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FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE Ano 128 • Nº 2.172 • Março 2010


ISSN 1413 - 1749

R$ 5,00
Expediente Sumário
4 Editorial
Prática mediúnica espírita
12 Entrevista: Francisco Ferraz Batista

Fundada em 21 de janeiro de 1883


A busca por laços inquebrantáveis
Fundador: A UGUSTO E LIAS DA S ILVA
15 Presença de Chico Xavier
Mediunidade sublimada – Irmão X
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 128 / Março, 2010 / N o 2.172
21 Esflorando o Evangelho
Guardemos lealdade – Emmanuel
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da 30 A FEB e o Esperanto
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI Chopin, Espiritismo, Esperanto... – Affonso Soares
Editor: ALTIVO FERREIRA
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO 42 Seara Espírita
CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO
BEZERRA
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA
Gerente: ILCIO BIANCHI
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
5 O radicalismo religioso – Juvanir Borges de Souza
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR
TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO 8 Irmão – João de Deus
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
CARVALHO 9 Terrorismo de natureza mediúnica (Capa) –
REFORMADOR: Registro de publicação Vianna de Carvalho
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de 11 Controle universal do ensino dos Espíritos –
Polícia Federal do Ministério da Justiça)
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503 Allan Kardec
Direção e Redação: 16 O Espiritismo e os espíritas – Richard Simonetti
Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN)
70830-030 • Brasília (DF)
17 O Evangelho em casa – Isabel
Tel.: (61) 2101-6150 18 A Natureza e seus reinos – Christiano Torchi
FAX: (61) 3322-0523
Home page: http://www.febnet.org.br 22 Necessidade de meditação – Mário Frigéri
E-mail: feb@febnet.org.br
23 Enfermidades: lições valiosas para os que as
Departamento Editorial e Gráfico:
Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040 adquirem – Clara Lila Gonzalez de Araújo
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil
Tel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298 26 Em dia com o Espiritismo – Processo racial –
E-mails: redacao.reformador@febrasil.org.br Marta Antunes Moura
feb@febrasil.org.br
29 Onde Deus está? – Carlos Abranches
PARA O BRASIL
Assinatura anual R$ 39,00 32 Religião e salvação – F. Altamir da Cunha
Número avulso R$ 5,00 34 Agadyr Teixeira Torres – Uma vida com a Doutrina
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual US$ 35,00 Espírita
Assinatura de Reformador: 35 Retrato da amizade – Maria Dolores
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274 36 Cristianismo Redivivo – Profecias bíblicas –
E-mail:
assinaturas.reformador@febrasil.org.br Haroldo Dutra Dias

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA


39 A mensagem do Cristo chega de vários modos –
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA Rogério Coelho
Editorial
Prática mediúnica
espírita
A
mediunidade é uma faculdade que muitas pessoas possuem, independentemente
de sua vontade, que permite a comunicação entre os homens (Espíritos encarna-
dos) e os Espíritos desencarnados, ou, ainda, entre o mundo espiritual e o mundo
material. Existe desde que o homem habita a Terra. Todas as religiões, desde as mais primi-
tivas, têm na mediunidade a base para os seus princípios e a sua prática.
Em “A minha primeira iniciação no Espiritismo” (Obras Póstumas, p. 297 e 299), Allan
Kardec comenta sobre os seus primeiros contatos com o fenômeno mediúnico represen-
tado, na época, pelas mesas girantes ou falantes, como se observa em alguns trechos:
Foi aí [em casa da Sra. Plainemaison, em maio de 1855] que, pela primeira vez, presenciei o
fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam
lugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios [...] mas havia ali um fato que ne-
cessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades [...] qual-
quer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.
[...]
Foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo [...]. Apliquei a
essa nova ciência [...] o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas;
observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos efeitos procurava
remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos [...] percebi,
naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e
do futuro da Humanidade [...]. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas cren-
ças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção e não levianamente; ser
positivista e não idealista, para não me deixar iludir.
Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada
mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciên-
cia integral [...] e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. [...]
Adotando um sistema de investigação racional, intitulado “Controle Universal do
Ensino dos Espíritos” (O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 26-36), Allan Kardec codi-
ficou a Doutrina Espírita, que tem como máximas: “Nascer, morrer, renascer ainda, e
progredir sempre, tal é a lei”, “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente
a razão, em todas as épocas da Humanidade” e “Fora da Caridade não há Salvação”.
Assim, toda atividade identificada como espírita, inclusive a mediúnica, será sempre a
que for realizada de conformidade com os ensinos espíritas.
No mundo existem muitas atividades mediúnicas, mas, “prática mediúnica espírita
só é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da
moral cristã”.1

1
“Conheça o Espiritismo” – Texto da Campanha de Divulgação do Espiritismo, promovida pela FEB e pelo CEI.

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O radicalismo
religioso J U VA N I R B O R G E S DE SOUZA

A
s religiões, entendidas co- mento e absorção dos ensinos por Há que se considerar também
mo crenças na existência parte daqueles aos quais era dirigi- a evolução natural das línguas
de seres superiores ou for- do. Esse fato explica a linguagem em que foram expressos os tex-
ças criadoras do Universo, e que figurada, sujeita a interpretações e tos, entre as quais algumas estão
devem ser adorados e obedecidos, estudos mais aprofundados a res- extintas.
criaram suas doutrinas, cada qual peito dos textos religiosos antigos. Outra dificuldade ocorrente é
com seus preceitos ético-morais e Moisés, Maomé, Buda, Lao-Tsé a das traduções dos textos origi-
reverências às coisas sagradas. e todos os demais enviados por Je- nais para as línguas atuais, muito
As religiões geram, em seus se- sus, o Cristo – Governador da Ter- mais ricas que as antigas, nas
guidores, sistemas de pensamentos ra – utilizaram linguagem inteligí- quais um vocábulo tem hoje sig-
que levam a posicionamentos filosó- vel à época em que cumpriram nificações diversas. Daí a diversi-
ficos, éticos e metafísicos, influin- suas missões. dade das traduções.
do poderosamente na maneira in- Entretanto, transformadas as Essas considerações visam foca-
dividual e coletiva de agir. condições do mundo em que atua- lizar verdadeiros paradoxos que se
Assim, quanto mais próximas es- ram e deixaram suas mensagens e observam no seio de determinadas
tiverem as doutrinas religiosas da ensinos, pelo progresso natural, pe- religiões, os quais se tornam in-
Verdade e da realidade, melhores las modificações dos usos, costu- compreensíveis ou inexplicáveis
serão suas influências sobre seus mes e leis humanas, pelos desco- perante a finalidade visada pelos
adeptos. brimentos científicos e pela evolu- princípios religiosos, que é o da ele-
Hoje, à luz da Revelação Espí- ção geral do Planeta e de seus ha- vação dos sentimentos e dos co-
rita, sabemos que todas as gran- bitantes, é necessário que se inter- nhecimentos da criatura humana.
des religiões do mundo, desde as pretem os textos antigos dos livros Referimo-nos ao fanatismo, ao
mais remotas eras, tiveram, em sagrados das religiões em suas sig- radicalismo e ao fundamentalismo
seus fundadores, os missionários nificações legítimas. que se observam em determinados
encarregados de orientar e aju- As interpretações literais de tex- movimentos religiosos, gerando
dar parcelas da Humanidade a tos escritos há milênios, sem os consequências negativas e diversi-
progredir em conhecimentos cuidados naturais para se buscar a ficadas no seio de grande parte da
e sentimentos. significação real, levam a enganos Humanidade.
Mas o auxílio do Alto nunca ul- e erros como decorrências nor-
l
trapassou a capacidade de entendi- mais.

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O fanatismo é o procedimento, das igrejas denominadas cristãs, sus se dirigia a pessoas de parco
a qualidade e o caráter intolerante e com suas estruturas e hierarquias entendimento e que sua lingua-
cego do religioso. tradicionais, criando as organiza- gem tinha, tantas vezes, sentido fi-
Entusiasmado e apaixonado pe- ções religiosas que se desviaram do gurado para ser entendida, levou
las ideias que aceitou, é incapaz de Cristianismo autêntico, resultante as doutrinas católica e protestante a
examinar qualquer pensamento, dos ensinos do Cristo de Deus. erros e enganos evidentes.
princípio, ou ideal que não estejam Os dogmas impróprios criados Céu e inferno, por exemplo, não
estritamente contidos na sua dou- pelos diversos Concílios, desde os podem ser considerados lugares
trina. Sua vida de relação se faz ex- primeiros séculos do Cristianis- determinados ao gozo eterno ou ao
tremamente difícil, em face da sua mo, desfiguraram a mensagem do sofrimento eterno das almas, como
presunção de superioridade com Cristo de tal forma que se torna entendem as igrejas, mas sim esta-
referência a tudo que o cerca. difícil identificá-la, na sua pureza, dos de alma, resultantes de seus pen-
Próximo do fanatismo encon- com as práticas e cultos exteriores samentos e ações no bem ou no mal.
tra-se o radicalismo daqueles cuja das igrejas. Penitência não deve ter o sentido
opinião ou comportamento os tor- Não se ajustam os ensinos do de simples castigo pelo mal feito,
nam inflexíveis, mesmo diante de Mestre Incomparável, resumidos mas sim o de arrependimento, sem
evidências e provas contrárias ao por Ele mesmo no “amar a Deus prejuízo da retificação necessária.
ponto de vista que aceitaram. sobre todas as coisas e ao próximo Anjos são Espíritos que já se en-
Fanatismo e radicalismo são ma- como a si mesmo”, com as ideias e contram em avançados estágios
les que se enraízam nos movimen- as práticas resultantes da interpre- evolutivos, mas que iniciaram sua
tos religiosos, com graves prejuízos tação literal dos Evangelhos e do trajetória como seres simples e ig-
para os invigilantes que os acei- Velho Testamento. norantes e não como criaturas es-
tam e para aqueles que com eles se A interpretação que se deu às pa- peciais do Criador.
relacionam. lavras céu, inferno, anjos, demônios, Demônios são Espíritos que se
Aos prejuízos das interpretações penitência, dia do juízo e tantas ou- desviaram, comprazem-se no mal,
literais do Velho e do Novo Testa- tras constantes dos Evangelhos, na mas que terão oportunidade de
mentos somaram-se os equívocos sua letra, sem se considerar que Je- se redimir, dentro da lei de Deus,

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que é justa e equitativa para com Fenômeno semelhante ocorre Não se justifica o relativismo dian-
toda a Criação. no movimento islâmico, com ba- te da lei moral superior do Amor,
O juízo não é um julgamento se na interpretação literal e radical que promana do Criador do Uni-
especial em um tempo indefinido de seu livro sagrado. verso e foi ensinada pelo Cristo.
dentro da eternidade, mas sim as Como o Alcorão foi escrito no O fundamentalismo, o utilitaris-
consequências dos atos e pensa- século VII da Era Cristã, quando o mo, o subjetivismo e o materialis-
mentos de cada ser pelo automa- mundo era ainda muito mais atra- mo são desvios perigosos de vivên-
tismo das leis divinas, às quais to- sado que na atualidade, torna-se evi- cia e de interpretações infelizes, com
das as criaturas estão sujeitas. dente a necessidade do ajustamen- consequências sérias para quem os
Essas noções retificadoras das to de suas normas e regras às novas aceita, contra os quais estão sempre
doutrinas baseadas na literalidade condições de conhecimentos e de presentes a mensagem do Cristo e
das escrituras antigas foram trazidas sentimentos alcançados pelo gêne- a Doutrina Consoladora por Ele
pelo Consolador, prometido por ro humano, que conduzem ao Bem. prometida e enviada.
Jesus, que sabia da necessidade fu- Também no islamismo ou em Não é fácil para os que se en-
tura do correto entendimento de qualquer outro movimento religio- contram reencarnados em um
seus ensinos, que se ajustam per- so não se justificam os fundamen- mundo material como a Terra,
feitamente ao Amor, ao Poder e à tos interpretados literalmente. com inúmeras obrigações perante
Justiça de Deus. Devem ser considerados os man- a vida física, lembrarem-se perma-
A interpretação radical dos fun- damentos, a letra, à luz da razão, nentemente de que são, antes de
damentos, assim considerada a le- da justiça e do entendimento su- tudo, seres espirituais em trânsito
tra das escrituras, corresponde ao perior, sem o que os resultados in- por este mundo.
imobilismo de ideias superadas terpretativos levam a verdadeiros Essa é a condição de toda a po-
pelo progresso normal do mundo absurdos, como é exemplo a con- pulação terrena: Espíritos eternos,
que habitamos, resultante de no- dição da mulher, colocada em po- ligados a corpos materiais perecí-
vos conhecimentos oriundos das sição de inferioridade injustifica- veis, em busca do aperfeiçoamento.
ciências e novas revelações. da, atendendo a costumes de um As religiões auxiliam esse enten-
O fundamentalismo resultante passado superado. dimento lembrando-nos do que
da interpretação literal, quando se somos em essência.
l
junta à força do poder temporário, Mas as religiões não dispõem
conduz povos, raças e nações à Apesar do progresso alcançado de todo o conhecimento, estando
violência e às guerras, como ocor- pela Humanidade, em pleno século sujeitas a desvios, como os fatos o
reu no passado e ainda acontece XXI subsistem tendências relativis- comprovam.
no presente. tas, utilitaristas e subjetivistas di- Daí o auxílio do Alto, que se ma-
Fundamentalismo tornou-se si- fundidas nas sociedades atuais, com nifestou em todas as épocas, atra-
nônimo de radicalismo. Suas con- pretensões de legitimidade social, vés de emissários e missionários
sequências são incompatíveis com cultural e religiosa. do Cristo, com o objetivo de escla-
os objetivos das religiões, que vi- O Espiritismo, a Terceira Reve- recer parcelas da Humanidade e
sam o progresso moral e intelec- lação nos tempos modernos, oriun- anular as influências inferiores.
tual do homem, na busca da felici- do da Espiritualidade superior, vem A vida em mundos de expiações
dade das criaturas de Deus. mostrar, aos homens que desper- e provas, como o nosso, apresenta
O fundamentalismo não ficou tam, a realidade da vida e sua con- as dificuldades naturais do cam-
adstrito a determinados movi- tinuidade infinita, procurando reti- po material, reclamando esforço
mentos religiosos denominados ficar tendências e erros provenien- de aprendizagem, trabalho e de-
cristãos. tes do passado milenar. dicação, na vasta lavoura terrena,

