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Huntress Universe

&
Wings Traduções

Tradução: Angel
Revisão Inicial: Ivy
Revisão Final: Mika
Leitura Final: Diana
Verificação: Aurora
Formatação: Angel

10/2020
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IDIOMA ORIGINAL!
A morte vem para os imortais.
Como estudante de graduação em genética,
Sasha Keleterina sabe uma ou duas coisas
sobre sangue. Ela é corajosa, capaz e não o tipo
de mulher que precisa ser salva. Mas quando ela
é atacada em seu laboratório, ela quase não
consegue escapar com vida - apenas para
descobrir que está se tornando um dos mortos-
vivos.
Um vírus mortal está envenenando vampiros
na área de Portland, colocando todos em perigo.
O mestre vampiro Arsen Eskandar está
desesperado para provar a si mesmo e salvar
seu povo. Seguindo a trilha de um ataque
recente, Arsen encontra Sasha. Ela é linda,
inteligente e uma lutadora, e a atração entre eles
queima como um incêndio. Mas quando o mestre
de um clã rival declara que Sasha não é apenas
dele - mas a cura - uma guerra de séculos entre
dois clãs de vampiros antigos surge na linha de
frente e uma batalha para reivindicar Sasha
acontece.
Mas eles não a conhecem.
A única pessoa por quem Sasha está
disposta a ser reivindicada - é ela mesma.
Para alguns, a morte não é um fim, mas o começo.
O DRAUGUR

Muito antes de Vlad, o Empalador, havia


Vasile Draugur.
Descendente de um imperador senhor da
guerra, Vasile era uma força nunca antes
testemunhada na história. Mas, apesar de toda
a sua força e poder, seu povo caiu em
dissolução quando a fome, a doença e a guerra
se espalharam por suas terras. Desesperado e
desejoso de provar a si mesmo, Vasile procurou
a ajuda dos Servos de Hekate, a mão direita da
rainha do submundo.
Ele implorou por ajuda, graça e
misericórdia, mas seus gritos caíram em
ouvidos surdos. Seu destino foi selado no
momento em que ele entrou no templo, pedindo
a ajuda de Hekate.
Insatisfeito com a profecia e irritado com as
palavras da sacerdotisa, Vasile matou uma das
sacerdotisas de Hekate, uma jovem inocente
que na verdade era a princesa Avilda, filha do
grande rei Ivar Baetal.
Ele tentou salvar a garota e falhou.
Hekate o amaldiçoou com as palavras: —
Pelo sangue que você roubou esta noite, você
viverá mesmo em morte. — Horrorizado pelas
ações de seu líder, o povo de Vasile se rebelou,
selando-o em uma caverna, sozinho, incapaz de
morrer, e faminto.
Em busca de vingança pela perda de sua
filha, Ivar Baetal devastou o mundo conhecido,
oferecendo sua vida e sua humanidade a uma
bruxa para atingir seus objetivos. Ao ser
capturado por um grande inimigo, Ivar
arrancou a garganta do líder, prometendo
destruir cada um deles. A história de um líder
morto-vivo do inferno se espalhou como fogo
entre os que restaram nos destroços.
Reunindo suas forças, Ivar logo acreditou
nos mitos contados sobre ele, bebendo sangue
todas as noites para continuar liderando seu
exército à vitória e vingando sua filha. Loucura
tomou sua mente e seus próprios oficiais se
voltaram contra ele, recusando-se a beber
sangue como ele. Embora eles tenham
conseguido mergulhar uma faca em seu
coração, Ivar ressuscitou na noite seguinte,
declarando-se um deus e transformando
aqueles que permaneceram leais a ele em
criaturas de sua própria criação - os
Baetal. Ivar jurou encontrar o homem que
matou sua filha e destruir até o último vestígio
dele e de sua linhagem.
Anos depois, um terremoto dizimou a
caverna em que Vasile fora selado, libertando-
o. Esquecido e inseguro do novo mundo ao seu
redor, ele criou outros como ele, destinados a
viver eternamente mesmo em morte.. Logo, seus
números aumentaram e os Draugur nasceram -
poderosos, sábios e entre as mais antigas raças
de vampiros. Desconhecido por Vasile, seu
inimigo ainda andava pela terra, procurando e
caçando-o.

Os Draugur e os Baetal.
Eles não podem ser conhecidos.
Não são vistos.
Eles vivem por uma regra: sua existência
depende de sua própria inexistência.
PRÓLOGO

Seis meses antes


Costa Oeste da Irlanda

O destino de muitos sempre foi decidido por


poucos.
E esse mesmo destino era frequentemente
determinado não em grandes palácios,
tribunais históricos ou propriedades extensas,
mas nas profundezas de porões escuros e sujos
e em campos de batalha mau cheirosos.
Esta noite não foi diferente.
Uma trilha de tochas iluminava o caminho
para as ruínas dentro de Brackloon
Woods. Para o raro viajante que se afastava
demais das trilhas principais, pareceria uma
reunião de gente selvagem das montanhas. Mas
esta noite, a vontade de dois clãs determinou o
futuro de toda uma espécie de vampiros.
Uma única palavra, um único comando
poderia trazer paz... ou guerra.
Apenas a elite dos clãs de Baetal e Draugur
compareceu. Cada mestre estava nas margens
do bosque de Brackloon, um território neutro,
ladeado por seus sargentos e mais uma dúzia
de líderes de facções.
Milo Eskandar, mestre dos Draugur, e Lief
Jederick, mestre dos Baetal, ainda abrigavam
as feridas de seus ancestrais, uma briga de
mais de dois mil anos.
A única razão pela qual eles se reuniram foi
para pedir paz. Uma paz trazida por um inimigo
comum. A Morte.
Homem, sobrenatural ou animal não
poderia superar os vampiros. O inimigo deles
agora era um bem conhecido pelos inferiores
humanos - as doenças.
A morte chegara para os imortais.
Um vírus incurável estava matando suas
raças e dizimando a população de vampiras.
Milo deu um passo à frente, seus longos
cabelos pretos acinzentados amarrados no
pescoço. Flashes da luz do fogo brilhavam como
manchas alaranjadas em seus olhos. — Você
concordou com os termos enviados pelo nosso
emissário?
— Um cessar de violência em todos os
territórios e nenhum ato de retribuição por
queixas anteriores? — Lief respondeu.
— Sim.
Lief passou a mão pela mandíbula. — E
como saberemos que os Draugur se manterão
firmes em suas palavras? — Ele olhou para o
sargento e sobrinho Nikolai Jederick, o mestre
de entrada do Baetal, e sorriu. — Com
ancestrais como o seu, é difícil imaginar
promessas sendo honradas.
Era uma observação destinada a incendiar
os ânimos como um ato aberto de guerra, mas
havia maiores desafios agora.
O filho de Milo, Arsen que era mestre de
entrada, apareceu atrás do pai. — Os
Draugur nunca foram os únicos a voltar atrás
em suas palavras. Não esqueça sua própria
história, Baetal.
— Talvez seja você, Draugur, quem precisa
de uma aula de história, — disse Nikolai.
Milo levantou a mão no ar. — Silêncio.
Os dois vampiros mais novos ficaram frente
a frente, uma raiva densa enchendo o ar entre
eles. Cada um deles tinha apenas menos de
seiscentos anos de idade.
Milo suspirou. — Esta é a nossa terceira
tentativa de alcançar a paz, Lief. O que diz
você?
Lief colocou a mão no ombro de Nikolai e o
afastou vários passos. — Nós concordamos com
seus termos. Nenhum Baetal prejudicará um
Draugur até que este assunto seja resolvido.
Milo assentiu e curvou o dedo, chamando
um escravo humano pertencente aos
Draugur. O jovem, com pouco mais de vinte
anos, ficou no meio dos dois líderes e ergueu
um cálice de ouro adornado ao seu pulso, logo
depois se cortou. O sangue jorrou para dentro
do cálice, escorrendo em grossas gotas
vermelhas. Cada mestre deu um passo à frente
e bebeu do mesmo cálice antes de devolvê-lo ao
escravo.
Lief convocou um segundo escravo do
Baetal. Uma garota pré-adolescente deu um
passo à frente e trouxe com ela outro cálice,
este prateado com pedras de safira circulando a
borda. Arsen ficou horrorizado com sua
juventude. Os Draugur nunca contratariam um
servo humano até atingirem a idade adulta e
realmente entenderem a tarefa que estavam
prestes a realizar.
Ela pegou a mesma lâmina usada pelo
jovem e abriu o braço, deixando uma larga
trilha de sangue escorrer pela pele nua e encher
o copo.
Milo e Lief gesticularam para que Arsen e
Nikolai avançassem e fizessem o que seus
líderes haviam feito antes deles. Sem hesitar,
Arsen bebeu. Entre os vampiros, era um sinal
de respeito e fidelidade compartilhar sangue do
mesmo humano. Quando Arsen terminou,
Nikolai pegou o cálice e bebeu o sangue
restante. Ele levantou a manga da blusa e
limpou os restos do queixo.
— Está feito, — disse Milo.
— Que assim seja. — Lief terminou o
juramento.
Eles apertaram as mãos, falaram algumas
palavras particulares e depois voltaram ao
grupo. Momentos depois, Arsen observou o
mestre Baetal e seu clã deixar a floresta como
sombras se dissolvendo na noite.
— Pai? Posso falar com você?
Milo se afastou dos líderes de sua facção e
guiou Arsen mais para dentro da floresta, os
sons de galhos e folhas quebrados sendo
esmagados sob seus pés. — O que é, meu filho?
— Os Baetal.
— Sim?
— Eu não confio neles para honrar essa
trégua, ou que trazer a paz e a saúde a todos os
vampiros seja uma prioridade. — Arsen passou
a mão tensa pelos cabelos. — Talvez
devêssemos ter procurado Kresova.
— Não, a rainha deles é louca e as queixas
entre eles estão crescendo apenas em
sussurros. — Milo balançou a cabeça. —
Devemos aceitar a palavra deles, mas ficar de
olho neles. — Ele acariciou sua barba. —
Alguma outra coisa está incomodando você?
— Nikolai.
— O que tem ele?
Arsen suspirou. — Não confio em Nikolai
para honrar nada. Não quando chegar a nossa
hora.
— Você e Nikolai serão os novos mestres e
serão responsáveis não apenas pelos seus clãs
imediatos, mas também pelos humanos e várias
facções em seus territórios.
— Não sei se ele defenderá a paz.
— Então, se ele não quiser, você deverá
fazer. Ou todos nós cairemos. — Ele apertou o
braço de Arsen e voltou para os líderes de sua
facção.
Milo estava certo. A paz era necessária para
descobrir a fonte por trás da doença que afligia
seu povo. Afligindo a todos os vampiros.
Mas a paz geralmente tinha um preço.
Guerra.
CAPÍTULO 1

Nos Dias Atuais


Faculdade Estadual de Portland,
Departamento de Genética
00:47

Minhas botas deslizam pelo chão molhado


enquanto corria.
Molhadas, não da água... mas de sangue. O
sangue dos meus dois colegas assassinados.
Poças carmesim escuras quase me fizeram
escorregar, mas me apoiei na beirada do balcão
e continuei me movendo.
Eu não posso cair. Cair seria o equivalente
à morte, porque o assassino deles agora está
me caçando.
As luzes de emergência iluminam o que
resta do laboratório de genética após o ataque
que aconteceu momentos antes de eu chegar.
Meros segundos definiram a linha entre a
vida e a morte. Se eu não tivesse um desejo por
um refrigerante gelado, estaria deitada no chão
ao lado deles, minha garganta rasgada até
quase ser decapitada.
Uma batida do outro lado do laboratório me
fez cair de joelhos. Eu me escondo atrás de uma
estação de trabalho e olho de relance para o
barulho. Há alguém no banco de sangue.
Ele está aqui. O homem que fez isso com
eles.
O perfil do rosto do meu caçador aparece
enquanto ele caminha pela fileira escura. Um
sorriso largo revela uma expressão bonita
escondendo o monstro sinistro por dentro. Se
eu o visse em um bar ou em um clube,
provavelmente sorriria e paqueraria. Sua boa
aparência é a maneira perfeita de desarmar os
melhores instintos de uma mulher.
Ele bate um dedo no sequenciador de DNA
e faz uma pausa. — Coelhinho? Onde você foi?
Merda.
Deslizo em minhas mãos trêmulas e rastejo
para trás, meu destino é a saída de emergência
do outro lado do laboratório. Eu consigo reagir
apenas por pura adrenalina. O modo de
sobrevivência venceu meu terror e me
concentrou na fuga.
Ele continua sua leitura das várias
máquinas do laboratório, suas mãos deslizando
contra cada botão e sob a superfície de uma
maneira sem pressa.
O bastardo doentio está gostando disso.
— Coelhinho, sai, sai.
Prendo a respiração quando a luz azul no
alto revela algo que tem que ser uma
mentira. Um truque da luz. O que estou vendo
não pode ser real.
Seus olhos brilham prateados e ele tem
presas.
Não como as presas de Halloween idiotas
que se vê em uma festa da fraternidade. Não -
essas são presas de verdade, como se ele tivesse
cerrado os dentes ou os tivesse implantado
cirurgicamente.
— Posso sentir seu cheiro, — diz ele,
enquanto um assobio agudo escapa de seus
lábios cobertos de sangue.
O medo torce meu estômago. Ele pensa
que é um vampiro. Ele realmente pensa que é
um vampiro... o suficiente para lixar seus
próprios dentes. Jesus. Ele realmente mordeu
meus colegas?
Pisco rapidamente, processando o que
estou vendo.
— Mmm... Posso ouvir seu coração. — Ele
lambe os lábios em um círculo lento. — Ouço
ele batendo com medo. Seu medo de mim.
Meu corpo inteiro treme. Aperto as palmas
das mãos cobertas de suor sobre a boca para
me silenciar e parar o tremor violento.
Respire, Sasha. Porra, respire.
Se não me acalmar, vou desmaiar.
— Eu gosto deste jogo, coelhinho.
Tenho que sair daqui. Minha única chance
é o balcão de emergência da segurança no final
do corredor. E se eles estiverem em
patrulha? Meu coração bate como mil cascos
em uma pista de corrida enquanto olho a
distância até a porta que sai do laboratório.
Posso fazer isso? Eu dou as costas para ele
e corro? Posso fugir dele?
Cada segundo tira a minha opção de
escolha. À minha esquerda, pego um pequeno
bisturi cirúrgico de uma bandeja caída e
agarro-o com as duas mãos enquanto me
levanto.
Uma chance. É tudo o que tenho.
Ele vira a cabeça, seus olhos encontrando
os meus quando me revelo. Eu mal pisco antes
de disparar em direção à porta. Ele ri,
inclinando a cabeça para trás enquanto faz
isso, mas não paro de correr. Não há tempo
para refletir sobre sua forma de loucura.
Abro as portas do laboratório e corro pelo
corredor. Os alarmes soam no alto. O ar em
meus pulmões queima como golpes de fogo e eu
grito tão alto que minha voz se quebra. —
Segurança! Socorro! Por favor!
Dobro a esquina e paro.
Um segurança está meio fora da cadeira, a
garganta é uma bagunça sangrenta. Outro está
esparramado perto das portas da frente. A
cabeça dele está em um ângulo não natural.
— Oh, meu Deus. — Volto a correr pela
minha vida. Olho atrás de mim para o corredor
e vejo o homem me observando, a cabeça
inclinada para o lado, como se estivesse
estudando uma pintura modernista e não uma
mulher aterrorizada.
O santuário fica a apenas dez metros de
mim agora.
Força, caramba, Sasha.
Seis.
Respire.
Dois.
Se mova.
Um.
Não pare.
Minhas pontas dos dedos roçam a alça de
latão, mas é um pouco tarde demais.
Ele está comigo, suas mãos segurando
meus ombros com força suficiente para
machucar. Seu impulso nos envia voando para
o chão de lado.
Meu queixo bate no azulejo duro com um
baque e o ar sai de mim. Seu peso está me
esmagando, e minha visão embaça. Eu não
posso me mover com seu corpo maior em cima
de mim, então respiro o que posso e grito por
ajuda.
— Alguém! Por favor! Ajude-me!
Seus dedos emaranham em meus cabelos e
ele puxa minha cabeça para trás antes de batê-
la contra o chão. — Pare de se mover, — ele
rosna, e eu fico imóvel, piscando lentamente,
atordoada e certa de que vou morrer.
Eu não quero morrer
Não fiz nada para merecer isso. Ninguém
aqui fez. O pânico esmaga minha traqueia e
abro a boca para gritar novamente, mas
nenhum som escapa.
Meu atacante me vira e estou cara a cara
com seus olhos prateados mais uma vez. Seus
traços agora estão distorcidos e embaçados,
mas vejo as presas afiadas descendo de sua
boca. Ele já está no meu pescoço e há uma dor
aguda.
Não consigo me mexer.
É como se estivesse paralisada,
completamente à sua mercê e
desamparada. Peço a mim mesma que desperte
desse pesadelo horrível. Tem que ser um
pesadelo, porque essa não pode ser minha
realidade.
As palavras do professor de sociologia do
meu primeiro ano soam mais verdadeiras do
que nunca. Morte. Vem para todos, quer
procuremos ou não.
E a última coisa que vejo antes de minha
visão escurecer é um sorriso em seu rosto
aterrorizante.
CAPÍTULO 2

Meu corpo inteiro palpita.


Cada músculo está dolorosamente tenso e
meu rosto dói como se eu tivesse lutado
algumas rodadas no ringue com um boxeador
profissional. Minha cabeça está tão sensível que
lateja como se meu cérebro tivesse inchado
duas vezes o tamanho normal e estivesse
pressionando para se libertar do meu
crânio. Que diabos? O que eu fiz ontem à noite?
Algemas de metal tilintam quando estendo
a mão para limpar o sono dos meus olhos e
meu braço para no ar.
O pânico me atinge como um trem de carga
quando flashes da noite passada me assaltam.
Um homem estava no branco de sangue do
laboratório do campus. Havia algo estranho nele,
e não pude fugir.
Eu mantenho minha respiração lenta e
relaxada. Se ele me acorrentou em algum
porão, talvez não tenha me visto acordar. Talvez
possa fingir que ainda estou dormindo. Escuto
com atenção por alguns minutos. Está
quieto. Mortalmente silencioso. Apenas o som
suave do que acho que é uma unidade de ar
central cumprimenta meus ouvidos. Acho que
estou sozinha. Jesus, espero estar sozinha.
Eu abro um olho o mínimo que posso,
avaliando meu ambiente.
Paredes brancas austeras. Uma cadeira no
canto e um quadro branco na parede com "Olá,
eu sou Gretchen e serei sua enfermeira essa
noite", escrito nele. Tenho uma intravenosa no
meu braço e ataduras no meu pulso. Espero
que o resto de mim não pareça assim, ou vão
me chamar de múmia.
Abro os meus olhos e tenho uma visão
completa de um quarto de hospital, com uma
comadre na mesa de cabeceira, cobertores finos
e brancos me cobrindo e a visão da ventilação
no teto de outra ala. Olho para a minha
mão. Estou algemada na cama.
— Que diabos? — Eu murmuro baixinho.
— É apenas uma precaução, — responde
uma voz familiar, e me encolho de volta no
colchão em surpresa.
— Jackson? — Meu amigo de infância,
colega de genética e policial do departamento de
polícia de Portland, encosta na porta que leva
ao meu quarto. — O que aconteceu? — Seus
olhos são de um castanho dourado, cálidos e
calmos, enquanto me olha. Pena que seu
uniforme apaga qualquer bom sentimento que
seu comportamento calmo traz.
— Eu fui um dos primeiros em cena. — Ele
se afasta do batente da porta e se aproxima da
cama, seus ombros largos preenchendo minha
visão. Ele pega minha mão, apertando-a. —
Você se lembra do que aconteceu com você
ontem à noite?
Aperto seus dedos ásperos com os meus e
descanso minha testa na mão livre, esperando
esfregar as teias de aranha na minha mente. —
Alguém atacou o laboratório no campus.
— Estou tão feliz que você esteja
bem. Lembra de mais alguma coisa? — Ele olha
para os monitores apitando ao meu redor e
balança a cabeça.
— Tentei fugir dele, mas ele me pegou. —
Olho para a algema prateada em volta do meu
pulso. — Jackson, por que estou algemada? Eu
que fui atacada.
— Você estava inconsciente quando cheguei
lá. Ninguém mais sobreviveu ao ataque, e não
conseguimos encontrar um intruso. — Seu tom
é ameaçador.
Minha boca forma um O perfeito em
surpresa. — Você acha que foi eu que
atacou? Que ataquei todo mundo e depois a
mim mesma? — Solto um suspiro. — Jackson,
há quanto tempo você me conhece? Eu nunca
machuquei ninguém na minha vida.
— Eu te conheço, mas os outros não. Não
como eu. Como disse, as algemas são apenas
um procedimento padrão. Até que tenha uma
declaração sua, preciso mantê-las, ok? — Ele
puxa a cadeira do canto para o lado da cama e
se senta, abrindo um pequeno caderno preto. —
Estou aqui para tomar sua declaração
oficial. Pensei que seria mais fácil para você
falar sobre isso com um rosto familiar. — Ele
me dá seu sorriso mais charmoso, e sorrio de
volta para ele suavemente.
— Você quer dizer que sua careta feia
deveria me animar? — Ele revira os olhos para
mim, acenando para eu começar a falar. Não sei
por onde começar. Todas as minhas memórias
são confusas. Como um quebra-cabeça que
deveria montar, mas todas as peças estão em
branco ou faltam imagens. Eu mordo o interior
da minha bochecha para conter lágrimas de
frustração ou medo, ou talvez um pouco dos
dois.
— Que tal você me dizer que horas eram
quando você esteve no laboratório? — Ele estica
a mão e dá um tapinha na minha mão
encorajadoramente antes de se recostar, sua
caneta posicionada sobre o caderno.
Observo minha mão no meu colo. —
Hum... acho que já passava da meia-noite? Já
era tarde, eu sei disso. Estava fazendo trabalho
extra, todos nós estávamos. Estava quase
terminando. Apenas alguns de nós foram
deixados no laboratório.
— E depois?
— Eu... — Eu balanço minha cabeça
novamente. — Eu sinto muito.
— Está tudo bem. — Jackson ajusta sua
postura, suavizando sua aparência oficial. —
Apenas respire por um minuto e podemos levar
as coisas devagar. — Ele pega o pequeno copo
de água na bandeja de cabeceira e entrega para
mim. Tomo um gole e coloco na bandeja.
— Fui buscar uma bebida e, quando voltei,
o técnico e o assistente do laboratório estavam
caídos no chão. — As palavras engasgam na
minha garganta quando a memória me atinge.
Estavam mortos e, em seguida, a próxima coisa
que soube era que alguém estava no banco de
sangue.
— Você não viu a pessoa entrar no
laboratório? — Jackson levanta uma
sobrancelha. — Sasha, nós conversamos sobre
isso. Você tem que estar mais consciente do seu
entorno. Você é uma garota bonita...
Eu resmungo com suas palavras. — Eu sei,
eu sei. Era tarde e conhecia todo mundo lá,
então não estava prestando atenção. Por isso
fiquei tão surpresa. Em um minuto, estava
tomando um refrigerante, e no outro alguém
estava andando no estoque, pegando as bolsas
de sangue. — Eu respirei fundo. — Você sabe
que não pode entrar lá sem o cartão de acesso
do laboratório. E ele não quebrou nada para
entrar. Eu teria notado cacos de vidro quando
voltei. Ele apareceu de repente lá dentro.
— Você estava coberta de sangue quando a
encontramos. Você não fez nada louco e tentou
tirar as bolsas de sangue dele, fez? — Jackson
rabisca uma nota em seu caderno e fico tentada
a espiar e ver o que ele está
escrevendo. Provavelmente algo do tipo: Parece
loucura. Deveria ser internada. Lembrar de
trazer um bom material de leitura para ela
quando a visitar.
— Não, quando eu o vi, vi o que ele havia
feito, corri. Eu tentei fugir, mas ele me seguiu.
— Esfrego minha cabeça enquanto os detalhes
se misturam. — Ele parecia louco, então peguei
um bisturi e tentei me mover em direção à
saída para pedir ajuda da segurança. — Eu
gesticulo para mim mesma. — Algo sobre mim
diz que posso enfrentar um ladrão do tamanho
de um jogador de defesa?
Jackson ri. — Não, você é pequena. No
entanto, a adrenalina faz coisas engraçadas
com as pessoas. Então, ele era alto?
— Sim, alto, cabelos claros, acho. Você sabe
como as luzes do laboratório têm uma
tonalidade azulada que faz as cores parecem
mais escuras. Só não tenho certeza.
— O que mais?
Giro a pulseira do hospital no meu pulso,
lutando para me lembrar de todos os detalhes.
— O que mais você precisa saber?
— O que aconteceu depois?
— Lembro-me de fugir dele e gritar pela
segurança e depois acho que ele me agarrou. —
Toco meu ombro, estremecendo quando
encontro um ponto sensível. — Depois disso,
não me lembro de nada. Eu acordei aqui. —
Dou de ombros, fingindo que não estou muito
preocupada com a minha perda de memória. É
uma sensação desagradável, como se estivesse
coberta de óleo e não pudesse ficar limpa.
— Você pode descrever mais o atacante?
— Você não tem reconhecimento facial para
esse tipo de coisa? — Olho-o atentamente
enquanto ele franze a testa para mim. —
Jackson. Não me engane. Você acha que fiz
isso? — Eu pergunto de novo. Se os policiais
pensam que sou culpada, provavelmente vou
precisar de um advogado ou algo assim. Ou isso
os fará pensar que sou culpada? Preciso parar
de assistir programas de crime.
— Eu só estou tentando entender o que
aconteceu, para que possa pegar o bastardo
que fez isso com você, — responde Jackson, seu
tom severo.
Ele não confirmou ou negou minha
pergunta. Que porra é essa. — Que tal você
pegar as imagens da câmera do balcão de
segurança e assistir por si mesmo? Deve ser
mais precisa do que minha memória no
momento. — Idiota. Não digo a última parte em
voz alta, mas tenho certeza que meu tom disse
isso por mim. Jackson é geralmente tão
equilibrado. Não é comum dele gritar
comigo. Eu só o vi zangado algumas vezes nos
anos em que nos conhecemos, e em cada vez
estava defendendo outra pessoa.
Jackson bate a caneta no caderno e sorri
tensamente para mim. Está bem então. Ser
teimoso. Responder às perguntas oficiais da
polícia e não fazer minhas próprias perguntas.
Mais fácil falar do que fazer.
Repito o que disse anteriormente. — Ele era
alto, tinha cabelos loiros... — Forço meu
cérebro por outros pequenos detalhes que posso
lhe dar. — Oh! Ele tinha olhos prateados.
Jackson se inclina para frente. — Algo
mais?
— Desculpe, estava um pouco ocupada
correndo pela minha vida, — digo frustrada.
Jackson levanta uma sobrancelha, mas
permanece calmo, e passo a mão pelo meu
rosto.
— Eu sinto muito. Não tive a intenção de
atacar você.
— Eu sei. Entendo que é difícil e todo
mundo reage ao estresse de maneira diferente.
— Ele coça o queixo barbado. — Estou
estressado também. Estou bravo por não ter
podido me encontrar com você ontem à noite
para estudar porque tinha que estar de serviço.
Estresse. Sim, é isso. Estou estressada
também. Mais como se estivesse
apavorada. Não posso contar a ele a última
parte. Ele nunca me deixaria ir a nenhum outro
lugar sozinha novamente. Ele é como um irmão
mais velho superprotetor. Com um distintivo. —
Não é sua culpa, Jackson. Você sabe
disso. Você tem que trabalhar para pagar as
contas.
A última parte que lembro está cutucando
minha memória com uma vara afiada. Seus
dentes, Sasha. Seus malditos dentes.
Eu empurro a memória de volta. Tem que
ser algo que estava alucinando. — Ele deve ter
me nocauteado antes de sair. Realmente não
consigo me lembrar de mais nada.
— Você tem sorte de estar viva. Suas outras
vítimas terão que ser identificadas por registros
dentários. — A boca de Jackson forma uma
linha sombria e eu aperto os lençóis nas
minhas mãos. Se ele espera me assustar ainda
mais, está conseguindo.
— Entendi. Ser cuidadosa. Carregar o
spray.
A enfermeira entra e sou grata pela
invasão. Ela se apresenta enquanto verifica
todos os monitores em que estou conectada. Ela
ri e toma notas, impedindo-me de responder à
declaração de Jackson sobre os outros. —
Como você se sente, boneca? — Ela passa a
palma da mão na minha testa e suas mãos
macias me trazem um momento de conforto que
não sabia que precisava.
— Como se tivesse sido atropelada por uma
carreta. E então aquele caminhão deu ré e me
bateu de novo.
— Você está bem machucada. Você tem
hematomas bem coloridos no abdômen e o
médico estava preocupado com uma
concussão. Alguma visão embaçada ou
dificuldade para lembrar das coisas? — Ela
segura minha mão na dela e aperta meus dedos
suavemente.
— Sim, eu não me lembro muito da noite
passada. — Eu bufo e gesticulo para Jackson.
— Eu dei a ele todos os detalhes que conseguia
lembrar antes de ficar tudo em branco.
— Tudo bem. Isso pode voltar, ou pode não
voltar. O cérebro lida com o trauma da melhor
maneira que consegue. Às vezes é escondendo
isso. — Ela sorri suavemente para mim e
gentilmente aperta meu ombro. — Você precisa
usar o banheiro? Precisa de ajuda?
— Eu acho que consigo. Tenho que manter
essa coisa em mim? — Aponto para a
intravenosa na minha mão.
— Por enquanto, mantenha assim. Sei que
não facilita a movimentação, mas ajudará
você. Vou pegar umas calças de moletom e uma
camiseta para que você possa se trocar com
algo diferente desse vestido. Volto logo. — Eu a
observo sair do quarto, desejando que volte e
me diga que tudo vai ficar bem. Eu nunca tive
uma figura materna, e meus pais adotivos só
apareciam para receber um cheque ou eram
apenas focados nas crianças mais novas.
— Você pode me soltar para que possa usar
o banheiro? — Eu mexo a algema, fazendo o
metal tinir.
— Sim, aqui. — Jackson tira a chave de um
dos bolsos do cinto e, com dois cliques, a
algema cai.
— Obrigada, — eu digo enquanto tiro as
cobertas e esfrego o meu pulso.
— O que aconteceu com 'inocente até que
se prove o contrário'? — Eu pergunto,
balançando as pernas ao lado da cama,
deixando escapar um assobio de dor com o
movimento.
— Espere, deixe-me ajudar. — Jackson
caminha para frente, mas eu levanto a mão.
— Eu consigo. — Uso o pequeno suporte ao
lado da cama como alavanca para me colocar
em pé. Sinto dor quando estico meu torso
demais e estremeço. Minhas costelas queimam
como se estivessem pegando fogo. Afasto o
vestido e olho as contusões no meu
quadril. Jesus Cristo. Esse cara realmente me
pegou.
Você tem sorte de estar viva. As palavras de
Jackson repetem em minha mente e eu tremo.
— Você não é considerada culpada,
Sasha. Mas as circunstâncias deixam muitas
coisas incertas. — Ele fecha o caderno e depois
acrescenta: — E há famílias que precisam de
respostas.
Como se não me sentisse péssima o
suficiente, agora a culpa de ser a única
sobrevivente recai no meu estômago, me
deixando enjoada.
Vou para a porta do banheiro, andando
devagar, com um braço em volta das minhas
costelas para que possa respirar sem desmaiar,
arrastando o estúpido suporte intravenoso
comigo. — Vou fechar a porta atrás de mim
para um pouco de privacidade. Isso é
permitido?
— Por que não seria? — Pergunta Jackson.
— Não sei, só estou sendo espertinha. Dei a
você minha declaração e não sei por que você
ainda está aqui. — Ah, e você acha que eu matei
todas aquelas pessoas com minhas próprias
mãos.
— Estou aqui para mantê-la segura. Eu
solicitei esse caso. Ainda não sabemos quem fez
isso, por isso estamos sendo cautelosos.
Sim, tudo por cautela. Me abstenho de
revirar os olhos. Arrogante, o estilo irmão mais
velho está cada vez mais forte nele. Fecho a
porta atrás de mim e encaro meu reflexo no
espelho.
Meu rosto está inchado e machucado, e
meu olho é um lindo tom de roxo. Eu tenho um
curativo de um lado do meu pescoço, marcas
vermelhas irritadas no outro. Porra. Como
diabos não estou morta agora? Eu tremo, com
medo de esfriar meu corpo por causa do ar que
sopra das aberturas de ventilação.
A enfermeira bate na porta e a abro,
agradecendo a troca de roupas. Giro a
fechadura atrás dela e rapidamente me dispo,
fazendo um esforço para ignorar a garota
espancada no espelho. As calças são largas e a
camisa quase chega aos meus joelhos, mas é
quente e não é um vestido hospitalar frágil. Eu
não posso reclamar.
As luzes se apagam e gritos de choque e
confusão chegam aos meus ouvidos através da
porta grossa.
— Sasha, você está bem aí? — Jackson
grita.
— Estou bem. Eu simplesmente não
consigo ver nada.
— Alguém deve ter atingido um poste
telefônico ou algo assim. As luzes de
emergência devem ligar em um segundo. Fique
parada, eu já volto.
Momentos depois, luzes fracas se acendem
e eu vejo o suficiente na minha frente para
destrancar a porta e abri-la. O corredor está
iluminado em vermelho pelos sinais de saída. A
cor pinta uma névoa sombria sobre a sala, e
cerro os punhos para me manter calma. A
energia voltará a funcionar em breve. Nada para
se preocupar.
Examino o corredor através das paredes de
vidro do meu quarto e encaro enquanto uma
grande figura se aproxima. Eu dou um suspiro
de alívio. É apenas Jackson.
— Ei, eles disseram quanto tempo vai
demorar até a energ...
Minha mão voa para minha garganta em
choque quando as palavras morrem na minha
garganta.
O homem na minha frente não é Jackson.
CAPÍTULO 3

As luzes voltam a piscar.


