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Tecnologias de Armazenamento de Energia para Sistemas

100% renováveis de Média Dimensão

Caso de estudo: Ilha da Brava

Gonçalo Miguel Lírio Nobre Glória

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e Computadores

Orientador: Prof. Doutor José Manuel Dias Ferreira de Jesus

Júri
Presidente: Prof. Doutor Rui Manuel Gameiro de Castro
Orientador: Prof. Doutor José Manuel Dias Ferreira de Jesus
Vogal: Prof. Doutor João Abel Peças Lopes

Março 2017
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”O pensamento ainda é a melhor maneira de fugir ao pensamento.”
Fernando Pessoa

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Agradecimentos

É uma maratona que chega ao fim. Esta dissertação, no seu estado final, põe fim a um caminho
ı́ngreme que durou 9 meses, sempre preenchidos de trabalho árduo e sacrifı́cios mas também de
objectivos atingidos e satisfação. Neste caminho algumas foram as pessoas que tiveram interferência
directa ou indirectamente no desenrolar de todo o percurso, às quais não quero deixar de agradecer.
Em primeira instância, queria deixar o meu agradecimento ao meu orientador, o Professor José
Ferreira de Jesus por ter-se apresentado sempre disposto a auxiliar com o seu conhecimento técnico
nas questões que iam surgindo com o desenrolar do trabalho e também pela valiosa contribuição que
a sua experiente intuição apresenta para a resolução de problemas. A sua boa disposição também foi
sempre um marco para o ambiente vivido na Área Cientifica de Energia.
Um agradecimento muito especial à Inês Barreira por todo o contributo que teve neste percurso
desde a partilha de conhecimentos úteis para a tese, à disponibilidade em ajudar e pelo agradável
convı́vio diário vivenciado. Mas, principalmente fico grato pela relação sui generis que desde logo
criámos quando nos conhecemos no inı́cio deste caminho, que agora termina, mas que permitiu a
construção de uma forte amizade que perdurará. Sem ela teria sido tudo mais complicado e menos
especial.
Por fim, quero agradecer a toda a minha famı́lia e amigos. Quanto aos meus amigos um agradeci-
mento especial ao Ricardo Ferro, Filipe Luı́s e Bernardo Esteves por serem os irmãos que escolhi na
minha vida e que tiveram uma contribuição indirecta, embora relevante em todo este caminho. Para a
minha famı́lia agradeço toda a dedicação, paciência e amor que sempre tiveram durante estes 9 meses,
que nem sempre foram fáceis mas que com o seu apoio me ajudaram a ultrapassar os obstáculos e
chegar ao fim desta etapa da minha vida com sucesso.
A todas estas pessoas dedico esta tese e deixo o meu sincero obrigado!

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Resumo

Com o crescimento da procura de energia verificado e o aumento da quota de penetração de energias


renováveis, o maior desafio que se coloca aos sistemas eléctricos é o de satisfazer este desenvolvi-
mento de forma segura, económica e sustentável. Os Sistemas de Armazenamento de Energia (SAE),
e especificamente os Battery Energy Storage Systems (BESS), têm provado ser elementos cruciais
nesta mudança de paradigma pela contribuição para o aumento da penetração renovável e atenuação
dos problemas operacionais que dela advêm. A ilha da Brava em Cabo Verde apresenta um plano
energético para 2020, que visa tornar a ilha 100% renovável com auxı́lio de um BESS. Assim o objec-
tivo deste trabalho consiste em estudar a possibilidade de operar a rede da ilha em 2020, num panorama
só com geração renovável e um BESS, analisando-se a estabilidade da rede, o controlo de frequência
e o impacto na penetração renovável. Para tal são construı́dos os cenários de simulação incluindo a
previsão de carga e de recursos renováveis para 2020. O dimensionamento/implementação da rede
de MT é efectuado no PSS/E. São realizados estudos em regime estacionário e transitório de forma
a se poder retirar as devidas conclusões. Da análise dos resultados verificou-se a interdependência
entre o BESS em serviço e a estabilidade da rede, dada a importância que revelou ter no controlo
de frequência e flexibilidade da rede, permitindo o seu funcionamento com geração 100% renovável.
Adicionalmente realizaram-se também estudos que apresentam um panorama em que existe auxı́lio do
menor dos grupos convencionais da ilha.

Palavras-chave: Ilha da Brava, Projecto 100% Renovável, SAE, BESS, PSS/E

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Abstract

With the growth in energy demand that has recently occurred, accompanied by the increasing of re-
newable energy penetration, the biggest challenge to the electrical networks is to meet this development
in a safe, economical and sustainable way. Energy Storage Systems (ESSs), and specifically Battery
Energy Storage Systems (BESS) have proven to be crucial elements in this paradigm change by contri-
buting to increase the renewable penetration and by mitigating the operational problems that arise from
it. The Brava island in Cape Verde presents an energy plan for 2020, which aims to turn the island 100%
renewable with the help of a BESS. Thus, the objective of this work is to study the possibility of operating
the island network, in 2020, with only renewable generation and a BESS analyzing the system stability,
the frequency control and the impact of renewable penetration. For this, the simulation scenarios inclu-
ding the forecast of load and renewable resources for 2020 were built. The sizing/implementation of the
network is done in PSS/E. To draw the necessary conclusions from this study, stationary and transient
studies are carried out. The analysis of the results shows the dependence between the BESS and the
stability of the network, given the importance it showed in primary frequency control and in providing
flexibility to the grid. Besides, there were also presented studies that offer a picture in which there is the
aid of the smaller conventional machine of the island.

Keywords: Brava Island, 100% Renewable Project, EES, BESS, PSS/E

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Conteúdo

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii
Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ix
Lista de Tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv
Lista de Figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xvii
Lista de Abreviaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxii

1 Introdução 1
1.1 Enquadramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Motivação e objectivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Estrutura do documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 SAEs para integração de renováveis no sector energético 8


2.1 Energias renováveis em redes insulares e problemas operacionais . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Soluções face aos problemas operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.1 Fontes de energia renovável e regulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.2 Sistemas de armazenamento de energia (SAEs) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2.2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2.2.2 Principais Caracterı́sticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.2.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3 Baterias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3.2 Componentes do sistema de armazenamento de uma bateria . . . . . . . . . . . . 20
2.3.3 Princı́pio de funcionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3.4 Caracterı́sticas técnicas de uma bateria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3.5 Aplicações de auxı́lio à integração de renováveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.3.6 Baterias de lı́tio vs Baterias de Ácido-Chumbo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3 Caso de Estudo: ilha da Brava 32


3.1 Ilha da Brava . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2 Brava: Ano 2015 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2.1 Sistema Electroprodutor e Subestações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

xi
3.2.2 Rede de distribuição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2.3 Diagrama de Carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2.4 Caracterização do recurso Solar e Eólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3 Brava: Ano 2020 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3.1 Plano de implementação de novos projectos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3.2 Previsão de Carga para 2020 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.3.3 Redimensionamento dos projectos a implementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.4 Projecto ilha 100% Renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4 Implementação e Modelização 43
4.1 Software PSS/E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2 Implementação e modelização da rede no PSS/E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.2.2 Geradores Convencionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2.3 Renováveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2.4 Protecções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2.5 Bateria (BESS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.5.1 Dimensionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.2.5.2 Modelização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

5 Simulações e Resultados 58
5.1 Construção dos cenários de simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5.2 Resultados do trânsito de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.2.1 Ilha da Brava sem geração renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.2.1.1 Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.2.2 Ilha da Brava com geração renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.2.2.1 Renováveis projetadas no Plano Energético para 2020 . . . . . . . . . . 64
5.2.2.2 Renováveis redimensionadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.2.2.3 Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.2.3 Ilha da Brava com geração renovável e BESS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.2.3.1 100% Renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.2.3.1.1 Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2.3.2 Com geração convencional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.2.3.2.1 Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.3 Simulações Dinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
5.3.1 Curto-circuito franco no BUS50-VILA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.3.2 Saı́da de serviço de um grupo térmico (G1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.3.3 Variação da irradiância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5.3.4 Saı́da de serviço do BESS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.4 Análise geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

xii
6 Conclusão 91
6.1 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
6.2 Trabalho Futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

Bibliografia 95

A Diagrama Unifilar da Rede MT da Brava A.1


A.1 Brava 2015 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A.2
A.2 Brava 2020 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A.3

B Datasheets B.1
B.1 Painéis Fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . B.2
B.2 Módulo Bateria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . B.3

C Modelos Dinâmicos: Testes e Parâmetros C.1


C.1 Proteções contra cavas de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . C.1
C.2 Teste à excitatriz dos grupos térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . C.1
C.3 Teste ao regulador carga-velocidade dos grupos térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . C.2
C.4 Ficheiro DYRE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . C.2

D Despacho da Bateria D.1


D.1 Panorama 100% renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . D.1
D.2 Panorama com bateria, renováveis e convencional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . D.1

E Resultados Dinâmicos suplementares E.1


E.1 Curto-circuito franco no BUS50-VILA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.1
E.1.1 100% renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.1
E.1.2 Com convencional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.2
E.2 Saı́da de serviço de um grupo térmico (G1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.3
E.3 Variação da irradiância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.4
E.3.1 100% renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.4
E.3.2 Com convencional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.4
E.4 Saı́da de serviço do BESS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.5
E.4.1 100% renovável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.5
E.4.2 Com convencional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.5
E.4.2.1 Cenário II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.5
E.4.2.2 Cenário IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.6

xiii
xiv
Lista de Tabelas

2.1 Caracterı́sticas técnicas tipicas dos diferentes SAEs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.1 Dados dos grupos da central de Favetal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34


3.2 Dados da subestação de Favetal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3 Caracterı́sticas das linhas e cabos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4 Dados da carga na Ponta e Vazio de 2015 para a ilha da Brava. . . . . . . . . . . . . . . 36
3.5 Previsão de ponta e vazio apresentada em [8] para 2015 e 2020. . . . . . . . . . . . . . . 39
3.6 Dados da carga na Ponta e Vazio de 2020 para a ilha da Brava. . . . . . . . . . . . . . . 39
3.7 Dados do PEVF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.8 Dados do PSF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4.1 Dados dos grupos térmicos em regime estacionário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47


4.2 Dados dos parques renováveis em regime estacionário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.3 Dados para os diferentes escalões das protecções de tensão/frequência. . . . . . . . . . 51
4.4 Caracterı́sticas de dimensionamento do BESS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.5 Dados da bateria em regime estacionário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

5.1 Dados da irradiância e potência solar disponı́vel para cada planeamento estudado. . . . 60
5.2 Resultados do regime estacionário para o panorama sem geração renovável. . . . . . . . 63
5.3 Resultados do regime estacionário para o panorama com renováveis redimensionadas. . 65
5.4 Resultados do regime estacionário para o panorama 100% renovável. . . . . . . . . . . . 70
5.5 Energia desperdiçada no panorama 100% renovável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.6 Resultados do regime estacionário para o panorama com BESS, renováveis e convenci-
onal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.7 Energia desperdiçada no panorama com BESS, renováveis e convencional. . . . . . . . . 74
5.8 Resumo dos resultados dos estudos dinâmicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

D.1 Despacho da bateria no panorama 100% renovável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . D.2


D.2 Despacho da bateria no panorama com BESS, renováveis e convencional. . . . . . . . . D.3

xv
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Lista de Figuras

1.1 Evolução da geração nos paı́ses desenvolvidos e em desenvolviemnto. . . . . . . . . . . 2


1.2 Evolução das diferentes tecnologias renováveis entre 2000 e 2015. . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Percentagem de sistemas de armazenamento instalados até 2014. . . . . . . . . . . . . . 4

2.1 Categorização dos SAEs quanto à forma de armazenamento. . . . . . . . . . . . . . . . . 12


2.2 Eficiência e perdas num SAE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Potência nominal vs capacidade de armazenamento de diferentes SAEs. . . . . . . . . . 16
2.4 Componentes tı́picos de um BESS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.5 Ciclo carga/descarga numa bateria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.6 Variação do número de ciclos com a profundidade de descarga. . . . . . . . . . . . . . . 24
2.7 Caracterı́stica da curva de descarga de uma bateria de lı́tio. . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.8 Despacho com e sem BESS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.9 Influência de uma bateria na suavização de flutuações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.10 Aplicações de deslocamento temporal de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.11 Regulação de frequência por BESS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.1 Planta ilha da Brava. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33


3.2 Esquema da central de Favetal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3 Diagrama de carga de 2015. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4 Diagrama das irradiância de meses de cada estação do ano na Furna. . . . . . . . . . . 37
3.5 Perfil de vento para a ilha da Brava. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.6 Diagrama de carga de 2020. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.7 Esquema Unifilar do PEVF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.8 Esquema Unifilar do PSF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.9 Esquema Unifilar da instalação do BESS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4.1 Sequência de acções realizadas pelo PSS/E numa simulação dinâmica. . . . . . . . . . . 44


4.2 Esquema unifilar no PSS/E referente ao ano de 2020. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.3 Diagrama de blocos do controlo de potência activa do modelo CBEST. . . . . . . . . . . . 54
4.4 Diagrama de blocos do modelo PAUX1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.5 Diagrama de blocos da parte de controlo de reactiva do modelo CBEST. . . . . . . . . . . 56

xvii
5.1 Dados gerais do recurso eólico a utilizar para as simulações. . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.2 Carga de 2020 vs Geração renovável disponı́vel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.3 Perfil de tensões para o panorama sem geração renovável. . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.4 Perfil de tensões para o panorama com renováveis redimensionadas. . . . . . . . . . . . 65
5.5 Diagrama de carga do panorama 100% renovável, com o despacho das unidades de
geração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.6 Estado de carga (SOC) da bateria para o panorama 100% renovável. . . . . . . . . . . . 70
5.7 Perfil de tensões para o panorama 100% renovável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.8 Diagrama de carga do panorama com o despacho do BESS, renováveis e convencional. 72
5.9 Estado de carga (SOC) da bateria para o panorama com BESS, renováveis e convencional. 73
5.10 Perfil de tensões para o panorama com BESS, renováveis e convencional. . . . . . . . . 73
5.11 Frequência no BUS55 e potência activados PVs (perturbação: CC no BUS50 - panorama
100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.12 Potência e variação velocidade de um aerogerador (perturbação: CC no BUS50 - pano-
rama 100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.13 Potência activa e energia do BESS (perturbação: CC no BUS50 - panorama 100% re-
novável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.14 Potência Reactiva (perturbação: CC no BUS50 - panorama 100% renovável). . . . . . . . 77
5.15 Frequência no BUS55 e potência mecânica do G1 (perturbação: CC no BUS50 - pano-
rama c/ convencional) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.16 Potência activa e energia do BESS (perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ convenci-
onal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.17 Potência activa (perturbação: saı́da de serviço de G1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5.18 Frequência no BUS55 e potência mecânica do G1 (perturbação: saı́da de serviço de G1). 80
5.19 Simulação da variação da irradiância. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.20 Potência activa, mecânica e desvio de velociadade dos aerogeradores (perturbação:
variação de irradiância - panorama 100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.21 Frequência no BUS55 e potência activa do PV e BESS (perturbação: variação de ir-
radiância - panorama 100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.22 Frequência no BUS55 e potência activa do PV e BESS (perturbação: variação de ir-
radiância - panorama c/ convencional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.23 Frequência no BUS55 e potência activa do aerogerador e BESS (perturbação: saı́da do
BESS - panorama 100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.24 Energia do BESS e potência reactiva do aerogerador e BESS (perturbação: saı́da do
BESS - panorama 100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.25 Potência activa no cenário II (perturbação: saı́da do BESS - panorama c/ convencional). 86
5.26 Potência mecânica do G1 e frequência no BUS55, para cenário II (perturbação: saı́da do
BESS - panorama c/ convencional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

xviii
5.27 Frequência no BUS55 e potência activa e mecânica das unidades de geração, para
cenário IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

C.1 Proteção contra cavas de tensão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . C.1


C.2 Resposta do modelo IEEET1 à variação em escalão da tensão de referência. . . . . . . . C.2
C.3 Resposta do modelo DEGOV1 à variação em escalão do nı́vel de carga do gerador. . . . C.2

E.1 Tensões nos principais barramentos (perturbação: CC no BUS50 - panorama 100% re-
novável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.1
E.2 Potência activa do G1 e PV (perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ convencional). . . E.2
E.3 Potência activa e variação velocidade do aerogerador (perturbação: CC no BUS50 -
panorama c/ convencional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.2
E.4 Potência reactiva (perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ convencional). . . . . . . . E.2
E.5 Tensões nos principais barramentos (perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ conven-
cional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.2
E.6 Potência activa e variação velocidade do aerogerador (perturbação: saı́da de serviço de
G1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.3
E.7 Potência reactiva (perturbação: saı́da de serviço de G1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.3
E.8 Tensões nos principais barramentos (perturbação: saı́da de serviço de G1). . . . . . . . . E.3
E.9 Potência activa e energia total do BESS (perturbação: saı́da de serviço de G1). . . . . . E.3
E.10 Potência reactiva (perturbação: variação de irradiância - panorama 100% renovável). . . E.4
E.11 Tensões nos principais barramentos (perturbação: variação de irradiância - panorama
100% renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.4
E.12 Potência activa e mecância do aerogerador e G1 (perturbação: variação de irradiância -
panorama c/convencional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.4
E.13 Potência reactiva (perturbação: variação de irradiância - panorama c/ convencional). . . . E.4
E.14 Tensões nos principais barramentos (perturbação: saı́da do BESS - panorama 100%
renovável). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.5
E.15 Tensões nos principais barramentos para cenário II (perturbação: saı́da do BESS - pa-
norama c/ convencional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.5
E.16 Potência reactiva para cenário II (perturbação: saı́da do BESS - panorama c/ convencional).E.5
E.17 Tensões nos principais barramentos para cenário IV (perturbação: saı́da do BESS - pa-
norama c/ convencional). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.6
E.18 Potência reactiva para cenário IV (perturbação: saı́da do BESS - panorama c/ convenci-
onal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E.6

xix
xx
Lista de Abreviaturas

IRENA International Renewable Energy Agency

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development

ONU Organização das Nações Unidas

SAE Sistema de Armazenamento de Energia

BESS Battery Energy Storage System

MIDA Máquina de Indução Duplamente Alimentada

PHS Pumped Hidro Storage

FES Flywheels Energy Storage

CAES Compressed Air Energy Storage

FBES Flux Batteries Energy Storage

HESS Hydrogen Energy Storage System

SMES Superconducting Magnetic Energy Storage

DLC Double-Layer Capacitor

TES Termal Energy Storage

PD profundidade de descarga

DC Direct Current

AC Alternate Current

SOC State of Charge

PV Painel Fotovoltaico

ELECTRA Empresa de Electricidade e Água de Cabo Verde

MT Média Tensão

PT Posto de Transformação

xxi
CEFV Central Termoeléctrica de Favetal

SFV Subestação de Favetal

PS Parque Solar

PEVF Parque Eólico Ventos da Furna

PSF Parque Solar da Furna

PSS/E Power System Simulator / Engineering

EPRI Electric Power Research Institute

FACTS Flexible AC Transmission System

VSC Voltage Source Converter

STATCON Static Condenser

MPP Maximum Power Point

STC Standart Test Conditions

Cp coefiente de potência

xxii
Capı́tulo 1

Introdução

1.1 Enquadramento

A energia é um alicerce chave de qualquer paı́s, tendo um contributo crucial para quase todos os
produtos e serviços do mundo moderno. Com a industrialização a energia tornou-se no “combustı́vel”
das civilizações desenvolvidas, em que sem ela seria impossı́vel ter centrais a produzir ou mesmo ter
acesso a desfrutar de comodidades que tornam a nossa vida mais agradável. Assim sendo, o sector
energético é, por si só, capaz de influenciar a vitalidade e sustentabilidade da economia de um paı́s.
Enquanto que, nos paı́ses desenvolvidos o acesso à energia é um dado adquirido, sendo visto como
sustento para a prosperidade económica, nos paı́ses em desenvolvimento a situação é diferente e a
sua importância assume uma outra dimensão, sendo fundamental para a diminuição da pobreza, para
o aumento da saúde e da produtividade e desenvolvimento socioeconómico [1].
O crescimento da procura de energia que temos assistido está directamente associado ao gradual
desenvolvimento global. A melhor prova desse crescimento reflecte-se na procura da electricidade
que cresce a uma taxa mais elevada que qualquer outra forma de energia e que, segundo o World
Energy Outlook 2013, prevê um crescimento de mais de dois terços da procura mundial de electricidade
entre o perı́odo de 2011-2035, o que corresponde a um crescimento anual de aproximadamente 2.2%
[2]. São os paı́ses em desenvolvimento que lideram o incremento da procura de electricidade muito
devido ao rápido crescimento populacional que apresentam. Como resposta a este aumento de procura
energético está inerente um aumento da sua produção de energia e por conseguinte da capacidade
de produção instalada. Aliado a este desenvolvimento energético surge a questão da poluição e do
desequilı́brio de que a Natureza tem sido alvo, em grande parte causado pela utilização excessiva
dos combustı́veis fósseis (carvão, gás e petróleo) enquanto fonte primária de energia. A produção de
energia e a sua consequente utilização são as maiores fontes artificiais de poluentes atmosféricos, que
agravam o efeito de estufa e o aquecimento global. Para além da poluição resultante da utilização de
combustı́veis fósseis, a dependência para produção de energia de combustı́veis cuja taxa de reposição
na natureza é muito inferior à taxa a que são consumidos é um problema inexorável. Noutro plano,
sabe-se que estes recursos energéticos estão sujeitos a questões de natureza geopolı́tica e a variações

1
voláteis dos seus preços.
Por todos estes factores, nas ultimas décadas, muitos têm sido os esforços tidos por entidades
como a Comissão Europeia ou a Organização das Nações Unidas (ONU), entre outras, para que se
estabeleçam estratégias que visam mudar o foco da geração convencional térmica para as energias
renováveis. São vários os paı́ses que se comprometem em cumprir determinadas metas ambiciosas,
que na grande generalidade dos casos, passam por um modelo energético baseado nos seguintes
pilares: a redução de gases de efeito de estufa; o aumento da penetração de energias renováveis na
produção; e o aumento da eficiência energética. Com estas politicas energéticas como orientação,
na Figura 1.1 é possı́vel verificar como foi e como se projecta que seja a distribuição da geração de
electricidade por cada um dos tipos de combustı́vel e tecnologia para os paı́ses desenvolvidos (OECD)
e em desenvolvimento (Non-OECD).

Figura 1.1: Evolução da geração nos paı́ses desenvolvidos e em desenvolvimento [2].

Analisando a Figura 1.1 é claro que a evolução do “mix” energético dos paı́ses desenvolvidos
(OECD) é definitivamente distinta da dos paı́ses em desenvolvimento (Non-OECD). Enquanto que nos
primeiros existe uma clara mudança de paradigma para o abandono progressivo dos combustı́veis fos-
seis (carvão, gás natural e petróleo) em prol das renováveis, nos segundos prevê-se o crescimento de
todas as tecnologias de geração de energia. Em comum, apenas um facto, o de que as energias re-
nováveis em ambos os casos apresentarão a maior taxa de crescimento absoluto, num futuro próximo.
O maior desafio que se coloca então consiste em satisfazer esse crescimento de procura de energia
que enfrentamos de forma segura e ambientalmente consciente. As energias renováveis, principal-
mente as energias eólica, solar e hı́drica têm provado ser uma solução alternativa com potencial na
redução da dependência face aos combustı́veis fósseis bem como na diminuição das emissões de ga-
ses de efeito de estufa, no sector eléctrico mundial. Actualmente, um sistema de geração de energia
que se quer sustentável deve basear-se numa gestão racional das fontes de geração tradicionais face
a uma crescente penetração das energias renováveis. A necessidade de produzir energia em grande
quantidade, aliada ás preocupações ambientais e económicas, segundo a International Renewable
Energy Agency (IRENA), fez de 2015 o ano em que se verificou o maior crescimento de sempre no
sector das energias renováveis com um aumento anual de 8.3% da capacidade instalada a nı́vel mun-
dial [3]. Como evidência deste facto, na Figura 1.2 é possı́vel verificar a evolução detalhada da potência

2
renovável instalada acumulada, para cada uma das tecnologias renováveis, entre 2000 e 2015.

Figura 1.2: Evolução das diferentes tecnologias renováveis entre 2000 e 2015 [4].

Constata-se que nos últimos 15 anos a potência renovável instalada em todo o mundo mais que du-
plicou, apresentando-se em 2015 cerca de 1970 GW de capacidade renovável. Verifica-se igualmente
que apesar de serem os aproveitamentos hidroeléctricos a maior porção de capacidade de potência re-
novável, são as tecnologias eólicas e solares que têm apresentado um maior crescimento nos últimos
anos. A aposta predominante nas energias eólica e solar deve-se principalmente ao facto de serem
das tecnologias renováveis aquelas que apresentam um menor impacto no meio ambiente e que, para
além disso, apresentam rentabilidades do investimento interessantes na grande maioria dos casos e
com flexibilidade e escalabilidade no que há instalação diz respeito.
Com esta “nova” realidade no sistema energético dos paı́ses, e apesar de todas as vantagens que
apresenta em termos económicos e ambientais, o aumento da penetração renovável em grande escala,
devido às suas caracterı́sticas apresenta novos desafios para a rede eléctrica. O facto da velocidade
a que sopra o vento sofrer variações frequentes, assim como a irradiância solar ser intermitente, e
nula no perı́odo nocturno faz com que a potência injectada pelos parques eólicos e solares, respec-
tivamente, tenha um comportamento flutuante de acordo com as variações das respectivas fontes de
energia. É esta natureza intermitente e estocástica da maioria das fontes de energia renovável que se
revela desafiante para o equilı́brio entre geração e carga de forma a não comprometer a estabilidade da
rede. Problemas de estabilidade de frequência e flutuações de tensão da rede causados pela natureza
variável das fontes de energia renovável são os principais distúrbios de que uma rede com elevada
penetração renovável está sujeita. Por outro lado, enquanto a geração tradicional convencional é des-
pachável de acordo com as variações de procura, antagonicamente, os recursos renováveis flutuam de
forma independente da procura podendo o pico de geração não corresponder aos requisitos de carga.
Portanto, de forma a tornar as energias renováveis como fonte primária de energia há que solucionar
os problemas técnicos e práticos causados pela intermitência da sua geração, sendo os sistemas de

3
armazenamento de energia um elemento crucial nesta mudança de paradigma.
Um Sistema de Armazenamento de Energia (SAE) utiliza como princı́pio a conversão da energia
eléctrica noutra forma de energia em que é conservada (quı́mica, mecânica, eléctrica, etc.) para que
possa ser posteriormente utilizada, quando conveniente. Na Figura 1.3 apresenta-se a globalidade de
sistemas de armazenamento em termos de potência instalada por tecnologia, até ao ano de 2014.

Figura 1.3: Percentagem de sistemas de armazenamento instalados até 2014 [5].

Tal como se pode depreender da Figura 1.3 a tecnologia de bombagem hidroeléctrica é responsável
por cerca de 98% da potência de armazenamento instalada no mundo, representando as restantes
tecnologias, como os volantes de inércia (Flywheels), as baterias, os sistemas de armazenamento de
ar comprimido e os sistemas de armazenamento térmicos apenas 2% do total.
A indústria dos sistemas de armazenamento de energia nos últimos anos tem sido alvo de uma
grande investigação e procura, tendo levado a que evoluı́sse e se adaptasse de acordo com os avanços
tecnológicos e com as necessidades energéticas impostas pela crescente integração de geração re-
novável na rede de energia. Aos métodos de armazenamento de energia tradicionais, como as bate-
rias electroquı́micas e os sistemas de bombagem, juntam-se um número de recentes e promissoras
tecnologias que estão em crescimento, e.g. as baterias de fluxo. Existem diversos sistemas de arma-
zenamento, com funcionalidades distintas e que se adequam a diferentes aplicações, tal como será
discutido neste trabalho.
É a capacidade de um sistema de armazenamento de energia de acumular energia quando em
excesso de forma a que possa ser gerida a sua posterior utilização quando for necessária, que confere à
rede energética a resiliência que escasseia num sistema com elevada penetração renovável. Assim,por
exemplo, a energia produzida em perı́odos de vazio, de baixo custo de produção e através de fontes
intermitentes pode ser acumulada num SAE e posteriormente utilizada em perı́odos de ponta onde
os custos são mais elevados, ou quando não existe geração suficiente disponı́vel. Os sistemas de
armazenamento são vistos actualmente como parte integrante e indispensável de um sistema com
penetração renovável elevada que se quer fiável e eficaz, de forma a precaver e auxiliar possı́veis
instabilidades na rede e a aumentar a eficiência e produtividade da mesma.
Existem já provas dadas do sucesso atingido por algumas das tecnologias de armazenamento de
energia que se encontram instaladas em sistemas com elevada capacidade de energia renovável insta-

4
lada, por todo o mundo. Um exemplo disso é o parque eólico de Laurel Mountain, no estado de Virginia
Ocidental, de potência instalada 98 MW em que foi instalado um sistema de baterias de lı́tio com uma
potência nominal de 32 MW e capacidade de 8 MWh, com o intuito regular frequência e de contribuir
para o aumento da integração de renováveis na rede. Este projecto foi reconhecido como projecto do
ano, em 2011, pela Renewable Energy World [6]. Este é apenas um exemplo de sucesso que comprova
que é possı́vel estabelecer as condições necessárias para a crescente integração de fontes renováveis
no sistema eléctrico em paralelo com sistemas de armazenamento de energia.
Com foco num futuro ambiental e economicamente sustentado, a utilização de sistemas de arma-
zenamento de energia em sintonia com os aproveitamentos renováveis permite a integração destes de
forma segura, flexı́vel e fiável, constituindo um importante elo de ligação entre a produção renovável e
as necessidades de consumo de energia eléctrica, podendo-se assim começar a idealizar no horizonte,
um futuro 100% renovável.

1.2 Motivação e objectivos

Com o aumento da penetração renovável no sistema eléctrico existe a necessidade de complementar


com sistemas de armazenamento de energia, dada a natureza estocástica da produção renovável e das
instabilidades que tal pode provocar na rede. Por isso, actualmente é grande a pesquisa e execução de
projectos por todo o mundo, que visam a instalação de SAEs com o fim de aprimorar o comportamento
das redes eléctricas, permitindo aumentar a penetração renovável, minimizar custos e aperfeiçoar o
desempenho energético.
O continente Africano tem estado a ultrapassar um perı́odo de transformação e crescimento económico.
A população está a crescer a um ritmo acelerado e as economias locais estão a diversificar-se e a
desenvolverem-se. Para que este crescimento seja sustentável, o investimento em projectos no sector
energético tem sido avultado. Uma vez que estamos perante um território rico em recursos renováveis
o potencial para o aproveitamento das energias renováveis é elevado, sendo esse o caminho que tem
sido adoptado recentemente [7].
Contudo, esta mudança de paradigma sem precedentes não é possı́vel de acontecer sem a existência
de alguns esforços. Desenvolver infra-estruturas que suportem o investimento e definir politicas e me-
tas ambiciosas para o sector energético, são algumas das medidas que têm sido tomadas pelos lideres
polı́ticos dos paı́ses africanos, com cooperação regional e internacional.
Cabo Verde é um desses paı́ses africanos que tem apostado na mudança e no qual se centra este
estudo. É nesse sentido que o governo cabo-verdiano assumiu politicamente a visão de em 2020
atingir uma taxa de penetração de energias renováveis de 50% no consumo de energia eléctrica no
arquipélago de Cabo Verde, tal como apresentado no documento “Plano Energético Renovável para
2020” [8], cuja análise técnica foi realizada pela empresa de consultoria Gesto Energia, em 2011. Se-
gundo este documento, Cabo Verde possui um potencial estimado de 2600 MW de energias renováveis
que serão fundamentais para o desenvolvimento de novos projectos que ajudarão não só a satisfazer
o aumento do consumo de electricidade que se espera que duplique até 2020, mas também a diminuir

5
a dependência dos combustı́veis fósseis, que é uma das principais dificuldades sentidas pelo sector
eléctrico da ilha. Nos estudos efectuados provou-se ser possı́vel ultrapassar a meta dos 50% de taxa
de penetração renovável na produção de electricidade, em Cabo Verde até 2020 de forma tecnicamente
viável e economicamente competitiva, desde que não seja descorada a necessidade de financiamento
e de criação de infra-estruturas de suporte. O plano de acção para as ilhas de Cabo Verde prevê, até
2020, instalar mais de 140 MW de energias renováveis com auxilio a um plano de investimentos que
ronda os 300 milhões de euros, que permitirá poupar cerca de 37 milhões de euros em importação de
combustı́veis fosseis e cerca de 225.000 toneladas de emissões de CO2 [8].
No caso da menor das ilhas de Cabo Verde, a ilha Brava, sobre a qual se vai desenvolver esta
dissertação, o plano energético traçado para 2020 é algo mais ambicioso. Até 2020, pretende-se que
a ilha Brava se torne 100% renovável. Para que tal seja alcançável é necessário dimensionar e instalar
um sistema de armazenamento de energia que permita assegurar a sustentabilidade energética da ilha
da Brava, integrado um parque solar e outro eólico que serão instalados para satisfazer o consumo
eléctrico da ilha.
É no âmbito deste projecto para a ilha da Brava que surge a dissertação ”Tecnologias de arma-
zenamento de energia para sistemas 100% renováveis de média dimensão”, proposta pela consultora
Gesto Energia, S.A., que tem como objectivo central o de modelar a rede eléctrica da ilha da Brava e
de estudar em regime estacionário e dinâmico a influência da implementação de um sistema de arma-
zenamento de energia (bateria) adequado para suportar a penetração renovável prevista para a ilha no
ano de 2020, averiguando-se a estabilidade de um panorama 100% renovável. Os estudos efectuados
foram realizados utilizando o programa de simulação de redes de energia PSS/E, onde é possivel si-
mular o trânsito de energia da ilha e definir modelos para todos os sistemas da rede de forma a simular
o seu comportamento dinâmico. Assim sendo, com os resultados técnicos obtidos nesta dissertação
será possı́vel averiguar qual será o impacto do sistema de armazenamento de energia na rede e como
se projecta que seja a rede eléctrica da ilha da Brava no ano de 2020.

1.3 Estrutura do documento

A presente dissertação encontra-se estruturada em seis capı́tulos e um conjunto de 5 anexos que lhes
seguem.
O Capı́tulo 1 expõe de forma geral uma primeira abordagem ao conteúdo que vai ser apresentado na
tese, enquadrando a importância dos SAEs na crescente penetração das energias renováveis nas redes
eléctricas, não só no caso de Cabo Verde mas numa perspectiva global. À parte do enquadramento é
feita uma introdução do caso de estudo e são expostos os principais objectivos do trabalho.
O Capı́tulo 2 é constituı́do por fundamentos mais teóricos acerca dos SAEs, nomeadamente das
baterias. Inicialmente são exposto os principais problemas operacionais que advêm da integração
crescente de energias renováveis nas redes isoladas e são apresentadas algumas soluções para os
contrariar. Sendo a principal solução e aquela que é abordada nesta dissertação os SAEs, aqui es-
tes são apresentados no que diz respeito às suas principais caracterı́sticas e aplicações. Por fim,

6
apresentam-se as baterias de forma mais detalhada com foco nas suas caracterı́sticas técnicas do
ponto de vista do utilizador e não do fabricante.
No Capı́tulo 3 apresenta-se o caso de estudo. É apresentada a rede da Ilha da Brava em 2015 e
são identificados os projectos que segundo [8] serão implementados. De seguida, é feita a previsão
de carga para 2020 e é apresentado um novo planeamento com novas propostas de projectos cuja
implementação se considera mais adequada face à nova previsão de carga apresentada para a ilha da
Brava em 2020.
O Capı́tulo 4 é responsável por apresentar ao leitor a forma como foi implementado e modelizado
o caso de estudo no programa de simulação PSS/E. Neste expõe-se o modo como a rede da ilha é
introduzida no programa e são apresentados os modelos que caracterizam o comportamento dinâmico
de cada um dos constituintes da rede, desde as unidades de geração (incluindo a bateria) até às
protecções utilizadas. O maior foco deste capı́tulo situa-se na apresentação do modelo que caracteriza
a bateria, apresentando-se as suas principais caracterı́sticas em regime estacionário e dinâmico. O
método como é efectuado o dimensionamento da bateria é igualmente demonstrado neste capı́tulo.
No Capı́tulo 5 são apresentados e analisados os resultados das simulações efectuadas para a ilha
da Brava quer em regime estacionário quer em regime transitório. Inicialmente são apresentados os
cenários e os panoramas que foram escolhidos para ser alvo de estudo. Posteriormente, apresenta-
se a resposta do trânsito de energia em regime estacionário para cada um destes. Relativamente à
resposta dinâmica são apresentadas todas as perturbações estudadas em regime transitório e procede-
se à analise detalhada do comportamento da rede perante cada uma das 4 contigências estudadas,
aferindo-se a importância da bateria na estabilidade da rede.
Por fim, no Capı́tulo 6 são apresentadas as principais conclusões do trabalho desenvolvido nesta
dissertação, sendo igualmente propostos alguns estudos futuros que seriam interessantes explorar no
âmbito desta tese.

7
Capı́tulo 2

SAEs para integração de renováveis


no sector energético

Na secção 2.1 procede-se à identificação e caracterização dos problemas operacionais que são con-
sequência da crescente integração de energias renováveis nos sistemas eléctricos, nomeadamente nas
redes isoladas, como é o caso particular das ilhas.
Na secção 2.2 exploram-se algumas soluções existentes que permitem mitigar os problemas indu-
zidos pela intermitência renovável, com o foco centrado nos SAEs.
Por sua vez, na secção 2.3 apresentam-se as baterias como sendo o SAE que actualmente está
a apresentar um maior crescimento e a revelar-se como uma das soluções mais interessantes para
integrar renováveis em sistemas eléctricos de pequena/média escala.