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além dos serviços necessários à a existência, consomem o equi- Doutrina Consoladora no “Cora-
aquisição dos valores espirituais líbrio, vacinando tanto quan- ção do Mundo”, vemos traçadas as
que representam o verdadeiro to se puder, as consciências com linhas gerais de um mundo confu-
progresso da alma. a fé raciocinada, apoiada nos so, atrasado e desesperançado.
São de Bittencourt Sampaio, o fatos, acendendo no semelhan- É nessa esfera de provas e expia-
lúcido Espírito, que militou nas te a luz da certeza na imortali- ções que os espíritas, pequena mi-
hostes da Federação Espírita Brasi- dade, à força da palavra e à noria da população global, são cha-
leira nos fins do século XIX, as ob- custa do exemplo. mados a atuar numa tarefa ingen-
servações seguintes: A tarefa é enorme, mas não im- te, difícil, mas não impossível.
possível. É a luta por um ideal superior
Nos dias correntes, epílogo de É necessário perseverança. (Gri- na difusão da Verdade para toda a
um ciclo planetário, vasculham- fo nosso.) Humanidade.
-se os umbrais da Espiritualida- Se o progresso é lei divina para
de inferior, reformando-se os Nessa síntese, formulada com todas as criaturas, o conhecimento
museus de sofrimentos purga- realismo e clareza por quem viveu de nós mesmos impõe-nos deveres
toriais, forjados através de mi- as experiências espiritistas em um diversos, inclusive o de auxiliar
lênios inumeráveis. período difícil para a afirmação da nossos semelhantes.
E no nosso mundo, o que nota-
mos?
Apesar do ingente esforço re-
novador dos arautos das letras
do Evangelho, mais da metade da
Irmão
população terrestre ainda nem Irmão é todo aquele que perdoa
ouviu falar de Jesus, o Sublime Setenta vezes sete a dor da ofensa,
Governador da Terra; esmaga- Para quem não há mal que o bem não vença,
dora maioria ainda nem sequer Pelas mãos da humildade atenta e boa.
pensou no intercâmbio entre os
dois mundos; grande parte da É aquele que de espinhos se coroa
Humanidade cultua doutrinas Por servir com Jesus sem recompensa,
clara e confessadamente mate- Que tormentos e lágrimas condensa,
rialistas. Por ajudar quem fere e amaldiçoa.
Por toda parte: delitos passio-
nais, rebeliões, suicídios, terro- Irmão é todo aquele que semeia
rismo, fanatismos, obsessão, lou- Consolação e paz na estrada alheia,
cura, guerras. Espalhando a bondade que ilumina;
Tal fato não deve, entretanto,
desanimar, mas deve constituir É aquele que na vida transitória
chamamento para mais dedica- Procura, sem descanso, a excelsa glória
ção ao trabalho perseverante. Da eterna luz na Redenção Divina.
Notadamente à minoria espíri-
ta cristã, pequena minoria num João de Deus
mundo de desesperançados, ca- Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio fraterno. Por diversos Espíritos. 6. ed. Rio
be a tarefa de ir prevenindo os de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 6.
erros seculares, que desfiguram

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Capa

Terrorismo de
natureza mediúnica
S
utilmente vai-se populari- tes e desgraças a todos aqueles Jamais se utiliza das tradições
zando uma forma lamen- que discrepassem dos seus pos- míticas greco-romanas, quais as
tável de revelação mediú- tulados, castrando a liberdade de das Parcas, sempre tecendo tra-
nica, valorizando as questões pensamento e submetendo ao gédias para os seres humanos, ou
perturbadoras que devem rece- tacão da ignorância e do primiti- de outras quaisquer remanescen-
ber tratamento especial, ao invés vismo cultural as mentes mais tes das religiões ortodoxas deca-
de divulgação popularesca de lúcidas e avançadas... dentes, algumas das quais hoje
caráter apocalíptico. O Espiritismo é ciência que in- estão reformuladas na apresenta-
Existe um atavismo no com- vestiga e somente considera aqui- ção, mantendo, porém, os mes-
portamento humano em torno lo que pode ser confirmado em mos conteúdos ameaçadores.
do Deus temor que Jesus desmis- laboratório, que tenha caráter de De maneira sistemática e con-
tificou, demonstrando que o Pai revelação universal, portanto, sem- tínua, vêm-se tornando comuns
é todo Amor, e que o Espiritismo pre livre para a aceitação ou não algumas pseudorrevelações alar-
confirma através das suas exce- por aqueles que buscam conhe- mantes, substituindo as figuras mi-
lentes propostas filosóficas e éti- cer-lhe os ensinamentos. Igual- tológicas de Satanás, do Diabo,
co-morais, o qual deve ser exa- mente é filosofia que esclarece do Inferno, do Purgatório, por
minado com imparcialidade. e jamais apavora, explicando, atra- Dragões, Organizações demonía-
Doutrina fundamentada em vés da Lei de Causa e Efeito, quem cas, regiões punitivas atemorizan-
fatos, estudada pela razão e lógi- somos, de onde viemos, para on- tes, em detrimento do amor e da
ca, não admite em suas formula- de vamos, porque sofremos, quais misericórdia de Deus que vigem
ções esclarecedoras quaisquer ti- são as razões das penas e das amar- em toda parte.
pos de superstições, que lhe tis- guras humanas... De igual ma- Certamente existem personifi-
nariam a limpidez dos conteúdos neira, a sua ética-moral é total- cações do Mal além das frontei-
relevantes, muito menos ameaças mente fundamentada nos ensi- ras físicas, que se comprazem em
que a imponham pelo temor, co- namentos de Jesus, conforme Ele afligir as criaturas descuidadas,
mo é habitual em outros segmen- os enunciou e os viveu, propor- assim como lugares de purifica-
tos religiosos. cionando a religiosidade que in- ção depois das fronteiras de cin-
Durante alguns milênios o tegra a criatura na ternura do seu za do corpo somático, todos, no
medo fez parte da divulgação do Criador, sendo de simples e fácil entanto, transitórios, como ensaios
Bem, impondo vinganças celes- formulação. para a aprendizagem do Bem e

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sua fixação nos painéis da mente às suas superstições. No passa- A simples mudança mental
e do comportamento. do, em pleno período medieval, para melhor proporciona ao in-
O Espiritismo ressuscita a espe- as crenças em torno dos fenô- divíduo a conquista do equilí-
rança e amplia os horizontes do menos mediúnicos revestiam-se brio perdido, facultando-lhe a
conhecimento exatamente para de místicas e de cerimônias ca- adoção de comportamentos sau-
facultar ao ser humano o enten- balísticas, propondo a liberta- dáveis que se encontram exara-
dimento a respeito da vida e de ção dos incautos e perversos das dos em O Evangelho segundo o
como comportar-se dignamente situações perniciosas em que Espiritismo, de Allan Kardec, ver-
ante as situações dolorosas. transitavam. dadeiro tratado de eficiente psi-
As suas revelações objetivam O Espiritismo, iluminando as coterapia ao alcance de todos
esclarecer as mentes, retirando a trevas que permanecem domi- que se interessem pela conquis-
névoa da ignorância que ainda nando incontáveis mentes, des- ta da saúde integral e da alegria
permanece impedindo o discer- vela o futuro que a todos aguar- de viver.
nimento de muitas pessoas em da, rico de bênçãos e de oportu- Após a façanha de haver ma-
torno dos objetivos essenciais da nidades de crescimento intelec- tado a morte, o conhecimento
existência carnal. to-moral, oferecendo os instru- do Espiritismo faculta a perfeita
Da mesma forma como não mentos hábeis para o êxito em integração da criatura com a so-
se deve enganar os candidatos todos os cometimentos. ciedade, vivendo de maneira har-
ao estudo espírita, a respeito das A sua psicologia é fértil de li- mônica em todo momento, onde
regiões celestes que os aguar- ções libertadoras dos conflitos quer que se encontre, liberada de
dam, desbordando em fantasias que remanescem das existências receios injustificáveis e sintoni-
infantis, não é correto derrapar passadas, de terapêuticas espe- zada com as bênçãos que de-
nas ameaças em torno de feti- ciais para o enfrentamento com fluem da misericórdia divina.
ches, magias e soluções miracu- os adversários espirituais que A mediunidade, desse modo, a
losas para os problemas huma- procedem do ontem perturba- serviço de Jesus, é veículo de luz,
nos, recorrendo-se ao animismo dor, de recursos simples e de fácil de seriedade, dignificando o seu
africanista, de diversos povos e aplicação. instrumento e enriquecendo de

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Capa

esperança e de felicidade todos ção correta em torno da sua legi- carregado de amedrontar, quan-
aqueles que se lhe acercam. timidade, que é a universalidade do o objetivo máximo da Dou-
Jamais a mediunidade séria es- do ensino, conforme estabeleceu trina é libertar os seus adeptos, a
tará a serviço dos Espíritos zom- o preclaro Codificador. fim de os tornar felizes.
beteiros, levianos, críticos contu- Desse modo, utilizando-se da ca-
mazes de tudo e de todos que não ridade como guia, da oração como Vianna de Carvalho
anuem com as suas informações instrumento de iluminação e do
vulgares, devendo tornar-se instru- conhecimento como recurso de li- (Página psicografada pelo médium Dival-
mento de conforto moral e de ins- bertação, os adeptos sinceros do do Pereira Franco, no dia 7 de dezembro
trução grave, trabalhando a cons- Espiritismo não se devem deixar de 2009, durante o período de realização
trução de mulheres e de homens influenciar pelo moderno terro- do XVII Congresso Espírita Nacional, em
sérios que se fascinem com o Es- rismo de natureza mediúnica, en- Calpe, Espanha.)
piritismo e tornem as suas exis-
tências úteis e enobrecidas.
Esses Espíritos burlões e pseu-
dossábios devem ser esclarecidos
Controle universal do
e orientados à mudança de com-
portamento, depois de demons-
ensino dos Espíritos
trado que não lhes obedecemos,
nem lhes aceitamos as sugestões
doentias, mentirosas e apavoran-
O Espiritismo não tem nacionalidade, não faz parte de nenhum
culto particular, nem é imposto por nenhuma classe social,
visto que qualquer pessoa pode receber instruções de seus paren-
tes e amigos de além-túmulo. Era preciso que fosse assim, para que
tes com as histórias infantis so- ele pudesse conclamar todos os homens à fraternidade. Se não se
bre as catástrofes que sempre exis- mantivesse em terreno neutro, teria alimentado as dissensões, em
tiram, com as informações sobre vez de apaziguá-las.
o fim do mundo, com as tramas Essa universalidade no ensino dos Espíritos faz a força do Espi-
intérminas a que se entregam pa- ritismo; aí reside também a causa de sua tão rápida propagação.
ra seduzir e conduzir os ingê- Enquanto a palavra de um só homem, mesmo com o concurso da
nuos que se lhes submetem imprensa, levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos,
eis que milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente em
facilmente...
todos os pontos da Terra, proclamando os mesmos princípios e
O conhecimento real do Espi- transmitindo-os aos mais ignorantes, como aos mais sábios, a fim
ritismo é o antídoto para essa on- de que ninguém seja deserdado. É uma vantagem de que não havia
da de revelações atemorizantes, gozado ainda nenhuma das doutrinas surgidas até hoje. Se o Espi-
que se espalha como um bafio ritismo, portanto, é uma verdade, não teme o malquerer dos ho-
pestilencial, tentando mesclar-se mens, nem as revoluções morais, nem as perturbações físicas do
aos paradigmas espíritas que de- globo, porque nada disso pode atingir os Espíritos.
Não é essa, porém, a única vantagem que resulta da sua excep-
monstraram desde o seu surgi-
cional posição. O Espiritismo nela encontra poderosa garantia
mento a legitimidade de que são contra os cismas que pudessem ser suscitados, quer pela ambição
portadores, confirmando o Con- de alguns, quer pelas contradições de certos Espíritos. Tais contra-
solador que Jesus prometeu aos dições, certamente, são um escolho, mas que traz consigo o remé-
seus discípulos e se materializou dio, ao lado do mal.
na incomparável Doutrina. Allan Kardec
Ante informações mediúnicas
Fonte: O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de
desastrosas ou sublimes, um mé- Janeiro: FEB, 2008. Introdução, item 2, p. 26-27.
todo eficaz existe para a avalia-

Março 2010 • Reformador 89 11


Entrevista F R A N C I S C O F E R R A Z B AT I S TA

A busca por laços


inquebrantáveis
Francisco Ferraz Batista, presidente da Federação Espírita do Paraná, comenta
o momento atual do Movimento Espírita e considera que a fraternidade e a
união dos espíritas brasileiros são indispensáveis para que os laços da
Unificação Espírita sejam inquebrantáveis

Reformador: Como está organiza- dos, em todo o Estado. A partir existência. Desse modo, julgamos
da a ação de unificação da FEP? deste ano, a Federação inaugurará que as ações da Federativa no
Francisco: A Ação de Unificação o Centro de Treinamento Lins de campo da Unificação, com a graça
da FEP se materializa através das Vasconcellos, em área recém-ad- de Deus e a ajuda dos bons Espíri-
ações próprias da Federativa no quirida, próxima a Curitiba, no tos, vai muito bem.
campo doutrinário, a exemplo de município de Balsa Nova, onde,
Encontros Estaduais de Jovens, Se- nas instalações existentes, já há Reformador: Há planejamento de
minários de Orientação aos Coor- possibilidade de acomodação de atividades para o ano de 2010?
denadores de Infância, de Juven- 180 pessoas, cujo número subirá Francisco: Sem dúvida! Aprova-
tudes Espíritas, de grupos de estu- para 500 pessoas, auditório, refei- mos na reunião do Conselho Fe-
do, de quatro seminários anuais tório, salas de apoio para estudos, derativo Estadual a Agenda Dou-
pelas 17 Uniões Regionais Espíri- local que se ofertará para encon- trinária para o ano de 2010, da qual
tas, das cinco Interregionais, que tros, seminários, estudos etc., ao constam os seminários: 29 do
mapeiam o Estado, com a reunião Movimento Espírita do Estado, DIJ, sete sobre a mediunidade, três
das UREs por região, aos mol- permitindo uma unificação mais sobre o Serviço Social Espírita, seis
des das Comissões Regionais do ampliada possível. Importante na área de Comunicação Social
CFN da FEB, e também através acrescentar que nesses dois últi- Espírita, 13 outros com diversas
das Conferências Estaduais Espíri- mos anos, em razão do investi- temáticas espíritas, totalizando 59
tas, anuais, e neste mês ocorrerá a mento no trabalho das UREs e dos seminários em 2010 em todo o Es-
XII Conferência Estadual, com a centros espíritas do Estado, os re- tado; além disso, cinco reuniões de
temática: “Vida – Desafios & Solu- sultados de uma unificação atuan- Interregionais no Estado, quatro
ções” e além disso através do apoio te se traduziram na filiação de 31 Encontros Estaduais: 3o Encontro
permanente aos Seminários Re- novos centros espíritas, o que Estadual de Coordenadores de Es-
gionais promovidos pelas UREs, e equivale a mais de 10% da totali- tudo (maio), 9o Encontro Estadual
aos meses espíritas e semanas es- dade dos centros espíritas filiados sobre Comunicação Social Espíri-
píritas dos centros espíritas filia- pela FEP nos seus 107 anos de ta (agosto), 3o Encontro Estadual

