Você está na página 1de 8

SHIRLEY PIMENTEL RAIMUNDO SILVA

NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO


A LEITURA PARA O ESTUDANTE DE DIREITO:
ALGUNS APONTAMENTOS
X
REFLEXÕES ACERCA DA DIFICULDADE GRAMATICAIS DOS OPERADORES
DO DIREITO

Orientadora prof. Valeska

A LEITURA PARA O ESTUDANTE DE DIREITO:


ALGUNS APONTAMENTOS

Santa Luzia - MG
2020
RESUMO

Esta analise, trata-se da intertextualidade na relação entre os artigos, em


referência, os quais abordam a importância da leitura para o estudante de Direito,
voltado ao estudo dos impactos na aprendizagem e prática acadêmica. Apresenta
algumas reflexões acerca das dificuldades apresentadas, pelos alunos ingressantes
no que diz respeito a linguagem, seja ela na sua manifestação escrita ou falada.

Palavras-chave: Aprendizagem, estudante, Direito, linguagem, argumentação.

INTRODUÇÃO

No curso de Direito, a leitura é uma das “ferramentas” mais importantes para a


formação de um profissional competente. Com o elevado número de cursos de Direito
disponíveis, houve a mercantilização do ensino, implicando numa queda na qualidade
das instituições de ensino superior, abrangendo tanto o corpo docente quanto
discente. As provas da Ordem e os concursos públicos os quais não aplicam exames
avaliadores de fato do conhecimento dos alunos, mas apenas a quantidade de
informações acumuladas no decorrer da graduação e dos cursos preparatórios.
O curso de direito sempre teve prestígio, pois proporciona status profissional
superior às demais carreiras. Como eram poucos cursos, a concorrência era grande
e passavam nas universidades públicas e privadas, alunos relativamente bem
preparados. Nos últimos 20 anos houve profunda alteração do perfil do aluno, em
geral, são estudantes que leem pouco e o resultado é inevitável e previsível: daí os
péssimos índices de aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil.
O ato de ler é muito importante para expandir a leitura, fazendo com que o
aluno adquira conhecimento e desenvolva um vocabulário sólido e o senso crítico,
contribuindo na formação de profissionais capacitados.
A leitura é a matéria-prima para o conhecimento e proporciona o
aprimoramento linguístico, de modo a exercer relevante papel no desenvolvimento
das habilidades de interpretação e de escrita.
O discente entra no universo acadêmico com pouca preparação, e unida à falta
de hábito de leitura, encontra dificuldades para interpretar e escrever. Este aluno, está
acostumado a lidar com informações curtas, fragmentadas, superficiais, sem
aprofundamento algum.

“Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar”.
(GNERRE,1985,p. 8). Falamos muitas vezes sem pensar se é a maneira certa
ou não e ao escrever, nos dedicamos mais com atenção para não correr o risco
de registrar coisas absurdas.

Devemos eleger, dentre as possibilidades que a linguagem nos dá, a mais


conveniente e adequada à situação que nos encontramos, levando em conta,
também, os conhecimentos de nosso interlocutor. O vocabulário jurídico possui uma
imensidão de palavras desconhecidas para quem não é da área, mas para saber esta
linguagem antes de tudo é necessário entender o palavreado diário, que é a língua
portuguesa, falada e escrita pela sociedade.
Os operadores do direito se utilizarem a linguagem técnica própria dessa
profissão com pessoas leigas na área, além de deixarem o interlocutor constrangido,
correm o risco de não serem entendidos.
Por outro lado no tribunal de justiça, ao se dirigirem aos seus iguais, os
Procuradores podem falar de acordo com a linguagem técnica. Porém, mesmo nessa
situação, não devem esquecer que estão presentes jurados e até mesmo seus
clientes, os quais não possuem conhecimento técnico jurídico para interpretarem o
que se diz.
Utilizar a linguagem jurídica de maneira negativa pode causar danos ao bom
entendimento e a boa comunicação. Por isso argumentar através de termos de raro
conhecimento só traz complicações, a melhor forma é usar um vocabulário que todos
compreendam o significado do que se quer dizer.
Diante das dificuldades em aprender o conteúdo do ensino superior, descobre
as facilidades ofertadas pelo mercado editorial, tais como os manuais contendo teorias
simplificadas, institutos jurídicos esquematizados e, por óbvio, a internet, com o Dr.
Google sempre à disposição para sanar qualquer dúvida sobre qualquer assunto em
no máximo cinco linhas sem a menor necessidade de reflexão; basta o conceito. Após
a árdua jornada da graduação, bate à porta o exame da Ordem e os concursos
públicos.

Segundo Maria Helena Alves de Oliveira (1996, p.3) “[...] a curiosidade


intelectual e a necessidade de ampliação do próprio conhecimento e de
enriquecimento das próprias ideias direcionam a leitura para interesses de
aprendizagem, para a formação de uma filosofia de vida e para uma melhor
compreensão do mundo”.