O homem está em um terno alinhado de
três peças, sem nenhuma costura ou linha fora
do lugar. Ele é alto e forte, mas nada
exagerado. Seus olhos azuis escuros se
prendem aos meus e algo dentro de mim reage
a ele em um nível primitivo. Sua mandíbula é
marcada, o nariz meio torto e há uma cicatriz
no correio cabeludo, a marca apenas
parcialmente escondida por seus cabelos
castanhos lisos e escuros. Ele é robusto e
refinado ao mesmo tempo, e tenho certeza que
ele é a razão pela qual a energia caiu em
primeiro lugar.
— Qu-quem é você? — Eu pergunto, indo
para trás, a mão na minha frente como se
pudesse afastá-lo.
Ele estende a mão para um aperto e sorri
amplamente para mim. — Arsen. Arsen
Eskandar, ao seu dispor. — Nome apropriado
para um homem que provavelmente põe fogo
nas calcinhas com um olhar. Ele pisca para
mim como se soubesse exatamente o que estou
pensando. — Estou aqui para ajudá-la.
— Me ajudar? Você nem me conhece. —
Dou um passo para trás, colocando a cama
entre nós e olhando por cima do ombro
dele. Para onde diabos Jackson foi?
— Sei mais do que você pensa. — Ele
inclina a cabeça, me encarando e fico tensa,
tentando não mexer sob seu olhar intenso. —
Eu sei que você foi atacada ontem à noite.
— É mesmo? — Eu digo, com raiva de que
algum estranho esteja no meu quarto alegando
saber sobre o meu ataque de ontem à noite. Um
estranho deslumbrante, o tipo de homem que
vira cabeças e domina uma sala no momento
em que entra.
— Ei, quem é você? — Jackson abre
caminho por Arsen e se planta na minha frente.
— Sasha, você está bem?
— Sim, estou bem. Ele acabou de chegar. O
nome dele é Arsen Esk... alguma coisa.
— Eskandar. Arsen Eskandar. E estou aqui
para proteger Sasha. — Arsen estende a mão
para Jackson, e Jackson a observa antes de dar
uma rápida sacudida e dar um passo para trás.
— Protegê-la? — Jackson olha por cima do
ombro. — Você conhece esse cara?
— Nunca o vi antes na minha vida. — Algo
me diz que ele não vai me machucar. Não sei
como sei disso. Talvez instinto... a única coisa
que a ciência não pode explicar?
Jackson solicita auxílio pelo rádio e eles
respondem que estão a caminho. — Ok, amigo,
é hora de você sair.
— Eu tenho respostas para todas as
perguntas que estão em sua cabeça agora. — O
tom suave de Arsen me cativa, e observo seus
adoráveis olhos cor safira, a calma caindo sobre
mim.
Coloco a mão no braço de Jackson. — Nós
dois queremos algumas respostas. — Eu aceno
para Arsen. — Vá em frente, me diga o que
realmente aconteceu ontem à noite.
— E como diabos você sabe sobre isso, —
acrescenta Jackson, uma mão apoiada na arma
no quadril.
Arsen olha fixamente para Jackson e,
enquanto observo, Jackson relaxa sua postura,
sua mão não está mais na pistola no cinto. —
Acho que você ia apenas dizer ao seu parceiro
que está tudo bem aqui. Você não ia, Jackson?
Jackson assente, com o rosto calmo. Mas o
que...
Jackson sai, me ignorando enquanto grito
atrás dele.
— Jackson, não me deixe aqui com esse
cara. Ei! — Me viro para Arsen. — Que diabos
você fez com ele?
— Apenas sugeri que ele fosse falar com
seu parceiro. —Ele encolhe os ombros como se
não se importasse com o mundo. Como se não
tivesse usado um truque Jedi em um policial.
Estreito meus olhos para ele. — Não, você
fez outra coisa. Não sou burra. Não me trate
como se fosse.
— Eu nunca faria isso. — Ele sorri para
mim, sua voz como cascalho coberto de mel,
suave e áspera ao mesmo tempo. Meu interior
se revolta com a atenção dele. Obviamente, faz
muito tempo desde que transei.
— Você está pronta para ir? — O homem
misterioso me pergunta. Olho-o novamente,
desta vez com mais cautela agora que estou
sozinha com ele.
— Ir para onde exatamente? — Eu planto
minhas mãos nos meus quadris. — Eu não te
conheço. Você acabou de fazer algo com meu
amigo e afirma ter respostas para mim. Como
posso confiar em você?
Ele suspira e aperta as mãos na frente dele.
— O homem da noite passada mordeu seu
pescoço, certo?
Eu toco no curativo. — Como você sabia
disso?
— Fui eu quem roubou as fitas do balcão de
segurança.
— Você esteve lá ontem à noite? Por que
você não o parou? Ou me ajudou? — As
palavras saem da minha boca rapidamente e eu
me afasto dele novamente.
— Eu estava na trilha dele ontem à noite e,
quando vi o massacre, sabia que as autoridades
humanas nunca entenderiam. Peguei as fitas
para proteger meu povo. — Ele faz uma pausa.
— Nosso povo.
— Nosso povo? Quem diabos é você? CIA ou
algo assim?
Ele ri. — Eu não estou com o governo. E
sim, nosso povo. Você faz parte dele agora.
— Uma parte do que exatamente? — Eu
levanto uma sobrancelha, esperando que a
atitude esconda meu terror. Minhas pernas
tremem.
— Eu não posso te dizer a menos que você
venha comigo.
— Ir com você? Onde? Por quê? Quem é
você exatamente? — Perguntas giram na minha
cabeça como um carrossel em super velocidade
e eu me inclino contra a cama, tonta.
— Eu não vou te machucar, Sasha. Nunca
faria isso. A escolha é sua. Venha comigo e
obtenha respostas, ou fique aqui, confusa e
imaginando.
A escolha é minha. Muitas coisas não foram
a minha escolha nas últimas vinte e quatro
horas. Ser atacada. Minha faculdade sendo
atacada. Terminar no hospital algemada à
cama. Não é realmente uma escolha. Eu tenho
que saber o que aconteceu. Ou vou enlouquecer
especulando.
— OK. Eu irei com você. Apenas me diga
aonde vamos primeiro.
— Eu só estava indo te dar uma carona
para casa por enquanto. Podemos conversar no
caminho até lá e então você pode ter algum
tempo para processar tudo. —
— É só isso?
— Bem, os detalhes do que vou lhe contar
são um pouco mais complicados, mas sim, é
isso.
— Ok, vá na frente. — Eu ando em volta da
cama, mas mantenho distância dele. A fé cega é
para pessoas que acreditam em religião. Eu
acredito em ciência e fatos. Coisas que posso
ver, tocar e sentir por mim mesma.
Ele me acompanha para fora do hospital
com seu carro já à espera. Um homem de
óculos escuros, terno preto e luvas pretas abre
a porta e Arsen me conduz para dentro. Se
tivesse que apostar dinheiro, apostaria que seu
guarda-costas / motorista / grandalhão se
chama Knuckles ou algo igualmente durão. Ou
Tiny. Os grandes sempre têm os nomes mais
estranhos. Ele fecha a porta e fica ao
volante. Não consigo vê-lo através do vidro
escuro da divisória mas o sinto.
Volto minha atenção para Arsen. — Comece
a falar.
— Você e eu temos interesses semelhantes,
— diz ele.
— Interesses? Você também gosta de DNA e
ciência? — Minhas palavras cheias de
sarcasmo. Não é a resposta mais apropriada,
mas é a única defesa que tenho no momento. —
Estou confusa. Você acabou de me tirar do
hospital, mas nunca te vi na vida. Eu
provavelmente me lembraria disso, e você disse
que tem respostas para mim. — Eu suspiro e
ofereço a ele um sorriso. — Não quero ser
ingrata, mas tive minha quota de loucura para
pelo menos duas vidas nas últimas vinte e
quatro horas... então estou com a paciência um
pouco curta. Espero que entenda.
— Você é quem não entende. Isso é urgente
e não tenho tempo para facilitar para você
nisso.
— Facilitar para mim? O que é isso? — Eu
aceno uma mão. — Explique para mim. Em
detalhes. Por favor.
Arsen passa a mão pelos cabelos grossos
antes de endireitar os ombros. — Os vampiros
existem e um doente a atacou na noite passada.
Recosto-me com força no assento de couro.
— Você é completamente louco. Você sabia
disso? — Balanço a cabeça. Arsen pode ser
muito sexy, mas ele é louco. Vampiros são
reais? E um doente me atacou ontem à
noite. Sim, porque todo mundo sabe que
vampiros imortais podem pegar um resfriado
comum.
— Eu não sou louco. Estou te dizendo a
verdade. — Arsen se inclina para frente, seus
fortes antebraços apoiados nos joelhos. — Eu
nunca mentiria para você.
Eu franzo a testa, tentando entender. Algo
incomoda minha memória desde a noite
passada, mas simplesmente não se solta. —
Vamos dizer por um segundo que acredito que
os vampiros são reais. E isso é um grande
se... Eu pensei que eles fossem imortais e não
pudessem ficar doentes.
— Nós somos imortais. E a doença humana
não tem efeito sobre nós.
Eu levanto um dedo. — Você acabou de
dizer 'nós'. Você está me dizendo que é um
vampiro? Está em plena luz do dia. Como você
não está pegando fogo ou brilhando como uma
bola de discoteca?
— Odeio esses filmes por isso. — Ele
resmunga as palavras baixinho e eu mordo o
interior da minha bochecha para não rir. — A
luz do sol não nos afeta. E sim, sou um
vampiro.
— Prove. Vamos ver você vampirar.
— Eu não quero te assustar. Ou
sobrecarregar você.
Eu zombo. — Tarde demais, amigo. É
melhor você me mostrar alguma prova, e
rápido, ou vou pular fora deste carro no
próximo sinal vermelho.
Arsen rosna, e então diante dos meus
olhos, abre bem a boca, mostrando presas
brancas peroladas, a centímetros do meu rosto.
— Puta merda. — Não podem ser reais. É
um truque. Uma ilusão. Eu levanto minha mão,
olhando seriamente, e pressiono um dedo no
dente alongado. Está firme. E não estava lá
antes. Eu teria visto quando ele lançou seu
sorriso encantador para mim. — Não parecem
ser falsos.
Arsen flexiona sua mandíbula e as presas
se retraem. — Isso é porque não são falsos. Eles
são reais. Em breve, você também os terá.
— Eu? Eu vou ter isso? — Eu alcanço
minha boca, cutucando meus dentes. Ainda de
tamanho normal. Tem um que é pouco torto,
mas nada extra afiado ou pontudo.
— O homem que te atacou ontem à noite
mordeu seu pescoço. E então ele lhe deu um
pouco do sangue dele. Eu tenho as fitas para
provar isso.
Agh. Tão nojento. — Ele me deu seu
sangue? Por quê? Na verdade, espere, apenas
me mostre a prova, — eu exijo.
— Eu não as tenho aqui no carro. Mas
certamente posso lhe mostrar em outra hora. É
assim que você garante a mudança de humano
para vampiro. Primeiro, nós nos alimentamos,
depois pegamos seu sangue misturado com o
nosso sangue de vampiro e devolvemos para
você. — Ele acena com a mão. — Isso não é
importante agora. O importante é que você vai
mudar. E você precisará de ajuda para se
ajustar. — Ele estremece e coça a barba. — Ele
também era um dos vampiros afetados por um
vírus.
— Um vírus que afeta vampiros? E quem
me mordeu tinha isso? — Claro que ele tinha.
— Eu vou ficar doente também? — Como você
cria um vírus que prejudica criaturas
imortais? Eu mantenho essa pergunta para
mim, para pensar mais tarde, mas claramente,
alguém conseguiu isso para os vampiros em
Portland.
— Eu não sei. Ainda não conseguimos
encontrar uma cura para o vírus até agora. —
O carro para e Arsen agarra minha mão, seu
aperto firme, mas suave. — Você pode nos
ajudar a encontrar uma cura para isso. Por
favor. Minha irmã está doente.
A simpatia aquece meu peito e peso as
opções em minha mente. Isso é loucura
completa. Mas se o que ele diz é verdade, talvez
eu possa estudar o sangue deles. Descobrir sua
genética. Seria inovador. Até faria história. Se
eu estiver doente do vampiro que me mordeu,
também precisarei da cura. Mas e o meu
futuro? Meus estudos? Como essa mudança me
afetará? — Eu preciso que você me prove. Não
acredito em coisas que não consigo ver.
Arsen assente e solta minha mão. — Eu
posso provar. Posso lhe dar acesso a todos os
vampiros que estão doentes em nosso clã. —
Ele me interrompe antes que eu possa contestar
e continua. — Não sabemos ao certo de onde
vem ou como se espalha, mas os vampiros
estão perdendo todo o controle. Há uma sede de
sangue incontrolável. Mais do que o
habitual. Os infectados tornam-se violentos,
erráticos e selvagens. — O pomo de adão dele
balança na garganta antes que ele solte um
suspiro pesado. — Nossos médicos não
conseguem descobrir. Mas eles não têm o
treinamento que você tem com toda a coisa
científica nova.
Eu rio. Coisa científica. Sim, é isso. Tão
simples. — E se eu não encontrar uma cura? O
que acontece comigo então?
— Nada, você ainda seria uma vampira e eu
gostaria de recebê-la em nosso clã.
— Seu clã? O cara que me atacou é
membro do seu clã?
— Não. Ele é o chefe do outro clã em
Portland. Os Baetal. Sou o chefe do clã
Draugur.
Esfrego a cabeça, processando todas essas
informações o mais rápido
possível. Certo. Claro. Dois clãs na cidade. Faz
sentido, porque nada pode ser simples. — Isso é
uma loucura.
— Por quê? Eu lhe mostrei provas.
Sim, ele mostrou. — A ciência diz que você
não deveria existir. Que os vampiros são apenas
um mito inventado para assustar crianças
pequenas.
— Todo mito é baseado em um tipo de
verdade, certo? — O canto da boca dele se
transforma em um meio sorriso e eu
suspiro. Ele me pegou nesta.
— Eu preciso de algum tempo para
processar isso. Sozinha.
— Compreendo. — Arsen abre a porta do
carro e eu saio atrás dele. Estamos na frente do
meu prédio.
— Eu nem vou perguntar como você sabe
onde moro.
— Carteira de motorista. — Ele encolhe os
ombros.
— Certo. — Eu ando em direção aos
degraus que levam à porta principal do meu
prédio, mas Arsen segura minha mão, um
cartão grosso deslizando de sua mão para a
minha.
— Aqui estão minhas informações de
contato. E meu endereço. Quando estiver
pronta, me avise. — Eu olho o cartão em
minhas mãos e ele recua. — Vejo você em
breve.
Observo quando ele volta para o carro que
está esperando e se afasta. Ele disse quando eu
estiver pronta para avisá-lo.
Mas e se nunca estiver pronta para ser
vampira? E então?
CAPÍTULO 4

Menos de quarenta e oito horas após o meu


ataque, estou de volta ao campus, criando
coragem para entrar no laboratório de
genética. Pego a maçaneta da porta pela
terceira vez, minha mão tremendo tanto que
não consigo segurar a porta do saguão com
força suficiente para abri-la. Vamos, Sasha,
você pode fazer isso. Eles limparam o
campus. Eles avisariam se alguém ainda
estivesse lá para te pegar. Logicamente sei
disso. Ilogicamente, há um vampiro envolvido,
um doente. Minha crença de que a polícia pode
pegar esse cara é algo entre zero e nunca vai
acontecer.
Alguém bate no meu ombro, me tirando dos
meus pensamentos, e pede desculpas enquanto
mantém a porta aberta para mim. Eu nem
sequer olho para ele, apenas murmuro um
agradecimento entro indo para a direita perto
da área de espera do edifício de ciências. Me
balanço nos calcanhares, respirando fundo
para me acalmar e não sair gritando. Não vou
deixar o bastardo vencer. Eu simplesmente não
vou.
Eu examino a sala. Tudo está no seu lugar
habitual. As cadeiras que foram derrubadas no
balcão de segurança estão atualmente
ocupadas por outros dois guardas. A fita
amarela que decorava a mesa não está mais
lá. O vidro não está espalhado pelo chão, nem
poças de sangue e corpos mutilados. Está tão
limpo que consigo ver meu reflexo na superfície
da mesa de check-in. Não há evidências de que
várias pessoas tenham perdido a vida há duas
noites. Não há evidências de nenhum
ataque. Do meu ataque.
Metade de mim está feliz por não haver
nenhum vestígio. Não consigo tirar essas
imagens da cabeça, e um lembrete desses pode
apenas piorar as lembranças que tenho. A
outra metade de mim fica furiosa com o
pensamento de que algo tão trágico foi apagado
facilmente. E as outras vítimas? Não há
memorial, nem flores ou fotos em lugar
algum. Eu esperava mais dos meus
colegas. Mas é como se a presença deles não
passasse de um pontinho no campus. É triste
pra caralho.
Alguém raspa os calcanhares de seus
sapatos enquanto caminha, e eu os observo
atravessando a sala, irracionalmente irritada
por não aprenderem a andar como adultos
normais. Eles não podem ter um pouco de
respeito pelo que aconteceu aqui? Ou talvez não
saibam. Eles estão tão envolvidos em suas
próprias vidas e em suas mídias sociais que
provavelmente estão muito ocupados festejando
para ouvir o que aconteceu. Fecho os olhos e
respiro fundo. Talvez não seja uma boa ideia
voltar. Talvez devesse ter esperado mais alguns
dias. Até que possa descobrir o que exatamente
está acontecendo comigo.
Mas não posso ignorar o fato de ter sido
mordida por um vampiro doente que vou me
transformar em um. Eu preciso de mais
provas... mais do que as presas de Arsen e sua
pequena e clara explicação de tudo.
Eu preciso fazer alguns testes. Em mim
mesma. No meu sangue. Seria mais fácil se eu
tivesse algumas amostras para comparar, mas
não é como se eu tivesse um banco de dados de
vampiros recém-transformados para explorar.
— Ei, eu sei que você também foi
mordido. Posso pegar uma amostra sua para
executar alguns testes? — Okay, certo. Esse
será o dia.
Tomo meu chá e tento me acalmar. Estou
aqui porque preciso fazer outra coisa que não
seja andar no meu apartamento e adivinhar o
que poderia ser ou o que não poderia ser. Tenho
que descobrir como essa mudança me afeta. Eu
preciso estudar isso. Se vou ajudá-los a curar
algum vírus, precisarei conhecer todos os
detalhes, incluindo como um humano se
transforma em um vampiro e como isso muda a
composição genética.
Pego minha carteira de estudante do bolso e
vou em direção à área do laboratório com um
propósito. Eu posso fazer isso. Não importa o
que aconteceu, eu sobrevivi. E continuarei
sobrevivendo. Não importa no que vá me
transformar.
Algumas horas depois, e mais frascos do
meu sangue do que provavelmente é seguro
retirar com o estômago vazio, eu tenho todos os
testes que consigo executar. Hemograma
completo. Um teste de INR para medir quanto
tempo meu sangue coagula para que possa
medi-lo em uma amostra mais humana. Testes
de ácido fólico e proteína C-reativa para
garantir que meus glóbulos vermelhos se
comportem normalmente e para me certificar de
que não há infecções no meu corpo
atualmente. A lista continua e continua.
— No que você está trabalhando, Sasha? —
Um dos meus colegas pergunta, pegando uma
impressão do resultado do teste.
— Nada. Vá embora, — resmungo, irritada
por ele estar no meu espaço e olhando para
testes um pouco pessoais. Concentro minha
atenção no microscópio à minha frente, vendo
como meu sangue reage a certos estímulos.
— Este resultado do teste não é
normal. Você está pesquisando isso de alguém
que recebeu um coquetel de vitaminas? Ou
alguma nova droga? — Ele empurra meu
ombro. — Deixe-me ver.
Afasto-me e assobio para ele, empurrando-o
para longe de mim, a fúria bombeando em
minhas veias.
— Ei! O que está acontecendo aqui? — A
voz familiar de Jackson me traz de volta para
onde estou... no meio do laboratório de genética
no campus.
— Eu sinto muito. — Pressiono a mão na
boca, olhos arregalados encontrando os olhos
semicerrados de Jackson, assustada com a
minha própria reação à curiosidade do meu
colega de classe.
— Está tudo bem, Sasha. — Jackson passa
o braço em volta do meu ombro e se dirige ao
garoto cujo nome nem me lembro. — Ela
acabou de ser atacada na outra noite. Deixe-a
em paz.
Suas bochechas ficam rosadas. —
Desculpe, eu esqueci. — Ele se afasta e eu o
observo, com medo de que se tirar minha mão
da minha boca, de repente terei presas saindo
para todo mundo ver.
— Você está bem? — Pergunta Jackson.
Concordo e cutuco meus dentes com a
língua. Nada afiado cutuca eles. Lentamente
largo minha mão. — Acho que
sim. Simplesmente não gostei do fato de ele
estar no meu espaço, então tentou me
empurrar para fora do caminho.
— Embora isso normalmente não deveria
incomodar você. — Jackson se recosta na mesa
do laboratório, cruzando os braços grossos
sobre o peito.
— Eu sei que não. — Eu dou de ombros. —
Acho que estou um pouco nervosa depois do
que aconteceu.
— Como você está realmente? Eu não tinha
certeza de que você voltaria logo depois de
desaparecer do hospital outro dia. — Seu tom
de desaprovação me lembra que ele merece
uma explicação. Mas o que posso dizer a
ele? Adivinha? Fui atacada por vampiros. Espero
que você não se importe com a sua velha amiga
ficando dentuça.
— Eu estou bem, acho. E você disse que
não estava presa, você tem minha declaração. E
um... hum... um amigo veio me buscar. — Eu
não classificaria exatamente Arsen como amigo,
mas duvido que as letras pequenas realmente
importem aqui.
— Um amigo? Quem? — Ele se recosta na
minha mesa de trabalho. — Por que você saiu e
não esperou que eu voltasse? Eu poderia ter te
levado para casa e ficado com você. É para isso
que serve proteção pessoal, Sasha.
Eu faço uma careta para ele. — Você estava
lá quando ele estava. Você foi checar seu
parceiro e, quando estávamos indo embora,
todas as enfermeiras sumiram, provavelmente
atendendo e verificando as coisas após a falta
de energia. Eu tentei te encontrar, mas não
consegui. Eu presumi que você foi chamado
pela polícia, então acabei indo com ele.
Jackson estreita os olhos para mim. — Eu
não conheci seu amigo.
— Sim, você conheceu. Arsen? Arsen
Eskandar? Ele estava ali, você apertou a mão
dele e tudo. — Eu cutuco o braço dele. — Você
tem certeza de que eu sou a única com perda de
memória?
Jackson se levanta, seu corpo tenso. —
Você é amiga de Arsen Eskandar?
— Ah, tipo isso? — Parece mais uma
pergunta do que uma afirmação, mas não sei ao
certo como classificar Arsen. Além de vampiro
sexy.
— Você esteve com ele esse tempo todo?
— Não. Ele me levou direto para casa e me
deixou com seu cartão.
— E como você o conhece? — Pergunta
Jackson.
— É uma longa história... — Eu paro, sem
saber por que Jackson tem tanto ódio por
Arsen. Talvez eles se conheçam. — Como você o
conhece? — Eu pergunto.
Jackson levanta uma sobrancelha. — É
uma longa história.
— Ha. Ok, espertinho. Bem. Que seja. —
Pego alguns papéis com os resultados dos meus
testes e os coloco em uma pasta simples. — O
que você está fazendo aqui, afinal? É meio-
dia. Você não deveria estar prendendo algum
transgressor?
— Eu estou de folga hoje. Eu queria ter
algum tempo no laboratório e estudar para as
aulas intermediárias.
Jackson coloca a mão sobre a minha na
pasta e eu encontro seus olhos castanhos. —
Se você precisar de ajuda com alguma coisa,
posso ajudá-la.
— Me ajudar? Com o que? Nos
laboratórios? — Eu rio. Sou líder da turma. Sou
a mais apta a ajudar alguém.
— Não, não nos laboratórios. Quero dizer,
se algo está errado. Posso te ajudar. Eu
conheço pessoas.
Bem, isso não é nada sutil. — Não há nada
errado, Jackson. Estou bem. Eu sei que você é
policial. Meio difícil de esquecer. — Eu deslizo a
lâmina do microscópio e a limpo. — Aprecio a
oferta, no entanto.
Jackson abre a boca como se quisesse dizer
algo mais, mas desvia o olhar. — Talvez você
deva tirar um tempo das aulas.
— Você sabe que não posso fazer
isso. Tenho bolsa de estudos para manter. —
Eu limpo meu microscópio. — Sei que você está
todo protetor agora, mas não posso parar de
viver minha vida por causa do que aconteceu.
— Só estou tentando tomar conta de
você. Pessoas como Arsen não conhecem
você. Não como eu.
Cruzo os braços sobre o peito, na defensiva
por seu comentário sobre Arsen por nenhuma
outra razão, a não ser que seu tom parece
condescendente. — Escute, eu vou indo. Estou
bem, prometo. Logo sairemos, assistiremos a
filmes ruins e comeremos muita porcaria.
Jackson bufa. — Tudo bem, mas não vou
deixar isso passar.
Bato na superfície plana da mesa do
laboratório, o som alto na sala vazia. —
Jackson! Deixe isso. Sou uma mulher
adulta. Posso tomar minhas próprias decisões.
— Tanto faz. Eu tenho que ir. Vou me
atrasar para a aula. — Ele sai, murmurando
para si mesmo.
Que diabos aconteceu com ele? Eu sei que
foi um susto para todos nós, e eu
provavelmente seria tão protetora com ele
quanto ele é comigo, mas não sou tão indefesa
que preciso de um homem para entrar e
carregar todos os meus livros para mim. Limpo
meu posto de laboratório e arrumo minhas
coisas o mais rápido possível, querendo chegar
em casa e conferir todos os resultados em
particular.
Quando saio do prédio, o sol enfraquecido
mal mantém distante o frio do clima de outono
em Portland, mas o céu está lindo.
Pego meu telefone para verificar a hora e
lembro que ele havia sido destruído no
ataque. Merda. Eu tenho que conseguir um
novo.
— Ei, Sasha.
Eu pulo com a saudação e me viro para
encarar Arsen. Fale do diabo e ele aparecerá.
— O que você está fazendo aqui? — Eu
pergunto, pressionando uma mão no meu peito,
minha palma sente a batida acelerada do meu
coração.
— Eu vim para verificar você. — Ele sorri
largamente. — Você não atendeu a porta do seu
apartamento, então assumi que você estaria
aqui.
Eu franzo a testa. Como é que ele sabe
tanto sobre meus hábitos, mas quase não sei
nada sobre ele? Além de ele governar um clã de
vampiros e querer que eu encontre uma cura
para algum vírus vampírico. — Bem, você me
encontrou. — Eu nado rápido em direção ao
meu apartamento.
Isso não o impede de me seguir.
— De fato encontrei. Como você está se
sentindo?
— Por que todo mundo fica me
perguntando isso?
— Bem, você acabou de ser atacada. E sei
que você está se transformando em algo...
novo. — Ele abaixa a voz na última palavra, e
eu verifico se ninguém está prestando atenção
em nós.
— Eu estou bem, acho. Ainda não estou
notando nada de diferente. — Além dos meus
exames de sangue estranhos, que não tive a
chance de revisar.
— Você irá mudar. Isso acontece muito
rapidamente para algumas pessoas e um pouco
mais lento para outras.
Eu assinto. — Bom saber.
— Você pensou mais na minha oferta? —
Arsen esfrega as mãos na frente dele, dando
alguns passos à minha frente e andando para
trás, encarando-me enquanto caminhamos.
Eu paro. — Não. Sinto muito, estou um
pouco ocupada me recuperando de um ataque
de vampiro. E descobrir o que diabos isso
significa para mim e meu futuro.
Me chame de egoísta, mas ainda não sou
uma vampira de verdade. Não é como se eu
devesse lealdade a essas criaturas. Afinal, não
tinha sido minha escolha me tornar um
membro de carteirinha do clube de presas.
— Desculpa. Claramente, minha
abordagem não foi muito diplomática. Eu sei
que você está passando por algumas coisas
agora.
Coisas. Sim, vamos chamar mudanças
transformadoras de "coisas".
— Gostaria de melhorar a oferta por assim
dizer. Pagaremos o restante da sua educação,
quitaremos as dívidas atuais e criaremos um
laboratório de última geração para pesquisas.
Eu mordo meu lábio. É tentador. Não
haverá mais dívidas escolares. Não haverá mais
preocupação em manter minha bolsa de
estudos. Na verdade, eu poderia tirar um dia de
folga para descansar. — É uma ótima oferta,
mas realmente não posso decidir agora. Eu
sinto muito.
— O que mais você gostaria? — Arsen
pergunta, seu tom calmo.
— Não estou realmente interessada em
nada, Arsen. E sua crença de que pode me
comprar não é apenas rude, é ofensiva. —
Chegamos ao meu apartamento e subo as
escadas até a primeira porta, destrancando-a e
entrando. — Você me disse que me deixaria
processar e eu poderia entrar em contato com
você. Você está forçando a mão aqui.
Arsen me segue, persistente como sempre.
— Essa não era minha intenção. Desculp...
— Escute, isso tem sido divertido, mas
tenho trabalho a fazer e decisões a tomar, por
isso, se você não se importa... — Abro a porta
do meu apartamento, pisando atrás dela,
esperando que ele entenda.
Ele não entende.
— Arsen, preciso de tempo. Sozinha. Para
entender tudo isso. Por favor, respeite isso. —
Fecho a porta, mas seu pé me impede de fechá-
la completamente. Suspiro, exasperada. Se ele
não aceitar um não como resposta, não tenho
escolha a não ser fazê-lo entender.
— Por favor, deixe-me explicar, Sasha.
Eu chuto seu pé, empurro e bato a porta na
cara dele antes que possa continuar falando.
CAPÍTULO 5

Depois de mais algumas tentativas de


entrar no meu apartamento, Arsen ficou em
silêncio ou foi embora, mas não estou chegando
perto o suficiente da porta para
descobrir. Coloquei meus fones de ouvido, a
trilha sonora do rei Arthur com Charlie Hunnam
tocando, me levando para um mundo mágico
onde o bandido perde e coisas boas acontecem
para pessoas merecedoras.
Encaro meus testes repetidamente. Todos
os meus níveis estão elevados ou estão tão fora
do normal que não há como ter uma leitura
básica do que seria o meu novo normal. Não
sem pedir a outros vampiros suas amostras. E
mesmo assim, precisaria de alguém com meu
mesmo tipo sanguíneo e histórico médico.
Estou basicamente voando às
cegas. Maravilha.
Afasto meu cabelo do rosto, frustrada por
não conseguir mais da minha primeira rodada
de testes. Mas pelo menos sei o que preciso
fazer a seguir... acho.
Jesus. Eu não sei mais. Normalmente
pesquisava e aprendia tudo o que podia até ser
praticamente uma especialista nisso. Mas se
tornar uma especialista em vampiros...
criaturas imortais? Não é algo que possa
aprender em algumas sessões de estudo a noite
toda.
Deito contra o braço do sofá, fechando
meus olhos para envolver meu cérebro em torno
do meu novo normal. A música em meus
ouvidos me leva a um estado de sono até que o
barulho alto de madeira quebrada me acorda.
Minha porta é chutada e três homens
vestidos de preto se aproximam de mim com a
velocidade da luz e jogam uma sacola na minha
cabeça. Eu grito, chutando e lutando,
aterrorizada que meu atacante esteja de volta
para terminar o trabalho. Eles levantam o
capuz, enfiando um pano na minha boca,
calando meus gritos. Eu luto contra eles
enquanto eles amarram minhas mãos atrás das
costas.
— Não estamos aqui para prejudicá-
la. Apenas para protegê-la. Por favor, fique
calma e você entenderá em breve.
Meu corpo inteiro treme, uma mistura de
adrenalina e terror pulsando através de mim
como o baixo em uma rave. Alguém me joga por
cima do ombro e perco o fôlego, lutando para
respirar pelo nariz.
Eles me levam para o andar de baixo, e
então estou sentada em um assento
macio. Sinto cheiro de couro e óleo de
motor. Estou dentro de um carro. Onde diabos
eles estão me levando?
Penso em todos os truques que já vi nos
filmes e programas de TV, mas nada me vem à
mente. Eu não sou uma assassina treinada e
esses caras sabem claramente o que estão
fazendo. Alguém está falando no banco da
frente, mas não consigo ouvir o que ele está
dizendo. Algo sobre nós tivemos que fazer isso e
ela ficará melhor assim.
Por favor, querido Jesus, não me deixe ficar
melhor em alguma vala.
Após cerca de vinte minutos, o carro para e
o motor desliga. Eu me preparo para ser jogada
sobre outro ombro, mas eles me pegam e me
colocam no chão, um deles segurando meu
cotovelo e me levando.
O cheiro de grama recém cortada faz
cócegas no nariz e o som de cigarras me
cumprimenta antes que sons de gritos sejam
ouvidos.
— Como você pode trazê-la aqui?
— Como não poderia, Claudette? — Uma
voz profunda ressoa. Uma voz profunda e
familiar.
— Ela não é uma de nós. Ela nunca será
uma de nós, — a voz feminina estridente grita.
— Isso não está em discussão.
Eu cerro os dentes. Assim que eles
desamarrarem minhas mãos, vou atacar.
— Você pode tirar o capuz dela. Ela ainda
não mudou e, a julgar por sua postura, imagina
onde está.
O capuz sai da minha cabeça, deixando
meu cabelo embaraçado nos meus olhos. A
corda em volta dos meus pulsos cai no chão
deslizando atrás de mim , e eu arranco o pano
da minha boca.
— Seu filho da puta. — Aponto meu dedo
para ele, avançando até ficar nariz a nariz com
ele. — Você fez isso comigo? Eu te disse não.
— Sasha, veja a razão. Meu povo precisa de
você. E você precisa de ajuda. Você não pode
passar pela mudança sozinha.
— Isso não está bem, Arsen. — Eu rio sem
alegria. — Você tem alguma ideia do que você
acabou de me fazer passar? Me sequestrar
depois que fui atacada? Não foi sua ideia mais
brilhante. — Estou gritando com ele, furiosa
com suas ações.
— Você não pode falar com ele assim. Ele é
o mestre dos Draugur. — A voz da mulher que
falava mais cedo retorna e eu levanto minha
mão, minha palma apenas a centímetros do
nariz perfeitamente arrebitado.
A mulher bufa em afronta. — Arsen, você
não vai deixá-la agir assim, não é?
Eu encaro ela. — Arsen está um pouco
ocupado agora. Ele está prestes a se desculpar
por me sequestrar! — Viro minha carranca para
Arsen. — Você não está?
É melhor que o bastardo se desculpe, pague
meus empréstimos estudantis, pague o resto da
minha faculdade e mais algumas coisas por
essa besteira. E então, talvez eu decida ajudá-
los. Talvez.
Ele sorri para mim, a inclinação divertida
de seus lábios apenas alimentando minha ira.
— Peço desculpas, Sasha. Não foi minha
primeira opção de fazer as coisas dessa
maneira. Mas estamos em apuros. — Um
silêncio cai sobre a sala cheia de vampiros
diante de seu pedido de desculpas, e eu tomo
um segundo para observar o meu redor.
Estou no meio de uma entrada luxuosa
com um lustre acima de mim que tem mais
brilho do que Edward Cullen na luz do
sol. Escadas duplas levam ao segundo andar e
pinturas antigas se alinham nas paredes. Como
diabos eu não sabia sobre um palácio no meio
de Portland? Como alguém não sabe sobre esse
lugar?
— Onde exatamente estou? — Eu pergunto,
esperando não estar muito longe de casa.
— Estamos nos arredores de Portland. Nós
possuímos quatrocentos mil metros quadrados
de terra, e este é o edifício principal da
propriedade, — responde Arsen. — Gostaria de
um passeio?
— Claro, vou fazer um tour pelo seu
castelo. Enquanto estamos nisso, podemos falar
sobre como você vai corrigir o que fez de errado.
— Dou um passo à frente, enlaçando meu braço
no dele e ele me leva para longe.
Passamos por pelo menos cinquenta
vampiros, todos com pequenos sorrisos no
rosto. Eu reconheço o olhar deles. Estão
cautelosamente esperançosos, cada um deles
balançando a cabeça quando passamos. Sinto
como se houvesse um tijolo no meu peito.
— Diga-me que nem todos sabem quem eu
sou. — Eu olho para os olhos azuis-safira de
Arsen.
— Eles sabem. Estão falando de você desde
que voltei de levá-la para casa. Esperam que
você encontre uma cura para salvar seus entes
queridos. A família deles.
A culpa cai sobre mim como uma onda de
seis metros e sei que, embora esteja
desanimada com as ações dele de tentar tirar
minha escolha, não posso dizer não a essas
pessoas. Se tivesse a chance de salvar meus
pais, meus entes queridos, faria todo o possível
para que isso acontecesse. Quem sou eu para
negar essa chance a todas estas pessoas?
— Arsen, e se eu não encontrar uma
cura? E se falhar com todas essas pessoas? —
Viramos um corredor com tapeçarias
exuberantes e pinturas e entramos em um vazio
corredor de concreto.
— Apenas deixe-me mostrar uma coisa e
então você pode tomar uma decisão. Não vou
mais pressionar você.
Eu aceno e ele desce dois lances de escada
até uma porta de cofre. Ele balança a cabeça
para os guardas que estão ali, eles destrancam,
girando as alavancas até ouvir um clique alto e
a porta se abrir.
Olho em volta dos ombros largos de Arsen e
me preparo para o que estou prestes a ver.
Fileiras e mais fileiras de camas com
pessoas amarradas, intravenosas com bolsas de
sangue presas, cada uma alinhada ao lado
delas. Todos os vampiros são magros, a pele ao
redor dos olhos está irritada e vermelha, as
presas totalmente estendidas enquanto sibilam
para nós.
— Estes são os mais afetados pelo vírus. —
Ele pega minha mão, me levando até o fim da
fila, até uma mulher com longos cabelos loiros e
pele pálida. — Esta é minha irmã,
Annabelle. Ela foi uma das primeiras
infectadas.
Ela provavelmente era deslumbrante antes
de estar doente. Ainda se podia ver resquícios
disso nas maçãs do rosto acentuadas, nas
sobrancelhas arqueadas altas e no corpo
pequeno.
Annabelle assobia para o irmão quando ele
esfrega um pano sobre a testa úmida, limpando
as gotas de suor.
— Shh, doce Annabelle. Logo você estará
melhor e isso será apenas um pesadelo. — Ele
continua falando com ela e eu dou as costas
para eles, dando-lhe privacidade enquanto
examino o resto dos doentes.
Muitos deles estão afetados. Muitos deles
parecem torturados. Não consigo imaginar
como é perder todo o controle e ser amarrada a
uma cama, uma intravenosa como única coisa
que me mantém viva.
Alguns minutos depois, Arsen se despede
de sua irmã com a promessa de voltar mais
tarde, e saímos da sala, o barulho da porta de
ferro ecoando nas paredes atrás de nós.
— Arsen, você realmente não tem ideia de
onde esse vírus veio? Você tem inimigos?
Ele ri, o som vazio. — Eu sou um vampiro
muito velho. Claro que tenho inimigos. Mas isso
não é só comigo.
— Então o que é isso? Preciso de detalhes
para poder descobrir a origem do vírus e corrigi-
lo.
Arsen olha para mim rapidamente,
surpresa evidente em seu rosto. — Então você
vai nos ajudar?
— Eu farei o meu melhor. — Levanto minha
mão antes que ele possa ficar muito animado.
— Mas preciso de sua total honestidade e
acesso total aos doentes para que possa
executar testes. Eu também não serei capaz de
fazer isso sozinha. Vou precisar de alguém para
me ajudar. Você mencionou médicos? Um deles
poderia me ajudar?
Ele concorda. — O que você precisar, é seu.
— Vamos começar com onde tudo isso
começou. Quem poderia ter inventado algo
assim? — Subimos as escadas em silêncio até
parar em uma porta grossa de madeira. Arsen
me leva para dentro, me sentando em um sofá
de couro macio antes de sentar ao meu lado,
sua perna quente contra a minha.
— Você se lembra que eu disse que há dois
clãs em Portland?
— Sim, vagamente.
— Nós somos os Draugur. E os outros são
os Baetal. E por anos nossos clãs
lutaram. Sobre territórios, artefatos,
praticamente tudo o que pudéssemos discutir.
— Por quê?
— É uma história muito longa, mas
recentemente travamos uma trégua devido ao
vírus que afeta muitos de nós. Concordamos em
trabalhar juntos para encontrar uma cura e
impedir que quem fez isso volte a fazê-lo.
— Assim desse jeito? Vocês de repente são
melhores amigos? — Eu rio. — Me chame de
incrédula, mas não estou acreditando nisso.
— Você está certa. É uma trégua apenas no
nome. A tensão está apenas um pouco
controlada agora. — Ele passa as mãos pelos
cabelos e suspira. — É por isso que é tão
importante que encontremos uma cura.
— É algum tipo de jogo de quem encontrar
primeiro, será o único a usá-la? — O
pensamento disso não me faz bem, e me afasto
de Arsen.
— Não, eu não faria isso. Tenho amigos que
são Baetal, apesar da incapacidade de nosso clã
de ver olho no olho. — Ele coloca a mão na
minha coxa, e um arrepio de desejo vai direto
para o meu núcleo ao seu toque. — No entanto,
não tenho certeza de que o líder do Baetal seja
tão solidário com a cura, caso ele a encontre
primeiro.
— Ele não é um cara legal, eu entendi?
— Ha! Você poderia dizer isso. Ele governa
seu clã da maneira antiga. Como se ainda
estivéssemos escondidos em castelos no alto
das montanhas e incapazes de acessar a
tecnologia que torna a alimentação mais fácil do
que nunca.
— Certo, acho que velhos hábitos são
difíceis de morrer. — Olho para a mão dele, sem
saber se ele sequer percebeu que está me
tocando. Ou se ele se sente afetado como eu,
por nossa proximidade.
Ele flexiona os dedos e minha respiração
para. Olho para cima para vê-lo me observando
de perto. Ele se inclina para frente, parando
meros centímetros dos meus lábios e passa a
mão na minha coxa para agarrar meu quadril.
— Se você não deseja que eu a beije, Sasha,
agora é a hora de me dizer. — Sua voz é áspera
e é como uma carícia em minhas terminações
nervosas.
Eu lambo meus lábios. E antes que possa
responder, sua boca está sobre a minha. Sua
língua junto com a minha em uma dança tão
antiga quanto o tempo. Nós exploramos um ao
outro, estimulando e provocando com nossas
línguas. Ele morde meu lábio e suspiro de
prazer. Seus beijos são como uma droga para
os meus sentidos. Meu corpo vibra com a
eletricidade do seu toque e isso só me faz
querer mais.
Ele me puxa sobre seu colo até que o estou
montando e continuamos nos beijando, suas
mãos vagando pelas minhas costas, até a
minha bunda, onde ele agarra com as duas
mãos e aperta.
Eu puxo seu cabelo, respirando por um
momento antes de espalhar beijos em seu
pescoço, dando pequenas mordidas. Ele geme
de prazer e aperta minha mandíbula, me
puxando para aprofundar o beijo.
Uma batida soa na porta e antes que possa
pular de seu colo, alguém entra na sala. Meu
rosto aquece de vergonha e eu empurro o peito
de Arsen, mas ele me mantém no lugar com os
braços em volta da minha cintura.
— O que é? — Ele rosna.
— Os Baetal estão aqui.
— Porra, inferno. — Arsen se levanta, me
colocando de pé, mas mantendo o braço em
volta de mim. — Eles disseram o que querem?
O guarda assente para mim. — Dizem que
estão aqui por ela.
Eu balanço nos calcanhares. — Eu? —
Como diabos eles sabem que eu existo?
— Estava com medo disso. Nós já sairemos.
— Arsen espera até que seu guarda feche a
porta atrás dele antes de levantar meu queixo,
então estou olhando para ele.
— Como eles sabem quem sou, Arsen? Não
conversei com outros vampiros além de você.
— Sinto muito, Sasha. Parece que estamos
ficando sem tempo. — Ele coloca um doce beijo
nos meus lábios antes de se inclinar para trás.
— Eu formalmente faço um pedido por sua
mão.
Nem consigo dizer "do que diabos você está
falando" antes que ele se incline e morda meu
lábio e mergulhe sua língua na minha
boca. Instintivamente, eu o beijo de volta, o
sabor de sangue no meu paladar. Não é tão
revoltante quanto pensei que seria. Depois de
um momento, ele recua, limpando o polegar no
meu lábio inferior antes de limpar o seu.
Há um corte no lábio dele também.
— Eu te mordi? — Pergunto confusa. Eu
não tinha percebido isso.
— Não, mordi meu próprio lábio antes de
morder o seu e selar meu pedido por sua mão.
— Não tenho certeza do que isso significa
exatamente. — Não parece que vou gostar
muito. Arsen pega minha mão, me puxando
atrás dele enquanto deixamos o escritório.
— Era a única maneira que pude pensar
para mantê-la segura. Apenas lembre-se disso.
— Arsen olha por cima do ombro, linhas de
tensão entre as sobrancelhas.
— O que está acontecendo? Por favor, fale
comigo, — eu digo.
— Não temos tempo agora, mas vou
explicar tudo para você. Eu prometo. — Nós
dobramos a esquina e ficamos cara a cara com
um grupo de vampiros de cabelos loiros,
cobertos de couro da cabeça aos pés.
Eu não ouço o que o vampiro na minha
frente diz. Minha visão estremece e meus
ouvidos zumbem quando olho para o homem
que está em todos os meus pesadelos desde o
ataque.
CAPÍTULO 6