2.1 Energias renováveis em redes insulares e problemas operaci-


onais

A pressão ambiental e as preocupações económicas no sector eléctrico têm resultado no crescimento


do interesse em investir nas energias renováveis, nomeadamente nas energias eólica e solar. Assim
a crescente contribuição das fontes renováveis variáveis na produção de electricidade em sistemas de
energia é uma realidade com a qual estes têm estado a lidar. No caso especı́fico dos sistemas eléctricos
isolados, como é o caso das ilhas, é muitas vezes interessante apostar no investimento nas renováveis,
por estas serem regiões frequentemente ricas em recursos renováveis, portanto com um grande poten-
cial. Para além disso, maioria destes sistemas possui uma grande dependência da produção térmica
convencional, não sendo a ilha da Brava excepção, em que o fornecimento de energia eléctrica é ga-
rantido predominantemente por grupos combustão térmica alimentados a diesel ou a fuelóleo, o que
conduz a custos de produção elevados devido à necessidade de transportar os combustı́veis fósseis até
estas regiões remotas. Para além disso, a pegada ambiental é afectada pela utilização de combustı́veis
fósseis no sector energético. Por todos estes factores tem-se assistindo ao aumento da penetração

8
renovável no mix energético dos sistemas electroprodutores insulares.
Tal factor introduz um grau significativo de incerteza na operação e planeamento dos sistemas pro-
dutores de electricidade para além de aumentar a possibilidade de ocorrência de problemas operaci-
onais nos sistemas eléctricos renováveis face à integração de produção de origem variável e incerta.
Estas questões tomam ainda uma dimensão maior quando em questão, estão sistemas de energia re-
motos e/ou isolados como é o caso das ilhas onde, por norma, estes sistemas apresentam uma inércia
baixa, resultante da totalidade das suas máquinas rotativas. Para além disso, regra geral, não apresen-
tam quaisquer interligações com outros sistemas, o que faz com que o controlo da rede seja limitado
e com que exista carência de flexibilidade da maioria dos activos da rede [9]. Estas limitações tornam
a rede mais vulnerável à ocorrência de problemas de estabilidade de frequência e de flutuações de
tensão que deterioram a qualidade do serviço.
É evidente que a introdução crescente de renováveis na rede, e principalmente nas redes isoladas,
cria desafios operacionais nestas. A operação segura e estável dos sistemas eléctricos é influenci-
ada nas redes insulares pela reduzida inércia dos sistemas devido ao reduzido número de máquinas
sı́ncronas convencionais em serviço e consequente escassez de reserva girante (diferença entre a
potência activa que um grupo está a fornecer e o seu limite máximo imposto pelas suas especificações
técnicas). Tais caracterı́sticas, aliadas à inexistência de interligações limitam auxilio na regulação
primária de frequência. A estas particularidades tı́picas de uma rede insular adicionam-se os incon-
venientes adjacentes à integração de fontes renováveis nestes sistemas. Estes inconvenientes estão
geralmente associados à natureza estocástica e inconstante da produção renovável devido à variabi-
lidade das fontes renováveis, como a velocidade do vento ou a irradiância solar. Este funcionamento
provoca, por exemplo, a necessidade permanente de grupos convencionais em serviço de forma a
acomodar a variação de produção renovável e/ou a variação de carga.
Adicionalmente, os aproveitamentos renováveis (exceptuando o hı́drico controlável) não contribuem
para a inércia total dos sistemas eléctricos, fundamental na resposta inercial adequada da rede aquando
da ocorrência de perturbações que resultam na perda de geração e/ou transmissão. Isto ocorre porque
estas fontes renováveis são ligadas à rede através de electrónica de potência (conversores). Também
o facto de as fontes renováveis, como a eólica e solar não serem controláveis, o que significa que
funcionam à potência disponı́vel que o recurso renovável e as limitações técnicas impõem, faz com
que estes aproveitamentos não possuam margem operacional de reserva. Tal caracterı́stica impede a
contribuição no controlo primário de frequência, sendo este remetido para as máquinas sı́ncronas em
serviço.
Adicionalmente, um sistema eléctrico com elevada penetração renovável dificulta a realização efi-
caz do pré-despacho. Este consiste no planeamento das estratégias de operação óptimas para um
determinado horizonte temporal, com base em factores económicos e técnicos que visam um sistema
de geração o mais sustentável e seguro possı́vel [10].
Todos estes argumentos são contraproducentes relativamente ao objectivo de tornar as renováveis
como fonte primária de energia e como tal começaram a surgir soluções técnicas que visam mitigá-los
de forma a que seja possı́vel introduzir geração renovável no sistema electroprodutor de forma segura,

9
sustentável e económica. Desde o desenvolvimento de técnicas de previsão mais complexas e precisas
que permitem reduzir os erros cometidos no pré-despacho [11], até ao aumento da geração de back-up
despachável de forma a aprimorar a capacidade de resposta do sistema aquando da ocorrência de
uma contigência. Embora as soluções sugeridas acima sejam capazes de resolver alguns dos desafios
apresentados pelas energias renováveis variáveis, são incapazes de mitigar todos os problemas por
elas impostos. Os sistemas de armazenamento de energia apesar de onerosos, começaram a surgir
então como um desfecho alternativo quase que inevitável para a resolução de muitas das adversidades
impostas pela variabilidade renovável.
Na secção seguinte explora-se de forma mais detalhada o surgimento dos sistemas de armazena-
mento de energia como resposta à crescente penetração de fontes renováveis no sistema electropro-
dutor e apresentam-se as suas principais caracterı́sticas e aplicações. Apresenta-se também como
solução a participação das renováveis nos serviços de regulação, sendo também uma estratégia utili-
zada actualmente, apesar de não ser alvo de grande desenvolvimento neste documento.

2.2 Soluções face aos problemas operacionais

2.2.1 Fontes de energia renovável e regulação

A inércia de um sistema apresenta um papel extremamente importante uma vez que é esta que deter-
mina a sensibilidade da frequência do sistema para suportar os desequilı́brios entre geração e procura,
nos primeiros instantes após a perturbação. No caso das redes isoladas, caracterizadas por sistemas
eléctricos pequenos, tal como já referido apresentam uma inércia total reduzida. Consequentemente,
maiores e mais rápidas serão as variações na frequência aquando da ocorrência de uma perturbação
[12].
Com a crescente introdução de turbinas eólicas e painéis fotovoltaicos nos sistemas electropro-
dutores isolados em detrimento de geração convencional sı́ncrona, há que ter noção que, caso não
sejam adoptadas as caracterı́sticas electromecânicas adequadas e as estratégias de controlo certas
a resposta inercial do sistema acaba afectada podendo resultar no aumento das taxas de variação de
frequência e em excursões de frequência maiores.
Como tal surgiram soluções de controlo que visam tornar os aproveitamentos renováveis, parte inte-
grante nas estratégias de controlo de frequência e de tensão. Estas estratégias quer para os geradores
eólicos quer para os sistemas fotovoltaicos baseiam-se no princı́pio de limitar a potência extraı́da des-
tes, fazendo com que os aproveitamentos não operem em função dos pontos de extracção óptimos de
potência, mas sim num ponto de menor potência. Com esta adoção permite-se assim uma determinada
reserva mobilizada para serviços de regulação. Alguns autores apresentam em [12, 13, 14] detalha-
damente as estratégias adoptadas para que exista cooperação por parte das energias renováveis nos
serviços de regulação.
Em [12, 13] apresentam-se estratégias para o controlo primário de frequência e tensão por parte
dos aerogeradores, nomeadamente, pelas turbinas eólicas de velocidade variável como é o caso das

10
MIDAs. Nas MIDAs o rotor está ligado à rede através de um conversor AC/DC/AC enquanto que o
estator se encontra directamente ligado à rede. Por sua vez, a potência injectada por uma máquina
deste tipo corresponde à soma das potências que atravessam o rotor e o estator. Assim, aquando
da ocorrência de desvios de frequência do sistema, qualquer resposta inercial por parte das MIDAs
dependerá da relação existente entre o binário electromagnético do aerogerador e a frequência da rede
[12].
Em [13] apresentam-se duas técnicas especificas que são adoptadas para que as MIDAs possam
providenciar contributo para o controlo da frequência do sistema: o controlo inercial e o controlo por
estatismo (controlo carga-velocidade). O controlo inercial baseia-se numa realimentação suplementar
de controlo de inércia que aproveita a energia cinética armazenada nas massas girantes das pás das
turbinas eólicas, de tal modo que a quantidade adicional de energia fornecida pelo aerogerador é pro-
porcional ao desvio de frequência[13]. Por sua vez, o controlo carga-velocidade é utilizado para produzir
uma variação na injecção de potência activa proporcional à diferença entre a frequência medida num
determinado barramento da rede e a frequência nominal do sistema [13]. O controlo do comportamento
do aerogerador pode então estar associado a uma resposta veloz associada ao controlo do conversor
electrónico e do gerador eléctrico e a uma resposta mais demorada que consiste no controlo do ângulo
de pitch, permitindo assim o ajuste da potência mecânica da turbina.
Em [14] apresenta-se um caso de estudo em que são utilizados sistemas fotovoltaicos com capa-
cidade para participar em serviços de regulação. A estratégia utilizada consiste em fazer com que o
sistema ao invés de operar no ponto de máxima potência, funciona a uma tensão superior à de máximo,
o que corresponde a uma potência menor do que a óptima, permitindo assim obter um nı́vel de reserva
que pode ser utilizado para mitigar problemas impostos pela variabilidade renovável ou por oscilações
de procura.
A participação das energias renováveis nos serviços de regulação prova então ser uma solução
capaz e com potencial principalmente em sistemas eléctricos isolados, contudo existem problemas as-
sociados com considerações económicas. O facto destas estratégias abdicarem da potência disponı́vel
que pode ser retirada dos aproveitamentos renováveis em prol de uma reserva de potência, faz com que
o retorno do investimento obtido por parte dos proprietários dos aproveitamentos eólicos e/ou solares
venha a ser afectado por não ser aproveitado o potencial máximo renovável disponı́vel.

2.2.2 Sistemas de armazenamento de energia (SAEs)

2.2.2.1 Introdução

Os SAEs começaram a emergir no inicio do século 20, sendo que a primeira manifestação da utilização
de um SAE está associada ao uso de acumuladores de ácido-chumbo (PbA) para suportar as cargas
residuais das redes de corrente continua, nos perı́odos nocturnos, quando as centrais electroprodutoras
não se encontravam em serviço [15]. Com o desenvolvimento crescente da indústria da produção e
distribuição de electricidade e com a gradual consciencialização por parte das empresas de serviços
públicos, nomeadamente do sector eléctrico, da importância que a flexibilidade que um SAE pode

11
fornecer à rede, fez com que a instalação de sistemas de armazenamento começasse a crescer e a
tornar-se parte integrante da rede de energia.
No entanto, actualmente, o interesse no investimento e aplicação prática de SAEs beneficiou de um
grande estı́mulo. Factores como a crescente penetração renovável, a pressão ambiental e económica
e a dependência cada vez mais vincada da electricidade na indústria e no dia-a-dia são responsáveis
por esse impulso. Aliado a estes, a exigência de manter a qualidade de serviço quer na produção,
quer na distribuição de electricidade beneficia do desenvolvimento tecnológico associado aos SAEs
conseguindo assim apresentar melhores caracterı́sticas técnicas a um menor custo. Todos estes fac-
tores tornam os SAEs numa aposta aliciante no desenvolvimento de um sector energético sustentável,
menos poluente e economicamente viável.
De uma forma geral, os SAEs surgem como factor crucial para que a as fontes de energia renovável
possam ser encaradas como fontes primárias de energia fiáveis, sendo a potencial solução para muitos
dos problemas operacionais já apresentados na Secção 2.1. Estes consistem em sistemas capazes
de converter energia eléctrica e armazená-la sob uma outra determinada forma (magnética, quı́mica,
térmica, entre outras) para posterior uso, num momento em que seja mais proveitosa a sua aplicação.
A variabilidade da produção renovável pode ser ultrapassada através de um SAE conveniente, que per-
mita a gestão da energia e assim promover o seu uso de forma eficiente, incentivando o investimento.
O fundamento principal de um SAE é o de lidar com a intermitência da geração renovável procedendo
ao armazenamento da energia renovável quando esta excede a procura (por norma, no vazio) e poste-
riormente utilizar a energia armazenada para cobrir os perı́odos em que a carga é superior à geração
intermitente (por norma, na ponta).
Os sistemas de armazenamento podem ser categorizados de acordo com uma série de carac-
terı́sticas distintas que apresentam entre si e que como tal, fazem com que cada SAE seja indicado
para diferentes aplicações. Assim sendo, os SAEs podem ser classificados quanto à forma com que a
energia é armazenada e quando à função principal que desempenham. Em termos de forma com que
a energia é armazenada os principais sistemas de armazenamento de energia podem ser organizados
tal como apresentado na Figura 2.1.

Figura 2.1: Categorização dos SAEs quanto à forma de armazenamento. adaptado de [16]

Por outro lado, os SAEs podem ser classificados em duas categorias genéricas, em função da

12
aplicação a que se destinam, isto é, se são SAEs de elevada energia ou SAEs de elevada potência. Os
primeiros possuem funções direcionadas para a gestão de energia associadas à redução dos custos de
exploração do sistema eléctrico, ajudando à rentabilidade dos sistemas electroprodutores. Os segundos
apresentam funções relacionadas com a qualidade de serviço associadas à produtividade, segurança
e confiabilidade da energia eléctrica, fornecendo benefı́cios técnicos ao funcionamento operacional dos
sistemas electroprodutores. Os PHSs, CAESs, baterias de grandes dimensões e os TESs são por
norma SAEs de elevada energia, enquanto os FESs, SMESs, DLCs e baterias são vulgarmente SAEs
de elevada potência.
A descrição detalhada de cada um destes sistemas de armazenamento de energia sai fora do âmbito
do presente documento, contudo muitos são os estudos já realizados por diversos autores comparando
os SAEs existentes, as suas principais caracterı́sticas e aplicações (ver [16, 17, 18, 19]). Com base
nessa bibliografia é possı́vel apresentar a Tabela 2.1 que resume de forma sucinta e clara as principais
caracterı́sticas de cada um dos SAEs.

2.2.2.2 Principais Caracterı́sticas

Como ficou patente anteriormente, existe uma vasta gama de diferentes tecnologias para armazenar
energia eléctrica. Contudo, diferentes aplicações com diferenciados requisitos requerem diferentes
caracterı́sticas por parte dos SAEs. Uma análise de uma perspectiva técnica, económica e ambiental
é fundamental para a escolha criteriosa da tecnologia de armazenamento indicada. Assim sendo,
apresenta-se de seguida as principais propriedades que devem ser analisas na escolha apropriada de
um SAE:

• Rendimento - Para avaliar o rendimento de um SAE há que ter em consideração o ciclo completo
de funcionamento: carga, armazenamento e descarga (Figura 2.2). Também há que contabilizar
as perdas dos sistemas de conversão de energia. Este é dos factores mais importantes para a
apreciação da viabilidade económica, uma vez que, é necessário perceber que existem perdas
durante o processo de carga/descarga, que afectam o rendimento e por sua vez, a produtividade.

Figura 2.2: Eficiência e perdas num SAE [25].

• Durabilidade - Refere-se ao tempo de vida útil de um SAE que pode ser medido em anos ou

13
Tabela 2.1: Caracterı́sticas técnicas tı́picas dos diferentes SAEs
[10, 15, 20, 21, 22, 23, 24].
Tecnologias Potência Capacidade Energ. Pot. Custo Custo por Tempo Número Rendimento Tempo Tempo de Auto- Tempo
SAE Nominal Arm. Especı́fica Especı́fica por potência vida Ciclos de [%] de Res- descarga descarga Arm.
[MW] [MWh] [Wh/kg] [W/kg] energia [$/kW] útil Vida posta adequado
[$/kWh] (anos)
PHS 100-5000 0.5-24000 0.5-1.5 - 5-100 2000-4300 30-60 >20000 65-85 seg-min 1hr-24h+ Minimo hrs-meses
CAES 0.003-1000 400-7000 30-60 - 3- 150 800-1300 20-40 104 -3x104 40-75 seg-min 1hr- 24h+ Minimo hrs-meses
FES 0.1-20 <5 5-100 400-1600 800- 250-350 >15 105 -107 80-95 ms seg-15min Muito alta sec-min
5000 (20% por
hora)
Tecno. Baterias Secundárias (BESS)

PbA <40 0.001-40 25-50 75-300 50-400 300-600 ∼13 600-1800 70-85 ms <6hr Baixa min-dias
(0.2% por
dia)
NiCd <45 ∼6.75 50-75 100-150 800- 500-1500 ∼15 2000-4500 60-70 ms <8hr Baixa min-dias
1500 (0.6% por

14
dia)
Li-ion <50 <50 75-200 100-500 600- 900-4000 ∼15 1000-104 80-97 ms <8hr Baixa min-dias
2500 (0.3% por
dia)
NaS <34 <250 150-240 90-230 300-500 1000-3000 ∼15 2500-4500 75-85 seg <1hr Minimo hrs-dias
FBES <10 <120 10-50 50-150 150- 600-2500 ∼10 1000-104 65-85 ms <20hr Muito hrs-meses
1000 baixa
HESS <50 <200 100-1000 5-500 2-15 1500-3000 ∼20 >10000 30-50 ms-seg min-hrs Muito hrs-meses
baixa
DLC <0.3 <3 1-30 500-5000 300- 100-300 ∼15 ∼ 106 85-95 ms seg-min Muito alta sec-hrs
2000 (40% por
dia)
SMES <100 <0.25 10-75 500-2000 2000-104 200-300 20-30 104 − 105 85-90 ms ms-seg Alta (10% min-hrs
por dia)
TES <300 <2000 80-250 10-30 3-60 200-300 10-25 2000- 30-60 seg-min hrs Baixa (1% min-dias
14600 por dia)
número de ciclos. Este muitas vezes é influenciado por factores como a profundidade de des-
carga e/ou a temperatura de funcionamento. Este é também um dos factores importantes para a
viabilidade económica do sistema de armazenamento.

• Densidade de potência/energia e potência/energia especı́fica - São factores que permitem


obter uma avaliação acerca da relação potência/energia e das dimensões e peso de uma dada
solução.

• Tempo de resposta e tempo de descarga - Existem aplicações que exigem sistemas de arma-
zenamento com tempos de resposta quase instantâneas, enquanto outras não têm uma exigência
tão grande relativamente ao tempo de resposta, como por exemplo aplicações de elevada ener-
gia. O tempo de descarga está associado ao tempo que o sistema de armazenamento demora
até descarregar toda a sua energia armazenada a funcionar à potência nominal.

• Capacidade de armazenamento - Mais uma vez esta é uma caracterı́stica que depende da
aplicação pretendida. Caso se trate de uma aplicação de potência entregando-a em perı́odos
curtos, a capacidade de armazenamento não tem que ser muito elevada. Em aplicações que
requerem o fornecimento de energia durante longos perı́odos, um SAE com elevada capacidade
de armazenamento é o indicado.

• Auto-descarga- Indica a descarga que o SAE sofre quando se encontra na fase de armazena-
mento de energia, isto é, descreve a capacidade do sistema de armazenamento em manter a
energia armazenada quando se encontra em vazio, sendo este parâmetro relevante para a viabi-
lidade económica do sistema.

• Custo de investimento- É um dos factores com mais peso na hora de escolha do SAE. Este
pode ser apresentado por unidade de energia ou de potência para que possa ser comparado
entre diferentes tecnologias.

Assim sendo com base nestas caracterı́sticas, uma análise sucinta das diferentes tecnologias de
SAEs é conduzido na Tabela 2.1 fornecendo assim alguns dados retirados a partir da pesquisa bibli-
ográfica efectuada no decorrer deste trabalho, que espelham o posicionamento dos diferentes SAEs
em termos de desempenho e caracterı́sticas.
Na Figura 2.3 apresenta-se a comparação das potências nominais e das capacidades de armaze-
namento tı́picas de diferentes tecnologias de SAEs. Também é possı́vel observar na figura o tempo
de descarga à potência nominal. Os pontos marcados na figura correspondem a dados de instalações
reais que se encontram documentadas em [20].
Como é possı́vel observar quer pela Tabela 2.1 quer pela Figura 2.3, o tempo de descarga à potência
nominal é tipicamente menor que 1 hora para as tecnologias FES, DLC, SMES e algumas baterias que,
por sua vez, são SAEs que estão intimamente associados a aplicações que visão garantir a qualidade
de serviço dada as suas elevadas potências nominais tı́picas e rápidos tempos de resposta. Por outro
lado, existem a grande maioria das baterias que demoram menos de 10 horas a serem totalmente des-
carregadas e tecnologias como os TES, CAES e PHS que demoram mais do que esse mesmo tempo

15
Figura 2.3: Potência nominal vs capacidade de armazenamento de diferentes SAEs.[20]

a estarem totalmente descarregadas podendo mesmo alcançar alguns dias, e por isso são sistemas
tipicamente utilizados em aplicações de gestão de energia.
Quanto à densidade de potência e energia quanto maior for o seu valor para uma determinada
tecnologia SAE significa que menor é o volume requerido pelo sistema de armazenamento. Verifica-se
que sistemas de armazenamento como o PHS ou o CAES apresentam valores baixos, enquanto grande
parte das baterias apresentam valores altos, principalmente o caso das baterias de iões de lı́tio (Li-ion)
que apresentam densidade de energia e potência ambas altas, o que leva à sua utilização generalizada
em dispositivos portáteis e confere um potencial promissor na industria dos veı́culos eléctricos e outras
aplicações para SAEs de pequena/média escala.
O rendimento, por sua vez, tal como já referido, é um dos factores mais importantes pois tem um
grande impacto na viabilidade económica de um sistema dotado com um SAE. Pela Tabela 2.1 é
possı́vel verificar que as tecnologias que apresentam uma menor eficiência são, tipicamente, os TESs,
CAESs e HESSs que podem apresentar eficiências menores que 50%. Em oposição, as tecnologias
com eficiências energéticas mais interessantes são as baterias, em especial, as de lı́tio e as tecnologias
SMESs e DLCs. Também, a auto-descarga é um factor determinante na definição de um SAE para
os diferentes tipos de aplicações, dado que, o nı́vel de auto-descarga de cada uma das tecnologias
determina o tempo de armazenamento adequado, em vazio. Assim, tecnologias como PHS, PHS,
baterias de NaS, FBES, HESS são soluções tecnicamente viáveis para armazenamento de energia de
longa duração dado que apresentam nı́veis de auto-descarga muito baixos. Ao invés, tecnologias como
SMES, FES e DLC apresentam elevada auto-descarga diária e como tal, apenas podem ser utilizadas
para aplicações de armazenamento de energia de curta duração, nomeadamente, aquelas que visam
garantir a qualidade de serviço.
O tempo de vida útil e o número de ciclos de vida são dois dos factores que afectam o custo total
de investimento num SAE. Tempo de vida curto e número reduzido de ciclos de vida aumentam cus-

16
tos relacionados com a operação e manutenção bem como os custos de substituição [20]. De uma
forma generalizada, pode-se verificar pela Tabela 2.1 que o tempo de vida útil e o número de ciclos
é comparável entre tecnologias com a mesma forma de armazenamento de energia, sendo que os
mecânicos e eléctricos são aqueles que apresentam maior número de ciclos de vida, enquanto que os
electroquı́micos são os que apresentam menor número de ciclos. Tal facto deve-se principalmente à
deterioração quı́mica resultante do tempo de operação acumulado.
Por fim, importa abordar também os custos associados a cada tecnologia de SAE bem como os
custos de operação e manutenção. Os custos de tecnologias cujo grau de maturidade tecnológica
e comercial é menor tendem a ser mais avultados. Tecnologias como SMES ou FES apresentam
elevado custo em termos de capacidade de energia por serem sistemas de armazenamento que são
indicados para aplicações de elevada potência, como tal, apresentam um custo por potência barato face
às restantes tecnologias. Verifica-se que os custos em termos de capacidade de energia para sistemas
como PHS e CAES são reduzidos por estes apresentarem elevada capacidade de armazenamento.
Importa referir que o custo de investimento de um determinado SAE varia de acordo com a escala de
tempo de construção e com o tamanho e localização do mesmo [20].

2.2.2.3 Aplicações

Com base nas caracterı́sticas técnicas apresentadas anteriormente é possı́vel dividir os SAE em três
grandes categorias de aplicação na rede de energia eléctrica: aplicações de gestão de energia, de
sobrevivência a fenômenos transitórios e de qualidade de serviço [22].
Nas aplicações relacionadas com a gestão de energia aquilo que se pretende é desacoplar os
perı́odos de geração dos de consumo de energia eléctrica e optimizar o uso de energia, através da
capacidade de armazenamento durante longos perı́odos. As principais aplicações que se inserem
nesta categoria de gestão de energia são:

• Deslocamento temporal de energia (Time Shifting) [20] - consiste no armazenamento de energia


quando esta é mais barata (vazio) e posterior utilização/venda nos perı́odos em que economica-
mente é mais favorável (ponta) podendo assim evitar o accionamento de grupos térmicos;

• Nivelamento de carga - consiste na utilização de um SAE apropriado que permita balancear as


flutuações tı́picas da procura de electricidade, podendo assim ser suavizada a curva própria de
um diagrama de carga;

• Gestão de Ponta - consiste numa estratégia operacional que permite que um SAE utilize a energia
armazenada em perı́odos fora da ponta para que depois possa compensar a geração eléctrica
durante o perı́odo de máxima procura.

Os SAEs com caracterı́sticas mais indicadas para este tipo de aplicações são aqueles que apresen-
tam elevadas capacidades de armazenamento como os PHS, CAES e TES para sistemas de elevadas
dimensões, enquanto para sistemas de médias/pequenas dimensões as baterias são a tecnologia mais
indicada para desempenhar tais funções [20].

17
As aplicações de sobrevivência a fenômenos transitórios estão associadas a todo o tipo de aplicação
que requer que entre um sistema de armazenamento, num curto/médio perı́odo de tempo, de forma
a manter a continuidade do serviço. São apropriados SAEs que são capazes de suportar um corte
temporário de potência não interrompendo o fornecimento de electricidade aos consumidores [26]. As
principais aplicações que se inserem nesta categoria são:

• Reserva Girante - consiste numa estratégia operacional que permite que um SAE possua uma
reserva de potência, tal como ocorre frequentemente na geração convencional, para poder ba-
lancear a carga/geração. Permite servir de back-up numa contingência que provoque perda de
geração ou no aumento inesperado de carga.

• Regulação de frequência e tensão - consiste na utilização de um SAE que auxilie no controlo


da frequência e/ou tensão através da regulação da potencia activa e reactiva injectadas e/ou
absorvidas.

Como tal, um SAE com considerável capacidade de injectar potência durante perı́odos de até alguns
minutos e capacidade cı́clica é essencial. Assim sendo, para tais aplicações os SAEs indicados são
principalmente as baterias e as FESs.
Por último, as aplicações relacionadas com a qualidade de serviço são aquelas que requerem o for-
necimento/armazenamento de energia de forma rápida e durante curtos perı́odos, de forma a manter
a tensão e frequência dentro dos limites requeridos para que se mantenha a estabilidade e eliminando
picos, harmónicas ou cavas no serviço, mantendo a qualidade da energia fornecida. Assim, a so-
brevivência a cavas de tensão, o suporte de regulação e controlo da tensão e frequência podem ser
satisfeitos por um SAE com um tempo de resposta rápido e capacidade de injectar potência em quan-
tidades elevadas numa escala de tempo na ordem dos milissegundos, como é o caso das FES, SMES,
DLC e de algumas baterias.
Em suma, é possı́vel dizer que existem uma gama de factores a serem ponderados aquando da
decisão de seleccionar o SAE para integrar num sistema eléctrico. É claro que não existe um único
SAE qualificado para atender todos os requisitos impostos pela penetração renovável e necessidade de
mitigação das intermitências do sector eléctrico. Numa perspectiva geral apresentaram-se as principais
caracterı́sticas dos SAEs sendo a combinação “óptima” destas que permite encontrar o sistema de
armazenamento que melhor se adapta para a aplicação em vista.
A maturidade tecnológica e comercial dos PHSs e das baterias faz destas tecnologias as mais atra-
entes do ponto de vista do investidor. Contudo apesar dos PHSs serem o SAE com maior capacidade
instalada em todo o mundo (ver Figura 1.3) este está limitado a áreas onde há disponibilidade de re-
curso hı́drico e condições geológicas favoráveis o que contrasta com a modularidade e versatilidade
tı́picas de uma bateria. São estas caracterı́sticas que conferem às BESSs uma enorme margem de
progressão. Para além disso, verifica-se que as baterias podem ser aplicadas a praticamente todo o
tipo de aplicações desde a gestão de energia até à garantia de qualidade de serviço.
No caso particular do projecto “Brava 100% renovável” [8], o sistema de armazenamento de ener-
gia a instalar tem como objectivo central permitir a implementação de um sistema eléctrico constituı́do

18
apenas por geração proveniente de fontes renováveis. Assim sendo, o SAE tem que ter uma grande
capacidade de armazenamento para ser capaz de executar gestão de energia e também de ser capaz
de auxı́liar no controlo da estabilidade da rede, por regulação de frequência e tensão. Os SAEs que
pelas suas caracterı́sticas apresentam primazia face aos restantes no cumprimento destas imposições,
são a bombagem hidroeléctrica (PHS) e as baterias. Contudo a ilha da Brava não apresenta atributos
geológicos (indisponibilidade de recurso hı́drico) que permitam a instalação de um sistema de bom-
bagem. Assim, os responsáveis pelo projecto “Brava 100% renovável” escolheram como sistema de
armazenamento a implementar uma bateria. Esta escolha faz sentido com a necessidade de ser um
SAE versátil capaz de permitir o aumento da penetração renovável, reagir às flutuações inevitáveis das
fontes de energia renováveis e capaz de funcionar como suporte de regulação e controlo da tensão e
frequência da rede, permitindo que esta tenha um comportamento sustentável, seguro e estável.
Na secção seguinte apresentam-se as principais tecnologias de baterias existentes as suas carac-
terı́sticas do ponto de vista do utilizador e os seus modos de funcionamento e aplicações.

2.3 Baterias

2.3.1 Introdução

Apesar da predominância apresentada pelos sistemas de bombagem hidroeléctrica em termos de ca-


pacidade de armazenamento instalada globalmente, existe o reconhecimento generalizado de que as
baterias podem apresentar uma série de oportunidades interessantes (enquanto SAEs) para a rede.
As BESS são uma tecnologia de armazenamento de energia que apresenta uma versatilidade ı́mpar
permitindo-lhes ser aplicadas nas mais diversas áreas desde o sector industrial até ao quotidiano. A
esperança depositada na imposição nos veı́culos eléctricos/hı́bridos, a necessidade de criar dispositi-
vos portáteis de funcionamento prolongado e a utilização crescente em redes de energia eléctrica têm
sido algumas das principais razões para o crescimento acelerado do sector das baterias, nas últimas
décadas [27].
Com o interesse crescente nas energias renováveis, o uso de electrónica de potência nos sistemas
de geração/transmissão tem se tornado cada vez mais fundamental [28]. Assim com a evolução das
tecnologias associadas às baterias e aos conversores é possı́vel apresentar BESS que apresentam
múltiplas possibilidades de aplicação. Comparativamente aos SAE apresentados na secção anterior
(Secção 2.2.2), as baterias são a tecnologia que se destaca pela sua modularidade, escalabilidade e
habilidade para servir uma série de diferentes aplicações, ao longo de vários perı́odos temporais desde
segundos a horas. Estas aplicações podem ir desde serviços auxiliares de qualidade de serviço até
aplicações de gestão de energia. A versatilidade de uma bateria do ponto de vista operacional é um
dos principais argumentos para ser a tecnologia escolhida para a acomodação da integração de fontes
renováveis na rede. Optimizar a injecção variável de potência resultante das fontes renováveis, absorver
ou injectar potência de acordo com o balanço carga/geração ou responder rapidamente a cavas de
tensão são apenas alguns dos usos em que uma bateria pode participar. Assim, esta combinação de

19
aplicações acaba por beneficiar em termos económicos a instalação [29].
Nem todas as baterias são iguais e uma vez que estas são compostas, em parte, por agentes
quı́micos, o seu desempenho está dependente das suas caracterı́sticas electroquı́micas. As baterias
que têm interesse para este tipo de aplicações são as secundárias (recarregáveis), uma vez que, as
baterias primárias são incapazes de serem recarregadas, como tal, são inúteis para SAE que requerem
vários ciclos de utilização. De entre as baterias secundárias aquelas que merecem maior destaque
são as de ácido-chumbo (PbA), lı́tio (Li-ion) e nı́quel-cadmio (NiCd), que fazem parte das designadas,
baterias de baixa temperatura e as de sódio-enxofre (NaS), conhecida por bateria de alta temperatura
[29]. Das tecnologias de baterias de baixa temperatura existentes aquela que apresenta maior capaci-
dade instalada em sistemas de energia eléctrica são as de ácido-chumbo, muito devido à sua grande
maturidade comercial e técnica e consequentes custos de investimento reduzidos [30]. Apesar disso,
as baterias de iões de lı́tio têm provado ser a tecnologia que tecnicamente apresenta melhores carac-
terı́sticas. O maior senão, são a tecnologia BESS que apresenta o custo de investimento, regra geral,
mais avultado. Este é o principal factor que tem sido responsável pelo entrave à imposição das baterias
de lı́tio como tecnologia dominante de entre as baterias secundárias. Vários são os projectos mundiais
de baterias de lı́tio, entre outras tecnologias, que demonstram a capacidade das baterias em facilitar e
auxiliar com sucesso a transição para um sistema de energia com maior penetração renovável (em [31]
são apresentados alguns desses casos).
Nos últimos anos, o mercado das BESS tem registado um crescimento significativo. Segundo um
estudo realizado pela consultora Navigant Research, em 2014, as receitas relativas a baterias adotadas
em aplicações no sector energético por todo o globo, rondaram os 200 milhões de euros e prevê-se que
em 2023 alcancem os 16 biliões de euros [29]. Com este crescimento do mercado das baterias o custo
das mesmas tem variado de forma inversa, diminuindo. O aumento da implementação de baterias em
redes eléctricas para suportar a integração de energia renovável aliado ao desenvolvimento crescente
de veı́culos eléctricos tem tido um impacto directo no progresso e avanço do ponto de vista tecnológico
das baterias. Estes factores levam a que a produção em massa seja uma realidade que permite a
redução dos custos das baterias, o que tem beneficiado particularmente a tecnologia de baterias de
iões de lı́tio. Prova disso, é o facto de as baterias de lı́tios terem apresentado nos últimos anos a
queda mais acentuada do seu custo [29]. Tecnologicamente, cada vez mais avançadas melhorando a
sua performance no que diz respeito ao ciclo de vida e eficiência, e economicamente cada vez mais
atrativas, as bateias de lı́tio são uma aposta segura de entre os SAEs.
Nas subsecções seguintes apresentam-se os componentes principais de uma bateria, os seus
princı́pios de funcionamento e uma visão geral das principais caracterı́sticas técnicas que distinguem
as 2 principais tecnologias de baterias secundárias: as de iões lı́tio e as de ácido-chumbo.

2.3.2 Componentes do sistema de armazenamento de uma bateria

Uma bateria é composta por várias células electroquı́micas que são ligadas em série e/ou paralelo
para atingir um determinado nı́vel de tensão e capacidade de armazenamento, respectivamente [32].

20
A célula enquanto unidade electroquı́mica básica é responsável por fornecer uma fonte de energia
eléctrica por conversão directa da energia quı́mica. Esta é constituı́da por 3 componentes principais
[27]:

• Ânodo- Corresponde ao eléctrodo negativo que cede electrões para o circuito eléctrico exterior e
que é oxidado durante as reacções electroquı́micas;

• Cátodo- Corresponde ao eléctrodo positivo que aceita electrões do circuito eléctrico exterior e
que é reduzido durante as reacções electroquı́micas;

• Electrólito- Corresponde ao condutor iónico que providencia o meio através do qual existe a
permuta de iões entre o ânodo e o cátodo, enquanto os electrões fluem pelo circuito exterior

As baterias possuem também um componente importante que são os separadores, normalmente


constituı́dos por um material poroso que permite a permuta de iões mas que garante isolamento
eléctrico entre o ânodo e o cátodo.
Um electrólito deve apresentar uma condutividade iónica elevada, contudo não deve apresentar con-
dutividade eléctrica. Não deve revelar reactividade com os materiais que compõem os eléctrodos, deve
ser seguro e manifestar ligeiras ou nenhumas alterações nas suas propriedades perante oscilações
de temperatura. O cátodo, por sua vez, enquanto agente oxidante deve ser eficiente nessa função e
ser estável em contacto com o electrólito. Por fim o ânodo deve ser eficiente enquanto agente redutor,
apresentar uma elevada cedência de carga por unidade de peso (Ah/g) aquando do funcionamento da
bateria e ser estável. Assim, a escolha acertada destes três componentes de uma célula são um dos
factores principais para a definição de uma bateria profı́cua. Contudo toda esta conjugação ideal de
propriedades reflete-se no custo das baterias [27]. É principalmente a diferente conjugação de mate-
riais destes três componentes que justifica a existência de diversos tipos de baterias com diferentes
caracterı́sticas e aplicações.
O conjunto de células é selado e conectado de forma a gerar módulos de células que conectados
entre si num involucro criam uma bateria pronta a ser conectada a uma fonte externa ou carga. Contudo
um BESS não se limita somente à bateria, tal como se pode verificar pela Figura 2.4.

Figura 2.4: Componentes tı́picos de um BESS [29].