A leitura vai além da capacidade de compreensão, ela desenvolve também a


escrita mais elaborada e planejada, colocando-se em posição de vantagem perante
os demais, ou melhor, os reprodutores de informação.
É inegável a importância da grafia correta das palavras em qualquer documento
ou texto, “assim como” a pontuação é essencial para pausar a escrita e a entonação
ao pronunciar as palavras e a acentuação, para melhor compreensão do que está
sendo escrito.

Outro fator que implica na problematização da escrita é a leitura, pois quem


não possui o habito de ler não tem vocabulário, causando muitas vezes repetição de
palavras em um mesmo texto, que poderiam ser substituídas por outras de mesmo
sentido.
A impressão que dá é uma leitura sem nexo, é de estar lendo em “círculos”,
porque se repete a mesma escrita ao longo do texto, sem estabelecer um percurso de
introdução, desenvolvimento e conclusão.

O maior instrumento de trabalho do jurista é a argumentação e a qualidade


dessa argumentação será capaz de separar o bom profissional do mediano, pois além
de conhecer normas jurídicas, é preciso saber expressar com clareza, precisão e
persuasão, pois na fala dispomos de recursos que não ocorrem na escrita, como a
entonação de voz que revela a carga expressiva da mensagem (ordem, conselho,
pedido, afirmação, etc.), os gestos e as expressões corporais, auxiliam no momento
da fala.
Declara Calmon de Passos (2001, p.63-64): [...] linguagem é o Direito aplicado
ao caso concreto, sob a forma de decisão judicial ou administrativa. Dissociar
o Direito da Linguagem será privá-lo de sua própria existência, porque,
ontologicamente, ele é linguagem e somente linguagem. [...].

Existem diferentes níveis de linguagem e que cada situação/contexto especifico


pede a utilização de um, ou mais de um, desses níveis. Podemos utilizar, por exemplo,
tanto o nível coloquial, quanto o nível padrão culto, ou até mesmo dar preferência à
linguagem técnica quando falamos, o importante é saber em que situação cada uma
dessas possibilidades será bem vinda em termos de adequação vocabular ao contexto
e de compreensão da mensagem pelo interlocutor.

A variante culta da língua, também chamada padrão culta ou formal, obedece


às normas gramaticais e não admite a utilização de gírias ou expressões regionalistas.
A língua coloquial é mais usada em conversas cotidianas, que permite certos deslizes
gramaticais e admitindo a utilização de gírias, variantes informais de linguagem. Já a
utilização da linguagem técnica decorre do universo profissional do falante, ou seja,
cada profissão possui termos técnicos de sua área que nem sempre são bem
compreendidos fora desse universo.
Por exemplo, a gíria é apresentada pela língua popular, encontrada no
cotidiano das pessoas, com características diferentes de grupo para grupo. Ela é
elaborada por um grupo social, como os surfistas, skatistas, os grafiteiros, etc.
Quando a gíria fica restrita a uma profissão é identificada como jargão, por isso se
escuta falar em jargão médico, jargão dos advogados, dos jornalistas, etc.
No Direito se exige um vocabulário extenso de acordo com o padrão culto da
língua, não somente durante o curso, mas também no exercer da carreira profissional.
O Direito tem uma linguagem técnica – tanto que há o vocabulário jurídico – com uma
variedade de palavras em latim (e alguns termos já bastante antiquados), o que
confunde o aluno ao estudar. Essas variantes de linguagem, pode gerar dificuldades
no mundo textual.
O domínio da linguagem respaldado pela leitura dá plena condição ao
estudante de Direito de caminhar em direção a uma exímia carreira, uma vez que,
além do conhecimento técnico, ele também desenvolveu outras habilidades derivadas
da leitura.
Há três tipologias textuais utilizadas na construção de processos e sobre as
quais o acadêmico de direito deve ter domínio: textos descritivos, narrativos e
dissertativos.

DESCRITIVO: Descreve, personagens, objetos, na descrição pode haver ação


e movimento, tudo acontece em um mesmo tempo.
Na elaboração de uma ação trabalhista, por exemplo, as características da
ação são feitas através da DESCRIÇÃO. Descreve o ramo que atua a empresa, qual
era a atividade exercida pelo funcionário que ajuizou a ação, o número de horas que
este trabalhava, se o empregado utilizava de máquinas para trabalhar, e qual o tipo
de máquinas, a estrutura que a empresa proporcionava aos seus funcionários, dentre
outras características que são descritas no processo.

NARRATIVO: Narra fatos, conta uma história, com acontecimentos sequências


surgindo diversas situações. A narração é feita em primeira pessoa (eu, nós) em que
o narrador faz parte da história como personagem, ou em terceira pessoa (ele ou ela,
eles ou elas) o narrador participa, conta fatos acontecidos de forma que estivesse
presenciando ou presenciado. Na narração devem-se considerar os personagens em
um tempo e espaço.
Para explicar qual foi o motivo para o funcionário ajuizar uma ação contra a
empresa, utiliza-se da NARRAÇÃO. É contar o motivo que levou o trabalhador
processar a empresa, como por exemplo: falta de remuneração, horas excessivas de
trabalho, não recebimento de seus direitos como 13º salário, férias, etc.