Minha raiva se manifesta e invisto contra


ele.
— Seu filho da puta! — Eu grito.
Arsen não me para, mas observa enquanto
eu cerro meus punhos no vampiro que me
atacou.
— Cristo, mulher. — Ele agarra meus
pulsos. — Acalme-se.
— Acalmar-me? Vou te dar
calma. Você me matou. Matou meus colegas de
classe. Eram pessoas inocentes. — Eu não
acredito. Bato em seu peito novamente,
enfurecida. Este bastardo está na minha frente
e Arsen aparentemente o conhecia o suficiente
para deixar ele e seus capangas entrarem em
sua casa.
— Ah, então é assim que você o
conhece. Fiquei imaginando quem do seu clã a
transformou, Nikolai, — diz Arsen. — Não é
legal você transformar alguém e deixá-los para
os lobos.
— História engraçada. Mal me lembro
daquela noite.
— Você não se lembra de matar várias
pessoas e me atacar? — Eu zombo. A coragem
deste filho da puta.
— Lembrei do seu rosto, linda. Isso é
tudo.— Ele sorri para mim e eu engasgo em
repulsa.
— Ai credo. Nem sequer olhe para mim, seu
esquisito.
Nikolai ri. — Oh, você vai ser muito
divertida de conviver.
— Conviver? — Eu pergunto, confusão em
minha voz enquanto me concentro em Arsen.
— Sim, conviver comigo. Estou aqui para
reivindicar o que é meu por direito. Sou seu
mestre. Eu fiz você. Como tal, você me pertence.
— Ele sorri para mim, presunçosamente.
Acabei de pousar no século XIX, onde as
mulheres não tinham direitos e as pessoas
ainda eram propriedades? Faço a única coisa
que posso fazer. Eu começo a rir. Uma risada
profunda e cheia de significado. Eu bato no
joelho enquanto respiro fundo para encarar
Nikolai.
— Sobre o meu cadáver. Nem quando o
inferno congelar. Isso. Nunca. Vai. Acontecer.
Nikolai levanta um dedo. — Tecnicamente,
você será uma morta-viva em breve, então acho
que consigo o que quero, afinal.
— Amigo, nem por todo o dinheiro do
mundo. — Eu me inclino para trás em direção a
Arsen, esperando que ele me apoie, mas ele
apenas assiste nossa troca com os olhos
entrecerrados.
— Você age como se tivesse uma
escolha. Claramente, Arsen não explicou como
nosso mundo funciona.
— Oh, ele me deu um resumo disso. E sei
que você é psicótico. Então, obrigada, mas
não. Francamente, não me importo se violar
todas as leis ou costumes dos vampiros, ou o
que quer que seja, não vou a lugar nenhum
com você.
— Eu admito, minhas ações na outra noite
foram menos do que educadas. — Ele encolhe
os ombros, sem desculpas.
— Sim, educada não é um termo que usaria
normalmente em conjunto com assassino.
— Eu não era eu mesmo. Tenho mais
controle do que um novato. — Nikolai suspira
como se o fato de explicar algo para mim fosse
degradante.
— Como assim não era você mesmo ? —
Arsen pergunta antes que eu possa.
Nikolai bate um dedo no queixo, fazendo
uma pausa dramática antes de responder. —
Fui infectado pelo vírus. Minha mente vai e
volta, para resumir. — Ele acena com a mão
para mim. — Até eu morder esse pedacinho
adorável aqui.
Dou um passo para trás, esbarrando em
Arsen quando todos os vampiros na sala
começam a sussurrar entre si. Ele não pode
estar certo. Não é possível ele estar certo.
— Ele está mentindo. Me lembro como você
me provocou. — O flash de suas presas no
laboratório. O jeito que ele me perseguiu pelo
corredor.
Um dos homens atrás de Nikolai dá um
passo à frente. — É verdade. Ele foi infectado e
escapou. Estávamos rastreando-o e, quando o
encontramos na floresta, ele estava coberto de
sangue e coerente.
Arsen me olha bruscamente antes de
estreitar os olhos para Nikolai. — Dê-me sua
palavra de que você não mente.
— Eu te juto. Estive doente. Pensei que
teriam que me matar. E depois que a mordi,
comecei a recuperar meus sentidos. — Ele
aponta para mim. — Ela é a chave para curar
esse vírus. E pertence a mim. — Ele coloca as
mãos nos quadris. — Então entregue-a.
— Estou ciente da maneira como as coisas
devem funcionar, Niko, — diz Arsen. — No
entanto, ela não é uma peça de roupa que
possa entregar a você. Não estamos mais
vivendo nos velhos tempos.
Nikolai estala a língua. — Oh, como sinto
falta daqueles dias. — Ele bate palmas, me
assustando. — Chega de bate-papo. Hora de ir,
linda. Temos muito o que fazer. Precisamos
descobrir como você me curou para que
possamos curar o resto que está infectado.
— De jeito nenhum.
— Agora espere apenas um minuto, — diz
Arsen ao mesmo tempo.
Prefiro comer testículos de touros crus do
que seguir esse cara para qualquer lugar, e se
eles esperam que eu escute, terão que me
arrastar. Além disso, o sorriso no rosto de
Nikolai é muito presunçoso. Ele normalmente
deve conseguir o que quer. No momento, ele
espera que sim. De jeito nenhum.
— Nós também temos doentes, Nikolai. E
nós já montamos um laboratório para Sasha. —
Concordo, gostando de onde Arsen está indo
com isso.
— É um laboratório muito bom. Sou
bastante apegada a ele. — Minhas palavras são
uma mentira completa, mas vou dizer o que for
preciso para manter Nikolai longe de mim.
— Você acha que não temos um laboratório
também? Não brinque, Arsen. Não me faça
quebrar nossa trégua. — Nikolai dá um passo à
frente, os punhos cerrados. Os vampiros atrás
dele se movem para frente, todos eles tensos.
Os vampiros em pé atrás de Arsen e eu se
movem, sussurros baixos passando por nós.
Arsen levanta a mão e todos se acalmam. —
Não é isso que estou fazendo aqui, Nikolai. E
você sabe disso. Parte de nossa trégua é que
compartilharemos a cura. Não afeta apenas os
Baetal. Afeta os Draugur também. Ou você
esqueceu? — Arsen cruza os braços sobre o
peito, calmo, apesar da postura agressiva de
Nikolai.
— Oh, não esqueci os termos que nossos
antecessores estabeleceram e concordaram
também. Você pode confiar em mim nisso. —
Nikolai pisca para mim e eu me encolho.
— Não tem como eu ir a lugar algum com
você, Nikolai. — Balanço a cabeça, infeliz com a
mudança dos acontecimentos. — Você não pode
me obrigar a fazer qualquer coisa que não
queira.
— Sasha.
Eu me viro para Arsen. — Por que não
posso simplesmente ir para casa?
— Não é assim que funciona. — Seu tom é
gentil, mas firme.
— Então tudo bem, vou ficar aqui. —
Simples assim. Problema resolvido.
Arsen balança a cabeça: — Você também
não pode fazer isso.
— Bem, que porra é essa então? — Eu jogo
minhas mãos no ar. De que adianta conviver
com o mestre dos Draugur se isso não me traz
nada de especial? Como proteção contra o
psicopata a poucos metros de mim? Me chame
de mesquinha, mas o que uma garota tem que
fazer por aqui para poder exercer seu livre
arbítrio?
— Até que sua transformação seja
concluída, você terá que ir com o seu
criador. Não é seguro para você ou para as
pessoas em geral se você não for monitorada na
mudança. — Arsen se vira de mim,
concentrando sua atenção no outro mestre
vampiro. — No entanto, você deve saber, Niko,
que fiz uma reivindicação formal pela mão de
Sasha.
O rosto de Nikolai fica quase selvagem de
raiva. — Quando diabos você conseguiu isso?
Arsen sorri tenso. — Não se preocupe com
isso. Tudo que você precisa saber é que o
sangue foi trocado e minha oferta foi aceita. —
Ele abaixa a cabeça. — Você conhece as leis,
Nikolai. Qualquer pessoa em nosso clã pode
fazer uma oferta pela mão dela.
Esfrego a testa, não gostando da ideia de
que as pessoas possam apenas oferecer um
pouco de sangue para trocar e estar na corrida
pelo meu coração. Ou bem, me cortejar? Jesus
Cristo. Nem sei como chamar.
— Hum, para constar, não estou aceitando
outros pedidos, — eu entro na conversa,
acenando com a mão no ar e olhando para
todos os homens na sala.
Nikolai ri. — Oh, ela é encantadora. Acho
que aprecio bastante a sinceridade dela. — Ele
olha para trás para os homens nas suas costas.
— Vocês não concordam? — Todos acenam
como bons soldadinhos, e eu cerro os dentes.
Encontro o olhar de Arsen. — Eles são
todos loucos.
Ele esfrega a mão no rosto, escondendo o
que suspeito ser um sorriso. — Ele está certo,
no entanto. Você é bastante encantadora.
— Sim, sim, sou encantadora pra
caramba. Vamos voltar ao ponto aqui. Não vou
a lugar nenhum com ele.
— Qual parte de "você não tem escolha" é
difícil de entender, linda? — Nikolai pergunta.
Eu vou atacar ele novamente, mas desta
vez Arsen me para. — Me dê um momento,
Niko.
— Oh, claro, não tenho nada além de
tempo. — Ele vira as costas para Arsen,
conversando baixo com um de seus homens.
Arsen segura minha mão na dele, me
puxando pelo corredor. Eu deixo o puro terror
transparecer em meu rosto ao pensar em ir com
Nikolai.
— Arsen...Não posso. — Meu corpo inteiro
treme com o pensamento de estar à mercê de
Nikolai novamente.
Ele esfrega minha palma com o polegar. —
Eu sei que isso não é o que você queria. E não
foi o que te prometi. Mas vou garantir que você
esteja segura e volte pra mim. Tão logo que
puder.
— Quão logo é logo? — Eu pergunto.
— Há uma burocracia que tenho que
resolver. A política dos vampiros é tão ruim
quanto a política humana. Só um pouco mais
mortal.
Eu não gosto do som do seu tom. Como se
ele se resignasse ao que está prestes a
acontecer. — Então, que escolhas eu tenho
aqui? Certamente tem que haver alguma
brecha.
— Receio que não, Sasha.
— Então, não tenho outra escolha senão ir
com Nikolai até me transformar?
— Nenhuma escolha.
Porra.
CAPÍTULO 7

Não importa o quanto não goste, sigo


Nikolai. Vou sair com ele pelos meus próprios
pés ou arrastada.
Ele para ao lado da porta do passageiro do
seu Maserati amarelo e a abre para mim.
Seu carro é chamativo como um pênis
gigante.
Eu paro e espero. Não quero lhe dar
nenhuma satisfação por sua falsa
demonstração de cortesia. Ficamos assim por
dois longos minutos. Nikolai espera que me
sente, e espero que ele vá embora.
Quando ele finalmente cede e bate a porta
do lado do passageiro, ele caminha até o lado
do motorista, concedendo-me uma pequena
vitória. Posso abrir a maldita porta do carro,
muito obrigada.
Antes de eu entrar, nossos olhares se
encontram e ele sorri.
Porco.
Meu criador é um verdadeiro idiota. Ele me
transformou no monstro que estou me
tornando e não posso lutar com ele. Apesar do
que meu coração e minha mente dizem, tenho a
inclinação, o desejo de obedecer.
A expressão sombria no rosto de Arsen
quando saí ainda me assombra.
Nikolai dá partida no motor e exala. — Eu
sei como isso deve parecer para você, mas...
— Cale-se. Eu não tenho nada para dizer
para você. — Cruzo os braços sobre o
peito. Meus olhos ficam presos na estrada
quando Nikolai tira o carro do complexo.
— Deixe-me esclarecer, não tenho nenhuma
intenção de prejudicá-la. De fato, muito pelo
contrário.
Tenho que me agarrar à minha raiva porque
estou aterrorizada. E se parar de ficar com
raiva, o terror me sufocará.
— E deixe-me esclarecer. Você é um
monstro. Um assassino. E por causa de alguma
merda de regra estúpida de vampiro, tenho que
segui-lo para sua casa. Mas não confunda o
que tenho que fazer com o que quero fazer.
Meu estômago dói e minha pele coça como
se eu estivesse com febre de dentro para
fora. Não tenho certeza se é a mudança que
está por vir ou meus nervos, mas de qualquer
forma, estou totalmente louca.
— Oh, coelhinho.
— Não me chame assim.
— Eu nunca quis fazer mal a você. Você
viveu porque deixei. Agora você recebeu um
grande presente.
— Sorte minha. — Eu zombo dele e cruzo
meus braços novamente. — E outros morreram
porque você os deixou.
— Você pode julgar agora, Sasha. Mas logo
você entenderá que o leão que caça a zebra não
é cruel. Ele é um predador natural, assim como
nós. Os seres humanos constantemente matam
sem pensar ou se preocupar com as
repercussões, especialmente com a própria
comida.
— Não chame as pessoas de comida.
— Mas eles são.
— Podemos parar de falar?
Espero que o resto da viagem seja em
silêncio, mas descobri que Nikolai faz apenas o
que ele quer. Eu fervia no meu próprio ódio pelo
vampiro ao meu lado, enquanto ele oferecia
uma explicação sobre o motivo de ter invadido o
complexo de Arsen e me tirado de lá.
— Você não entende. Você precisa ficar
longe de Arsen. Você não entende tudo o que
ele é capaz. Você não sabe tudo o que ele fez. —
Um olhar meu congela suas palavras apenas
brevemente. — Posso imaginar o que você pode
estar pensando.
— Você pode? Porque me parece que você
não dá a mínima para ninguém além de
você. Por que mais você apareceria como se
fosse o dono do lugar e exigiria que viesse com
você? Você está errado. Você não pode imaginar
o que estou pensando, porque no fundo não se
importa. — Eu bufo, virando minha cabeça
para longe dele.
Quando ele não diz nada, encontro seu
rosto em uma profunda carranca. Seus olhos
brilham com os faróis dos carros, o ruído do
couro no volante é o único outro som que se
junta ao profundo silêncio.
De repente, Nikolai vira o carro para o
acostamento ao lado da estrada em uma parada
estridente.. Suas narinas se abrem quando se
vira para mim. — Certo. Chega de ser legal. Eu
tentei argumentar com você, mas obviamente
você não está permitindo. Quero que fique
comigo. Vou te dar o que você quiser. Apenas
me ajude a encontrar uma cura para o que está
afligindo os vampiros.
A descrença, além de saber que Nikolai é
um idiota completo, me faz rir sarcasticamente.
— O que faz você pensar que tem algo que
quero? Eu não me importo com riquezas ou
poder. Não estou me juntando a você. Você é
um idiota supercontrolador que me forçou a
uma vida em que preferiria não ter. Então,
foda-se seus problemas.
A repentina mão erguida de Niko me faz
estremecer. Espero um tapa, mas é apenas o
toque suave dos dedos nas minhas bochechas.
Quando abro os olhos, ele está sorrindo. —
Isso pode ser o que você pensa agora, mas em
breve você perceberá a verdade do que está
acontecendo.
Eu me odeio pelo conforto que seu toque
me traz. Não deveria gostar do seu toque, não
deveria sentir nada além de raiva e medo. Em
vez disso, minhas intenções estão se tornando
contradições. Seus cabelos loiros e o azul
prateado de seus olhos me hipnotizaram. Mas é
porque meus instintos estão me dizendo para
confiar nele? Ou será o vínculo entre criador e
criatura?
Mas antes que possa reagir, ele coloca o
carro de volta para a estrada e continua o
caminho em direção ao seu complexo.
O cascalho tritura debaixo dos meus
sapatos quando saio do carro. Não há como eu
deixar Nikolai escapar tentando me conquistar
com seu charme arrogante ou esse poder
estranho que ele exerce sobre mim. Sua beleza
desumana já está causando problemas
suficientes.
Minha mão está encostada na lataria fria e
amarela do carro, meus olhos no chão
enquanto penso no olhar escuro em seus olhos
e na suavidade de seus dedos em minha pele. A
afeição por ele aquece meu peito antes que o
choque passe por mim.
Que diabos, Sasha?
Por que estou sentindo algo além de raiva
por Nikolai? Ele é um idiota. Ele é um babaca
possessivo, excessivamente controlador e
sedento de poder. Eu cerro os dentes em
frustração. O pisar das caras botas pretas de
Nikolai chama minha atenção de volta para o
mesmo vampiro de rosto bonito que quero
socar.
— Nós devemos entrar. Está frio aqui fora.
— Nikolai oferece seu braço para mim como se
fosse a sua companheira de formatura. Sou
rápida em recusar. Ele balança a cabeça e ri,
virando-se para me levar para o feio edifício
cinza.
Membros do clã de Nikolai zombam e olham
feio enquanto atravessamos a sala. Em vez de
me encolher, encontro cada olhar com um dos
meus. Já fui intimidada por um vampiro. De
jeito nenhum serei humilhada por outros.
Andamos por um corredor mal iluminado
até chegarmos a um quarto na extremidade
mais distante. Nikolai abre para revelar uma
decoração que eu não esperava. É sofisticada e
surpreendentemente moderna. Uma cama com
lençóis vermelhos e sedosos está no centro do
quarto.
Ótimo. Não quero saber para quem ou para
que ele usa isso. Eu suspiro. O cheiro de velas
perfumadas de lavanda misturado levemente
com álcool, sexo e, claro, Nikolai, atinge meu
nariz no momento em que entro no local.
As probabilidades são de que ele tenha
recebido muitas "convidadas" em seu quarto. O
pensamento me faz infeliz. Sim, quem sabe
quantas motoqueiras vampiras ele teve aqui
todas as noites. Provavelmente algumas
meninas humanas também.
Nikolai tira a jaqueta e a pendura em um
suporte no canto. Os músculos de suas costas
ondulam sob o material apertado da camisa
preta que ele veste. Seus ombros são largos e
bem definidos contra a gola decotada da
camisa. Eu não acho que ele é alguém que se
preocupa com a definição muscular, mas ele
tem o suficiente para exibir.
Nikolai é tudo, menos seguro, e não posso
esquecer isso, não importa o que esse vínculo
estúpido entre nós me diga. Ele se recusa a me
dizer exatamente o que quis dizer sobre Arsen,
mas sei pela aura ao seu redor que Nikolai é
tão, se não mais, perigoso do que Arsen. Talvez
essa seja uma das coisas que me atraem na
direção dele.
Uma leve risada a poucos metros de mim
alerta para sua proximidade. Seus olhos estão
semicerrados, suas presas aparecem sobre um
sorriso tímido.
— Aqui está como isso vai acontecer. Você
vai me ajudar a encontrar uma cura. De
alguma forma você me curou. Eu quero saber
como. Em troca, farei exatamente o que
disse. Vou lhe dar uma posição de poder bem
ao meu lado quando empurrarmos Arsen e seu
clã para fora de cena. Qualquer coisa, — —
seus dedos seguram minha mandíbula
enquanto ele se inclina para o meu rosto. — E
quero dizer que qualquer coisa será sua. Você
só precisa pedir.
Eu desvio meus olhos para o chão, fazendo-
o rir da minha fraca tentativa de desafio.
— Vou deixar você se limpar. Sei que está
sendo uma noite longa para você e tenho alguns
negócios a tratar. — Ele sai, parando apenas
por um momento. — Ah, e se você pensar em
fugir, não iria. Nem todo mundo no clã é tão...
compreensivo como eu sou. Você não gostaria
de se machucar.
Mostro-lhe o dedo do meio, recebendo outra
risada. Seriamente? Ele apenas se ofereceu
para me dar um tempo para me limpar e depois
me ameaçou?
Apesar de seu aviso, procuro no cômodo
por qualquer meio de fuga. Eu tenho que voltar
para Arsen para entender o que está
acontecendo. A janela está fora de questão. Não
só é bloqueada por barras de metal, mas não há
nada além dela, além de uma queda direta para
um frio e implacável monte de piche.
Chamar a polícia não ajudaria, porque eles
não acreditariam em mim e provavelmente
seriam aniquilados se tentassem enfrentar todo
um grupo de vampiros narcisistas. Além disso,
estou rapidamente me tornando algo que não
entendo completamente. Eu seria rotulada
como uma ameaça em potencial também.
Sento na cadeira giratória ao lado da mesa
de Niko no canto do quarto. Lágrimas de raiva
se juntam às lágrimas medrosas quando penso
em Arsen.
A força suave em sua voz quando ele me
disse que me reivindicou como sua faz eco em
minha mente, enviando uma queimadura lenta
através da minha barriga. Ele é o mesmo que
Nikolai. Um vampiro. E pelo que parece, são
rivais, focados apenas em se livrar da
concorrência. Eu sou apenas a pobre vítima
presa no meio de uma guerra de território de
vampiros.
Pegando meu telefone, olho para a tela
brilhante. Desbloqueando, eu folheio algumas
fotos antigas de antes de toda essa
loucura. Aqueles dias de pura inocência já se
foram há muito tempo.
A determinação de escapar me ilumina, e
vou até a porta, abrindo-a o mais
silenciosamente que posso. Esse vampiro idiota
não está me mantendo trancada como se eu
fosse uma prisioneira. E esta princesa vai
salvar a sua maldita bunda.
Felizmente, o corredor está vazio e
silencioso, apesar dos sons não tão abafados de
sexo selvagem acontecendo nos outros
quartos. Nikolai provavelmente está entretendo
uma das outras garotas vampiras que tinha
visto enquanto caminhávamos por esse
lugar. Nojento.
Encostando na parede, rastrejo pelo
corredor, entrando em um armário de
vassouras quando um vampiro bonitão e
charmoso passa com o braço pendurado em
torno de uma loira bem dotada com roupas tão
apertadas que provavelmente estão gritando
para sair dela. Depois que eles passam,
continuo descendo as escadas, parando para
examinar a sala principal.
Existem alguns vampiros por ali, parecendo
entediados. Alguns se sentam em sofás velhos,
aos beijos e bebendo, enquanto outros
disputam a atenção de suas ficantes da noites.
Meus olhos caem sobre Nikolai no canto,
seus pés apoiados em uma mesa de vidro com
um cigarro pendurado nos dedos indicador e do
meio. Em ambos os lados dele há duas
mulheres muito atraentes, cada uma fazendo o
possível para ganhar sua atenção e sendo
ignoradas. Pelo menos até que ele se incline e
dê um beijo profundo na da esquerda.
Eu reviro meus olhos. Negócios para
atender, ele disse? Deve ser legal ser um
playboy rico que consegue o que quer quando
quer.
— Ei.
Eu me viro para ver outro dos vampiros o
qual olhei feio me encarando com famintos
olhos prateados. — O que uma coisinha sexy
como você está fazendo aqui? Pensei que
Nikolai a levou para o quarto dele durante a
noite.
Meu coração bate rápido quando tento me
afastar dele apenas para ser agarrada e puxada
contra seu peito. A comoção chama a atenção
de Niko e, em questão de segundos, ele está
subindo as escadas e empurrando seu
companheiro vampiro contra a parede.
— Nunca deve tocar no que é meu. Você
entende? — Ele pergunta. A severidade de sua
voz envia choques de medo pela minha
espinha. O outro vampiro assente e cai no chão.
— Bom.
Mais uma vez, sou pega pelo braço e levada
de volta ao quarto de Niko. Ele me empurra
para dentro e bate a porta atrás dele, o som me
fazendo pular.
— Eu te disse, não foi? Nem todo mundo
aqui é tão compreensivo quanto eu. A próxima
vez que você quiser fazer algo tão estúpido
quanto fugir, eu repensaria. — Ele caminha até
onde estou de costas para a parede. Ele vagueia
em minha direção como um leão perseguindo
sua presa, e um arrepio de inquietação
serpenteia pela minha espinha. — Eu posso ver
que vai demorar um pouco mais para mantê-la
sob controle, mas não importa. Sou um
vampiro muito paciente, mas não pense que
isso significa que não exercerei minha
autoridade. Você é minha, Sasha. — Ele passa
um dedo pelo meu pescoço e olha nos meus
olhos, suas feições duras. — Goste ou não, você
é minha.
CAPÍTULO 8

Inferno. Isso é o que é. Inferno.