12 90 Reformador • Março 2010


de Evangelizadores Espíritas (ou- Francisco: Convivemos com as mais, quando puderem consti-
tubro), 1o Encontro Estadual da Comissões Regionais do CFN há tuir-se, efetivamente, nos braços
Área de Atendimento Espiritual oito anos, inicialmente como par- do CFN na sua região, reunindo-
(novembro), a XI Conferência Es- ticipante em nome da Federativa, -se mais vezes com as Federativas
tadual Espírita, no corrente mês, e, já por quatro anos aproxima- Regionais afetas, sendo convida-
havendo, ainda, participação da damente, na condição de secre- das por essas Federativas para
Federativa no 3o Congresso Espíri- tário da Comissão Regional Sul. as suas programações e reuniões
ta Brasileiro, em abril deste ano. Assim, vislumbramos que a partir dos seus Conselhos Federativos, a
dos últimos dois anos, tem havido fim de tratar de assuntos de inte-
Reformador: E relacionado com um crescimento considerável na resse comum do Movimento Es-
o “Projeto Centenário de Chico ação prática das mesmas, que é de pírita nacional, dada a amplitude
Xavier”? fazer com que o Movimento Espí- continental de nosso país.
Francisco: Registramos que o lan- rita nacional seja ouvido pelo CFN
çamento do Projeto na Região e que o CFN esteja mais próximo Reformador: Como avalia as ações
Sul, pela FEB, se deu na reunião do Movimento. As Comissões Re- do CFN, 60 anos após a assinatura do
da Comissão Regional Sul, no gionais, além disso, entre os seus Pacto Áureo?
mês de maio de 2009, em Curitiba, pares e representantes, têm pro- Francisco: Acompanho de perto
ocasião em que compareceu a im- curado se aprimorar quanto à sua o Movimento Espírita nacional a
prensa local, que fez registro do própria destinação e atuação, partir do ano de 1998. A impor-
lançamento, inclusive o jornal tanto que não há hoje uma uni-
diário de maior circulação no Es- formização procedimental dos
tado – A Gazeta do Povo. Além dis- trabalhos das Comissões Re-
so, criamos, a partir de janeiro pas- gionais, de modo que, aten-
sado, um e-mail específico, que é dendo às características regio-
enviado a todos os espíritas e não nais, cada Região tem busca-
espíritas cadastrados no Momento do o melhor modelo para os
Espírita, em Casa, via Internet, que seus debates, para a troca de
são mais de 35 mil, para os assi- experiências entre os dirigen-
nantes do jornal Mundo Espírita, tes em todos os níveis de atua-
e para os espíritas cadastrados em ção, inclusive sobre a temática
todas as Interregionais do Estado, que mais interesse ao progres-
cujo e-mail reproduz um dos car- so das instituições espíritas e o
tazes do Projeto, aquele em que Movimento Espírita no sentido
Chico Xavier está psicografando da União e da Unificação. Ante
e, ao lado, uma mensagem edifi- todas essas expectativas, há que se
cante, extraída de seus livros psi- registrar que as Comissões Re-
cografados. Incentivo a todas as gionais têm progredido, porém,
casas espíritas do Estado para a entendemos que elas po-
realização de palestras alusivas dem crescer ainda
à vida e obra psicográfica.

Reformador: As Comissões Regio-


nais do CFN da Região Sul têm
progredido?

Março 2010 • Reformador 91 13


tância do Pacto Áureo dispensa Há uma imensa invasão de
maiores comentários, tanto que livros que mostram um pla-
em 2009 a FEP lançou o livro Pac- no espiritual com invenções
to Áureo – A Vitória da Fraterni- até malucas, criações esta-
dade, em comemoração aos 60 pafúrdias, diálogos chulos.
anos do Pacto e da criação do A pretexto de indepen-
CFN. O Pacto Áureo veio na épo- dência e liberdade de im-
ca certa e necessária, fruto da inte- prensa e comunicação, há
ligência e luminar ação de Espíri- periódicos lamentáveis
tos de escol que por aqui passa- que, não satisfeitos com
ram. Hoje, decorridos 60 anos, os esse desarranjo todo, dei-
tempos são outros, o Movimento tam críticas contra os di-
Espírita nacional cresceu, as Fede- rigentes espíritas, de toda
rativas Estaduais a seu modo, bus- ordem, pregam a desu-
caram aprimorar-se, e a divulga- nião entre os espíritas;
ção do Espiritismo, apesar de to- há movimentos de revi-
do o avanço da mídia, tem sido o são da obra kardequia-
grande desafio dos tempos mo- na, pretendendo deter
dernos. Nesse passo, as ações do uma verdade nova; con-
CFN têm sido extremamente pro- tinua o movimento ra-
veitosas, instigadoras da necessi- cionalista científico a apartar a
dade de um melhor trabalho de ideia da religião, que confundem dades de serviço e autoburila-
divulgação, orientadoras à prática com organização religiosa, quan- mento que o Senhor da Vida colo-
espírita sadia nos centros espíri- do Emmanuel, através de nosso cou em nossas mãos. Somos de fa-
tas, e vejo que o CFN traz aper- venerando Chico Xavier, já tradu- to os trabalhadores da última ho-
feiçoamentos a serem empreendi- ziu a palavra religião, do latim re- ra, distinguidos em O Evangelho
dos na relação entre as Federa- ligare, como ato de ligar a criatura segundo o Espiritismo, e havere-
tivas e com as áreas da FEB, o que com o Criador; há hoje, a completa mos de nos aplicar quanto mais
ensejará ao Movimento Espírita ausência de Jesus em vários gru- possível para cumprir os compro-
nacional um salto de qualidade pos, divulgações, seminários e pa- missos que assumimos na pátria
nunca antes visto. lestras,“ditas espíritas”, como se fos- espiritual, dentre os quais, no mí-
se possível existir um Espiritismo nimo, o de modificarmos a nossa
Reformador: O que considera prio- sem Jesus, o que, queiramos ou contextura espiritual para melhor
ritário para o Movimento Espírita não, é impossível de existir. Desse e de divulgarmos aos quatro can-
atual? modo, prioritária será, sempre, a tos, de maneira firme e segura, a
Francisco: Considero como prio- divulgação do Consolador em ba- Boa Nova de Jesus, revivida nas
ritário o investimento na melhor ses imprescindivelmente doutri- páginas da Codificação Espírita.
divulgação doutrinária, o que sig- nárias e seguras. Gostaríamos, então, de deixar, ao
nifica cuidados com a divulgação leitor de Reformador, nossa men-
em bases doutrinárias seguras. O Reformador: Mensagem para o sagem final, fazendo um apelo pe-
Movimento Espírita atual tem leitor de Reformador. la fraternidade e união dos espíri-
sido alvo de uma avalancha de Francisco: Não devemos, sob hi- tas brasileiros, a fim de tornarmos
livros “ditos espíritas”, mas que de pótese alguma, sejam quais forem os laços da Unificação Espírita,
Espiritismo pouco ou nada têm. os apelos, dispensar as oportuni- inquebrantáveis.

14 92 Reformador • Março 2010


Presença de Chico Xavier

Mediunidade
sublimada
O
s séculos a se desdobrarem pelos milênios do século XX, em que se imortaliza como médium
que nos forjam as civilizações são degraus da responsável, poderosa e inspiradora referência para
excelsa escalada evolutiva, fazendo do bruto as sociedades em provações revisoras. Ao abrir a pró-
o anjo que reflete a Divindade, em identidade de pria alma em renúncia a toda manifestação de per-
beleza e sublimação que assinala o trabalho genial sonalismo, substitui a leitura das entranhas de ani-
do artista sobre o bloco rude de mármore. mais para os vaticínios e orientações aos guerreiros e
A história do progresso terreno representa a efetiva poderosos de antanho, consoante os hábitos de cul-
iniciação dos seres simples e ignorantes nas ciências do turas e reinos já mortos. Ofertando em humildade e
Infinito – clima de realização e felicidade no Cosmo. consciência cristã o seu coração, revela a Verdade que
Através de seu trabalho – seja ele de que natureza o Espiritismo sintetiza – também utilizando a me-
for – as individualidades se aprimoram, contribuin- diunidade de inúmeros cooperadores –, para que, na
do para o aperfeiçoamento da vida social em suas contramão de exterioridades e misticismos, todos os
infinitas escalas, reconhecidas no tempo. interessados pudessem sentir o Evangelho, em espíri-
Se a ciência ortodoxa, que formata o modelo exis- to e santificação.
tencial de bilhões de seres, é por si a descoberta de re- A proposta do tempo em sucessão é emoldurar os
cursos e sua consequente utilização, temos no plano fundamentos da vida que se constitui do amor. E é
da religião, nascida da fé que é uma força imanente da através do tempo que o Senhor da Misericórdia atin-
criatura, a contemplação do Divino, num primeiro ge os divinos planos da evolução e do progresso da-
momento em adoração externa para, em franco des- queles que lhe foram confiados por Deus.
dobramento pelo tempo, induzir os seres a se interio- A sublimação da mediunidade é fato nas linhas de
rizarem, em poderosa valorização de sua origem: Deus. trabalho libertador do Espiritismo e o doce Chico
E sempre será pela capacidade de intermediar a Xavier, isento de presunção, mas amante da disci-
vida – cada vez mais pujante e essencial – que os in- plina e do dever bem cumprido, merece, como esfor-
divíduos, na Terra, encarnados, ou nas faixas espiri- çado seguidor de Jesus, a coroa da Caridade, que é o
tuais do Além, lograrão sua emancipação moral, laurel dos triunfadores – de todos aqueles que, ven-
com o verdadeiro serviço do Amor e da Luz a se pa- cendo-se pela prática do Bem, repetem, com as pró-
tentear, definitivo. prias atitudes:
Os oráculos, desse modo, através das eras que se – Ave, Cristo! Os que te amam e desejam servir-te
foram, expressam não somente a conscientização para sempre, te glorificam e te saúdam!
progressiva das almas que tangem ao Reino da For-
ças Cósmicas, mas a irradiação de semelhante cons- Pelo Espírito Irmão X
ciência em favor das comunidades, despertando-as
ou propondo seu encaminhamento ao apogeu da vi- (Mensagem psicografada pelo médium Wagner Gomes da Paixão
da em Deus. no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais,
Francisco Cândido Xavier, em sua trajetória de durante evento de abertura das comemorações do Centenário
iluminação e sofrimento redentor, torna-se a partir de Chico Xavier, ocorrido no dia 1o de janeiro de 2010.)

Março 2010 • Reformador 93 15


O Espiritismo
e os espíritas
RICHARD SIMONETTI

A
tribui-se a Léon Denis, guns de seus princípios básicos Assim como o pensamento
o grande filósofo espírita, como Reencarnação, Mediunidade religioso tradicional foi forçado
a seguinte frase: e Lei de Causa e Efeito, que fatal- a renunciar à pretensão de que a
mente serão assimilados por elas. Terra seria o centro do Universo,
O Espiritismo não será a reli- Isso por uma razão muito ante os avanços da Física e da As-
gião do futuro, mas será o futuro simples, amigo leitor: não esta- tronomia, a ideia da unicidade
das religiões. mos diante de meros princípios. da existência humana será colo-
Exprimem leis divinas, que re- cada abaixo com o avanço das pes-
Diferenças culturais, sociais, es- gem nossa evolução. quisas sobre a reencarnação.
pirituais, evolutivas, geram con- Por isso, cedo ou tarde, todas
l
cepções diferentes, usos e costu- as religiões haverão de assimilá-
mes diversos. -los, com radicais transforma- O Espiritismo situa-se, assim,
Muita água rolará no rio do ções em sua estrutura teológica, numa vanguarda de esclareci-
tempo até que a Humanidade favorecendo um melhor enten- mentos em favor da Humanida-
atinja um grau de evolução que dimento quanto aos objetivos da de, e nós espíritas desfrutamos da
permita a unificação de prin- existência humana. abençoada possibilidade de andar
cípios religiosos para que te- Ainda veremos reuniões me- de olhos abertos pelos caminhos
nhamos na Terra um só reba- diúnicas nas igrejas tradicionais, humanos, com perfeito conheci-
nho e um só pastor, como previa a estabelecerem contato com o mento de onde viemos, por que
Jesus. mundo espiritual, alterando subs- estamos na Terra e para onde va-
Não obstante, quando Denis tancialmente as concepções me- mos, levando em conta o que diz
afirma que o Espiritismo será o fu- dievais sobre o inferno e as Allan Kardec em O Céu e o Infer-
turo das religiões, reporta-se a al- penas eternas. no, cap. II, item 10:

16 94 Reformador • Março 2010


A Doutrina Espírita transforma
completamente a perspectiva do
futuro. A vida futura deixa de ser
uma hipótese para ser realidade.
O Evangelho em casa
O estado das almas depois da morte
não é mais um sistema, porém o
resultado da observação. Ergueu-
O Evangelho aberto ao acaso e lido sobretudo nas horas difíceis
da caminhada terrena, é luz que irradia no mais íntimo de
nossos Espíritos. O Evangelho lido e explanado nos lares, em dia e
-se o véu; o mundo espiritual apa-
hora certos, semanalmente, ensejará a paz nos corações que ali se
rece-nos na plenitude de sua reali-
reunirem. Culto doméstico é remédio espiritual que cura e orienta,
dade prática; não foram os ho-
mens que o descobriram pelo es- alevantando-nos das derrocadas espirituais por que tenhamos pas-
forço de uma concepção engenho- sado ou que nos ameacem.
sa, são os próprios habitantes desse Formemos bom ambiente e inauguremos em nossos lares aque-
mundo que nos vêm descrever a le culto que tenha o poder de nos pôr em contato com Jesus, pela
sua situação [...]. ação da prece e dos mensageiros excelsos. Estudemos o Evangelho
e as demais obras de Allan Kardec, assimilando-os quanto puder-
Considere-se, entretanto, que mos. Leiamos as sublimes mensagens do Evangelho e as luminosas
não há privilégios na obra da páginas de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.
Criação, e Jesus ensinava que mui-
Oremos com o coração para que a paz faça morada em nossos
to será pedido àquele que muito
lares, sem esquecer ainda de rogar ao Pai pelos lares que se encon-
recebeu.
E o que a Doutrina espera de tram em aflição e, bem assim, pelos que se encontram esquecidos
nós é que não comprometamos de contatos com os planos espirituais. É quase impossível traduzir
sua expansão com um compor- a importância desse culto cristão. Mesmo as dificuldades dos lares
tamento inadequado, à distân- vizinhos são aliviadas pela influência que recebem.
cia de seus princípios regene- Façamos o culto com Jesus e ofereçamo-lo em amor ao nosso
radores, já que a melhor ma- próximo. Nunca esqueçamos que a prece proferida com sincerida-
neira de divulgar uma ideia é de é luz a irradiar de nossas almas e é arma abençoada que nos sus-
vivenciá-la. tenta contra as astúcias da treva.
Maus exemplos, marcados por
Culto doméstico é organização do amor, abrindo para Jesus as
desvios de comportamento e
portas do coração. Acendamos esse sublime nume em nossas casas
por práticas estranhas aos con-
ceitos doutrinários, sempre pas- e nos aqueçamos ao calor alentador das leituras sadias, sob os eflú-
sarão uma impressão negativa, vios da prece redentora.
já que, essencialmente, o Espiri- Cultuemos Jesus dentro de nós, em casa, e, desse modo, estare-
tismo será avaliado pelas pes- mos em estado de alerta contra os perigos a que possivelmente
soas a partir do que somos e do estaremos expostos sem o escudo da fé.
que fazemos. Vivamos com Jesus e Ele nos resguardará das quedas do caminho.
Nesse particular vale lembrar
outra expressão feliz de Léon Isabel
Denis: (Página recebida pela médium Dinorah Burgos, em 15/7/73, na reunião pública da
Federação Espírita Brasileira, em Brasílla, DF.)
O Espiritismo será o que os ho- Fonte: Reformador, ano 92, n. 1.746, p. 27(279), set. 1974.
mens dele fizerem.