DISSERTATIVO: Organizam-se discussões a respeito de um tema, expondo


ideias, analisando fatos expressando seu ponto de vista com relação ao que ocorre.
A defesa feita pelo autor (o funcionário) é através da DISSERTAÇÃO,
elaborando uma petição inicial para dar início ao processo, narrando os fatos e, a
seguir, defendendo seu cliente através de argumentos, fundamentações legais, etc.

Os tipos de textos são influências importantes para a criação de documentos


jurídicos, ou seja, em petições iniciais, ações trabalhistas, dentre outros.
Um texto deve ser elaborado de forma que o leitor entenda a mensagem
transmitida. A coerência dá harmonia, encaixando todas as partes de um tubo, ou
seja, dá significado ao texto. “A coerência por sua vez, é resultado da estrutura lógica
do texto. Independentemente dos elementos ligativos presentes no texto, a
continuidade de sentidos percebida pela organização de estruturas subjacentes,
assegura a unidade e adequação de ideias”. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2000, p.11).

A coesão é a ligação que conecta as ideias de um texto, fazendo com que uma
inclemente a outra. Afinal “a coesão é sempre explícita, ligando o texto por meio de
elementos superficiais que expressamente costuram as ideias, dando-lhe uma
organização sequencial”, (Idade. Ibidem).

A petição inicial de processo deve ser clara e objetiva, não precisa escrever
diversas páginas para defender seu cliente a ponto de torná-lo cansativo. Ainda na
petição é essencial a fundamentação jurídica e a argumentação, o advogado diante
de um júri ou audiência, também precisa muito de argumentos consistentes e que
convençam todos os presentes.

Exemplos de argumentos que são fortes:

Dados estatísticos são argumentos fortes, que direciona conhecimento para a


sociedade, demonstra-se também que o autor sabe do que está falando.
Entretanto ao se utilizar dados estatísticos como argumentos, mencionar a
fonte deste, pois se não somos nós quem criamos não podemos utilizar de ideias de
outros sem citá-los, sem a fonte não há provas de que seja verdadeiro o que ali consta.
Os dados estatísticos devem ser retirados de fontes seguras.
Outros argumentos de peso no Direito são os por prova concreta, como as
fotografias e os exemplos de situações análogas.
O Argumento de autoridade é tudo que já foi dito por renomados autores e que
utilizamos muitas dessas citações autorais. Assim também os advogados utilizam
muito citações de autoridades durante o desenvolvimento de petições iniciais,
mencionam autores após dar explicação de determinado assunto. Estes Procuradores
citam perante o Tribunal de Justiça os Escritores jurídicos para justificar estarem
correto seus argumentos, estas citações também são chamadas de base legal no
direito.
“Esse recurso leva o receptor a pensar que o locutor tem real domínio sobre o
que está falando, pois além de ter lido e pesquisado sobre o tema, não fala só,
e tem o apoio dos ‘fiadores’ citados no texto”. (CRESTANI, 2007, p.79).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nosso dia a dia, falar corretamente faz parte de nosso crescimento como
indivíduos e profissionais. No Direito é muito importante apresentar conhecimento
vocábulo, pois demonstra a capacidade de entendimento do profissional sobre
determinado tema e mostra sua habilidade de atuar como operador do Direito. A
clareza ao falar e escrever de forma breve e objetiva atrai a atenção de todos, inclusive
de quem não faz parte da área jurídica.
O fato é que a falta de leitura, em geral, e no direito, em especial, conduz a
uma compreensão mecanizada e simplificada do fenômeno, isto é, das relações
sociais que, paradoxalmente, são altamente complexas.
O que se precisa entender é que ler não é um problema e sim uma solução
para as dificuldades. A leitura só faz com que cresçamos cada vez mais, nos tornando
capacitados para enfrentarmos diversas situações, seja ela favorável ou não.

Referências

1. LUZ, Janaina Faverzani; PAVAN, Juliano André. Reflexões acerca das


Dificuldades Gramaticais dos operadores do direito. Disponivel em:
<https://revista.pgsskroton.com/index.php/rdire/article/view/1895/1800> Acesso
em: 11 abr. 2020.

2. ALVARENGA, Alexandre Pereira; Et all. A Leitura para o Estudante de Direito:


Alguns Apontamentos. Disponivel em:
<http://www.faacz.com.br/portal/conteudo/iniciacao_cientifica/programa_de_in
iciacao_cientifica/2015/anais/a_leitura_para_o_estudante_de_direito_alguns_
apontamentos.pdf> Acesso em: 11 abr. 2020.

Você também pode gostar