Na tentativa de me agradar, Nikolai
concordou em me deixar ir para a faculdade,
mas um de seus subordinados vampiros me
segue aonde quer que eu vá. Honestamente, é
como se estivesse sendo sufocada. Nunca estou
sozinha. Os olhares que recebo de meus colegas
de escola por conta dos homens e mulheres
estranhos constantemente me seguindo irritam
meus nervos.
Mesmo quando estou me concentrando na
palestra sobre ética nos negócios e sua
importância no mundo da pesquisa, não posso
ignorar o olhar de quem está designado a ser
minha babá do dia na parte de trás da minha
cabeça.
Infelizmente, a primeira parada todos os
dias é nos laboratórios onde tenho que passar
por testes para ver quão adiantada estou na
transformação. Quanto mais convivo com o
clube de presas, mais frequentes os testes se
tornam. Eu odeio ser cutucada como uma
almofada de alfinetes, então meu humor está
em algum lugar entre irritada e absolutamente
perigosa. Digamos que estou desapontada com
o destino que meu autoproclamado "mestre"
está me enviando.
— Sasha!
Paro de andar quando ouço a voz familiar e
reconfortante de meu melhor amigo. Jackson
corre até mim com a mão levantada em um
aceno. Nos abraçamos depois de ficarmos
separarmos tanto tempo. Deus, um rosto
familiar é uma pausa bem-vinda dos olhares
chateados intermináveis no complexo de Niko.
— Ei!
— Onde você esteve? Você está bem? — Ele
pergunta.
— Desculpe, fiz uma pausa por alguns dias,
como você sugeriu.
— Uau, é a primeira vez que você faz algo
que eu disse. — Ele dá uma cotovelada no meu
braço. — Você tem certeza que está se
recuperando bem? Você não tem danos
cerebrais duradouros?
— Eu estou indo muito bem, idiota. — Dou
um tapa nele, rindo antes de afastar uma
mecha de cabelo do meu rosto.
Jackson coça a parte de trás da cabeça, o
mesmo sorriso engraçado e torto de nossa
infância se curvando em seus lábios. —
Sim. Estive preocupado. — Ele olha o vampiro
mal escondendo sua presença atrás de uma
árvore próxima.
— Juro, eu estou bem.
— Escute, não sei como dizer isso,
Sasha. Mas precisamos conversar.
— Sobre?
— Estive verificando Arsen. E não estou
gostando do que encontrei.
Olho por cima do ombro. Seria um milagre,
mas de alguma forma, eu preciso distrair meu
vigia e encontrar um lugar onde Jackson e eu
possamos conversar sem sermos incomodados
ou ouvidos. Sem pensar, pego a mão de
Jackson e caminho o mais rápido que posso em
direção à biblioteca.
Das minhas excursões anteriores, sei que
será fácil ganhar tempo, já que todo o edifício é
um labirinto de livros e corredores sinuosos.
— O que diabos estamos fazendo? —
Jackson pergunta, confuso e divertido.
— Apenas confie em mim.
Subimos as escadas correndo e
atravessamos os scanners de segurança na
abertura da biblioteca, rindo como
maníacos. Uma vez que tenho certeza de que
temos algum tempo e minha sombra se foi,
puxo Jackson para uma das salas de reuniões
isoladas que os clubes costumam usar para
falar sobre quais serão seus próximos eventos.
Inclino-me e recupero o fôlego para poder
falar coerentemente. — Não tenho muito tempo.
Sobre o que você queria conversar comigo?
— Vou deixar minha pergunta sobre por
que fugimos daquele cara para mais tarde. As
más notícias de Arsen. De acordo com o que
pude descobrir, ele é algum tipo de chefe de
gangue de rua e está em guerra com uma
gangue rival. Eu não acho que você deveria se
misturar com ele. — Jackson mantém a voz
baixa, como se estivéssemos compartilhando
segredos de estado.
Ele não está me dizendo nada que eu já não
saiba. Nikolai passou muito tempo falando mal
de Arsen e me dizendo o quão ruim ele é. O
problema é que o idiota não se olha no espelho
há algum tempo. Sujo falando do mal lavado.
— Obrigado por me informar,
Jackson. Prometo que terei cuidado, mas acho
que posso me cuidar. — Estou amenizando
para que ele afaste um pouco a atitude de
irmão mais velho. Apesar do meu
aborrecimento por suas ações, meu instinto
inicial é confiar em Arsen.
Jackson agarra meus ombros, seus olhos se
fixando nos meus. — Não acho que você
entendeu. Estes são alguns dos homens
perigosos com quem você se meteu. Eu só
quero ter certeza de que você está bem.
Eu o empurro para longe, minhas
frustrações dos últimos dias aparecendo. — Sei
que eles são perigosos, ok! Entendi! Não é como
se pudesse fazer qualquer coisa se eles
decidirem fazer algo contra mim. Pare de pensar
que você tem que ser meu maldito pai!
Os olhos de Jackson se arregalam com a
minha explosão repentina. Ele parece zangado,
mas não ligo. Ele não tem ideia do que tenho
que passar toda vez que volto ao complexo de
Niko. Sou basicamente um maldito rato de
laboratório, voltando ao meu labirinto em busca
daquele pedaço de queijo no final.
— Estou apenas tentando ajudar. — Ele
enfia as mãos nos bolsos e vira a cabeça para
longe de mim. — Você não precisa ser uma
vadia.
— Então sou uma vadia porque não estou
fazendo o que você quer e deixando Arsen? É
disso que se trata, certo? Arsen? — Eu levanto
uma sobrancelha, esperando por sua resposta.
Jackson range os dentes. Sim, eu bati na
tecla. — Não é só sobre ele. Você tem agido de
forma estranha ultimamente. Desaparecendo
por longos períodos de tempo e não atendendo
as chamadas de ninguém. Essa nunca foi você.
Penso nas atitudes que tive depois que
Nikolai me arrastou para fora do complexo de
Arsen, e também de um tempo antes de ser
mordida por um vampiro idiota. Claro, Jackson
pensaria que estou louca se explicasse tudo, e
não quero que Jackson seja colocado em perigo
simplesmente porque quero voltar ao modo
como as coisas costumavam ser.
— Eu só precisava de espaço por um
tempo. Você tem sido superprotetor desde o
final do ensino médio. Eu lhe disse, Jackson,
por mais gentil que você seja, nós sempre
seremos apenas amigos. — É uma coisa
horrível de dizer, e eu sei, mas ele vai me
perdoar. Esperançosamente. E isso vai mantê-
lo longe de mim por um tempo, assim ele estará
seguro.
Ele tinha feito muito por mim quando meus
pais morreram e eu tinha recém chegada em
um orfanato, sozinha no mundo e abalada até o
meu âmago.
— Isso foi baixo, Sasha. Você não acha que
sei disso? Eu estou bem com isso,
realmente. Só não gosto do jeito que Arsen olha
para você. Como se ele estivesse planejando dar
uma mordida em você ou algo assim. É quase
desumano.
Você não tem ideia. Claro, não foi Arsen
quem me mordeu e me transformou em outra
coisa. Arsen é gentil comigo. Ele me trata como
uma mulher de verdade. De certa forma, me
sinto leal a ele.
— Fique longe dele. Estou te
implorando. Não seja tão teimosa lutando
comigo por isso!
É isso aí! Ele não entende e não há como
explicar isso sem colocá-lo em perigo. Para
evitar dizer algo que o machucaria ainda mais,
saio da sala, acenando por cima do ombro,
deixando-o chamar meu nome e ser calado pela
bibliotecária.
Uma vez lá fora, me encontro de frente a
um vampiro muito zangado. Não posso lidar
com outro confronto, então apenas o sigo até o
carro preto que me espera para me levar de
volta ao clã de Nikolai.
Durante todo o passeio, olho pela janela a
paisagem que passa. Minha mente volta para
Jackson. Por mais que tentasse explicar, eu fui
uma vadia completa com ele. Ele só está
cuidando de mim como sempre, mas é teimoso
e difícil de se entender algumas vezes também.
Acho que não posso culpá-lo. Eu me inclino
contra minha mão. Meus pensamentos voltam
para Arsen e seu rosto quando Nikolai me
levou. Eu suspiro.
Nossa, como sinto falta dos dias em que
coisas como vampiros não eram nada além de
um mito.
O carro chega ao clã de Niko, onde o
vampiro da hora está parado na porta, fumando
um cigarro e esperando por mim. Ele está
usando faixas de couro ao redor dos pulsos e
um decote em V baixo, revelando os detalhes de
seu peito sob o tecido apertado. Sua roupa
preferida, aparentemente.
Quando saio do carro, o cheiro doce vem de
encontro com o fresco da chuva da noite
anterior.
— Teve um bom dia na escola, querida? —
Niko sopra outra onda de névoa com cheiro
doce.
— Realmente? Querida? — Eu aceno minha
mão na minha cara para tirar a nuvem doentia
da minha cara. Meus sentidos se tornaram
mais intensos ultimamente, então a fumaça me
deixa doente.
Nikolai ri, tirando da boca e colocando de
volta no bolso. Eu ajusto a mochila no meu
ombro e passo por ele, nossos corpos roçando
brevemente. É o suficiente para fazer minha
pele arrepiar enquanto ao mesmo tempo me
traz conforto. As emoções opostas só me irritam
mais.
— Dia difícil? Você parece chateada.
— Sim, bem, ser tratada como seu projeto
pessoal de bicho de estimação fará isso com
alguém. Sem mencionar, estou constantemente
sendo seguida por uma sombra iminente. O que
não me faz fazer amigos. Aqui, a propósito... —
eu empurro um pedaço de papel em seu peito,
forçando-o a recuar um passo.
Ele examina com cuidado e depois entrega
ao guarda-costas designado do dia. — Ainda
não há indicação de por que você foi capaz de
me curar. A mudança está ocorrendo muito
bem, no entanto. Você conseguiu me empurrar
para trás.
Um grunhido retumba no fundo da minha
garganta. Como o que ele disse é um elogio? Eu
o odeio pelo que ele fez comigo. O que ele ainda
está fazendo comigo. Em vez de brigar, corro
para o meu próprio quarto e bato a porta.
Mais tarde, Nikolai bate na porta. Não
quero entretê-lo, mas não tenho muita
escolha. Seu clã... suas regras. Qualquer um
que o desafie é vítima de seu punho.
— Entre.
Nikolai entra, sem camisa, com um sorriso
largo no rosto.
— Você poderia ser mais óbvio em seus
avanços? Quero dizer, sério. O que você quer,
Niko? Eu tenho um exame e um trabalho de
pesquisa para planejar.
— Só queria ter certeza de que minha
garota estava bem. — Ele fecha a porta e se
senta na cama. — Claro, há o detalhe de você
fugir hoje e deixar o guarda sem saber onde
estava.
Aí está. O famoso motivo oculto. — Eu
queria um pouco de privacidade para conversar
com um amigo sem ouvidos curiosos. Além
disso, voltei para minha babá e estou aqui, não
estou?
Nikolai suspira. — Isso é verdade, mas o
que você fez é inaceitável. Estou debatendo o
que fazer para garantir que você não faça
novamente. Se Arsen ou um daqueles leais a ele
a encontrarem, outros podem pensar que sou
fraco. É provável que você os tivesse seguido de
bom grado.
Agh. Eu não respondo. Ele é tão
ciumento. Sim, Nikolai é bonito. Sim, Nikolai é
suave, mas ele é perigoso e possessivo. E não
de uma maneira divertida e fofa. Há algo mais
com Arsen, no entanto. Eu posso me imaginar
com ele. Talvez até me apaixonando por ele.
Nikolai gira minha cadeira, então eu o
encaro. — Não faça isso de novo, Sasha. Falo
sério. Eu já te avisei antes. Você é minha e eu
mato quem ousa tocar o que é meu. Humano,
vampiro, shifter, eu não ligo para quem são.
Meu coração bate forte no peito enquanto
ele se inclina perto do meu rosto. O cheiro do
hálito dele é uma mistura perigosa de almíscar,
combinado com a doçura do cigarro
eletrônico. Ele se concentra em mim, estudando
minha reação.
Um sorriso suave percorre seus lábios. —
Além do mais, — ele acaricia meu rosto com os
dedos, — como vou garantir que minha garota
esteja segura se ela fugir de mim?
É preciso todo controle que tenho para me
forçar a não dar um tapa nele.
Arsen, pense em Arsen. Eu forço minha
mente a focar nas palavras de Arsen. Sua
promessa de me proteger. Não importa o que
aconteça, não vou ceder a Nikolai.
Não posso.
E a próxima chance que tiver, vou sair
daqui.
CAPÍTULO 9

Cada canto do labirinto faz meu coração


tremer e minha garganta fechar. Eu tive
sorte. Todos os novos corredores até agora
estão desertos, mas quanto mais perto chego da
superfície, maior a probabilidade de encontrar
os guardas de Nikolai. Não tenho ideia de como
alcançar a luz do dia.
Essa é a pior parte de ser a "convidada" de
um mestre vampiro. Eu realmente não tenho
certeza se é dia ou noite, ou há quanto tempo
estou aqui. Cada novo corredor espelha o
anterior, piso de pedra, paredes de
paralelepípedos e pendentes de luzes nos tetos
altos, lançando seu brilho suave e amarelo na
escuridão.
Não perca a cabeça, Sasha. Uma pequena
voz na minha cabeça me leva à ação, e eu faço a
curva, quase chorando de frustração ao atingir
meu terceiro beco sem saída pela hora que
estive procurando.
Olho para o relógio analógico que minha
mãe me deu para minha formatura no ensino
médio, um caro ouro rosa com algarismos
romanos e um minúsculo diamante no
meio. Eu gostaria que ela tivesse me dado um
tipo barato com um calendário em vez de um
diamante, ou melhor ainda, gostaria de ter meu
telefone.
Não que isso possa ajudar. Quando acordei
na cama king size e olhei em volta, meu telefone
estava sobre a mesa ao meu lado. Nikolai me
pegou tentando ligar para a polícia e me
informou que estávamos tão profundos no
subsolo, para conseguir qualquer sinal. Mas
isso não o impediu de pegá-lo da minha bolsa
quando ele saiu.
Volto rapidamente, correndo para
compensar o tempo que perdi enquanto minha
mente volta para o meu quarto. Eu retrocedo
meus passos três voltas e vou para a direita, em
vez de para a esquerda, rezando para que a
sensação de subida não seja apenas minha
imaginação.
Mas a cada passo, meus pés continuam
parecendo mais pesados e, a poucos metros,
estou exausta e me permito sentar e descansar,
minhas costas suadas pressionadas contra a
parede de pedra fria. Levante-se. Levante-
se estúpida, eles vão te pegar. Eu sei que tenho
que me mover, mas meu corpo está tão pesado
como se houvesse uma pedra ao meu redor, e
eu não suporto.
Minha mente me puxa de volta para os
devaneios, onde me sento em uma poltrona
pesada perto da lareira no meu quarto. Mas, de
repente, a pedra à minha frente começa a
oscilar e a se mover, até que uma porta aparece
na minha frente.
Rastejando, atravesso o corredor e corro
minha mão pela superfície de madeira até meus
dedos fecharem sobre a maçaneta
antiga. Exultante, eu me levanto e giro a
maçaneta, tropeçando para a frente no espaço
além. Uma fogueira acende e vejo as ricas
cortinas dos meus aposentos nas paredes, a
roupa de cama de cetim em que dormi, as duas
cadeiras de veludo cor de vinho ao lado da
lareira, até meu telefone e bolsa sobre a mesa
entre eles.
— Oh meu Deus, não. — Eu me viro para
escapar, mas a porta está fechada. A maçaneta
mal se move na minha mão e eu afundo no
chão. O que diabos aconteceu?
— Você tem sorte de eu ficar de olho em
você, Sasha. E se um dos meus tivesse chegado
até você antes de mim? — Nikolai sai das
sombras perto da parede das estantes de livros
que examinei quando estava sozinha.
— Eu pensei que você era o mestre deles,
Niko. — Seu rosto se contrai quando o chamo
de Niko, então faço isso de novo. — Quero dizer,
Niko, garoto Niky, você é o chefe aqui, ou não é?
Um arrependimento instantâneo flui
através de mim com a raiva piscando em seus
olhos, mas me levanto e empurro meus ombros
para trás, devolvendo seu olhar.
— Adorável Sasha, seus líderes humanos a
forçam a obedecer às leis que eles fazem?
— Bem, consequências se os humanos
violarem a lei.
Sua risada não é assustadora, é quente e
viva, e eu me odeio pelo calor que se acumula
no meu estômago ao ver o sorriso sexy que a
acompanha. — Há consequências se meu povo
também quebrar minhas leis. Mas eles estão
doentes e você mantém a cura. A tentação
existe em toda tribo, até na minha.
O aviso envia um arrepio pela minha
espinha e eu largo minha bravata. Estava quase
fora, eu sei. O que aconteceu comigo? — Ele me
indica uma cadeira para me sentar. — Eu não
posso, Nikolai. Só quero ir para casa.
Ele tira o paletó e o coloca sobre a mesa,
depois se senta perto da lareira, esperando por
mim. Fico lá o máximo que posso, mas ele tem
a paciência de alguém de cem anos que sabe
que tem todo o tempo do mundo e todo o poder
também.
Não quero ir até você, seu maldito
egomaníaco.
— Então por que você não pegou a saída no
final do corredor, em vez da porta que a trouxe
de volta aqui?
Tropeço para trás ao pé da cama. — Eu não
disse isso em voz alta, Nikolai. O que diabos
você está fazendo na minha cabeça? Além
disso, foi claramente uma curva errada. Não é
como se pretendesse ficar. Eu estava
procurando uma saída.
— Eu bebi seu sangue, Sasha. Você não
assistiu nenhum filme de vampiro? Depois de
provar você, posso encontrá-la em qualquer
lugar, entrar em seus sonhos e até fazer você
ver coisas que não estão lá.
Como uma porta aparecendo no meio de
uma parede. Ele ri, e eu procuro algo para jogar
nele. — Saia da minha cabeça, Niko. Por que
diabos esperaria que você se comporte como
num
filme? São filmes. Ficção. Entretenimento. Você
não deveria ser real.
Ele se inclina para frente para aquecer as
mãos no fogo. — Mas eu sou real, não sou? —
Foda-se. Até minha voz interna admite que
perdi. Eu me junto a ele, sentando na outra
cadeira com os pés dobrados debaixo de
mim. Não sei por que, mas a aura de perigo que
ele emana me faz querer dobrar meu corpo
inteiro em uma bola como um tatu, para que
não haja peças que ele possa arrancar.
Por outro lado, quando não me concentro
no terror natural que ele exala, mal consigo
encontrar a força para me impedir de não
rastejar em seu colo. Ele ri, a risada grave
alimentando o pequeno fogo no meu núcleo
— Eu disse para você sair da minha cabeça,
Niko. — Eu odeio saber que ele está na minha
cabeça novamente, gostando tanto do meu
desejo quanto do meu medo.
Seu suspiro é uma resposta inesperada,
quase humana para mim e eu esqueço que
estou evitando-o, olhando para ele surpresa. —
O que seria tão errado em ceder ao meu
charme?
— Controle da mente não é charme,
Niko. Nem você pode ser tão arrogante.
Desta vez, sua risada é cheia e rica. Pura
alegria zumbe em minhas veias em resposta ao
seu prazer. — Você está certa?
Eu suspiro e me abraço. — Não, eu não
estou. Na verdade, — suspiro, irritada comigo
mesma enquanto um sorriso que não consigo
impedir se transforma em uma risada, — foi
uma coisa boba a se dizer.
— Mas você não respondeu minha
pergunta. Você realmente quer me evitar, ou
quer seguir seu desejo e ver aonde ele leva?
A coisa mais difícil que fiz desde que me
encontrei neste lugar é olhá-lo nos olhos, mas
devo enfrentá-lo. Eu encontro o seu olhar. Seus
olhos azuis escuros aparecem pretos à luz do
fogo, refletindo tudo, menos eu.
— Por quê? Quero dizer, — eu xingo
baixinho e pisco rápido para limpar a cabeça, —
não sabia que era mais do que comida... acho
que remédio... para você.
— Você é linda e não tem sido fácil
controlar você, o que eu respeito.
Eu zombo e volto para o fogo, a conexão
quebrada mais por seu ego do que por minha
força para fazer sozinha. — Você realmente
sabe como virar a cabeça de uma garota, Niko.
Ele está fora de seu assento tão rápido que
minhas mãos envolvem meu pescoço para me
cobrir, mas ele anda atrás de mim, seus passos
tão silenciosos que apenas ao me virar e olhar
em sua direção me convence de que ele está se
movendo.
Para trás e para frente, dez passos na
minha linha de visão, depois atrás de mim
novamente, até me perguntar se realmente o
pressionei demais. Ele finalmente fala
novamente, sua voz cuidadosa, medida. Se ele
fosse humano, eu pensaria que ele estava
nervoso, mas é claro, isso é ridículo.
— Você pode escolher seu próprio
companheiro, se desejar, entre nós.
— Bem, já que todos os outros que conheci
aqui tentaram me matar, isso não me deixa
muita escolha, não é? — Eu me abraço de
novo. Não importa se ele é autoconsciente ou
apenas se entretém. De qualquer maneira, sei
que é uma manipulação.
— Meu clã está junto há muito tempo. Você
gostaria de ser entretida por nós enquanto
estiver aqui? — Niko se ajoelha na minha frente
antes que eu perceba que ele não está mais
andando. Meu coração pula na garganta e
seguro os braços da cadeira até estar certa de
que minhas unhas fincam através do
estofamento de veludo.
— Enquanto estou aqui, tipo, para sempre?
— Eu sufoco a piada fraca, e ele balança a
cabeça.
— Você quer ir, eu vou tirar você daqui. Eu
te disse, você é minha convidada. Mas sair sem
escolta é suicídio e, francamente, há maneiras
menos dolorosas de morrer do que ter sua
garganta arrancada por um vampiro convertido.
Solto o aperto dos nós dos dedos brancos e
coloco as mãos no meu colo, esperando parecer
calma, mesmo sabendo que ele pode ouvir meu
coração batendo contra a minha caixa torácica.
— Então, posso ficar e me divertir, o que
aparentemente inclui sexo com o vampiro de
minha escolha, ou posso sair e ir para casa?
— Prefiro que você vá embora, que vá para
casa, Sasha. O que quer que esteja no seu
sangue, preciso poder te encontrar rapidamente
quando precisar de mais. — Ele sorri para mim,
e é quase humano, sem truques de controle da
mente, sem intimidação. Por um piscar de
olhos, ele é apenas um cara muito gostoso
ajoelhado aos meus pés na frente de uma
fogueira, parecendo um namorado perfeito.
Mas pisco, e a imagem se foi, substituída
pela cautela feroz que estou acostumada a ver
nos olhos dele, do tipo que você vê de um lobo
quando olha através da cerca alambrada de um
cercado de zoológico. Ele não está ameaçando,
apenas me medindo, esperando com essa
quietude totalmente sobrenatural por uma
resposta.
— Eu preciso ir, Nikolai. Tenho
responsabilidades no laboratório, provas finais
a serem feitas. — Eu lambo meus lábios, me
sentindo louca pelo que vou dizer. — Mas no
laboratório, posso fazer alguns testes, descobrir
o que há de diferente em mim.
Com velocidade vertiginosa, seu rosto está a
centímetros do meu e eu suspiro, engasgando
com um grito de medo. — Se você encontrar
alguma coisa, traga para mim. Ninguém mais.
— Seu clã não é o único com o vírus,
Niko. —Eu o empurro no peito, e ele espera um
pouco antes de me dar mais alguns centímetros
de espaço, como se quisesse me lembrar que
não tenho poder aqui.
— Cuidamos de nosso pessoal que
mostrava sinais da doença, mas pode haver
mais que comecem a adoecer, — ele me lembra,
como se as marcas de punção ainda em
cicatrização no meu pescoço não fossem
suficientes para garantir que eu me lembrasse.
— Você voltará para mim se te convocar, e você
não se entregará a mais ninguém.
Eu empurro, forte o suficiente para que,
embora ele não se mova, a cadeira o faça, e isso
me dá espaço para me afastar dele. Inspeciono
o quarto enquanto procuro as palavras para me
tirar da prisão ricamente decorada, mas tudo o
que vejo é o brilho da luz da lareira nas
encadernações de couro das centenas de livros
que só comecei a ler.
— Eu não pertenço a você, Nikolai, mas não
quero vampiros convertidos percorrendo minha
cidade ou meu campus. — Pego um livro da
prateleira e folheio, imaginando em que idioma
está escrito. — Então, se eu tentar fabricar uma
cura real que não inclua me secar, você me
deixará ir e vir como quiser?
Um sorriso sombrio e inteligente desliza por
seu rosto enquanto ele se inclina contra a
lareira, obviamente satisfeito consigo mesmo. —
Claro, você pode ir e vir como quiser. Vou
manter este quarto disponível para você.
Com um sentimento de desânimo, percebo
seu mal-entendido. O constrangimento sobe do
meu pescoço até o meu rosto, e de repente fico
grata por não ter exigido que as luzes fossem
acesas.
— Não coloque ninguém para fora apenas
para meu benefício, Nikolai. Eu simplesmente
quero poder retornar e apresentar minhas
descobertas e, se tiver muita sorte, talvez uma
vacina ou pelo menos uma cura...— Minha voz
diminui e seu sorriso predatório se amplia.
— No entanto, você tem um lugar aqui, e se
qualquer necessidade ou curiosidade te trouxer
de volta, desejo que você se sinta confortável.
Eu não respondo, mas minha mente gira
com a estupidez de fazer promessas de cura
para o único vampiro que não me deixará
compartilhar a cura com mais ninguém, se eu
puder encontrá-la.
Não importa a cura, estúpida, a voz racional
na minha cabeça me castiga quando Niko me
leva para um corredor limpo e brilhante que
não se parece com os antigos corredores de
pedra que pensei ter navegado em minha
tentativa de fuga fracassada. Você simplesmente
coloca sua sanidade mental e sua vida em risco
porque um vampiro lhe dá arrepios.
Nikolai ri e eu me concentro em manter
minha mente o mais vazia possível.
Estou nisso agora e sei que Nikolai não me
deixará sair do meu acordo até que ele consiga
tudo o que quer de mim, incluindo o próprio
sangue correndo pelas minhas veias. Eu só
quero uma chance de guardar um pouco disso
para mim.
CAPÍTULO 10

As persianas estão fechadas na mansão à


beira-mar, mas agora que sei quem está lá
dentro, é mais apreensivo do que das vezes que
passamos, imaginando festas de
celebridades. Nunca me senti tão exposta como
de costas para a estrada antiga, olhando
fixamente para uma porta que poderia ter um
inimigo do outro lado em vez de um amigo.
Sim, você tem muitos amigos entre os
mortos-vivos, Sasha. — Você sabe, — murmuro
baixinho, — estou ficando muito cansada de ter
uma consciência tão presente.
Não posso nem culpar Nicolai pela erupção
de conversas internas que tive ultimamente. Eu
sempre falei comigo mesma, desde
criança. Essa voz me ajudou a discutir através
de equações científicas e escolhas
difíceis. Ultimamente, é apenas um pé no saco
e, infelizmente, eu começo a deixar ela saber.
O primeiro sinal de insanidade...ela me
lembra.
— Eu sei ...estar falando consigo mesma.
Ou asindo com vampiros... a propósito. Eu
até sorrio, embora não deva ser engraçado. É
engraçado, no entanto, de um jeito suicida,
viciado em adrenalina, mergulhando no paraíso
sem paraquedas, de maneira nada humorística.
A porta abre uma fresta e vejo um olho
prateado olhando de volta para
mim. Maravilhoso. Pela primeira vez em algum
tempo, não estou em conflito. Claudette olha
para mim por uma eternidade sem falar e,
tardiamente, percebo que deveria ter saído
depois dos primeiros dez segundos.
— Eu preciso falar com Arsen,
Claudette. Ou vá buscá-lo ou me deixe entrar,
por favor. — Apenas vá buscá-lo, apenas vá
buscá-lo, apenas vá buscá-lo. — Agora,
Claudette. Isso é importante.
— Você disse que ir era uma opção, então
vá embora. Arsen não iria querer você, mesmo
que você não fosse as sobras sujas de Nikolai
agora. — Ela olha para a cordilheira acima de
nós, como se medisse a quantidade de luz solar
que resta. Arsen segue a programação noturna
dos vampiros, dormindo durante o dia e ficando
acordado a noite toda. Não demorou muito para
que ela pudesse atender a porta. — Eu deveria
te matar agora, mas estou me sentindo
generosa.
— Generosa sobre o que, Claudette? —
Uma voz rouca atrás dela faz ela arregalar os
olhos. Eu sufoco o sorriso porque quero abraçar
esse vampiro por pegá-la assim. — Sasha? Por
favor, entre. Vou chamar o mestre para você.
Claudette desaparece da fresta da porta e a
abre, deixando eu e a pequena luz do sol ainda
rastejando sobre o canto noroeste da parede
composta entrar para dentro da casa. O
vampiro do sexo masculino inclina o pescoço
para o topo da escada que leva ao nível
subterrâneo, e eu agradeço enquanto empurro
meu cérebro para lembrar o nome dele.
— Jacob, certo? — Ele assente e eu sorrio.
— Obrigado, Jacob. Agradeço a ajuda.
A porta bate atrás de mim e eu
silenciosamente xingo-me por pular. Eu sei o
que esperar com essa vampira. Ela está com
raiva, é cruel, e uma batida na porta é o menor
dos insultos dela. Mas Jacob desapareceu lá
embaixo, e eu estou presa com Claudette até
Arsen chegar.
— Ouça, Claudette, acabei de sair da
faculdade, estava no laboratório. Eu preciso
conversar com Arsen sobre a doença. Onde ele
está?
Ela zomba e revira os olhos para mim antes
de caminhar em direção à biblioteca da
mansão. — Vamos lá, você pode esperar
aqui. — A biblioteca é quase tão grande quanto
a biblioteca da cidade, cheia de livros em mais
idiomas do que eu imaginava, de textos antigos
a romances modernos e inúteis.
É o meu espaço favorito na mansão, e uma
razão pela qual me arrisco a aparecer no
complexo de Arsen depois de ser expressamente
proibida por Nikolai. Quem gosta de livros o
suficiente para colecioná-los assim, não apenas
os antigos por valor, mas todo tipo de livro para
leitura, não pode ser tão ruim.
A sala está escura, a única luz que vem de
um abajur na mesa perto das quatro cadeiras
de leitura do outro lado da sala enorme. Eu a
sigo até as cadeiras e ela se vira e caminha de
volta por onde viemos, nem mesmo olhando na
minha direção.
— Porra, Claudette, o Arsen sequer está
aqui? Ele deixou o país e eu simplesmente não
sabia? Por que acredito que você vai apenas
dizer a ele que eu saí e nunca deixá-lo saber
que estou aqui?
Ela gira e está na minha frente antes que
eu perceba. — Não me teste, garota. Eu poderia
arrancar sua cabeça tão facilmente quanto
quebrar um palito de fósforo.
Eu zombo e levanto um pouco o queixo. —
Grande conversa. Então, por que você não faz?
Claudette olha furiosa para mim, seu corpo
naquele nível terrível de quietude que apenas os
mortos podem alcançar. — Nunca deixa de me
surpreender o quão ignorantes os seres
humanos são diante de suas próprias
fraquezas.
— Diz a garota que depende do sangue de
outras pessoas para sobreviver. — Estou
pressionando-a, e minha voz interna grita na
minha cabeça para parar, mas já tive o
suficiente de suas ameaças. Eu sei que a
sobrevivência da raça vampira é importante
demais para Arsen ou Nikolai para deixarem me
matar sem matá-la também.
Ela não ataca, mas balança nos
calcanhares e cruza os braços sobre o peito. —
Há quanto tempo você está esperando para
usar essa frase em um vampiro?
Eu tusso e dou uma risada às minhas
próprias custas, grata por ela estar mais calma
agora. — Francamente, muito tempo. Estou
cansada de ser constantemente lembrada de
que sou fraca, — digo, contando com os dedos,
— sem importância e tão valiosa quanto o
cheeseburger do McDonald's. — Bato no meu
pulso com dois dedos. — Esse sangue salvou
você, salvou Nikolai e seu clã. Não acredito que
tenho que implorar pela minha vida para
alguém que, apesar de ter centenas de anos,
ainda usa maquiagem como nos anos oitenta.

— Por que você está insultando Claudette,
Sasha? — Arsen pergunta. Ele está bem por
cima do ombro de Claudette, e seu sorriso me
diz que ela o ouviu chegar...porque, é claro, ela
sabia.
— Eu me recuso a ter minha vida
ameaçada toda vez que me ofereço para ajudá-
lo, Arsen. Se não estou segura aqui, por que
devo continuar trabalhando no vírus para você,
em vez de obedecer a Nikolai e ficar afastada?
— Olho por cima do ombro de Claudette e ela
muda de postura para bloquear minha visão.
De repente, ela cai fora do caminho e
quando ela pula, sibilando, Arsen mostra suas
presas para ela, enviando-a para a porta tão
rápido que ela é um borrão pálido para
mim. Ele me oferece um assento e, percebendo
que minhas pernas se transformaram em
macarrão, eu aceito, afundando no couro com
um suspiro, espero que ele não perceba.
— Por que você está aqui? Você sabe que
não está segura aqui? Por que você viria, e
sozinha? Você deseja uma morte precoce?
Mordo o lábio, magoada por ele estar com
raiva de mim por ser corajosa o suficiente para
me arriscar, em vez ele se orgulhar de mim. —
Uau. Você e Nikolai têm muito mais em comum
do que pensam, sabe. Talvez eu possa reunir
vocês dois, vocês podem sentar, beber meu
sangue, compartilhar histórias sobre quão
estúpida acham que sou...
— Eu não acho você estúpida. Acho que
você é... ingênua ao pensar que os vampiros
não vão prejudicá-la porque seria melhor para
eles. Eles já foram humanos, você sabe. A
autodestruição é tanto uma tentação aqui
quanto no seu campus.
Torço os dedos em meu colo, sem saber
agora por que vim. Ainda não encontrei nada
conclusivo. Certamente teria sido mais esperto
esperar até que o fizesse, para arriscar a ira de
Nikolai.
— Niko não quer que compartilhe a cura
com seu clã. Sinceramente, pensei que nunca
sairia daquele lugar. Acordei esta manhã não
tendo certeza de que tinha saído mesmo
enquanto atravessava o campus para minhas
aulas.
Arsen pega minha mão e alisa o polegar
sobre as costas dos meus dedos. — Eu sei que
você teve um momento terrível e estou feliz que
você veio até mim. Como foi ser cativa dentro da
casa dele? Como você escapou?
— Eu não fiz, na verdade. Ele me deixou ir.
— Mas, você tentou escapar, e ele
simplesmente deixou você sair pela porta? —
Arsen me pressiona para obter detalhes, mas
ainda não tenho certeza de que estava fora da
sala ou se a fuga foi uma piada elaborada que
Niko fez pra mim. Eu suspeito do último, e digo
a Arsen.
— Corri por um labirinto de túneis de pedra
e nunca cheguei à superfície. Mas, quando
pensei que estava perto da liberdade, voltei ao
meu quarto novamente.
— Esses túneis de pedra...havia muitas
portas ao longo deles? Como uma prisão, talvez,
com buracos de visão, ou algo mais simples?
— Não me lembro de haver portas, — eu
respondo, minha ansiedade crescendo. — Eu
senti como se estivesse em um labirinto.
Ele me puxa e me pressiona contra seu
peito, onde inspiro seu perfume, algo
amadeirado e o cheiro de menta da respiração
que cada vampiro exala constantemente, e
muito fracamente, por baixo, o cheiro metálico
do cobre. O cheiro de sangue. Arsen comeu
antes de vir para mim.
— Parece muito terrível. Você viu pelo
menos uma porta? Você tem certeza de que não
levou à superfície?
— Oh, Deus, eu não sei! Não suporto
pensar que estava tão perto e me rendi.
Ele beija o topo da minha cabeça, alisando
meu cabelo, e imagino o contraste do meu
cabelo em sua pele, fazendo meu coração bater
e meu pulso acelerar.
— Mas ele te levou para fora, você disse? E
dessa vez ele deixou você ver tudo? Sem jogos
mentais ou corredores sem fim?
Olho para ele, confusa. — Isso realmente
importa? — Por que isso Importa?
Ele beija minha têmpora, minha bochecha e
seus lábios escovam minha boca uma vez, duas
vezes, antes de me beijar seriamente,
explorando minha boca com sua língua e
dentes até eu choramingar e me agarrar a ele,
provando-o e pressionando meu corpo contra o
dele, até ele me levantar. Envolvo minhas
pernas em torno dele para obter estabilidade
enquanto meus dedos passam por seus cabelos.
Minha mente está perdida pelo desejo,
exceto por uma pequena voz que não me deixa
esquecer que sou apenas humana e nos braços
de um predador, não importa como tente
impedi-la de falar. Estou nos braços de um
vampiro que se alimentou recentemente. Ele me
beija enquanto o sangue de outro corre por
suas veias. Em algum momento num futuro
não muito distante, esse pequeno detalhe vai
me fazer gritar.
Mas, por enquanto, afasto o aviso e me
deleito com seu toque, sua pele fria contra meu
rosto e pescoço quentes, o gosto de menta e
vinho e até o cobre em sua língua. Porque a
pequena voz dentro da minha cabeça está
certa. Eu já estou louca.
CAPÍTULO 11