Março 2010 • Reformador 95 17


A Natureza
e seus reinos
C H R I S T I A N O TO RC H I

E
nsinam os Espíritos que, -se com a geratriz, é a lei univer- vincula todos os seres, não significa,
do ponto de vista material, sal.2 (Grifo nosso.) porém, que podemos confundi-los,
a divisão da Natureza em como se fossem uma coisa só. É que
três reinos (mineral, vegetal e ani- Comentando a resposta dos ben- “duas coisas podem ter a mesma ori-
mal) é apropriada, mas, do ponto feitores do Espaço à questão 585 de gem e absolutamente não se asseme-
de vista moral, acrescentam um O Livro dos Espíritos, Kardec afirma lharem mais tarde”.3 A ordem, a gra-
quarto: o “reino hominal”, con- que esses quatro graus apresentam dação e a sabedoria divina consti-
firmando que tal classificação características bem distintas, muito tuem a pedra de toque do progresso,
nada tem de absoluta, pois a Na- embora pareçam confundir-se nos que ocorre de maneira harmoniosa
tureza, onde tudo é transição,1 seus limites: a matéria inerte, que e coordenada, com a assistência dos
conserva uma unidade invisível compõe o reino mineral, só tem em Espíritos superiores, sob o influxo
aos olhos humanos, pelo fato de si uma força mecânica. As plantas, divino: “[...] É assim que tudo serve,
que todas as coisas estão conecta- ainda que compostas de matéria tudo se encadeia na Natureza, desde
das em sua essência: inerte, são dotadas de vitalidade. o átomo primitivo até o arcanjo, que
Os animais, também compostos de também começou pelo átomo”.4
A Natureza jamais se encontra matéria inerte e igualmente dotados Os animais não são simples má-
em oposição a si mesma. Uma só de vitalidade, possuem, além disso, quinas, todavia, a liberdade de ação
é a divisa do brasão do Universo: uma espécie de inteligência instinti- de que desfrutam é limitada pelas
unidade-variedade. Remontando va, limitada, e a consciência de sua suas necessidades, não podendo
à escala dos mundos, encontra-se existência e de sua individualidade. ser equiparada à do homem. Sendo
unidade de harmonia e de criação, O homem – prossegue o Codifi- muito inferiores ao homem, não
ao mesmo tempo que uma varie- cador, na mesma questão –, tendo têm os mesmos deveres que ele, ra-
dade infinita no imenso jardim tudo o que há nas plantas e nos ani- zão pela qual a sua liberdade é res-
de estrelas. Percorrendo os de- mais, domina todas as outras classes trita aos atos da vida material.5 Por-
graus da vida, desde o último por uma inteligência especial, indefi- tanto, não têm vida moral e tam-
dos seres até Deus, patenteia-se a nida, que lhe dá a consciência do seu bém não estão sujeitos às expiações
grande lei de continuidade. Con- futuro, a percepção das coisas extra- derivadas da lei de causa e efeito,
siderando as forças em si mesmas, materiais e o conhecimento de Deus. como ocorre com os humanos,
pode-se formar com elas uma sé- O fato de admitirmos a interde-
3
rie, cuja resultante, confundindo- pendência e a unidade essencial que Idem. O livro dos espíritos. Trad. Evandro
Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2010. Q. 611.
1 2
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 4
Idem, ibidem. Q. 540.
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Ja- 52. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
5
neiro: FEB, 2010. Q. 589. 2008. Cap. 6, item 11. Idem, ibidem.

18 96 Reformador • Março 2010


pelo abuso do livre-arbí- É para esse ponto que
trio. Por isso, os benfeito- convergem as pesquisas
res dizem que os nossos da ciência biológica dos
irmãos inferiores progri- nossos tempos, sancio-
dem por “força das coi- nando a teoria evoluti-
sas” e não por ato da pró- va concebida pelo inglês
pria vontade.6 Charles Darwin (1809-
Os animais, tal qual os -1882), de que o homem
seres humanos, possuem, provém dos seres inferio-
em elaboração, um prin- res da criação e que “as vá-
cípio inteligente indepen- rias espécies de vida não
dente da matéria, que so- foram criadas já ‘prontas’,
brevive ao corpo físico. mas evoluíram no correr
Logo, têm uma espécie de das eras”,10 evidenciando
alma, embora inferior à o que o Espiritismo já re-
do homem. Em vista dis- velou há século e meio:
so, também possuem, ne- “nada se faz na Natureza
cessariamente, um laço semima- altura.Vemos o limite extremo do por brusca transição”.11 Sem em-
terial que os prende ao corpo físi- animal: não vemos o limite a que bargo das controvérsias que podem
co, denominado pelo Codificador, chegará o espírito do homem.8 surgir a respeito dessa questão,
no homem, “perispírito”.7 Vai daí, optamos pela abalizada opinião de
também estão sujeitos à lei bioló- É verossímil que os chamados Emmanuel, externada no livro que
gica da reencarnação. “elos perdidos” entre a espécie ani- leva o mesmo nome do autor espi-
Alerta o Codificador: mal e hominal se devem à trans- ritual, de “que todos nós já nos de-
formação, inacessível aos cientis- batemos no [...] acanhado círculo
Ainda que isso lhe fira o orgu- tas encarnados, que o princípio in- evolutivo” dos animais, visto que
lho, tem o homem que se resig- teligente sofre no mundo espiri- “são eles os nossos parentes próxi-
nar a não ver no seu corpo mate- tual, onde prossegue elaborando mos, apesar da teimosia de quantos
rial mais do que o último anel o seu veículo sutil (perispírito), persistem em o não reconhecer”.12
da animalidade na Terra [...]. correspondente ao grau evolutivo Quanto mais inferior é o Espíri-
Todavia [prossegue Kardec],quan- em que se encontra. Saliente-se to, tanto mais apertados são os la-
to mais o corpo diminui de valor que, “ainda na atualidade, os Ins- ços que o prendem à matéria. A al-
aos seus olhos, tanto mais cresce de trutores Espirituais intervêm na ma do animal e a do homem são de
importância o princípio espiritual. melhoria das formas evolutivas in-
feriores nas quais o princípio inteli- 10
Revista VEJA. São Paulo. Ed. Abril, Origens
E conclui: gente estagia”.9 da origem, ed. 1.640, ano 33, n. 11, p. 150,
março 2000; A Darwin o que é de Darwin...,
Se o primeiro o nivela ao bruto, o ed. 2.099, ano 42, n. 6, p. 82, fev. 2009.
8 11
segundo o eleva a incomensurável Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
Cap. 10, item 29. de Janeiro: FEB, 2010. Q. 609.
6
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 9 12
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
Evolução em dois mundos. Pelo Espírito Espírito Emmanuel. 27. ed. 1. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 602.
André Luiz. Ed. espec. 1. reimp. Rio de de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 17, item Os
7
Idem, ibidem. Q. 93. Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 18, p. 239. animais – nossos parentes próximos, p. 122.

Março 2010 • Reformador 97 19


o princípio espiritual, desde o obs-
curo momento da Criação, cami-
nha sem detença para a frente”.15
A Terra é um imenso laborató-
rio, palco da evolução dos seres,
onde a vida se desenvolve sob leis
perfeitas e imutáveis, que o homem
ainda não consegue desvendar ape-
nas por meio de suas precárias fa-
culdades racionais.
Esses elos da Criação, interliga-
dos misteriosamente, sob a super-
visão dos emissários divinos, for-
mam a grande teia que sustenta a
tal forma distintas que uma não a consciência do seu futuro, a distin- vida no Planeta, permitindo a in-
pode animar o corpo criado para o ção entre o bem e o mal, e a respon- tegração do ecossistema: “O mun-
outro. Por isso, os imortais, negan- sabilidade dos seus atos. Do ponto do envolve-se em grande unidade,
do a doutrina da metempsicose, de vista físico, o homem compõe os nenhum elemento está isolado,
ensinam que o Espírito não retro- elos da cadeia dos seres vivos, o que nem na extensão presente, nem
grada, sendo falsa a ideia de que há já não acontece no âmbito moral, na História”.16
a transmigração direta da alma do em que “há solução de continuida- Quanto mais os cientistas apro-
animal para o homem e vice-versa. de entre o homem e o animal”.14 fundam seus estudos, mais ficam
Apesar disso, o corpo do homem, Essa origem não deve humilhar surpresos ante a perfeição da Na-
que tem natureza animal, pode se o homem, pois todos nós, inclusive tureza, que é um livro aberto das
rebaixar ao nível dos animais, pois os grandes gênios, fomos um dia leis divinas que nos regem, pois
“o corpo é um ser dotado de vitali- fetos informes no ventre materno.
dade e que tem instintos, porém Os vestígios de nossa origem animal cada espécie de seres, do cristal
ininteligentes e limitados aos cuida- se apagam à medida que desenvol- até o homem, e do homem até
dos que a sua conservação exige”.13 vemos o livre-arbítrio. o anjo, abrange inumeráveis fa-
A inteligência do homem e dos O preconceito, o orgulho, o egoís- mílias de criaturas, operando em
animais emana de um único prin- mo e a ignorância continuam sendo determinada frequência do Uni-
cípio, contudo, no homem ela pas- os travões do progresso moral do verso. E o amor divino alcança-
sou por uma elaboração que o colo- homem, que o impedem de son- -nos a todos, à maneira do Sol que
ca acima da que existe nos animais. dar, nas leis gerais da Natureza, a abraça os sábios e os vermes.17
Nestes, o princípio inteligente sofre sublimidade da sabedoria do Cria-
uma transformação, individualizan- dor. Os cientistas encarnados ja-
15
do-se pouco a pouco, como num mais decifrarão o enigma da imor- XAVIER, Francisco C. No mundo maior.
ensaio para a vida, até se tornar Es- talidade e da evolução, enquanto Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. 2. reimp.
Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 4, p. 68.
pírito, a partir de quando se inicia o não tiverem humildade de investi- 16
FLAMMARION, Camille. Deus na natu-
período de humanização e, com ele, gar aquilo que transcende sua capa-
reza. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. To-
cidade sensorial, considerando “que mo II, cap. 1, p. 86.
13 17
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo
14
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio Idem ibidem. Comentário de Kardec à Espírito André Luiz. 31. ed. 2. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 605a. q. 613. de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 1, p. 19.

20 98 Reformador • Março 2010


Esf lorando o Evangelho
Pelo Espírito Emmanuel

Guardemos
lealdade
“Além disso, requer-se nos despenseiros
que cada um se ache fiel.”
– PAULO. (I CORÍNTIOS, 4:2.)

V
ivamos cada dia fazendo o melhor ao nosso alcance.
Se administras, sê justo na distribuição do trabalho.
Se legislas, sê fiel ao bem de todos.
Se espalhas os dons da fé, não te descuides das almas que te rodeiam.
Se ensinas, sê claro na lição.
Se te devotas à arte, não corrompas a inspiração divina.
Se curas, não menosprezes o doente.
Se constróis, atende à segurança.
Se aras o solo, faze-o com alegria.
Se cooperas na limpeza pública, abraça na higiene o teu sacerdócio.
Se edificaste um lar, sublima-o para as bênçãos de amor e luz, ainda mesmo que
isso te custe aflição e sacrifício.
Não te inquietes por mudanças inesperadas, nem te impressione a vitória apa-
rente daqueles que cuidam de múltiplos interesses, com exceção dos que lhes dizem
respeito.
Recorda o Olhar Vigilante da Divina Providência que nos observa todos os passos.
Lembra-te de que vives, onde te encontras, por iniciativa do Poder Maior que nos
supervisiona os destinos e guardemos lealdade às obrigações que nos cercam.
E, agindo incessantemente na extensão do bem no campo de luta que a vida nos
confia, esperemos por novas decisões da Lei a nosso respeito, porque a própria Lei
nos elevará de plano e nos sublimará as atividades no momento oportuno.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 115.

Março 2010 • Reformador 99 21


Necessidade de meditação
“Habitua-te à meditação, após as fadigas.”
Joanna de Ângelis

MÁRIO FRIGÉRI

Uma existência tranquila e sadia Respiração tranquila é o ideal


Exige o hábito da meditação: Para o exercício da meditação,
Por meio dessa interiorização Eliminando os pontos de tensão
O homem se conhece e autoavalia. No espaço físico e também mental.

Meditar é reunir, na intimidade, Manter-se quieto, em concentrar profundo,


Os muitos fragmentos da emoção Fixando a mente em algo superior,
Num todo harmonioso, com a expulsão Como a felicidade, ou o amor,
De fobias, conflitos e ansiedade. Acima dos limites deste mundo.

Liberam-se, destarte, em tal processo, Há identificação, assim, tecida


Os sentimentos que prendem o indivíduo, De luz, entre a criatura e o Pai Criador,
Impossibilitando-lhe o assíduo E se descobre o sentido e o valor
Anseio genuíno de progresso. De quem se é, e do porquê da vida.

As compressões e excitações da vida, Não é momento de interrogações,


Bem como as rebeldias interiores, O da meditação; é de silêncio.
Geram conflitos, amarguras, dores, O Ser supera o nosso mundo e vence-o,
Que enfermam o Ser, nessa agitada lida. Se harmonizando em novas dimensões.

Só a meditação é que lhe enseja Nesse processo a Alma se conduz


A terapia de refazimento, Mais pelo coração e sentimento:
Reconduzindo-o, à luz do sentimento, Assim se anula a ação do pensamento,
Aos bons valores que sua alma almeja. Para sentir, viver, tornar-se luz.

Para alcançar esse estado de paz, Reserva, pois, após teu árduo dia,
Desnecessária é a alienação Alguns minutos à meditação;
Da sociedade; nem a imposição Ora em seguida a Deus, com devoção,
De novos hábitos mister se faz. Agradecendo a bênção que te envia.

São necessárias só, sem misticismo,


Singelas instruções para, com calma,
Reoxigenar as células da alma, Fonte de consulta: FRANCO, Divaldo P. “Necessidade da medi-
Vitalizando a fé e o otimismo. tação”. In: Reformador, ano 104, n. 1.891, p. 16(300), out. 1986.

22 100 Reformador • Março 2010


Enfermidades:
lições valiosas para
os que as adquirem
Ouvindo isso, seus discípulos, muito espantados, perguntaram: Quem pode então
ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse: Impossível é isto para os homens,
mas para Deus tudo é possível. (Mateus, 19:25-26.)

