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p. 19 “Do fundo do coração. O Cerne da Comunicação Não-Violenta.

O que eu quero em minha vida é compaixão, um fluxo


entre mim mesmo e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.”

O cerne é a parte interna do tronco das árvores, entre o alburno e a medula; aqui, esta palavra
toma o sentido de centro ou núcleo. A comunicação, ação de tornar comum, aquilo que se quer
tornar comum é a compaixão, um sentimento que não é estanque, mas um fluxo, um
movimento contínuo. O autor usa, ainda, outra figura de linguagem: do fundo do coração; ou
seja, existe um movimento expresso pela preposição “do” que parte do “fundo do coração”,
órgão do corpo associado ao amor, compaixão, generosidade, caridade, etc., em acréscimo,
esse movimento parte do “fundo”, quer dizer, do ponto inicial da compaixão.

p.19 “Acredito que é de nossa natureza gostar de dar e receber de forma compassiva.”

O autor traz uma hipótese1 ou dedução2: as pessoas gostam de se relacionar de forma


compassiva. Dessa forma, possivelmente, seu método é estruturado na crença de que as
pessoas naturalmente são boas. A partir da compaixão o autor cria um método de
comunicação que é permeado por este sentimento. Este sentimento é composto por algumas
virtudes, que encontramos na segunda carta de Paulo aos Coríntios.
A compaixão, para o autor, é um sentimento natural do ser humano. Isso fica expresso nas
frases: “(...) o que acontece que nos desliga de nossa natureza compassiva, levando-nos a nos
comportarmos de maneira violenta e baseada na exploração das outras pessoas? E,
inversamente, o que permite que algumas pessoas permaneçam ligadas à sua natureza
compassiva mesmo nas circunstâncias mais penosas?”, (p. 19); ou, “o que nos permite, por
exemplo, permanecer sintonizados com nossa natureza compassiva até nas piores
circunstâncias?”, (p. 20); “que nossa compaixão natural floresça, (p. 21).

p. 21 “Enquanto estudava os fatores que afetam nossa capacidade de nos mantermos compassivos, fiquei impressionado com
o papel crucial na linguagem e do uso das palavras. Desde então, identifiquei uma abordagem específica da comunicação –
falar e ouvir – que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite
que nossa compaixão natural floresça.

Segundo o autor, a linguagem e o uso das palavras é um fator que afasta ou floresce a
compaixão natural que caracteriza os seres humanos; portanto, a CNV, como uma abordagem
estruturada numa perspectiva compassiva, permitiria o retorno a nossa compaixão natural
através da linguagem. A linguagem é um meio para se atingir a compaixão; uma compaixão em
movimento que acompanha a impermanência da vida.

p. 21 “A CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros.

A estrutura comunicacional elaborada pelo autor pretende permitir que a comunicação se dê de


forma compassiva, lembrando que comunicação é falar e ouvir, ou seja, ouvir também.
Adquirimos a habilidade de emitir, de forma honesta, clara e consciente, palavras baseadas na
percepção, no sentimento e na necessidade de todos, bem como adquirimos a habilidade de
estarmos atentos aos outros de forma respeitosa e empática.
A pessoa observa e identifica comportamentos e condições que a afetam (tiram da natureza
compassiva), e articula com o que deseja naquela situação.

p. 22 “Quando nos concentramos em tornar mais claro o que o outro está observando, sentindo e necessitando em vez de
diagnosticar e julgar, descobrimos a profundidade de nossa própria compaixão. (…). Pela ênfase em escutar profundamente –
a nós e aos outros -, a CNV promove o respeito, a atenção e a empatia e gera o mútuo desejo de nos entregarmos de
coração.”

Escutar profundamente, nós e os outros, observando, sentindo e identificando necessidades.


Escutar, do latim auscultare, de auris (ouvido). Observar, olhar de frente. Sentir, de sentire, de
*sent- (ir). Necessidade, de necessitas, de necesse, de ne- (não) + cessus (ceder).

p. 23 “(...) condicionar minha atenção a se concentrar em pontos que tenham o potencial de me dar o que procuro. O que
almejo em minha vida é compaixão, um fluxo entre mim e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.

O autor busca a compaixão através da linguagem ou comunicação, para isto, segundo ele, é
preciso estar atento observando, sentindo e identificando as necessidades nossas e dos
outros.

p. 24 “Se nos ativermos aos princípios da CNV, motivados somente a dar e a receber com compaixão, e fizermos tudo que
pudermos para que os outros saibam que esse é nosso único interesse, eles se unirão a nós no processo, e acabaremos
conseguindo nos relacionar com compaixão uns com os outros. Afirmo, entretanto, que a compaixão inevitavelmente floresce
quando nos mantemos fiéis aos princípios e ao processo da CNV.

Outro hipótese.

p. 25 “Para chegar ao mútuo desejo de nos entregarmos de coração, concentramos a luz da consciência em quatro áreas, às
quais nos referiremos como os quatro componentes do modelo da CNV.

1 Proposição que se admite, independentemente do fato de ser verdadeira ou falsa, como um princípio a partir do qual se pode deduzir um
determiando conjunto de consequências; suposição, conjectura.
2 Dedução, do latim deduco, de + duco, de = movimento lateral, duco = guiar, liderar.
Concentrar luz da consciência, ou seja, prestar atenção e estar presente em quatro
componentes.

p. 25 “Primeiramente, observamos o que está de fato acontecendo numa situação: o que estamos vendo os outros dizerem ou
fazerem que é enriquecedor ou não para nossa vida? O truque é ser capaz de articular essa observação sem fazer nenhum
julgamento ou avaliação – mas simplesmente dizer o que nos agrada ou não naquilo que as pessoas estão fazendo. Em
seguinda, identificamos como nos sentimos ao observar aquela ação: magoados, assustados, alegres, divertidos, irritados, etc.
Em terceiro lugar, reconhecemos quais de nossas necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos aí. Temos
consciência desses três componentes quando usamos a CNV para expressar clara e honestamente como estamos.

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