21
Um BESS contem para além da própria bateria uma série de outros componentes responsáveis pela
monitorização e controlo de algumas propriedades da bateria ou do contentor, bem como disjuntores e
electrónica de potência, nomeadamente o sistema de conversão de potência (conversor).
Os sistemas de monitorização e controlo existentes têm como objectivo principal gerir o funciona-
mento da bateria de forma a maximizar o seu desempenho técnico-económico e a garantir as condições
de segurança necessárias para o correcto funcionamento do sistema. Algumas das principais acções
de controlo passam por fazer com que a profundidade de descarga das células não ultrapasse de-
terminados limites definidos pelos operadores dos sistemas ou que as células não fiquem sobrecar-
regadas e aqueçam, controlando a carga e descarga das mesmas. Existem diversas estratégias de
controlo particulares para cada tecnologia de baterias de acordo com os principais inconvenientes a
que a sua utilização está sujeita. No caso particular das baterias de lı́tio estas necessitam de particular
monitorização e controlo da sua temperatura de operação. Dada a combustibilidade do lı́tio, o funcio-
namento a temperaturas elevadas pode levar ao sobreaquecimento da bateria podendo inflamar, daı́ a
importância de ter um sistema de controlo da temperatura [29].
O sistema de conversão de potência é uma componente fundamental da bateria. Este é responsável
pela capacidade de transmitir energia de forma bidireccional entre a rede e a bateria [20], contudo este
fenómeno é apresentado de forma mais detalhada na secção seguinte (secção 2.3.3). A bateria é
um sistema que entrega electricidade sob a forma de corrente continua (DC). Portanto, para que seja
possı́vel a interconexão com a rede eléctrica, cujo funcionamento é em corrente alternada (AC), é
necessário um sistema de conversão de potência. O conversor a aplicar tem de ser capaz de numa
situação de carregamento da bateria funcionar como um rectificador convertendo a corrente AC em DC
para ser armazenada energia na bateria. Na situação de descarga, pelo contrário, a corrente DC que
sai dos terminais da bateria tem que ser convertida em AC para que possa ser utilizada pela rede, tendo
o conversor de ter um comportamento de inversor. Daı́ a referência à necessidade de um inversor com
comportamento bidireccional.

2.3.3 Princı́pio de funcionamento

As células das baterias secundárias têm a capacidade de ser recarregadas armazenando electricidade
sob a forma de energia quı́mica. Tal como visto anteriormente, cada célula é composta por um eléctrodo
positivo e outro negativo onde ocorrem as reações de oxidação-redução (redox). Estes eléctrodos, por
sua vez, estão ligados por um circuito externo que permite a circulação de corrente (electrões), que
ocorre devido às reacções quı́micas que ocorrem simultaneamente em ambos os eléctrodos. Estas
reacções quı́micas, por sua vez, são reacções reversı́veis permitindo a recarga da bateria através da
aplicação de uma tensão externa aos terminais da bateria [15]. Na figura 2.5 e de seguida explicita-se
o princı́pio de funcionamento tı́pico da bateria nos seus 2 modos de operação, descarga e recarga:

• A descarregar: no processo de descarga de uma bateria os electrões acumulados pelo ânodo


(agende redutor) são cedidos e fluem pelo circuito externo até ao cátodo onde são aceites e
consequentemente o material do cátodo é reduzido. O circuito eléctrico completo finaliza-se com

22
a troca de iões positivos (catiões) para o cátodo e de iões negativos (aniões) para o ânodo.

• A carregar: no processo de recarga de uma bateria a metodologia é a inversa à que ocorre no


modo de operação de descarga. Interessa frisar que quando a bateria carrega a polaridade do
ânodo e cátodo troca, isto é, o ânodo fica positivo e o cátodo negativo. Assim, a corrente flui no
sentido contrário, a oxidação dá-se no eléctrodo positivo e a redução dá-se no terminal negativo.
Por definição o ânodo é o eléctrodo onde ocorre a oxidação e o cátodo é o eléctrodo onde ocorre
a redução. Assim o eléctrodo positivo é agora o ânodo e o eléctrodo negativo é o cátodo [27].

Figura 2.5: Ciclo carga/descarga numa bateria [23]

O ciclo de carga e descarga de uma bateria pode ser repetido por diversas vezes, uma vez que, as
reacções quı́micas que ocorrem nas baterias são reversı́veis. Mesmo assim apesar de serem feitas de
elementos que se podem recombinar repetidamente, as baterias recarregáveis apresentam um deter-
minado tempo de vida útil. Com a utilização estas começam a perder gradualmente a capacidade de
reter a carga, tal como se aborda na secção seguinte.

2.3.4 Caracterı́sticas técnicas de uma bateria

Na secção 2.2.2.2 abordaram-se as principais caracterı́sticas técnicas que devem ser consideradas
aquando da selecção do sistema de armazenamento. Caracterı́sticas como a densidade de potência/energia
e potência/energia especı́fica que afectam o volume/dimensão da bateria e a potência nominal que
afecta a potência que a bateria pode injectar. Também a capacidade de armazenamento, o custo do
sistema, o rendimento e a auto-descarga são importantes considerações na selecção de uma bateria,
cujos valores tı́picos para diferentes tecnologias de baterias se encontram apresentados na Tabela 2.1.
Agora, nesta secção, a abordagem é feita tendo em conta que o SAE escolhido é uma bateria. Por-
tanto, interessa averiguar os atributos especı́ficos e caracterı́sticos das diferentes tecnologias de BESS
e que anteriormente não foram explorados, tais como a profundidade de descarga (PD), o efeito de

23
memória, temperatura de operação e tensão aos terminais da célula. As baterias por terem componen-
tes quı́micos são sistemas de armazenamento que são muito influenciados pelas condições em que
operam, podendo estas afectar o seu desempenho técnico-económico, custo e tempo de vida útil [2].
A PD corresponde à quantidade de energia que pode/deve ser utilizada relativamente à capacidade
total da bateria. É notável que quanto maior for a PD de uma bateria menor será o seu tempo de
vida útil, o que corresponde a um menor número de ciclos que é capaz de cumprir. Tipicamente,
para valores de profundidade de descarga elevados (>85%), o tempo de vida de uma bateria reduz-
se consideravelmente, isto porque contribui para a degradação das células. Muitas vezes também se
fala em estado de carga (SOC) que é um conceito exactamente oposto, ou seja, um SOC de 100%
corresponde a uma PD de 0%. Na Figura 2.6 apresenta-se o comportamento tı́pico de 2 tecnologias de
baterias de ácido chumbo e de uma bateria de lı́tio (LiFePO4), relativamente à forma como a PD afecta
o tempo de vida de cada tecnologia.

Figura 2.6: Variação do número de ciclos com a profundidade de descarga [33].

O efeito de memória é outra das caracterı́sticas tı́picas de um BESS, contudo nem todas apresentam
tal contrariedade. Este efeito reflecte-se na diminuição considerável da capacidade efectiva de uma
bateria quando esta é sujeita de forma continuada a um certo ciclo de carga e descarga incompleto. O
facto de repetidamente uma bateria ser recarregada sem ser totalmente descarregada, isto é, com uma
PD menor que 100%, afecta as propriedades electroquı́micas de algumas tecnologias de baterias. A
tecnologia que mais sofre deste efeito são as baterias de nı́quel-cádmio (NiCd), ao invés, as baterias
de iões de lı́tio não possuem efeito de memória [20].
Relativamente à temperatura de operação, o controlo da mesma é fundamental para um funcio-
namento prudente da bateria. Apesar de as baterias apresentarem uma gama de temperaturas de
operação relativamente abrangente, regra geral entre os 0 e 45o C, para que o processo de carga/descarga
seja eficiente a gama deve encurtar. Principalmente na recarga das baterias a situação é mais delicada.

24
O aumento da temperatura de operação faz descer a tensão aos terminais das baterias o que torna o
processo de recarga mais ineficiente e demorado [34]. Adicionalmente, o funcionamento a temperatu-
ras altas leva à degradação das células, perda da capacidade efectiva, corrosão, emissão de gases e
consequentemente diminuição do seu ciclo de vida útil. Por todos estes factores, muitas das instalações
de sistemas com baterias possuem integrados sistemas de controlo e gestão da temperatura de forma
a garantir a segurança e optimização do desempenho das mesmas [29].
Por fim, cada tecnologia apresenta os valores tı́picos de tensão nominal a que são descarrega-
das/carregadas as suas células, sendo estes dependentes da diferença de potencial gerado pelos ma-
teriais usados no ânodo e cátodo . A tensão que surge aos terminais de uma célula, em que instante
for, depende da corrente de carga, da sua impedância interna, da temperatura de operação, do SOC
e do envelhecimento da célula [35]. Durante a descarga a tensão aos terminais de uma bateria tende
a diminuir enquanto que na recarga tende a aumentar. A caracterı́stica tı́pica da tensão ao longo da
descarga da célula é particular de cada tecnologia, podendo apresentar um declive mais ou menos pro-
nunciado. Na Figura 2.7 apresenta-se as caracterı́sticas da curva de descarga de uma bateria de lı́tio
para diferentes taxas de descarga ao longo do ciclo de descarga, a uma temperatura fixa. As baterias
de lı́tio são a tecnologia que apresenta gamas de tensão de operação mais elevadas e também cuja
tensão aos terminais é mais invariável no ciclo de descarga, o que permite um funcionamento mais
eficiente e duradouro destas baterias. Baterias cujos declives das curvas de descarga são mais acen-
tuados, como é o caso das baterias de ácido chumbo, resultam na diminuição da potência entregue
durante o ciclo de descarga, o que é inconveniente [36].

Figura 2.7: Caracterı́stica da curva de descarga de uma bateria de lı́tio [37].

Estas são algumas das principais considerações na selecção de uma bateria. Adicionalmente, para
que a bateria seja indicada há que ter em conta os requisitos de desempenho que a aplicação a que
se destina requer. Por exemplo, para aplicações de regulação e mitigação é importante apresentar
um tempo de resposta célere e capacidade de suportar um número elevado de ciclos carga/descarga.
Alternativamente em aplicações de gestão de energia em que é necessário fazer “deslocamento” tem-
poral da mesma, os ciclos de carga/descarga devem ser capazes de ser prolongados no tempo [29].

25
Nesse sentido, na subsecção seguinte abordam-se as principais aplicações em que as baterias podem
ser vantajosas.

2.3.5 Aplicações de auxı́lio à integração de renováveis

Tal como já abordado na secção 2.2.2.3, as aplicações em que um SAE pode auxiliar podem ser
agrupadas em três categorias diferentes de acordo com a sua natureza. Nesta sub-secção apresentam-
se as principais aplicações a que uma bateria é adequável.
Os BESS podem ser utilizados em qualquer dos grupos de aplicações existente abrangendo perı́odos
de operação dos milissegundos até algumas horas. Estas aplicações, regra geral, estão associadas
à necessidade de compensar a natureza variável da energia eólica e solar. Desde a contribuição
em serviços auxiliares, como a regulação e controlo da frequência e tensão das redes com elevada
penetração renovável até à contribuição no balanceamento da carga/geração fornecendo ou absor-
vendo energia quando ocorrem desequilı́brios, são aplicações que uma bateria pode desempenhar. O
facto de um só SAE ser capaz de múltiplos usos, como é o caso de uma bateria, beneficia a economia
da instalação [29].
Uma das razões vitais para a instalação de uma bateria é a contribuição para um aumento confiável
da penetração renovável. No caso particular de uma ilha esta questão ganha uma dimensão redobrada
e as baterias são vistas como uma oportunidade ı́mpar do ponte vista técnico, económico e ambien-
tal. As ilhas por apresentarem na generalidade, um potencial renovável elevado, possuı́rem sistemas
eléctricos que são dependentes da geração convencional e ausência de interligações, beneficiam com
a instalação de um sistema de armazenamento que permita a integração confiável de renováveis, que
confira flexibilidade de utilização e permita a redução da dependência de combustı́veis fósseis. Na Fi-
gura 2.8 apresenta-se o impacto que uma bateria de ácido chumbo tem na geração de um caso real de
uma ilha (mais detalhes em [38]).

(a) Despacho sem BESS (b) Despacho com BESS

Figura 2.8: Despacho com e sem BESS [38].

É evidente que com a instalação de uma bateria a dependência da geração convencional diminui

26
à custa de um aumento da penetração renovável. A bateria permite garantir o balanço carga/geração
e a operação estável da rede em paralelo com a maximização da penetração renovável. Adicional-
mente, as baterias funcionam também como reserva permitindo assim contribuir para satisfazer a perda
de geração ou variação de carga. O facto de uma bateria não apresentar massas girantes (energia
cinética) faz com que o conceito de reserva girante não seja totalmente aplicável neste caso, pelo que
é usual referir-se a esta reserva como reserva não-girante.
Outro tipo de aplicação consiste na acomodação da variabilidade caracterı́stica das fontes renováveis
e consequentemente da sua produção energética. Neste caso as baterias actuam do lado da geração
da energia renovável. Como o vento ou a irradiância solar têm um carácter estocástico e variável
apresentam flutuações mais ou menos severas ao longo das horas, que afectam a estabilidade do
sistema eléctrico. A utilização de uma bateria permite suavizar as flutuações tı́picas da produção re-
novável através da absorção/injecção de potência em curtos perı́odos. Assim a energia injectada é
mais nivelada permitindo que a rede opere de forma estável e confiável. Na Figura 2.9 apresenta-se o
comportamento de uma bateria quando utilizada para efectuar a acomodação de geração solar.

Figura 2.9: Influência de uma bateria na suavização de flutuações [29]

A vermelho temos a potência gerada pelo Painel Fotovoltaico (PV) já do lado AC, a preto apresenta-
se a potência imposta pela bateria e a azul a potência resultante que é injectada na rede com a bateria
a fazer acomodação das flutuações. Em baixo apresenta-se a variação de energia armazenada na
bateria ao longo do tempo. Verifica-se que os ciclos carga/descarga necessários são muitos, contudo
a profundidade de descarga neste tipo de aplicações é geralmente reduzida.
Menos frequente, contudo exequı́vel é a utilização de baterias para aplicações relacionadas com o
armazenamento de energia durante longos perı́odos temporais. Entre elas existe o armazenamento
sazonal (meses) e o deslocamento temporal de energia (alguns minutos até horas). Nesta última, o ob-
jectivo é usufruir das capacidades de uma bateria de forma a tirar proveito técnico e económico. Por um
lado, permite fazer com que instalações renováveis se mantenham em serviço mesmo quando a sua
geração ultrapassa a procura, funcionando a bateria como carga, absorvendo a produção excedente.

27
Por outro, permite fazer um armazenamento economicamente justificável, nos perı́odos em que a pro-
cura e o preço da electricidade são baixos para que seja posteriormente injectada na rede. A energia
armazenada na bateria pode então ser injectada num perı́odo em que a procura e preços da electrici-
dade sejam mais elevados, o que ocorre geralmente na ponta. No deslocamento temporal incluem-se
aplicações como a gestão de pontas ou o nivelamento de carga, em que ambas consistem numa forma
de suavizar a forma tı́pica de monte e vale da curva de procura, permitindo assim uma geração mais
constante. Na Figura 2.10 é possivel observar a forma como uma bateria é aplicada no deslocamento
temporal de energia, nas aplicações de gestão de pontas e nivelamento de carga.

(a) Gestão de Pontas (b) Nivelamento de Carga

Figura 2.10: Aplicações de deslocamento temporal de energia [15].

Por fim, as baterias são reconhecidas como um SAE notável na colaboração em serviços auxiliares.
O suporte de regulação e controlo de tensão e frequência são as principais aplicações que aqui se inse-
rem. Nestas aplicações os tempos de resposta têm que ser rápidos de forma a remediar desequilı́brios
de potência activa e/ou reactiva que resultam em instabilidades na rede, que ignoradas podem levar
ao deslastre de carga e em último caso, ao colapso da rede. No que ao controlo de frequência diz
respeito a estratégia utilizada é a de manter o equilı́brio entre a potência activa gerada e consumida.
Como tal, a técnica mais vulgarmente usada em baterias é semelhante à estratégia do regulador de
velocidade de uma máquina convencional, através de um controlo por estatismo. Assim de acordo com
o desvio de frequência que se verifica na rede, a bateria é capaz de injectar ou absorver energia de
forma a equilibrar a frequência. Por sua vez, as baterias possuem tempos de resposta mais rápidos que
as máquinas convencionais, o que beneficia a rede na rápida e precisa compensação das flutuações
frequentes da geração renovável, mantendo a frequência do sistema dentro dos limites exigidos. Na
Figura 2.11 verifica-se a forma como uma bateria actua perante os desvios de frequência.
Frequências elevadas indicam o excesso de geração face a carga o que faz com que a bateria
carregue para reparar tal perturbação, pelo contrário, frequências baixas indicam défice de geração
face à carga, portanto a bateria fornece potência como resposta.
No que ao controlo da tensão diz respeito este tem como objectivo manter a tensão da rede dentro
dos limites aceitáveis garantindo a estabilidade da mesma, uma vez que a operação fora dos limites
pode provocar danos e afectar o desempenho caso se prolongue no tempo [40]. Este controlo é feito
com base na gestão da potência reactiva que é injectada na rede. A capacidade de potência reactiva

28
Figura 2.11: Regulação de frequência por BESS [39].

da bateria está associada à capacidade do sistema de conversão de energia ao qual esta é ligado.
É a electrónica de potência que permite fornecer a capacidade de regular a tensão, em grande parte
independente do fornecimento de energia activa ou consumo. Um conversor de quatro quadrantes
através da alta velocidade de comutação torna possı́vel o controlo independente da potência activa e
reactiva injectada com a possibilidade de gerar e absorver ambos pela bateria. Esta funcionalidade é
extremamente valiosa para melhorar a estabilidade de tensão [28].

2.3.6 Baterias de lı́tio vs Baterias de Ácido-Chumbo

Para finalizar este capı́tulo, considera-se importante confrontar as duas tecnologias de baterias de
baixa temperatura que possuem maior relevância no mercado eléctrico, nomeadamente dos sistemas
de armazenamento de energia: as baterias de ácido-chumbo e as de lı́tio. Se nas primeiras podemos
ver reflectida uma maturidade irrivalizável, nas segundas projecta-se um futuro promissor com base
nos sucessos técnico-económicos alcançados. A análise mais generalizada das restantes tecnologias
de baterias pode ser obtida através dos dados apresentados na Tabela 2.1.
As baterias de ácido-chumbo são a tecnologia, do tipo de baterias recarregáveis, mais barata e
mais madura de entre os diferentes tipos de baterias existentes no mercado. Geralmente, o cátodo
é composto de dióxido de chumbo (PbO2 ), o ânodo é constituı́do por chumbo esponjoso (Pb) e o
electrólito de ácido sulfúrico liquido (H2 SO4 ) [20]. A tensão nominal de uma célula de PbA tı́pica ronda
os 2V [19].
As baterias de ácido-chumbo são caracterizadas por terem um custo relativamente baixo em comparação
com outras tecnologias de baterias, rondando os $50-$400/kWh [21, 15]. Por outro lado, a eficiência
desta tecnologia é na ordem dos 70-85%. O curto tempo de resposta, a relação custo/desempenho
vantajosa e a relativa baixa auto-descarga são também factores caracterı́sticos deste tipo de baterias.
Estas podem ser utilizadas em aplicações de gestão de energia, devido à baixa auto-descarga que as
torna indicadas para aplicações de armazenamento de energia em perı́odos de tempo mais longos.
Em contrapartida, existem alguns factores que limitam a sua utilização mais generalizada. A degradação
do seu desempenho e a afectação do tempo de vida depende da temperatura de funcionamento, fa-

29
zendo com que seja necessário um sistema de controlo de temperatura, que aumenta os custos exigi-
dos. Mas as principais desvantagens desta tecnologia são a baixa energia especı́fica (25-50 Wh/kg), a
elevada toxicidade do chumbo e o tempo de vida útil reduzido, entre 600 a 1800 ciclos, dependendo da
profundidade de descarga [21].
Estas baterias podem ser encontradas actualmente, já integradas em algumas instalações como
por exemplo, em Chino, na Califórnia em que uma bateria de PbA com 10MW de potência nominal e
capacidade de 40MWh é responsável por fornecer reserva girante e por participar em aplicações de
nivelamento de carga [31].
Quanto às baterias de lı́tio, as primeiras comercializáveis surgiram em 1990 produzidas pela Sony
[15]. Desde então esta tecnologia tem revelado um crescimento técnico-comercial notável, podendo ac-
tualmente ser utilizadas numa vasta gama de aplicações desde telemóveis até aplicações de média/alta
potência para sistemas de armazenamento em sistemas eléctricos (veı́culos eléctricos ou rede eléctrica),
com capacidades que podem alcançar os 30MWh [22].
São baterias em que o cátodo é constituı́do por um óxido metálico de lı́tio, o ânodo por carbono
grafı́tico e o electrólito é baseado numa solução de sais de lı́tio com mistura de solventes orgânicos.
A tensão nominal de uma célula de lı́tio tı́pica ronda os 3.7V [19], sendo mais alta que as restantes
tecnologias de baterias, o que significa que o número de células a interconectar em série para obter
uma determinada tensão de operação é menor. As principais caracterı́sticas das baterias de iões lı́tio
são a elevada energia especı́fica (75-200Wh/kg) superior a qualquer outra tecnologia, rápidos tempos
de resposta e o elevado rendimento (80-97%) [15, 20]. O ciclo de vida pode variar conforme a PD a
que a bateria é sujeita, mas por norma, está entre 1000 e 10000 ciclos [15]. A auto-descarga tı́pica
verificada é <9% da capacidade nominal por mês.
A PD que as baterias de lı́tio suportam é algo limitada o que faz com que não deva ocorrer descarga
total, apesar de actualmente já existirem baterias de lı́tio de descarga profunda (PD>85%) sem afectar
de forma determinante o desempenho e tempo de vida da bateria. Para além disso, também a tempe-
ratura de operação é um factor que pode influenciar o tempo de vida e a segurança das baterias de lı́tio,
caso esta não seja controlada através da monitorização da temperatura das células. Contudo, as duas
principais desvantagens desta tecnologia residem no preço elevado das baterias e na sua segurança.
As baterias com capacidades elevadas apresentam custo altos (>$600/kWh) sendo esse o principal
entrave para o seu crescimento comercial em sistemas de grande escala. O custo elevado está relaci-
onado com a necessidade das células possuı́rem circuitos internos de protecção contra sobrecargas.
As sobrecargas são propı́cias a ocorrerem nas baterias de lı́tio devido à elevada densidade de energia
e combustibilidade do lı́tio que leva à possibilidade de sobreaquecimento das células pondo em risco a
segurança da instalação.
As baterias de Li-ion são vistas como as principais candidatas a aplicações em que o tempo de
resposta curto e as dimensões reduzidas são factores determinantes. Actualmente a pesquisa e
investigação foca-se em aumentar a capacidade das baterias de lı́tio, reduzir o seu custo e aumen-
tar o seu tempo de vida útil. A AES Energy Storage, empresa com sede nos EUA, já foi responsável por
instalar vários sistemas de armazenamento de iões de lı́tio, entre eles, um em Laurel Mountain, onde foi

30
instalado um sistema de baterias de lı́tio com potência nominal de 32MW e capacidade de 8MWh para
suportar um parque eólico com 98MW, fornecendo flexibilidade na estabilização da rede e permitindo
fazer gestão da energia [20].
A comparação entre estas duas tecnologias efectuada nesta secção, pode também ser observada
pelos dados da Tabela 2.1. É evidente que do ponto de vista técnico e operacional as baterias de
iões de lı́tio apresentam clara vantagem face às de ácido-chumbo quer pelo rendimento, densidade
de potência/energia, potência/energia especı́fica, ciclo de vida útil ou tensão aos terminais das células
elevadas. O maior senão surge do ponto de vista económico em que as baterias de lı́tio surgem como
a tecnologia que requer um investimento mais elevado de entre as baterias. Contudo, tal como já foi
referido tem-se verificado que a tendência é para que com a imposição das baterias de lı́tio como uma
das soluções com melhores resultados práticos de entre as BESS, os preços destas desçam com o
aumento da produção e surgimento de economias de escala.

31
Capı́tulo 3

Caso de Estudo: ilha da Brava

Neste capı́tulo apresenta-se o caso de estudo desta tese que se enquadra no plano energético de Cabo
Verde para 2020, apresentado no documento “Plano Energético Renovável para 2020” [8]. Apresenta-
se a ilha da Brava e a descrição da sua rede eléctrica de média tensão em 2015 bem como a previsão
para o ano de 2020.
Na Secção 3.1 é feita a apresentação geral da ilha e das suas principais caracterı́sticas em termos
de recursos renováveis e formalidades da rede eléctrica.
Na Secção 3.2 identifica-se o sistema electroprodutor, a rede de distribuição e o diagrama de carga
da ilha da Brava e que foram utilizados para realizar os estudos em regime estacionário e dinâmico.
Apresenta-se igualmente a caracterização do recurso solar e eólico da ilha.
Na Secção 3.3, com o objectivo de tornar a ilha 100% renovável identificam-se os projectos a ins-
talar na rede e as respectivas modificações que se perspectivam na procura e consequentemente no
despacho do sistema electroprodutor. Apresenta-se também as caracterı́sticas gerais a considerar re-
lativamente à instalação do BESS.

3.1 Ilha da Brava

A ilha Brava é a menor das ilhas habitadas de Cabo Verde pertencendo ao grupo de ilhas de Sotavento
do arquipélago. Esta possui cerca de 67 km2 com aproximadamente 7 mil habitantes. A ilha apresenta
apenas um concelho, Brava, e a sua sede é a Vila Nova Sintra sendo este o maior centro urbano da
ilha.
A ilha apresenta um clima ameno de temperaturas não muito elevadas e seco. A orografia da ilha
é muito acidentada, tratando-se de uma ilha de natureza montanhosa. Apresenta uma exposição ao
recurso eólico elevada, principalmente nas vertentes a NE, atingindo velocidades de vento superiores a
9 m/s. O recurso solar a que a ilha é exposta é interessante contudo apresenta nı́veis de nebulosidade
significativos. Esta ilha apresenta reduzido escoamento anual médio e bacias hidrográficas de reduzida
dimensão o que faz com que não apresente potencial de produção de energia hidroeléctrica [8].
A ELECTRA é a entidade responsável pela concessão da produção e distribuição de electricidade

32
da ilha da Brava. Desde 2006 que, com base nos registos da ELECTRA, a taxa de cobertura territorial
da rede de electricidade da ilha da Brava é de 100%.
O sistema eléctrico da ilha é constituı́do por uma central de produção de energia eléctrica, tratando-
se de uma central termoeléctrica, e uma rede de distribuição MT que opera nas tensões de 20 e 6 KV.
A ilha da Brava não apresenta qualquer tipo de interligação com outras redes pelo que se trata de um
sistema isolado. Na Figura 3.1 apresenta-se a planta do sistema eléctrico da ilha da Brava em que se
encontram representados os principais postos de transformação (PT) onde é possivel visualizar a sua
localização geográfica.

Figura 3.1: Planta ilha da Brava, adaptado de [41].

3.2 Brava: Ano 2015

3.2.1 Sistema Electroprodutor e Subestações

O sistema electroprodutor da ilha da Brava, em 2015, é constituı́do por uma central de produção de
energia eléctrica, a Central Termoeléctrica de Favetal (CEFV). A central de Favetal é constituı́da por
4 grupos térmicos que utilizam como combustı́vel o gasóleo e possui uma potência instalada de 1770
kVA. Na Tabela 3.1 apresentam-se os dados gerais de cada um dos grupos da central de Favetal.
O sistema eléctrico da ilha da Brava possui uma subestação elevadora afecta à CEFV, através da
qual é injectada a produção na rede de MT. A Subestação de Favetal (SFV) possui uma potência
instalada de 800 kVA. Na Tabela 3.2 são apresentados os dados gerais da subestação.

33
Tabela 3.1: Dados dos grupos da central de Favetal.

Tabela 3.2: Dados da subestação de Favetal.

Na Figura 3.2 apresenta-se o esquema unifilar da central de Favetal incluindo a subestação e a


saı́da para a rede de MT.

Figura 3.2: Esquema da central de Favetal.

3.2.2 Rede de distribuição

O sistema eléctrico da ilha da Brava possui uma rede de distribuição de 20 kV com origem na subestação
de Favetal e uma rede de 6 kV que deriva da subestação SS de Nova Sintra. O esquema unifilar da
rede de distribuição de MT da ilha da Brava apresenta-se no Anexo A.1. Como se pode verificar trata-
se de uma rede com uma configuração radial com 2 nı́veis de tensão. A subestação Nova Sintra é
responsável por permitir o funcionamento da rede de distribuição a 20 e 6 kV através de um transfor-
mador redutor que opera com a relação de transformação 20/0,4 kV e de um transformador elevador
que opera com relação de transformação de 0,4/6 kV alimentando os pontos da rede eléctrica que fun-
cionam neste nı́vel de tensão. Estes transformadores têm ambos uma potência de 250 kVA e possuem
5 tomadas manuais de ±2 × 2, 5%.

34
A rede de distribuição é constituı́da por uma parte subterrânea e uma aérea. Na rede subterrânea,
representada em A.1 a tracejado, os cabos utilizados são de dois tipos: de alumı́nio(Al) (20kV e 6kV)
e Cobre (Cu) (6kV). Na rede aérea, as linhas utilizadas são condutores de alumı́nio do tipo Aster. Na
Tabela 3.3 apresentam-se as caracterı́sticas principais dos tipos de linhas e cabos utilizados na rede
de distribuição da ilha.

Tabela 3.3: Caracterı́sticas das linhas e cabos.

Na Tabela 3.3 apresentam-se os valores da secção, resistência, indutância e capacidade por uni-
dade de comprimento. Para além disso apresenta-se a corrente térmica e a corrente de curto-circuito
de cada tipo de cabo ou linha. No caso das linhas Aster de 34.4mm2 não foram identificados os dados
referentes à corrente térmica e de curto-circuito.

3.2.3 Diagrama de Carga

Os dados de carga referentes a 2015 foram fornecidos pela ELECTRA para o mês de Janeiro. Estes
foram fornecidos por valor de carga visto por cada Posto de Transformação (PT) para a ponta. De notar
que a potência reactiva de cada PT é calculada através do conhecimento do coeficiente de carga, da
potência activa e da assunção de que todas as cargas apresentam factor de potência de cos Φ = 0,8
indutivo.
Assumiu-se que estes dados da ponta para o mês de Janeiro eram representativos para qualquer
estação do ano, uma vez que, a ELECTRA revelou que nas ilhas de Cabo Verde o perfil de consumo
não apresenta, regra geral, variações significativas entre o Verão e Inverno. Assim considerou-se que
este valor de ponta corresponde ao valor de produção máxima anual. Relativamente à carga de vazio
os dados mantêm-se inalterados face à previsão feita pela Gesto Energia S.A, no “Plano Energético de
2020”, em 2011, para a procura do ano de 2015 (ver Tabela 3.5). Assumiu-se que a distribuição das
cargas pelos PTs assume o mesmo comportamento que o registado na ponta.
Os valores de carga por PT para o cenário de ponta e vazio encontram-se apresentados na Tabela
3.4.
O PT Vila corresponde à carga com maior consumo representando cerca de 30% da carga total da
ilha. Isto justifica-se pelo facto de ser este PT que alimenta o maior centro urbano da ilha da Brava, a
Vila de Nova Sintra.
Para tornar o estudo o mais real possı́vel e dada a ausência de informações sobre o perfil do dia-
grama de carga da ilha da Brava, decidiu-se utilizar como referência o diagrama de carga da ilha de

35
Os valores das distribuições de carga para o cenário de ponta e vazio encontram-se
apresentados na Tabela \ref{tab:cargasPT}.

Tabela 3.4: Dados da carga na Ponta e Vazio de 2015 para a ilha da Brava.
Cenário Ponta Cenário Vazio
Cargas
P(kW) Q(kvar) P(kW) Q(kvar)
PT Braga 4,619 3,464 2,309 1,732
PT Lem 29,191 21,893 14,592 10,944
PT Furna 31,777 23,833 15,885 11,913
PT ST Bárbara 4,434 3,326 2,216 1,662
PT Vila 114,916 86,187 57,443 43,083
PT Cova Rodela 18,845 14,134 9,420 7,065
PT Mato Grande 17,182 12,886 8,589 6,442
PT Antena 0,203 0,152 0,102 0,076
PT Cachaço 8,499 6,374 4,248 3,186
PT Mato 20,138 15,103 10,066 7,550
PT Pau 1,515 1,136 0,757 0,568
PT Tantum 5,543 4,157 2,771 2,078
PT Campo Baixo 9,977 7,482 4,987 3,740
PT N. S. Monte 37,689 28,267 18,840 14,130
PT Cova Joana 11,824 8,868 5,911 4,433
PT F. D´Agua 7,760 5,820 3,879 2,909
PT Bomba 3 34,733 26,050 17,362 13,022
PT Bomba 4 33,255 24,942 16,623 12,468
TOTAL 392,099 294,075 196,000 147,000

O \acs{PT} Vila corresponde à carga com maior consumo representando cerca de 30% da
Santiago procedendo-se à adaptação do mesmo. Com esta assunção admite-se que os hábitos quo-
carga total da ilha. Isto justifica-se pelo facto de ser este \acs{PT} que alimenta o maior centro
tidianos/industriais das duas ilhas são semelhantes, contudo a ilha da Brava apresenta um consumo
urbano da ilha da Brava, a Vila de Nova Sintra.
cerca de 40 vezes menor. O diagrama de carga original da ilha de Santiago corresponde a um diagrama
Paraão
de produç tornar
pelooque
estudo o mais
incluı́a real possível
perdas e dada
que foram a ausência Com
desprezadas. de informações
base nos sobre
dadosode
perfil do e vazio
ponta
diagrama de carga da ilha da Brava, decidiu-se utilizar como referência o diagrama de carga da
apresentados na Tabela 3.4 e extrapolando os restantes valores de carga horária durante um dia para
ilha de Santiago procedendo-se à adaptação do mesmo. Com esta assunção admite-se que os
a ilha da Brava, o perfil de carga obtido encontra-se apresentado na Figura 3.3. Por análise da Figura
hábitos quotidianos/industriais das duas ilhas são semelhantes, contudo a ilha da Brava numa
escala de consumo cerca de 40 vezes menor. O diagrama de carga original da ilha de Santiago
0,45
corresponde a um diagrama de carga de produção pelo que incluía perdas que foram
0,4
desprezadas. Com base nos dados de ponta e vazio apresentados na Tabela xxx e
0,35
extrapolando os restantes valores de carga horária durante um dia para a ilha da Brava, o perfil
0,3
de carga obtido encontra-se apresentado na Figura xxxx. Por análise da Figura xxx podemos
0,25
P [MW]

verificar que a ponta do diagrama de cargas ocorre às 20h ocorrendo o vazio às 6 h.


0,2

0,15

0,1

0,05

0
00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00 14:00 16 00 18:00 20:00 22:00 24:00
Tempo [h]

Figura 3.3: Diagrama de carga de 2015.

3.3 podemos verificar que a ponta ocorre às 20 horas, ocorrendo o vazio às 6 horas.

Este diagrama de carga é então resultado de uma série de assunções apresentadas acima, com
o objectivo de representar um dia tı́pico de consumo da ilha da Brava, que servirá de base para a
construção dos cenários de simulação.

36
3.2.4 Caracterização do recurso Solar e Eólico

O conhecimento das caracterı́sticas do recursos solar e eólico é a base para realização dos estudos
de viabilidade económica de qualquer projecto de fontes de energias renováveis, onde se incluem os
projectos solares e eólicos, respectivamente. A caracterização do potencial eólico e solar da ilha da
Brava foi realizada pela Gesto Energia no ”Plano Energético para 2020” [8]. Contudo não foi possı́vel
ter acesso a uma série temporal de registos de medições da velocidade do vento e irradiâncias.
Segundo os estudos realizados pela Gesto Energia, o recurso solar é abundante em Cabo Verde.
Em média a ilha da Brava apresenta uma radiação global de 1.800 kWh/m2 /ano e cerca 3.750 horas de
sol por ano.
Para obtenção dos dados de irradiância tı́picos que se verificam na ilha da Brava, nomeadamente na
zona da Furna, onde serão instalados os paneis fotovoltaicos, utilizou-se o PVgis, um simulador online
que permite ter acesso aos mapas de radiação solar num determinado ponto do globo. Na Figura 3.4
apresentam-se as caracterı́sticas de irradiâncias tı́picas de cada estação do ano, no plano inclinado de
14o (inclinação óptima), para a região da Furna.
1200

1000
Janeiro
800
Irradiância [W/m2]

Maio
600

400 Julho

200 Outubro

0
04:48 07:12 09:36 12:00 14:24 16:48 19:12
Tempo [h]

Figura 3.4: Diagrama


Relativamente das
ao perfil de irradi
vento ância
na ilha de meses
da Brava, de cada
por ausência de estaç
dados ão do ano
optou-se por na Furna.
utilizar
dados do perfil de vento de um dia típico registado em 2015 na ilha de Santiago, assumindo
que este
Pela análise não varia
da Figura de verifica-se
3.4 forma significativa
que adoirradiância ao longo do ano assume um comportamento
que se registaria na ilha da Brava. Na Perfil de vento típico da Ilha da Brava
aproximadamente constante entre estações, não se14 verificando variações consideráveis entre as ir-
Tabela xxx e na Figura xxx apresentam-se
12
radiâncias masédias, apesar de estas seremparaligeiramente superiores para os meses de Verão (Julho).
Velocidade [m/s]

velocidades do vento assumidas 10


este estudo
Outro facto que bemverificar
se pode é que o número de8 horas de sol diárias não varia de forma signifi-
como as potências
6
produzidas pelos diferentes aerogeradores
cativa, apesar de ser menor para os meses de Inverno,
4 apresentando cerca de menos 2 horas de sol
estudados. Na Figura xxx apresentam-se 2
diária face aas
um dia tı́pico de Verão.
curvas de potência das turbinas Vestas 0

Segundoutilizadas
os estudos apresentados
para realizar os estudosem [8], o recurso eólico apresenta sazonalidade considerável
Tempo [h]
apresentados no capitulo seguinte e para
verificando-se uma assimetria anual. Esta observa-se entre os perı́odos de Janeiro a Junho, em que
conseguir obter a potência eólica disponível Curva de Potência aerogeradores Vestas
as velocidades médias do vento são elevadas (>9m/s)1000,00
e de Julho a Dezembro em que se verifica um
para cada modelo de aerogerador para o perfil
decréscimo de
davento
velocidade do vento. Outro dado relevante resulta do conhecimento que cerca de 90%
em causa.
Potência [kW]

dos ventos provêm de NE [8]. Relativamente ao perfil de vento na ilha da Brava, por ausência de dados V5
Potência [MW] 500,00
Vento 2
Hora dados do
optou-se por utilizar Vestas
perfil de2xvento
Vestasde um dia tı́pico registado em 2015 na ilha de Santiago,
[m/s] V2
V52 V29
para o mês de00:00
Janeiro, assumindo
12,43 0,438não varia de forma significativa do que se registaria na ilha 9
0,8 que este
1:00 9,73 0,573 0,31
2:00 10,15 0,618 0,34 0,00
3:00 10,77 0,673 0,377 37 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
4:00 10,87 0,682 0,384 Vento [m/s]
5:00 10,65 0,663 0,37
6:00 10,87 0,682 0,384
7:00 11,84 0,763 0,426
da Brava. Na Figura 3.5 apresenta-se o perfil de vento considerado.