A porta de metal se abre, a força é tão


poderosa que quase arranca as dobradiças.
Uma batida ecoa contra as paredes de
concreto do complexo. Eu me viro de Arsen e
observo à criatura que está na porta. Os olhos
queimam atrás de mim e o resto dos membros
do clã assobiam. Os Anciãos olham
resignados. É Nikolai.
Suas presas brilham, seus olhos
resplandecem com poder sobrenatural
enquanto ele examina os rostos dos outros
vampiros e lhes dá um sorriso diabólico. O
sangue corre pelas minhas veias e minha visão
borra de raiva. Ele arqueia uma sobrancelha
quando entra no complexo, esfrega as mãos
para tirar o pó delas e solta uma risada
pequena e profunda enquanto olha para mim.
— É tão bom vê-la novamente, coelhinho.
Uma língua vermelha e brilhante sai de
seus lábios finos e corre por longos caninos
brancos enquanto seu olhar cai sobre mim
como um gato em um rato. Minha mente
dispara, a imagem das minhas mãos rasgando
aquele sorriso em seu rosto bonito, girando na
minha cabeça repetidamente. Essa
palavra, coelhinho, me traz de volta aquela
noite. A memória do mesmo rosto, contorcido
em um ser monstruoso quando ele atacou e me
mordeu, não para de piscar em justaposição
com a fantasia de matá-lo.
— Você é uma verdadeira merda, sabia
disso? — Escapa dos meus lábios antes que
possa impedir. Um forte aperto pousa no meu
ombro e olho para trás para ver Arsen se mover
ao meu lado em um piscar de olhos. Seus olhos
escuros são duros, mas seu rosto é simpático.
— Deixe-me cuidar dessa... fera.
Ele muda o comportamento em um
instante. Olhos e o rosto que me mostraram
compaixão agora fervilham enquanto estudam
Nikolai. Os dois têm um olhar tenso. Sinto a
fúria de Arsen quando ele mexe o ombro para
trás e estala o pescoço, afiando as garras e os
caninos ficando longos. Seu rosto forte com
uma sobrancelha definida se estreita. Sua
mandíbula está rígida e eu vejo os músculos se
contorcendo quando ele se impede de atacar
Nikolai.
— O que você quer? Você sabe que não é
bem-vindo aqui.
As palavras estalam como um chicote. Mas
isso apenas faz o sorriso tímido no rosto de
Nikolai se expandir.
— Um Provokar, é claro. Venha agora,
Arsen, achei que você teria adivinhado no
segundo em que entrei pela porta.
— Um o quê? — Eu pergunto.
— Basicamente, uma luta pelo direito de
ser seu companheiro, — afirma Arsen.
Eu não gosto do som disso. Ser meu
companheiro só pode significar uma coisa, e
não quero que seja uma merda de jogo. O rosto
de Arsen fica mais sombrio, suas presas
alongadas e ele solta um rosnado animalesco,
seus olhos brilhando intensamente nas
sombras deste complexo. Sua raiva se torna
algo novo. Faz meu estômago ficar em nós e os
cabelos na parte de trás do meu pescoço
ficarem arrepiados. Seja o que for, não é bom.
— O que diabos ele está falando?
Os olhos de Arsen se afastam de Nikolai e
encontram os meus. — Ele quer reivindicar
você como dele.
— Mas você já pediu isso para mim. E
aceitei. Então ele não pode simplesmente entrar
e tentar fazer uma reclamação, certo?
— O Provokar é a única maneira de
contestar uma reivindicação formal. — Arsen
esfrega a mandíbula, claramente frustrado.
Minha pele queima me deixando suada
quando as palavras ecoam em minha mente,
incapaz de compreender o conceito. Eu não sou
um maldito pedaço de propriedade que podem
bater no peito e me levar no final, pendurada
nos ombros. Minha respiração fica presa nos
pulmões, queimando enquanto tento
respirar. Músculos tensionam quando a
adrenalina corre para todas as fibras do meu
ser, o cérebro zumbe enquanto se esforça para
entender isso. Definitivamente não vou ser
propriedade de Nikolai, de jeito nenhum. Pensei
que Arsen trocar sangue comigo terminaria com
a reivindicação de Nikolai sobre mim, uma vez
que me transformasse completamente. Claro,
ele encontraria uma brecha.
— Não. De jeito nenhum. Não vou aceitar
isso.
Nikolai solta uma risada alta. Ele bate os
pés e dá um tapa no joelho quando a
gargalhada enche a sala fria e interminável.
Arsen fecha os olhos e solta um suspiro. —
Você não tem escolha, Sasha. É a nossa lei.
Dane-se a lei dos vampiros.
— Na última vez que verifiquei, pude fazer o
que diabos quisesse. Eu me recuso a tomá-lo
como meu...— Meu estômago agita com a
palavra "companheiro", incapaz de deixar
passar pelos meus lábios. — ... qualquer
coisa. Nem se incomode. Eu não vou fazer isso.
Cada membro do clã está de olho em
mim. Algumas vampiras do grupo me dão um
olhar silencioso de pena e outras me olham sem
emoção. Elas estão tentando me dizer para
desistir, para não resistir. Muitas delas
provavelmente já estiveram aqui antes, seus
companheiros não escolhidos, mas
forçados. Elas permanecem rígidas em seus
espartilhos e vestidos de gola alta, lembrando-
me de animais acorrentados. Eu não faço
contato visual. Não posso deixá-las me distrair
ou me fazer pensar duas vezes sobre isso.
Os homens estão frios, seus rostos pálidos
contra os ternos preto e cinza. Seus olhares são
vazios, e seus olhos estão mortos. Percebo
agora que isso não os envolve. Será apenas
entre Arsen e Niko. Ninguém vai ajudar se o
líder vacilar. Eles estão por conta própria.
Os Anciãos assistem com as mãos
cruzadas. A pele deles é quase translúcida,
delicada como seda e coberta com roupas
requintadas de veludo vermelho e preto, além
de joias de prata, ouro e diamantes. Não sei ler
os Anciãos; acho que ninguém pode. Seus olhos
são tons de ouro, azul, verde e âmbar, o silêncio
resignado me faz tremer. Eu me pergunto que
poder está escondido por trás desses disfarces.
Nikolai se aproxima de mim com passos
lentos e sinuosos. Sua postura é relaxada e
calma. Isso tudo é um jogo para ele. Ele pisca
para Arsen, que apenas fecha o punho
enquanto espera o oponente fazer um
movimento.
Ele se inclina para perto enquanto fala. —
Sasha, você não quer voltar para casa
comigo? Fui eu quem lhe deu esse presente tão
divertido e poderoso. Você poderia pelo menos
dizer "obrigado". Não te mataria mostrar um
pouco de apreço, coelhinho?
É como um soco no estômago. Não acredito
que ele pensa que devo algo a ele quando quase
me matou. Quando matou meus
colegas. Pessoas inocentes.
— Na verdade, quase morri. Então sim,
muito obrigada por tentar arrancar minha
garganta!
— Não seja tão dramática. — Seu sorriso se
amplia, e ele me dá um olhar de simulada
simpatia. — E realmente, o prazer foi todo meu.
O rosnado no meu peito me
surpreende. Ainda estou conseguindo controlar
esses novos poderes e o que fazem
comigo. Meus sentidos ganham vida quando eu
saio em defesa. Minha visão é nítida para que
todos os detalhes entrem em foco. Vejo a veia
pulsando sob a pele no pescoço de Nikolai, e
uma mosca preguiçosamente zumbe no teto
acima. Gotas de água brilham nas paredes
geladas de pedra. Cada ligeiro movimento
sussurra no meu ouvido: o raspar de um
sapato, o farfalhar de tecido contra a carne, o
som do tráfego a quilômetros de distância e o
sangue que pulsa através daqueles que me
rodeiam.
Arsen coloca a mão no meu ombro
novamente, sua presença me trazendo de volta.
— Nikolai, o que você quer com
Sasha? Você teve todas as chances quando a
transformou e levá-la. Porque agora?
— Eu sou criador dela. Preciso de outro
motivo?
— Sim, você com certeza precisa. Ser
criador dela não te dá direito sobre a Sasha. Até
você sabe disso.
Nikolai se vira para o clã e os Anciãos. Seu
sorriso idiota não saiu de seu rosto quando ele
levanta uma mão e gesticula para mim como se
estivesse apresentando um troféu. — Simples,
Arsen. Como já disse antes, ela me
curou. Sasha tem poder em suas veias.
Um murmúrio percorre os seguidores e os
Anciãos, seus sussurros me inundando. Uma
menção ao vírus envenenando vampiros e a
energia muda imediatamente na sala. O medo é
tangível. Para aqueles que pensam que evitaram
a morte, a realidade de enfraquecer e perder a
cabeça os assusta. Aparentemente, eles não
acreditaram nele pela primeira vez, mas dizê-lo
pela segunda vez significa alguma coisa.
— Você quer usá-la?
— Eu procuro me aliar a ela, da mesma
forma que você.
Nikolai aprecia a atenção em meu
nome. Ele me circunda enquanto observa os
outros com um olhar poderoso. Meus dedos
estalam enquanto meus olhos queimam em seu
crânio. Seus cabelos loiros e olhos azuis-
celestes dão a ele a aparência de um anjo,
um anjo caído que se enredou com o diabo.
— Você não precisa reivindicar Sasha no
Provokar para acessar a cura. Se o sangue de
Sasha tiver a chave, vou compartilhar tudo o
que descobrir com os Baetal.
— Um gesto nobre, Eskandar. Mas não é
bom o suficiente. — Nikolai encolhe os ombros.
— Eu já deixei minhas intenções claras. Eu
quero um Provokar.
Arsen se vira para mim com um longo
olhar, seus olhos brilhantes são quase
impossíveis de ler. Não acredito que as antigas
regras dos vampiros estão prestes a determinar
meu destino.
— Não precisa ser assim. — Arsen tenta
convencer Nikolai pela última vez, mas sei que é
em vão. O bastardo narcisista não pode ser
influenciado.
Ele suspira. — Essa conversa se tornou
tediosa.
Arsen o estuda com olhos duros e frios.
— Você vai aceitar o desafio ou não,
Arsen? Não tenho o dia todo para esperar seu
rosto bonito tomar decisões difíceis.
Quero que Arsen diga a Nikolai para se
foder. Que diga "Danem-se as regras" e pare
com toda essa loucura. Mas ele não faz.
Arsen dá um passo à frente com a mão
estendida e aperta a de Nikolai. — Sim, vou
aceitar o desafio.
Foda-se não.
Avanço entre os dois e com uma força além
da compreensão, os afasto. Eles tropeçam para
trás, pegos de surpresa pelo meu movimento
repentino e perturbação da tradição. Caio de
joelhos no centro da sala. Não consigo
recuperar o fôlego. Inspiro com força e cerro os
dentes com o estranho desconforto que me
envolve. Estou tão cheia de energia poderosa
que meu corpo zumbe como um motor
superaquecido, pronto para queimar.
Todos os olhos caem em mim.
Os Anciãos me encaram com perplexidade,
então uma mulher mais velha no centro se
levanta lentamente.
Seu cabelo é branco, mas seu rosto é mais
branco. Seus olhos são verdes como cristal, as
rugas apenas começaram a aparecer nas
têmporas e ao redor da boca, mas sei que ela
tem séculos de idade. Seu pescoço contém um
grande colar preto e esmeralda, e a renda traça
as bordas de sua forma por baixo do vestido da
virada do século. Eu me pergunto se ela tinha
isso antes de ser transformada.
— Alguém mais quer lutar pela mão de
Sasha?
Sua voz é como um pássaro da manhã de
primavera, leve e arejado, as notas delicadas e
fortes.
Eu me levanto e endireito meus ombros
enquanto a encaro bem nos olhos. — Sim, eu.
Suspiros e sussurros ondulam através do
clã novamente. Estou mexendo com minha
resistência, mas não me importo. Não estou
aqui por eles. Estou aqui para sobreviver e vou
fazer do meu jeito.
Arsen dá um passo à frente e descansa a
mão em mim mais uma vez, mas dou um passo
para trás com um sorriso de escárnio. Sua testa
franze e seu corpo fica rígido de frustração. —
Não funciona assim. Você não tem permissão
para lutar por si mesma.
Nikolai dança atrás dele empolgado, sua
energia tão ilimitada quanto seu rosto
radiante. Ele bate palmas e solta um grito de
alegria. — Essa garota é um foguete! Mal posso
esperar para te levar para casa, Sasha.
Eu dou um passo para trás, precisando
colocar distância entre mim e eles. — Você
deseja, Nikolai. Não vou deixar ninguém me
levar para casa.
Arsen cruza os braços, seus cabelos
escuros caindo naqueles olhos azuis brilhantes
enquanto ele tenta argumentar comigo. — Não é
tão simples assim. Por lei, você não pode
participar dessa luta. Eu sinto muito.
— Quem diabos diz que ela não pode lutar?
— A voz de Nikolai cresce com uma sensação
inexplorada de emoção. Minha contraoferta o
intriga.
Arsen se vira, um rosnado nos lábios
enquanto descobre aquelas presas icônicas.
— As leis pelas quais vivemos. Deseja
discutir com isso, Nikolai? — Seu tom é duro
enquanto se demora no nome de seu oponente.
Nikolai bate nos lábios e esfrega as mãos
em um frenesi. — De fato, eu desejo. Em
nenhum lugar está escrito que ela não possa
lutar por si mesma. Só porque nenhuma outra
mulher teve a coragem de fazê-lo, não significa
que não possa ser feito.
Eu inspeciono a sala, mas ninguém
encontra meu olhar desta vez. Sou a primeira a
fazer isso? Outras deixaram seu destino ser
determinado por séculos? O pensamento me
deixa mal do estômago, e a poderosa
necessidade de lutar cresce mais e mais forte
dentro de mim.
— Ele está certo, Arsen. A lei não afirma
que ela não pode lutar por si mesma. Deixe-a
fazer isso. Qual o pior que pode acontecer?
A voz é provocadora, mas agradável. Vejo
Claudette, a jovem matriarca do clã e ex-
consorte de Arsen. Seus olhos dourados caem
sobre mim, seu sorriso com uma fome
curiosa. Não posso lê-la, incapaz de dizer se ela
está do meu lado, torcendo para que vença, ou
se ela quer me ver sendo estraçalhada por
diversão. Mas a declaração não cai em ouvidos
surdos. Os Anciãos concordam e acenam com
as mãos para que continuemos.
Arsen e Nikolai me encaram. Nikolai lambe
os lábios com alegria. O pensamento de lutar
comigo, vencer e me levar para casa para ser
toda dele o deixa muito feliz e encantado. Arsen
balança a cabeça. Seus olhos revelam a
verdadeira preocupação escrita em seu rosto,
seus ombros caem em derrota quando ele
percebe que não vou conseguir sobreviver.
Em que diabos me meti?
CAPÍTULO 12

— Sasha!
Eu ignoro Arsen enquanto ando em direção
ao meu quarto, medo, emoção e raiva correndo
pelo meu sangue. Declarar que participarei do
desafio foi bom. Certo. Como se eu finalmente
estivesse assumindo o controle. Não vou deixar
ninguém estragar isso, nem mesmo o Arsen.
Mas quando chego ao meu quarto, ele me
segue, batendo a porta atrás dele. Ela quica e
ele a empurra, xingando baixinho.
— O que você está pensando? — Ele exige.
— Você tem alguma ideia do que fez? — Ele
anda mais perto de mim, com as mãos nos
quadris.
— Além de trazer esse clã atrasado de volta
ao século XXI? — Eu pergunto, virando-me
para encará-lo. — Você realmente achou que eu
ia deixar você e Nikolai brigarem por mim como
um par de homens das cavernas?
— O Provokar é perigoso! — Arsen me
agarra pelos ombros. — Você pode se
machucar, até ser morta!
— Você também, — eu indico. — Talvez
você devesse ter pensado nisso antes de aceitar
o desafio estúpido de Niko!
— Eu não tive escolha. A tradição dos
vampiros...
— A tradição dos vampiros pode ir à merda!
— Eu digo, revirando os olhos. — É uma
tradição antiquada há mil anos e é ainda mais
arcaica agora! Ninguém decide para onde vou
ou com quem estou, apenas eu! — Grito a
última parte, minha frustração por esta
situação, nos últimos dias, fervendo.
— Eu pensei que você tinha decidido, — diz
Arsen, seu aperto de ferro nos meus ombros se
soltando, deslizando para segurar minhas mãos
gentilmente. — Eu pensei que você tinha me
escolhido.
Um lampejo de culpa estraga minha raiva
vitoriosa, a dúvida brigando com minha
felicidade atrapalhada por seu desejo por mim.
— Não é como se eu fosse escolher Niko. E não
tem nada a ver com o que sinto quando estou
com você, Arsen. É sobre ter o direito de fazer
minhas próprias escolhas. Ninguém possui isso
além de mim.
— Se eu ganhar este desafio, — diz ele,
inclinando-se para mais perto, uma mão
tocando minha bochecha para chamar minha
atenção de volta para ele, — Nikolai não terá
mais direito a você. Você finalmente estará
segura para ficar aqui comigo. Não é isso que
você quer?
Não posso responder honestamente porque
não tenho certeza. Gosto de Arsen, gosto
mesmo. Mas não o suficiente para ter certeza de
que quero estar acorrentada a ele e ao seu clã
pelo resto da eternidade. Não é como casar com
alguém e ter sogros loucos por cinquenta
anos. Para sempre é um pouco mais literal
neste caso.
— E se você perder? — Eu odeio considerar
isso, mas Nikolai não me parece o tipo de cara
que perde graciosamente ou joga de maneira
justa. Eu não duvidaria que trapaceasse. Arsen
pressiona beijos gentis na minha bochecha e
mandíbula.
Ele ri, seus lábios roçando minha pele. —
Não existe um universo onde Nikolai possa me
derrotar, — diz ele com total confiança. Ele me
olha seriamente, sua expressão intensa. —
Especialmente não com você na disputa.
— E se você ganhar? — Eu pergunto, o que
o faz fazer uma pausa. — Eu quero estar com
você. Mas se você vencer, não vou me juntar ao
seu clã porque te escolhi. Não vou escolher
nada. Você terá forçado minha mão. Da mesma
forma que Niko quer me forçar a estar com ele.
Não é o que quero, Arsen. Eu não escolhi esta
vida.
Arsen encontra meu olhar firme por um
momento, seus olhos em conflito.
— E o que você quer, Sasha? — Ele
pergunta finalmente, passando os dedos pelos
meus cabelos.
Eu olho para ele, tentando encontrar as
palavras para explicar como me sinto presa e
descontrolada. Aprender que os vampiros são
reais virou meu mundo inteiro de cabeça para
baixo. Não há mais realidade em que me ater,
nenhuma ciência sólida a que possa me agarrar
para ter certeza do que é real e do que não é.
Alguém poderia entrar pela porta agora e
me dizer que a Terra é plana e que está sendo
transportada pelo espaço nas costas de uma
tartaruga gigante, e eu teria que lhes dar o
benefício da dúvida, porque, neste momento,
tudo é possível.
E agora me disseram que meu futuro, um
futuro que agora inclui a vida eterna, será
decidido por um confronto medieval entre dois
caras que eu conheço há apenas alguns dias, e
que não tenho nada a dizer sobre isso.
Arsen não conseguia entender por que isso
não é aceitável para mim? Ele também não teria
lutado se fosse colocado nessa posição? Mas
não sei dizer tudo isso. E mesmo que eu
soubesse, não sei o que fazer sobre isso. Não é
tão simples quanto escolher Arsen ou Niko.
Eu quero a opção de escolher nenhum dos
dois. Quero poder me escolher, ou alguém que
ainda não conheci. Eu quero ver para onde as
coisas vão com o Arsen. Quero aprender com
Nikolai. Quero escolher um por um tempo e
depois poder mudar de ideia em alguns meses,
anos ou séculos. Quero mostrar o dedo aos dois
e ir viajar pela Ásia. Não quero ficar presa a
uma decisão emocional impulsiva pelo resto do
maldito tempo. Quero explorar meus novos
poderes, meu novo eu. Quero ser humana
novamente e ignorar todo esse lixo confuso.
Eu quero cem coisas diferentes. Quero
liberdade.
— Eu não sei, — digo finalmente.
Os dedos de Arsen deslizam pelos meus
cabelos até a parte de trás do meu pescoço e ele
me puxa para mais perto em um beijo suave e
terno, mantido por dois batimentos cardíacos
perfeitos.
— Retire-se do desafio, — ele sussurra
contra os meus lábios. — Escolha-me aqui, hoje
à noite. Todo o resto é apenas uma formalidade.
Ele não entende, e não posso fazê-lo
entender. Em vez disso, eu o beijo novamente e
o empurro em direção à cama. Ele entende isso
como um sinal de rendição e não como um
truque para distraí-lo, enquanto suas mãos se
movem ansiosamente para apertar meus
quadris. Não quero mais pensar nisso. Eu só
quero ser abraçada. Para esquecer tudo por
apenas um tempo.
Seus beijos se movem para a minha
garganta, o roçar de seus dentes me fazendo
tremer. Minhas coxas pressionam juntas,
excitação crescente. Deslizo minhas mãos sob
sua camisa, traçando as ondulações de seus
músculos. Para um humano, sua pele pode ser
fria ao toque, mas para mim é o calor perfeito.
Seus dedos acariciam minhas costas,
depois deslizam para baixo para apertar minha
bunda, enviando uma breve onda de calor
através de mim antes que ele me levante, me
deitando na cama. Ele leva um momento para
se ajoelhar na beira da cama, olhando para
mim. Admirando seu prêmio, talvez. Eu tento
não deixar o pensamento estragar o momento,
porque ele é absolutamente sexy visto daqui.
— Beije-me, — eu sussurro.
O deslizar de sua língua de veludo contra a
minha é uma promessa deliciosa. Ele segura
meu rosto em suas mãos, polegares acariciando
minhas bochechas. Ele está sendo muito gentil,
indo muito devagar. Estou quase tentada a
dizer para ele ser mais duro, mas isso também
é bom, esse cuidado atencioso.
Ele desliza minha blusa por cima da minha
cabeça e dá beijos na parte superior dos meus
seios, o toque de suas mãos atormentando
através da renda do meu sutiã. Ele passa um
dedo sobre o meu mamilo e eu arqueio minhas
costas, pressionando-me em seu toque.
Talvez eu não deva fechar os olhos. Talvez
seja bobagem deslizar para um lugar escuro e
saborear o som de sua respiração enquanto
seus lábios percorrem minhas clavículas, para
frente e para trás e depois para o centro do meu
peito. Minhas costelas doem. Meu coração bate
forte contra elas como um tambor enquanto ele
pressiona o fluxo ao resto do meu corpo. Seus
beijos salpicados bem no meu coração, nos
meus pulmões, expulsando minha respiração
em um pequeno choque.
Abro meus olhos e ele está lá, vejo o topo de
sua cabeça, seus cabelos macios escondendo
seus olhos e suas feições enquanto ele se move
para baixo, traçando um beijo quente e lento
sobre meu corpo, meu estômago e meu umbigo,
demorando um pouco. Em um momento, como
se estivesse provocando arrepios. Solto uma
mão, acaricio sua bochecha e me esforço para
encontrar palavras. Não há nenhuma. Não
agora.
O pensamento dele beijando um pouco
mais abaixo é bom, mas não é o que eu quero
agora. Eu o puxo para cima de mim. Preciso ver
os olhos dele, ver a emoção lá. Roubo um beijo,
faminta e desesperada, tentando abafar as
dúvidas que ainda estão no fundo da minha
mente. Eu ignoro tudo e agarro-o com força, as
mãos apertando seus ombros, minhas costas
arqueando, cedendo ao desejo animalesco
batendo no meu peito, deixando-o dominar a
parte de mim que ainda quer pensar demais.
Estendo a mão, os dedos mexendo em sua
cintura enquanto ele deixa beijos impacientes
sobre minha garganta e ombros. Aperto suas
coxas, puxando-o para mais perto. Ele balança
em mim, moendo, e de repente as roupas são as
coisas mais odiosas do mundo. Se eu não
remover as camadas entre nós imediatamente,
vou perder a cabeça.
— Sasha... — ele diz para mim com um
rosnado baixo, como fumaça suave subindo ao
meu redor. Ele tira outro gemido de mim
enquanto balanço contra ele. — Sasha...
Eu me mexo, levantando meus ombros da
cama por tempo suficiente para que seus dedos
encontrem e soltem o fecho do meu sutiã. A
gravidade o deixando cair, suas mãos
apertando, deixando beijos ansiosos sobre a
pele recém-exposta. Mas estou longe de estar
satisfeita, ainda lutando para tirar as calças
dele. Mas ele não está cooperando, contente em
me tocar, em beijar cada centímetro da minha
pele, como se pudesse passar a noite toda me
adorando. Ele ainda está tentando me
convencer a ficar, desistir e ser dele, e
maldição, eu não quero ser convencida
agora. Quero ser fodida!
— Pare de enrolar, — eu digo com um
gemido. — Quero você dentro de mim.
Ele balança a cabeça para mim. — Ávida.
— Decidida, — eu retruco.
— Impaciente, — ele diz.
Deslizo minha mão em suas calças para
mostrar a ele o quão impaciente estou,
apertando-o um pouco mais forte do que
provavelmente deveria. Ele está quase derretido
na minha mão e estou desesperada para senti-
lo queimando dentro de mim.
Ele geme, sua respiração quente contra a
minha garganta. — Sedutora.
Sorrio contra sua garganta. Eu o peguei
agora.
Eu empurro suas calças para baixo, meu
aperto em volta dele é mais suave agora. A pele
macia de seu pênis é como seda sobre
mármore. Então agarro sua bunda, arrastando-
o contra mim, o calor dele moendo contra meu
estômago nu intoxica meus sentidos. Ele não é
um homem pequeno, e o peso dele é uma das
coisas que mais amo nisso. O corpo dele foi
feito para o meu. Nós nos encaixamos como
peças de quebra-cabeça.
— Eu amo o seu peso em cima de mim. —
Envolvo minhas pernas em torno dele e mexo
meus quadris.
Ele se esforça para remover meu jeans,
revelando a calcinha simples que estou usando
por baixo e de repente me sinto um pouco
envergonhada. Talvez devesse ter investido
naquelas chiques de renda da Victoria's
Secret. Mas ele não se importa com elas, a
julgar pela maneira como ele se anima contra
mim como se não pudesse se conter,
manchando o algodão com seu pré-gozo.
— Eu amo a visão de você embaixo de mim,
me querendo. Querendo isso. — A fome em
seus olhos me emociona.
Ninguém nunca me quis tanto. Assim
desesperadamente.
Pelo menos, acho que ele me quer. Por um
momento, minhas inseguranças voltam a
rugir. Mas ele rola seus quadris nos meus e me
distrai completamente.
Eu arqueio para ele, balançando em seus
movimentos, faminta por qualquer atrito,
qualquer proximidade. Talvez isso seja
apressado e burro. Talvez eu esteja cometendo
um erro. Mas isso é bom demais para ser
arruinado por minhas preocupações
tolas. Envolvo um braço em torno de seu
pescoço e o puxo para um beijo esmagador
enquanto ele arrasta minha calcinha para
baixo. Há um momento, nossos membros se
enrolando enquanto ele tenta tirar minha
calcinha sem separar nossos corpos, quando
me sinto tão ridiculamente, ingenuamente
humana. Irônico, considerando que não sou
mais. Eu rio, e ele me beija, sorrindo contra
meus lábios.
— O que é? — Ele pergunta, esfregando a
cabeça de seu pau contra o meu centro
molhado, afastando-se quando meus quadris se
movem para cima, buscando mais do seu
toque.
Balanço a cabeça, incapaz de responder
quando ele está fazendo isso. Ele ri e continua
provocando minha entrada com apenas a ponta
do seu pau. Eu gemo, gananciosa por ele.
— Seja paciente. — Ele me cutuca,
esfregando as mãos para cima e para baixo nas
minhas coxas.
Eu respiro fundo e sinto o cheiro de
rosas. Acho que é o sabão que eles usam nos
lençóis aqui. É idiota e romântico e me sinto
como uma colegial idiota, como se realmente
pudesse escolhê-lo, escolher estar aqui e ser
dele, e deixar o resto ser uma formalidade.
Seu corpo nu e o meu emaranham-se e nos
movemos juntos como correntes no
oceano. Aprecio o calor dele contra minhas
dobras, deslizando entre elas, antes de estender
a mão para direcioná-lo, para me abrir para ele.
— Tão molhada para mim. — Ele exala
enquanto desliza para casa e minha respiração
para, meu coração batendo no meu peito.
— Mmm, sim. — Aprecio cada segundo do
deslizar lento, a pressão e o alongamento, a
deliciosa plenitude, o peso e o calor dele dentro
de mim. Minhas mãos percorrem seus ombros e
costas, procurando algo entre seus músculos
para me agarrar, me apegar e me
estabilizar. Estou voando, tonta.
— Arsen. — Eu suspiro o nome dele em
êxtase.
— Eu sei, querida, eu sei. — Ele se move,
balançando mais fundo, e eu me movo com ele,
levando-o para dentro.
Há uma música presa na minha cabeça,
uma balada folclórica acústica indie. — Hoje,
somos o mar e o ritmo, — cantarola na minha
cabeça. Estamos nos movendo como as marés,
como a batida suave de uma canção de
amor. Ele ainda é tão lento, tão gentil. Ainda
tentando me convencer. Mas ele já ganhou. Eu
não posso estar aqui, não posso levá-lo dentro
de mim, e não acredito que é exatamente onde
eu deveria estar. Eu poderia deitar aqui em
seus braços, em sua cama, para sempre.
Ele não se apressa e os minutos se
prolongam pelo que parece uma eternidade. O
movimento lento, a onda de prazer. Mas a maré
tem que vir eventualmente.
— Arsen, estou tão perto. — Ele acelera, o
ritmo vacilante, a mão no meu monte, o polegar
fazendo círculos sobre o meu clitóris enquanto
ele empurra mais fundo, mais forte,
sussurrando meu nome em voz baixa como
uma oração e uma maldição.
— Porra, Sasha. — Ele me beija com fome.
— O jeito que você aperta ao meu redor. É tão
bom. — Ele morde o lábio e, por um momento,
fico com ciúmes por não ser eu que mordo. Eu
me inclino, substituindo seus dentes pelos
meus e lambendo sua boca, bebendo como se
fosse um bom vinho.
Ele angula seus quadris, atingindo aquele
ponto indescritível dentro de mim, e a onda de
calor me aproximando do êxtase. Sua mão e os
últimos movimentos de seus quadris me fazem
explodir e ele xinga novamente quando eu
aperto em volta dele, minhas coxas apertando
seus quadris, cavalgando as ondas de prazer.
— Isso mesmo, Sasha, querida. Goze pra
mim. — Ele murmura algo mais contra a minha
pele o que parece ser fica comigo, mas não
tenho certeza. Ele bombeia dentro de mim,
beliscando meu pescoço e depois ele para, seu
gozo quente bombeando dentro de mim.
Enquanto recupero o fôlego, ele deposita
beijos no meu rosto e ombros. Lentamente, ele
se retira, deixando-me tristemente vazia sem
ele. Mas enquanto ele se deita ao meu lado, me
puxando para seu peito, o bater do coração
contra a minha bochecha, sei que não será por
muito tempo.
Temos todo o tempo do mundo.
CAPÍTULO 13

