieri Filho que:

“(...) o juiz, ao valor do dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de
acordo com seu prudente arbítrio, seja compatível com a
reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do
sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do
causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras
circunstâncias mais que se fizerem presentes”.

A jurisprudência fornece elucidativos precedentes sobra à utilização dos citados


critérios de mensuração do valor reparatório:

“A indenização do dano moral deve ser fixado em termos razoáveis,


não se justificando que a reparação venha a constituir-se em
enriquecimento sem causa, com manifestos abusos e exageros, devendo
o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau
de culpa e ao porte econômico das partes, orientando-se o juiz pelos
critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência, e do bom-senso, atendo
á realidade da vida e às peculiaridades de cada caso. Ademais, deve
ela contribuir para desestimular o ofensor repetir o ato, inibindo sua
conduta antijurídica (RSTJ 137/486 e STJ-RT 775/211).”

O Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região já julgou casos parecidos como


o presente, decidindo da seguinte forma:

(1) “No caso em exame, fixa-se a verba indenizatória na importância


de R$ 15.000,00, que se coaduna com precedentes análogos deste
Egrégio Tribunal de Justiça, não chega a trazer enriquecimento à
autora e serve como advertência à ré.”

CIVIL. DANOS MORAIS. CAIXA ECONÔMICA


FEDERAL. PEDIDO DE NULIDADE DE CONTRATO DE
FINANCIAMENTO FALSIFICADO, CUJA AUTORIA FOI IMPUTADA AO
GERENTE DA CEF. INSCRIÇÃO DO AUTOR NO SPC.
RESPOSABILIDADE DA CEF. DEVER DE INDENIZAR. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. - A inclusão indevida no SPC acarreta transtornos
configuradores do dano moral, cuja indenização, consoante à doutrina e
jurisprudência, tem dupla função: reparatória e punitiva. - Nos termos do art.
14 da Lei nº 8078/90, a responsabilidade contratual do banco é objetiva,
cabendo ao mesmo indenizar seus clientes. - A indenização não pode ser tão
alta que cause enriquecimento, nem tão baixa que seja inócua a seus fins
punitivos. No presente caso, o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais),
arbitrado pelo MM. Juiz a quo deve ser mantido. - Apelação improvida. (TRF-
5 - AC: 372879 RN 2004.84.00.007055-1, Relator: Desembargador Federal
Paulo Gadelha, Data de Julgamento: 14/12/2006, Terceira Turma, Data de
Publicação: Fonte: Diário da Justiça - Data: 08/02/2007 - Página: 635 - Nº:
28 - Ano: 2007)

O montante de R$ 15.000,00 (cinco mil reais) equivale a uma justa indenização


por danos morais no presente caso. Tendo em vista que, não enriquece a parte autora e
adverte a parte ré.

III - DOS PEDIDOS

Diante do exposto acima requer:

1. O Recebimento, Conhecimento e Processamento do presente RECURSO inominado,


em razão de ser próprio e tempestivo.

2. No mérito, seja o presente recurso acolhido e provido para modificar in totum a


sentença de primeira instância, julgando improcedentes os pedidos da Requerida.

3. Condenação da parte ré a pagar os danos morais no montante justo de R$ 15.000,00


(quinze mil reais);

4. A fixação do honorário advocatício em 30% do valor da sentença, bem como as


despesas processuais que se antecipou

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data,

ADVOGADO
OAB/RS

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