Intervenção do deputado Prof. Doutor Jorge Bacelar Gouveia, na reunião da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional de 12 de Janeiro de 2011, sobre a alteração do artigo 9.º da Constituição da República Portuguesa (CRP).
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Intervenção do deputado Prof. Doutor Jorge Bacelar Gouveia, na reunião da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional de 12 de Janeiro de 2011, sobre a alteração do artigo 9.º da Constituição da República Portuguesa (CRP).
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(Intervenção do deputado Prof. Doutor Jorge Bacelar Gouveia, na
reunião da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional de 12 de Janeiro de 2011, sobre a alteração do artigo 9.º da CRP)
«(…) Apenas um pedido de esclarecimento em relação à discussão que
estamos a ter em torno desta proposta do CDS-PP, dirigido ao deputado Telmo Correia. Mas, curiosamente, este pedido de esclarecimento suscitou-se no meu espírito depois da intervenção do deputado José Manuel Pureza (Bloco de Esquerda), em relação à qual fiquei um pouco preocupado, ao referir-se ao facto de o Estado Português, no artigo 2.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), garantir a «democracia económica, social e cultural», interpretando esta proposta do CDS-PP de retirar a expressão «igualdade real» como pondo em causa essa mesma «democracia económica, social e cultural». Ora, como o CDS-PP não faz nenhuma proposta de eliminação dessa cláusula de «democracia económica, social e cultural» que consta do artigo 2.º CRP, fiquei realmente sem saber se a sua proposta poderia ter esse alcance oculto de também poder pôr em causa essa cláusula.
Em relação a esta expressão e à mudança que é proposta pelo CDS-PP,
acho que é preciso um certo cuidado na interpretação deste artigo e, sobretudo, não ficar com a ideia, talvez epidérmica, de que, quando nós olhamos para a expressão «igualdade real», estamos a impor a igualdade entre todos os portugueses, uma igualdade biológica ou em todos os pormenores ou em todos os sentidos. Não é disso que se trata, a meu ver. Mas é evidente que a «igualdade» é uma coisa mais complexa do que parece, porque nós, hoje, trabalhamos com muitos conceitos de «igualdade»: igualdade formal, igualdade material, igualdade na Lei, igualdade através da Lei, igualdade de partida, igualdade de chegada, igualdade nos resultados. Igualdade nos vários âmbitos da vida. Agora é evidente que este preceito deve sempre manter-se do ponto de vista de incutir no Estado um dever de prestação de direitos e no sentido de o Estado levar a cabo, uma prática que possa, enfim, concretizar um objectivo de igualdade, não um objectivo de igualitarismo, através de uma democracia económica e social.
Mas, portanto, o meu ponto é este e dirijo-o ao deputado Telmo
Correia: saber por que razão, sendo verdadeira a acusação feita pelo deputado José Manuel Pureza, não propõem uma alteração no artigo 2.º da Constituição, em matéria de «democracia económica, social e cultural»? (…)»