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO

O
diálogo destacado acima, pazes de impor ao veículo orgâ- Todos os nossos pensamentos
entre Jesus e seus seguido- nico efeitos doentios indefiníveis, definidos por vibrações, pala-
res, também registrado por que lhe propiciariam a derrocada vras ou atos, arrojam de nós
Marcos (10:26-27) e Lucas (18:26- ou a morte? raios específicos.
-27), enaltece a essência da mise- Dr. Francisco de Menezes Dias Assim sendo, é indispensável
ricórdia divina ao dizer que para da Cruz (1853-1937), distinto mé- curar de nossas próprias atitu-
Deus tudo é possível; confere-nos a dico e denodado batalhador do des, na autodefesa e no amparo
certeza de que todos os recursos Espiritismo, em estudos espiri- aos semelhantes, porquanto a
indispensáveis, para nossa edifi- tuais sobre o assunto, elucida: cólera e a irritação, a levianda-
cação espiritual, serão oferecidos de e a maledicência, a crueldade
por Ele, facultando-nos condições e a calúnia, a irreflexão e a bru-
para vencermos todos os óbices talidade, a tristeza e o desâni-
que precisamos superar em nossa
marcha evolutiva na Terra. A pas-
sagem evangélica nos traz infinitas
esperanças e convida-nos a medi-
tar sobre o tema.
As doenças físicas são contin-
gência natural da maioria dos se-
res reencarnados em processo de
aprendizado no orbe terreno.
Decorreriam elas dos reflexos das
mentes que se desajustam? Esses
transtornos da mente seriam ca-

Março 2010 • Reformador 101 23


mo, produzem elevada percen- a difícil realidade que nos aguar- mentos sem nos lamentar e lutar
tagem de agentes [...], de natu- da, sobretudo nos processos de para suplantar as dificuldades que
reza destrutiva, em nós e em tratamento indispensáveis para surgem dos graves problemas de
torno de nós [...], suscetíveis de eliminar os seus efeitos e sinto- saúde, que não nos sejam possí-
fixar-nos, por tempo indeter- mas. Não temos suficiente sere- veis evitar. Algumas vezes, podem
minado, em deploráveis labi- nidade para analisar a própria si- ser provas buscadas pelo Espírito
rintos da desarmonia mental. tuação e, segundo as leis que nos com o intuito de ativar o seu
Em muitas ocasiões, nossa con- regem, para vivenciar provas e so- progresso espiritual, suportan-
duta pode ser a nossa enfermi- frimentos apropriados às nossas do, sem esmorecer, os reveses da
dade, tanto quanto o nosso necessidades de melhoria espiri- vida material.
comportamento pode repre- tual. O filósofo espírita León Denis Hermínio C. Miranda (2008),
sentar a nossa restauração e a (1846-1927), defensor ardoroso em seus estudos espíritas, cen-
nossa cura.1 na luta em proveito da causa do trado, sobretudo, na análise das
Espiritismo, identifica na dor curas promovidas pela homeo-
Igualmente, o Espírito Emma- “uma lei de equilíbrio e educa- patia, desenvolve interessante
nuel, em análise sobre o proble- ção”.5 Diz ele: tese sobre a importância da dor,
ma, observa que “ninguém pode- tanto nos males físicos como nos
rá dizer que toda enfermidade, a [...] Sem dúvida, as falhas do espirituais, e considera que “as
rigor, esteja vinculada aos proces- passado recaem sobre nós com mais esclarecidas correntes da me-
sos de elaboração da vida mental”, todo o seu peso e determinam dicina moderna admitem hoje a
mas garante “que os processos de as condições de nosso destino. origem psicossomática de inúme-
elaboração da vida mental guar- O sofrimento não é, muitas ve- ras doenças”.6 É pertinente res-
dam positiva influenciação sobre zes, mais do que a repercussão saltar algumas de suas anotações
todas as doenças”,2 e reconhece das violações da ordem eterna sobre o assunto:
que os descontroles psíquicos cometidas, mas sendo partilha
geram “zonas mórbidas de natu- de todos, deve ser considerado Assim como a doença orgâni-
reza particular no cosmo orgâni- como necessidade de ordem ge- ca resulta de abusos que geram
co, impondo às células a distonia ral, como agente de desenvolvi- desarmonias ou desafinamen-
pela qual se anulam quase todos mento, condições do progresso. tos no sistema biológico, assim
os recursos de defesa, abrindo-se Todos os seres têm de, por sua também as dissonâncias e de-
leira fértil à cultura de micróbios vez, passar por ele. Sua ação é sarmonias espirituais criam
patogênicos nos órgãos menos benfazeja para quem sabe com- doenças mentais e emocionais
habilitados à resistência”.3 Donde preendê-lo, mas somente po- gravíssimas resultantes de abu-
se conclui que os pensamentos re- dem compreendê-lo aqueles sos de natureza ética. [...]
sidem na base de todas as nossas que lhe sentiram os poderosos No caso das mazelas espiri-
ações. Os médicos, a partir dos efeitos. [...]5 tuais, o “tratamento”, às vezes
avanços científicos obtidos, no um tanto rude, mas sempre justo,
decorrer dos séculos, associaram As provas desenvolvem a inte- que as leis divinas nos pres-
certas doenças, a exemplo do cân- ligência e nos ensinam a exercitar crevem, consiste em nos fazer
cer, às causas psíquicas.4 a paciência e a resignação. Ao con- experimentar dores, angústias,
Ao nos depararmos com o sur- siderarmos as enfermidades como aflições e carências que impu-
gimento da doença, somos toma- formas de retificação dos compor- semos ao semelhante. Somen-
dos por sentimentos de incertezas tamentos desequilibrados, deve- te assim estaremos em con-
e dúvidas, não querendo aceitar mos, portanto, aceitar os sofri- dições de avaliar com lucidez

24 102 Reformador • Março 2010


a extensão e pro-
fundidade do so-
frimento que
causamos ao nos-
so irmão, ou se-
ja, sentindo-o na
“própria pele”.
[...]7

O autor, contudo,
admite que os me-
canismos das leis
espirituais não exi-
gem o sofrimento a
qualquer preço, tor-
nando-se inclemen-
tes e inflexíveis. Ao
contrário, a comise-
ração divina haverá
de favorecer-nos em todas as oca- ao desânimo, apegados, erronea- possível para aquele que crê na
siões, concedendo-nos meios de so- mente, a um determinismo irre- sua infinita compaixão!
brepujar infortúnios e angústias. mediável, não aceitando as solu-
A carne não prevalece sobre o ções da medicina que nos propor-
Espírito, a quem cabe a responsa- cionariam alívio e bem-estar. Fa- Referências:
1
bilidade moral de todos os atos. çamos fervorosas preces suplican- XAVIER, Francisco C. Instruções psicofôni-
Os abusos são decorrentes das do a assistência dos benfeitores es- cas. Por diversos Espíritos. 9. ed. 3. reimp.
tendências nocivas que passamos pirituais para que se tornem con- Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 19, p. 98-99.
2
a cultivar ao longo de nossas in- selheiros e mestres dos esculápios ______. Pensamento e vida. 18. ed. 1.
termináveis reencarnações, tran- terrenos, permitindo-lhes as con- reimp. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Ja-
sigindo com os vícios e excessos dições necessárias para bem inter- neiro: FEB, 2009. Cap. 28.
3
de toda ordem, em prejuízo do pretar as intuições que advenham Idem, ibidem. Cap. 15, p. 65-66.
4
veículo físico. Não devemos, pois, do Plano Maior, estando aptos, SERVAN-SCHREIBER, Davi. Anticâncer:
maldizer as doenças do corpo; elas conforme o conhecimento cientí- prevenir e vencer usando nossas defesas
servem para sarar as nossas almas, fico que conquistaram, para agi- naturais. Trad. Rejane Janowitzer. Rio de
de modo a não reincidirmos nos rem com competência no trata- Janeiro: Objetiva, 2008. p. 164.
5
mesmos erros cometidos. mento das doenças que adquiri- DENIS, Léon. O problema do ser, do des-
Além disso, é possível buscar mos e, dessa maneira, diminuir tino e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro:
todos os recursos ao nosso alcan- ou extinguir os padecimentos que FEB, 2009. P. 3, As potências da alma,
ce para o equilíbrio orgânico, sem ainda não conseguimos afastar. item 27, p. 520.
6
prescindir dos médicos e demais É preciso desenvolver o nosso MARCUS, João (pseudônimo de Hermínio
equipes da área de saúde, subme- esforço, tendo como recurso de êxi- C. Miranda). Candeias na noite escura. 4.
tendo-nos às orientações clínicas, to, em benefício da cura, o exer- ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
cirúrgicas ou terapêuticas. O im- cício equilibrado do livre-arbí- Cap. 39, p. 202.
7
portante é não nos entregarmos trio. Deus zela por nós; e tudo é ______. ______. p. 202-203.

Março 2010 • Reformador 103 25


Em dia com o Espiritismo

Processo
racial
M A RTA A N T U N E S M O U R A

P
or definição, preconceito é desvantagens, preferências, cren- Afirmou Nicola Abbagnano:
qualquer ideia, opinião ou ças e singularidades.1
sentimento concebido sem Não existe nenhuma raça “aria-
exame crítico, sem conhecimento O preconceito racial ou racis- na” ou “nórdica”, assim como
abalizado, ponderado ou racional. mo é direcionado contra pessoas não há qualquer prova de que
Expressa sentimento hostil e este- pertencentes a uma raça ou etnia a raça ou as diferenças raciais
reotipado, que abre portas à intole- diferente, geralmente considerada exerçam algum tipo de influên-
rância, à discriminação e à violên- inferior. O racismo é uma doutri- cia nas manifestações culturais
cia. Os preconceitos mais comuns na “segundo a qual todas as mani- ou nas possibilidades de desen-
são o racial, o social e o sexual, festações histórico-sociais do ho- volvimento da cultura em ge-
mas há outros: de classe social, de mem e os seus valores (ou desva- ral. Tampouco existem provas
religião, contra portadores de defi- lores) dependem da raça; também de que os grupos em que pode
ciência física ou mental, estrangei- segundo essa doutrina existe uma ser dividido o gênero huma-
ros, analfabetos etc. Dessa forma, os raça superior (‘ariana’ ou ‘nórdi- no diferem em sua capacida-
ca’) que se destina a dirigir o gê- de inata de desenvolvimen-
preconceitos revelam a faceta nero humano”.2 to intelectual ou emocional. Ao
pouco harmoniosa de nossa so- Trata-se, na verdade, de um contrário, os estudos históri-
ciedade. Estão sedimentados grande equívoco, sem base cientí- cos e sociológicos tendem a
em nosso cotidiano não só as fica e moral, gerado pela falsa in- fortalecer a ideia de que as di-
marcas de uma desigualdade terpretação de que na espécie hu- ferenças genéticas são fatores
estrutural, mas também as for- mana há indivíduos portadores insignificantes na determina-
mas de desvalorização social de características genéticas espe- ção de diferenças sociais e cul-
que são recriadas a cada dia to- ciais – como traços de caráter e de turais entre grupos humanos
da vez que se tenta legitimar a inteligência – que lhes permitem diferentes.3
preterição de pessoas, grupos manifestações culturais superio-
ou estratos sociais com a des- res, mas que estariam ausentes em O racismo revela atraso moral,
qualificação de suas diferenças, outras etnias. posição diametralmente oposta às

26 104 Reformador • Março 2010


manifestações de amor ao próxi- América, durante o período co- Nouvelle division de la terre par
mo. É declarada violação dos di- lonial. Tais povos foram, a partir les différentes espèces ou races qui
reitos humanos, comumente uti- desse momento, considerados in- l’habitent (Nova divisão da Terra
lizada para justificar perseguições, feriores aos brancos, principal- pelas diferentes espécies ou raças
marginalizações, atrocidades, es- mente por possuirem pigmenta- que a habitam), publicada em
cravidão e o domínio de alguns ção epidérmica diferente.5 1684. A classificação foi anuncia-
povos sobre outros. Importa considerar, porém, da em Paris, num artigo do Jour-
Estudos sociológicos indicam que na Antiguidade não havia a nal des Savants, em 24/4/1684.
que o preconceito de cor ou de conotação de racismo relaciona- Nele, Bernier informa a existên-
raça é antigo, estando relaciona- do à cor da pele: as relações se de- cia de quatro ou cinco raças hu-
do, no Ocidente, ao significado finiam de acordo com o binômio manas, definidas de acordo com
das cores fornecido pela mitolo- vencedor-cativo, pois os povos de os traços fisionômicos: cor da pe-
gia dos povos europeus e pela mesma matriz racial guerreavam le (branca e preta); estatura, con-
teologia católica: “o negro signi- entre si. Na Idade Média, desen- formação do crânio e rosto; ta-
ficava a derrota, a morte, o peca- volveu-se o sentimento xenofóbi- manho e forma do nariz (grande
do, enquanto o branco significa- co de origem religiosa. Xenofobia e pequeno, achatado e alonga-
va o sucesso, a pureza e a sabedo- indica desconfiança, antipatia ou do); espessura dos lábios (fina,
ria”,4 informa o sociólogo e escri- temor por pessoas estranhas ou es- larga); tipo do cabelo (liso, cres-
tor brasileiro António Sérgio trangeiras ao meio daquele que as po) etc.
Guimarães, que também defende ajuiza. Estudos biológicos e genéticos
a tese de que, estando esse sim- Antes do século XVII, a Hu- desenvolvidos nos séculos subse-
bolismo profundamente enraiza- manidade não era subdividida quentes demonstram, claramen-
do na mentalidade europeia, fez em raças. Trata-se de uma divisão te, que não existem raças, mas
surgir um sentimento negativo proposta pelo francês François apenas uma única raça, a huma-
contra a cor da pele dos nativos Bernier (1625-1688), médico, an- na. Elucida, então, a Ciência que
da África e dos indígenas da tropólogo e viajante, na sua obra as diferentes características físicas