Acordo no meio da manhã no dia seguinte,


Arsen ainda dormindo profundamente ao meu
lado. Apenas uma lasca de luz pálida filtra
através das cortinas opacas nas janelas. A casa
está silenciosa, quase todo mundo está
dormindo durante o dia. Ainda não estou
acostumada à agenda noturna de vampiros e
meu ciclo biológico acha que agora é a hora de
estar acordada. Bocejo e saio da cama,
procurando roupas e me vestindo
silenciosamente. Enquanto estiver acordada,
também posso pesquisar.
Eu tinha visto a biblioteca do complexo
outro dia e estava esperando por uma
oportunidade de invadir. Eles estão
estabelecendo esses desafios estúpidos
Provokar há séculos, então é provável que haja
alguns registros sobre eles. Dicas que me
ajudarão a garantir que eu ganhe minha
própria mão.
A biblioteca fica em seu próprio prédio
pequeno, do outro lado dos jardins. Felizmente,
o caminho para ela é coberto. A chuva no
noroeste do Pacífico chegou e hoje está
chuviscando. O edifício é uma bela construção
renascentista gótica, completa com uma
quantidade desnecessária de pináculos e
janelas ornamentadas com vitrais. No interior, o
silêncio é quase reverente, como entrar em uma
igreja. As pesadas prateleiras de carvalho,
profundas e altas, com armários fundos e
rendilhados entalhadas no topo, assemelham-
se a bancos e confessionários dispostos em um
labirinto no piso de pedra da biblioteca.
Espero ficar sozinha, chegando a essa hora
do dia. Mas só estou dentro por um minuto
quando vejo outra pessoa. Dois homens de
batina preta, como padres, aparecem por entre
as prateleiras, carregando livros e conversando
baixinho. Eles param quando me veem e o mais
jovem dos dois dá um sorriso, tirando a mão
dos livros para acenar.
— Que incomum! — Ele diz. —
Normalmente não recebemos visitantes a essa
hora. Não é, Ancião Smythe?
O Ancião Smythe resmunga irritado. E
tento conter o sorriso ao entusiasmo do jovem e
ao comportamento mal-humorado de seu colega
mais velho. Ele parece estar com cinquenta e
poucos anos, mas ainda bem, digno, com
cabelos grisalhos e uma carranca. O
companheiro dele é apenas um pouco mais
novo e me lembra um professor por quem tinha
uma queda no ensino médio. Ele tem um rosto
gentil, responsável e cabelos castanhos com
cinza nas têmporas.
— Desculpe se estou interrompendo alguma
coisa, — eu digo, levantando minhas mãos para
provar que sou inofensiva. — Eu esperava
encontrar algumas informações sobre o
Provokar? Alguma dica sobre por onde começar
a pesquisar?
— Ah sim. — O homem mais jovem limpa a
garganta, sorrindo, embora suas bochechas
estejam tingidas de um rosa claro de vergonha.
— Ouvimos algo sobre isso.
Ah, tenho certeza que sim. Clãs de
vampiros, estou aprendendo, fofocam na
velocidade da luz.
— O que o Ancião Farrow quer dizer é que
todo o complexo já ouviu, — diz o Ancião
Smythe com um escárnio, — como você cuspiu
na tradição com aquela exibição ridícula.
Oh, Jesus, aqui vamos nós. Outro vampiro
indigesto enraizado na tradição. — Não acho
ridículo querer determinar algo no meu futuro,
— respondo defensiva.
— Teremos o maior prazer em ajudá-la a
encontrar o que precisa, — diz o Ancião Farrow
rapidamente, pisando na frente de Smythe. —
Como a mais nova membro de nosso clã, é bom
que você se interesse por nossa história.
— Ainda não faço parte do seu clã, —
indico.
— Bem, ainda. — O Ancião Farrow ri um
pouco.
— Sim, eu sei. Ainda. — Esfrego a parte de
trás do meu pescoço, trabalhando os nós de
tensão lá. — Desculpe, não tive a intenção de
ofender. Muitas coisas estão acontecendo
ultimamente. — Dou de ombros, oferecendo um
sorriso de desculpas.
— Eu entendo. Juramos proteger, preservar
e compartilhar o conhecimento nesses
corredores. Até para um agente livre não
declarado como você, — responde Farrow.
— Se eu não largar esses livros em breve,
vou preservar e compartilhar algumas palavras
bem escolhidas sobre sua mãe, — o Ancião
Smythe reclama com um olhar furioso para
Farrow.
Eu rio, rapidamente cobrindo minha boca
para escondê-la quando o olhar astuto de
Smythe cai sobre mim.
Eu sigo os dois homens enquanto eles se
apressam pelas prateleiras para uma área
aberta próxima, onde várias grandes mesas de
madeira estão dispostas para o estudo. O
Ancião Smythe suspira aliviado ao jogar sua
pilha de livros em uma e cai em uma
cadeira. Ele tira um par de óculos pequenos,
arrasta um livro aberto já sobre a mesa em
direção a ele, então pega o primeiro livro do
topo da pilha e se põe a trabalhar anotando
algo sobre ele em um livro.
Ele parece já ter esquecido completamente
minha presença. O Ancião Farrow larga os
livros e faz um gesto para eu segui-lo
novamente.
— Perdoe o Ancião Smythe, — diz ele. — Ele
tem uma mente do século XV. Literalmente.
Transformado em 1492, creio. Claro, isso não é
desculpa, mas nós, anciãos, ocasionalmente
temos alguma dificuldade em acompanhar o
mundo em transformação.
— Sim, eu pude ver isso. — Eu olho para o
veloz ancião. Ele move pilhas de livros sem
sequer olhar para eles, sua atenção em mim
enquanto continua falando.
— O Ancião Freeman está nos implorando
para atualizar para um catálogo de livros
digitais há uma década, mas os outros não o
usarão. Levaram tempo suficiente para aceitar o
Sistema Decimal de Dewey. Embora, com toda
a justiça, os computadores ainda me causem
arrepios, então eu provavelmente não os usaria
se tivéssemos.
Concordo com a cabeça, mordendo o lábio
para não rir de sua velha frase. Computadores
lhe dão arrepios. Só posso imaginar como seria
uma espiada dentro do meu laboratório para
ele. Provavelmente algo fora de um pesadelo.
— O Ancião Garret já teve uma ideia de
manter pássaros treinados para recuperar e
guardar os livros novamente. Corvos,
provavelmente. Apenas coisas grandes e
inteligentes o suficiente. Mas então o Ancião
Ulysses mencionou quem seria o responsável
pela limpeza dos pássaros, e essa discussão
durou três meses e levou o Ancião Tevan a se
retirar para sua tumba pelos próximos cem
anos. Nós nunca conseguimos pássaros. Oh,
isso está na seção errada. É a última vez que
deixamos o Ancião Timothy cuidar da reposição
sozinho. — Ele divaga, e eu absorvo tudo o que
está dizendo. Parece que esses anciões brigam
como um bando de velhinhas em um círculo de
tricô. É encantador.
Enquanto o Ancião Farrow conversa, ele me
leva pela biblioteca, tirando livros das
prateleiras, frequentemente sem verificar se ele
pegou o livro certo. Suponho que depois de
trabalhar na mesma biblioteca por centenas de
anos, você a conhece muito bem.
— Você sabe o que aconteceu da última vez
que ele colocou uma coleção inteira de etiqueta
formal de Baetal na seção zoológica? — O
Ancião Farrow sussurra em indignação.
Eu não pude evitar uma pequena
risada. Balanço a cabeça. — Não, me diga.
— Ele achou uma piada divertida, —
continua o Ancião, — até que estávamos
organizando um jantar para o príncipe Baetal e
o insultando com um ajuste de mesa
inapropriado. Não vejo um jantar tão desastroso
desde o jantar de Samhain quando o Ancião
Rothbart tentou preparar o porco assado
inteiro, o Élder Israel não gostou disso, e deixou
o Ancião Rothbart saber, com tanto entusiasmo
que o porco negligenciado pegou fogo e queimou
a cozinha.
— Ah não. Espero que ninguém tenha se
machucado.
Farrow desconsidera com um aceno. —
Tivemos que usar a cozinha da casa principal
até que ela fosse reparada e o Ancião Corbin,
que cozinha para a maior parte dos Anciãos,
estava fora de si porque nunca trabalhou em
uma cozinha moderna com micro-ondas e água
corrente e tal, e vou lhe dizer que pedimos
muitas pizzas naqueles dias...
Sua capacidade de saltar de um tópico para
outro sem nenhuma contribuição minha era
incrível e, para ser sincera, um alívio. Estava
muito cansada e estressada para ter conversas
complicadas agora. Ele tagarela em um fluxo
interminável de consciência, sua dissertação
sobre a vida cotidiana dos Anciãos. Eu o
sintonizo, preocupada com a enorme pilha
crescente de livros em seus
braços. Eventualmente, ele me leva de volta
para as mesas.
— Isso deve servir, — disse ele, colocando-
os em uma mesa aberta. — E o Ancião Smythe
e eu estaremos aqui trabalhando no inventário,
se precisar de ajuda.
— Oh, obrigada. Eu não poderia ter
conseguido isso se você tivesse me dito onde
encontrá-los.
— Hmph. — Ancião Smythe não presta
atenção, com o nariz firme no livro. — Se você
me perguntar, uma garota como você poderia
ser muito melhor usada em outro lugar.
— Desculpe? — Eu pergunto, levantando
uma sobrancelha.
Ancião Farrow suspira profundamente. —
Não dê ouvidos a ele, — diz ele, levantando a
mão para impedir a resposta do Ancião Smythe.
— Ele ainda não tomou seu café.
Ancião Farrow pega um grande bule de café
forte e escuro, e o resmungo do Ancião Smythe
diminui um pouco. Ele serve uma xícara para
mim também, e eu me sento na pesada mesa de
madeira para começar a ler.
Não é exatamente algo emocionante. Você
pensaria que duplas lutando de forma
dramática com amor na jogada fariam uma
leitura emocionante. Mas estudiosos e
historiadores de vampiros parecem ser o tipo de
pessoas particularmente secas. Eles estão
menos interessados no drama humano do que
em catalogar detalhes materiais tediosos, como
listas exaustivas de participantes, genealogias
densas dos concorrentes e relatos
irritantemente específicos dos custos gastos e
suprimentos adquiridos para a cerimônia e
depois das celebrações. Aparentemente, são
assuntos muito importantes em um ponto.
— Ah, eu lembro dessa, — diz o Ancião
Farrow, lendo a página em que estou por cima
do ombro enquanto ele enche meu café. — Que
festa! Smythe estava lá também. Ancião
Smythe, lembra-se de quando Redmond e
Hawthorne brigaram por Jocasta, a Ruiva? Ah,
ela era gloriosa. Os dois pretendentes já haviam
lutado contra uma dúzia de outros antes
mesmo de chegarem à arena.
— O que aconteceu? — Eu pergunto,
fechando o livro. Uma fofoca em primeira mão
provavelmente será melhor do que lê-la.
— Oh, foi fenomenal, — diz Farrow com um
suspiro. — Havia seis gansos assados inteiros
no banquete. A corte inteira estava presente, e o
príncipe do clã de Hawthorne, além de sua
corte. Mal podíamos acomodá-los todos!
Tento esconder minha frustração e me
pergunto calmamente se Farrow é responsável
por escrever este livro. Provavelmente,
considerando que as descrições longas
combinam com sua tagarelice.
— E o desafio real? — Eu pergunto,
interrompendo sua descrição arrebatadora dos
talheres. — O que aconteceu durante a luta?
— Bem, existem três partes para esses
desafios, — diz o Ancião Farrow, acariciando
sua barba, pensativo. — A primeira competição
é escolhida por quem aceitou o desafio. Creio
que Redmond escolheu arco e flecha, pelo qual
ele era renomado. É raro os desafiados não
ganharem a primeira competição, mas
Hawthorne estava determinado a vencer todo o
desafio. Ele venceu por um fio de cabelo e com
extremo esforço, o que o colocou em
desvantagem para o segundo desafio:
tradicionalmente, o segundo é determinado pela
dama em disputa, que naturalmente escolhe
um que favorece o homem que ela prefere. Você
vê, ela tem alguma opinião!
— Pouca, — eu murmuro. — Então, são
melhores dois em três?
— Nem sempre, — diz o Ancião Farrow com
um gesto ambíguo. — Jocasta era a favor de
Hawthorne e, portanto, o segundo desafio era
de esgrima, seu preferido. Mas ele havia se
esforçado demais no primeiro desafio e
Redmond estava praticando esgrima em
segredo, antecipando a escolha de Jocasta.
Hawthorne ainda conquistou a vitória, mas só
por pouco.
— Então ele ganhou? — Eu pergunto,
ficando confusa. Mas o Ancião Farrow balança
a cabeça. Bato meus dedos contra a mesa para
não gritar com ele para chegar ao ponto.
— Independentemente de quem vence as
duas primeiras competições, os desafios sempre
prosseguem para a terceira. Um duelo
tradicional. Dentes e garras são padrões,
embora não seja inédito usar armas se os
duelistas concordarem com uma. Agora,
geralmente, o duelo não é até a morte. No duelo
um homem pode vencer por nocaute e, se ele
perdeu os dois concursos anteriores, ainda
perderia o desafio. Mas embora o objetivo não
seja matar o seu concorrente, é aceitável fazê-
lo. Se você perdeu os dois desafios anteriores, é
sua única chance de vitória.
— Espere, então, mesmo se você vencer os
dois primeiros desafios e perder o terceiro, você
perde, não importa o que aconteça? Qual é o
sentido dos dois primeiros desafios, então? —
Por que isso é tão assustadoramente
complicado? Eles podiam fazer como no velho
oeste. Ficar de costas com costas com seu
adversário, andar dez passos, girar e o primeiro
a puxar o gatilho vence. Simples. Pronto.
— Ah, espere por isso. Como foi com
Redmond e Hawthorne. O tolo Hawthorne
achou que a batalha havia sido vencida porque
ganhou as duas competições anteriores. Ele
não acreditava que seu rival tentaria matar e,
tão descuidado, se exauriu antes do duelo. Ele
não estava em condições de defender sua vida
quando chegou a hora, e Redmond arrancou
sua garganta.
Eu faço uma careta, imaginando, e os
resultados para a pobre Jocasta. A eternidade
com o homem que matou o cara por quem você
estava apaixonada. Quem diabos achou que era
uma boa ideia? Balanço a cabeça para limpar a
imagem.
— Houve outras mulheres desafiantes? —
Eu pergunto.
— Houve algumas mulheres desafiantes,
mas nenhuma competindo por suas próprias
mãos. — O Ancião Farrow confirma. — Eu
estava presente quando Genevieve, de
Whitehall, lutou com a Boa Sarah por Thomas
D'arte. Eu não estava autorizado a observar, é
claro. Para preservar a modéstia da dama, o
duelo era restrito às mulheres. Mas participei
do banquete quando Sarah saiu vitoriosa. Foi
um escândalo para os Whitehall e elogiado
como uma maravilhosa história de
amor. Embora me digam que o ardor de
Thomas por Sarah foi um tanto atenuado por
todas as novas cicatrizes...
Bem, merda. Eu acho que alguém teria que
ser a primeira. Eu esperava um ponto de
referência para o que está por vir.
— E as competições? — Eu pergunto. —
Que tipo de coisas as pessoas escolhem para os
dois primeiros?
— Geralmente é um tipo de esporte
clássico, — diz o Ancião Farrow com um
sorriso. — Eles entram e saem de moda. Por um
tempo foram corridas, depois lançamentos de
discos, depois saltos. Mas pode ser qualquer
coisa que os concorrentes escolham, na
verdade. Genevieve escolheu a dança de salão
para seu primeiro desafio. Sarah perdeu esse.
Mas, no segundo, Thomas escolheu a
tecelagem. Genevieve nunca havia bordado
nada em sua vida. Ela nem sabia como operar
um tear. Sarah a humilhou. — Ele encolhe os
ombros descuidadamente.
— Há alguma limitação? — Eu pergunto,
minha mente já está fugindo com várias ideias.
— Apenas as de senso comum, — responde
Farrow. — Deve ser algo que possa ser
alcançado praticamente por dois competidores
em um período de tempo razoável e produzir
um resultado que possa ser medido para
determinar um vencedor claro. Fora isso, o céu
é o limite. Vi um Provokar memorável em que o
homem desafiado escolheu engolir espada como
o primeiro concurso! Artista de circo
profissional, você sabe. Uma das únicas vezes
que conheço que nunca foi para um duelo.
— Por quê? — Eu pergunto, curiosa. — O
desafiante desistiu?
— Oh não, — diz Farrow com uma risada.
— Isso teria sido humilhante. Ele tentou engolir
a espada, o que foi previsivelmente
desastrosamente errado. Infelizmente para ele,
ele não estava ciente de que seu rival usava
lâminas revestidas com nitrato de prata para
drama adicional. Ele morreu de maneira
espetacular. Houve alguma discussão sobre se
isso fez de seu rival o vencedor, considerando
as circunstâncias incomuns. Alguns até o
acusaram de trapacear, revestindo suas
lâminas dessa maneira, o que teria, é claro,
invalidado sua vitória. Mas ele engoliu a mesma
espada que o desafiante e pôde provar que ele
usava aquelas mesmas lâminas em todos os
seus shows, para que os juízes não
encontrassem falhas.
Recostei-me, bebendo meu café enquanto
considerava o que aprendi. Pelo que li e nos
relatos do Ancião Farrow, a morte é possível em
qualquer rodada, mas geralmente ocorre
apenas durante o duelo final. Matar seu
oponente é desencorajado, mas acontece cerca
de um terço do tempo, o que me preocupa
profundamente.
Arsen e Niko não se gostam. E eu realmente
não quero ver nenhum deles morto, mesmo que
Niko seja um idiota inflamado na maioria das
vezes. Mas, presumivelmente, estarei lá durante
o duelo final também, e serei capaz de impedir
que as coisas fiquem letais.
O que importa mais é vencer os dois
primeiros desafios. Vou ter que descobrir o que
Arsen está escolhendo para o primeiro concurso
e me preparar para isso. Mas espero escolher o
segundo. Precisa ser algo que definitivamente
vencerei e nenhum deles terá chance. O que
não será fácil. Provavelmente não vou conseguir
que alguém concorde com um concurso de
pesquisa de proteínas com um microscópio.
Pego outro livro e me acomodo mais na
minha cadeira para continuar estudando. Eu
vou descobrir alguma coisa. Não importa o que
Arsen diga, mesmo que eu fique com ele no
final, essa será minha escolha. Eu vou ganhar
essa coisa mesmo que isso me
mate. Literalmente ou figurativamente.
— Você sabe, — o Ancião Farrow diz em voz
baixa, chamando minha atenção, — ainda pode
ser mais sensato você se retirar disso.
Dou-lhe um olhar severo e ele levanta as
mãos em sinal de rendição.
— Não estou sugerindo que você não esteja
certa em ter voz no resultado, — diz ele
rapidamente. — Só que me preocupo com o
resultado se você vencer. Se você for vitoriosa,
se recusar os dois e seus clãs, permanecerá
isolada?
Eu dou de ombros, não tenho certeza de
como colocar minha resposta de uma maneira
que ele entenderia.
— Eu não tenho certeza, — eu admito. —
Escolher com quem ficar pelo resto da minha
vida eterna é uma grande decisão. Seria tão
horrível ficar um livre por um tempo até ter
certeza?
— Nem um pouco, — diz o Ancião Farrow,
expressão solene. — Mas é uma escolha. E se
você optar por permanecer isolada, isso terá
consequências. Ser parte dos clãs não é apenas
tradição. É sobre história compartilhada,
conhecimento e recursos
compartilhados. Trata-se de provar que só
porque não somos mais humanos não significa
que não somos mais parte de uma sociedade. É
sobre segurança em números. Sendo tudo por
sua conta...realmente e verdadeiramente
isolada do jeito que você só pode ser quando a
humanidade a abandonou e você virou as
costas para sua própria espécie... é perigoso.
Ele se afasta, voltando ao seu inventário,
mas continuo revirando suas palavras em
minha mente por um longo tempo depois. Eu
ainda não sei o que há por aí neste novo mundo
onde os vampiros são reais e tudo é possível.
Mas, eu realmente quero explorar as
possibilidades sozinha?
CAPÍTULO 14

Decido dedicar o dia à pesquisa. Eu não


tive um bom dia de estudo desde que as provas
finais terminaram, e eu sinto falta de me perder
no trabalho. Perseguir o conhecimento não é
algo que eu realmente esperaria perder, mas
aqui estou eu, rodeada de livros, um bloco de
papel cheio de notas equilibradas no meu
colo. Suponho que descobrir que tudo o que
você sabe sobre o mundo está errado, pode te
fazer desejar as coisas simples.
As horas passam rapidamente, o sol através
das janelas da biblioteca rastejando pelo chão e
subindo a parede oposta. Uma vantagem do
vampirismo: com a aplicação liberal do café
com plasma do Ancião Farrow, não preciso de
pausas. O sol está se pondo antes mesmo que
perceba, e só me dou conta então porque mais
pessoas estão entrando na biblioteca.
Buscando mais solidão, pego os livros e
uma última xícara de café e vou para o
laboratório com um aceno de despedida do
Ancião Farrow.
O laboratório é um dos únicos lugares em
que me sinto confortável dentro do complexo
Draugur. Os laboratórios, seja em uma
universidade ou em um enclave secreto de
vampiros, todos têm uma aura semelhante
sobre eles. Uma sensação calma e limpa que
algumas pessoas podem confundir com estéril,
mas para mim é como se o universo estivesse
esperando pacientemente para ser descoberto.
Tenho algumas experiências em andamento
e as verifico antes de me instalar novamente
com meus livros. Começo um novo da pilha que
o Ancião Farrow me entregou. Esta parece ser
um relato mais pessoal e, portanto, um pouco
mais emocionante. É até, pela primeira vez,
escrito por "a dama em disputa", o termo formal
para a mulher que está sendo disputada.
— Muitas vezes se diz que a beleza é uma
maldição, — escreveu Bersa Helgedotter,
aristocrata da corte Draugur. — Embora a fonte
exata da citação permaneça sabiamente
anônima, a fim de evitar as milhares de garotas
simples e com cara de mingau que sem dúvida
iriam querer socar o nariz prefeito da preciosa
autora da citação .
Eu rio alto. Eu já gosto dela.
— Mas se a beleza é uma maldição que faz
Yeats escrever orações ansiosas para que sua
filha seja bonita, mas não muito bonita, então a
riqueza também deve ser uma desgraça do
inferno. Pois enquanto minha aparência não é
nada para falar e até agora me permitiu eludir
os avanços indesejados dos homens da corte,
minha riqueza não passa tão sutilmente.
Agh. Não importa em que século seja,
avanços indesejados são a norma.
— Infelizmente, aumentei minha conta
bancária em vez dos meus peitos. Que tolice da
minha parte. Meus sucessos econômicos têm
atraído uma quantidade infeliz de atenção
ultimamente, o que atraiu todo tipo de criaturas
repugnantes à minha porta, como moscas em
cima do cocô de cavalos, para implorar pelo meu
favor e tentar ter o que é meu por direito. Além
disso, os Anciãos e a corte superior expressaram
sua desaprovação de que uma dama com esses
meios permaneça sem acasalamento. O que eu
faria sem um homem de autoridade para me
dizer onde gastar minha enorme riqueza,
gerenciar minhas várias empresas incrivelmente
bem-sucedidas ou viver minha própria vida como
eu tenho vivido nos últimos cem anos?
Faço uma anotação para descobrir se Bersa
ainda está viva, para que eu possa lhe enviar
algumas flores ou algo assim. Eu simpatizo de
todo coração com seu dilema.
— Juro que em breve designarão um homem
para ficar de guarda nos armários e nos
banheiros, para que uma mulher não tente
limpar sua própria bunda. Eles nos acham
capazes de tão pouco. E uma noção mais
moderna eles jamais admitirão. Metade das
mulheres na corte, inclusive eu, estava viva há
pouco tempo, quando o ônus de qualquer
trabalho realizado recaiu sobre as mulheres. O
plantio, a tecelagem, a fabricação de cerveja, a
caça e o cuidado dos animais, o planejamento, a
construção e a escavação. No norte, colocamos
os jovens em barcos para incomodar outra
pessoa durante duas temporadas do
ano. Tínhamos pouco uso para eles. Mas eles
tentavam nos convencer de que sempre somos "o
sexo mais frágil", delicado e inútil e sobrevivendo
apenas por sua benevolência. É igual o vômito
de porco, do mais alto grau, e tenho vergonha de
ver tantas de minhas irmãs se apaixonando.
— Verdade, — murmuro baixinho, virando
a página.
— Mas também o problema de todas as
mulheres caiu sobre mim. Três homens se
declararam para mim e pediram o desafio
tradicional para ver qual vencerá. Cada um
deles se aproximou de mim antes e foi
profundamente rejeitado. Mas eles acreditam
que vencendo esse desafio ridículo vou mudar de
ideia, e com nada mais se importam. Tristan de
Whitecliff, acho que realmente acredita que vou
gostar dele. Ele é um tolo triste. Um romântico
genuíno que poderia ser um verdadeiro
cavalheiro se ele não fosse inevitavelmente
prejudicado por sua ganância.. Ele anseia pelo
amor verdadeiro, sim, mas não até que suas
necessidades materiais sejam atendidas.
Suas palavras bruscas me fazem sorrir. Ela
era claramente uma mulher à frente de seu
tempo.
— Philippe De 'Ortiz tem toda a ganância de
Tristan e nenhum de seu charme. Ele é uma
doninha bajuladora que desperdiçaria minha
fortuna com ópio e prostitutas no momento em
que tirasse meus olhos dele. E depois há Sir
Rodger das Ilhas de Cobre. Ele é aquele com
quem realmente me preocupo. Ele não tentou me
seduzir, mas me informou que em breve
pertenceria a ele. Ele pretende me adquirir, como
faria com um novo contrato para suas minas. Ele
é cruel, obstinado, e sua ambição é um buraco
negro do qual nada escapa. Enquanto Tristan e
Philippe pegariam meu dinheiro e passariam
seus dias em conforto preguiçoso, Rodger
calmamente o levaria a fins maiores e mais
desastrosos, expandindo seu império e
esmagando todos os que ousassem incomodá-
lo. O que me incluirá, no momento em que
levantar qualquer objeção. Não, pretendo
construir meu próprio império, não me tornar um
tijolo nos alicerces de outra pessoa. Tristan e
Philippe são parasitas, mas melhor um parasita
do que um usurpador. No entanto, temo que
nenhum deles tenha uma chance contra
Rodger. Vou ter que garantir o resultado desse
desafio se espero sobreviver.
Bersa era meu tipo de garota. Gostaria de
saber se ela ainda está por aqui em algum lugar
por perto. Perto o suficiente para falar com ela
sobre esse desafio ridículo. Eu aposto que
sim. Ela não me parece alguém que morreria
fácil.
Eu continuei fascinada, enquanto Bersa
documentava suas maquinações cuidadosas
que antecederam o desafio e durante o
mesmo. Ela primeiro soube, através de uma
sugestão discreta de alguém que ela sabia que
espalhava segredos como fogo, que Philippe não
tinha chance e a verdadeira disputa seria entre
Tristan e Rodger. Ela pretendia favorecer
Tristan. Ao mesmo tempo, com alguns
subornos bem colocados, ela garantiu que um
conhecido rival de Philippe estivesse na cidade e
informou-o de que Philippe estava falando todo
tipo de merda enquanto o rival estava fora.
Rodger, previsivelmente, aceitou o primeiro
desafio, mas Philippe causou alvoroço ao
aceitar o segundo desafio, que Bersa havia
escolhido com cuidado para favorecê-lo. No
duelo, Tristan, acreditando que Rodger era sua
única competição real, foi pela morte e
decapitou Rodger espetacularmente, mas se
exauriu e, assim, perdeu para Philippe, que
Bersa estava treinando em segredo. Então o
rival de Philippe, irritado ao ver Philippe bem
sucedido, assassinou Philippe no dia do
casamento. Bersa, agora felizmente viúva,
aposentou-se solteira e contente para desfrutar
de sua riqueza suada. Fale sobre fazer seu
próprio feliz para sempre.
Embora Bersa seja, sem dúvida, minha
nova heroína, eu não tenho recursos ou
conhecimento político para lidar com isso da
maneira que ela fez. Também não sou cruel o
suficiente. Não quero que Arsen ou Niko
acabem mortos. E no final, Bersa ainda teve
que se casar com um deles, amarrando-se ao
clã deles, o que não quero. Mas esta é a coisa
mais próxima que encontrei de qualquer
mulher que conseguiu sair da Provokar de
alguma forma independente.
Simplesmente não há chance para
mim? Devo aceitar meu destino e tentar tirar o
melhor proveito dele?
Um toque na porta me distrai da minha
leitura e levanto os olhos. Um vampiro que não
reconheço limpa a garganta e segura uma caixa
grande.
— Entrega, — diz ele. — Do príncipe
Nikolai.
Faço uma careta, mas levanto-me de
qualquer maneira, pegando a caixa e abrindo-a
em um dos balcões. Dentro, há um vestido
adorável, mas profundamente antiquado. Não
sei o suficiente sobre moda histórica para saber
se é barroco, regente ou o que for, mas sei que
já vi coisas assim no retrato clássico.
— É para o Provokar. O príncipe Nikolai
pediu para você experimentar, — diz o
entregador, animado. — E também quer que me
acompanhe de volta à sua casa, onde ele poderá
ter um ajuste adequado feito.
Franzo o cenho, incrédula, encarando o
entregador.
— Você está brincando, certo? Não estou
vestindo isso, — eu digo categoricamente, para
consternação do entregador. — Como diabos
devo competir vestindo algo assim? Tem seis
camadas e provavelmente precisa de uma
crinolina.
— É tradicional, — insiste o entregador. —
Toda dama em disputa...
— Sim, mas não sou apenas a dama em
disputa, — aponto irritada. — Eu também sou
uma desafiante. E também, foda-se tradição!
— Mas o príncipe Nikolai disse...
— Oh, certo, — eu o paro, levantando a
mão. — Eu esqueci. Foda-se o Príncipe Nikolai
também. Adeus. — Enfio a caixa nele, fazendo-o
tropeçar para trás.
Volto ao meu lugar, pegando meu livro
novamente, mas o entregador é persistente.
— Por favor, senhorita, — ele insiste. — O
príncipe Nikolai reconheceu que você
provavelmente... não estaria receptiva a
retornar a ele para uma prova. Ele solicitou
que, se você não concordasse, eu te
convencesse a pelo menos experimentá-lo e me
comunicar quaisquer alterações que precisem
ser feitas.
— Não precisa haver alterações, — digo,
mantendo meu foco no meu livro. — Porque eu
não vou usá-lo. Nunca. Você pode levar de volta
para ele e contar que disse assim.
— Mas senhorita! — O entregador está
perturbado, segurando a caixa como uma
criança. — É um presente! — Ele se inclina
para mais perto, falando em um assobio
conspiratório. — Ele está tentando ser legal!
— Ele está falhando, — eu digo, estreitando
os olhos para o entregador. Ele abaixa a cabeça,
saindo rapidamente do meu espaço pessoal. —
Vou usar o que achar que me dê a melhor
chance de vitória. Se Nikolai realmente quiser
me dar um presente, poderá se retirar da
disputa e me poupar do trabalho de limpar o
chão com ele.
— Eu irei... informá-lo de sua decisão, —
admite o entregador, passando de um pé para o
outro como se a ideia estivesse lhe dando
urticárias. Eu não o invejo de dar as más
notícias para Niko. — Mas se você vai rejeitar
um presente, você deveria pelo menos fazê-lo
pessoalmente.
Antes que o entregador possa testar minha
paciência ainda mais, alguém entra pela porta
do laboratório, sem se dar ao trabalho de
bater. Eu reprimo um gemido quando
reconheço a ex-consorte de Arsen. Apenas
quem eu não queria ver.
— Boa noite, Claudette, — eu digo,
tentando não parecer tão desanimada quanto
possível. — Aqui para me chamar de idiota por
tentar competir no Provokar?
— Oh, de jeito nenhum, — Claudette
zomba, inclinando-se sobre o balcão e
inspecionando suas unhas. — Acho que é uma
ideia fantástica. Por favor, se mate em uma
tentativa tola de evitar o inevitável.
— Obrigado pelo voto de confiança, — eu
digo, tentando não revirar os olhos quando
coloco meu livro de lado, desistindo. — Com o
que posso te ajudar? — Olho para longe
enquanto meu telefone vibra no balcão. Um
texto de Jackson. Eu deslizo para longe,
ignorando por enquanto.
— Na verdade, estou aqui para ajudá-la, —
responde Claudette, virando-se para me
encarar com uma sacudida treinada de seus
cabelos.
— Desculpe-me, senhorita, — interrompe o
entregador. — Se eu pudesse terminar minha
conversa com a dama...
— Bem, você não é fofo, — Claudette o
interrompe, olhando-o de cima a baixo
avaliando. — Você é Baetal? O que você está
fazendo aqui, menino?
O entregador lida com ser chamado de
"menino", como se ele lidasse com isso com
frequência suficiente para não importar mais.
— Estou fazendo uma entrega, — ele
responde laconicamente. — Em nome do
príncipe Nikolai. Um vestido para a senhorita
Sasha, para o Provokar.
— Ooh, deixe-me ver! — Claudette não
espera permissão antes de puxar a caixa dos
braços e desdobrar o vestido. Ela segura-o com
admiração, examinando o tecido e o bordado
com clara apreciação.
— Oh, isso é lindo! — Ela diz. —
Tradicional, mas ainda na moda. Quem
projetou isso?
—Príncipe Nikolai tem... — o entregador
tenta responder e Claudette acena.
— Não me diga, realmente não me
importo. — Ela se vira para mim, segurando o
vestido para si mesma. — Você está mantendo
isso? Posso ficar com ele?
Abro meus braços convidativamente. —
Fique à vontade. Espero que você tropece
descendo as escadas enquanto estiver
usando. Eu sorrio com o pensamento.
Claudette grita de alegria, pulando no lugar
por um momento, antes de voltar a admirar o
bordado.
— Pronto, — eu digo ao entregador. — Seu
pacote foi aceito, então não há necessidade de
eu ir a lugar algum. Você pode dizer a Nikolai
que amei, e Claudette mal pode esperar para
usá-lo.
— Obrigada, — Claudette diz com um
sorriso coquete para o entregador.
— Ei, — eu digo quando o entregador
desanimado começa a se virar. — Diga a ele que
se quiser ficar irritado com isso, pode descontar
em mim durante o Provokar. Não deixe que ele
te culpe.
— Sim, senhorita, — o entregador
murmura, parecendo duvidar que será assim
tão fácil. Claudette espera que ele saia antes de
pousar o vestido novamente. No breve silêncio,
percebo que um dos meus temporizadores está
disparando há algum tempo.
— Agora, de volta aos negócios, — diz
Claudette, subindo no balcão. — Eu tenho um
acordo para você.
— Estou ouvindo, — respondo, desligando o
temporizador e verificando a centrífuga. —
Droga. Você me fez cozinhar minhas proteínas.
— Há coisas mais importantes com o que se
preocupar do que suas amebas mudas ou o que
quer que seja, — diz Claudette, impaciente.
— Na verdade não, — eu digo. — Quero
dizer, estou trabalhando na cura da versão
vampira da praga. Isso é muito importante.
— Tão importante quanto o seu futuro
pessoal e potencialmente a sua vida? —
Pergunta Claudette. Eu resmungo, o mais perto
que chego de admitir que ela tem razão. — Eu
posso lhe dar algumas informações que podem
facilitar muito a vitória para você.
— O que é? — Eu pergunto, franzindo a
testa, enquanto transfiro a proteína da
centrífuga para uma lâmina. Estou apenas
prestando metade da atenção neste
momento. De nenhuma maneira, Claudette, de
todas as pessoas, será realmente útil.
— Posso dizer o que Arsen vai escolher para
a primeira competição.
Eu congelo, depois empurro
cuidadosamente minhas lâminas, cruzando as
mãos no meu colo e dando-lhe toda a minha
atenção. — Estou ouvindo. Qual é a pegadinha?
— Nada que você já não queira fazer, —
Claudette diz com um pequeno encolher de
ombros. — Eu te digo, se você vencer, não
escolhe Arsen. Você não escolhe o clã Draugur.
Não me importo se você voltar para o Príncipe
Arrogante ou permanecer uma vampira livre ou
se juntar ao circo. O que for. Você
simplesmente não fica aqui. Entendeu?
— Sim, faz sentido, — eu digo. — Pena que
nunca vou concordar com isso. Eu posso não
querer ficar presa a Arsen para sempre, mas
isso não significa que vou simplesmente largar
ele e o Draugur sem me importar com o mundo
quando vencer.
— Então, o que, você só vai amarrá-lo? —
Claudette pergunta, seu lábio se curvando com
desdém.
— Não! — Eu digo, defensivamente demais
para parecer convincente. Minhas bochechas
esquentam de frustração. — Quero dizer, não é
isso que estou tentando fazer. Eu quero estar
com ele, apenas... Só não estou pronta para
esse tipo de compromisso! Jesus, acabei de
conhecer o cara. E para sempre é muito tempo.
Claudette levanta as sobrancelhas
enquanto passo minhas mãos pelo meu rosto
ardente, aparentemente pega de surpresa pela
minha repentina vulnerabilidade. Eu não quis
deixar escapar isso, mas agora é tarde
demais. O vômito de palavras é claramente uma
doença que os vampiros não são imunes.
— Essa coisa toda, — confesso, mesmo
quando digo a mim mesma que sou uma idiota
por confiar em Claudette de todas as pessoas,
— é muito rápido. Ser mordida, descobrir que
vampiros são reais, a praga, a cura, essa porra
de desafio estúpido... é demais! Como vou saber
se realmente tenho algo com ele, ou se é apenas
a situação estressante ou um laço de sangue de
vampiro ou o que seja?
Claudette me observa enquanto empurro
meu cabelo para trás, tentando controlar meus
nervos. Tomei muito café. Estou praticamente
tremendo. Ou talvez esteja enlouquecendo.
— Escute, — diz Claudette, sem o seu tom
mesquinho de sempre. — Você não quer
Arsen. Porque Arsen realmente não quer
você. Não da maneira que você quer que ele
queira.
Rio um pouco a isso, o nervosismo fazendo
a risada mais aguda, quando me lembro de sua
boca em mim há algumas horas atrás.
— Tenho certeza que ele quer.
— Não, ouça, — Claudette insiste. — Ele é
um manipulador. É realmente bom nisso. Pode
ser charmoso pra caralho quando quer ser. Ele
trata você como se você fosse a coisa mais
importante do mundo. Mas quando conseguir o
que quer de você, ou quando algo melhor
surgir, a deixará em um segundo. Exatamente
da mesma maneira que fez comigo.
Isso me faz parar por um momento, mas
afasto.
— Arsen não faria isso, — insisto. — Ele
tem sido nada além de gentil comigo.
— Sim, ele também era muito gentil
comigo. — Claudette ri sem alegria. — Até você
aparecer. Ele era gentil com a garota antes de
mim também. Sua bondade se estende apenas
às pessoas de quem ele precisa de algo. Quando
consegue o que quer ou decide que quer outra
coisa, essa gentileza desaparece
rapidamente. As meninas adoram pensar que a
maneira como ele trata as outras pessoas é
uma fachada para cobrir o lado suave que ele
apenas lhes mostra. Que elas são as únicas que
conhecem seu verdadeiro eu. Se elas tivessem
meio cérebro, perceberiam quem ele é em
noventa por cento das situações o seu
verdadeiro eu. A personalidade que ele só veste
quando vocês dois estão sozinhos? Essa é puro
teatro.
Eu mexo no meu microscópio, ignorando a
verdade do que ela está dizendo. Ela
provavelmente está apenas tentando entrar na
minha cabeça. Não é como se não tivesse
séculos para aperfeiçoar seu discurso.
— Se ele é tão horrível, — aponto,
desviando o olhar, — então por que você está
tão determinada a recuperá-lo?
Claudette ri, um som breve e áspero, e
cruza os braços sobre o peito.
— Fiz minhas escolhas quando se trata de
Arsen. Além disso, eu sei como lidar com os
manipuladores. São os relacionamentos
saudáveis com o que não posso lidar.
Sim, eu posso ver isso. Ela claramente tem
problemas.
Ela me dá um de seus sorrisos
desagradáveis como marca registrada, mas é
feito com muita amargura para alcançar seus
olhos. Eu quase simpatizo com ela, mas tenho
certeza que ela está brincando comigo.
— Sinto muito. Mas Arsen me deu muito
mais motivos para confiar nele do que
você. Apesar de suas falhas e decisões
precipitadas em meu nome, ele não fez nada
para perder minha confiança. Não concordo
necessariamente com todas as suas ações, mas
entendo por que as fez. Eu vejo a lógica nelas.
— Claudette me ajudando com a bondade do
seu coração? Não consigo encontrar nenhuma
lógica nisso.
— Você já tem suas dúvidas, — diz
Claudette, seu tom um pouco desesperado. —
Você mesma disse isso! Se você tivesse certeza
de que tinha algo real com ele, não estaria
arriscando sua vida para evitar estar com ele.
Eu dou as costas para ela para evitar
admitir que ela tem razão, focando em
organizar meus slides na mesa, rotulando cada
um.
— Escute, — diz Claudette, inclinando-se
no balcão ao meu lado. — Você tem todo o
tempo do mundo, certo? Então nem vou pedir
para você desistir do Arsen para
sempre. Apenas, se você vencer, não o escolha
imediatamente. Deixe-o por um tempo, se
distancie e veja se não encontra algo
melhor. Não é isso que você quer, afinal?
Ela está me manipulando. Sei que ela
está. Infelizmente, ela também está certa. Não
quero desistir de Arsen. Nem
temporariamente. Mas se perder essa luta,
talvez seja forçada a fazer isso. Não posso me
dar ao luxo de perder.
Viro sua oferta em minha mente, mordendo
meu lábio e finalmente desisto.
— Tudo bem, — eu digo. — Conte-me.
— Uma corrida, — diz Claudette de uma
vez.
— Realmente? — Arsen nunca me pareceu
um corredor, muito menos rápido. — E como
você sabe disso?
— Esqueça isso. — Ela desconsidera. — Ele
está aproveitando o fato de você e Niko serem
Baetal, — explica Claudette. — Ele pode usar
seus poderes de Draugur para lançar
obstáculos no seu caminho, para que você não
seja capaz de se voltar contra ele. Se ele decidir
ser particularmente cruel, é também uma
oportunidade de derrotar Niko na primeira
rodada.
Fico um pouco pálida, percebendo que ela
está certa. — Eu pensei que eles não poderiam
se matar até a terceira rodada.
Claudette encolhe os ombros. — Já
aconteceu antes. É tudo sobre a semântica e a
discrição do juiz, é claro.
Ah, claro, a critério do juiz. Mas o que
Arsen não sabe é que competi no atletismo
durante todo o ensino médio. Este é um desafio
que definitivamente posso vencer.
— Obrigada, Claudette, — eu digo, surpresa
por falar a sério.
— Não mencione isso, — diz Claudette
casualmente, deslizando para fora do balcão. —
Sério. Não conte a ninguém que te disse. Tenho
uma reputação para manter aqui.
Eu resisto ao desejo de fazer uma cruz no
meu coração e jogar fora uma chave falsa. —
Seu segredo está seguro comigo, — prometo a
ela.
— É melhor você praticar, — diz Claudette,
pegando o vestido e indo para a porta. — Você
só tem três dias antes do Provokar começar. —
Ela acena uma mão por cima do ombro
enquanto sai em um floreio dramático.
Não participo de competições há algum
tempo. Definitivamente, preciso passar algum
tempo na pista, mas sem deixar que Arsen
saiba que conheço seu plano. E tenho que
descobrir meu próprio desafio e me certificar de
que estou preparada para isso.
Finalmente, tenho que me preparar para o
duelo, que não só pode determinar o resultado
de todo o desafio, mas também a competição
com maior probabilidade de acabar com alguém
morto.
Olho fixamente para o meu microscópio e
percebo que tenho mais uma coisa para
resolver. Encontrar a cura. Examino a lâmina
cuidadosamente, verificando e checando o que
estou vendo. Isolei com sucesso a proteína do
meu sangue que acho que é responsável por
curar a doença que afeta os vampiros.
Se conseguir reproduzi-la, poderei
desenvolver uma vacina ou, se tiver sorte, uma
cura real.
Com sorte, antes que alguém perca a
cabeça nesses jogos ridículos.
CAPÍTULO 15