14

12

10
Velocidade [m/s]

Tempo [h]

Figura 3.5: Perfil de vento para a ilha da Brava.

3.3 Brava: Ano 2020

3.3.1 Plano de implementação de novos projectos

Com vista a alcançar a meta imposta pelo Governo de Cabo Verde de atingir uma taxa de penetração
de energias renováveis de 50% em todo o arquipélago até 2020, foram identificados uma série de
projectos renováveis a instalar. O desenvolvimento das energias renováveis pretende representar não
só uma viragem económica do paı́s, mas também pretende colocá-lo na linha da frente dos paı́ses de
referência no desenvolvimento de um modelo sustentável de toda a economia [8]. No caso particular
da ilha da Brava, os projectos identificados em [42] pela Gesto Energia, para implementação até 2020
foram os seguintes:

• Parque Eólico- Ventos da Furna (PE.035) – Este projecto consiste na construção de um par-
que eólico localizado na ilha Brava com uma potência instalada de 0,85 MW constituı́do por um
aerogerador Vestas, modelo V52/850 kW. O valor estimado do projecto é de 1,74 MA
C.

• Parque Solar – Furna (PE.045) – Este projecto consiste na construção de um parque solar cons-
tituı́do por módulos fotovoltaicos de silı́cio policristalino (5.778 unidades aproximadamente) com
uma potência pico de 225Wp e respectivos serviços auxiliares. Este parque terá uma potência
instalada total de 1,3 MW, em que 0,92MW serão instalados numa primeira fase e 0,39MW numa
fase posterior. O orçamento estimado para este projecto é de 4,26 MA
C.

• Projecto Brava 100% Renovável (SAE.03) – Este projecto consiste na instalação de um SAE,
nomeadamente um BESS, que permita assegurar a sustentabilidade energética da ilha da Brava,
e que integre os projectos renováveis identificados (PE.035 e PE.045).

Assim a previsão apresentada em [8] considera uma potência renovável total a instalar de 2,15 MW.

38
3.3.2 Previsão de Carga para 2020

A previsão de carga efectuada em 2011, no “Plano Energético de 2020” [8], encontra-se apresentada
na Tabela 3.5, para os anos de 2015 e 2020.

Tabela 3.5: Previsão de ponta e vazio apresentada em [8] para 2015 e 2020.

Confrontando os dados reais fornecidos pela ELECTRA referentes ao ano de 2015, já apresentados
na Tabela 3.4 com as previsões efectuadas em [8] (Tabela 3.5), verifica-se que apresentam um desvio
Verifica-se
significativo. que os
Assim, dados
atrav de ponta
és dos dadosfornecidos
da cargapela \acs{ELECTRA}
de ponta para o pela
reais fornecidos ano de 2015 diferem
ELECTRA, referentes
ao anoemdegrande
2015,medida dos previstos
procedeu-se para este
à extrapolaç ão ano.
paraAssim
o anoatravés
de 2020 dos dados
com baseda no
carga de ponta percen-
crescimento
reais, fornecidos pela Electra, referentes ao ano de 2015, procedeu-se á extrapolação para o
tual previsto, no ”Plano Energético de 2020”, realizado pela Gesto Energia S.A. Assim admite-se um
ano de 2020 com base no crescimento percentual previsto, no Plano Energético de 2020,
aumento de 20,6% da carga em relação ao cenário de carga actual (2015), apresentado na Tabela
realizado pela Gesto Energia S.A. Assim admite-se um aumento de 20,6% da carga em relação
3.4, o que prevê uma ponta de aproximadamente 473 kW. Quanto à carga de vazio os dados mantêm-
ao cenário de carga actual (2015), apresentado na Tabela xx (tabela das cargas), o que prevê
se inalterados face à previsão feita, por ausência de dados que os invalidem. Sendo então a relação
uma ponta de aproximadamente 473 kW. Quanto à carga de vazio os dados mantêm-se
Vazio/Ponta de 0,5.
inalterados face à previsão feita, por ausência de dados, sendo então a relação Vazio/Ponta de
Apresenta-se entãoentão
0,5. Apresenta-se na Tabela 3.6 os
na Tabela valores
xx os dede
valores carga naePonta
Ponta Vazio,ebem
Vazio,
comobem como a distribuiç
a distribuição da ão
das cargas
cargas pelos PTs que
das cargas são
pelos utilizados neste estudo.
\acp{PT}.

Tabela 3.6: Dados da carga na Ponta e Vazio de 2020 para a ilha da Brava.
Cenário Ponta Cenário Vazio
Cargas
P(kW) Q(kvar) P(kW) Q(kvar)
PT Braga 5,571 4,178 2,698 2,023
PT Lem 35,207 26,405 17,048 12,786
PT Furna 38,327 28,745 18,559 13,919
PT ST Bárbara 5,348 4,011 2,590 1,942
PT Vila 138,601 103,951 67,115 50,336
PT Cova Rodela 22,729 17,047 11,006 8,254
PT Mato Grande 20,723 15,542 10,035 7,526
PT Antena 0,245 0,184 0,119 0,089
PT Cachaço 10,250 7,688 4,963 3,723
PT Mato 24,289 18,216 11,761 8,821
PT Pau 1,827 1,370 0,885 0,664
PT Tantum 6,685 5,014 3,237 2,428
PT Campo Baixo 12,033 9,025 5,827 4,370
PT N. S. Monte 45,457 34,093 22,012 16,509
PT Cova Joana 14,261 10,696 6,906 5,179
PT F. D´Agua 9,359 7,019 4,532 3,399
PT Bomba 3 41,892 31,419 20,286 15,214
PT Bomba 4 40,110 30,082 19,422 14,567
TOTAL 472,914 354,685 229,000 171,750

OOnovo
novodiagrama
diagramade
de carga
carga referente
referente ao
aoano
anode
de2020
2020é éapresentado
apresentadonana
figura xx, este
Figura 3.6, servirá
este servirá de
basede base
para para a construção
a construção dos cendos cenários
ários de simulação,
de simulaç tal como
ão, tal como apresentado
apresentado no capitulo
na Secção 5.1. xxxxx.

39
0,5

0,45

0,4

0,35

0,3
P [MW]

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0
00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00 14:00 16 00 18:00 20:00 22:00 24:00
Tempo [h]

Figura 3.6: Diagrama de carga de 2020.

3.3.3 Redimensionamento dos projectos a implementar

Os projectos apresentados na Secção 3.3.1 foram dimensionados de acordo com a previsão de carga
para 2020 apresentada na Tabela 3.5. A previsão de carga que vai ser considerada é a apresentada
na Tabela 3.6, pelo que se considerou conveniente fazer um redimensionamento dos projectos das
renováveis a instalar. Para tal, considerou-se um conjunto de aproveitamentos renováveis, com vista
ao objectivo Brava 100% renovável, que apresentassem uma menor potência instalada de acordo com
a diminuição da carga prevista para 2020. Os projectos renováveis apresentados em 3.3.1 apresentam
um potência instalada 4,55 vezes superior à potência de ponta prevista, pelo que se consideraram
sobredimensionados e portanto inviáveis, como provado nos estudos efectuados em 5.2.2.1. Assim
sendo, neste estudo os projectos considerados em 3.3.1 sofrem as seguintes alterações:

• Parque Eólico- Ventos da Furna – considera-se a redução da potência eólica a instalar pas-
sando a ser utilizados 2 aerogeradores Vestas V29 de potência nominal 225 kW cada. Com esta
alteração a potência eólica a instalar é de 450 kW, ou seja, menos 400 kW do que o projectado
em [42]. O facto de se instalarem 2 aerogeradores fornece uma maior flexibilidade na potência
eólica a injectar na rede, uma vez que, permite que apenas 1 turbina esteja ligada se necessário.

• Parque Solar – Furna – considera-se a redução do número de módulos a instalar no Parque


Solar da Furna (PSF), reduzindo assim a potência solar a instalar. Considera-se a instalação de
1600 módulos da Martifer MTS225P (datasheet no Anexo B) com uma potência pico de 225Wp, o
que perfaz uma potência instalada de 360 kW. Com esta alteração a potência solar a instalar até
2020 reduz-se em 940 kW face ao projectado em [42].

Com a instalação destes projectos a potência renovável instalada em 2020 será de 810 kW, o que
corresponde a cerca de 1,7 vezes a potência de ponta prevista para a ilha da Brava em 2020.
Com a introdução dos novos projectos na rede eléctrica da ilha Brava, o sistema electroprodu-
tor desta vai sofrer algumas alterações surgindo 2 novas centrais renováveis de produção de energia
eléctrica: Parque Eólico Ventos da Furna (PEVF) e o PSF. O PEVF é constituı́do por dois aerogerado-
res iguais dotados de máquinas de indução duplamente alimentadas (MIDA) de 225 kW cada, apresen-

40
tando uma potência total instalada de 450 kW. Os aerogeradores são ligados em cadeia, tal como se
pode verificar pelo esquema unifilar apresentado na Figura 3.7, referente ao PEVF. Os transformadores
utilizados para conectar cada um dos aerogeradores à rede possuem uma potência instalada de 0,3
MVA cada. O PEVF é ligado à rede no barramento de saı́da da SFV através de um cabo subterrâneo de

Figura 3.7: Esquema Unifilar do PEVF.

alumı́nio (Al50) dimensionado de forma a evitar sobrecargas. O comprimento do cabo escolhido foi de
0,8 km pois esta é a distância aproximada entre a subestação da central de Favetal SFV e o local onde
os aerogeradores serão instalados (Furna). Na Tabela 3.7 apresentam-se os dados gerais do PEVF.

Tabela 3.7: Dados do PEVF.

Já o PSF possui uma potência instalada de 360 kWp e está afecto a um transformador de 0,4 MVA
que é ligado também no barramento de saı́da da SFV através de um cabo igual e da mesma dimensão
que o que liga o PEVF à SFV uma vez que o parque solar é para ser instalado também em Furna. O
esquema unifilar do PSF é apresentado na Figura 3.8. Na Tabela 3.8 apresentam-se os dados gerais
do PSF.

Tabela 3.8: Dados do PSF.

Estes são os projectos que vão ser utilizados na realização deste estudo e é com base neles que
serão desenvolvidos os diversos cenários de estudo.

41
Figura 3.8: Esquema Unifilar do PSF.

3.3.4 Projecto ilha 100% Renovável

Com os projectos de renováveis identificados em 3.3.3, pretende-se instalar na ilha da Brava um SAE
que permita integrá-los de forma a garantir a sustentabilidade energética da ilha com uma penetração
100% renovável na produção de energia eléctrica. Este projecto visa igualmente permitir reduzir a
dependência energética do exterior e poupar em combustı́vel, reduzindo as emissões de CO2.
O SAE a introduzir é uma bateria secundária. Pela comparação das caracterı́sticas tı́picas apre-
sentada na Tabela 2.1 bem como pelos factores descritos na Secção 2.3, a tecnologia BESS escolhida
para implementação neste projecto foi uma bateria de iões de lı́tio. Esta apresenta como já visto ca-
racterı́sticas técnicas impares no que ao rendimento e densidade de energia/potência diz respeito. A
bateria a instalar será utilizada maioritariamente numa aplicação de energia, isto é, o seu principal ob-
jectivo está associado ao custo de exploração do sistema eléctrico, ajudando a melhorar a rentabilidade
do mesmo. Assim aquilo que é desejável é que nos perı́odos em que a produção renovável é excessiva
face à carga, este excesso possa ser armazenado na bateria, para posterior aproveitamento quando a
carga aumenta face à geração, isto é, pretende-se que exista um deslocamento temporal de energia
(time shifting). Contudo esta também deve contribuir na regulação de tensão e frequência de forma a
manter a estabilidade da rede.
A bateria vai ser instalada geograficamente junto ao PSF sendo ligada no mesmo ponto da rede
que as renováveis (BUS2-SFV), com um cabo subterrâneo de alumı́nio (Al50) dimensionado de forma
a evitar sobrecargas. Na Figura 3.9 apresenta-se o esquema unifilar refente da instalação da BESS.

Figura 3.9: Esquema Unifilar da instalação do BESS.

O dimensionamento do BESS é apresentado no Capı́tulo 4 tendo em conta o estudo estacionário


realizado para a ilha da Brava em 2020.

42
Capı́tulo 4

Implementação e Modelização

Neste capı́tulo apresentam-se os meios utilizados para proceder aos estudos em regime estacionário e
dinâmico, relativamente ao software utilizado e aos modelos admitidos.
Na Secção 4.1 introduz-se o software de simulação utilizado, o PSS/E, apresentando-se de uma
forma geral o seu funcionamento na cálculo do trânsito de energia e a metodologia de processamento
utilizada nas simulações dinâmicas.
Na Secção 4.2 é exposta a forma como a rede da ilha da Brava foi implementada no programa e
apresentam-se os fundamentos dos modelos utilizados em regime estacionário e transitório. Adicional-
mente apresentam-se as considerações assumidas para o dimensionamento da BESS.

4.1 Software PSS/E

O software utilizado para modelar e implementar a rede em estudo foi o Power System Simulator /
Engineering (PSS/E), versão 32, distribuı́do pela Siemens PTI. Este é reconhecido como uma das
ferramentas mais utilizadas pelas empresas do sector energético, para validar os seus estudos. O
PSS/E permite analisar o trânsito de energia, efetuar simulações em regime dinâmico e estudar a
estabilidade dos sistemas, entre outras funções que permitem estudar o desempenho de redes de
energia eléctrica em regime permanente e dinâmico. Este software possui uma vasta biblioteca de
modelos dinâmicos de diversos componentes da rede eléctrica que permitem caracterizar de forma
fidedigna o seu comportamento aquando da ocorrência de uma contingência.
Para a resolução do trânsito de energia o programa permite a utilização do método de Gauss-
Seidel ou do método de Newton-Raphson, sendo o segundo o utilizado para a obtenção dos resultados
apresentados neste trabalho, por apresentar uma velocidade de convergência claramente superior face
ao primeiro.
As simulações dinâmicas têm como objectivo determinar a forma como um sistema responde à
ocorrência de um determinado estı́mulo, que pode ser um curto-circuito ou uma variação de geração,
por exemplo. O comportamento de um sistema eléctrico é descrito através de equações diferenciais.
O processo que o PSS/E realiza é baseado na resolução das equações diferenciais que caracterizam

43
o sistema a simular e na definição das suas variáveis de estado (STATEs). Então, a cada passo de
integração da simulação, as derivadas temporais de cada uma das variáveis de estado definidas são
calculadas, com recurso a parâmetros constantes (CONs) e variáveis (VARs), que descrevem o sistema
nesse determinado instante de tempo. O passo a seguir consiste na definição dos valores das variáveis
de estado do sistema no instante temporal seguinte, através dos valores das derivadas temporais e
variáveis de estado no instante temporal actual. Este processo é repetido de passo de integração em
passo de integração até ao fim do perı́odo de simulação. Na Figura 4.1 apresenta-se um esquema com
as acções básicas realizadas pelo PSS/E numa simulação dinâmica.

Figura 4.1: Sequência de acções realizadas pelo PSS/E numa simulação dinâmica, adaptado de [43].

A estrutura de dados dos modelos da bliblioteca do PSS/E é categorizada nos seguintes vectores
de dados: CONs, ICONs, STATEs, DSTATEs e VARs. Cada modelo reserva um número de posições
em cada um dos vectores consoante o número de variáveis de estado (STATEs) e suas derivadas
(DSTATEs), constantes reais (CONs) ou inteiras (ICONs) e variáveis (VARs) que o caracterizam. A
assimilação de dados é feita através de um ficheiro DYRE, que contém os parâmetros constantes
(CONs) que não variam durante a simulação. A rotina CONEC, por sua vez, serve para definição por
parte do utilizador de interconexões entre modelos introduzidos no DYRE e modelos auxiliares, tal como
foi feito para a associação entre os modelos representantes do BESS, o modelo ”PAUX1”e o ”CBEST”.

4.2 Implementação e modelização da rede no PSS/E

4.2.1 Introdução

A rede da ilha da Brava, referente a 2015, é implementada no PSS/E com recurso a 50 barramentos
interligados por 46 linhas/cabos, 4 transformadores e 4 geradores convencionais. Para a simulação
do cenário de 2020, o número de barramentos aumenta para 58, as linhas/cabos para 50, os trans-

44
formadores para 9 e os geradores convencionais mantêm-se, sendo acrescentadas as renováveis (2
aerogeradores e um PV) e a bateria. A rede eléctrica é composta por 2 nı́veis de tensão distintos: 6 kV
e 20 kV. Os geradores convencionais, a bateria e o barramento VILA operam a 0,4kV. O parque solar
funciona a uma tensão de 0,315 kV e os aerogeradores têm uma tensão de saı́da de 0,69 kV. O sistema
eléctrico da ilha é composto por 18 cargas no total, em que 3 funcionam na rede de distribuição de 6kV
e as restantes a 20 kV. Na Figura 4.2 apresenta-se o esquema unifilar desenhado no software PSS/E
referente ao ano de 2020.
Relativamente aos estudos em regime estacionário, foram realizadas algumas adaptações na rede
eléctrica da Brava apresentada no Anexo A, de forma a fosse possı́vel simulá-la da forma mais conve-
niente. Foram utilizados barramentos “fictı́cios” de forma a simular os ligadores aero-subterrâneos que
servem na rede de interface de ligação entre um cabo subterrâneo e uma linha aérea, o que justifica o
número acrescido de barramentos face à realidade.
Nas secções que se seguem apresentam-se algumas das considerações tidas na implementação
e modelização dos sistemas/componentes utilizados na rede quer em regime estacionário quer em
regime transitório. Os parâmetros utilizados para cada modelo dinâmico foram adaptados de estudos
anteriormente realizados com recurso ao PSS/E, uma vez que, não foi possı́vel obter dados concretos
dos parâmetros dinâmicos dos principais constituintes da rede. O foco principal contudo é apresentado
sobre os modelos utilizados para o BESS, sendo estes alvo de um maior detalhe.

4.2.2 Geradores Convencionais

Modelo Estacionário:
No caso das simulações realizadas sem bateria, o barramento da central de Favetal (BUS1), onde
se encontra ligada toda a geração convencional, é escolhido para ser o nó de balanço da rede eléctrica.
Os dados que são fornecidos para as máquinas sı́ncronas convencionais no regime estacionário cor-
respondem a: potência nominal, em MVA, limites de potência activa e reactiva, tensão especificada e
impedância equivalente da máquina (ZSORCE).
A tensão especificada para a CEFV (BUS1) é sempre mantida em 1 p.u. Segundo os dados forneci-
dos pela ELECTRA, os grupos são explorados com um factor de potência de 0,8 (cos φ=0,8), pelo que
os limites de potência activa e reactiva máximos foram obtidos tendo em conta tal caracterı́stica.
Foram tidas algumas considerações em conta na definição dos critérios de produção convencional,
como descritas de seguida. Primeiro, assumiu-se que a potência minı́ma a que os geradores devem
funcionar corresponde a 50% da sua potência nominal, isto porque o funcionamento a menos de meia
carga é desaconselhado em geradores a gasóleo, pois o calor por eles libertado deve ser suficiente
para aquecer o combustı́vel e assim manter a sua viscosidade. E em segundo, considera-se que os
grupos não consomem reactiva em regime estacionário, pelo que o limite mı́nimo de reactiva é 0.
A impedância ZSORCE de cada gerador não é um dado necessário para o cálculo do trânsito de
energia, contudo é preciso para as simulações dinâmicas, devendo corresponder à reactância subtran-
sitória da máquina, também definida no ficheiro DYRE.

45
60
MW Flow

50
40
30
27
24 TANTUM
20
BUS24
4 1
2 BUS4
BUS2 7
6 26
10
LEM
BUS6 CAMPO BAIXO
1 21
8 BUS21 31
1
BUS31 32 33
0
BUS8
BUS32 BOMBA4
3 5
BUS3 BRAGA 23 25
20 BUS23 PAU 1
BUS20
1 1 34
18 30 BOMBA3
BUS18 BUS30
53 54 1
BUS53 PV 22
BUS22 28
BUS28
17
MATO 29
BUS29 35 36
12 1 BUS35 F.D.AGUA
BUS12
1 10 13 1
BUS1 BUS10 BUS13 15 16
1 9 BUS15 BUS16
BUS9 37 38 39
1 56 11 BUS37 BUS38 COVA JOANA
BESS MATO GRANDE 19
55 CACHAÇO
BUS55
1
2 1 14 1
ANTENA 40
50

46
NS MONTE
VILA
3 1
1 1
1
4 41
BUS41
51 52
BUS51 AEROGERADOR
48
FURNA 47 45
BUS47 46 BUS45
LEGENDA :
BUS46 44
42 43 COVA RODELA
BUS42 BUS43 0,315 kV
1 1
49 1
S.BARBARA 0,4 kV
58
57 AEROGERADOR2
1 0,69 kV
BUS57
6 kV
1 20 kV
Figura 4.2: Esquema unifilar no PSS/E referente ao ano de 2020.
Na Tabela 4.1 apresentam-se os dados utilizados no regime estacionário para cada um dos grupos
forma a simular os ligadores aero-subterrâneos que servem na rede de interface de ligação
da CEFV. entre um cabo subterrâneo e uma linha aérea.

Geradores Convencionais
Tabela 4.1: Dados dos grupos térmicos em regime estacionário.
Tensão
SN PMAX PMIN QMAX QMIN ZSORCE
Localização Barramento especificada Grupo
[MVA] [MW] [MW] [Mvar] [Mvar] [p.u]
[p.u]
I (G1) 0,320 0,256 0,128 0,192 0
Favetal II (G2) 0,5 0,4 0,2 0,3 0
BUS1 1,0 0,271
(CEFV) III (G3) 0,5 0,4 0,2 0,3 0
IV (G4) 0,45 0,36 0,18 0,27 0
Total 1,77 1,416 0,708 1,062 0

Aerogeradores
ModeloPVs
Dinâmico:
São muitos os modelos que a biblioteca do PSS/E disponibiliza para a modelização dos geradores,
SN PMAX QMAX QMIN ZSORCE
reguladoresLocalização Barramento/Nome
carga-velocidade e reguladores de [MVA]
tensão (excitatrizes).
[MW] Uma
[Mvar] vez que,[p.u]
[Mvar] a CEFV trata-se de
Furna com geradores sı́ncronos que contribuem para a regulação primária de frequência,
uma central térmica BUS54-PV 0,379 0,36 0,118 0 9999
(PSF)
os modelos escolhidos devem ter em conta tais caracterı́sticas.
BUS52-Aerogerador1 0,237 0,225 0,074 0 0,8
Furna
Os quatro (PEVF)
geradores da CEFV apesar de apresentaram potências nominais diferentes estes são
BUS58-Aerogerador2 0,237 0,225 0,074 0 0,8
todos modelizados como máquinas sı́ncronas com rotor de pólos salientes com os mesmos parâmetros,
dadas as pequenas diferenças de potência que apresentam entre si. Como tal utiliza-se o modelo
BESS
”GENSAL” para caracterizar cada um dos geradores.
Para modelizar os reguladores de tensão utilizou-se o modelo ”IEEET1”. Estes são responsáveis por
modelar umLocalização
sistema de excitaç SN o gerador
ão capaz de excitar PMAX PMIN
sı́ncrono Q
atrav QMIN
MAX és de uma ZSORCE
corrente contı́nua
Barramento/Nome
[MVA] [MW] [MW] [Mvar] [Mvar] [p.u]
que atravessa Furna
o enrolamento indutor do rotor criando um campo magnético. Os valores utilizados para
BUS55-BESS 0,972 0,875 -0,875 0,424 -0,424 9999
os parâmetros(BESS)
foram retirados de estudos já realizados no PSS/E. Para validar os parâmetros do mo-
delo realizou-se a actividade ”ESTR/ERUN” do PSS/E que permite simular testes ao desempenho do
Protecçoes
sistema de excitação. Esta actividade verifica os parâmetros definidos para sistema de excitação dos
Tensão
geradores, em isolado, através da resposta do sistema a um variaçãoFrequência
em escalão da tensão de re-
Escalões Aerogeradores PV’s Aerogeradores PV’s Escalões
ferência do V
regulador
min1 [pu] de tens0,10
ão. Na Figura C.2, do Anexo C apresenta-se
0,85 45 a resposta
45 dafmin1
excitatriz
[Hz] com
TP1 [s] 0,01 0,01 0,02 0,2 TP1 [s]
os parâmetros
Vmin2apresentados
[pu] na Secção C.4. --Apresentam-se 45
0,25 duas grandezas,-- a ETRM
fmin2que
[Hz] corres-
TP [s] 0,68 -- 30 -- TP [s]
ponde à tens ão2 aos terminais
Vmin3 [pu]
do regulador, em
0,35 --
p.u, e a EFD que
55
corresponde55à tensão 2
de saı́da da
fmax1 [Hz]
TP
excitatriz, em p.u.
3 [s] 0,83 -- 0,02 0,2 TP 3 [s]
Vmin4 [pu] 0,50 -- 55 -- fmax2 [Hz]
TP4 da
Pela análise [s] Figura C.21,05 --
verifica-se o correcto 10 dos reguladores
funcionamento TPão.
-- de tens 4 [s]A ETRM
Vmin5 [pu] 0,65 --
estabiliza na TP
tens ão de 1,05 p.u
5 [s] 1,28passados 4 segundos
-- da variação em escalão da tensão de referência
Vmin6 [pu] 0,80 --
em 0,05 p.u. TP
A 6vermelho
[s] apresenta-se
1,50 a resposta
-- da tensão de saı́da da excitatriz, em que é possivel
verificar que é uma resposta rápida que apresenta um comportamento inicial oscilatório, acabando por
estabilizar por volta dos 3 segundos.
Os reguladores carga-velocidade são responsáveis por assegurar o controlo primário de frequência
de um grupo gerador. Para isto, o regulador compara a velocidade de rotação do grupo com a de
referência e controla a actuação na válvula de admissão de combustı́vel à turbina do grupo permitindo
assim variar a potência mecânica do mesmo. Para modelizar os reguladores carga-velocidade dos

47
geradores utilizou-se o modelo ”DEGOV1”. Este é um modelo que caracteriza o motor de combustão
interna e o seu regulador em que é feito um controlo por estatismo, que garante uma caracterı́stica
da frequência em função da potência mecânica da turbina, com base no valor de estatismo definido.
Mais uma vez, os valores utilizados foram retirados de estudos realizados no PSS/E. Para validar os
parâmetros do modelo realizou-se a actividade ”GSTR/GRUN” do PSS/E que permite simular testes
ao desempenho do regulador carga-velocidade. Com esta actividade a resposta do regulador de cada
grupo é testada isoladamente através da variação em escalão do nı́vel de carga do gerador. O objectivo
principal é verificar se os parâmetros definidos para o ”DEGOV1” conduzem a uma resposta amortecida,
sem oscilações persistentes. Na Figura C.3, do Anexo C, apresenta-se a resposta do regulador carga-
velocidade com os parâmetros apresentados na Secção C.4. Apresentam-se duas grandezas, o SPD
que corresponde à variação de velocidade da máquina, em p.u, e a PMEC que corresponde à potência
mecânica da máquina, em p.u na base da máquina. O estado de carga inicial do gerador testado é de
0,8 p.u. sendo aplicada uma variação do nı́vel de carga de + 0,1 p.u..
Pela análise da Figura C.3 verifica-se que a resposta do ”DEGOV1” ao aumento do nı́vel de carga
do gerador é rápida, estabilizando em 7 s e que é amortecida tal como desejável, o que confirma os
parâmetros definidos para o modelo e o correcto funcionamento dos reguladores de carga-velocidade
dos grupos térmicos.

4.2.3 Renováveis

As centrais PEVF e PSF são constituı́das por unidades de geração renováveis cuja modelização é
apresentada nesta secção.
Modelos Estacionários:
Relativamente ao PEVF este é composto por 2 aerogeradores iguais do tipo MIDA. Em regime esta-
cionário, para o cálculo do trânsito de energia, as turbinas eólicas são modeladas de forma semelhante
aos geradores convencionais. As principais diferenças surgem relativamente aos limites de potência
reactiva em que é possı́vel definir o modo de controlo da potência reactiva a injectar, tendo se optado
pelo modo ”Standart QT,QB limits”. Este modo de controlo impõe os limites de reactiva de acordo com
a potência nominal e o cos φ definidos para cada uma das turbinas eólica, sendo que o limite minimo é
sempre imposto como nulo, impedindo que em regime estacionário as máquinas consumam reactiva.
Quanto ao PSF, os sistemas fotovoltaicos são modelados em regime estacionário da mesma forma
que os aerogeradores. Por estes possuı́rem como interface de conexão à rede um conversor, o
parâmetro XSORCE é definido como infinito (XSORCE=9999). O modo de controlo de potência re-
activa utilizado é exactamente o mesmo que é usado para os aerogeradores.
Para qualquer um dos aproveitamentos renováveis optou-se por considerar que operam a um fac-
tor de potência de 0,95. Os barramentos a que são ligados são do tipo PV (tipo 2). Na Tabela
4.2 apresentam-se os dados utilizados no regime estacionário para cada uma das centrais não des-
pacháveis (PEVF e PSF).
Modelos Dinâmicos:1
1 Os modelos utilizados podem ser consultados em [43]

48
IV (G4) 0,45 0,36 0,18 0,27 0
Total 1,77 1,416 0,708 1,062 0

Aerogeradores

PVs
Tabela 4.2: Dados dos parques renováveis em regime estacionário.
SN PMAX QMAX QMIN ZSORCE
Localização Barramento/Nome
[MVA] [MW] [Mvar] [Mvar] [p.u]
Furna
BUS54-PV 0,379 0,36 0,118 0 9999
(PSF)

BUS52-Aerogerador1 0,237 0,225 0,074 0 0,8


Furna
(PEVF)
BUS58-Aerogerador2 0,237 0,225 0,074 0 0,8

BESS
Para modelizar os aerogeradores do tipo MIDA a biblioteca do PSS/E possui um grupo de 4 mode-
los da famı́lia ”WT3”, que permitem caracterizar de forma fidedigna o desempenho dinâmico de uma
máquina de indução duplamente alimentada, com controlo de potência activa através do conversor que
SN PMAX PMIN QMAX QMIN ZSORCE
Localização Barramento/Nome
liga o rotor do aerogerador à rede. Este grupo de modelos
[MVA] [MW]possui:
[MW]um modelo
[Mvar] para o gerador/conversor
[Mvar] [p.u]
(”WT3G1”), Furna
um modelo para o controlo do 0,972
BUS55-BESS conversor electrónico
0,875 -0,875(”WT3E1”),
0,424 um modelo9999
-0,424 da turbina
(BESS)
(”WT3T1”) e um modelo do controlo do pitch das pás (”WT3P1”).

O modelo ”WT3G1” é responsável pela injecção de corrente (parte real e reactiva) na rede de acordo
Protecçoes
com a resposta proveniente dos comandos do modelo de controlo do conversor. Ao contrário do modelo
Tensão Frequência
que caracteriza os geradores convencionais (”GENSAL”), o ”WT3G1” não apresenta variáveis de estado
Escalões Aerogeradores PV’s Aerogeradores PV’s Escalões
Vmin1sendo
para o rotor, [pu] estas incluı́das
0,10 no modelo0,85
”WT3T1”. Na prática45 este modelo 45 fmin1 [Hz]por
é caracterizado
TP1 [s] 0,01 0,01 0,02 0,2 TP1 [s]
uma fonteVmin2
de corrente
[pu] controlada
0,25 que calcula a corrente
-- a injectar 45
na rede de acordo -- com os fcomandos
min2 [Hz]
TP2 [s] 0,68 -- 30 -- TP2 [s]
de fluxo e corrente activa que recebe do modelo ”WT3E1”. Por sua vez, o controlador modelado por
Vmin3 [pu] 0,35 -- 55 55 fmax1 [Hz]
”WT3E1” éTPrespons
3 [s] ável por0,83 -- activa e reactiva
controlar a potência 0,02 TP3 [s]
0,2pelo aerogerador.
a injectar na rede
Vmin4 [pu] 0,50 -- 55 -- fmax2 [Hz]
O modelo TPinclui
4 [s]um sistema1,05
de controlo de potência
-- activa e outro10 de reactiva. O --
sistema deTPcontrolo
4 [s]
Vmin5 [pu] 0,65 --
da potência reactiva pode ser modelado de acordo com 3 tipos de regulação do controlo: por potência
TP5 [s] 1,28 --
Vmin6 [pu] por factor
reactiva constante, 0,80 --
de potência constante ou por tensão. Escolheu-se o controlo da potência
TP6 [s] 1,50 --
reactiva para regular a tensão aos terminais da máquina, em concordância com o método de controlo
escolhido no estacionário. Relativamente ao sistema de controlo da potência activa (binário), este uti-
liza uma função não linear para ajustar a velocidade do aerogerador como função do nı́vel de potência
eléctrica. Quanto ao modelo ”WT3T1” este é responsável por calcular a potência mecânica e a velo-
cidade da turbina eólica. Inclui a modelização mecânica do veio e do rotor do gerador, para além do
modelo de conversão aerodinâmico que permite obter a potência mecânica extraı́da do vento em função
do ângulo de pitch. Por fim, o modelo ”WT3P1” é responsável por controlar o ângulo de pitch. O ângulo
de pitch é regulado de forma a que o aerogerador funcione no ponto de máxima eficiência, ou seja,
garante que para as diferentes velocidades de vento a turbina opera com coefiente de potência (Cp)
máximo. Tal factor só é possivel com a variação da velocidade do rotor.

Para modelizar os PVs, por sua vez, o PSS/E dispõe dos modelos ”PVGU” e ”PVEU” que simulam
o desempenho dinâmico de um PV conectado à rede através de um inversor. O primeiro, o ”PVGU”,
corresponde ao modelo do conversor/gerador e o segundo, o ”PVEU”, corresponde ao modelo do con-
trolador electrónico do PV. O modelo ”PVGU” é responsável por calcular a corrente a injectar na rede
com base nos comandos provenientes do controlador ”PVEU” relativamente à potência activa e reactiva.

49
Adicionalmente foram utilizados dois modelos, um que permitem obter a caracterı́stica linearizada da
potência de saı́da do PV (”PANELU”) e outro que caracteriza o perfil de irradiância a simular (”IRRADU”).
O modelo ”PANELU” permite calcular a potência DC do sistema fotovoltaico para um determinado nı́vel
de irradiância, uma vez que, no ficheiro DYRE são introduzidos, para nı́veis de irradiância padrão, a
potência gerada pelos painéis.
Os parâmetros utilizados para os modelos dos aerogeradores e PVs foram adaptados dos exemplos
do PSS/E, sendo apresentados os seus valores no ficheiro DYRE, em Anexo C.

4.2.4 Protecções

Considerou-se conveniente dimensionar protecções de frequência e tensão para os aerogeradores e os


PVs a instalar na rede eléctrica da Brava, visto os seus modelos não apresentarem protecções internas.
O modelo utilizado para as protecções de tensão foi o ”VTGTPA” e para as protecções de frequência foi
o ”FRQDCA”. Ambos os modelos pretendem simular relés, sendo definido o tempo de extinção do arco
através dos tempos de abertura dos disjuntores (TB=0,08), da temporização das protecções (TP) e dos
limites de actuação das mesmas. Quando as condições de tensão/frequência ultrapassam os limites
definidos nas proteções, o temporizador destas arranca. Caso as condições de tensão/frequência se
restabeleçam antes do tempo TP é feito reset à temporização do disjuntor. Assim as condições de
tensão/frequência devem se manter acima (sobre-protecção) ou abaixo (sub-protecção) das condições
permitidas durante todo o tempo TP para que seja dada ordem de abertura ao disjuntor.
O modelo ”VTGTPA” é responsável por monitorizar continuamente a tensão no barramento a que é
associado, neste caso nos barramentos onde é ligada a geração renovável (Aerogeradores-BUS52 e
BUS58 e PVs-BUS54) e proceder à abertura do disjuntor desconectando a geração da restante rede,
caso existam condições severas que o obriguem. Para cada um dos aerogeradores são utilizados
10 escalões de protecção de tensão, em que 7 são contra subtensões e 3 são contra sobretensões.
Cada escalão apresenta uma temporização TP diferente que é tanto mais demorada quando menos
severos forem os valores de tensão limite. Este dimensionamento é feito com o objectivo de emular nos
aerogeradores a capacidade de sobrevivência a cavas de tensão (fault ride-through). Esta proteção
simulada é obtida de uma caracterı́stica real utilizada neste tipo de aerogeradores dotando as máquinas
com capacidade de sobrevivência a quedas de tensão, tal como apresentado no Anexo C, na Figura C.1.
Para os PVs são apenas considerados 2 escalões de proteção, um contra sobretensões e outro contra
subtensões, sendo as temporizações da proteções mais exigentes que as usadas nos aerogeradores.
O modelo ”FRQDCA” tem o mesmo princı́pio de actuação que o ”VTGTPA”, contudo é responsável
por monitorizar a frequência ao invés da tensão. Por outro lado, este modelo é capaz de desconectar
qualquer equipamento que esteja ligado ao barramento em que o relé é associado. Assim sendo,
quando esta protecção actua para além da geração também o transformador elevador é desligado da
rede. Para cada um dos aerogeradores são utilizados 4 escalões, 2 contra sobre-frequências e 2 contra
sub-frequências. Em cada par de protecções uma é para regimes transitórios e outra para regimes
estacionários pós-transitório, sendo estas distinguidas pela temporização TP. Para os PVs são apenas

50
TP5 [s] 1,28 --
Vmin6 [pu] 0,80 --
TP6 [s] 1,50 --
Vmin7 [pu] 0,90 --
TP7 [s] 10,00 --
Vmax1 [pu] 1,3 1,1
TP8 [s] 0,01 0,01
Vmax2 [pu] 1,15 --
considerados
TP9 [s]2 escalões 1,3
de proteção, um contra
-- sobre-frequências e outro contra sub-frequências.
Vmax3 [pu] 1,1 --
TP10 [s]4.3 apresentam-se
Na Tabela 3,0 os dados--de todas as proteções utilizadas.