Março 2010 • Reformador 105 27


visíveis nos grupos humanos de- nações gênicas que caracterizam a Este é o primeiro e grande man-
correm das composições, misci- evolução da humanidade terrestre; damento. E o segundo, seme-
genações e recombinações genéti- indica que há apenas uma espécie lhante a este, é: Amarás o teu
cas, obviamente mais evidentes planetária, o Homo sapiens, inde- próximo como a ti mesmo. (Ma-
nos grupos que vivem isolados, pendentemente dos traços fisionô- teus, 22: 37-39.)
que não se misturam. Acrescenta micos dos diferentes habitantes da
que as chamadas raças provêm de Terra, e, sobretudo, não traz qual- Emmanuel, por sua vez, nos
um só tronco, o do Homo sapiens, quer sentimento segregacionista orienta a respeito da chamada po-
fato que, só por si, indica que é ou preconceituoso. Em O Livro dos lítica do racismo, lamentavelmen-
comum o patrimônio hereditário Espíritos consta, a propósito, o ca- te ainda presente na sociedade
dos humanos. ráter distintivo de cada povo: moderna:
Não há, pois, raças superiores
nem inferiores, tal como esclarece Os Espíritos também possuem – Se é justo observarmos nas
o conhecido geneticista e evolu- famílias, formando-as pela seme- pátrias o agrupamento de múl-
cionista italiano Guido Barbujani lhança de suas inclinações mais tiplas coletividades, pelos la-
(1955-), uma das mais respeitá- ou menos depuradas, conforme a ços afins da educação e do
veis autoridades mundiais no cam- elevação que tenham alcançado. sentimento, a política do racis-
po da genética, em seu livro A in- Pois bem! um povo é uma grande mo deve ser encarada como
venção das raças, São Paulo, Edi- família onde se reúnem Espíritos erro grave, que pretexto algum
tora Contexto: simpáticos. A tendência que têm justifica, porquanto não pode
os membros dessas famílias, para apresentar base séria nas suas
A palavra raça não identifica ne- se unirem, é a origem da seme- alegações, que mal encobrem
nhuma realidade biológica re- lhança que existe no caráter dis- o propósito nefasto de tirania e
conhecível no DNA de nossa tintivo de cada povo. [...]7 separatividade.8
espécie, e que portanto não há
nada de inevitável ou genético As sucessivas reencarnações Referências:
1
nas identidades étnicas e cultu- favorecem as miscigenações ge- GUIMARÃES, António Sérgio A. Precon-
rais, tais como as conhecemos néticas e culturais, anulando qual- ceito racial: modos, temas e tempos. São
hoje em dia. [...]6 quer ideia de superioridade espi- Paulo: Cortez, 2008. Contracapa.
2
ritual, principalmente a que se ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filo-
O racismo não apresenta, por- fundamenta na aparência ou na sofia. Trad. Alfredo Bosi. 4. ed. São Pau-
tanto, base científica. Por este moti- cor da pele. A evolução, mecanis- lo: Martins Fontes, 2000. Racismo. p. 822.
3
vo, em 1951, ocorreu na UNESCO, mo fundamental da reencarna- ______. ______. p. 823.
4
em Paris, a Declaração sobre Raça ção, demonstra que o ser huma- GUIMARÃES, António Sérgio A. Precon-
e Preconceito Racial proferida por no se revela verdadeiramente su- ceito racial: modos, temas e tempos. São
cinco geneticistas e seis antropólo- perior quando aprende a colocar Paulo: Cortez, 2008. Cap. 1, p. 12.
5
gos, de diferentes países. Esta Decla- em prática este admirável ensi- ______. ______. p. 17-19.
6
ração está resumida nas ideias de- namento de Jesus, denominado Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
senvolvidas acima. Mandamento Maior: wiki/Racismo>.
7
Não há dúvida que a terminolo- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
gia “povo” (ou povos), utilizada na Amarás o Senhor, teu Deus, de Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
Codificação Espírita, é mais ade- todo o teu coração, e de toda a de Janeiro: FEB, 2010. Q. 215.
8
quada do que a de raça: faz refe- tua alma, e de todo o teu pensa- XAVIER, Francisco C. O consolador. 28. ed.
rência às combinações e recombi- mento. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Q. 61.

28 106 Reformador • Março 2010


Onde Deus está? C A R LO S A B R A N C H E S

T
ive de ler duas vezes para Surgiu-me imediatamente uma amor, que torna os seres iguais,
acreditar na notícia que re- pergunta: se o criminoso bateu sem privilégios e responsáveis por
produzo aqui, para nossa à porta de sua convicção religiosa e seus próprios atos.
reflexão em conjunto. lá não encontrou quem esperava, O que nos é possível conjectu-
No início de 2008, uma ação por onde Deus andava? rar é que o homem, com culpas
legal contra Deus foi arquivada na Seria lá mesmo que o rapaz te- guardadas na consciência, não está
Romênia, porque os promotores ria de procurar? E se o destinatá- muito interessado em saber dis-
não conseguiram encontrar o rio não foi localizado, será que ele so, porque, se tomar consciência
endereço do acusado, desistindo não poderia ao menos supor que de que Deus está mais dentro de-
do caso. Deus, como pode ser achado em le do que imagina, vai ter de as-
Pavel Mircea, que cumpre sen- todo lugar, não poderia estar mais sumir as responsabilidades ine-
tença de 20 anos de prisão por as- perto do que pudesse imaginar? rentes a esse saber.
sassinato na cidade de Timisoara, Um caso assim leva-nos a refle- Quando souber que Deus é
havia iniciado um processo con- tir sobre a qualidade da vida mental “inteligência suprema, causa pri-
tra o próprio Deus. do ser humano. O que esse rapaz meira de todas as coisas”, ele po-
“Deus e eu fechamos um con- viveu revela o resultado de quem derá descobrir-se como criatura
trato quando fui batizado e a par- tem poucos caminhos alternati- diante do Criador, o que o desa-
te que lhe cabia no acordo não foi vos para se encontrar com as for- fiará a assumir seu lugar como co-
cumprida”, diz o texto do proces- ças que desconhece possuir. laborador da Divindade na me-
so, segundo o site Ananova. “Deus Na perspectiva espírita da ques- lhoria das condições de vida para
deveria ter me protegido do mal tão, Deus não mora dentro de um todos, e isso exigirá uma mudan-
em vez de dar-me a Satã, que me templo de pedra, nem vende prote- ça completa de interesses e metas.
encorajou a matar”. ção a ninguém por causa de uma Assim como a esse moço, con-
Mircea ainda pediu compensa- vela acesa ou uma indulgência pa- vém a nós saber que Deus pode nos
ção financeira por todo o dinheiro ga. Ele está lá como está aqui, no ar, encontrar por aí, fazendo o oposto
que gastou em velas e serviços ri- no rio, na floresta e na gota d’água, disso tudo, dispostos a nos oferecer
tualísticos, que também não o aju- sem precisar de qualquer tipo de como instrumentos de sua paz, on-
daram. Mas os promotores deci- gorjeta para fazer o seu trabalho. de devemos estar, para levar a sua
diram largar o caso depois de dois O rapaz nem precisaria ter ido proposta de afeto incondicional por
anos. “Não conseguimos encontrar muito longe. Segundo poderia ter todos, como tentamos realizar, na
o endereço de Deus. Ele não tem descoberto por suas próprias bus- condição de espíritas conscientes.
casa”, disse um porta-voz. cas, Deus mora nele, em sua cons- E você? já se empenhou o sufi-
ciência, onde estão fincados seus ciente para saber qual é o endere-
l
vínculos essenciais com a lei de ço de Deus?

Março 2010 • Reformador 107 29


A FEB e o Esperanto

Chopin, Espiritismo, Esperanto...


A F F O N S O S OA R E S

O
ano em curso assinala a passagem do bicen- Kardec se dirige a Mozart:
tenário de nascimento de um dos maiores
gênios da Música que a Terra tem conhecido. “11. Desejamos interrogar Chopin. Será possível?
É em 1o de março de 18101 que regressa ao mundo, Resp. – Sim; ele é mais triste e mais sombrio do que eu”.
na pequena cidade polonesa de Zelazowa Wola, para (Op. cit., p. 188, Ed. FEB.)
uma fecunda missão no campo das Artes, Frederico
Chopin (Fryderyk Franciszek Szopen), cuja copiosa Yvonne revela sobre ele:
produção, em forma de canções, mazurcas, valsas, no-
turnos, scherzos, baladas, estudos, sonatas e concertos, Mostra-se afetuoso e discreto, pouco expansivo e,
tem encantado, até hoje, os corações sensíveis ao Belo. geralmente, entristecido. Uma única vez vimo-lo sor-
Nosso objetivo, ao evocar data tão significativa, é rir. Esta última qualidade, a melancolia, parece ser
relembrar ao leitor a existência de um contexto liga- predisposição natural do seu caráter e não motivada
do ao Espiritismo e ao esperanto, em que se insere a en- por provações ou recordações de vidas passadas. No
cantadora personalidade do genial compositor. Para isso entanto, já o vimos chorar copiosamente, recordando
vamos respigar em quatro importantes fontes de nossa sua última existência terrestre. (Op. cit., p. 77, Ed. FEB.)
literatura espírita: a Revista Espírita, de Allan Kardec, e
as obras Grandes Vultos da Humanidade e o Espiritismo, Chopin, como a maior parte dos grandes compo-
de Sylvio Brito Soares, Devassando o Invisível, de sitores, também era fecundado, em sua criação artís-
Yvonne A. Pereira, sob a orientação de seus Espíri- tica, por inspirações que certamente provinham de
tos-guias, e A Psicografia ante os Tribunais, de Miguel altas regiões espirituais, funcionando então como
Timponi, além da enciclopédia virtual Wikipédia. um verdadeiro médium. Na citada obra de Sylvio
Começamos por confrontar duas informações de Brito Soares, no capítulo “Frederico Francisco Cho-
origem mediúnica: uma proveniente de outro gênio pin”, colhemos este sugestivo trecho:
da Música, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791),
a respeito de Chopin, durante a manifestação de Chopin foi indiscutivelmente um médium de muita
ambos, então evocados por Allan Kardec, como se lê sensibilidade, haja vista o fato de ele permanecer
na Revista Espírita de maio de 1859, sob o título muitas vezes diante do piano, com o olhar perdido
“Música de Além-Túmulo”; e a outra vazada em im- no infinito, extremamente pálido, e, quando alguma
pressão colhida por Yvonne A. Pereira, durante os seus pessoa amiga o surpreendia nessas ocasiões, ele, só
colóquios com o gênio polonês, constante do capítu- depois de alguns instantes, conseguia reconhecê-la.
lo “Frederico Chopin, na Espiritualidade”. Durante e após essas crises de exaltação nervosa, na
opinião da época, pois que tais crises nada mais eram
1
do que simples êxtases, é que ele compunha suas
Esta é a data de nascimento correta do compositor, embora seja
magistrais páginas. Há quem afirme que diversos de
bastante divulgada a de 22 de fevereiro de 1810. Consultar os sites:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Frédéric_Chopin#cite_note-nasci- seus Prelúdios nasceram dessas angústias, isto é, des-
mento-0>; <http://pt.wikipedia.org/wiki/Frédéric_Chopin#vida>. ses transes mediúnicos. (Op. cit., p. 112, Ed. FEB.)

30 108 Reformador • Março 2010


Miguel Timponi, na supracitada obra, inseriu textos prece, estímulo de que muito necessita para fortale-
de personalidades ilustres, como reforço de sua argu- cer-se e assim poder trabalhar na construção do seu
mentação em favor do Chico Xavier e da Federação futuro, quando buscará servir a Deus, o que nunca
Espírita Brasileira (FEB), no famoso “Caso Humberto fez através da música.
de Campos”, em que o médium e a FEB foram obje- Sua dedicação à Arte perde-se na noite dos tem-
to de ação movida pela família do grande literato bra- pos, tendo reencarnado como o poeta romano Pú-
sileiro. Um desses textos está nas páginas 321-322 (6a blio Ovídio Naso (43 a.C.-16 d.C.) e o pintor italia-
edição) sob o título “O Espírito de Chopin” e foi colhi- no Rafael Sanzio (1483-1520), um dos grandes artis-
do em O Globo de 1/8/1944, assinado pelo jornalista tas do Renascimento. Em nota de rodapé, a médium
Edmundo Lys. Trata-se de manifestações, naquela épo- como que reforça um traço comum na trajetória de
ca, do compositor ao pianista londrino Frank Cox, a reencarnação desses vultos, lembrando que Rafael
quem Chopin dava lições de piano. Cox, indagando do “é considerado o poeta da Pintura”, como Ovídio é “o
mestre polonês se ele continuava a tocar o instrumen- músico da Poesia” e Chopin, “o poeta da Música”.
to no Além, recebe a seguinte resposta: “– Como acre- Ele pretende reencarnar no Brasil e servir aqui como
dita que eu possa viver de outro modo? Se não há har- médium curador, estando agora, para concretizar essa
monia, não existe, para mim, imortalidade possível”. programação reencarnatória, a estudar Medicina Psíquica.
A médium inglesa Rosemary Brown também foi Poderá ainda dedicar-se à música, pois, como re-
intermediária de Chopin, bem como de outros gran- velou a Yvonne, “não profanei as Artes nem cometi
des músicos do passado, que igualmente acionaram quaisquer deslizes nesse setor. [...] Mas, no momen-
suas raras faculdades mediúnicas para ditar peças musi- to, o que me preocupa mais é o desejo de servir aos
cais. O leitor interessado poderá melhor informar-se pequeninos e sofredores, aos quais nunca protegi”.
sobre Rosemary, acessando a página da Wikipédia: (Op. cit., p. 85, Ed. FEB.)
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosemary_Brown>. Finalizaremos nossa singela homenagem ao muito
É, porém, através das riquíssimas experiências querido mestre polonês com sua manifestação,
mediúnicas de Yvonne A. Pereira que conhecemos expressa com palavras da própria Yvonne Pereira, a
significativos detalhes de sua vida no além-túmulo. respeito da Língua Internacional Neutra:
Levada por seu Espírito-guia, Charles, para uma
excursão instrutiva no Espaço, Yvonne percebe que [...] Ele serviu mesmo, como gênio inesquecível, as Be-
regressa com mais uma companhia: era o grande músi- las-Artes, a Arquitetura, a Pintura e finalmente a Mú-
co. Praticamente materializado em seu quarto, Chopin sica, que parece ser o ponto culminante das Artes em
narra-lhe suas provações no final da última existência, nosso planeta, o ápice da sensibilidade que um gênio
chora premido por grande sofrimento moral e, à pro- da Arte pode galgar no estado de encarnação. Interessa-
porção que expõe o seu calvário, revive as angústias físi- -se igualmente, enternecido, pelo Esperanto, cuja perspecti-
cas e mentais causadas pela tuberculose, mostrando-se à va abrange numa visão futura deslumbradora, ainda
médium com a aparência de um homem oprimido pela porque se sensibiliza com o fato de haver sido polonês o
grave enfermidade, a tossir, expectorar, suar, exalan- gênio criador do brilhante idioma, Lázaro Zamenhof, seu
do o hálito próprio dos portadores da terrível doença. compatriota [...]. (Grifo nosso.) (Op. cit., p. 69, Ed. FEB.)
Outras manifestações se deram com ele, mas a exi-
guidade de espaço não nos permite alongamentos. Chopin se despede do mundo físico às 2 horas do
Vamos nos limitar ao que mais possa satisfazer e edi- dia 17 de outubro de 1849, com apenas 39 anos. Suas
ficar o leitor, sob a forma de tópicos colhidos nas últimas palavras, segundo Sylvio Brito Soares, foram:
vivências mediúnicas de Yvonne. “Quando eu me tiver ido, toquem um pouco de
Chopin diz sentir-se intensamente amado pelos música para mim, pois sei que hei de ouvi-la no
brasileiros, mas observa que ninguém lhe dirige uma Além”. (Op. cit., p. 113, Ed. FEB.)