Os próximos três dias são uma agitação em


todo o complexo, enquanto o tribunal se
prepara para o Provokar. Pelo que li, a maioria
dos desafios de Provokar são assuntos
informais além daquele período de quinhentos
anos ou mais. Os amigos íntimos, a família, os
pais e qualquer pessoa que esteja entediada
naquele dia podem aparecer para vê-los sair aos
murros.
Mas como Niko e Arsen são príncipes e
Arsen é muito bem respeitado entre os
Draugur, isso está sendo tratado como um
evento importante. É a primeira vez em algum
tempo que um Provokar tem tanto significado
político.
Tudo está sendo limpo e decorado e um
banquete maciço é orquestrado, incluindo não
apenas a melhor da culinária humana, mas
aparentemente alguém na corte aproveitou as
reservas. Estou surpresa ao descobrir que
alguns dos membros mais altos da corte têm
pequenas fazendas e aldeias onde
discretamente criam humanos como
animais. Estou chocada com a abordagem
artesanal da fazenda que eles adotam à mesa.
Alguns deles estão ansiosos demais para
falar sobre como pagaram para que seus
humanos fossem criados com total conforto,
alimentados com dietas de luxo incrivelmente
precisas para mantê-los com o máximo de
saúde e sabor.
A maioria dos humanos cultivados dessa
maneira nem sabe para que estão sendo
usados. Eles vivem em pequenas comunidades
no meio do nada, onde todas as suas
necessidades são atendidas por um misterioso
benfeitor, com a única ressalva de que eles
doem sangue uma ou duas vezes por mês. E,
ocasionalmente, para eventos especiais, um ser
humano bem envelhecido ou três chegando ao
fim de sua capacidade de doar sangue de
qualidade seriam discretamente escoltado para
fora da cidade, para nunca mais voltar. Fale
sobre o enredo perfeito para uma história de
horror de Hollywood.
Escutei em choque enquanto o cortesão em
questão explicava como os humanos escolhidos
são tratados em uma noite de comemoração, na
qual são encorajados a devorar o que faria seu
sangue ter um gosto mais doce. Depois disso,
um coma indolor seria induzido através de um
chá de ervas, e os seres humanos em coma
seriam servidos nas mesas de banquete.
A dedicação deles em evitar qualquer
sofrimento indevido é admirável, acho. Mas
acho que vai levar alguns séculos pelo menos
até que eu seja tão insensível com a vida
humana. Talvez comer animais não seja tão
diferente assim, mas é menos cruel para mim
do que o cortesão falando animadamente sobre
seus experimentos de um século inteiro, de
humanos que poderiam envelhecer com
segurança até cem anos antes do consumo.
Um desses caras está se alimentando
exclusivamente da mesma vila nos Balcãs há
vários milhares de anos e afirma que nenhum
outro sangue tem a mesma profundidade de
sabor.
Enquanto todo esse burburinho está
acontecendo, ando de um lado para o outro
entre o laboratório, a biblioteca e a academia. E
andar quero dizer correndo. Só tenho três dias
para voltar à forma para a corrida da minha
vida. Não vou a lugar nenhum se puder
evitar. No meio das voltas, estou estudando o
Provokar anterior e decidindo o melhor plano de
ataque para o meu próprio desafio e
organizando meus experimentos em andamento
com a proteína que encontrei. Isso mostra uma
promessa real de cura. Pena que não consigo
me concentrar nisso por causa desse jogo de
merda. Quando chegar na arena com Niko, vou
torcer seu pescoço estúpido por isso.
Quando me preocupo em descansar, o que
geralmente não acontece, Arsen está lá,
frequentemente com água e um pacote de
gelo. Evitamos cuidadosamente perguntar ao
outro o que cada um de nós planeja. Ele sabe
que não vou desistir da competição,
obviamente, mas não está mais me
pressionando a desistir. Talvez tenha certeza de
que vencerá. Bem, ele vai receber um rude
despertar no dia do concurso, posso lhe dizer
isso. Pelo menos ele é fácil de se distrair com o
sexo. E é bom para mim também, não ter que
pensar em nada por algumas horas.
O dia chega cedo demais e não posso deixar
de pensar que estou muito despreparada. É
como fazer uma prova que você nem imaginava
que faria. Eu não consigo ter 100% de certeza
de que estudei os assuntos certos.
Antes do Provokar começar, nos reunimos
no salão de banquetes, onde circulam petiscos e
coquetéis de plasma. Pego um dos coquetéis
para mim o mais rápido possível. Todos estão
vestidos para um evento formal. A maioria das
mulheres, incluindo Claudette, está vestida com
o mesmo estilo tradicional do vestido que
recusei. Eu me destaquei como um polegar
dolorido em calças de couro e um top apertado
e com tiras que, além de parecer fantástico,
também me permite a máxima amplitude de
movimento na arena. Meu cabelo, preso em um
rabo de cavalo, é igualmente prático. Os olhares
de desaprovação de todos os outros vampiros
presentes se apegam a mim como fiapos para
Velcro. Tradição realmente significa muito para
esses idiotas.
Felizmente, antes que alguém possa pegar a
tocha e o forcado, ouço uma perturbação na
porta. Não há prêmios por adivinhar quem é.
Niko chega vestido em um terno preto de
cetim e veludo que combina com o vestido que
dei a Claudette. Seria quase fofo se não
estivesse tão chateada com ele. Ele é rodeado
por uma parte significativa do clã Baetal, todos
igualmente vestidos e fazendo o possível para
parecer que são bons demais para estar aqui.
Arsen sai da multidão para cumprimentá-
lo. Ele também está vestido da melhor maneira
possível. Estou começando a me arrepender de
não usar esse vestido. Corro pela multidão para
me juntar a eles, meio preocupada que eles
comecem a luta sem mim.
— Arsen, — diz Niko, com um tom gelado.
— Sua alteza, — responde Arsen,
igualmente frio.
— Ei, idiotas, — eu interrompo. — Vocês
estão prontos para o merecido chute na bunda?
Há algumas risadas e muitos sussurros
escandalizados da multidão, e Niko e Arsen
usam expressões que dizem que teriam
preferido se eu ficasse de boca fechada. Fico um
pouco mais ereta, cruzando os braços sobre o
peito.
— Vejo que você decidiu não usar o vestido
que lhe enviei, — comenta Niko, encarando
minha roupa com uma sobrancelha levantada.
— Eu não vou lutar com vocês dois usando
uma anágua, a menos que você precise usá-la
também, — respondo bruscamente. — Isso é
estúpido o suficiente sem me prejudicar em
cima disso.
— Nunca esperei que você usasse o vestido
durante o desafio, — diz Niko, confuso. — Foi
para as cerimônias de abertura. E o banquete
depois que eu vencer.
— Isso... é realmente óbvio agora. — Meu
rosto esquenta o suficiente para ter certeza de
que minhas bochechas estão pintadas de
escarlate de vergonha. — Tanto faz. Vamos
acabar com isso. Essa estupidez já dura
bastante tempo.
— Concordo. — Arsen corta as palavras,
um pouco irritado porque não contei a ele sobre
o vestido. — Vamos começar.
Com um aceno, ele separa a multidão e
seguimos em direção a um estrado no fundo do
corredor, onde o príncipe Draugur e alguns
anciãos fazem alguns discursos tediosos sobre
a tradição. Todos nós acendemos uma vela e é
tudo muito simbólico ou o que quer que
seja. Eu estou pulando nos meus calcanhares
com vontade de começar. Vamos fazer isso já!
Finalmente, o Ancião oficiando as
cerimônias se volta para Arsen.
— Como aquele a quem o desafio foi
direcionado, — diz ele. — É seu direito declarar
a primeira competição.
— Escolho uma corrida, — anuncia Arsen
em voz alta. Lanço um sorriso agradecido a
Claudette pela informação e ela pisca, alisando
o vestido novo. — A pé. — Através de um
percurso que preparei que percorre toda a
extensão do complexo.
Preocupação se mexe na parte de trás da
minha cabeça. Ele tem uma vantagem sobre
Niko e eu lá. Ele vive aqui há anos. Niko só
esteve aqui em funções oficiais e eu só estive
aqui há alguns dias. Isso ficou ainda mais
difícil.
— Não se preocupe, — diz Arsen, seu
sorriso um pouco presunçoso enquanto observa
Niko. — Marquei o percurso. Siga os lenços
vermelhos e você ficará bem.
Ele puxa um cachecol de seda escarlate do
casaco para mostrar a Niko, que faz uma
careta.
— Você é ótimo em seguir ordens, certo
Niko? — Arsen brinca, enfiando o cachecol no
bolso da frente do terno de Niko. Niko parece
tentado a tirar a mão de Arsen, mas ele tem um
autocontrole melhor do que eu pensava. Em vez
disso, ele apenas se afasta, saindo
correndo. Arsen se afasta na direção
oposta. Fico ali sem saber por um minuto, até
perceber que eles vão se trocar. Eu tomo outro
coquetel enquanto espero que eles retornem.
Eu esqueci o quão nervosa ficava antes das
competições começarem, mas tudo está
voltando para mim agora. É por isso que acabei
desistindo. Isso e não ser capaz de acompanhar
um cronograma de treinamento sério enquanto
estava continuando os estudos. Mas
principalmente o nervosismo. Eu costumava
vomitar antes de todas as grandes
corridas. Realmente espero que ser uma
vampira signifique que essa merda não
acontece mais.
Espero perto da porta e, em pouco tempo,
Arsen e Niko retornam com roupas esportivas
apropriadas, embora a de Niko seja
provavelmente uma roupa de grife de primeira
linha. Não consigo deixar de pensar que as
calças de corrida de Arsen moldam
perfeitamente seu traseiro. Eu me pergunto se
ele está intencionalmente tentando me distrair
com sua bunda. Seu sorriso quando me pega
olhando me faz assumir que a resposta é sim.
Nos alinhamos nas portas do corredor, que
são abertas para mostrar a longa e sinuosa
entrada da frente. Há um lenço vermelho
amarrado a uma das árvores que alinham o
caminho.
— Existem três lenços na marca do meio do
caminho, — diz Arsen, esticando-se enquanto
toma seu lugar na porta. — Pegue e volte aqui
primeiro. Simples assim.
Niko olha para Arsen desconfiado, como se
duvidasse que seria assim tão
simples. Francamente, eu também estou
esperando travessuras.
— Em suas marcas, — grita o ancião
oficiante. Tomo meu lugar, os olhos no cachecol
à nossa frente, bloqueando todo o resto. —
Preparados, já!
Disparo como a bala de uma arma,
deixando os dois homens na poeira. Eu tinha
sido uma das melhores velocistas da equipe da
universidade e dou todo o esforço agora,
encontrando um ritmo para minha
respiração. Mas quando chego à primeira curva,
tropeço quando algo explode atrás de mim.
Olho para trás e vejo Niko me alcançando,
não em uma corrida, mas em uma fuga por sua
vida. Há uma cratera fumegante logo atrás dele,
e Arsen ri enquanto corre depois, já convocando
outra bola de fogo em sua mão.
— Você não achou que facilitaria as coisas,
não é? — Arsen grita, rugindo de tanto rir.
— Como diabos ele tem bolas de fogo? —
Eu grito com Niko, enquanto o outro vampiro
me alcança, nós dois correndo por nossas
vidas.
— Os Draugur têm a capacidade de
manipular os elementos, — grita Niko de volta,
com o rosto pálido. — Arsen parece ter
dominado o fogo!
— Você acha? — Eu grito e pulo para o lado
enquanto outra bola de fogo explode logo atrás
de nós. O calor cai nas minhas costas, as
faíscas chamuscando minhas roupas.
— Eu sei, certo, — Niko ri um pouco
histericamente. — O nome deveria ter sido um
sinal óbvio.
Nós dois nos viramos bruscamente no
primeiro cachecol e procuro o próximo,
esquivando os galhos baixos e tentando não
ficar presa nos arbustos. Há uma trilha estreita
entre as árvores, mas na maioria são bosques
cobertos de vegetação ao redor das margens do
complexo. Terreno de corrida não exatamente
amigável. Em circunstâncias ideais, eu estaria
fazendo um bom trabalho para não torcer o
tornozelo na raiz de uma árvore. Mas
atualmente estou sendo perseguida pelo meu
namorado lunático com bolas de fogo, então
corro cegamente e espero o melhor. Niko
descobriu bem rápido que Arsen não vai atirar
bolas de fogo diretamente para mim, então ele
está fazendo o possível para ficar perto, mas
ouço sua respiração difícil. Ele está indo muito
bem, mas não acho que seja um corredor
experiente. O que vai ser péssimo para ele em
breve. Arsen ainda não está se esforçando para
correr rápido demais, esperando que nos
desgastemos e voltemos ao alcance de suas
bolas de fogo. Mas encontrei um bom ritmo e
estou prestes a recuperar o fôlego. Eu me afasto
de Niko quando nos viramos no próximo
cachecol e deixamos a floresta para trás. Há
uma grama clara entre nós e o próximo
cachecol, pendurado no batente da porta de um
prédio próximo. Eu ouço Niko xingando e Arsen
rindo enquanto deixo os dois para trás, apenas
para o chão desaparecer subitamente debaixo
de mim.
— Filho da puta! — Eu grito, agarrando a
borda do poço antes de atingir o fundo. Eu vejo
Niko passando correndo enquanto estou
lutando para me arrastar para fora, ainda
atordoada com o que aconteceu.
— Você cavou malditas armadilhas? — Eu
grito para Arsen.
— Tudo é justo no amor e na guerra,
querida! — Arsen grita de volta, sorrindo.
— Eu vou te dar uma surra mais tarde! —
Grito, me esforçando para alcançar Niko.
Arsen responde jogando uma bola de fogo
nos meus calcanhares, o que, mais ajuda, me
motiva a correr mais rápido, alcançando Niko
assim que ele chega à porta. Mergulhamos lá
dentro, batendo a porta atrás de nós.
— Por que você não me disse que Draugur
tem bolas de fogo? — Eu pergunto a Niko,
chiando, quando começamos a correr
novamente, correndo pelo corredor. Estou
paranoica agora, de olho em armadilhas.
— Todos os clãs têm habilidades únicas, —
diz Niko, ofegando, claramente se esforçando.
— O que podemos fazer? — Eu pergunto,
pulmões queimando pelo esforço de falar e
correr simultaneamente.
— Podemos localizar qualquer objeto que
possamos visualizar claramente, — disse Niko,
recuando, segurando o peito.
— Nós somos bons em encontrar coisas? —
Eu digo com descrença. — Ele pode jogar
malditas bolas de fogo e nosso superpoder é
nunca perder as chaves do carro ?!
— É um pouco mais sutil do que...
— É besteira, é isso que é! Completa
besteira, porra...
— Cuidado!
O aviso de Niko me salva um pouco antes
de me enfiar em um fio amarrado através do
corredor. Eu me abaixo, apenas para tropeçar
em outro no nível do joelho. Atinjo o tapete e
caio sobre os joelhos, apenas para rolar para
fora do caminho com um grito agudo, enquanto
o arame derruba duas estantes enormes de
livros, bloqueando o corredor.
— Sério? — Eu grito de frustração.
A porta se abre no final do corredor e
aparece Arsen, sorrindo com uma bola de fogo
em cada mão.
— Olha eu aqui!
— Levante-se, levante-se! — Niko me agarra
debaixo dos braços e me empurra em direção ao
estreito espaço entre as prateleiras que
bloqueiam o caminho. Me aperto o mais rápido
possível, voltando para puxá-lo para mim um
segundo antes que as prateleiras explodissem
em chamas.
O corredor vira e eu xingo baixinho quando
percebo que está cheio de escrivaninhas e
mesas de cabeceiras de ponta a ponta. Não é
um obstáculo imbatível para mim. O salto é o
meu melhor talento na pista. Mas isso deixará
Niko lento e, por mais idiota que o cara seja,
não quero vê-lo incendiado. E Arsen está
alcançando rapidamente.
— Lá. — Empurro Niko em direção a uma
janela aberta. — Vá!
Ele não questiona, mergulhando
imediatamente. Eu o sigo, esperando que seja
rápida o suficiente para que Arsen não tenha
nos visto enquanto decolamos pela grama.
— Estamos fora da pista, — Niko engasga.
— Qual é o plano?
— Temos que liderar sobre Arsen, — digo.
— E essa merda claramente não tem
regras. Então use seus poderes Baetal e
encontre os lenços dos pontos
intermediários. Seguiremos o caminho mais
rápido de lá, pularemos todas as armadilhas
estúpidas e voltaremos para a linha de
chegada.
Niko franze a testa e por um minuto acho
que ele vai recusar ou me dizer que é
impossível. Então ele vira bruscamente para a
direita.
— Posso sentir os lenços ali, ali e ali, — diz
ele, apontando uma linha através e ao redor do
prédio próximo. — A pista leva nessa direção,
eu acho.
— A biblioteca, — eu digo, assumindo a
liderança. — Está no lado oposto do complexo
da sala de banquetes. Elas precisam estar lá.
Niko concorda com a cabeça e aceleramos,
correndo diretamente para a biblioteca. Estou
mantendo uma liderança fácil com o
Niko. Estou confiante de que posso derrotá-lo
até a linha de chegada em uma corrida
honesta. O que realmente importa é que
o Arsen não vença incendiando algum de
nós.
A biblioteca aparece e posso ver nosso
objetivo imediatamente. Há três lenços azuis
pendurados na Estátua da Iluminação na
frente.
— É muito fácil, — diz Niko, desconfiado.
— Fique alerta, — eu digo, concordando
com ele. Examino o chão e vejo outra armadilha
a tempo de evitá-la. Exceto por isso, as coisas
parecem claras até a estátua.
— Acho que estamos seguros, — eu
digo. Niko passa correndo por mim para pegar
seu cachecol primeiro, no momento em
que Arsen sai de trás da estátua com uma bola
de fogo pronta.
— Cuidado! — Pego Niko pelas costas da
camisa e o arranco logo antes da bola de fogo
explodir exatamente onde ele estaria. Nós dois
recuamos para evitar a segunda bola de fogo
que se segue... e aterrissamos diretamente na
armadilha que vi antes.
Eu bato no fundo do poço, perdendo o
fôlego, antes de Niko aterrissar com o cotovelo
em mim.
Nós rolamos para longe um do outro,
machucados e ofegantes, para ficar no fundo do
buraco de quase três metros de profundidade.
Arsen pega seu cachecol da estátua e fica
parado diante de nós, sorrindo.
— Você está bem, querida? — Ele pergunta.
Eu gemo miseravelmente.
— Me desculpe por isso. Eu só estava
planejando ir atrás dele. Não achei que você
tentaria trabalhar junto com ele. Não é uma
jogada inteligente, Sasha.
— Foda-se, — eu murmuro, esfregando a
contusão em desenvolvimento no meu esterno
do cotovelo de Niko. Pelo menos ele
provavelmente não jogará nenhuma bola de
fogo aqui em baixo, pois ele não seria capaz de
evitar me matar também.
— Tudo bem, vocês apenas relaxem, —
diz Arsen , acenando. — Eu tenho uma corrida
para vencer!
Ele sai correndo, deixando-nos para trás na
terra. Lentamente, Niko e eu nos
recuperamos. Ele me dá um impulso para fora
do buraco e eu o puxo para fora
depois. Enquanto ele se arrasta para o chão
sólido, ouvimos aplausos do outro lado do
complexo. Arsen provavelmente acabou de
cruzar a linha de chegada.
— É melhor você ter algo incrível planejado
para o segundo desafio, — diz Niko, tirando o
pó.
— Não se preocupe, — digo a ele,
esfregando a ferida no meu peito. — Eu vou
humilhar vocês dois.
CAPÍTULO 16

Nos reunimos para o segundo desafio


no salão de banquetes.
Os vampiros de Draugur parecem
convencidos da vitória de Arsen , recostando-se
nas cadeiras e rindo um pouco alto
demais. Filhos da puta arrogantes. Os Baetal
estão do lado oposto do espectro, comportando-
se mal-humorados e encarando a todos com
suas bebidas. Bem, eu estava prestes a limpar
as expressões dos rostos de todos.
— Como a dama em disputa, — o Ancião
oficiante diz, virando-se para mim, — o segundo
desafio é sua escolha.
Respiro fundo, esperando fazer a escolha
certa aqui.
— Eu escolho ...um jogo de perguntas.
Um coro de murmúrios confusos ecoa na
multidão. Arsen e Niko também olham em
volta. Nota para mim mesma: se você quiser
atordoar uma sala inteira cheia de
sobrenaturais, peça que usem a mente ao invés
dos músculos.
— Isso é uma piada? — Niko diz,
levantando-se da cadeira. Arsen faz o mesmo,
levantando uma sobrancelha para mim.
Eu sei o que estou fazendo, bonito. Não
duvide de mim.
— Nem um pouco, — eu respondo.
— Nós somos vampiros.
— E?
— O que isso prova? — Ele pergunta. —
Além de quão ridícula você é.
Eu cruzo meus braços. — Conhecimento é
poder, não é? — Olho ao redor da sala. — Não
faria sentido que meu companheiro tenha poder
de várias formas? Mente, corpo e alma.
— Mas um jogo de perguntas? Isso é tão
idiota. — Alguns Baetal atrás dele murmuram
de acordo.
— Só se você for péssimo nisso. — Eu dou a
ele um olhar aguçado. — Isso é o que é? Você
tem medo de perder?
— De jeito nenhum. — Niko praticamente
estufa o peito como um maldito galo. — Pode
vir. — Arsen está lá, braços enormes cruzados
sobre o peito, completamente entretido por
nossa troca.
Caramba, os homens são tão
fáceis. Implique que qualquer parte deles é
menos que perfeita e eles imediatamente
procurarão provar o contrário.
O Ancião Farrow dá um passo à frente,
pigarreando. — Isto é... sem precedente.
— Sim, mas a escolha é minha, certo? —
Espero parecer confiante, mas estou aqui
insegura. Esta é minha única chance de
avançar.
Ele olha para os Anciãos com cara de pedra
e depois suspira. — Muito bem então.
Claro que sim, caralho.
— Não sei ao certo o que precisaremos para
isso, — acrescenta.
Pobre Ancião Farrow, o cara está
completamente desconcertado, por isso falo. —
Na verdade, — digo, enfiando a mão no bolso,
— já pedi algumas coisas para isso. Foram
entregues esta manhã. Então, você só precisa
configurar as perguntas.
— Você planejou isso? — Ele pergunta.
— Nunca é demais estar um pouco
preparada, certo?
O Ancião Farrow me olha por um momento
e depois diz: — Tudo bem, adiaremos o próximo
desafio até que todos os arranjos possam ser
feitos. — Ele sinaliza para um dos servos
humanos e o homem sai correndo da sala. —
Vamos nos reunir em breve.