Tabela 4.3: Dados para os diferentes escalões das protecções de tensão/frequência.


Tensão
Aerogeradores PV
Subtensões Sobretensões Sub Sobre
Escalões Vmin1 Vmin2 Vmin3 Vmin4 Vmin5 Vmin6 Vmin7 Vmax3 Vmax2 Vmax1 Vmin1 Vmax1
Tensão limite
0,1 0,25 0,35 0,50 0,65 0,8 0,9 1,1 1,15 1,3 0,85 1,1
[p.u]
Temporização
0,01 0,675 0,825 1,05 1,275 1,5 10 3 1,3 0,01 0,01 0,01
[s]
Frequência
Aerogeradores PV
Subfrequências Sobrefrequências Sub Sobre
Escalões fmin1 fmin2 fmax1 fmax2 fmin1 fmax1
Freq. limite
47 47,5 52 51,25 47 51
[Hz]
Temporização
0,02 10 0,02 10 0,2 0,2
[s]

Características do BESS
Pn [MW] 0,875
EbatN [MWh] 3,5
Vout [V] 400
4.2.5 Bateria (BESS)
Tempo c/d à Pn [h] 4
PD [%] 85

A bateria é um elemento fundamental no aumento da penetração renovável no sistema electroprodutor


da ilha da Brava e na concretização dos planos para 2020.

Tal como já apresentado em 2.3.5, um BESS pode ser utilizado tanto em aplicações de ı́ndole
energética em que a capacidade e o tempo de resposta são maiores, ou em aplicações de potência em
que o tempo de resposta deve ser curto e a potência elevada. Enquanto SAE cuja aplicação central
é ser utilizado para compensar o desnı́vel entre a geração disponı́vel e a procura a cada instante, é
importante que a capacidade do BESS seja suficiente para absorver a potência renovável excedente.
Assim, permite que as renováveis se mantenham em serviço e que não tenham de ser desligadas. Por
outro lado, o BESS deve também ser capaz de regular as variações de frequência que se verificam na
rede resultantes de uma contingência, através da injecção ou absorção de energia, garantindo assim a
estabilidade desta.

Tal como já abordado em 2.3.2, o conversor bidirecional é um componente fundamental num BESS e
como tal tem de ser considerado na modelização do sistema da bateria. A escolha natural do conversor
para servir de interface entre a rede e o BESS assenta num conversor de tensão (Voltage Source
Converter (VSC)). Este tipo de conversor opera com uma estratégia de controlo da tensão aos terminais
da bateria controlando assim a potência da bateria. A polaridade da tensão aos terminais da bateria
mantém-se constante dependendo a potência transferida por esta apenas do sentido da corrente Direct
Current (DC). Estes conversores permitem que haja um grau de independência entre a tensão contı́nua
e a sintetizada antes da reactância do conversor, o que permite um controlo independente da potência
reactiva e activa [43].

51
4.2.5.1 Dimensionamento

Para o dimensionamento considera-se então Ebat como sendo a energia média requerida pela bateria
por dia. Esta é avaliada pelo défice/excedente de potência entre a potência renovável disponı́vel e a
potência de carga para cada uma das horas, tal como apresentado na expressão 4.1. Assim é possı́vel
definir a capacidade Ebat da bateria com recurso à expressão 4.2.

Pdif (t) = Prendisp (t) − Pcarga (t) . (4.1)


24
X
Ebat = Pdif (t) × ∆t , (4.2)
j=1

em que, ∆t corresponde ao perı́odo de tempo em que a potência é despachada.


Por outro lado, para que o dimensionamento da bateria seja mais real é necessário entrar em
consideração com a PD, a autonomia e a deterioração resultante da utilização e do tempo de vida.
No caso da PD considerou-se que de forma a não comprometer a longevidade e eficiência da bateria
não devia ultrapassar os 85%, o que corresponde a um SOC que no mı́nimo pode alcançar os 15%
da capacidade da bateria. A autonomia Aut, por sua vez, indica a duração a que a bateria é capaz de
suportar a procura sem que seja carregada. Considerou-se que a bateria a instalar teria uma autono-
mia de 1 dia, para o caso estudado. Por fim, considerou-se através de um factor de correcção F c, o
efeito que a temperatura de operação e idade apresentam na capacidade total de uma bateria. O factor
de correcção considerado foi de 110%2 . Este factor de correcção serve para compensar a capacidade
nominal da bateria, tendo em conta o aumento da capacidade de armazenamento pelo funcionamento
a uma temperatura média de 25o C e por outro lado, a perda de capacidade causada pelo envelheci-
mento e deterioração das células com o tempo. Incluindo estes três parâmetros no dimensionamento
da bateria, a capacidade nominal EbatN da mesma é dada por:

F c(%) × Ebat × Aut


EbatN = . (4.3)
P D(%)

Para determinar o número de células em paralelo e série que a bateria tem que ter para possuir a
capacidade e a tensão definidas, tem-se:

• Células em série: Quociente entre a tensão nominal que a bateria vai operar na rede (Vout = 400
V) e a tensão nominal de cada módulo de células (Vc= 12,8 V), permite identificar o número de
módulos a conectar em série para atingir a tensão nominal da BESS. São portanto necessários
32 módulos em série;

• Células em paralelo: Quociente entre a capacidade nominal da bateria EbatN e a capacidade


individual de cada módulo de células, permite identificar o número de células a conectar em
paralelo para alcançar a capacidade nominal definida para a bateria. São necessários 29 módulos
em paralelo, tal como se apresenta na Secção 5.2.3.1.

2 adaptado de https : //www.wbdg.org/ccb/DOD/ST C/twewgt p4.pdf

52
Para motivos de simulação e obtenção de caracterı́sticas considerou-se a datasheet apresentada
no Anexo B. Na datasheet apresenta-se as caracterı́sticas por módulo de uma bateria de lı́tio LiFePO4
(fosfato de ferro de lı́tio). A escolha desta bateria está associada ao facto de esta tecnologia de baterias
de lı́tio apresentar um elevado desempenho (eficiência de 99%) e qualidade de serviço. Apresenta
tempo de vida útil longo (até 5000 ciclos), alta densidade de energia e é mais segura que as baterias
de lı́tio convencionais. Por outro lado, são baterias que permitem uma PD elevada, sendo consideradas
baterias indicadas para aplicações de ciclo profundo. Cada módulo apresenta uma tensão de descarga
aproximadamente constante nos 12, 8V correspondendo a 4 células em série de tensão nominal de
3, 2V cada. Não apresenta efeito de memória e a capacidade de cada módulo (Emodulo ) é de 300Ah, o
que corresponde a 3, 6kW h.
O dimensionamento da bateria de acordo com toda esta metodologia é feito tendo em conta os
resultados do regime estacionário apresentados em 5.2.3.1, apresentando-se desde já, na Tabela 4.4,
as caracterı́sticas técnicas do BESS utilizado nas simulações para a ilha da Brava 100% renovável.

Tabela 4.4: Caracterı́sticas de dimensionamento do BESS.

4.2.5.2 Modelização

O modelo utilizado para representar o BESS é um modelo desenvolvido pela Electric Power Research
Institute (EPRI) como o objectivo de simular as caracterı́sticas dinâmicas de uma bateria, o modelo
”CBEST”. Este modelo encontra-se na biblioteca do PSS/E e está descrito em [43]. Este permite
modular a potência activa e reactiva fornecidas pela bateria. Tal como outros modelos de Flexible
AC Transmission System (FACTS), este modelo de bateria permite melhorar a estabilidade transitória,
fornecer amortecimento, melhorar a estabilidade da tensão e/ou limitar as excursões da frequência [44].
Para que tais aplicações sejam bem desempenhadas é necessário associar ao ”CBEST” o sinal externo
adequado para que a bateria seja capaz de modelar o seu desempenho em qualquer destas funções.
Apresenta-se agora a forma com o modelo ”CBEST” deve ser definido nos estudos em regime
estacionário e dinâmico.
Modelo Estacionário:
Em regime estacionário, para resolver o trânsito de energia, o BESS é modelado como um gerador
convencional com uma elevada impedância (ZSORCE = 9999) de modo a eliminar as contribuições
para o curto-circuito. A definição de uma impedância elevada serve para emular o facto do BESS não
ser ”visto” pela rede por este ser ligado a esta através de electrónica de potência (conversor bidirecional)

53
que permite que a corrente alternada (AC) seja rectificada durante o carregamento e que a corrente
continua (DC) seja invertida durante a descarga.
Este modelo permite a inicialização com um factor de potência diferente de zero, ou seja, com
potência inicial não nula, alarmando apenas a existência de uma variável de estado que é não nula
na computação dos STATES de energia do modelo. O BESS utilizado (Tabela 4.4) tem uma potência
nominal de 0, 875M W e como este pretende ser utilizado para controlo de potência activa e reactiva
é definido um factor de potência, cos φ=0,9. Assim este é definido com uma potência nominal de
0, 972M V A. Os limites de potência activa são de 0, 875M W e −0, 875M W , uma vez que, a bateria
tem capacidade de ser descarregada e carregada. Relativamente à potência reactiva que a bateria
pode entregar ou absorver os limites são definidos de acordo com o factor de potência assumido (Q =
S × senφ), pelo que os limites obtidos são os seguintes 0, 424M var e −0, 424M var, respectivamente.
Este dados que são utilizados para a obtenção do trânsito de energia encontram-se resumidos na
Tabela 4.5.

Tabela 4.5: Dados da bateria em regime estacionário.

Modelo Dinâmico:
O circuito de controlo da potência activa do modelo ”CBEST” encontra-se apresentado na Figura
4.3 através do seu diagrama de blocos.

Figura 4.3: Diagrama de blocos do controlo de potência activa do modelo CBEST.

A potência de saı́da POU T e a energia total EOU T da bateria são as variáveis principais deste mo-
delo. De referir que no modelo ”CBEST”, uma potência quando é negativa indica que a bateria está
na fase de recarga e que quando é positiva a bateria encontra-se a descarregar. Este modelo permite
definir os limites da potência activa absorvida e fornecida pelo BESS. Por um lado, são impostos os
limites nominais (definidos por -PM AX e PM AX ), por outro os limites impostos pelo conversor, nomea-
damente pela corrente AC deste (definidos por -IACM AX e IACM AX ). A energia absorvida ou injectada
é calculada no modelo tendo em consideração o rendimento do BESS. Assim, aquando da integração
no tempo da potência de saı́da da bateria (POU T ) para obter a energia total (EOU T ), o rendimento resul-
tante do processo de carga ou descarga, consoante o caso, é considerado por IN P EF F ou OU T EF F ,
respectivamente.

54
O modelo não tem como controlar se durante a simulação é excedida a capacidade de armaze-
namento do BESS, pelo que assume que a capacidade da bateria é suficientemente grande para co-
brir toda a solicitação de energia que ocorre durante a simulação. Contudo o modelo apresenta na
VAR(L+4) a soma da energia que entra e sai do BESS, o que corresponde à energia total da bateria.
O PIN IT corresponde sempre ao valor de potência positivo ou negativo que provém do regime
estacionário e que define o estado inicial da bateria. Os parâmetros M BASE e SBASE correspondem
respectivamente, às potências base, em MVA, do BESS (igual a 0, 972M V A) e do sistema (igual a
1M V A). A potência máxima PM AX é considerada 0, 9p.u. na base do BESS, sendo este igual ao factor
de potência definido no modelo estacionário para a bateria. O IACM AX é definido pela expressão
PM AX
cosφ o que corresponde a 1p.u., uma vez que, PM AX = cosφ. Contudo, o valor que foi definido para
o IACM AX foi de 1, 2p.u., considerando-se assim que o conversor admite alguma sobrecarga. Já o
parâmetro VAC corresponde à tensão do barramento, em p.u, a que o BESS é conectado na rede, ou
seja, no BUS55. Por fim, os últimos parâmetros relativos ao rendimento do processo carga/descarga,
IN P EF F e OU T EF F são definidos em 0, 95 e 1, 05, o que corresponde a um rendimento do BESS de
cerca de 90%.
Uma das entradas do modelo de potência activa do modelo ”CBEST” da Figura 4.3 é o PAU X . Esta
entrada requer a utilização de um modelo auxiliar que defina a função da bateria e o seu desempenho
relativamente ao controlo de potência activa. A função pretendida para o BESS é que este seja capaz
de controlar as flutuações de frequência através da injecção ou absorção de energia. Assim para que
o BESS seja capaz de desempenhar tal função, a entrada PAU X do modelo ”CBEST” é associado
ao sinal auxiliar gerado pelo modelo ”PAUX1”. O modelo ”PAUX1” não se encontra na documentação
disponibilizada pelo PSS/E contudo existe um modelo cuja dinâmica é igual, o ”PAUX1T” mas que
apenas pode ser associado a linhas de corrente continua ou FACTS. Para associar o sinal gerado pelo
”PAUX1” à entrada do modelo ”CBEST” foi necessário utilizar o compilador FORTRAN e desenvolver
declarações na rotina CONEC que permitem concretizar a conexão da saı́da do modelo auxiliar ”PAUX1”
à entrada PAU X do modelo ”CBEST”.
O modelo ”PAUX1” consiste num modelo auxiliar sensı́vel à frequência. Este permite modelar a
potência activa do modelo ”CBEST” com base no valor instantâneo do desvio de frequência da rede,
pelo que, a potência activa a ser injectada/absorvida pelo BESS é função das flutuações de frequência
que se verificarem. Na Figura 4.4 apresenta-se o diagrama de blocos do modelo PAUX1.

Figura 4.4: Diagrama de blocos do modelo PAUX1.

Este modelo é essencialmente um controlador proporcional com um ganho associado. Pela análise
da Figura 4.4 verifica-se que este modelo é constituı́do por um filtro passa-baixo com constante de
tempo TR , por um bloco de amostragem com constante de tempo TD , por um ganho KC e por um bloco

55
limitador da potência máxima e mı́nima.
O modelo recebe como sinal de entrada o desvio de frequência, em p.u, do barramento onde o
BESS é ligado, gerando uma potência de saı́da proporcional, em MW, que é conectada à entrada
PAU X do modelo ”CBEST”. O sinal do desvio de frequência tanto pode ser positivo como negativo,
conforme o efeito causado por uma contingência provoque um excesso ou défice de potência activa,
respectivamente. O sinal de saı́da do modelo então tem que apresentar sinal contrário ao do desvio
de frequência de forma a que o PAU X possa compensar os desvios de frequência. Para que tal se
verifique então o ganho KC tem que ser negativo.
O ganho KC é definido em MW/p.u, de forma a que o sinal de saı́da do modelo ”PAUX1” venha em
unidades de potência (MW), visto que o desvio de frequência vem em p.u na base de frequência (50
Hz). Utilizou-se o valor para o ganho KC de −10M W/p.u. Para a constante de tempo TR definiu-se
1ms, o que representa um filtro passa baixo com frequência de corte em 1kHz. A constante de tempo
TD foi definida com 1ms, o que indica que a frequência lida do barramento em que é ligado o BESS é
amostrada com este intervalo de tempo. O limitador apresenta como limite máximo e mı́nimo os limites
de potência impostos pela bateria, 0, 875M W e −0, 875M W , respectivamente. O barramento que foi
escolhido para ler a frequência foi o BUS55 ao qual está ligado o transformador associado ao BESS.
Por fim, falta apresentar a parte do modelo ”CBEST” responsável pelo controlo de potência reactiva,
apresentando-se na Figura 4.5 o seu diagrama de blocos.

Figura 4.5: Diagrama de blocos da parte de controlo de reactiva do modelo CBEST.

O modelo para a potência reactiva é composto por um regulador de tensão em tudo semelhante com
o modelo que o PSS/E utiliza para o FACTS, Static Condenser (STATCON) pelo que foram seguidas as
indicações fornecidas no manual, em [43] para este modelo. A potência reactiva de saı́da do modelo
”CBEST”, QOU T , assume a mesma convenção da potência activa, de que quando o seu valor é negativo
corresponde à absorção de reactiva e quando é positivo corresponde à injecção de reactiva por parte
da bateria.
A parte reactiva da corrente, IQ , é controlada directamente pelo regulador de tensão. O integrador
KAV R
s é delimitado pelos limites de corrente do conversor (IQM AX e -IQM AX ). Estes são definidos tendo
em consideração os limites utilizados para o circuito da potência activa, tendo em conta que o modelo
”CBEST” dá prioridade à potência activa. Assim, IQM AX é obtido por 4.4, em que PAC corresponde à
potência de saı́da, em p.u., proveniente da parte de controlo de potência activa do ”CBEST” (ver Figura
4.3).

56
r
2 PAC 2
IQM AX = IACM AX − ( ) . (4.4)
VAC

Tal como sugerido no manual, o parâmetro KAV R deve ser calculado através da expressão 4.5,
em que ∆Eterm /∆Ireac representa a sensibilidade da tensão aos terminais do BESS relativamente
à variação de corrente reactiva deste. Na expressão 4.6, Zthev corresponde ao inverso da corrente
de curto-circuito, em p.u, que se verifica aos terminais do BESS. Após a realização dos cálculos
apresentados obteve-se que o KAV R é igual a 35.

25
KAV R = . (4.5)
∆Eterm /∆Ireac

∆Eterm Zthev × M BASE


= . (4.6)
∆Ireac SBASE

As constantes de tempo T1 , T2 , T3 , T4 são consideradas todas iguais e os parâmetros VM IN e


VM AX são definidos como infinitos, ou seja, -9999 e 9999, respectivamente, tal como sugerido no
manual como valores tı́picos do modelo. O DROOP por sua vez é aconselhado que apresente um
0,01 a 0,05
valor de acordo com a seguinte gama IACM AX , pelo que se optou por considerar um DROOP = 0, 03.

57
Capı́tulo 5

Simulações e Resultados

Neste capı́tulo expõe-se todo o processo desde a construção dos cenários a simular e a justificação
para cada um deles, até à apresentação dos resultados do trânsito de energia e das simulações
dinâmicas.
Na Secção 5.1 apresentam-se os 4 cenários de carga/geração utilizados para estudar a rede da ilha
da Brava, bem como os diferentes panoramas simulados que se caracterizam por diferentes configurações
do sistema electroprodutor para 2020.
Na Secção 5.2 divulgam-se os resultados obtidos do trânsito de energia para cada um dos panora-
mas e cenários de estudo. Os resultados apresentados focam-se na avaliação da geração de potência
activa e reactiva por parte das unidades de geração em serviço, dos nı́veis de tensão, perdas e da
existência de sobrecargas. Para os panoramas em que o BESS se encontra instalado são apresenta-
dos todos os pressupostos da sua operação apresentando-se no Anexo D, o despacho da bateria para
cada panorama durante um dia.
Por fim, na Secção 5.3 apresentam-se todos os estudos dinâmicos efectuados para testar a estabi-
lidade da rede da ilha da Brava, para os panoramas de 2020, com e sem geração convencional. São
efectuadas simulações para 4 perturbações distintas, sendo apresentado o comportamento transitório
das principais grandezas da rede e formalizados comentários crı́ticos ao regime estacionário que se
alcança (ou não) após cada uma das perturbações.

5.1 Construção dos cenários de simulação

Nesta secção apresentam-se os cenários de carga/geração desenvolvidos para estudar a rede eléctrica
da ilha da Brava em 2020. Definiram-se 4 cenários diferentes com o objectivo de estes simularem
diferentes perfis de carga e geração renovável disponı́vel e assim permitirem obter resultados o mais
generalizados possı́vel. Interessa recordar o diagrama de carga previsto para 2020, apresentado na
Figura 3.6, pois é com base neste que serão construı́dos os cenários de simulação.
Relativamente à geração renovável disponı́vel esta foi obtida assumindo que a caracterização solar
e eólica apresentada na secção 3.2.4 se mantem para 2020, pelo que o perfil de vento (Figura 3.5) e de

58
Relativamente ao perfil de vento na ilha da Brava, por ausência de dados optou-se por utilizar
dados do perfil de vento de um dia típico registado em 2015 na ilha de Santiago, assumindo
que este não varia de forma significativa do
irradiância (Figura 3.4) apresentados são utilizados para obter
Perfil da geração
de vento dosdaparques
típico eólico e solar,
Ilha da Brava
que se registaria na ilha da Brava. Na
respectivamente. 14
Tabela xxx e na Figura xxx apresentam-se
12 obteve-se com recurso às curvas de potência dos
asAvelocidades
geração renovável assumidas
disponı́velpara
para o PEVF

Velocidade [m/s]
do vento 10
aerogeradores VESTAS
este estudo bem como asV-52 e VESTAS V-29. 8As curvas de potência de um aerogerador indicam
potências
6
a produzidas
potência elpelos
éctrica disponibilizada
diferentes por este para diferentes velocidades do vento. Na Tabela 5.1(a)
aerogeradores
4
estudados. Na as
apresentam-se Figura xxx apresentam-se
velocidades do vento utilizadas2para este estudo bem como as potências produzidas
0
as cada
por curvasum
de potência das turbinas
dos panoramas Vestas caracterizados pelos diferentes modelos de aerogeradores
do PEVF,
utilizadas para realizar os estudos
considerados. Na Figura 5.1(b) apresentam-se as curvas de potência das turbinas VESTAS utilizadas,
Tempo [h]
apresentados no capitulo seguinte e para
através das quais foi possı́vel obter a potência eólica disponı́vel para cada modelo de aerogerador com
conseguir obter a potência eólica disponível Curva de Potência aerogeradores Vestas
o perfil de vento em causa. 1000,00
para cada modelo de aerogerador para o perfil
(a) Dadosem
de vento docausa.
vento e respectiva potência
por modelo de turbina
Potência [kW]
V5
Potência [MW] 500,00
Vento 2
Hora Vestas 2x Vestas
[m/s] V2
V52 V29 1000,00
9
00:00 12,43 0,8 0,438
1:00 9,73 0,573 0,31 900,00
2:00 10,15 0,618 0,34 0,00
800,00
3:00 10,77 0,673 0,377 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
4:00 10,87 0,682 0,384 Vento [m/s]
700,00
5:00 10,65 0,663 0,37
Potência [kW]

6:00 10,87 0,682 0,384 600,00


V52
7:00 11,84 0,763 0,426 500,00 V29
8:00 12,63 0,809 0,441
9:00 11,5 0,736 0,413 400,00
10:00 11,94 0,773 0,431
300,00
11:00 12,43 0,8 0,438
12:00 11,94 0,773 0,431 200,00
13:00 11,84 0,763 0,426
14:00 11,84 0,763 0,426 100,00
15:00 11,5 0,736 0,413
0,00
16:00 11,17 0,709 0,398
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
17:00 10,37 0,636 0,352 Vento [m/s]
18:00 9,96 0,6 0,326
(b)Curvas de potência dos aerogeradores
19:00 10,56 0,654 0,365
20:00 10,56 0,654 0,365
21:00 10,15 0,618 0,339
22:00 10,27 0,627 0,346
23:00 12,05 0,782 0,433

Figura 5.1: Dados gerais do recurso eólico a utilizar para as simulações.


Cap 4

Quanto à geração renovável disponı́vel para o PSF esta foi obtida através de uma rotina desen-
volvida em Excel com base no modelo de 3 parâmetros e 1 dı́odo para representar um PV e poder
O \textit{software} utilizado para modelar e implementar a rede em estudo foi o \ac{PSS/E},
calcular a potência produzida pelo PSF. Esta rotina entra com os dados apresentados na datasheet
versão 32, distribuído pela Siemens PTI. Este é reconhecido como uma das ferramentas mais
do modelo de painéis fotovoltaicos (Anexo B.1) que vão ser instalados, bem como com os valores de
irradiância no plano dos PVs (14o ) e a temperatura ambiente média, que se assumiu rondar os 25 o C.
Dos dados da datasheet nomeadamente, da corrente de curto-circuito, da tensão de circuito aberto e
da corrente e tensão no ponto de máxima potência (MPP) nas Standart Test Conditions (STC), obtêm-
se os 3 parâmetros do modelo. Estes são o m que corresponde ao factor de idealidade do dı́odo e é
constante neste modelo, o I0 que corresponde à corrente inversa de saturação do dı́odo e o Icc que

59
Martifer
Furna 0,315 1600 0,360 0,4 0,315/20 kV ± 2 x 2,5%
MTS225P

Previsão Solar e Eólica

corresponde à corrente de curto-circuito. É adados


Para obtenção dos partirdedestes quetípicos
irradiância é possı́vel
que se obter a pot
verificam na ência
ilha da el éctrica
Brava,
nomeadamente
produzida por cada módulo. Na na zona da Furna,
Tabela 5.1 apresenta-se onde serão
os valores de instalados osobtidos
irradiância paneis fotovoltaicos,
dos dados da utilizou-se o
PVgis, um simulador online que permite ter acesso aos mapas de radiação solar num
Figura 3.4, para o mês de Janeiro, bem como a potência solar disponı́vel correspondente no PSF para
determinado ponto do globo. Na Tabela xxx e na Figura xxx apresenta-se os dados obtidos
os dois planeamentos de potência solar instalada projectados (ver 3.3.1 e 3.3.3).
para a irradiância no mês de Janeiro, no plano dos painéis solares cuja inclinação utilizada é a
dada como óptima pelo software correspondendo a 14º.
Tabela 5.1: Dados da irradiância e potência solar disponı́vel para cada planeamento estudado.
Potência [MW]
Irradiância
Hora 5778 1600
[W/m2]
módulos módulos
07:00 145 0,143 0,040
08:00 392 0,404 0,112
09:00 623 0,632 0,175
10:00 803 0,796 0,220
11:00 912 0,889 0,246
12:00 942 0,914 0,253
13:00 892 0,872 0,242
14:00 764 0,762 0,211
15:00 569 0,580 0,161
16:00 329 0,338 0,094
17:00 46 0,040 0,011

Uma vez definidos os dados decalcular


Para potência renovável
a potência disponı́vel
injectada ao longo
pelo painéis de umdesenvolveu-se
fotovoltaicos dia, interessaum
agora
programa
baseado
definir os cenários de carga/geraç no modelo
ão que serão de 3 parâmetros
simulados. e 1efeitos
Para díodo que
de será abordado
simulaç no capítulo seguinte.
ão, consideram-se 4
cenários de carga/geração diferentes (I,II,III,IV), com o objectivo de simular o perfil de carga da ilha da
Brava. São estes caracterizados por:

• O cenário I corresponde ao cenário de vazio e ocorre às 6 h, com irradiância negligenciável;

• O cenário II corresponde a um cenário em que a produção renovável total disponı́vel é geralmente


máxima sendo que este ocorre às 11 h da manhã;

• O cenário III corresponde a um cenário intermédio que ocorre às 16h, em que a geração renovável
total disponı́vel é mais baixa, nomeadamente o recurso solar;

• O cenário IV corresponde ao cenário de ponta que ocorre às 20h, com irradiância negligenciável.

Estes serão os cenários que serão estudados em regime estacionário e transitório para cada um
dos panoramas de geração simulados para a ilha da Brava. São estes:

• Ilha da Brava sem geração renovável - Este panorama é apenas estudado em regime estacionário
num exercı́cio de perceber de que forma seria o despacho e trânsito de energia em 2020, caso se
mantivessem as unidade de produção actuais (2015);

• Ilha da Brava com geração renovável:

– Renováveis projetadas no ”Plano Energético para 2020” [8] (ver secção 3.3.1) - Este pano-
rama é igualmente estudado apenas em regime estacionário com o objectivo de demostrar
que as renováveis projectadas no ”Plano Energético para 2020” não são viáveis para a pre-
visão de carga utilizada (Figura 3.6);

60
– Renováveis redimensionadas (ver 3.3.3) - Neste panorama simulam-se as renováveis redi-
mensionadas de acordo com a previsão de carga admitida e mantem-se a geração conven-
cional. São estas as renováveis que são consideradas nos panoramas seguintes. Não inclui
o BESS instalado. São realizados estudos em regime estacionário apenas;

• Ilha da Brava com geração renovável e BESS:

– Com geração convencional - Neste panorama o sistema electroprodutor para 2020 inclui as
renováveis redimensionadas, as unidades de geração convencional e o BESS instalados.
São realizados estudos em regime estacionário e dinâmico;

– 100% Renovável - Neste panorama apresenta-se a rede da ilha da Brava em 2020, apenas
com geração proveniente das fontes renováveis e com o auxı́lio da bateria (BESS). São
realizados estudos em regime estacionário e dinâmico;

Apresenta-se de seguida o diagrama de carga de 2020 com a potência renovável disponı́vel, para o
panorama com as renováveis projetadas no ”Plano Energético para 2020” [8], na Figura 5.2 (a) e para
as renováveis redimensionadas, na Figura 5.2 (b).
1,8

1,6

1,4

1,2
P [MW]

1
PEVF
0,8 PSF
0,6 Carga

0,4

0,2

Tempo [h]
(a) Geração renovável disponı́vel com as renováveis projetadas no Plano Energético para 2020

0,8

0,7

0,6

0,5
P [MW]

0,4
PEVF
0,3 PSF
Carga
0,2

0,1

Tempo [h]

(b) Geração renovável disponı́vel com as renováveis redimensionadas

Figura 5.2: Carga de 2020 vs Geração renovável disponı́vel.

Pela análise da Figura 5.2(a) é possı́vel verificar-se que com as renováveis projetadas no ”Plano
Energético para 2020” [8], a geração renovável disponı́vel é sempre superior à procura prevista para
a ilha em 2020. Pode-se concluir, desde logo, que esta projecção de renováveis não é viável, pois

61
implicaria grandes desperdı́cios de geração renovável fazendo com que os aproveitamentos renováveis
tivessem de ser retiradas de serviço na grande maioria do dia. Com as renováveis redimensionadas
de acordo com a previsão de carga assumida verifica-se que a geração renovável disponı́vel só não
supera a carga prevista nas horas de maior procura (Figura 5.2(b)). Para além disso, neste caso, a
flexibilidade de despacho das unidades de geração eólica é maior pois existem duas turbinas eólicas a
instalar, o que permite desligar apenas uma delas caso a geração renovável exceda a procura.

5.2 Resultados do trânsito de energia

Nesta secção apresentam-se os resultados do trânsito de energia para cada um dos panoramas apre-
sentados em 5.1, com os resultados a serem obtidos apenas para cada um dos cenários carga/geração
(I a IV) aı́ apresentados também. Os resultados apresentados avaliam os valores de tensão, potência
gerada (activa e reactiva), perdas e sobrecargas.
A resolução do trânsito de energia é fundamental e necessária na obtenção das condições iniciais
a partir das quais as simulações dinâmicas se iniciam. Como tal, é essencial que grandezas como a
tensão e potência gerada pelas máquinas se encontrem dentro dos limites definidos como admissı́veis
e que não existam sobrecargas em linhas ou transformadores.
Definiram-se alguns critérios de operação da rede em regime estacionário, de forma a optimizar o
seu funcionamento. Em primeiro define-se a metodologia através da qual são despachadas as unidades
convencionais. O critério utilizado foi baseado no consumo especı́fico de cada um dos grupos, uma vez
que, na perspectiva da operação de um sistema de energia os custos mais relevantes são os associados
ao combustı́vel utilizado na produção de energia. Assim sendo, o Grupo 2 (G2) é o primeiro a ser
despachado por ser o que apresenta menor consumo especı́fico (ver Tabela 3.1). Quando necessário
entra o Grupo 3 (G3) e caso este não atinja a potência mı́nima especificada, entra então o Grupo 1
(G1). O Grupo 4 (G4) é o preterido por ser aquele com maior consumo especı́fico (270g/kW h), sendo
o último a entrar no despacho, caso necessário. Este método de despacho só não é respeitado nos
panoramas em que se pretende ter a menor penetração convencional possı́vel, pelo que nesses casos
o G1 é o escolhido por ser o menor dos grupos da CEFV.
Em segundo, é definido o critério utilizado para garantir a reserva girante do sistema. É utilizada
como reserva girante mı́nima 10% da potência nominal de cada um dos grupos que estiver em serviço.
Define-se portanto que os sistemas convencionais só devem ser explorados até 90% das suas capa-
cidades nominais de modo a disporem sempre de reserva girante. Assim, os grupos da CEFV devem
ser limitados aos seguintes nı́veis de produção: o G1 a 0, 230M W , o G2 e G3 a 0, 360M W e o G4 a
0, 324M W . Desta forma é possı́vel garantir uma margem de reserva de potência, que pode ser fun-
damental no auxı́lio a fenômenos transitórios ou na ocorrência de uma perturbação que retire geração
renovável de serviço, por exemplo.
Por último, apresenta-se os limites definidos para os valores de tensão admitidos na rede da ilha,
em regime estacionário. Assume-se que as tensões devem estar entre 1, 05p.u. e 0, 95p.u. da tensão
nominal do barramento em questão. Os nı́veis de tensão entre cenários simulados não devem ser

62
comparados, uma vez que, estão dependentes da forma como são ajustadas as tomadas dos transfor-
madores das centrais de forma a controlar a potência reactiva injectada na rede.
Gonçalo Glória Relatório Dimensionamento Renováveis e Bateria 02/06
De seguida são apresentados os resultados do trânsito de energia da rede da ilha da Brava para
2020, para cada um dos panoramas propostos na Secção 5.1. Apresenta-se o perfil de tensões dos
Tabela 2-Alguns detalhes dos grupos da central eléctrica de Favatal
principais barramentos da rede, a potência injectada pelas unidades de geração e as perdas da rede,
sendo a análise do trânsito de energia baseada nestes parâmetros. Nos casos em quePse
MAX registaram
Consumo com
Potência Potência PMAX PMIN QMAX QMIN
Grupo
no trânsito de energia [MVA]
objecções ao correcto funcionamento da rede específico sobretens
(sobrecargas, reserva ões, etc)
[MW] [MW] [MW] [MW] [MW]
[g/kWh] de 10%
são apresentadas as soluções admitidas. [MW]
I (G1) 0.320 0.256 0.256 0.128 0.192 0 246 0.2304
II (G2) 0.5 0.4 0.4 0.2 0.3 0 210 0.36
III (G3) 0.5 0.4 0.4 0.2 0.3 0 220 0.36
5.2.1 Ilha da Brava
IV (G4) 0.45sem geraç
0.36 ão renov
0.36 ável
0.18 0.27 0 270 0.324

Na Tabela 5.2 e na Figura 5.3 apresentam-se os resultados do regime estacionário e o perfil de tensões,
No estudo em regime estacionário obtiveram-se os seguintes resultados para a geração
respectivamente, para o panorama da ilha da Brava 2020 sem geração renovável.
convencional, apresentados na Tabela 3.

Tabela 3-Resultados do regime estacionário sem renováveis


Tabela 5.2: Resultados do regime estacionário para o panorama sem geração renovável.
Cenários I II III IV
P (MW) 0,229 0,372 0,382 0,473
Carga
Q (Mvar) 0,172 0,279 0,287 0,355
P (MW) 0 0,146 0,150 0
G1
Q (Mvar) 0 0,115 0,119 0
P (MW) 0,230 0,228 0,234 0,238
G2
Geração Q (Mvar) 0,178 0,180 0,186 0,191
Convencional P (MW) 0 0 0 0,238
G3
Q (Mvar) 0 0 0 0,191
P (MW) 0 0 0 0
G4
Q (Mvar) 0 0 0 0
Reserva Girante (MW) 0,170 0,282 0,272 0,324
P (kW) 0,52 1,42 1,52 2,3
Perdas
Q (kvar) 5,91 16,55 17,60 27,3

O Grupo 2 (G2) é aquele que apresenta menor consumo específico (210g/kwh) como tal
VILA
é o primeiro a ser despachado em qualquer um dos cenários. Quando necessário entra o Grupo
IV
3 (G3)BUS41
e caso este não atinja a potência mínima especificada, entra então o Grupo 1 (G1). O
Barramentos

Grupo BUS20 III o


4 (G4) é o preterido por ser aquele com maior consumo específico (270g/kwh), sendo
último aBUS8
entrar no despacho, caso necessário. É utilizada como reserva girante 10% da potência
II

nominal de cada um dos grupos, por isso, nas situações intermédias (II e III) é necessário
I
BUS2
despachar o G1 conjuntamente com G2 para garantir que a geração máxima deste último com a
0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1 1,01
reserva não é ultrapassada. Tensão [p.u]

De notar,
Figura 5.3:quePerfil
para de
quetens
as tensões nãoosejam
ões para muito baixas
panorama sem na zonaão
geraç derenov
6kV éável.
necessário
aumentar a tomada do transformador elevador associado ao barramento de 6kV (BUS41) com
uma tomada de 2.5% do lado da alta tensão (6KV). Na situação de ponta, verificou-se que o
transformador que interliga a barra de 20kV com o barramento do PT VILA se encontrava
5.2.1.1 Análise
sobrecarregado. Como solução optou-se por colocar um transformador igual a este em paralelo.