Março 2010 • Reformador 109 31


Religião e
salvação F. A LTA M I R DA CUNHA

S
ão muitos os que aderem à mo se as leis divinas fossem espe- O bom senso nos conduz a este
preguiça ou acomodação, lhadas nas leis humanas. raciocínio e tomamos como refe-
transferindo deveres que A religião tem muito a oferecer rencial as inolvidáveis lições con-
apenas eles podem cumprir. A re- para a nossa formação espiritual, tidas nos Evangelhos.
ligião é um dos alvos mais comuns mas podemos compará-la muito Destaquemos as lições de vida
desses transferidores de responsa- bem a uma luz que se acende ilu- que nos foram transmitidas por
bilidades. Por desconhecerem minando o caminho que devemos Judas e Pedro. Ambos beberam da
o verdadeiro papel da religião, seguir; todavia, é necessário que água especial que Jesus prometera
transformam-na em uma institui- nos submetamos ao esforço da à samaritana:
ção paternalista, com o poder de caminhada.
intermediar junto ao Criador um Ainda que muitos busquem na Mas aquele que beber da água
tratamento diferenciado para os religião a fórmula mágica para a que eu lhe der nunca terá sede,
seus seguidores: isenção do com- salvação, não podemos esquecer porque a água que eu lhe der se
promisso de lutar para evoluir. que a salvação nada mais é que a fará nele uma fonte de água a
Tal ilusão, tornada realidade, libertação da criatura com relação jorrar para a vida eterna.3
feriria frontalmente as afirmativas às forças deprimentes dos vícios
de Jesus: “Porque o Filho do Ho- que a aprisionam. De forma que, Judas, escravizado à sede de
mem há de vir na glória de seu sem desconsiderar a importância poder e a resultados imediatos,
Pai, com os seus anjos; e, então, da religião como coadjuvante des- entregou Jesus, e, atormentado
dará a cada um segundo as suas se processo de libertação, o êxito pela culpa, aniquilou-se através
obras”1 e “Meu Pai trabalha até depende exclusivamente do firme do suicídio. Todavia, Pedro agiu
agora, e eu trabalho também”.² propósito da vítima para se liber- de forma diferente: acicatado
Estas verdades, sem sombra de tar. Ou seja, a religião influencia, pelo medo, negou ser discípulo
dúvida, descartam qualquer méri- porém a libertação (salvação, co- do Mestre; reconhecendo, entre-
to para os que aderem à lei do me- mo é conhecida por algumas reli- tanto, o equívoco cometido, entre
nor esforço, inoperantes, à espera giões), é determinada pelo esforço escravizar-se à culpa e reparar o
de desmerecidos privilégios, co- de quem deseja libertar-se. erro, optou pela reparação, trans-
Todo processo de libertação do formando-se em um dos baluar-
Espírito realiza-se de dentro para tes do Cristianismo.
1
MATEUS, 16:27. fora, sendo, então, um processo
2
JOÃO, 5:17. de autolibertação. 3
JOÃO, 4:14.

32 110 Reformador • Março 2010


Por que essa diferença de resul- Judas representou muito bem Ante o exposto, por que nos
tados? Será que Jesus salvou Pedro a terra invadida pelos espinheiros iludirmos com o canto de sereia
e desprezou Judas? (cuidados deste mundo e sedução da salvação gratuita (sem luta e,
De Jesus jamais poderíamos das riquezas), e Pedro a boa terra, consequentemente, sem mérito)?
imaginar um tratamento diferen- que produziu frutos. Sem que Não podemos olvidar o perigo
ciado, que nos fizesse concluir que desconheçamos a excelente se- que representa a porta larga5 das
Ele amava a Pedro mais que a Ju- mente plantada por Jesus, como facilidades; muitas vezes, ela se tor-
das. No entanto, Jesus já havia ofe- Judas não se dispôs à autoliberta- na indutora das deserções, que ge-
recido lições importantes, para ção, Jesus não usou do seu poder ram tragédias e multiplicam dores.
compreendermos este aparente pa- para violentar-lhe o processo na- No Evangelho de Marcos (8:34),
radoxo – a parábola do semeador: tural de evolução. Jesus Cristo, chamando a si a mul-
O Mestre já fizera referência ao tidão, com os seus discípulos, dis-
E o que foi semeado entre os espi- conhecimento da verdade, como se-lhes: “Se alguém quiser vir após
nhos, este é o que ouve a palavra; instrumento indispensável para mim, negue-se a si mesmo, e tome
mas os cuidados deste mundo e a a libertação. Porém, o conheci- a sua cruz, e siga-me”.
sedução das riquezas sufocam mento da verdade não acontece Portanto, fé improdutiva e sal-
a palavra, e ela fica infrutífera. repentinamente, ou por imposi- vação gratuita não constam nos
Mas o que foi semeado em boa ção: é um processo que se vai ensinamentos do Mestre Jesus, que
terra, este é o que ouve a pala- completando através das sucessi- deixou claro que cada um recebe-
vra, e a entende; e dá fruto, e vas reencarnações. Sob a ação do ria de acordo com as suas obras.6
um produz cem, outro, sessen- tempo e o esforço de aprender,
ta, e outro, trinta.4 Judas não poderia ser diferente:
5
conheceu a verdade e através dela MATEUS, 7:13-14.
4 6
MATEUS, 13: 22-23. libertou-se. MATEUS, 16:27.

Março 2010 • Reformador 111 33


Agadyr Teixeira Torres
Uma vida com a Doutrina Espírita

D
esencarnou na cidade do vidades do Conselho Federativo juvenil do Grupo Espírita Ga-
Rio de Janeiro, em 10 de Nacional (CFN). briel, Discípulo de Maria Ma-
dezembro de 2009, aos 96 Natural de Cantagalo (RJ), dalena, fundando, em seguida,
anos, o confrade Agadyr Teixei- nasceu em 1o de março de 1913. no Centro Espírita Amaral Or-
ra Torres, abnegado seareiro do Casou-se com Antonia Raphael nellas, no bairro carioca do En-
Consolador, com mais de 50 Torres, com a qual teve cinco fi- genho de Dentro, juntamente
anos dedicados à Federação Es- lhos: Altair, Maria Isabel, Célio com Hernani Trindade Sant’Anna
pírita Brasileira (FEB) e às ati- Marinho, Mauro e Clarêncio. e Alberto Nogueira da Gama,
Seu primeiro contato com uma mocidade espírita, que deu
o Espiritismo dá-se aos 12 origem, mais tarde, à Central de
anos quando, assistindo a Mocidades Espíritas, pela qual
uma palestra na Socie- passou a responder.
dade Musical 15 de No- Foi um dos construtores do
vembro, em sua cidade Acordo de Unificação das Mo-
natal, tem seu interes- cidades e Juventudes Espíritas,
se despertado para o de que resultou a extinção, em
conhecimento da Dou- 13 de novembro de 1949, da
trina. União das Juventudes Espíritas
Mas sua iniciação do Distrito Federal, onde ocu-
data de 1935, no Rio pou o cargo de diretor de pro-
de Janeiro, onde ingres- paganda, e do Conselho Con-
sa no Exército e passa a sultivo das Mocidades Espíritas
frequentar o Centro Es- do Brasil, constituído pelo I Con-
pírita Amor e Luz, diri- gresso de Mocidades Espíritas
gido por Vicente Moret- do Brasil, realizado no Rio de Ja-
ti, e o Centro Espíri- neiro, em julho de 1948. O Acor-
ta João Batista, do, que ocorreu sob a influência
em Bangu. unificadora do Pacto Áureo,
Adere, em se- assinado em 5 de outubro da-
guida, ao movi- quele ano, deu-se em favor do
mento de mocida- Departamento de Juventude da
des espíritas e assu- Federação Espírita Brasileira,
me a direção do núcleo em fase de criação.

34 112 Reformador • Março 2010


Convidado por Rocha Garcia criou o programa Alvorada Cristã contro de Jesus” e “O Olhar de
a fazer parte, como secretário Espírita. Atuou, ainda, nas emis- Jesus”.
de divulgação, do Diretório de soras Rádio Clube do Brasil, A esse nobre Espírito, nosso de-
Juventudes e Mocidades Espíri- Rádio Mundial, Rádio Copaca- sejo sincero de que colha, na Pá-
tas, integrou-se à FEB em 1948, bana e Rádio Mauá, com páginas tria Espiritual, as merecidas recom-
vindo a exercer, ao longo dos evangélicas intituladas “Ao En- pensas aos fiéis servidores.
anos, as seguintes funções: di-
retor do Departamento de Ju-
ventude (1954-1959), respon-
dendo, durante quatro anos,
Retrato da amizade
por seu jornal – Brasil Espírita; Agradeço, alma fraterna e boa,
diretor do Departamento Grá- O amor que no teu gesto se condensa,
fico (1989-1990); gerente de Deixando, ao longe, a festa, o ruído e o repouso
Reformador (1981-1987 e 1990- Para dar-me a presença...
-1996) e um de seus redatores Sofres sem reclamar, enquanto exponho
(1988-1989).
Minhas ideias diminutas
No Conselho Federativo Na-
E anoto como é grande o teu carinho,
cional, em que foi representan-
No sereno sorriso em que me escutas.
te da Federação Espírita do Ma-
Não sei dizer-te a gratidão que guardo
ranhão por vários anos, atuou
como secretário de suas reu- Pelas doces palavras que me dizes,
niões e das reuniões dos Conse- Amenizando as lutas que carrego
lhos Zonais. Em meus impulsos infelizes...
Em 15 de janeiro de 1948, com Auxilias-me a ver, sem barulho ou reproche,
sua esposa, fundou o “Culto Dos trilhos para o bem o mais certo e o mais curto,
Cristão Espírita Saraí”, cujas Sem cobrar pagamentos ou louvores
atividades de assistência espiri- Pelo valor do tempo que te furto.
tual e de estudos doutrinários, Aceitas-me, no todo, como sou,
que se desenvolvem até hoje, Nunca me perguntaste de onde vim,
sem interrupção, fizeram-no Nem me solicitaste qualquer conta
conhecido por seus integrantes Da enorme imperfeição que trago em mim!...
como “Hospital-Escola de Sa- Agradeço-te, ainda, o socorro espontâneo
raí”, hoje “Grupo Cristão Espí- Que me estendes à vida, estrada afora,
rita Saraí”.
Para que as minhas mãos se façam mensageiras
Na área de comunicação,
De consolo a quem chora!...
além de excelente expositor es-
Louvado seja Deus, alma querida e bela,
pírita, trabalhou nos periódicos
Pelo conforto de teu braço irmão,
O Novo Friburguense, Mundo
Espírita e Aurora. Em 1965, com Por tudo o que tens sido em meu caminho,
Geraldo de Aquino, colaborou Por tudo o que me dás ao coração!...
como secretário de propaganda Maria Dolores
do programa Hora Espiritualis- Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia da espiritualidade. Pelo Espírito Maria
ta João Pinto de Souza, da Rádio Dolores. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 25.
Rio de Janeiro, onde também

Março 2010 • Reformador 113 35


Cristianismo Redivivo
Profecias bíblicas
HAROLD O DUTRA DIAS

“O resultado final de um acontecimento pode, portanto, ser certo, por se achar


nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os detalhes e o modo de
execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos
homens, podem ser eventuais os caminhos e os meios.” 1

A
o discorrer sobre o fenô- O livre-arbítrio do homem, re- no tocante à profecia bíblica, urge
meno da predição do fu- lativo e sempre subordinado à von- compreender e meditar a respei-
turo, em sua magnífica tade soberana do Criador, pode to das questões acima menciona-
obra A Gênese, o Codificador es- opor inúmeros obstáculos ao das, de modo a não incorrer em
clarece que a Providência Divi- progresso individual e coletivo, falsas interpretações ou em alar-
na regula os acontecimentos que como também pode representar mismo inconveniente.
envolvam interesses gerais da Nunca é demais lembrar
Humanidade, salientando que os que o amor e a misericórdia
homens concorrem para a exe- integram a Justiça Divina, ra-
cução dos desígnios divinos, mas zão pela qual os planos da Pro-
nenhum deles é indispensável ao vidência visam sempre o aper-
seu cumprimento, visto não es- feiçoamento dos seres. Nesse ca-
tar o Criador à mercê de suas so, provações, expiações, cala-
criaturas. midades, guerras constituem
Por esta razão, “os detalhes e instrumentos didáticos da pe-
os modos de execução” consti- dagogia divina, que jamais
tuem estratégias da Providência desampara os seres durante
Divina, que podem variar se- seus sofrimentos, por consi-
gundo o grau de adesão da Hu- derá-los todos como filhos de
manidade aos propósitos celes- Deus, Espíritos imortais em
tes, que buscam invariavelmen- evolução.
te o progresso e o aperfeiçoa- No limiar do Apocalipse,
mento intelectual e moral dos encontramos o belíssimo ver-
seres humanos. poderosa alavanca na execução sículo: “E dei-lhe um tempo para
desses desígnios. que se arrependa, mas não quer se
1 Em matéria de predição dos arrepender da sua prostituição”.2
KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro
Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. acontecimentos concernentes ao
2
Cap. 16, item 14. futuro da Humanidade, ou seja, Ap., 2:21. Tradução do articulista.

36 114 Reformador • Março 2010


Emmanuel mais uma vez nos Não há determinações rígidas Nessa linha interpretativa, Em-
socorre na tarefa de interpretação e irrevogáveis nos códigos celes- manuel assim se expressa:
deste versículo: tes. Se o condenado4 pela justiça
humana é acompanhado duran- Cada homem possui, com a
Muita gente insiste pela rigi- te o cumprimento de sua pena, existência, uma série de esta-
dez e irrevogabilidade das de- tendo em vista a possibilidade ções e uma relação de dias, es-
terminações de origem divina, da concessão de diversos benefí- truturadas em precioso cálculo
entretanto, compete-nos reco- cios, dependendo do seu com- de probabilidades. [...]5
nhecer que os corações incli- portamento na prisão, não há
nados a semelhante interpreta- razão para aguardar comporta- Nesse contexto, podemos asse-
ção, ainda não conseguem ana- mento diverso da Providência verar que todas as predições/pro-
lisar a essência sublime do amor Divina, no curso das nossas ex- fecias da Bíblia se acham subordi-
que apaga dívidas escuras e faz piações e provas. nadas a um paradoxo, que pode
nascer novo dia nos horizon- ser expresso nos seguintes termos:
tes da alma. “A profecia é revelada para que
Se entre juízes terrestres exis-
tem providências fraternas, qual
“A profecia não se cumpra”.
A afirmação pode causar certa
seja a da liberdade sob condição,
seria o tribunal celeste consti-
tuído por inteligências mais du-
é revelada estranheza ao leitor. Pensando
nisto, transcrevemos a seguir o
trecho de uma entrevista conce-
ras e inflexíveis?
A Casa do Pai é muito mais ge- para que dida pelo médium Francisco Cândi-
do Xavier sobre o assunto em es-
nerosa que qualquer figuração tudo, que muito tem nos auxilia-
de magnanimidade apresentada,
até agora, no mundo, pelo pen- não se do na compreensão desse palpi-
tante tema:
samento religioso. Em seus ce-
leiros abundantes, há emprésti-
mos e moratórias, concessões de
cumpra” O Célebre Nostradamus assina-
la os meses de julho e outubro
tempo e recursos que a mais vi- de 1999 como sendo o período
gorosa imaginação humana ja- Pelo contrário, a programa- final do tempo que estamos
mais calculará.3 (Grifo nosso.) ção espiritual de uma existência atravessando; com a ocorrência
ou de um ciclo de progresso da de imensos cataclismos astro-
O Altíssimo conjuga todas as civilização humana é sempre fei- nômicos e sociais. Nostrada-
providências e recursos para que o ta com base em cálculos de pro- mus deve ser levado a sério?
progresso das almas se efetue em babilidade. Os caminhos são tão – Com respeito às profecias
clima de harmonia e paz, sob os intricados e dependem de tantas de Nostradamus que, aliás, de-
auspícios do seu infinito amor. A variáveis que lembram uma teia vemos estudar com o maior
tormenta, o desajuste, o desequilí- de aranha, com suas vigorosas respeito ao mensageiro huma-
brio e a expiação decorrem do aban- ramificações. no dos vaticínios conhecidos,
dono voluntário do Amor Divino. pede-nos Emmanuel para lermos
4
Na legislação brasileira, o condenado,
3 5
XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo durante a execução de sua pena, é chama- XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo
Espírito Emmanuel. 29. ed. 2. reimp. Rio do de “reeducando”, o que revela a nova Espírito Emmanuel. 27. ed. 1. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 92, p. 199-200. visão humanista do Direito Penal. de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 113, p. 258.