Produção
Nos cenários II e III, o G2 não é o único grupo a ser despachado por causa do critério definido
3 para
a reserva girante. Este, como já apresentado, delimita cada grupo a 90% da sua potência nominal, por-
tanto para que tal factor não seja violado é necessário despachar outro grupo. Pelo critério de despacho
definido, seria a unidade G3 a seguinte a ser despachada, contudo não o é pois ficaria a funcionar a um

63
nı́vel de carga <50% da PN , o que não respeitaria a PM IN especificada no estacionário (Tabela 4.1).
Portanto, o gerador despachado é o seguinte em relação ao consumo especifico crescente, o G1.
A reserva girante garantida no pior caso (IV) é de 69% da potência de carga. Conclui-se então que
a reserva girante em nenhum dos cenários é um problema, tal como se pode verificar na Tabela 5.2.
Sobrecargas
No cenário de ponta (IV) verificou-se a sobrecarga do transformador que interliga o barramento
BUS8 e o barramento VILA, do SS Nova Sintra. Este é um transformador de 250 kVA e o trânsito de
energia impõe-lhe uma carga de 266,2 kVA o que origina uma sobrecarga de 106,5%. Como solução
optou-se por colocar em paralelo um transformador igual a este, tal como apresentado na Figura 4.2.
Qualquer dos outros cenários não revelou a existência de sobrecargas nem em linhas/cabos, nem em
transformadores.
Tensões
A rede de distribuição de 6 kV revelou ser a zona da rede onde os nı́veis de tensão são mais
baixos relativamente à tensão nominal. No cenário IV, todos os barramentos da rede de 6 kV ultra-
passam o limite mı́nimo de 0,95 p.u. De forma a solucionar este problema, a opção utilizada foi a de
aumentar a tomada em +2,5% do transformador da SS Nova Sintra que liga o barramento VILA ao
barramento BUS41, elevando assim as tensões do lado dos 6 kV. Esta solução é implementada em
todos os cenários. O perfil de tensões dos principais barramentos da rede é apresentado na Figura 5.3.
Como é possı́vel verificar com esta solução a tensão na rede é mantida dentro dos limites operacionais
definidos como viáveis para qualquer cenário.
Perdas
As perdas de potência activa e reactiva na rede eléctrica são apresentadas na Tabela 5.2. As perdas
de potência activa são pouco significativas, representando no caso mais grave (IV), cerca de 0,5% da
potência injectada neste cenário. Quanto às perdas de potência reactiva estas são mais relevantes
apresentando para a ponta o valor mais elevado, correspondendo a cerca de 8% da potência reactiva
gerada.

5.2.2 Ilha da Brava com geração renovável

5.2.2.1 Renováveis projetadas no Plano Energético para 2020

O estudo em regime estacionário deste panorama para os cenários apresentados (I a IV) revelou que
em todos eles o despacho de geração teria que ser igual ao apresentado para a ilha da Brava sem
renováveis (Secção 5.2.1- Tabela 5.2). Isto acontece porque em nenhum dos cenários apresentados
é possı́vel despachar quer o PSF quer o PEVF por estes injectarem uma potência activa demasiado
elevada face à carga em questão, tal como seria de prever pela Figura 5.2(a). Para além disso, tem
que se contabilizar que, sem SAE, é sempre necessário ter no mı́nimo 1 dos grupos convencionais em
serviço, para que este possa fornecer alguma reserva girante para colmatar em parte a variabilidade e
imprevisibilidade da geração renovável, e para participar no controlo primário de frequência. Portanto
também o perfil de tensões nos barramentos mais importantes da rede se mantem face ao apresentado

64
na Figura 5.3. Apenas quando a produção do parque solar é residual às 7 e 17 horas (ver Tabela 5.1),
é possı́vel introduzir a geração solar do PSF no despacho, desligando o PEVF e utilizando a geração
convencional para ajustar à procura dessas horas.
Tal como já referido, este sobredimensionamento das renováveis deve-se ao facto de a previsão
de carga para 2020 ter sido alterada face à apresentada no ”Plano Energético de 2020”[8], onde se
encontram dimensionadas estas renováveis, o que faz destas inviáveis.

5.2.2.2 Renováveis redimensionadas

Com as renováveis redimensionadas na Secção 3.3.3, cuja potência renovável disponı́vel durante
Gonçalo Glória Relatório Dimensionamento Renováveis e Bateria 02/06
um dia é apresentada na Figura 5.2 (b), os resultados do regime estacionário e o perfil de tensões
encontram-se expostos a Tabela 5.3 e na Figura 5.4, respectivamente.
Tabela 9- Resultados do regime estacionário para o panorama Redimensionamento de Renováveis 2

Tabela 5.3: Resultados do regime estacionário para o panorama com renováveis redimensionadas.
Cenários I II III IV
P (MW) 0,229 0,372 0,382 0,473
Carga
Q (Mvar) 0,172 0,279 0,287 0,355
P (MW) 0 0,146 0 0
G1
Q (Mvar) 0 0,115 0 0
P (MW) 0 0 0 0,238
G2
Geração Q (Mvar) 0 0 0 0,191
Convencional P (MW) 0,230 0,228 0 0,238
G3
Q (Mvar) 0,178 0,180 0 0,191
P (MW) 0 0 0,185 0
G4
Q (Mvar) 0 0 0,235 0
P (MW) 0 0 0 0
PSF
Geração Q (Mvar) 0 0 0 0
Renovável P (MW) 0 0 0,199 0
PEVF
Q (Mvar) 0 0 0,069 0
Reserva Girante (MW) 0,170 0,282 0,175 0,324
P (kW) 0,52 1,42 1,5 2,3
Perdas
Q (kvar) 5,91 16,55 17,7 27,3

BUS52-
No cenário IV (Ponta) verificou-se que não é possível aproveitar a produção eólica de
AEROGERADOR
0,185MW juntamente com o G2, mais uma vez devido aos limites de reactiva que são
VILA
ultrapassados. IV
BUS41
Barramentos

III
Nos períodos da 1-2h, das 18-20h e das 21-22h é possível aproveitar a geração do
BUS20
II
parque eólico
BUS8
juntamente com a produção convencional para satisfazer a carga de cada uma
I
das horas, enquanto a geração do parque solar pode ser aproveitada durante todo o período
BUS2
solar tirando o intervalo entre as 11-14h. Verificaram-se também os perfis de tensão nos
0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1 1,01
Tensão [p.u]
barramentos mais importantes da rede apresentando-se os resultados na Figura 7.

Perfildedetens
Figura 5.4: Perfil Tensões para
ões para o Cenário com
o panorama de Renováveis 2
renováveis redimensionadas.
VILA

BUS41
5.2.2.3 Análise
BUS28 IV

Produção BUS20
III
II
Relativamente ao panorama sem renováveis, o único cenário em que a geração difere é o III devido
BUS8 I
à penetração renovável do PEVF, como é apresentado na Tabela 5.3. Neste caso é possı́vel despachar
BUS2
um dos aerogeradores (BUS 52) com uma potência injectada de 0,199 MW, o que faz com que nesse
0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1 1,01
Tensão [pu]
65
Figura 7- Perfil de tensões para o panorama de renováveis2 nos principais barramentos

Verifica-se que a penetração renovável neste panorama é muito mais elevada que
qualquer um dos cenários apresentados nas secções anteriores.
cenário, a potência renovável injectada represente 52% da potência total. Juntamente, o grupo térmico
despachado neste cenário foi o G4, isto porque o G1 não é suficiente para satisfazer a potência reactiva
exigida e por outro lado, o G2 ou G3 no caso de serem despachados ficariam a operar abaixo da PM IN
especificada. O facto de no cenário III apenas ser despachado um grupo térmico faz com a reserva
girante se reduza significativamente face ao panorama sem renováveis (menos 97 kW).
Nos restantes cenários, a geração renovável tem que ser totalmente retirada de serviço por um
destes motivos: por excesso de geração renovável (I) que impede o despacho de qualquer grupo
convencional por a PM IN especificada não ser atingida, ou então por falta de geração reactiva (II e
IV) que obriga a abdicar das renováveis para despachar unidades convencionais e assim satisfazer a
potência reactiva.
Nos perı́odos da 1-2h, das 18-20h e das 21-22h é possı́vel aproveitar a geração do PEVF, com
apenas 1 aerogerador em serviço, juntamente com a produção convencional para satisfazer a carga de
cada uma das horas, enquanto a geração do PSF pode ser aproveitada durante todo o perı́odo solar,
com o PEVF desligado, tirando o intervalo entre as 11-14h (Figura 5.2(b)).
Sobrecargas
Não existem sobrecargas.
Tensões
Face aos comentários apresentados em 5.2.1.1 apenas se acrescenta que no cenário III, o aero-
gerador (BUS52) funciona a uma tensão especificada de 1 p.u, tal como se pode verificar na Figura
5.4.
Perdas
As perdas de potência activa e reactiva na rede eléctrica são apresentadas na Tabela 5.3. De notar
que no cenário III, com o aerogerador em serviço as perdas não revelam alterações significativas face
ao panorama sem renováveis.

5.2.3 Ilha da Brava com geração renovável e BESS

O objectivo desta secção é apresentar os estudos em regime estacionário para os panoramas em que
se considera a instalação de um BESS. Com a introdução da bateria o objectivo fundamental é permitir
a integração dos projectos renováveis garantindo a sustentabilidade energética da ilha com vista a
um sistema 100% renovável. Os 2 panoramas que se inserem nesta secção distinguem-se apenas
pelo facto de um assumir no seu despacho a presença de geração convencional enquanto que o outro
apenas possui geração renovável (100% renovável).
A bateria utilizada é dimensionada de acordo com o panorama 100% renovável, uma vez que, é
este que requer uma bateria de maior potência e capacidade. Assim garante-se que para além de ser
possı́vel integrá-la no panorama 100% renovável, também o é no panorama com geração convencional,
apesar do seu sobredimensionamento relativamente a este último.
Os objectivos principais da metodologia de despacho utilizada com BESS são sempre de utilizar
o mı́nimo de geração convencional possı́vel e de minimizar a potência renovável retirada de serviço.

66
Com a introdução do BESS definiram-se os seguintes pressupostos de operação para os estudos es-
tacionários:

• Quando a bateria está a carregar é como se funcionasse como uma carga portanto a potência
associada é negativa, o contrário acontece quando está a descarregar em que funciona com um
gerador injetando potência (sinal positivo);

• Pretende-se que o BESS esteja 24 horas em serviço, uma vez que, é a principal fonte de potência
reactiva e possibilita o aumento da penetração renovável;

• Pretende-se aproveitar ao máximo os perı́odos de excesso de geração renovável disponı́vel para


carregar a bateria. E quanto à descarga pretende-se que ocorra nos perı́odos em que a procura
é maior, tentando minimizar o corte de produção renovável;

• O estado de carga da bateria (SOC) tem de fazer um ciclo diário, ou seja, a gestão feita da carga
da bateria na simulação do despacho de um dia tem de voltar ao estado inicial considerado, o que
impõe que a quantidade de energia absorvida pela bateria tem que ser igual à descarregada;

• A produção convencional é a última a ser despachada sendo responsável por satisfazer as perdas
da rede. No panorama 100% renovável, a bateria é a última a ser despachada e é responsável
por atender as perdas;

• Quando é considerado o panorama com geração convencional, o despacho da bateria é feito com
o pressuposto que o menor dos grupos convencionais (G1) se encontra a funcionar à potência
mı́nima (PM IN = 0.128M W ).

O despacho diário efectuado para cada um dos panoramas não tem em consideração as perdas de
potência na rede, uma vez que, não se simulou o trânsito de energia para todas as horas, mas apenas
dos cenários de I a IV. A estratégia de gestão da energia do BESS utilizada tem como base o pressu-
posto já apresentado de a bateria ter de cumprir um ciclo diário, exigindo-se que a energia absorvida
acabe por ser igual à fornecida durante o dia. Esta abordagem foi considerada apenas com o objectivo
de garantir que a bateria se encontra no estado inicial (totalmente descarregada) no fim do ciclo diário,
possibilitando assim um novo despacho semelhante caso as condicionantes, vento, irradiância e carga
não apresentem variações significativas face ao simulado. Para além desse pressuposto na gestão
da energia da bateria existem uma série de restrições a considerar que delimitam a sua operação e
capacidade, tais como:

1. A potência a que a bateria é carregada/descarregada deve respeitar o equilı́brio de potência entre


a geração (renovável e convencional), PGer , e a procura, PCarga . Assim a potência a que opera a
bateria, PBateria , é dada por PBateria (t) = −(PGer (t) − PCarga (t));

2. Os limites de potência da bateria definidos na Tabela 4.5 têm que ser respeitados, de forma a não
por em risco a operação da bateria. Esta limitação é definida por −0, 875 < PBateria (t) < 0, 875;

67
3. Os limites de capacidade da bateria devem ser tidos em consideração de forma a que não sejam
ultrapassados, podendo por em causa a segurança e tempo de vida do BESS. Assim, na gestão
da energia da bateria, garante-se sempre que a energia da bateria, EBateria , não ultrapassa
os limites EBateriamin ≤ EBateria ≤ EBateriamax . Define-se que EBateriamin = 15%EbatN e que
EBateriamax = EbatN , garantindo assim que a PD não ultrapassa os 85%. Assim a gestão respeita:

(a) na descarga, o limite minimo da capacidade de armazenamento da bateria não sendo este
ultrapassado. Logo, EBateria (t) = max[(EBateria (t − 1) − ∆t × PBateria (t)), EBateriamin ];

(b) no carregamento, o limite máximo da capacidade de armazenamento da bateria não sendo


ente ultrapassado. Logo, EBateria (t) = min[(EBateria (t − 1) − ∆t × PBateria (t)), EBateriamax ];

4. A profundidade de descarga (PD), ou de outra perspectiva, o estado de carga (SOC) da bateria,


deve igualmente ser tido em consideração de forma a não ultrapassar a PD definida. Assim,
EBateria (t)
o SOC definido por SOC(t) = SOC(t − 1) + . Consequentemente, os limites são
EbatN
15% ≤ SOC(t) ≤ 100%.

De seguida apresentam-se os resultados do estudo estacionário para os panoramas 100% re-


novável (Secção 5.2.3.1) e com geração convencional (Secção 5.2.3.2) em que o BESS se encontra
instalado no sistema eléctrico da ilha da Brava para 2020.

5.2.3.1 100% Renovável

Nesta secção para além dos resultados do estudo estacionário para a ilha da Brava 100% renovável,
fundamentam-se os dados caracterı́sticos da bateria já definidos na Tabela 4.4. Interessa reforçar que
este panorama é caracterizado pela potência renovável disponı́vel apresentada na Figura 5.2 (b).
O dimensionamento da bateria, tal como já foi referido, foi feito tendo em conta este panorama pois
é aquele em que existe maior penetração renovável e como tal, é aquele que impõe requisitos mais
exigentes à bateria em termos de capacidade de armazenamento e potência nominal. A metodolo-
gia utilizada já foi exposta na Secção 4.2.5.1, pelo que, nesta secção apenas são apresentados os
resultados obtidos. Primeiro, com a previsão de carga e geração renovável definidas (Figura 5.2 (b))
averı́gua-se a diferença entre a geração renovável disponı́vel e a carga, Pdif (expressão 4.1), sendo
os resultados apresentados na Tabela D.1, no Anexo D. De acordo com os estes dados e admitindo-se
intervalos de despacho de 1 hora (∆t = 1) obtém-se da expressão 4.2, a capacidade média requerida
para a bateria, Ebat , sendo igual a Ebat = 2, 7M W h. A capacidade nominal do BESS, EbatN , pode
então ser calculada considerando os 3 parâmetros caracterı́sticos da bateria, a PD, a autonomia e a
deterioração resultante da idade, através da equação 4.3, obtendo-se EbatN ≈ 3, 5M W h.
A escolha da potência do conversor Pn é feita de acordo com a necessidade de satisfazer a potência
reactiva que no pior caso esta teria que fornecer, sendo este no cenário de ponta (IV). A potência do
conversor também foi escolhida com o intuito da relação entre EbatN e Pn fosse tal que o tempo de
carga/descarga da bateria fosse um tempo inteiro. Então definiu-se Pn = 0, 875M W o que permite a
EbatN
bateria ser carregada/descarregada em 4 h, à potencia nominal ( Pn = 4h). Assim sendo, com esta

68
Pn a bateria é capaz de no máximo fornecer uma potência reactiva de 0,424 Mvar, tal como anunciado
na Tabela 4.5, o que é suficiente para no pior caso a bateria suportar toda a geração da ilha. Quanto
EbatN
ao número de módulos em paralelo este é dado por Emodulo , pelo que se verifica que é necessário o
BESS ser constituı́do por 29 módulos em paralelo.

Uma vez apresentada a forma como foram definidas as caracterı́sticas técnicas da bateria, apresenta-
se de seguida o despacho das unidades de geração, em que a gestão da energia da bateria respeita
com todos os pressupostos já apresentados. De referir que a estratégia de despacho da geração acaba
por assentar na tentativa de tornar o excesso de geração renovável o mais correspondente do défice
de geração verificada ao longo do dia, ou seja, fazer com que que a soma das diferenças entre geração
e carga ao longo do dia seja o mais próxima de zero possı́vel. Desta forma garante-se que o aproveita-
mento renovável é o máximo possı́vel, respeitando o pressuposto assumido de a bateria ter de cumprir
um ciclo completo. Na Figura 5.5 apresenta-se o diagrama de carga para 2020, com o despacho das
unidades de geração do panorama 100% renovável, de acordo com os dados apresentados na Tabela
D.1, no Anexo D.
Diagrama de Carga
0,8

0,6

0,4
P [MW]

Bateria
BESS

0,2 Eólica
PEVF

Solar
PSF

0 Carga
Carga
00:00 02:00 04:00 06:00 07:34 09:00 11:00 13:00 15:00 17:00 19:00 21:00 23:00

-0,2

-0,4
Tempo (h)

Figura 5.5: Diagrama de carga do panorama 100% renovável, com o despacho das unidades de
geração.

Acerca do despacho apresentado interessa focar alguns pontos. Primeiro, a Figura 5.5 corresponde
a um gráfico de barras empilhadas, em que a potência do BESS que apresenta valor negativo corres-
ponde ao carregamento da bateria por parte da geração excedente. Segundo, assume-se a bateria
descarregada às 8 h, por ser o momento do dia em que a geração passa a ser consideravelmente
superior à procura, como tal interessa ter a bateria disponı́vel com a sua capacidade total livre a partir
deste momento.

Na Figura 5.6 apresenta-se o SOC da bateria para o despacho da bateria que foi realizado para
este panorama. De referir que o SOC apresentado na Tabela D.1, através do qual se obtém esta figura
é calculado relativamente ao EbatN (ver Tabela 4.4).

Os resultados obtidos da simulação do regime estacionário para cada um dos cenários estudados,
com o despacho sugerido, encontram-se apresentados na Tabela 5.4. Já na Figura 5.7 apresenta-se o
perfil de tensões para os principais barramentos da rede.

69
TP7 [s] 10,00 --
Vmax1 [pu] 1,3 1,1
TP8 [s] 0,01 0,01
Vmax2 [pu] 1,15 --
TP9 [s] 1,3 --
Vmax3 [pu] 1,1 --
TP10 [s] 3,0 --
100
90
80
70
60

SOC (%)
50
40
Características do BESS
30
Pn [MW] 0,875
E20batN [MWh] 3,5
10
Vout [V] 400
0
Tempo0 c/d 1
à 2Pn 3[h]4 5 6 7 8 9 10 114 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
PD [%] 85 (h)
Tempo
Ebat (MWh) 2,7
Nº módulos
Figura 5.6: Estadoem série 32
de carga (SOC) da bateria para o panorama 100% renovável.
Nº módulos em paralelo 29

Tabela 5.4: Resultados do regime estacionário para o panorama 100% renovável.


Cenários I II III IV
P (MW) 0,229 0,372 0,382 0,473
Carga
Q (Mvar) 0,172 0,279 0,287 0,355
P (MW) 0,000 0,246 0,094 0,000
PSF
Q (Mvar) 0,000 0,081 0,031 0,000
Geração P (MW) 0,192 0,219 0,199 0,183
Aerogerador1
Renovável Q (Mvar) 0,048 0,047 0,040 0,015
PEVF
P (MW) 0,000 0,219 0,199 0,000
Aerogerador2
Q (Mvar) 0,000 0,047 0,040 0,000
P (MW) 0,038 -0,310 -0,108 0,293
BESS
Q (Mvar) 0,134 0,144 0,201 0,368
Reserva (MW) 0,838 - - 0,582
P (kW) 0,50 1,91 1,70 2,60
Perdas
Q (kvar) 9,63 39,66 24,42 28,10

BUS58- AEROGERADOR2

BESS

BUS54- PV IV
BUS52- AEROGERADOR
Barramentos

III
VILA

BUS41
II
BUS20
I
BUS8

BUS2

0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1 1,01 1,02


Tensão [p.u]

Figura 5.7: Perfil de tensões para o panorama 100% renovável.

5.2.3.1.1 Análise
Produção
Neste panorama 100% renovável, o nó de referência considerado corresponde ao barramento ao
qual a bateria é ligado (BUS56-BESS). Analisando a Figura 5.5 juntamente com a Tabela D.1, verifica-se
que no perı́odo das 8 até às 17h toda a geração renovável é aproveitada sendo a excedente utilizada
para carregar a bateria. Das 18 h até às 7 h é retirada de serviço uma das turbinas Vestas V29 do
PEVF, sendo apenas um aerogerador e a bateria a suportar a carga. Durante cerca de 30 minutos
(7:34 até 8:00 h) é necessário retirar de serviço toda a geração renovável, permitindo assim que a
bateria descarregue na sua totalidade para cumprir o ciclo diário definido. A geração solar disponı́vel

70
2 Q(MVAr) 0 0,0505 0,0505 0
P (MW) 0,0375 -0,3102 -0,1078 0,293
Bateria
Q(MVAr) 0,1168 0,1561 0,1503 0,3069
Perdas P (kW) 0.59 1.88 1.74 2.56
Q (kVAr) 10.12 40.32 24.62 26.90

é então toda injectada na rede exceptuando-se esse perı́odo de cerca de 30 minutos. Apresenta-
Procedeu-se ao cálculo da quantidade de energia renovável que é desperdiçada por se
se então, na Tabela 5.5, a quantidade de energia renovável que é desperdiçada tendo em conta o
ter que desligar o parque solar (PS) ou/e o parque eólico (PE). Nesta situação obtêm-se os dados
despacho apresentado, de acordo com a Tabela D.1.
apresentados na Tabela 12, de acordo com os dados de despacho apresentados no Anexo 4.

Tabela 12-Energia Renovável desperdiçada


Tabela 5.5: Energia desperdiçada no panorama 100% renovável.
E (MWh)
ESolar desperdiçada 0,017
EEólica desperdiçada 2,694
ETotal desperdiçada 2,709
Erenovável disponível 11,136
𝐄𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥 𝐝𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐝𝐢ç𝐚𝐝𝐚
= 24,34%
𝐄𝐫𝐞𝐧𝐨𝐯á𝐯𝐞𝐥 𝐝𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞𝐥

Como
Como se se pode
pode verificarpela
verificar pelaTabela
Tabela5.5
12 cerca
cerca de
de24%
24%dadageração renovável
geração disponível
renovável disponı́vel, para as
para asões
condiç condições previstas
previstas, é desperdiçada
é desperdiçada no despacho
no despacho que foique foi considerado.
considerado. Este évalor
Este valor aceitéável visto que
aceitável
a carga é visto
emque a carga
grande é em
parte dogrande parteque
dia menor do dia menorãoque
a geraç a geração
renov renovável conseguindo-se
ável disponı́vel, disponível atingir
uma penetração de 75%de
Perfil daTensões
geração para
renovoável disponı́vel.
Cenário 100% Renovável
Quanto à reserva apresentada na Tabela 5.4 esta refere-se apenas à reserva que a bateria oferece.
VILA
Esta é apenas apresentada para os cenários em que a bateria se encontra no modo de descarga (I e
BUS41
IV). Para os cenários em que a bateria se encontra no modo de carga (II e III) não se apresenta reserva,
BUS28
IV ser aumentada a
contudo poderia-se apresentar a reserva ”negativa” que indica o quão mais poderia
potênciaBUS20 III
a que a bateria carrega, no entanto não é um dado relevante para o estudo.
II
BUS8
Sobrecargas
I
BUS2
Não existem sobrecargas.

Tensões 0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1 1,01


Tensão [pu]
Figura 11- Perfil de tensões para o panorama 100% renovável
O barramento BESS funciona a uma tensão especificada de 1 p.u. Das tensões monitorizadas
17
apresentadas na Figura 5.7 verifica-se que não existem barramentos que operam fora dos limites de
operação considerados como aceitáveis (±5% da tensão nominal ). O perfil de tensões da rede da ilha
da Brava, num panorama 100% renovável, revela ser aceitável quer na rede de distribuição de 20 kV
quer na de 6 kV. De referir apenas que o barramento VILA é aquele que apresenta nı́veis de tensão
mais baixos, sendo o caso mais relevante o do cenário de ponta (IV) em que a tensão atinge os 0,958
p.u.

Perdas

As perdas de potência activa e reactiva na rede eléctrica são apresentadas na Tabela 5.4. De
uma forma geral, verifica-se que nos cenários simulados, as perdas para este panorama são substan-
cialmente superiores às que se verificaram no panorama com renováveis e sem BESS (Tabela 5.3),
nomeadamente as referentes à potência reactiva. As perdas de potência activa são pouco significa-
tivas, representando no caso mais grave, na ponta (IV), cerca de 0,55% da potência activa injectada
neste cenário. Quanto às perdas de potência reactiva, estas são maiores no cenário II, representando
12% da potência reactiva injectada neste cenário. Em média, 8% da potência reactiva é perdida ao
longo da rede, neste panorama.

71
5.2.3.2 Com geração convencional

A proposta apresentada nesta secção tem o intuito de sugerir uma solução em que é possivel ter a
ilha a operar com renováveis, o BESS e com o auxı́lio de geração convencional. Por outro lado, o es-
tudo deste panorama justifica-se também na necessidade de apresentar uma alternativa ao panorama
100% renovável que como apresentado nos resultados do estudo dinâmico, revelou alguns problemas
de simulação. Este panorama implementa a geração convencional da ilha da Brava juntamente com as
renováveis redimensionadas e a bateria dimensionada na Secção 5.2.3.1. A estratégia utilizada neste
caso é a de maximizar a penetração de geração renovável, pelo que, sempre que possı́vel apenas é
utilizado a menor das unidades de geração convencional (G1). O despacho da bateria para este pa-
norama, parte do pressuposto que o G1 se encontra sempre a funcionar à potência mı́nima admissı́vel
(PM IN = 0, 128M W ), uma vez que, a bateria é despachada antes da convencional, sendo esta última
responsável por satisfazer as perdas de potência na rede. Assim sendo é o barramento BUS1, onde é
ligada a central térmica (CEFV), que é considerado como nó de balanço.
Ao utilizar a bateria que foi dimensionada especificamente para o panorama 100% renovável neste
outro, verifica-se que esta é claramente sobredimensionada para ser implementada neste, não sendo
aproveitada toda a sua capacidade de armazenamento.
Na Figura 5.8 apresenta-se o diagrama de carga para 2020, com o despacho das unidades de
geração renovável e convencional, de acordo com os dados apresentados na Tabela D.2, no Anexo D.

0,7
0,6
0,5
Convencional
0,4
0,3 PSF
P [MW]

0,2
PEVF
0,1
0 BESS
00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00 14:00 16 00 18:00 20:00 22:00 24:00
-0,1
Carga
-0,2
-0,3
Tempo [h]

Figura 5.8: Diagrama de carga do panorama com o despacho do BESS, renováveis e convencional.

Assume-se a bateria descarregada às 23 h, por ser este o momento do dia em que a geração
começa a ser superior à procura.
Na Figura 5.9 apresenta-se o SOC da bateria para o despacho da bateria que foi realizado para
este panorama. Tal como referido no panorama 100% renovável, o SOC apresentado na Tabela D.2 e
na Figura 5.9 é calculado relativamente ao EbatN .
Pela análise da Figura 5.9 é possı́vel verificar que o estado de carga da bateria apenas chega a
50% de EbatN o que corresponde a uma taxa de inutilização de 75% da capacidade nominal da bateria,
provando o sobredimensionamento da bateria relativamente à sua aplicação neste panorama.
Os resultados obtidos da simulação do regime estacionário para cada um dos cenários estudados

72
Características do BESS
Pn [MW] 0,875
EbatN [MWh] 3,5
Vout [V] 400
Tempo c/d à Pn [h] 4
100
PD [%] 85
90
Ebat (MWh) 2,7
80
Nº módulos em série 32
70
Nº módulos em paralelo 29
60

SOC (%)
50
40
30 Cenários I II III IV
20 P (MW) 0,229 0,372 0,382 0,473
Carga
10
Q (Mvar) 0,172 0,279 0,287 0,355
P (MW) 0,000 0,246 0,094 0,000
0 PSF
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Q10(Mvar)
11 12 13 0,000 0,081
14 15 16 17 18 19 200,031
21 22 23 0,000
24
Geração P (MW)Tempo (h) 0,192 0,219 0,199 0,183
Aerogerador1
Renovável Q (Mvar) 0,048 0,047 0,040 0,015
PEVF
Figura 5.9: Estado de carga P (MW) 0,000 0,219 0,199
(SOC) para o panorama com BESS, renováveis e convencional. 0,000
Aerogerador2
Q (Mvar) 0,000 0,047 0,040 0,000
P (MW) 0,038 -0,310 -0,108 0,293
BESS
com o despacho sugerido, encontram-se apresentados Q (Mvar) na 0,134 0,144Já na
Tabela 5.6. 0,201 0,368apresenta-se
Figura 5.10
Reserva (MW) 0,838 - - 0,582
o perfil de tensões para os principais barramentos P (kW)da rede.0,50 1,91 1,70 2,60
Perdas
Q (kvar) 9,63 39,66 24,42 28,10

Tabela 5.6: Resultados do regime estacionário para o panorama com BESS, renováveis e convencional.
Cenários I II III IV
P (MW) 0,229 0,372 0,382 0,473
Carga
Q (Mvar) 0,172 0,279 0,287 0,355
P (MW) 0,129 0,130 0,130 0,130
Geração Convencional G1
Q (Mvar) 0,084 0,121 0,165 0,177
P (MW) 0,000 0,246 0,000 0,000
PSF
Geração Q (Mvar) 0,000 0,043 0,000 0,000
Renovável P (MW) 0,192 0,219 0,000 0,183
PEVF Aerogerador1
Q (Mvar) 0,026 0,037 0,000 0,052
P (MW) -0,091 -0,221 0,254 0,162
BESS
Q (Mvar) 0,072 0,107 0,134 0,145
Reserva + Reserva Girante (MW) 0,128 0,126 0,747 0,838
P (kW) 0,50 1,70 1,60 2,30
Perdas
Q (kvar) 10,16 28,22 12,53 20,00

BESS

BUS54- PV
IV
BUS52- AEROGERADOR
Barramentos

VILA III

BUS41
II
BUS20

BUS8 I

BUS2

0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1 1,01


Tensão [p.u]

Figura 5.10: Perfil de tensões para o panorama com BESS, renováveis e convencional.

5.2.3.2.1 Análise
Produção
Tal como já referido, o nó de balanço corresponde ao barramento da geração convencional, uma
vez que, se considerou que esta seria a responsável por satisfazer as perdas de potência.
Com a introdução da geração convencional neste panorama, a penetração de energia renovável
torna-se menor, pelo que em todo o despacho considerado uma das turbinas Vestas-V29 (Aerogera-

73
dor2) é mantida sempre fora de serviço. Analisando a Figura 5.8 juntamente com a Tabela D.2, verifica-
se que apenas às 16 e 17 horas é retirada de serviço toda a geração renovável ficando a procura da
ilha encarregue ao G1 e à bateria. O PSF é retirado de serviço ao 12h e entre as 14-17 h. Por sua
vez, à 1h teve de se aumentar ligeiramente a geração do G1 apenas pelo facto de a bateria ainda não
possuir carga suficiente para descarregar a energia exigida nesse momento, tal como se verifica na
Tabela D.2. Apresenta-se na Tabela 5.7, a quantidade de energia renovável que é desperdiçada tendo
em conta o despacho apresentado de acordo com a Tabela D.2.

Tabela 5.7: Energia desperdiçada no panorama com BESS, renováveis e convencional.


E (MWh)
ESolar desperdiçada 0,729
EEólica desperdiçada 5,065
ETotal desperdiçada 5,794
Erenovável disponível 11,136
𝐄𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥 𝐝𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐝𝐢ç𝐚𝐝𝐚
= 52,03%
𝐄𝐫𝐞𝐧𝐨𝐯á𝐯𝐞l 𝐝𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞l

Pela Tabela 5.7 verifica-se que cerca de 52% da geração renovável disponı́vel para as condições
previstas é desperdiçada no despacho que foi considerado. Este valor é justificado principalmente pela
introdução da geração convencional que faz com que uma das turbinas eólicas nunca seja explorada.
No que toca às potências, os dados do trânsito de energia apresentados para cada cenário na
Tabela 5.6 indicam que em qualquer um dos cenários simulados é possı́vel operar apenas com um
grupo convencional, o G1, estando este a funcionar aproximadamente à potência mı́nima (PM IN =
0, 128M W ) em todos eles, permitindo satisfazer assim a potência activa e reactiva pedida pela rede.
Verifica-se que em média, 70% da potência injectada é de origem renovável. O cenário onde se verifica
maior penetração renovável é no das 11 h, em que 78% da potência injectada na rede é de origem
renovável.
Quanto à reserva apresentada na Tabela 5.6 esta refere-se à reserva que a bateria oferece junta-
mente com a reserva girante fornecida pelo G1. Só nos cenários em que a bateria se encontra em
modo de descarga (III e IV) é que é contabilizada a porção de reserva respectiva à bateria.
Sobrecargas
Não se verificou nenhuma situação de sobrecarga em linhas ou transformadores.
Tensões
Das tensões monitorizadas apresentadas na Figura 5.10 verifica-se que não existem barramentos
que operam fora dos limites de operação considerados como aceitáveis (±5% da tensão nominal ). O
perfil de tensões da rede da ilha da Brava, neste panorama revelou apresentar bons resultados em toda
a rede.
Perdas
As perdas de potência activa e reactiva na rede eléctrica são apresentadas na Tabela 5.6. De
uma forma geral, verifica-se que nos cenários simulados, as perdas para este panorama são inferiores
às que se verificaram no panorama 100% renovável (Tabela 5.4). As perdas de potência activa são
pouco significativas, representando no caso mais grave, na ponta (IV), cerca de 0,48% da potência

74
activa injectada neste cenário. Quanto às perdas de potência reactiva, estas são maiores no cenário II
representando 9% da potência reactiva injectada neste cenário. Em média, 6% da potência reactiva é
perdida ao longo da rede, neste panorama.

5.3 Simulações Dinâmicas

As simulações em regime dinâmico têm como objectivo avaliar a forma como a rede eléctrica da ilha
da Brava se comporta perante a ocorrência de uma determinada contingência que afecta a operação
da rede e o seu regime estacionário, colocando-se assim em prova a estabilidade da mesma. São rea-
lizadas simulações apenas para os dois panoramas apresentados anteriormente que contêm a bateria
instalada, uma vez que, apenas interessa estudar os casos em que é possivel averiguar a forma como
o BESS se comporta em regime dinâmico e a contribuição que apresenta na estabilidade da rede. No
panorama 100% renovável verificaram-se problemas de convergência em alguns defeitos estudados,
principalmente aquando da ocorrência de curto-circuitos. Quando a não convergência ocorre apenas
durante o defeito e a rede começa a convergir passados poucos passos de integração após o defeito
ser removido, os resultados finais que se obtêm não são afectados.
Para cada um dos panoramas são realizados diferentes perturbações sendo consequentemente
descrita a análise dos resultados para cada. As grandezas que são apresentadas sobre a forma de
gráfico são escolhidas adequadamente para suportar a análise de cada caso, sendo submetidas as
que se consideram menos relevantes para o Anexo E.
Por uma questão de consonância todas as perturbações simuladas têm inı́cio aos 2 segundos.
Foram estudadas quatro perturbações distintas com o objectivo de apresentar alguma diversidade de
acontecimentos passı́veis de ocorrer na rede da Brava. As quatro perturbações simuladas foram:

1. Curto-circuito franco no BUS50-VILA;

2. Saı́da de serviço de um grupo térmico;

3. Variação da irradiância;

4. Saı́da de serviço do BESS.

De forma a não tornar a apresentação dos resultados para cada uma das perturbações muito ex-
tensa e exaustiva considerou-se suficiente apresentar e analisar dos cenários I a IV apenas aqueles que
se consideram ser mais relevantes e que simulam a situação mais gravosa, para cada um dos panora-
mas e contingências estudadas. Resta apresentar as condições de funcionamento que foram definidas
com o objectivo de qualificar o regime estacionário pós-perturbação, no que se refere às grandezas de
frequência e tensão de operação da rede. No caso da frequência considera-se que o sistema pode
operar de forma segura caso em regime pós transitório o desvio de frequência não ultrapasse ±1, 5Hz,
ou seja, a rede deve operar dentro da gama dos 48, 5 − 51, 5Hz. Relativamente aos limites de tensão
admissı́vel após uma perturbação sugere-se que esta não ultrapasse os ±10% da tensão nominal, ou

75
seja, 0, 9 − 1, 1p.u. Assim, de seguida apresenta-se de forma detalhada cada uma das perturbações
para cada panorama e cenário e os resultados obtidos.

5.3.1 Curto-circuito franco no BUS50-VILA

O estudo de um curto-circuito na rede trata-se de uma contingência que simula um percurso de baixa
impedância, através do qual fluem elevadas correntes. O curto-circuito é aplicado no BUS50-VILA com
duração de 100 ms, com inı́cio aos 2 s sendo extinto aos 2,1 s. A escolha do barramento onde se
aplicou o curto-circuito é justificada pelo facto de a VILA ser um barramento electricamente cêntrico
face à restante rede de distribuição. O defeito aplicado é um curto circuito trifásico simétrico que é ca-
racterizado por uma susceptância de −2 × 109 p.u, o que permite considerar o defeito como franco. Esta
perturbação é implementada quer no panorama 100% renovável quer no com geração convencional,
apresentando-se apenas os resultados para o cenário das 11 horas (II), uma vez que, este é caracte-
rizado por ser aquele em que a penetração renovável é mais significativa. Assim com a ocorrência do
defeito as protecções das renováveis podem actuar fazendo com que seja retirada geração renovável
de serviço, o que provoca um transitório mais grave que em qualquer outro cenário.
Com o curto-circuito aplicado no BUS50-VILA aos 2s, o regime estacionário é interrompido iniciando-
se um regime transitório. Ao fim de 100ms o curto-circuito é extinto. As tensões ao longo de toda a rede
decaem para valores menores do que 0, 1p.u. durante o defeito, justificando-se este decréscimo tão
acentuado tanto pela severidade do defeito como pela dimensão reduzida da rede, cuja topologia lhe
confere uma robustez reduzida.
Quer no panorama 100% renovável quer no com convencional, a ocorrência do curto-circuito ocasi-
ona a saı́da de serviço dos PVs. Tal contigência advém do decremento da tensão aos seus terminais,
que faz actuar a protecção contra subtensões em 0, 01s abrindo o disjuntor passados 80ms, pelo que
aos 2, 09s o disjuntor abre retirando de serviço o PV e o respectivo transformador. Com a perda dos
PVs são perdidos 246kW de potência injectada.
Para o caso da ilha 100% renovável, na Figura 5.11 ilustra-se a variação temporal da frequência na
sequência da ocorrência do defeito, vista do BUS55 e a potência injectada pelos PVs. Após a saı́da dos
PVs, a potência de carga é maior que a potência injectada o que provoca a diminuição da frequência.
Como resposta à perda de geração decorrente do defeito, as unidades de geração em serviço (PEVF
e BESS) reagem no sentido de contrariar a descida de frequência.
No caso dos aerogeradores, apresenta-se na Figura 5.12, a resposta temporal de uma das turbinas
sendo que a outra apresenta uma resposta semelhante. Observa-se que aos 2, 1s, após a eliminação do
defeito, os aerogeradores apresentam um aumento da potência eléctrica injetada opondo-se à perda de
produção dos PVs e assim atenuando a descida de frequência durante os primeiros instantes. Esta res-
posta caracteriza-se pelo aumento da potência injectada pelo grupo turbina-gerador à custa da redução
da sua energia cinética, ou seja, da diminuição da velocidade de rotação, tal como é visı́vel na Figura
5.12, transformando a energia cinética em eléctrica. A potência gerada pelo PEVF tende para o valor
pré-defeito, pelo que, até que a velocidade de rotação seja restabelecida, parte da potência activa é

76
absorvida de forma a aumentar a velocidade de rotação dos aerogeradores.
Visto que os aerogeradores em regime estacionário pós-defeito apresentam a mesma potência ac-
tiva que em pré-defeito, o BESS assume-se como a unidade de geração responsável por suportar a
perda de produção decorrente da perturbação. Na Figura 5.13 apresenta-se a resposta dinâmica da
bateria no que à potência eléctrica se refere. Uma vez que, a bateria se encontra a carregar em regime
pré-defeito, esta é vista pela rede como uma carga. Assim com a perda de geração dos PVs, a bate-
ria diminui a potência que absorve para 65kW , o que do ponto de vista da dualidade carga/produção
simula o deslastre de carga. Tal com já apresentado na Secção 4.2.5.2, a potência injectada pela
bateria está dependente da variação de frequência do barramento BUS55 (Figura 5.11) e do ganho
KC = −10M W/p.u. que acaba por mimetizar o controlo primário de frequência por estatismo de um
gerador convencional.

Figura 5.11: Frequência no BUS55 e potência ac- Figura 5.12: Potência e variação velocidade de um
tiva dos PVs (perturbação: CC no BUS50 - pano- aerogerador (perturbação: CC no BUS50 - pano-
rama 100% renovável). rama 100% renovável).

Figura 5.13: Potência activa e energia do BESS


Figura 5.14: Potência Reactiva (perturbação: CC
(perturbação: CC no BUS50 - panorama 100% re-
no BUS50 - panorama 100% renovável).
novável).

Na Figura 5.13 apresenta-se igualmente a evolução temporal da energia da bateria em p.u.sec na

77
base do sistema. A potência reactiva injectada pelas unidades de geração após a saı́da de serviço dos
PVs é apresentada na Figura 5.14.
No final do tempo de simulação a frequência da rede eléctrica da ilha da Brava é igual a 48,8 Hz.
No regime estacionário que se atinge na sequência desta contigência não se verificam tensões fora
dos limites de operação definidos como aceitáveis, nem ramos (linhas/cabos ou transformadores) ou
máquinas a operar em sobrecarga. O perfil das tensões, durante o perı́odo de simulação, nos principais
barramentos da rede encontra-se apresentado na Figura E.1.
De referir que o estudo desta perturbação para qualquer um dos restantes cenários (I,III e IV),
apresentou resultados igualmente satisfatórios de acordo com os critérios de qualificação do regime
estacionário pós-perturbação já apresentados.
No panorama com geração convencional, as simulações já não apresentam qualquer tipo de não
convergência. Na Figura 5.15 verifica-se que durante a ocorrência do curto-circuito a frequência da
rede no BUS55 apresenta um pico com 51Hz que resulta do excesso de potência mecânica face à
potência eléctrica. Com eliminação do defeito e com a decorrente perda dos PVs, a potência diminui
face à carga o que faz com que a frequência comece a diminuir. Neste caso, para além da resposta
do aerogerador em serviço é também apresentada a resposta inercial pelo gerador convencional em
serviço (G1), tal como é visı́vel na Figura E.2.
Após a resposta inercial do G1, o controlo primário de frequência começa a actuar pelo que os regu-
ladores carga/velocidade (controlo por estatismo) do G1 impõem um aumento da potência mecânica,
tal como se pode verificar na Figura 5.15. Quando o binário mecânico iguala o binário eléctrico, a
aceleração do gerador anula-se e a frequência acaba por estabilizar por volta dos 30s. A potência
mecânica do G1, no regime estacionário, que se atinge no perı́odo pós-perturbação é igual a 198, 74kW ,
enquanto que o aerogerador em serviço opera a 219kW atingindo o mesmo ponto de funcionamento
que em regime pré-defeito (Figura E.3).

Figura 5.15: Frequência no BUS55 e potência Figura 5.16: Potência activa e energia do BESS
mecânica do G1 (perturbação: CC no BUS50 - pa- (perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ conven-
norama c/ convencional). cional).

Quanto ao BESS a sua resposta durante o tempo de simulação é apresentada na Figura 5.16,
sendo a sua análise semelhante à efectuada para o panorama 100% renovável. Contudo neste caso a

78
variação de potência que absorve, entre o regime pré e pós defeito, não é tão acentuada. A bateria no
regime estacionário pós-pertubação absorve 51, 14kW . Nesta figura apresenta-se também a energia
total armazenada durante o tempo de simulação, que como se verifica, é menor que aquela que é obtida
no panorama 100% renovável.
No final do tempo de simulação a frequência da rede eléctrica da ilha da Brava é igual a 49, 15Hz.
No regime estacionário que se atinge na sequência desta contigência não se verificam tensões fora
dos limites de operação definidos como aceitáveis, nem sobrecargas. O perfil das tensões, durante
o perı́odo de simulação, nos principais barramentos da rede encontra-se apresentado na Figura E.5.
Tal como no panorama 100% renovável, qualquer um dos restantes cenários (I,III e IV) apresentou
resultados igualmente satisfatórios para o regime estacionário pós-perturbação.

5.3.2 Saı́da de serviço de um grupo térmico (G1)

A simulação da saı́da de serviço de um grupo térmico pretende averiguar de que forma a rede reage à
perda da única unidade de geração convencional que se encontra em serviço em regime estacionário
(G1) e como influência a estabilidade da rede, relativamente ao controlo primário de frequência.. Esta
perturbação é apenas estudada para o panorama cujo regime estacionário é apresentado na secção
5.2.3.2, uma vez que, o cenário 100% renovável é caracterizado pela inexistência de produção conven-
cional. O cenário cujos resultados são apresentados corresponde à ponta (IV), visto que, é neste que
a procura é mais elevada.
O objectivo principal é apenas estudar a forma como a bateria reage à perda de geração conven-
cional, portanto nesta perturbação apresenta-se igualmente a influência que o ganho KC apresenta
na resposta do BESS e estabilidade da rede. Assim, aos 2s é retirado de serviço o gerador G1 e os
transformadores da SFV, perdendo-se 130kW . Instantaneamente o equilı́brio entre carga e potência
mecânica é quebrado e a frequência desce decorrente do défice de potência mecânica. Para demons-
trar a influência do ganho KC na modelização da bateria e na sua resposta dinâmica foi simulada
esta perturbação recorrendo a KC = −5M W/p.u. e ao valor definido por defeito de −10M W/p.u.,
confrontando-se os resultados nas Figuras 5.17 e 5.18.
A potência eléctrica adicional fornecida pelo aerogerador e a injecção de potência por parte da ba-
teria definem o desvio inicial de frequência, sendo tanto maior quanto menor a capacidade de injectar
potência por parte do BESS. Na Figura 5.17 é possivel verificar que quando o ganho é menor, a res-
posta inercial por parte do aerogerador é mais significativa de forma tentar compensar a incapacidade
do BESS. Como consequência desse facto a velocidade de rotação do rotor do aerogerador MIDA
decresce mais de forma a que a energia cinética possa ser convertida em eléctrica.
Como se verifica na Figura 5.18, a frequência a que estabiliza a rede é inferior quando o KC =
−5M W/p.u. tendendo esta para 48, 75Hz, enquanto que com o ganho a −10M W/p.u. a frequência
estabiliza em 49, 4Hz. Tal facto é facilmente perceptı́vel à luz do modelo ”PAUX1”, em que de forma
simplificada o que acontece é que a potência a injectar pela bateria é função do desvio de frequência
(∆f ) e do ganho KC , ou seja, PAU X = KC × ∆f . Em qualquer um dos casos, o facto de a frequência

79
estabilizar para um valor menor que 50Hz indica que a potência eléctrica fornecida pelas máquinas é
superior à potência mecânica.

Figura 5.18: Frequência no BUS55 e potência


Figura 5.17: Potência activa (perturbação: saı́da de
mecânica do G1 (perturbação: saı́da de serviço de
serviço de G1).
G1).

Os resultados suplementares obtidos para o ganho KC = −10M W/p.u. encontram-se apresentados


no Anexo E.2. Os valores de potência injectada em regime estacionário pós-transitório são de 182kW e
287kW para o aerogerador e BESS, respectivamente. Como se verifica, a potência eléctrica injectada
pelo aerogerador é ligeiramente inferior à potência a que este funcionava em regime pré-defeito, pelo
que os controlos mecânicos da turbina, nomeadamente o pitch actua de forma a ajustar a potência
mecânica. Quanto à potência reactiva (Figura E.7), com a perda de 177, 18kvar com a retirada de
serviço do G1, as restantes unidades de geração têm de compensar a falta de reactiva na rede, que
como se vê na Figura E.8 afecta a tensão nos barramentos da rede. A bateria através do controlo
directo da parte reactiva da corrente, por parte do controlador de tensão permite responder rapidamente
à excursão de tensão injectando potência reactiva. O aerogerador devido à perturbação estabiliza
por volta dos 14s, com a injecção de uma potência reactiva de 103, 16kvar, que ultrapassa os limites
definidos para a máquina, pelo que se verifica que esta opera em sobrecarga em regime estacionário
pós-perturbação. No regime estacionário que se atinge na sequência desta contigência não se verificam
tensões fora dos limites de operação definidos como aceitáveis.

5.3.3 Variação da irradiância

Com o objectivo de simular uma perturbação que permitisse caracterizar a imprevisibilidade e variabi-
lidade dos recursos renováveis optou-se por fazer variar a irradiância verificada na ilha. A variação do
recurso solar (irradiância) foi feita considerando a ocorrência de nebulosidade que delimita a radiação
solar que atinge a crosta terrestre e assim a geração solar produzida pelos PVs. Com base na ir-
radiância horária utilizada para definir a geração solar em regime estacionário (Tabela 5.1) de cada
cenário, considera-se o inı́cio do surgimento de nuvens a partir do 2o segundo de simulação e que 2
segundos após (4 s), a irradiância atinge o valor mı́nimo e constante que se assumiu de ser de cerca de

80
700

Irradiância [W/m
600
500
400
300 200
200
100
77% da irradiância do regime estacion
0 ário3 , tal como apresentado na Figura 5.19 para o cenário das 11
0 5 10 15 20 25 30
Tempo(Anexo
horas (II). Estes dados são inseridos no ficheiro DYRE [s] C.4), no modelo ”IRRADU” e a potência
injectada pelo PV é obtida posteriormente através do modelo linear do PV definido pelo ”PANELU”.

1000
912
900
800

Irradiância [W/m2]
700
600
500
400
300 200
200
100
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo [s]

Figura 5.19: Simulação da variação da irradiância.

Esta simulação é apresentada apenas para o cenário II, de cada um dos panoramas, por ser aquele
onde a penetração de geração solar é mais significativa.
Com a variação de irradiância simulada aquilo que verifica é uma perda gradual na geração solar,
ao longo dos 2 segundos durante os quais o surgimento de nebulosidade é imposto sobre a forma de
uma rampa (ver Figura 5.19). A potência injectada no perı́odo com nebulosidade é de 57, 60kW , o que
corresponde a um decréscimo de produção dos PVs de 77%, o que vem comprovar a linearidade do
modelo ”PANELU”. Com esse decréscimo de geração as unidades de geração em serviço respondem
no sentido de contrariar tal contigência.
No panorama 100% renovável, para além dos PVs encontram-se em serviço os dois aerogeradores
do PEVF bem como a bateria a operar em modo de carga. Nos resultados apresentados apenas se
exibe um dos aerogeradores do PEVF, uma vez que estes apresentam uma resposta dinâmica igual. Na
Figura 5.20 é possivel verificar o comportamento inercial das turbinas eólicas. Observa-se que os aero-
geradores aumentam a potência eléctrica que injectam durante os primeiros instantes pós perturbação,
face ao regime estacionário, à custa da perda de velocidade do rotor ou de outra perspectiva da energia
cinética da turbina. Desta forma, estas contribuem para suporte da descida da frequência resultante
da perda de geração solar. Após a resposta inercial, os aerogeradores diminuem a sua geração de
forma a repor a velocidade de rotação. Como é visı́vel a partir dos 10s, a potência eléctrica é menor
que a potência mecânica pelo que o rotor começa a acelerar, o que se traduz no aumento do desvio de
velocidade do aerogerador. A potência mecânica e eléctrica em regime estacionário pós perturbação
apresentam valores ligeiramente inferiores aos de regime pré-defeito correspondendo estes a 218kW .
A velocidade estabiliza ligeiramente abaixo dos 0, 2p.u. indicando o equilı́brio entre o binário mecânico
e eléctrico dos aerogeradores passados 50s de simulação.
Na Figura 5.21, é possivel observar o comportamento da bateria durante o perı́odo de simulação.
Tal como já referido, a potência a que a bateria carrega/descarrega é proporcional da variação de
frequência que se verifica no barramento BUS55, sendo o desvio final de frequência definido em função
3 Valor obtido através de dados reais de leituras de irradiância para a ilha do Corvo, Açores.

81
do ganho KC .

Figura 5.20: Potência activa, mecânica e desvio


Figura 5.21: Frequência no BUS55 e potência ac-
de velociadade dos aerogeradores (perturbação:
tiva do PV e BESS (perturbação: variação de ir-
variação de irradiância - panorama 100% re-
radiância - panorama 100% renovável).
novável).

Uma vez que, o sistema de controlo primário de frequência do BESS é do tipo proporcional, a
estabilização da frequência ocorre para um valor inferior da frequência nominal (50 Hz), tal como veri-
ficado. Com a perda de geração solar, a bateria responde carregando a uma potência menor, o que é
análogo à diminuição da carga da rede, uma vez que, a bateria a carregar é vista pela rede como uma
carga. Em regime estacionário pós-perturbação, o BESS passa a operar a −120, 86kW . A frequência
da rede vista do BUS55 é apresentada na Figura 5.21, podendo-se verificar que esta estabiliza por volta
dos 50s, em 49, 05Hz.
Relativamente ao perfil de tensões na rede da ilha da Brava verifica-se que a perturbação de variar
a irradiância não proporciona grandes excursões destas nos principais barramentos da rede como se
pode observar na Figura E.11, mantendo-se as tensões aproximadamente iguais às do regime esta-
cionário pré-defeito. Quanto à potência reactiva verifica-se com a redução da geração solar que as
perdas de reactiva diminuem significativamente, o que é observável na diminuição da potência reactiva
injectada, em regime pós-perturbação (Figura E.10).
No regime estacionário que se atinge na sequência desta contigência não se verificam ramos (li-
nhas/cabos ou transformadores) ou máquinas a operar em sobrecarga.
Para o panorama com convencional, a análise é semelhante à feita anteriormente para o caso só
com renováveis. De ressalvar apenas o comportamento dinâmico do grupo convencional (G1) apresen-
tado na Figura E.12. Com a perda de geração solar, o gerador em serviço, em parte, é responsável por
satisfazer a ”carga” adicional do sistema, reduzindo a energia cinética das massas rotativas do gerador
fornecendo a potência eléctrica necessária. Assim, a velocidade da máquina reduz-se e consequen-
temente a frequência do sistema, enquanto variável global da rede, acompanha o comportamento não
voltando nenhuma destas variáveis aos seus valores iniciais.
O controlo primário de frequência por parte do gerador convencional actua no sentido de aumentar
o binário mecânico e consequentemente a potência mecânica. Como é visı́vel na Figura E.12, o re-

82
gulador carga/velocidade do G1 impõe um aumento da potência mecânica aquando do decréscimo da
frequência da rede, de forma a que o binário eléctrico e mecânico atinjam o equilı́brio e a frequência es-
tabilize. No regime estacionário que se atinge no perı́odo pós-perturbação, o G1 opera a uma potência
mecânica de 183, 9kW , valor este que é em 3kW menor que a potência eléctrica injectada pelo grupo.
Já o único aerogerador em serviço, em regime pós-perturbação, regressa ao ponto de operação do
regime pré-defeito, tal como se pode analisar na Figura E.12.
A estabilização da frequência da rede eléctrica da ilha da Brava ocorre por volta dos 30s com um
valor igual a 49, 34Hz, tal como apresentado na Figura 5.22. Nesta mesma figura é possivel verifi-
car também a potência activa injectada pelo BESS e a sua complementariedade com a variação de
frequência, dado que o modelo ”PAUX1” é essencialmente um controlador proporcional que modela a
resposta da bateria às excursões de frequência, tal como já explorado. O BESS, em regime estacionário
pós-perturbação carrega a uma potência de 90kW .

Figura 5.22: Frequência no BUS55 e potência ac-


tiva do PV e BESS (perturbação: variação de ir-
radiância - panorama c/ convencional).

A potência reactiva injectada é apresentada na Figura E.13 onde, tal como observado para o pano-
rama 100% renovável, a geração de reactiva pós-perturbação decresce devido à diminuição das perdas
ao longo da rede, resultante do diferente trânsito de energia imposto pela contigência estudada. No final
do tempo de simulação, no regime estacionário que se atinge não se verificam tensões fora dos limites
de operação definidos como aceitáveis nem sobrecargas. O perfil de tensões durante o perı́odo de
simulação é aproximadamente constante com pequenas oscilações a ocorrerem durante os instantes
em que a geração solar varia, tal como no panorama 100% renovável.

5.3.4 Saı́da de serviço do BESS

A última simulação apresentada corresponde à desligação da bateria da rede retirando-a de serviço


e tem como objectivo estudar a estabilidade da rede sem o auxı́lio do BESS. A perturbação feita
ocorre aos 2s com o deslastre da bateria e respectivo transformador. No caso 100% renovável aquilo
que se espera com este estudo é provar a inviabilidade de operação da rede sem BESS, provando-

83
se a importância da bateria no sistema electroprodutor da ilha da Brava. Esta importância centra-se
não só na integração das renováveis na rede, mas também na relevância que apresenta na geração
de potência reactiva, tal como se referiu na Secção 5.2.3. Já no panorama com o BESS e geração
convencional aquilo que se pretende estudar é a forma como a rede reage apenas com renováveis e
um grupo convencional em serviço. Para este estudo foram escolhidos os cenários II e IV para serem
apresentados os resultados em regime dinâmico. Esta escolha justifica-se no facto de corresponderem
a casos em que a bateria opera em modos de funcionamento distintos, no II a carregar e no IV a
descarregar.
Após retirar de serviço o BESS, no panorama 100% renovável para o cenário de ponta (IV), a
geração da ilha fica apenas ao encargo do aerogerador de serviço. A perda de 367, 81kvar de potência
reactiva aquando do deslastre da bateria ocasiona a descida instantânea generalizada das tensões
na rede (Figura E.14). Como é observável na Figura 5.23, o aerogerador acaba por ser retirado de
serviço alguns segundos após o deslastre da bateria. Tal acontecimento ocorre devido à actuação das
protecções contra subtensões instaladas no aerogerador. Aos 2s, o segundo escalão das protecções
arranca por a tensão aos terminais do aerogerador atingir os 0, 1991p.u.. Contudo devido à injecção
de potência reactiva (Figura 5.24) por parte do aerogerador, levando-o a atingir o limite máximo, a
tensão aos seus terminais aumenta para 0, 2504p.u., o que provoca o reset da protecção. Após 0, 825s
(temporização do 3o escalão) o disjuntor recebe ordem de disparo que ocorre após 0, 08s, pelo que aos
2, 905s o aerogerador é retirado de serviço pela actuação das protecções de subtensão. O perfil de
tensões dos principais barramentos da rede pode ser analisado na Figura E.14.

Figura 5.23: Frequência no BUS55 e potência ac- Figura 5.24: Energia do BESS e potência reac-
tiva do aerogerador e BESS (perturbação: saı́da do tiva do aerogerador e BESS (perturbação: saı́da do
BESS - panorama 100% renovável). BESS - panorama 100% renovável).

Assim, aos 2, 905s a rede encontra-se sem geração em serviço pelo que colapsa sendo automati-
camente retirados de serviço todos os barramentos no PSS/E. A partir do momento em que a bateria
sai de serviço a frequência deixa de ser calculada pelo que o valor que é verificado na Figura 5.23,
no qual a frequência estabiliza não apresenta qualquer significado real. Na Figura 5.24 apresenta-se
igualmente a energia total da bateria podendo-se verificar que aos 2s esta estabiliza o que comprova
que a potência de saı́da da bateria é nula a partir desse instante.

84
O facto de a rede colapsar já era previsı́vel antes deste estudo, uma vez que, a geração eólica seria
sempre insuficiente para satisfazer a carga mesmo que o aerogerador não fosse retirado de serviço
pelas protecções. Em qualquer um dos restantes cenários estudados (I,II ou III), os resultados são
coincidentes com os aqui apresentados, no sentido em que ao ocorrer o deslastre da bateria o sistema
fica instável, saindo toda a geração de serviço pelas protecções e a rede acaba por colapsar. Assim
fica provada a necessidade de manter a bateria em serviço durante todo o dia, uma vez que esta é
fundamental para a estabilidade da rede, num panorama em que apenas operam renováveis.
No panorama com geração convencional, o deslastre da bateria apresenta repercussões diferen-
tes para a rede eléctrica da ilha da Brava. Apresentam-se de seguida os resultados obtidos para os
cenários II e IV, em que a bateria opera em regime estacionário no modo de carga e descarga, respec-
tivamente.
No cenário II, a bateria antes de ser retirada de serviço está a carregar, pelo que é vista pela rede
como uma carga. Aos 2s ao ser deslastrado o BESS, do ponto de vista da rede é como se a carga
do sistema diminui-se ou de uma forma análoga pode ser interpretado como um aumento da geração.
Saiem de serviço 221, 13kW de ”carga” e 106, 89kvar de potência reactiva, respectivamente. Neste
cenário, o PSF e um aerogerador do PEVF encontram-se em serviço juntamente com o grupo conven-
cional G1, sendo apresentada a sua resposta dinâmica na Figura 5.25, relativamente à potência activa.
Assim que o BESS é deslastrado verifica-se pela Figura 5.26 que a frequência começa a aumentar, o
que indica que esta é uma situação de excesso de geração. A potência eléctrica do grupo G1 diminui
instantaneamente, enquanto que a potência mecânica não reage logo dado que a energia fornecida à
turbina não é instantânea. Assim o binário mecânico é maior que o binário eléctrico da máquina, o que
faz a velocidade do G1 aumentar e consequentemente a frequência da rede, tal como se observa pela
Figura 5.26.
O pico da frequência atinge os 51, 6Hz aos 2, 506s. Nesse instante ocorre a saı́da de serviço do
transformador do PV levando à desligação do PSF por actuação da protecção de sobre-frequência do
transformador elevador do PV, de onde resulta a perda de 246, 1kW e 42, 8kvar. A perda de produção
associada ao PSF ocasiona que a potência gerada passe a ser menor que a potência de carga o que
faz com que a frequência comece a decair a partir desse instante. Como resposta as unidades de
geração em serviço aumentam a potência injectada (Figura 5.25). A diminuição da frequência impõe
ao regulador carga/velocidade do G1 o aumento da potência mecânica do grupo, como é visivel na
Figura 5.26.
Uma vez que, aos 2s é deslastrada a bateria a operar como carga com 221, 13kW e aos 2, 506s dá-
se o deslastre do PSF que injectava 246, 1kW , comparando o equilı́brio carga/geração verifica-se que é
perdida mais geração que carga deslastrada pelo que, o desvio de frequência final é necessariamente
menor que 50Hz. Por volta dos 30s, o binário mecânico e eléctrico do G1 igualam-se e a frequência da
rede estabiliza nos 49, 75Hz.
Relativamente à potência reactiva injectada pelas unidades de geração em serviço encontra-se
apresentada na Figura E.16 o seu comportamento. Com a saı́da de serviço da bateria e do PSF, a
potência reactiva injectada pelas máquinas no regime estacionário pós-perturbação é de 198, 25kvar e

85
93, 21kvar pelo G1 e Aerogerador1, respectivamente. Na Figura E.14 apresenta-se o perfil de tensões
dos principais barramentos da rede, verificando-se que nenhum dos barramentos opera a uma tensão
fora da banda definida com segura em regime estacionário. Apesar disso, a ligeira diminuição das
tensões está relacionada com o facto de quer o grupo convencional quer o aerogerador ultrapassarem,
embora que pouco, o limite máximo de potência reactiva a que devem operar, sendo estes dados
apresentados nas Tabelas 4.1 e 4.2.

Figura 5.25: Potência activa no cenário II Figura 5.26: Potência mecânica do G1 e frequência
(perturbação: saı́da do BESS - panorama c/ con- no BUS55, para cenário II (perturbação: saı́da do
vencional). BESS - panorama c/ convencional).

Quanto ao cenário IV, aos 2s com a saı́da de serviço do BESS são perdidos 162, 4kW de potência
activa e 145, 43kvar de potência reactiva. As unidades de geração em serviço (Aerogerador1 e G1),
respondem prontamente a esta perda de geração. A resposta inercial destas unidades é visı́vel na
Figura 5.27, permitindo assim atenuar a diminuição de frequência que ocorre após a perturbação, uma
vez que existe um incremento da potência eléctrica. Este aumento da potência eléctrica das máquinas
face à potência mecânica das mesmas leva à desaceleração destas e consequentemente a frequência
da rede diminui, até que os binários das máquinas se igualem e levem à estabilização da frequência
da rede. A frequência estabiliza por volta dos 20s, momento em que a potência mecânica e eléctrica
do grupo convencional estabilizam. Observando a Figura 5.27 verifica-se que a potência mecânica
do G1 é menor que a potência eléctrica injectada, o que justifica um desvio de frequência menor que
50Hz. Quanto ao aerogerador verifica-se que este fica a operar a uma potência inferior à do regime
pré-perturbação, observando-se a actuação dos controlos mecânicos por volta dos 30s de forma a que
a potência mecânica seja concordante com a potência eléctrica injectada. No regime estacionário que
se atinge no perı́odo pós-perturbação a potência mecânica do grupo G1 da central Favetal é igual a
269, 61kW , sendo a potência mecânica do aerogerador igual a 182, 5kW .
A potência reactiva injectada pelas unidades de geração em serviço do sistema electroprodutor da
ilha da Brava encontra-se apresentada na Figura E.18. Com a saı́da de serviço da bateria, a potência re-
activa injectada pelas máquinas em serviço aumenta, atingindo no regime estacionário pós-perturbação
230, 42kvar e 105, 35kvar pelo G1 e Aerogerador1, respectivamente. Na Figura E.14 apresenta-se o
perfil de tensões dos principais barramentos da rede. É possivel verificar que as tensões apresentam de

86
forma generalizada valores abaixo dos 0, 95p.u. contudo em nenhum barramento se verifica que tenha
sido ultrapassado o limite mı́nimo definido com aceitável (0, 9p.u.). Esta diminuição das tensões está
relacionada com a sobrecarga das máquinas em serviço, atingindo estas o limite superior de potência
reactiva a que devem operar.

Figura 5.27: Frequência no BUS55 e potência ac-


tiva e mecânica das unidades de geração, para
cenário IV (perturbação: saı́da do BESS - pano-
rama c/ convencional).

No final do tempo de simulação a frequência da rede eléctrica da ilha da Brava é igual a 48, 25Hz,
o que se encontra ligeiramente abaixo do desvio de frequência mı́nimo considerado como aceitável em
regime estacionário pós-perturbação, antes da atuação do controlo secundário de frequência. Relati-
vamente às sobrecargas das máquinas em serviço, verifica-se que ambas ultrapassam o limite máximo
de reactiva definidos nas Tabelas 4.1 e 4.2.

5.4 Análise geral

Nesta análise pretende-se resumir os principais resultados e conclusões que podem ser retirados dos
estudos realizados em regime estacionário e dinâmico.
O estudo estacionário realizado para o panorama sem renováveis instaladas em 2020, pretende
apenas apresentar a forma como as unidades de geração actuais reagiriam à carga projectada para o
ano de 2020. Verifica-se que os grupos convencionais são capazes de suportar a carga sem qualquer
problema. Para além disso, nesta simulação é possivel identificar desde logo, que o aumento previsto
da carga para 2020 gera problemas de sobrecarga na rede de distribuição, no cenário de ponta (IV).
A sobrecarga ocorre no transformador que interliga o barramento BUS8 e o barramento VILA, do SS
Nova Sintra, sendo a solução proposta a inserção em paralelo de um transformador igual a este, o qual
é mantido para qualquer uma das simulações efectuadas.
Com a introdução de renováveis na rede foram simulados dois panoramas distintos, um com as
renováveis projectadas no ”Plano Energético para 2020”[8] e outro com o redimensionamento dos pro-
jectos renováveis sugerido na Secção 3.3.3. No primeiro caso ficou provado, mais uma vez, que as

87
renováveis projectadas em [8] não são ajustadas à previsão de carga actualizada neste estudo. Nos
4 cenários simulados foi impossı́vel manter em serviço qualquer dos parques renováveis visto que, a
potência activa disponibilizada por estes é sempre demasiado elevada face à carga em questão. Assim,
o trânsito de energia obtido é igual ao do estudo feito sem renováveis instaladas. No segundo caso, já
com as renováveis redimensionadas os resultados são ligeiramente diferentes. Apesar de no cenário III
ser possı́vel injectar a potência proveniente de um dos aerogeradores do PEVF, nos restantes cenários
toda a geração renovável tem que ser deslastrada. Contudo, nos cenários II e IV o motivo que obriga à
retirada de serviço das renováveis não é o excesso de potência disponı́vel como no caso anterior, mas
sim o défice de geração reactiva que por consequência obriga a abdicar das renováveis para despachar
unidades convencionais capazes de a satisfazer. Relativamente às perdas de potência reactiva que se
verificam no caso mais gravoso (IV) estas atingem 8% da potência reactiva injectada.

Os resultados mais conclusivos e relevantes são os apresentados nos dois panoramas que consi-
deram o BESS instalado, sendo que um considera a ilha com geração 100% renovável e o outro com
auxı́lio de geração convencional. De frisar que o dimensionamento do BESS é efectuado com base no
panorama 100% renovável por este ser aquele que exige requisitos de capacidade de armazenamento
e potência mais exigentes, comparativamente ao panorama em que se considera também geração
convencional.

Dos resultados estacionários obtidos para o panorama 100% renovável pode-se verificar que a
bateria assume um papel determinante na geração de potência reactiva. Para além disso oferece
uma flexibilidade adicional à rede que permite aumentar o aproveitamento renovável. Verifica-se que
apenas cerca de 24% da geração renovável disponı́vel durante o dia simulado é desperdiçada (Tabela
5.5), o que é um dado que revela o dimensionamento apropriado quer da bateria quer dos projectos de
renováveis instalados. Dos resultados conclui-se igualmente a inexistência de sobrecargas ou tensões
fora dos limites definidos como aceitáveis. Quanto às perdas de potência aquelas que merecem maior
destaque são as de reactiva que revelam ser consideravelmente superiores face aos panoramas sem a
bateria instalada. No pior dos cenários (II) as perdas de reactiva representam cerca de 12% da potência
reactiva injectada.

Considerando geração convencional, os resultados dos estudos estacionários revelam, tal como
seria de prever, que a bateria ao ser utilizada neste panorama não é aproveitada recorrendo à totalidade
das suas potencialidades de armazenamento e potência. Verificou-se que com o despacho considerado
cerca de 75% da EbatN é inutilizada, o que comprova claramente o sobredimensionamento do BESS
quando aplicado neste panorama. Com a cooperação do G1 na produção, a bateria perde algum do seu
impacto face ao panorama anterior no que à potência reactiva e activa diz respeito, tal como se pode
verificar pela Tabela 5.6. Nos resultados do regime estacionário verificou-se ser possı́vel operar apenas
com G1 a funcionar aproximadamente à potência mı́nima garantindo-se assim a maior penetração
renovável concebı́vel. Contudo, da introdução da geração convencional no despacho das unidades de
produção resulta um inevitável aumento do desperdı́cio renovável, alcançando este 52% da energia
diária renovável disponı́vel, mais do dobro que o valor registado no panorama 100% renovável. Não se
verificaram sobrecargas nem tensões fora dos limites. Quanto às perdas de potência reactiva rondam

88
na média dos cenários estudados os 6% da potência injectada, valor abaixo do verificado no panorama
anterior.
Relativamente aos estudos em regime dinâmico, como resumo dos principais resultados que foram
obtidos dos estudos efectuados apresenta-se na Tabela 5.8 as principais conclusões que foram retira-
das do regime estacionário que é atingido após cada uma das perturbações e que permitem qualificá-lo.

Tabela 5.8: Resumo dos resultados dos estudos dinâmicos.


Perturbação CC BUS50 Saída G1 Variação Irradiância Saída BESS
Cenário II IV II II IV
Freq. Freq. Freq. Freq. Freq.
Grandeza [Hz]
Tensões Sobrecargas
[Hz]
Tensões Sobrecargas
[Hz]
Tensões Sobrecargas
[Hz]
Tensões Sobrecargas
[Hz]
Tensões Sobrecargas
100%
Renovável
48,8 ✓ x 49,05 ✓ x Instável: rede colapsa Instável: rede colapsa
Panorama
Com Aerogerador Aerogerador e
Convencional
49,15 ✓ x 49,4 ✓ Aerogerador 49,34 ✓ x 49,75 ✓ e G1
48,25 ✓ G1

De uma forma geral os resultados obtidos para os diferentes panoramas mostraram ser satisfatórios
do ponto de vista de tensão e frequência de operação da rede da ilha da Brava. De referir apenas como
resultado mais gravoso a perturbação que faz sair o BESS de serviço, e que no caso 100% renovável
leva a que a rede colapse por não ser possı́vel suportar a carga de cada um dos cenários com as
unidades de geração renovável em serviço.
Os aerogeradores apresentam uma resposta fundamental no um auxilio ao suporte da excursão
de frequência que se verifica aquando da ocorrência de uma contigência. A malha de controlo de
potência activa dos seus modelos permite a injecção adicional de potência activa tornando o desvio de
frequência menos gravoso para a rede. Quanto à bateria esta é crucial para a estabilidade da rede dada
a importância que apresenta na geração de potência activa e reactiva, mas também pela capacidade
que tem de permitir o aumento da penetração renovável. Por outro lado, também se pode concluir pelos
resultados obtidos que a exploração da rede com recurso a geração convencional permite em parte re-
duzir a dependência do BESS e dar maior flexibilidade e estabilidade à rede. Tal factor justifica-se pelo
facto de existirem 2 unidades de geração (G1 e bateria) que regulam a frequência da rede, através do
controlo primário de frequência. Nas perturbações que simulam a perda de uma unidade de geração
(Secções 5.3.2 e 5.3.4 ) verifica-se que os resultados apresentam máquinas sobrecarregadas devido
aos limites máximos de potência reactiva definidos serem ultrapassados no ponto de operação esta-
cionário a que ficam a ser exploradas pós-perturbação. Tal situação não é favorável para as máquinas,
como tal deve ser tida em consideração e corrigida.
Importa referir que o PSS/E revelou apresentar algumas limitações quer no modelo do BESS,
quer na possibilidade de estudar sistemas apenas com geração renovável. As situações de não con-
vergência que surgiram em alguns dos estudos realizados para o panorama 100% renovável, nomea-
damente aquando da realização de um curto-circuito foram um dos problemas. Visto que os resultados
em regime transitório são obtidos através de um método numérico, a solução para este problema pas-
sou por actuar nos parâmetros caracterı́sticos do método, especificamente na redução do passo de
integração, no aumento do número máximo de iterações, no aumento da tolerância de convergência e
na redução da aceleração usada na solução do trânsito de energia da rede. Em situações em que o
problema de não convergência ocorre apenas durante o curto-circuito (tal como se verifica na secção

89
5.3.1), começando os resultados a convergir poucos passos de integração após a eliminação do de-
feito, não foi tomada qualquer acção pois este comportamento não impede que se atinja um ponto de
funcionamento estacionário.
O modelo ”CBEST” da bateria revelou apresentar igualmente algumas limitações. Em primeiro
este não permite definir o SOC inicial a que a bateria se encontra no inicio da simulação, impedindo
assim a adopção do SOC definido no despacho realizado no Anexo D, para cada cenário estudado.
Adicionalmente, este modelo não permite limitar a energia da bateria podendo assim a bateria durante
a simulação atingir uma qualquer capacidade de armazenamento ou profundidade de descarga.