Março 2010 • Reformador 115 37


ram, passando a viver segun-
Imagem retirada do site: <http://www.creationism.org/images/DoreBibleIllus/qJon0304Dore_JonahPreachingToTheNinevitesL.jpg>.

do as determinações da Lei
Divina, motivo pelo qual a
profecia foi anulada, não
obstante a revolta de Jonas,
que se sentiu humilhado
pelo suposto fracasso da sua
missão.
Quando o profeta des-
cansava do Sol ardente, sob
a sombra de uma mamonei-
ra, Deus enviou vermes que
destruíram a planta, expon-
do o profeta novamente ao
calor escaldante.
Diante da revolta de Jo-
nas, Deus exclamou, na ins-
trutiva parábola do Velho
Testamento:

“Tu tens pena da mamoneira,


que não te custou trabalho e que
não fizeste crescer, que em
uma noite existiu e em uma
noite pereceu. E eu não terei
pena de Nínive, a grande ci-
dade, onde há mais de cento e
vinte mil seres humanos, que
não distinguem entre direita e
esquerda, assim como muitos
Jonas pregando para o ninivitas animais!”7

com meditação a Parábola de contrada no Antigo Testamento Sendo assim, considerando-se


Jonas no Antigo Testamento.6 (Jonas, 3-4), segundo nos orien- o infinito amor de Deus por to-
(Grifo nosso.) ta o Benfeitor Emmanuel. das as suas criaturas, bem como
O profeta Jonas foi encarrega- o caráter pedagógico de toda
Sendo assim, no tocante ao do de transmitir à cidade de Níni- revelação acerca dos aconteci-
cumprimento das profecias, so- ve tenebrosos vaticínios de des- mentos futuros, individuais ou
bretudo as bíblicas, o paradigma truição e morte, caso os cidadãos coletivos, é lícito asseverar que
deve ser a Parábola de Jonas, en- daquele local não se arrependessem “a profecia é revelada para que não
dos seus erros. se cumpra”.
6 Todavia, contrariando as ex-
XAVIER, Francisco C.; ARANTES, Hér-
cio M. C. Autores diversos. Encontros no pectativas do profeta, os habi- 7
Bíblia de Jerusalém. 3. imp. São Paulo:
tempo. São Paulo: IDE, 1979. Cap. 1, q. 6. tantes de Nínive se arrepende- PAULUS, 2004. Jonas, 4:10-11, p. 1.633.

38 116 Reformador • Março 2010


A mensagem do Cristo
chega de vários modos
Jesus é esse Amigo que nos visita o lar interno,
trazendo-nos lições de vida feliz e plena
“Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.”
Jesus. (Lucas: 10:42.)

RO GÉRIO COELHO

N
inguém pode alegar ig- meiro momento estava aflita e desconhecemos o quanto so-
norância acerca dos divi- afadigada com muitas coisas, freu o austero e forte tapeceiro
nos postulados, uma vez quando apenas uma era impor- tarsense.
que, de um modo ou de outro, o tante: beneficiar-se do banquete A mensagem do Cristo tam-
acesso a essas informações lu- que o Divino Amigo oferecia à bém chegou através de Paulo à
minosas existe sempre. sua irmã... soberba Grécia, mas não encon-
As notícias do Cristo chega- A mensagem do Cristo che- trou respaldo na meca da inte-
ram antes dele próprio, já que o gou para os convidados ao ban- lectualidade, que era Atenas...
Batista o anunciava dizendo que quete de núpcias, mas todos es- A mensagem do Cristo che-
não era digno de atar-lhe os cor- tavam apenas preocupados com gou para os escribas e fariseus,
dões da sandália... seus negócios e casas de campo que se acumpliciaram com os
A mensagem do Cristo che- e não deram maiores atenções chefes de Jerusalém e a casta sa-
gou para o mancebo de qualida- ao convite... cerdotal para eliminá-lo...
de, mas ele era prisioneiro vo- A mensagem do Cristo che- A mensagem do Cristo che-
luntário dos valores argentários gou para os moradores de Si- gou para Pilatos, que não tinha
e a oportunidade se perdeu... quém, nos altiplanos da Sama- descortino mental suficiente pa-
A mensagem do Cristo chegou ria, mas o preconceito abafou ra conhecer a Verdade, fazendo
para aquele homem cuja preo- as sementes de luz que fenece- com que o Amigo Divino se
cupação em enterrar o pai im- ram sem proveito para nenhum quedasse mudo...
pediu que saísse para propagá-la, deles... A mensagem do Cristo che-
esquecendo-se de que a função A mensagem do Cristo che- gou para Herodes, que ardia em
de enterrar os mortos pertence gou até mesmo para os bárba- febres por conhecê-lo e ficava
aos mortos... ros gentios pelas abençoadas em suspenso com suas notícias,
A mensagem do Cristo che- mãos de Paulo, com as quais mas também não apresentava
gou para Marta que, num pri- Deus operava maravilhas, e não condição moral para aproveitar

Março 2010 • Reformador 117 39


as alcandoradas verdades de que A mensagem do Cristo conti- necida; chegou para a outra Ma-
Ele se fazia mensageiro... nua chegando às diversas seitas ria, a de Magdala que, tecendo
A mensagem do Cristo che- que se dizem cristãs, mas per- um poema de amor e abnegação,
gou para o povo de Gerasa, ou manecem sem o Cristo... se transformou em carta viva pa-
Gadara, mas o expulsaram com A mensagem do Cristo chega nos ra os irmãos segregados por insi-
medo de seu poder paranormal, tempos hodiernos – através da ve- diosa doença; chegou, na Úmbria
ainda que testemunhassem a neranda Doutrina dos Espíritos –, do século XIII, ao “poverelo”, que
cura do louco que vivia no ce- desfraldando a bandeira da frater- se transformou na maior expres-
mitério da cidade, aborrecidos nidade, da caridade e do conheci- são de amor na Terra depois do
que ficaram por ver dispersa e mento da verdade, a qual é vilipen- Meigo Rabi; chegou para Allan
morta sua vara de porcos... Kardec, o missionário escolhido
A mensagem do Cristo che- para fazer cumprir a sua promes-
gou, inclusive, para seus ir- sa acerca do “outro Consola-
mãos consaguíneos que o dor”; chegou para os cora-
queriam prender, alegan- ções amorosos e compas-
do que perdera o espí- sivos de Madre Tereza
rito... de Calcutá, de Irmã
A mensagem do Dulce, de Francisco
Cristo chegou para Cândido Xavier, e se
o povo de sua ter- reverteu em bênçãos
ra natal, mas a in- para toda a Huma-
credulidade impe- nidade, em expan-
diu a germinação sões de amor in-
da boa semente, condicional aos fi-
uma vez que o ter- lhos do calvário...
reno das almas era Tão altissonan-
sáfaro e onusto de tes são essas mensa-
agrestia... gens que, passados
A mensagem do dois mil anos, consti-
Cristo chegou para o tuem e sempre consti-
orgulhoso doutor Nico- tuirão o roteiro lumi-
demos, que apesar de ser noso da emancipação es-
mestre em Israel não com- piritual, o marco maior da
preendia nem mesmo as coisas misericórdia do Pai para com a
da Terra quanto mais as do Humanidade...
Céu!... Jesus Cristo na casa de Marta e Maria, Os tempos são chegados. Urge
A mensagem do Cristo che- por Jan Vermeer, óleo sobre tela não malbaratar a oportunidade
gou para Judas de Querioth, que de ascensão espiritual.
o traiu; chegou para Pedro, que o diada por muitos que até se dizem No entendimento de Francis-
negou; chegou para todos os de- cristãos, e negligenciada por ou- co de Paula Vítor,
mais discípulos que, à exceção tros tantos que se dizem espíritas...
do adolescente João, fugiram ame- Sem embargo, a mensagem do [...] os instantes desfilam, va-
drontados quando o amigo foi Cristo chegou para o coração amo- zando pela ampulheta da opor-
preso... roso de Maria, que o ouviu enter- tunidade rara [...].

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Na vida terrena, no mundo, çoando o solo, os lençóis do verdade exige: Marta! Andas in-
do mesmo modo, há ocasiões de subsolo, os estuários. quieta e te preocupas com muitas
grande fortuna moral que nos Quantas vezes somos convi- coisas. Contudo, pouco se faz ne-
permitem ouvir, para apreen- dados a ver tudo isso sem que cessário, ou mesmo uma coisa só:
der, lições formidáveis para a encontremos tempo, motivo Maria escolheu, pois, a melhor
alma eterna. Uma conferência ou razão para fazê-lo? parte, e essa não lhe será tirada.
de boa instrução capaz de ala- O homem do mundo está A pobre Marta se dá conta, ti-
vancar o nosso íntimo para sempre correndo em busca do tubeia, algo estonteada pela
níveis mais altos de vida espi- que vai comer ou beber, e, se constatação de que sequer es-
ritual. A chance de um con- já o conseguiu, corre, agora, tava aproveitando a visita de
certo ou de uma apresentação por conta da viagem dos ne- tão importante e bom Amigo...
cênica que nos convida a me- gócios, da atividade social. e se acerca para ouvir também.
ditações maduras sobre os fa- Desgasta-se, esfalfa-se, des- Jesus Cristo é esse Amigo que
tos da existência humana, per- gosta-se e culpa a vida por ser nos visita o lar interno, tra-
cebidos e pinçados por men- como é e por estar como está. zendo-nos blandiciosas lições
tes verdadeiramente geniais e A mensagem do Cristo chega de vida feliz e plena, esperan-
convertidos em pautas ou pe- para nós de diversos modos, ca- do tão-só que Lhe ofereçamos
ças de rara beleza. bendo-nos achar um jeito de um pouco de atenção, a fim
Inumeráveis oportunidades nos determos um pouco a nossa ex- de que esses filetes de ouro, de
surgem para apreciar a natu- citação em torno de muitos na- sabedoria e sentimento, de
reza em festa, seja uma noite das, buscando acrescentar co- que se faz portador, penetrem
de plenilúnio, seja um ama- nhecimentos ao intelecto e har- o nosso ser, como a parte me-
nhacer de ouro; seja um jar- monia e paz aos sentimentos. lhor que nos impulsiona para
dim que explode em perfume [...] a luz do Altíssimo.1
e cores, seja um véu de noiva Observando a boa, mas desa-
que se estira na montanha ro- tenta amiga e percebendo toda
1
chosa. Pode ser, ainda, um ban- a ansiedade que se lhe irrompia TEIXEIRA, José Raul. Quem é o Cristo?.
Pelo Espírito Francisco de Paula Vítor. 3.
do multicor de aves chilrean- do íntimo, falou-lhe com suavi- ed. Niterói, RJ: Editora Fráter Livros Espí-
tes ou a chuva que cai aben- dade, mas com a firmeza que a ritas, 2008. Cap. 11.

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Seara Espírita

R. G. do Sul: Projeto Trocando Ideias Rangel, Alberto Ribeiro de Almeida e Divaldo Pe-
A Federação Espírita do Rio Grande do Sul reali- reira Franco. A programação voltada aos jovens
zou, nos dias 12, 19 e 26 de janeiro e 9 e 23 de desenvolveu-se, pela primeira vez, nas dependên-
fevereiro, o Projeto Trocando Ideias, na sua sede. cias do Colégio Santo Agostinho, enquanto a parte
O Projeto contou com palestras sobre “Materni- infantil permaneceu no Centro de Convenções.
dade e Paternidade na Adolescência”, “Sexualida- Informações: <www.feego.org.br>.
de”, “Sonhos”, “Planejamento Reencarnatório”, “Lei
de Reprodução”, entre outros temas. Informações: Santa Catarina: Confraternização Regional
<www.fergs.org.br>. de Jovens
Jovens estiveram reunidos, de 13 a 16 de fevereiro,
R. G. do Norte: Workshop Em Busca da para discutir temas ligados ao seu cotidiano e ao tra-
Verdade balho no Movimento Espírita, durante a 23a edição
Com o tema “Em Busca da Verdade”, ocorreu no dia da Confraternização Regional de Juventudes Espí-
24 de janeiro, no Centro de Convenções de Natal, ritas da região da grande Florianópolis (CONREJE).
o workshop com o orador Divaldo Pereira Franco. O O evento foi promovido pelo Conselho Regional
evento foi promovido pela Federação Espírita do Rio Espírita das 1a e 14a Regiões da Federação Espírita
Grande do Norte. Informações: <livraria@fern.org.br>. Catarinense. Informações: <www.fec.org.br>.

Mato Grosso do Sul: Curso de Amazonas: Encontro de Jovens


Capacitação de Evangelizadores homenageia Chico Xavier
A Federação Espírita de Mato Grosso do Sul realizou, A XXVIII COMEAM – Confraternização das Mo-
nos dias 6 e 7 de fevereiro, no Centro Espírita Dis- cidades Espíritas do Amazonas –, ocorreu de 13 a
cípulos de Jesus, o novo Curso de Capacitação para 17 de fevereiro de 2010, em período integral, na
Evangelizadores. Informações: <www.fems.org.br>. Fundação Allan Kardec. O evento, cujo tema foi
“Juventude, Vida e Sexo”, teve por objetivo com-
Amapá: Jovens estudam Chico Xavier preender a importância da fase juvenil, da valoriza-
Promovido pela Federação Espírita do Amapá, em ção da vida e da canalização positiva da energia
13 de fevereiro, o Encontro de Mocidades Espíritas sexual, pautando a conduta nos ensinamentos de
do Amapá teve como tema “Chico Xavier, a Juven- Jesus como garantia de equilíbrio e de paz interior.
tude e a Mediunidade”, abordado pelo diretor da Todas as noites os jovens realizaram apresentações
FEB Antonio Cesar Perri de Carvalho e por Célia alusivas ao Centenário de Chico Xavier com dra-
Maria Rey de Carvalho. Informações: fone (96) matizações, poesias, músicas, exposições etc. Nosso
3224-1730. querido Chico foi lembrado em vários estudos,
como exemplo de jovem que soube canalizar sua
Goiás: Congresso Estadual energia para o trabalho no bem.
O 26o Congresso Espírita do Estado de Goiás, pro-
movido pela Federação Espírita do Estado de Casas Espíritas centenárias
Goiás, ocorreu de 13 a 16 de fevereiro, no Centro Solicitamos às instituições espíritas que já tenham
de Cultura e Convenções de Goiânia, tendo como completado 100 anos, o envio dessa informação, com
tema central “Minha paz vos deixo...”. Foram expo- dados sobre suas atividades, para divulgação em
sitores Simão Pedro, Haroldo Dutra Dias, Otaciro Reformador.

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