90
Capı́tulo 6

Conclusão

Neste capı́tulo apresentam-se as principais ilações que foram possı́veis de retirar ao longo de toda a
dissertação. Por fim, apresentam-se também algumas sugestões que se consideram ser interessantes
para a realização de trabalhos futuros com base neste tema e algumas recomendações que comple-
mentariam este trabalho.

6.1 Conclusões

O crescimento da consciencialização da importância da integração de energias renováveis nos siste-


mas electroprodutores é evidente. Este nasce do intuito não só de reduzir a dependência dos com-
bustı́veis fósseis e as consequentes emissões, mas também da construção de um sistema energético
mais sustentável económica e ambientalmente. Nesta mudança de paradigma os sistemas de arma-
zenamento de energia são cada vez mais um elo fundamental na acomodação das renováveis e na
contribuição para a estabilidade e robustez das redes eléctricas. Tais caracterı́sticas ganham uma im-
portância superior quando inseridas num contexto de sistema isolado, caracterizado por baixa inércia
e sem quaisquer interligações com outros sistemas, o que faz com que o controlo da rede seja mais
limitado e esta seja mais vulnerável a fenômenos de instabilidade. Assim sendo, os SAEs apresentam
potencialidades importantes para a sustentabilidade das redes isoladas, como é o caso das ilhas, pelo
que o seu estudo e desenvolvimento é fundamental.
O objectivo principal deste trabalho consistiu em estudar a viabilidade técnica da implementação de
um SAE numa rede eléctrica de pequena/média dimensão. O caso de estudo considerado corresponde
à rede eléctrica da ilha da Brava para o ano de 2020, usando como base o ”Plano Energético para
2020”[8]. O objectivo central consiste em estudar a integração de um SAE num panorama de geração
100% renovável, avaliando-se o seu funcionamento e a estabilidade da rede. Para alcançar este ob-
jectivo, estudou-se os SAEs existentes com foco nos BESSs e nas suas principais caracterı́sticas e
aplicações, seguida da modelização da rede da Brava e de todos os contitituintes desta, incluindo o
BESS e os parques eólico e solar em projecto. Como ferramenta para simular a rede e o seu funcio-
namento utilizou-se o software PSS/E. Recorreu-se à biblioteca de modelos do programa de forma a

91
modelizar todos os constituintes da rede de acordo com os pressupostos dinâmicos definidos para cada
um. Por fim, procedeu-se à analise do comportamento estacionário da rede e à avaliação da resposta
transitória da mesma a 4 perturbações distintas, que visam apresentar desafios diferenciados a esta,
podendo assim tecer-se um parecer final da sua estabilidade. De seguida, de forma mais detalhada,
são apresentados os principais marcos de cada capı́tulo deste trabalho, realçando-se as conclusões de
cada um.

No Capı́tulo 2, como ponto de partida para atingir o objectivo desta dissertação apresentou-se a
forma como o crescimento da integração de energias renováveis nas redes eléctricas, especialmente
nas insulares, influência a operação segura e estável dos sistemas eléctricos. A natureza estocástica e
a variabilidade das fontes renováveis são destacadas como os principais factores para a ocorrência de
problemas operacionais relativos à estabilidade de frequência e flutuações de tensão que deterioram
a qualidade de serviço das redes. Então, como resposta, começou-se por apresentar, contextualizar
e comparar as diferentes tecnologias de SAEs existentes, com foco particular nas suas especificações
técnicas tı́picas, como por exemplo, o rendimento, a capacidade de armazenamento ou a densidade
de energia, mas também as suas aplicações. Na secção seguinte, da análise destes dados permite-se
justificar a definição do BESS como o SAE adequado na implementação do projecto ”Brava 100% re-
novável”, devido à flexibilidade que apresenta em ser capaz de fazer gestão de energia eficientemente e
participar em serviços de auxı́lio na estabilidade da rede, que exigem resposta rápida por parte do SAE.
Uma vez definido o SAE abordam-se os principais fundamentos teórico-práticos dos BESS, bem como
as aplicações centrais a que se destinam no ramo da integração de renováveis nas redes eléctricas.
Exploram-se também as caracterı́sticas técnicas de cada tecnologia de baterias e a importância de
adequar estas aos requisitos que determinada aplicação exige. Pelo elevado rendimento e densidade
de energia, considerou-se que o tipo de BESS a implementar seria de iões de lı́tio. Assim, este capı́tulo
tem o intuito de dar uma visão geral das tecnologias de armazenamento e das suas aplicações, anun-
ciando algumas considerações e conceitos chave para o resto do trabalho.

No Capı́tulo 3 apresentou-se o caso de estudo de forma detalhada fazendo a devida distinção entre
a rede da ilha da Brava actual (2015) e as devidas alterações previstas para esta até 2020. Apresentam-
se os dados do sistema electroprodutor, subestações e da rede de distribuição. É efectuada e apresen-
tada a forma como foi estimado o diagrama de carga da ilha e a caracterização que é considerada do
recurso eólico e solar, sendo estes dados fundamentais para posteriormente serem utilizados nos estu-
dos estacionários e transitórios. No caso particular da ilha da Brava 2020 apresentou-se neste capı́tulo
a nova previsão de carga considerada, que substitui a sugerida no ”Plano energético para 2020” [8].
Esta nova previsão, baseada nos dados fornecidos pela ELECTRA, levantou a necessidade de redimen-
sionar os projectos engendrados para 2020, com o objectivo de diminuir a potência instalada do PSF e
do PEVF, ajustando-os à nova previsão de carga. Por fim, apresentam-se todas as especificações dos
novos parques a instalar bem como das subestações associadas.

A implementação e modelização do caso de estudo no programa de simulação é apresentada no


Capı́tulo 4. Começou-se por descrever a rede e a sua estrutura de forma a que esta seja perceptı́vel
ao leitor. Posteriormente, apresenta-se uma análise breve dos princı́pios dos modelos dinâmicos e

92
estacionários dos geradores convencionais, incluindo excitatriz e regulador carga-velocidade, dos aero-
geradores e dos PVs, apresentando-se as considerações base do dimensionamento de cada elemento.
O foco principal contudo centrou-se nos modelos que sustentam o funcionamento do BESS, o ”CBEST”
e o modelo auxiliar ”PAUX1”.

Na secção correspondente ao BESS apresenta-se a metodologia utilizada para dimensionar a bate-


ria, bem como os modelos utilizados para caracterizar o BESS em regime estacionário e dinâmico. Re-
lativamente, ao dimensionamento este foi efectuado tendo em consideração um conjunto de equações
aplicadas para o panorama 100% renovável, uma vez que, é aquele que requer especificações técnicas
mais exigentes. A capacidade da bateria foi definida considerando a potência renovável disponı́vel que
excede o diagrama de carga em cada instante do dia, contabilizando também factores limitativos como
a PD e a deterioração com a utilização. Quanto à modelização em regime estacionário, a bateria foi mo-
delada como um gerador convencional. Dinamicamente analisou-se os modelos ”CBEST” e ”PAUX1”
através dos seus diagramas de blocos, apresentando-se a função de cada um deles e os respectivos
parâmetros caracterı́sticos são devidamente explicados e dimensionados. O parâmetro central que de-
fine a resposta do BESS é o ganho KC do modelo ”PAUX1”, visto que é o responsável pela definição
do quanto a bateria carrega ou descarrega de forma a contrariar as oscilações de frequência que se
verificam na rede, sendo responsável pelo controlo primário da frequência.

No Capı́tulo 5 apresentou-se e analisou-se os resultados dos estudos feitos para a ilha da Brava
em 2020, em regime estacionário e dinâmico. Adicionalmente, neste capı́tulo apresentou-se também
o método como é efectuado o despacho a bateria, incluindo todos os pressupostos e condicionantes
assumidos. Nos estudos em regime estacionário retrataram-se 5 panoramas de simulação distintos
que diferem entre si pelas renováveis e/ou o BESS estarem instalados ou não. Dos resultados obtidos
de cada uma das simulações do trânsito de energia foi possı́vel concluir que apesar da potência insta-
lada não ser uma objecção face à carga prevista para 2020, por si só a rede actual (2015) não seria
capaz de suportar o trânsito de energia, originando sobrecargas na rede. Para que a integração dos
projectos renováveis seja viável comprovou-se a importância de incorporar o BESS na rede de forma
a aumentar a penetração renovável e a cooperar com a geração de potência reactiva. A operação da
rede em regime estacionário, no panorama 100% renovável não apresentou objecções de qualquer
natureza, verificando-se que as tensões da ilha se mantêm dentro dos limites de operação de ±5% da
tensão nominal, que não se registaram sobrecargas e que o dimensionamento da bateria foi apropriado
permitindo que cerca de 75% da geração renovável disponı́vel seja aproveitada. Com a introdução de
geração convencional no despacho, o desperdı́cio renovável aumenta e a capacidade de armazena-
mento da bateria revela ser sobredimensionada para este panorama, tal como esperado.

Em regime dinâmico, apenas se estudou os dois panoramas que consideram o BESS em funcio-
namento, o 100% renovável e o com geração convencional. Como base foram utilizados os resultados
do trânsito de energia para inicializar as simulações dinâmicas. Estas simulações basearam-se em 4
perturbações distintas com o intuito de testar a resposta da rede a cada uma delas e dos resultados
poder-se retirar uma conclusão face à estabilidade da rede para 2020.

Com a simulação de um curto-circuito severo no BUS50-VILA verificou-se que de forma generali-

93
zada as tensões da rede descem significativamente, o que leva à actuação das protecções dos PVs e
consequente retirada de serviço destes para o cenário II, tendo a perda de geração originado a descida
da frequência que estabiliza a 48, 8Hz para o cenário 100% renovável e a 49, 15Hz com convencional.
No regime estacionário pós-contigência que se atingiu não se verificaram tensões fora dos limites nem
a existência de sobrecargas.

A simulação seguinte consistiu em retirar de serviço o único gerador convencional (G1) considerado
no despacho do panorama com convencional e avaliar a estabilidade da rede agora enquanto sistema
100% renovável. Para além disso, serviu também como estudo em que se apresentou a influência do
parâmetro KC na resposta dinâmica da bateria. A perda de 130kW de potência do G1 no cenário de
ponta, origina a descida da frequência da rede. A perda da unidade de geração G1 que participa na
regulação primária de frequência fez com que o BESS fosse o único elemento responsável pelo controlo
da frequência. Verificou-se que ao aumentar o ganho KC da bateria, o desvio de frequência em regime
pós-perturbação diminuı́a, isto porque a potência injectada pela bateria é dada de forma simplificada
por KC × ∆f . A operação da rede não ficou comprometida com esta contingência, verificando-se que
para KC = −10M W/p.u. a frequência estabiliza em 49, 4Hz e que as tensões mantém em valores
aceitáveis, apesar de se verificar a sobrecarga do aerogerador devido à potência reactiva.

A terceira simulação consistiu em fazer variar a irradiância simulando o surgimento de nebulosidade


e assim afectando a potência injectada pelo PSF. Esta contigência não revelou ser problemática para
a rede, nem no panorama 100% renovável nem no com convencional, estabilizando a frequência a
49, 05Hz e 49, 34Hz, respectivamente. Não se registaram sobrecargas nem tensões fora dos limites
aceitáveis com esta perturbação.

A última contigência estudada consistiu em retirar de serviço o BESS, em dois cenários diferentes
que representam a bateria em carga ou descarga. Para o panorama 100% renovável aquilo que se
verificou é que a perda do sistema de armazenamento leva ao colapso da rede em qualquer um dos
cenários. Tal acontecimento era expectável visto que as renováveis em serviço são incapazes de
satisfazer a variação de carga/geração decorrente da perda do BESS, uma vez que, não são nutridas de
capacidade para cooperar no controlo primário de frequência. Como alternativa, no panorama em que
se considerou geração convencional, para ambos os cenários estudados, a rede reagiu positivamente.
A existência de uma unidade que é capaz de fornecer flexibilidade de exploração permite que a rede
não colapse, sendo a regulação primária de frequência garantida pelo G1. Apesar disso, concluiu-
se que em ambos os cenários deste panorama, a perda do BESS levou a que quer o G1, quer os
aerogeradores em serviço ficassem a operar sobrecarregados, o que é uma situação inconveniente
para os equipamentos. No cenário IV, que corresponde ao caso mais gravoso, a frequência estabiliza
em 48, 25Hz.

Da análise dos resultados dinâmicos obtidos para o panorama 100% renovável verificou-se que
este apresenta algumas fragilidades. Os resultados obtidos foram reveladores para cada uma das
simulações efectuadas, sendo atingidos os objetivos propostos para cada uma delas em particular. A
maior fragilidade que se verificou surgiu na ocorrência da perturbação que origina a perda do BESS e
que por conseguinte leva a que a rede fique instável pela ausência de unidades de geração capazes

94
de auxiliar no controlo primário de frequência. Assim fica evidenciado que é fundamental garantir que
a bateria seja capaz de sobreviver a fenômenos transitórios severos de forma a assegurar a sua per-
manência persistente em serviço. Para tornar esta vulnerabilidade menos gravosa admite-se que seria
importante considerar a utilização de aerogeradores e PVs com capacidade para participar no controlo
da frequência do sistema. Nomeadamente, estes devem possuir regulação carga-velocidade, garan-
tindo assim que cada um opera abaixo da potência disponı́vel de forma a certificar a qualquer instante,
a existência de uma reserva de potência, capaz de auxiliar em situações transitórias desfavoráveis,
através da injecção de potência activa. Como alternativa, os resultados dinâmicos considerando ape-
nas o menor dos grupos convencionas (G1) em serviço, revelou que a estabilidade da rede era mais
robusta neste panorama. Na simulação mais gravosa que impõe a perda do BESS, a rede estabiliza
devido à flexibilidade que o G1 confere em termos de injecção de potência que permite controlar os
desvios de frequência decorrentes da perda de geração/carga.

6.2 Trabalho Futuro

Ao longo do trabalho foram sendo identificadas algumas limitações do mesmo ou questões que pode-
riam introduzir oportunidades de estudo com interesse para os resultados finais.
Em primeiro lugar seria interessante estudar como seria o comportamento da rede de estudo caso,
em vez de um BESS se tivesse optado por um outro SAE ou um conjunto deles com diferentes carac-
terı́sticas. Para além disso, uma análise da viabilidade económica da solução proposta acrescentaria
mais um dado relevante para o estudo.
Quanto a limitações do ponto de vista de simulação é onde residem as principais oportunidades de
aprimorar os resultados. Em todas as simulações realizadas apenas se estudou o cenário de Inverno
da ilha da Brava, considerando-se que apesar de este ser aquele que representa o caso mais gravoso
do ponto de vista de diagrama de carga, seria de interesse criar um cenário de Verão. Quanto às con-
tingências estudadas em regime dinâmico, o estudo da variação do vento através da simulação de uma
rajada seria interessante dada a elevada penetração eólica da ilha. Tal não foi possı́vel implementar
por os modelos utilizados para os aerogeradores não permitirem simular tal efeito. Outro ponto interes-
sante, residia em dotar os PVs instalados com protecções contra cavas de tensão permitindo que estes
fossem capazes de sobreviver a perturbações que provoquem o abaixamento temporário da tensão aos
seus terminais.
Por fim, seria proveitoso rever alguns dos modelos utilizados e se possivel acrescentar capacidades
nos mesmos, de forma a contornar algumas das limitações inerentes. No caso dos modelos ”WT3” seria
interessante conseguir dotá-los de capacidade para efectuar controlo primário de frequência, através
da limitação da potência máxima disponı́vel, garantindo assim uma reserva para resposta fenômenos
transitórios. No caso do modelo da bateria, o ”CBEST”, as principais limitações residem na incapaci-
dade definir os limites de capacidade da bateria pelo que, não é possı́vel atribuir um SOC à bateria,
quer no inicio da simulação quer após a perturbação.

95
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Electric Power Systems Research, 79(4):511–520, Apr 2009.

[32] B. Dunn, H. Kamath, and J.-M. Tarascon. Electrical Energy Storage for the Grid: A Battery of
Choices. Science, 334(6058):928–935, 2011.

[33] Battery Lifetime. http://www.cleantechnica.com. Acedido a: 15-08-2016.

[34] Charging at High and Low Temperatures. http://www.batteryuniversity.com/. Acedido a: 16-


08-2016.

[35] Battery Performance Characteristics. http://www.mpoweruk.com/. Acedido a: 18-08-2016.

[36] 5 Facts in Lithium ion Battery VS Lead Acid Battery. http://http://www.skylightupower.com/.


Acedido a: 19-08-2016.

[37] SB300 DataSheet 12V 300Ah Lithium Ion Battery. http://www.lithiumion-batteries.com/.


Acedido a: 18-08-2016.

[38] L. Balza, C. Gischler, N. Janson, S. Miller, and G. Servetti. Potential for Energy Storage in Combi-
nation with Renewable Energy in Latin America and the Caribbean. Technical report, 2014.

[39] ABB. EssPro Energy Storage Power Conversion System (PCS). The power to control energy .
Technical report, 2014.

[40] Sucena Paiva, José Pedro. Redes de energia eléctrica. Uma análise sistémica. IST Press, 4th
edition.

[41] Map of the brava island in cape verde. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CV_Ilha_


Brava.png. Acedido: 11-08-2016.

[42] GESTO Energy Solutions. Plano de investimentos. Technical report, 2012.

[43] PSS/E. Program Application Guide, Volume II. 2010.

[44] EPRI. Application of Storage Technology for Transmission System Support: Interim Report. 2012.

98
Anexo A

Diagrama Unifilar da Rede MT da


Brava

A.1
1/1
S/E
ESCALA:
FOLHA
PROJECTO N.º
DISTRIBUIÇÃO ELECTRICIDADE:
DATA: Junho 2009
DATA: Junho 2009
VER.: R.MARTINS
DES.: A.CORREIA
DIF - DGPDE
DIRECÇÃO INFRAESTRUTURAS:
A.2

REDE MT BRAVA - ESQUEMA UNIFILAR

CADASTRO DOS SEE DE CABO VERDE


DESIGNAÇÃO DO PROJECTO:
DESIGNAÇÃO DO DESENHO:

LEGENDA
Abertura de circuito Rede Aérea - Userv = 20 kV
Rede Aérea - Userv = 6 kV
Protecção I>, I>> e Io / I>
Rede Subterranea - Userv = 20 kV
PT aéreo Un = 20 kV
Rede Subterranea - Userv = 6 kV
PT em Alvenaria Un = 20 kV
Secção do cabo / Cable section
PT em Alvenaria Un = 6 kV
Comprimento do cabo / Cable length

Brava 2015
Ligador aero-subterraneo
Potência Nominal / Rated Power
Nome do PT / Secondary S/S name
ELECTRA S.A.R.L
Interruptor aéreo de comando manual

A.1
A.2
1/1
S/E
DISTRIBUIÇÃO ELECTRICIDADE:

ESCALA:
FOLHA
PROJECTO N.º

Brava 2020
DATA: Junho 2009
DATA: Junho 2009
DIRECÇÃO INFRAESTRUTURAS:

VER.: R.MARTINS
DES.: A.CORREIA
DIF - DGPDE

REDE MT BRAVA - ESQUEMA UNIFILAR


CADASTRO DOS SEE DE CABO VERDE
A.3

DESIGNAÇÃO DO PROJECTO:

DESIGNAÇÃO DO DESENHO:
ELECTRA S.A.R.L
LEGENDA

Abertura de circuito Rede Aérea - Userv = 20 kV


Rede Aérea - Userv = 6 kV
Protecção I>, I>> e Io / I>
Rede Subterranea - Userv = 20 kV
PT aéreo Un = 20 kV
Rede Subterranea - Userv = 6 kV
PT em Alvenaria Un = 20 kV
Secção do cabo / Cable section
PT em Alvenaria Un = 6 kV
Comprimento do cabo / Cable length

Ligador aero-subterraneo
Potência Nominal / Rated Power
Interruptor aéreo de comando manual Nome do PT / Secondary S/S name
A.4
Anexo B

Datasheets

Incluem-se neste anexo algumas das datasheets dos equipamentos cujos dados foram utilizados no
presente estudo.

B.1
B.1 Painéis Fotovoltaicos

B.2
B.2 Módulo Bateria
B.3
B.4
Anexo C

Modelos Dinâmicos: Testes e


Parâmetros

C.1 Proteções contra cavas de tensão

Na Figura C.1 apresenta-se a obtenção da caracterı́stica simulada das proteções contra subtensões
implementadas nos aerogeradores com o objectivo de sobreviverem a cavas de tensão.

Característica simulada Característica de referência

1
10; 0,9
0,9

0,8
1,50; 0,80

0,7
1,275; 0,65
0,6
|V| [pu]

0,5
1,05; 0,5

0,4
0,825; 0,35
0,3
0,675; 0,25
0,2

0,01; 0,1 0,1

0
0,001 0,01 0,1 1 10
Temporização protecção [s]

Figura C.1: Proteção contra cavas de tensão.

C.2 Teste à excitatriz dos grupos térmicos

Na Figura C.2 apresenta-se o resultado do teste ”ESTR/ERUN” do PSS/E que testa os parâmetros do
modelo da excitatriz ”IEEET1”.

C.1
Figura C.2: Resposta do modelo IEEET1 à variação em escalão da tensão de referência.

C.3 Teste ao regulador carga-velocidade dos grupos térmicos

Na Figura C.3 apresenta-se o resultado do teste ”GSTR/GRUN” do PSS/E que testa os parâmetros do
modelo do regulador carga-velocidade ”DEGOV1”.

Figura C.3: Resposta do modelo DEGOV1 à variação em escalão do nı́vel de carga do gerador.

C.4 Ficheiro DYRE

Nesta secção apresenta-se o ficheiro de simulação DYRE que contem todos os modelos utilizados nas
simulações e os respectivos parâmetros.
/ Geração convencional
1 ’GENSAL’ 1 4.40 0.11 0.19 2.52 0.01 1.740 0.741 0.411 0.271 0.15 0.11 0.4 /
1 ’GENSAL’ 2 4.40 0.11 0.19 2.52 0.01 1.740 0.741 0.411 0.271 0.15 0.11 0.4 /
1 ’GENSAL’ 3 4.40 0.11 0.19 2.52 0.01 1.740 0.741 0.411 0.271 0.15 0.11 0.4 /
1 ’GENSAL’ 4 4.40 0.11 0.19 2.52 0.01 1.740 0.741 0.411 0.271 0.15 0.11 0.4 /
1 ’IEEET1’ 1 0.023 200 0.84 0.0 -2.5 1 0.3 0.12 0.9 0 2.47 0.035 3.5 0.6 /

C.2
1 ’IEEET1’ 2 0.023 200 0.84 0.0 -2.5 1 0.3 0.12 0.9 0 2.47 0.035 3.5 0.6 /
1 ’IEEET1’ 3 0.023 200 0.84 0.0 -2.5 1 0.3 0.12 0.9 0 2.47 0.035 3.5 0.6 /
1 ’IEEET1’ 4 0.023 200 0.84 0.0 -2.5 1 0.3 0.12 0.9 0 2.47 0.035 3.5 0.6 /
1 ’DEGOV1’ 1 0 0.2 0.05 0.5 8 1. 0.1 0.05 0.045 1 0.0 0.075 0 /
1 ’DEGOV1’ 2 0 0.2 0.05 0.5 8 1. 0.1 0.05 0.045 1 0.0 0.075 0 /
1 ’DEGOV1’ 3 0 0.2 0.05 0.5 8 1. 0.1 0.05 0.045 1 0.0 0.075 0 /
1 ’DEGOV1’ 4 0 0.2 0.05 0.5 8 1. 0.1 0.05 0.045 1 0.0 0.075 0 /
/Geração renovável
/ Modelos da eólica VESTAS V-29
52 ’WT3G1’ 1 1 0.80000 30.000 0.0000 0.10000 0.2250 /
52 ’WT3E1’ 1 52 1 2 51 52 ’1’ 0.15000 18.000 5.0000 0.0000 0.05 3.0000 0.60000 1.1200 0.04 0.436 -0.43600 1.12000 0.02
0.45000 -0.45000 60 0.1 0.90000 1.1000 40.000 0.50 1.45 0.05 0.05 1.0000 0.69000 0.78000 0.98000 1.1200 0.74000 1.2000 /
52 ’WT3T1’ 1 1.2500 5.2900 0.0000 0.7000E-02 21.980 0.0000 1.88 2.30 /
52 ’WT3P1’ 1 0.30000 150.00 25.000 3.0000 30.000 0.0000 27.000 10.000 1 /
/ Protecções do aerogerador1
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 47.0 55.0 0.02 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 47.5 55.0 10.0 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 45.0 51.25 30.0 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 45.0 52.0 0.02 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.10 5.0 0.010 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.25 5.0 0.675 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.35 5.0 0.825 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.50 5.0 1.050 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.65 5.0 1.275 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.80 5.0 1.500 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.90 5.0 10.00 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.00 1.1 3.0 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.00 1.15 1.3 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 52 52 ’1’ 0 0 0 0.00 1.3 0.01 0.08 /
/ Modelos da eólica VESTAS V-29
58 ’WT3G1’ 1 1 0.80000 30.000 0.0000 0.10000 0.2250 /
58 ’WT3E1’ 1 58 1 2 57 58 ’1’ 0.15000 18.000 5.0000 0.0000 0.05 3.0000 0.60000 1.1200 0.04 0.436 -0.43600 1.12000 0.02
0.45000 -0.45000 60 0.1 0.90000 1.1000 40.000 0.50 1.45 0.05 0.05 1.0000 0.69000 0.78000 0.98000 1.1200 0.74000 1.2000 /
58 ’WT3T1’ 1 1.2500 5.2900 0.0000 0.7000E-02 21.980 0.0000 1.88 2.30 /
58 ’WT3P1’ 1 0.30000 150.00 25.000 3.0000 30.000 0.0000 27.000 10.000 1 /
/ Protecções do aerogerador2
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 47.0 55.0 0.02 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 47.5 55.0 10.0 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 45.0 51.25 30.0 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 45.0 52.0 0.02 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.10 5.0 0.010 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.25 5.0 0.675 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.35 5.0 0.825 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.50 5.0 1.050 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.65 5.0 1.275 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.80 5.0 1.500 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.90 5.0 10.00 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.00 1.1 3.0 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.00 1.15 1.3 0.08 /

C.3
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGTPA’ 0 2 6 4 0 1 58 58 ’1’ 0 0 0 0.00 1.3 0.01 0.08 /
/ Modelos PV Módulos MARTIFER 225 230
54 ’USRMDL’ 1 ’PVGU1’ 101 1 0 9 3 3 0.02 0.02 0.4 0.9 1.11 1.2 2.0 2.0 0.2E-01/
54 ’USRMDL’ 1 ’PVEU1’ 102 0 4 24 10 4 54 0 1 0 0.15 18.0 5.0 0.05 0.1 0.0 0.08 0.47 -0.47 1.10 0.0 0.50 -0.50 0.05 0.1 0.9
1.1 120 0.05 0.05 1.7 1.11 1.11 0.36/
/ Protecções do PV
54 ’USRMDL’ 1 ’PANELU1’ 103 0 0 5 0 1 0.1600 0.3800 0.5900 0.850 1/
54 ’USRMDL’ 1 ’IRRADU1’ 104 0 1 20 0 1 0 5 1000 10 900 15 850 20 800 25 700 30 600 35 700 0 0 0 0 0 0/
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 54 54 ’1’ 0 0 0 45.0 51.0 0.2 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’FRQDCA’ 0 2 6 4 0 1 54 54 ’1’ 0 0 0 47.0 55.0 0.2 0.08 /
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGDCA’ 0 2 6 4 0 1 54 54 ’1’ 0 0 0 0.85 5.0 0.010 0.08/
0 ’USRMDL’ 0 ’VTGDCA’ 0 2 6 4 0 1 54 54 ’1’ 0 0 0 0.00 1.1 0.010 0.08/
/ Modelo do BESS

56 ’CBEST’ 1 0.9 1.05 0.95 1.2 35 0.1 0.1 0.1 0.1 9999 -9999 0.030 /

C.4
Anexo D

Despacho da Bateria

D.1 Panorama 100% renovável

D.2 Panorama com bateria, renováveis e convencional

D.1
Gonçalo Glória Relatório Dimensionamento Renováveis e Bateria 02/06
Anexo 4
Tabela Tabela 19-Despacho
D.1: Despacho da bateria
da bateria no para o panorama
panorama 100%100%renovável . (Código
renovável. Código de cores:
de cores: Verde-1aerogerador2
Verde- aerogerador desligado; Vermelho-
retirado de serviço; PE+PS desligados)
Vermelho- PEVF e PSF retirados
de serviço
Horas PPEVF_disponivel PPSF_disponivel PCarga [MW] PGer [MW] PGer - PCarga PBateria [MW] EBateria SOC(%)
[MW] [MW] [MW] [MWh]
00:00 0,438 0 0,344 0,219 -0,125 0,125 0,855 39,421
01:00 0,31 0 0,300 0,155 -0,145 0,145 0,730 35,845
02:00 0,34 0 0,293 0,170 -0,123 0,123 0,585 31,708
03:00 0,377 0 0,283 0,189 -0,094 0,094 0,461 28,179
04:00 0,384 0 0,284 0,192 -0,092 0,092 0,367 25,493
05:00 0,37 0 0,278 0,185 -0,093 0,093 0,275 22,864
06:00 0,384 0 0,229 0,192 -0,037 0,037 0,182 20,203
07:00 0,426 0,04 0,290 0,253 -0,037 0,037 0,145 19,146
07:34 0,426 0,04 0,290 0 -0,290 0,290 0,124 18,538
08:00 0,441 0,112 0,324 0,553 0,229 -0,229 0,000 15
09:00 0,413 0,175 0,359 0,588 0,229 -0,229 0,229 21,548

D.2
10:00 0,431 0,220 0,361 0,651 0,290 -0,290 0,458 28,091
11:00 0,438 0,246 0,372 0,684 0,312 -0,312 0,748 36,385
12:00 0,431 0,253 0,387 0,684 0,297 -0,297 1,061 45,303
13:00 0,426 0,242 0,396 0,668 0,271 -0,271 1,358 53,794
14:00 0,426 0,211 0,382 0,637 0,255 -0,255 1,629 61,547
15:00 0,413 0,161 0,372 0,574 0,201 -0,201 1,884 68,825
16 00 0,398 0,094 0,382 0,492 0,110 -0,110 2,085 74,582
17:00 0,352 0,011 0,364 0,363 0,001 0,001 2,195 77,710
18:00 0,326 0 0,354 0,163 -0,191 0,191 2,194 77,698
19:00 0,365 0 0,469 0,183 -0,286 0,286 2,003 72,235
20:00 0,365 0 0,473 0,183 -0,290 0,290 1,717 64,058
21:00 0,339 0 0,427 0,170 -0,258 0,258 1,427 55,761
22:00 0,346 0 0,368 0,173 -0,195 0,195 1,169 48,402
23:00 0,433 0 0,336 0,217 -0,120 0,120 0,974 42,841
24:00 0,438 0 0,344 0,219 -0,125 0,125 0,855 39,421
28
Gonçalo Glória Relatório Dimensionamento Renováveis e Bateria 02/06

Anexo 5
D.2: Despacho
Tabela Tabela 20- Despacho bateria
dada bateriano panorama
para o panoramacom BESS, renov
de renováveis2 comáveis e convencional.
geração Código
convencional. (Código de cores:
de cores: Verde-
Amarelo- 1 aerogerador
PS desligado; Vermelho-retirado de serviço; Vermelho-
PE+PS desligados)
PEVF e PSF retirados de serviço; Azul- 1 aerogerador e PSF retirados de serviço
PPEVF_disponivel PPSF_disponivel PCarga PConvencional PtotalRenovável PGer - PCarga PBateria EBateria
Horas PGer [MW] SOC(%)
[MW] [MW] [MW] [MW] [MW] [MW] [MW] [MWh]
00:00 0,438 0 0,344 0,128 0,219 0,347 0,003 -0,003 0,008 15,237
01:00 0,31 0 0,300 0,134 0,155 0,289 -0,011 0,011 0,011 15,320
02:00 0,34 0 0,293 0,128 0,170 0,298 0,005 -0,005 0 15,009
03:00 0,377 0 0,283 0,128 0,189 0,317 0,034 -0,034 0,005 15,138
04:00 0,384 0 0,284 0,128 0,192 0,320 0,036 -0,036 0,039 16,108
05:00 0,37 0 0,278 0,128 0,185 0,313 0,035 -0,035 0,075 17,137
06:00 0,384 0 0,229 0,128 0,192 0,320 0,091 -0,091 0,110 18,133
07:00 0,426 0,04 0,290 0,128 0,253 0,381 0,091 -0,091 0,201 20,733
08:00 0,441 0,112 0,324 0,128 0,332 0,460 0,137 -0,137 0,292 23,329
09:00 0,413 0,175 0,359 0,128 0,382 0,510 0,151 -0,151 0,428 27,234
10:00 0,431 0,220 0,361 0,128 0,436 0,564 0,203 -0,203 0,579 31,534

D.3
11:00 0,438 0,246 0,372 0,128 0,465 0,593 0,221 -0,221 0,781 37,328
12:00 0,431 0,253 0,387 0,128 0,469 0,597 0,210 0,043 1,003 43,646
13:00 0,426 0,242 0,396 0,128 0,455 0,583 0,186 -0,186 0,959 42,408
14:00 0,426 0,211 0,382 0,128 0,424 0,552 0,170 0,041 1,146 47,732
15:00 0,413 0,161 0,372 0,128 0,367 0,495 0,123 0,038 1,104 46,557
16 00 0,398 0,094 0,382 0,128 0,293 0,421 0,039 0,254 1,067 45,479
17:00 0,352 0,011 0,364 0,128 0,187 0,315 -0,048 0,236 0,813 38,218
18:00 0,326 0 0,354 0,128 0,163 0,291 -0,063 0,063 0,577 31,489
19:00 0,365 0 0,469 0,128 0,183 0,311 -0,158 0,158 0,514 29,683
20:00 0,365 0 0,473 0,128 0,183 0,311 -0,162 0,162 0,356 25,163
21:00 0,339 0 0,427 0,128 0,173 0,301 -0,126 0,126 0,193 20,523
22:00 0,346 0 0,368 0,128 0,173 0,301 -0,067 0,067 0,067 16,921
23:00 0,433 0 0,336 0,128 0,217 0,345 0,008 -0,008 0 15,018
24:00 0,438 0 0,344 0,128 0,219 0,347 0,003 -0,003 0,008 15,237

29
D.4
Anexo E

Resultados Dinâmicos suplementares

E.1 Curto-circuito franco no BUS50-VILA

E.1.1 100% renovável

Figura E.1: Tensões nos principais barramentos


(perturbação: CC no BUS50 - panorama 100% re-
novável).

E.1
E.1.2 Com convencional

Figura E.2: Potência activa do G1 e PV Figura E.3: Potência activa e variação velocidade
(perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ conven- do aerogerador (perturbação: CC no BUS50 - pa-
cional). norama c/ convencional).

Figura E.5: Tensões nos principais barramentos


Figura E.4: Potência reactiva (perturbação: CC no
(perturbação: CC no BUS50 - panorama c/ conven-
BUS50 - panorama c/ convencional).
cional).

E.2
E.2 Saı́da de serviço de um grupo térmico (G1)

Figura E.6: Potência activa e variação velocidade


Figura E.7: Potência reactiva (perturbação: saı́da
do aerogerador (perturbação: saı́da de serviço de
de serviço de G1).
G1).

Figura E.8: Tensões nos principais barramentos Figura E.9: Potência activa e energia total do BESS
(perturbação: saı́da de serviço de G1). (perturbação: saı́da de serviço de G1).

E.3
E.3 Variação da irradiância

E.3.1 100% renovável

Figura E.10: Potência reactiva (perturbação: Figura E.11: Tensões nos principais barramentos
variação de irradiância - panorama 100% re- (perturbação: variação de irradiância - panorama
novável). 100% renovável).

E.3.2 Com convencional

Figura E.12: Potência activa e mecância do aero-


Figura E.13: Potência reactiva (perturbação:
gerador e G1 (perturbação: variação de irradiância
variação de irradiância - panorama c/ convencional).
- panorama c/ convencional).

E.4
E.4 Saı́da de serviço do BESS

E.4.1 100% renovável

Figura E.14: Tensões nos principais barramentos


(perturbação: saı́da do BESS - panorama 100% re-
novável).

E.4.2 Com convencional

E.4.2.1 Cenário II

Figura E.15: Tensões nos principais barramentos


Figura E.16: Potência reactiva (perturbação: saı́da
(perturbação: saı́da do BESS - panorama c/ con-
do BESS - panorama c/ convencional).
vencional).

E.5
E.4.2.2 Cenário IV

Figura E.17: Tensões nos principais barramentos Figura E.18: Potência reactiva para cenário IV
para cenário IV (perturbação: saı́da do BESS - pa- (perturbação: saı́da do BESS - panorama c/ con-
norama c/ convencional). vencional).

E.6

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