Duas horas depois, o Ancião Farrow está


parado em frente ao salão de banquetes, muito
mais preparado do que antes. — A pedido da
competidora, — ele diz, — preparei uma série
de perguntas relacionadas às ciências da terra,
química e biologia. Todas elas são ministradas
em cursos de ensino médio por uma questão de
justiça.
Justiça: Não fazer os mestres parecerem
fracos em comparação com uma mulher recém-
criada.
Alguns dos outros Anciões trouxeram uma
mesa e cadeiras, arrumando três campainhas
que pedi na Internet alguns dias atrás na frente
de cada assento.
— O primeiro competidor a tocar a
campainha após a leitura da pergunta terá três
segundos para fornecer uma resposta. O
competidor com as respostas mais corretas no
final será o vencedor.
Agora, Arsen fecha os punhos,
preocupado. Niko força um olhar em branco
cuidadoso. Eu tenho os dois onde os
quero. Foda-se esportes. Foda-se travar esta
batalha em um campo onde eles têm uma
vantagem constante. É a minha vez agora.
Tomamos nossos lugares à mesa e respiro
fundo, entrando na disposição certa. E dou ao
Ancião Farrow o material para escolher suas
perguntas, mas não sei exatamente o que ele
vai perguntar. Ainda assim, revi os livros que
dei a ele. Estou confiante de que vou saber as
respostas. E, mais importante, estou confiante
de que Arsen e Niko não sabem. Não que ache
que os dois sejam estúpidos, mas a ciência é
minha paixão.
Além disso, Arsen é mais do tipo "músculos
em vez de inteligência". — E
Niko provavelmente foi transformado antes que
a escola pública fosse uma coisa. Eu tenho isso
garantido. O Ancião Farrow limpa a garganta
novamente, abrindo o caderno de
perguntas.
— Vocês estão prontos para começar? —
Ele pergunta sorrindo. Nós três assentimos
enquanto a multidão fica quieta, observando. O
Ancião Farrow ajusta os óculos e lê a primeira
pergunta.
— Qual das alternativas a seguir é menos
provável de ser um efeito do aquecimento
global? A. Maior frequência de furacões. B. Taxa
reduzida de fotossíntese na vegetação. C.
Mudança na precipitação global. D. Perda de
regiões férteis do delta para a agricultura.
Arsen toca a campainha
instantaneamente.
— Sim, competidor? — O Ancião Farrow diz
com expectativa. — Você tem três segundos
para responder.
Arsen, um pouco pálido, olha para o Ancião
Farrow em silêncio por dois longos
segundos. Juro que ele está disposto a fazer a
resposta sair dos papéis e entrar em seu
cérebro.
— Você poderia repetir a pergunta? —
Ele finalmente deixa escapar.
Eu bato na campainha. — B. Fotossíntese,
— digo assim que o Ancião Farrow se vira para
mim.
— Correto, — confirma Farrow. — O
primeiro ponto vai para Sasha. Pergunta 2.
Quantos átomos tem um Mol?
Eu bato na campainha antes que ele leia as
respostas de múltipla escolha.
— 6,022 vezes 10 à potência de 23.
— Correto.
Arsen fica boquiaberto para mim como se
ele não pudesse acreditar que eu sou real. O
rosto de Niko está apertada como se ele tivesse
mordido um limão.
— Pergunta 3. Qual a porcentagem de
espécies animais que são invertebrados? A.
Cerca de 25%
Niko toca a campainha, interrompendo o
Ancião.
— 95%, — ele diz imediatamente.
— Correto, — o Ancião confirma. Estou um
pouco impressionada. Mas uma pergunta fácil
não vai ganhar isso para ele.
— Pergunta 4. Qual destes não é
encontrado em uma célula
animal? A. Mitocôndrias. B. Núcleo. C.
Cloroplastos. Ou D. Retículo endoplasmático.
Niko bate a campainha apenas um segundo
antes da minha.
— C. Cloroplastos, — Niko responde e uma
onda de raiva me atinge.
— Correto, — o Ancião Farrow confirma. —
O placar está empatado em dois a dois.
Eu olho para Niko, que sorri de volta
presunçosamente. Ele é apenas mais educado
do que eu pensava, ou ele está trapaceando de
alguma forma?
— Pergunta 5. Que tipo de ligação envolve o
compartilhamento de pares de elétrons entre
átomos?
Arsen toca sua campainha primeiro desta
vez, embora a julgar pela expressão em seu
rosto, ele não esteja muito confiante.
— B, — ele declara.
— Esta não foi uma pergunta de múltipla
escolha, — diz o Élder Farrow, com tom
desapontado. Enquanto Niko está rindo
de Arsen, eu bato na campainha.
— Obrigações covalentes.
— Correto.
Niko e eu vamos e voltamos à medida que
as perguntas avançam. Geralmente, consigo
ficar um ou dois pontos à frente dele, mas o
subestimei. Ele está me fazendo lutar por
isso. Arsen consegue marcar alguns pontos
através de adivinhações aleatórias, mas na
maioria das vezes está desistindo. Pelo menos,
posso ter certeza de que ele não vencerá duas
competições consecutivas.
— Pergunta final, — diz o Ancião Farrow,
finalmente. — O placar é 9 contra 10 a favor de
Sasha, com Arsen comandando um admirável
3. Se Niko responder primeiro, passaremos para
um desempate. Agora, que tipos de movimentos
estão presentes durante um terremoto?
Eu bato minha campainha imediatamente.
— Transversal, — eu deixo escapar.
— Receio que isso esteja incorreto, — o
Ancião Farrow responde com uma careta. Niko
toca a campainha antes que o Ancião Farrow
possa terminar de dizer a palavra.
— Transversal e longitudinal, — diz Niko, e
eu me bato na testa com o calcanhar da palma
da mão. Eu deveria saber disso.
— Correto, — o Ancião Farrow confirma. —
Hora do desempate!
Ele puxa três folhas de papel do caderno e
as coloca na nossa frente, viradas, junto com
uma caneta para cada um de nós.
— Vocês têm um minuto para
resolver a equação química no outro lado da
página, — diz o Ancião Farrow. — Vou verificar
as respostas de todos. Se Niko e Sasha
estiverem corretos ou incorretos, continuarei
apresentando perguntas até que haja um
vencedor.
Engulo, minha garganta subitamente
seca. As equações químicas são uma das
minhas maiores fraquezas. Mas Niko parece
bastante nervoso também. Talvez ainda tenha
uma chance.
O Ancião Farrow liga o cronômetro no
relógio de bolso e nós três viramos nossos
papéis. A equação é... hedionda. O material que
dei a Farrow era do ensino médio, mas ele
decidiu enlouquecer com esse.
Por um minuto sólido, há silêncio, exceto
pelo arranhar de nossas canetas e alguns
sussurros curiosos da multidão.
Finalmente, o Ancião Farrow
interrompe. Largo minha caneta com as mãos
trêmulas. Acho que estou certa, mas não tenho
certeza.
O Ancião Farrow verifica a página de
Arsen primeiro, franzindo a testa.
— Parece ser um desenho de você
incendiando alguém, — comenta o Ancião
Farrow.
Arsen sorri, recostando-se na cadeira com
os braços atrás da cabeça.
— É Niko. Você pode dizer pelo mau cheiro.
— Entendo.
O Ancião Farrow segue para Niko,
passando alguns momentos verificando seu
trabalho. Finalmente, ele balança a cabeça,
largando.
— Receio que isso esteja incorreto, —
diz ele. Eu dou um suspiro de alívio quando
Niko atinge a mesa em frustração e olha para
mim como se estivesse me desafiando a
responder corretamente.
O Ancião Farrow verifica meu trabalho,
julgando silenciosamente, e eu cruzo
meus dedos, não confiante de que fiz
direito. Mas se eu posso ganhar isso, acho que
tenho a chance de ganhar tudo. Se me lembrei
o suficiente sobre química no ensino médio, eu
poderia realmente ganhar minha liberdade.
Depois do que parece uma eternidade, o
Ancião Farrow pousa minha folha, limpa a
garganta uma última vez e anuncia o
resultado.
— Correto. Sasha é a vencedora!
Pulo da minha cadeira com uma alegria
vitoriosa. Niko pega minha folha, comparando-a
com a sua com descrença, depois joga as duas
no chão, se afastando enquanto eu continuo
aplaudindo, escutando os aplausos educados
da multidão. Perder dois seguidos
aparentemente o atingiu com força. Arsen, ao
contrário, não parece se importar, acenando
descaradamente para Niko enquanto o outro
homem se afasta.
Tradicionalmente, temos um dia de
descanso antes do duelo final amanhã à noite, e
o resto é geralmente gasto comemorando ou
lamentando os resultados das duas primeiras
competições. A mesa é limpa e a festa começa
quase imediatamente. É mais para Arsen
do que para mim, mas estou relutantemente
incluída. Niko não voltou de onde saiu pisando
duro para ficar de mau humor.
— Trabalho fantástico mais cedo, — diz
Claudette, aproximando-se de mim com uma
bebida em cada mão. Presumo que um seja
para mim, mas depois de um momento fica
claro que ela está bebendo as duas. —
Arsen estava completamente fora de
profundidade. Continue pensando assim e você
poderá realmente ganhar isso. —
— Eu tive que compensar esse
constrangimento na primeira rodada, — eu
digo, apreciando seu apoio. Ela faz uma careta
e assente, os lábios contraídos.
— Se soubesse que ele estava criando
armadilhas, teria mencionado, — diz ela, e
honestamente, acredito nela. — Quero dizer, eu
meio que esperava por elas, e achei que
sim. Quero dizer, por que ele arriscaria uma
corrida direta a pé? Também ir diretamente ao
ponto intermediário, a céu aberto, era um
pouco estúpido...
— Sim, sim, eu sei disso agora, —
murmuro, com o rosto vermelho.
— O que você achou que ele faria quando a
perdeu de vista, honestamente? — Claudette
me repreende. — Qualquer pessoa sensata
saberia para onde você estava indo e iria lá para
impedi-la.
— Eu sei, — eu digo um pouco mais alto.
— Acho que não estava pensando
direito. Estava um pouco estressada com todas
as bolas de fogo. Mas não teria me saído tão
bem quanto fiz sem o seu aviso, então,
obrigada, Claudette.
Claudette sorri, agradavelmente surpresa.
— De nada! — Ela diz. — Não foi nada,
honestamente. Especialmente porque você não
ganhou de qualquer maneira. Você tem um
plano para o duelo?
— Uma estratégia solta, — admito, dando
de ombros. — Arsen e Niko provavelmente
estarão principalmente focados um no
outro. Vou deixá-los se desgastar, impedindo-os
de se matarem, e quando um cair, eliminarei
quem sobrar.
— Você já esteve em uma briga? —
Claudette pergunta, apertando os lábios.
— Na verdade não, — eu admito. — Um par
de confusões pequenas na escola...
— Ambos são guerreiros treinados, — diz
Claudette categoricamente. — Niko, em
particular, estará indo para a matança.
— Desde que eu sou o prêmio, duvido que
ele realmente me mate.
— Talvez não, mas você precisará de uma
estratégia melhor que essa.
— Como o quê? — Eu pergunto com um
encolher de ombros. — Eu só tive três dias para
treinar para isso. Não é exatamente o tempo
suficiente para dominar uma arte marcial ou o
que seja.
Claudette pressiona os lábios em uma linha
fina, pensando, depois me afasta da multidão
em direção à parede.
— Eu posso lhe dar sangue de bruxa, — diz
ela em um sussurro conspiratório.
— Que porra é essa? — Eu pergunto,
perplexa tanto pela oferta quanto pela ideia de
sangue de bruxa. Isso é algo da comunidade de
vampiros? O equivalente a esteroides?
— O sangue de bruxa está cheio de magia,
— explica Claudette. — Isso torna os vampiros
temporariamente muito mais fortes e
rápidos. Isso fortalece todos os poderes que
você tem e pode até dar novos a você. —
— E eu acho que usá-lo seria trapaça, — eu
digo, com base em seus sussurros furtivos.
— Sim, tecnicamente, — Claudette admite.
— Mas considerando a vantagem que os dois
têm em você, eu diria que vale a pena!
Eu balanço minha cabeça imediatamente.
— Se descobrirem que eu estou
trapaceando, todo o concurso será anulado, —
eu digo. — E considerando que sou uma
vampira novinha em folha, sem experiência, de
repente ficar louca e forte e ter um monte de
novos poderes tornaria óbvio que algo estava
acontecendo. Eles já estão desconfiados o
suficiente para me deixar competir neste
desafio, para começar. Não posso arriscar.
— Mas você não terá chance de apenas sair
por aí e esperar pelo melhor! — Claudette diz
frustrada.
— O que você quer que eu faça? — Eu
pergunto, mãos para cima.
— Quero que você ganhe!
Claudette fica subitamente silenciosa, seus
olhos focando em algo por cima do meu
ombro. Eu me viro para ver Nikolai nos
observando.
— Vejo que o vestido que lhe enviei foi de
bom uso, — diz ele, olhando para Claudette.
— Sim, eu adoro, — diz Claudette em seu
tom habitual malicioso, balançando a saia. —
Por falar nisso, agradeço.
— De nada, — Niko diz laconicamente,
depois se vira para mim. — Parabéns pela
vitória.
— Obrigada, — eu digo, olhando-o com
desconfiança.
— No entanto, isso acaba, — continua Niko.
— Estou feliz que o Arsen tenha provado a
derrota pelo menos uma vez. Eu teria preferido
que estivesse em minhas mãos, mas...
Ele dá de ombros, brincando, mas seu rosto
corado revela sua frustração por perder.
— Eu também, — ele começa, rangendo os
dentes como se isso estivesse lhe dando alguma
dificuldade, — queria agradecer sua ajuda no
primeiro desafio. Teria sido... desagradável
entrar no duelo com queimaduras graves. Seria
sua vantagem permitir que me machucasse.
— Na verdade, não, — eu admito. — Não
quero que nenhum de vocês morra por causa
dessa estupidez. Seria melhor se não
tivéssemos que fazer isso, mas desde que você
decidiu insistir nesse desafio idiota, eu vou pelo
menos garantir que todos sobrevivamos a
isso.
Niko me lança um olhar estranho, que não
consigo decifrar.
— Você pode querer ajustar suas
prioridades, — diz ele finalmente. — Eu
pretendo ganhar isso. Eu pretendo que você
seja minha. E isso significa que vou estar
matando Arsen amanhã. Não aceitarei nenhum
outro resultado. Acho que é melhor você se
preparar para isso.
— Esse cara está te incomodando?
Antes que eu possa responder
Niko, Arsen aparece ao meu lado, colocando um
braço em volta de mim.
— Não, — eu digo. — Estamos apenas
conversando sobre a luta amanhã.
— Dizendo a ele como vou dar uma surra
nele? — Arsen sorri.
— Sobre como eu vou te dar uma, na
verdade, — minto suavemente. — Vocês dois
vão ter uma queda maior do que no jogo de
perguntas.
— Ai, — diz Arsen com uma risada. — Bem,
vamos ver sobre isso. Estou feliz que você
ganhou um desafio, no entanto. As pessoas
começaram a pensar duas vezes em você. Em
breve, todos pensarão que você é tão incrível
quanto eu.
Ele se inclina para beijar minha bochecha e
eu não posso evitar um brilho de calor
satisfeito com os elogios. Claudette e Niko
parecem um pouco enojados.
— Bem, eu tenho coisas melhores para
fazer do que ficar por aqui a noite toda, — diz
Claudette. — Como ser cortejada e foder com
algum dos enviados Baetal. Até mais tarde!
Ela sai com uma quantidade surpreendente
de graça, me deixando sozinha com Arsen e
Niko.
— Esta festa vai continuar o dia todo, — diz
Arsen, me apertando um pouco mais. — Nós
provavelmente deveríamos descansar um pouco
antes do duelo amanhã.
— Ainda é muito cedo, — digo, verificando a
hora no meu telefone. — Você realmente
quer para ir para a cama tão cedo? —
Arsen sorri, inclinando-se para perto o
suficiente para que o calor de sua respiração
abane meu ouvido.
— Bem, eu não estava pensando que
iríamos dormir.
Olho para Niko, meu rosto ficando
vermelho. Não tem como ele não ouvir isso. A
julgar pela carranca em seu rosto, ele
definitivamente ouviu. Arsen sorri. Ele está
provocando. Sua mão na minha cintura aperta
mais forte.
— Aproveite enquanto pode, — diz Niko,
seu tom frio como gelo. — Vejo vocês dois
amanhã.
Há uma promessa mortal em sua voz que
me deixa gelada. Mas o braço tranquilizador de
Arsen ao meu redor torna difícil levar a
sério.
Niko se afasta pisando duro e Arsen me
guia em direção às portas, dando adeus aos
foliões.
Mal saímos do salão principal antes
de Arsen pressionar beijos na parte de trás do
meu pescoço.
— Perseguir você antes foi tão excitante, —
ele sussurra no meu cabelo. — Foi preciso me
esforçar para não atacá-la e pegá-la ali na
grama.
— O que faz você pensar que está
recebendo alguma coisa hoje à noite? — Eu
provoco, me afastando dele. — Você jogou uma
bola de fogo em mim! Estou um pouco
ofendida.
— Ah, querida, — ele geme e envolve seus
braços em volta da minha cintura, me puxando
de volta contra ele. — Eu sinto muito. Ganhar
isso, ganhar você significa tudo para mim. Eu
poderia estar excessivamente
entusiasmado. Mas nunca machucaria você.
— Talvez queira que você me machuque, —
eu digo, sorrindo.
— Oh, não me tente. — Os olhos de
Arsen ardem de desejo. — As coisas que poderia
te fazer arrepiariam seu cabelo.
Pego a frente da camisa dele e o empurro
contra a parede do corredor.
— Prove, — eu sussurro.
Definitivamente, quebramos algo no
caminho para o quarto dele. Eu acho que é uma
lâmpada, mas não tenho certeza. Não estou
prestando atenção em nada além da boca de
Arsen na minha, os dentes no meu lábio, as
mãos nas minhas roupas.
Minhas pernas estão em volta da cintura
dele, meus braços em volta do pescoço. Ele tem
uma mão na minha bunda, me segurando
enquanto tropeçamos cegos pelo quarto escuro
em busca de uma superfície plana e
adequada. Seus beijos me deixam sem fôlego,
minha cabeça girando, até encontrar minha
garganta. Seus dentes raspam minha pele
suavemente e meu corpo pulsa com
calor. Aperto seu cabelo com força suficiente
para machucar, puxando-o para mais perto,
encorajadora, e a picada de seus dentes apenas
arranhando a pele me emociona. Xingo,
agarrando-me a ele desesperadamente. Nem sei
por que é tão quente, mas quero os dentes dele
em todo lugar.
Ele me joga na cama, de bruços, e planta
uma mão nas minhas costas para me manter
lá, outra agarrando meus quadris, me
colocando de joelhos. Mordo meu lábio,
tremendo de emoção quando ele arranca minha
calcinha. Ouço tecido rasgar. Vou precisar
comprar roupas novas. Talvez compre as
vermelhas rendadas desta vez. Adoraria vê-lo
destruir essas também.
Espero que ele vá direto para mim. Em vez
disso, eu suspiro, com os nervos em chamas,
enquanto o golpe quente de sua língua me
acaricia. Seus dedos deslizam dentro de mim,
curvando-se contra as minhas paredes internas
enquanto ele passa a língua sobre o meu
clitóris, aplicando uma sucção que deixa
minhas pernas chutando contra o colchão,
enterrando meus gemidos desesperados nos
lençóis. Sua mão livre vagueia, apertando
minha bunda, minhas coxas, reivindicando
cada centímetro de mim enquanto ele me leva
ao orgasmo e continua até que eu esteja me
contorcendo e implorando, meus sentidos
sobrecarregados.
Quando ele finalmente solta, lambendo os
lábios, ele ri ao me ver ficando sem fôlego.
— Recomponha-se, — diz ele, batendo na
minha bunda. Eu grito, abruptamente mais
alerta. — Eu não terminei com você ainda.
Ele agarra meus quadris, me arrastando de
joelhos e até a beira da cama novamente. Eu
ouço o barulho de suas calças e o deslizamento
quente de seu pau na minha nádega. Mas antes
que ele possa deslizar para dentro, eu chuto,
pegando-o no estômago. Não forte o suficiente
para realmente machucá-lo, mas o suficiente
para fazê-lo recuar um pouco enquanto me viro,
certo de que pareço tão selvagem quanto me
sinto.
Eu o agarro pela camisa e, com os olhos
arregalados, ele me deixa jogá-lo na cama. Eu
rastejo sobre ele, puxando minha camisa sobre
a minha cabeça.
— Minha vez, — eu digo com um sorriso
perverso. Eu balanço meus quadris, moendo
contra ele e ele geme, os olhos tremulando
fechados, enquanto minhas dobras se arrastam
sobre o eixo de seu pênis. Vou devagar,
ignorando suas mãos exigentes apertando meus
quadris, meus braços acima da minha cabeça
enquanto apenas gosto de provocá-lo, dando-
lhe apenas um pouquinho do atrito que ele
precisa.
— Sasha, por favor, — ele implora, e eu
rio. Mas estou ficando desesperada também.
Finalmente levanto meus quadris o
suficiente para deixá-lo encontrar minha
entrada, e observo seu rosto enquanto afundo
nele lentamente, felicidade indefesa escrita em
seu rosto. Não paro até que esteja totalmente
acomodada, até que ele esteja tão
profundamente dentro de mim quanto posso
tomá-lo. Em vez de levantar meus quadris,
simplesmente os balanço, deixando-o moer
dentro de mim. Ele amaldiçoa, tentando se
empurrar em mim, mas não vou deixar. Este é
o meu momento, por enquanto, de qualquer
maneira, e ainda não estou deixando de lado o
controle. Quando finalmente começo a me
mover, faço o mais devagar possível. Um
deslizar longo e gradual, depois uma queda
igualmente tranquila, seguida por muita
moagem casual no meio. Ele agarra meus
quadris, seus dedos flexionando minha
carne. Estou deixando-o louco. Eu amo isso.
— Sasha, por favor, — ele implora.
— Obrigue-me, — eu respondo, sorrindo.
Ele se move tão rápido que mal vejo. Acho
que ele nem saiu de mim. No instante seguinte,
estou de costas, minhas pernas sobre seus
ombros, e ele bate em mim tão profundo e duro
que vejo estrelas e grito seu nome.
Não acho que ele poderia ter se contido se
eu pedisse. Ele praticamente me dobra ao meio
enquanto se inclina sobre mim, mãos nos
quadris e coxas, me arrastando para seus
impulsos ásperos. É quase doloroso, mas a
intensidade apenas aumenta minha
excitação. Não posso controlar minha voz. Eu
grito sem palavras enquanto ele me bate no
colchão. Meus dedos encontram meu clitóris,
me elevando mais alto enquanto o mundo gira
ao meu redor. O prazer serpenteia como uma
mola dentro de mim e libera tudo de uma
vez. Aperto-o enquanto gozo e ele se contorce ao
repentino aperto, xingando incessantemente no
meu ombro. Ele palpita dentro de mim, então
agarra meus joelhos, pressiona-os contra o meu
peito e dirige novamente, mais forte e profundo
que pode, me deixando tremendo enquanto
meus nervos sensíveis são
queimados. Finalmente, ele empurra o mais
fundo que pode e o calor de sua semente se
espalha dentro de mim.
Ele fica onde está por um longo momento,
respirando pesadamente. Há suor na testa e
seu rosto está vermelho. Ele beija a cavidade do
meu tornozelo, minha panturrilha, o interior
macio da minha coxa. Lentamente, ele me
solta. Eu não percebi o quão apertado ele me
segurou, a pressão quase
machucando. Enquanto nós dois relaxamos, ele
me beija novamente, quente e terno. Eu o beijo
de volta e pego seu lábio nos dentes.
— Recomponha-se, — eu sussurro em seu
ouvido. — Eu não terminei com você ainda.
Ele sorri, me apertando mais perto.
Nós nos exaurimos, depois mancamos em
direção ao banheiro e caímos juntos na
banheira. Deito na água quente, com a cabeça
no seu peito, lutando contra o desejo de
cochilar.
— Você tem certeza que vai ganhar
amanhã? — Pergunto-lhe.
— Não há dúvida em minha mente, — diz
ele com total confiança. Ele tira o cabelo
molhado do meu rosto com uma mão gentil. Eu
me viro em seu toque, pressionando um beijo
em sua palma. — Isso é muito importante. Você
é muito importante.
— Então talvez você deva me deixar vencer,
— sugiro, sem encontrar seu olhar. — Depois
de tudo isso, você sabe que não há chance de
eu escolher Niko.
— Verdade, — diz ele sorrindo. — Mas não
é só isso. O Provokar não é apenas uma briga
por propriedade. Também se trata de provar a
si mesmo. Provando para a garota que você ama
que você a merece. Que você é forte o suficiente
para protegê-la.
— Você não precisa provar nada para mim,
— digo a ele, borboletas enchendo meu
estômago com o calor absoluto, a adoração que
vejo em seus olhos.
— Eu quero, — diz ele. — Quero que todos
saibam até onde estou disposto a ir para ter
você. Para protegê-la.
Ainda não tenho certeza, mas não posso
lutar contra o amor em seus olhos ou o carinho
que sobe em meu peito em resposta a
isso. Acho que estou me apaixonando por ele.
— Enquanto Niko não vencer, — digo
finalmente. — Eu acho que vai dar certo.
Ele ri e beija o topo da minha cabeça.
— Veremos.
CAPÍTULO 17

Na noite seguinte, nos reunimos do lado


de fora entre os jardins, onde uma pequena
arena foi montada às pressas para o desafio
final.
Não é muito, mas um monte
de arquibancadas em torno de uma plataforma
elevada, mas os vampiros não fazem nada sem
estilo. A coisa toda está enfeitada com tantas
flores, guirlandas de seda e almofadas de
veludo que você mal consegue ver os
assentos. É como um salão de narguilé ao lado
de uma pirâmide de degraus. Ou um nível do
SuperMario particularmente desafiador. Ou
talvez dia de mudança em um castelo da
Transilvânia. Eu realmente não sei como
explicar isso.
— Sasha, você está pronta para isso?
Eu pisco, olhando para longe das
arquibancadas enquanto Claudette se apressa
até onde estou perto da borda da
plataforma. Ela está carregando apenas uma
bebida esta manhã, o que provavelmente é um
bom sinal.
— O que você está fazendo? — Ela
pergunta, apertando os olhos na direção que
estive olhando.
— Inventando analogias, — confesso, —
para me distrair do fato de que estou prestes a
entrar em uma luta mortal com dois vampiros.
— Oh, você ficará bem, — Claudette acena
com a mão com desdém. — Nenhum deles
quer você morta.
Suspiro, sabendo que não há sentido em
explicar a Claudette que não estou realmente
preocupada comigo mesma.
— Roupa legal, — ela zomba, olhando para
o meu equipamento cerimonial. Eu
não quero estar vestida da cabeça aos pés em
um biquíni e minissaia de pele de animal, mas
as roupas fazem parte das regras.
Olá, meu nome é Xena, a princesa guerreira.
— Enfim, tenho algo para você. — Ela enfia
a mão no bolso do vestido. — Algo para ajudá-la
a eliminar os dois.
A mão dela revela um pequeno frasco de
vidro tapado com cera dourada. O sangue
gruda sombriamente nas laterais, grosso como
a pele de um pudim. Quando ela balança o
frasco diante de mim, não vejo, tanto quanto
sinto, o brilho da magia se movendo dentro
dele.
— Sangue de bruxa? — Adivinho.
— Um gole disso e você será mais que igual
a Arsen ou Niko, — Claudette sussurra
ansiosamente.
— Não, Claudette, — eu assobio,
escondendo o frasco com a mão e espiando ao
redor para me certificar de que ninguém viu. —
Eu te disse, não estou trapaceando! — Estou
sussurrando de volta para ela e se alguém está
assistindo, eles provavelmente pensam que
somos ridículas.
— Então é melhor você ter um plano muito
bom, — diz Claudette, franzindo a testa. —
Você precisa vencer isso. E Arsen já...
Ela é interrompida quando a multidão que
se reúne nas arquibancadas
aplaude a chegada de Arsen. Ele está vestido
com calça de couro marrom escuro que cai nos
quadris, botas pretas e sem camisa. Ele entra
por trás de nós, me agarra pela cintura e me
gira, dando um beijo nos meus lábios enquanto
me coloca de volta no chão. Ele está agindo
como o maldito rei do baile.
— Bom dia, linda, — diz ele, sorrindo de
orelha a orelha. Seu sorriso se esvai quando
nota Claudette, a quem ele dirige um aceno
quase civilizado. — Claudette.
— Arsen, — ela responde, sua polidez fria
tingida de sarcasmo. Aqueles dois podiam se
comunicar muito com nada além de um olhar e
um nome. Ela volta sua atenção para mim,
dispensando Arsen completamente. — Eu vou
encontrar meu lugar. Boa sorte, Sasha. Dê
alguns bons chutes no saco por mim.
Ela gira ao redor, casualmente despejando
sua bebida no sapato de Arsen. — Sempre que
você estiver pronto para voltar rastejando para
mim, — diz ela quando ele se vira para evitar o
respingo, — lembre-se de que eu prefiro que o
rastejar seja literal e as desculpas chorosas
sejam acompanhadas por presentes em
dinheiro.
Nós a observamos ir e eu balanço minha
cabeça.
— Ela com certeza é alguém, — eu digo.
Arsen resmunga como se quisesse dizer
algo indelicado, mas em vez disso me abraça
mais perto.
— Você está pronta para a nossa
competição mortal? — Ele pergunta com um
sorriso torto.
— Promete não ser fácil comigo? — Eu
pergunto em troca.
Ele ri, me apertando. — Sem chance.
Ouvimos aplausos mornos e algumas vaias
e olhamos para cima para ver Niko indo em
direção à plataforma do lado oposto da
arena. Ele está vestindo uma roupa semelhante
à Arsen, que basicamente não é nada. É tudo
de calça de couro preta e peito nu. Só estou
esperando alguém aparecer com óleo de bebê.
— Acho que é hora de começar, — diz
Arsen, respirando fundo. Aperto a mão dele,
franzindo a testa quando noto que está
estranhamente quente. Ele tem febre? Talvez
seja apenas a emoção.
— Você está bem?
— Estou bem. — Ele sorri para
mim. Ele parece bem, subindo na plataforma e
me oferecendo uma mão.
O Ancião oficiante se junta a nós quando
encontramos Niko no centro da arena.
— Bem-vindos, todos, — fala o Ancião, — a
esta celebração de uma de nossas tradições
mais antigas. Embora tenha mudado e evoluído
com o tempo, ela perseverou no mesmo espírito.
Nós também devemos nos adaptar e crescer
conforme o tempo passa, mas mantemos a
mesma cultura, a mesma alma, na qual nosso
clã se reuniu pela primeira vez.
— Como em todas as famílias, há conflitos,
mas também amor. Hoje, três de nosso
tipo simbolizam que, ao reencenar o mais
antigo dos conflitos, o Provokar. Dois homens,
como os animais que todos nós já fomos, lutam
pelo direito de reivindicar sua companheira
desejada. E, pela primeira vez, nesta temporada
de mudanças e crescimento, uma nova
perspectiva é adicionada a esse conto
clássico. O da própria mulher, lutando pelo
direito de tomar sua própria decisão. Há
aqueles entre nós que lamentam essa mudança
de tradição, essa reescrita de um conto tão
antigo. Outros, como eu, acham que é
uma atualização muito atrasada. Quaisquer
que sejam os resultados deste desafio, estou
certo de que isso deixará um impacto
duradouro em nosso clã, o que acho que será
para melhor.
Ele se vira para nós três, sorrindo para
cada um de nós.
— Este será um duelo de três vias, com
submissão, inconsciência ou morte. A
submissão pode ser declarada verbalmente
ou levantando os dois braços em um gesto de
rendição. Sair do ringue, voluntariamente ou
porque um oponente o expulsou, também será
ser considerado submissão. Um oponente pode
ser morto em batalha, mas, se um oponente cai
inconsciente ocorre pena de desclassificação.
Armas permitidas são dentes, garras, e
quaisquer habilidades mágicas naturais. Armas
ilegais resultará em desqualificação. Vocês
estão prontos para começar?
Depois que ele recebe um aceno de cada
um de nós, ele sai da plataforma e se afasta a
uma distância segura, preparando uma pistola
para começar a corrida.
Niko e Arsen se entreolham, o ar entre eles
elétrico. Há um assassinato frio e calculado nos
olhos de Niko. Arsen parece confiante, quase
relaxado, como se não estivesse nem um pouco
preocupado. Eu esperava que ele estivesse pelo
menos um pouco preocupado, entrando em
uma luta por sua vida. Mas ele age como se
nem achasse uma ameaça séria. Não sei bem o
que fazer disso. Isso só me deixa mais
preocupada.
Meus olhos se voltam para o ancião quando
ele levanta a pistola de partida. Fico tensa,
antecipando, enquanto seu dedo aperta o
gatilho.
O tiro soa e, antes que seus ecos se
dissipem, Niko colide com Arsen com um som
de trovão. Tudo o que posso fazer é sair do
caminho enquanto eles se atacam como
animais raivosos. Vejo sangue, mas está
acontecendo rápido demais para dizer de quem
é. Tenho que separá-los, rápido. Estava
planejando mirar em um. Agora é
provavelmente um bom momento. Debruço
meus ombros e corro para eles como um
defensor, batendo nos dois, empurrando-os em
direção à borda da plataforma com todo
impulso que minha nova força vampírica pode
reunir.
Eles tropeçam em direção à beirada e, por
um minuto, enquanto os calcanhares de Niko
lutam para agarrar a plataforma, eu acho que
eles realmente vão cair. Mas Niko empurra
Arsen para recuperar o equilíbrio e Arsen,
tropeçando para trás, apenas ri.
— Boa tentativa, linda, — diz ele, piscando
para mim. Há algo selvagem em seu olhar e o
brilho de seus dentes quando ele me olha. —
Porra, não faça isso de novo.
Mas então sua atenção volta para Niko, que
está investindo contra ele com ferocidade
renovada.
Nos próximos momentos, as coisas são um
caos. Os dois vampiros estão totalmente
focados um no outro. Estou fazendo o possível
para ficar entre eles, mantendo-os separados,
mas não posso fazer muito mais. E Arsen está
ficando mais agressivo a cada minuto.
No início, é Niko no ataque, mas a cada
segundo Arsen o empurra mais para trás,
rasgando-o com garras que nunca param de
atacar, tentando arrastá-lo para perto o
suficiente para morder. Niko já tem várias
feridas sangrentas nos braços e ombros, e acho
que consigo ver um toque de medo por trás da
raiva em seus olhos. Ainda assim, ele não vai
desistir. Ele está tão determinado a matar
Arsen quanto Arsen está a matá-lo.
Eu nunca estive em uma luta real
antes. Mas algo sobre isso, mesmo no pânico de
impedir que esses dois se matem, ocorre
naturalmente. Estou me movendo mais rápido
do que nunca em minha vida, e há uma força
em todos os meus movimentos que nunca
experimentei antes. Eu sei que me tornar um
vampiro me fez mais rápida e mais forte, mas
eu realmente não testei os limites disso até
agora. É incrível. Sobre-humano.
A empolgação disso é quase o suficiente
para me fazer esquecer a situação de vida ou
morte em que estou. Quase até que, em um dos
meus ataques selvagens, para manter as garras
de Arsen longe da garganta de Niko, eu bato
nos olhos de Arsen.
Por um momento, ele pisca para mim como
se nem soubesse quem sou, como se eu fosse
apenas um inimigo no caminho. Seu braço me
bate como uma barra de aço e me faz voar. Eu
caio no chão e deslizo, quase saindo do
ringue. Meu peito inteiro é uma contusão
dolorosa e leva um minuto antes que eu possa
me fazer respirar novamente.
Quando posso rolar e examinar os outros
dois novamente, mal reconheço Arsen. Niko
está cem por cento na defensiva nesse ponto, e
Arsen se parece com um animal selvagem, um
leão ou um urso, ou um maldito pé-grande,
ultrapassando o ponto de toda racionalidade ou
autopreservação.
Niko não desistiu e aproveitou todas as
oportunidades para marcar feridas que
deveriam ter sido debilitantes, mas Arsen mal
as nota, e é tudo o que Niko pode fazer para
manter os dentes de Arsen longe de sua
garganta.
E tudo o que posso fazer é ficar
aqui. Depois de tudo o que passei para chegar a
esse ponto, com todo esse poder que não sei
usar, tudo o que posso fazer é vê-los se
rasgarem. Eles nem percebem que estou
aqui. Poderia muito bem nem estar aqui.
Foda-se isso. Vou fazê-los perceber que
estou aqui.
Avanço com propósito, afasto o punho e
dou um soco forte no nariz de Arsen. Ele vacila
por um momento, um lampejo de orgulho que
eu sou forte o suficiente para fazer isso fluir
através de mim. Eu meio que espero que Niko
venha para mim enquanto minhas costas estão
viradas, mas ele está mais gravemente ferido do
que pensava. Assim que Arsen está fora dele,
ele cai em um joelho. Provavelmente está perto
de desmaiar. Eu não tenho tempo para me
preocupar com ele, no
entanto. Consegui chamar a atenção de
Arsen.
Ele ruge. Não há mais nada humano em
seus olhos.
Ele se joga em mim como algo selvagem. É
tudo o que posso fazer para evitar os golpes
ferozes de suas mãos com garras. Eu consigo
dar alguns bons golpes, visando pontos fracos,
para qualquer lugar vulnerável o suficiente para
causar danos reais, mas isso nem o atrasa. E
quando suas garras assobiam passando pela
minha bochecha, percebo que ele realmente
pretende me matar. Ele está muito perdido em
qualquer que seja essa raiva para parar.
Por pouco, evito outro ataque, sem perceber
o outro punho vindo em minha
direção. Estremeço, antecipando a dor, mas ela
nunca vem. Em vez disso, um jato de sangue
cai sobre minha bochecha.
Niko se colocou entre mim e Arsen,
machucando o ombro já ferido. Ele olha para
mim, com os olhos cheios de raiva e dor,
rosnando entre dentes.
— Lute! — Ele exige. — Você é inútil para
mim morta!
Ele se vira, batendo com o punho na
mandíbula de Arsen, depois esquiva, ficando
fora do alcance, mas muito devagar. Arsen o
pega pelo tornozelo, puxando as pernas dele e
arrastando-o para trás. Eu pulo, afundando
meus dentes no braço de Arsen fundo o
suficiente para provar o sangue. Ele me sacode
quase imediatamente, enviando-me derrapando
para trás, mas dou a Niko tempo suficiente
para se libertar.
— Leve-o em direção à borda! — Eu grito
para Niko. Não sei como vou lidar com Niko,
mas agora tirar Arsen dessa luta é uma questão
de vida ou morte.
Não sei se é o fato de ser meu criador ou se
somos ambos Baetal, mas Niko, por todas as
suas falhas, sabe trabalhar em equipe. Ele
entendeu a ideia imediatamente e, quando
Arsen vem atrás de mim, entra em ação para
dar um golpe. Nós trocamos, cada um fazendo
pequenos ataques e mantendo Arsen distraído,
impedindo-o de atacar qualquer um de
nós. Juntos, o atraímos para mais perto da
borda da plataforma, incitando-o a correr.
Mas, por mais selvagem que ele esteja, isso
não o tornou estúpido.
Chamo a atenção de Niko e percebo que ele
está pensando a mesma coisa que eu. Arsen
não vai vacilar, a menos que um de nós o
empurre. Ele me dá um aceno e mergulha no
flanco de Arsen, gritando e fazendo gestos
amplos. Ele está assumindo o trabalho mais
perigoso de manter Arsen ocupado enquanto
espera minha abertura. Lá! Eu desço,
esperando usar o tamanho dele contra ele
quando o bato nos joelhos, derrubando-o sobre
a borda da plataforma.
Ou quase, pelo menos.
Ele cai para a frente, pegando a borda da
plataforma. Frenética, eu o empurro de novo, e
ele se volta para trás, me agarrando pela minha
camisa e me jogando sobre ele. Eu tenho
apenas um segundo para perceber o que
aconteceu antes de bater na grama.
No segundo que me leva a recuperar o
fôlego, ouço Niko gritar, o primeiro som de dor
genuína que ele fez desde que a luta
começou. O medo me perfura. Tropeço em
meus pés, segurando meu peito dolorido, para
ver Arsen pegar Niko e jogá-lo corporalmente
através do ringue, mas não fora dele.
Niko atinge a plataforma, derrapa alguns
centímetros e não se levanta. Ele está
apagado. Mas Arsen ainda está indo para
ele. Arsen está muito louco para se importar
que Niko esteja inconsciente ou próximo disso.
Cristo, ele vai matá-lo.
Estou voltando ao ringue antes de saber o
que está acontecendo. Atravesso a distância
entre nós, movendo-me mais rápido do que
nunca, para me jogar no corpo caído de Niko,
com os braços erguidos para afastar Arsen.
— Arsen, pare!
Grito seu nome enquanto ele corre em
nossa direção, com os dentes à mostra, e por
um momento ele hesita, um vislumbre do
homem que conheço voltando aos seus olhos.
Naquele momento de hesitação, outros seis
vampiros o cercam, segurando-o, arrastando-o
para longe de nós. O Ancião corre para o centro
do ringue.
— A competidora Sasha, derrotada por
derrapar fora do ringue! — Ele fala. — O
competidor Nikolai, derrotado por nocaute! O
competidor Arsen é vitorioso!
A multidão aplaude, mas os vampiros que
afastaram Arsen ainda estão lutando para fazê-
lo se acalmar. O Ancião me ajuda a levantar
quando dois vampiros Baetal com insígnias
médicas vêm ver Niko. O Ancião continua
checando Arsen, que balança a cabeça e afasta
as pessoas que tentam acalmá-lo, mas pelo
menos ele não está mais atacando ninguém.
— Nunca vi uma luta tão cruel fora da
guerra aberta, — diz o Ancião, claramente um
pouco atordoado. — Nem um Provokar tão
unilateral! Não consigo entender por que Nikolai
o desafiaria se ele era capaz disso.
— Não acho que ele sabia, — eu confio, um
pouco surpresa. — Eu não imaginaria. Era
como se ele estivesse louco. Nem me
reconheceu.
O Ancião franze a testa e depois relaxa.
— Você, corra para a tenda médica, — diz
ele, empurrando-me gentilmente em direção a
uma tenda de seda branca na qual Niko está
sendo carregado. — Se remende antes da
celebração hoje à noite.
— Eu irei, — asseguro a ele, me afastando.
— Preciso falar com Arsen primeiro.
O Ancião abre e fecha a boca, inseguro,
mas eu o deixo para trás, indo atrás de Arsen,
que está se afastando da plataforma agora em
direção à quietude e a sombra das árvores além
da arena.
— Arsen? — Eu chamo com cautela quando
me aproximo, preocupada que ele ainda possa
ser perigoso. Ele sorri timidamente quando me
vê. Ele parece cansado e nervoso, mas não mais
selvagem.
— Ei, querida, — diz ele com carinho. —
Você está bem? Eu não te machuquei, não é?
— Nada mal, — eu o tranquilizo,
aproximando-me. — Eu fiz você prometer não
ser fácil comigo.
— Ainda assim, — ele parece um pouco
envergonhado. — Também prometi nunca te
machucar.
— Estou mais preocupada com você, — eu
digo, estendendo a mão para ele. — Ele recua
para evitar o meu toque, claramente ainda se
sentindo culpado. — Você estava... louco lá.
Como uma pessoa totalmente diferente.
— Eu estou bem, — ele me garante, rindo.
— Só me envolvi um pouco. Eu disse que
ganhar isso significa muito para mim.
— Você não está bem, — digo a ele sem
rodeios. — Você está sangrando por todo o
lugar.
— Oh, certo, bem, sim, além disso, — diz
ele, olhando para seus vários ferimentos. — Eu
vou ficar bem. É preciso mais do que isso para
matar um vampiro.
— Como você quase demonstrou em Nikolai
lá atrás, — brinco, estendo a mão para tocá-lo
novamente. Ele me deixa desta vez, e eu
acaricio sua bochecha, aliviada por vê-lo voltar
mais ou menos ao normal. Sua pele está mais
quente que o normal, mas a loucura se foi de
seus olhos.
— Não teria sido uma perda enorme, — diz
ele, sorrindo e colocando a mão sobre a minha.
— O que importa é que ganhei. Nós vencemos.
Franzo meus lábios, desejando ter mais
certeza sobre essa vitória.
— Ainda me sentiria melhor se eu mesma
tivesse escolhido, — eu sussurro. Ele aperta
minha mão e depois me puxa para um abraço
caloroso.
— Você escolheu, — diz ele. — Você me
escolheu. Você está escolhendo agora. Eu te
conheço. Se você realmente não quisesse isso,
nunca deixaria isso acontecer. Mas você está
aqui comigo. É normal ter dúvidas. Mas isso é
tudo. Isso está certo. Apenas deixe acontecer.
Eu o abraço, desejando que fosse fácil
deixar de lado meus medos. Quero acreditar
que esta é a decisão certa, mas algo ainda me
parece estranho... falando nisso...
Franzo a testa quando algo no bolso da
calça de couro de Arsen me cutuca. O que ele
manteria no bolso durante tudo isso,
especialmente considerando que armas não
eram permitidas?
Eu puxo para fora sem realmente
pensar. Meus olhos se arregalam quando
reconheço o frasco de vidro, seu interior ainda
manchado de sangue. É exatamente o mesmo
tipo que Claudette me ofereceu.
— Sangue de bruxa? — Eu digo
chocada. Arsen endurece, afastando-se de mim
para ver o frasco na minha mão. Ele
empalidece. — Foi por isso que você ficou
louco? Você estava trapaceando?
— Sasha, — diz Arsen rapidamente, me
silenciando. — Eu precisava, não podia correr o
risco de perder. Isso era muito importante.
— Muito importante? — Eu digo, indignada.
— Você poderia ter sido desqualificado! Todo o
desafio poderia ter sido anulado e eu teria
acabado com Niko por padrão! Em que universo
vale a pena arriscar?
— Fiz o que precisava ser feito, Sasha, —
diz Arsen, mandíbula tensa, deixando claro que
não recuará. — Sempre faço o que precisa ser
feito.
— Eu...— Começo a dizer mais, sem saber
como me expressar, mas sabendo que isso não
está certo. Sou interrompida por alguém
atravessando as árvores atrás de nós.
— Aí está você! — Diz um vampiro que não
reconheço. Ele está usando um crachá médico,
no entanto, então suas intenções são claras. —
Jesus, o que vocês estão fazendo aqui
atrás? Você não podia esperar até a festa para
curtir? — Ele ri e depois nos leva para a tenda
médica. — Vamos enfaixar os dois. Todo mundo
está esperando você começar a festa!
CAPÍTULO 18

Precisamente ninguém esperou por nós.


A festa já estava em pleno andamento
quando entramos. Se eu aprendi alguma coisa,
é que os vampiros não esperam por nada
quando sentem a oportunidade de fazer uma
grande celebração extravagante. A comida
estava incrível, as roupas lindas, a música, ah,
a música estava boa, acho. Não era realmente o
meu estilo.
Houveram muitos parabéns e as pessoas
perguntavam ansiosamente quando eu e o
Arsen iríamos oficializar agora que ele me
"ganhou". Estou lutando para entrar no clima
de festa. Essa vitória é falsa. E sabendo como
Arsen venceu...
Niko não apareceu até a festa começar há
várias horas. Ele entra, com o braço na tipoia, e
a julgar pelos vampiros médicos correndo atrás
dele, ele acabou de acordar e veio direto para
cá.
A multidão se separa dele enquanto ele se
dirige diretamente para onde Arsen e eu
estamos perto da frente da sala. Ele marcha
diretamente até Arsen e dá um soco selvagem,
que Arsen se abaixa facilmente.
— Trapaceiro! — Ele declara. —
Mentiroso! Não sei como você fez isso, mas juro
por Deus ...
— Como fiz o que? — Arsen pergunta, o
rosto endurecendo em uma máscara de raiva.
— Chutei sua bundinha magricela? Porque
posso te dar uma demonstração a qualquer
momento, amigo.
— Príncipe Niko! — Um dos anciãos Baetal
que acompanha Nikolai se empurra entre os
dois homens.
— Posso lembrá-lo, — ele diz, — que você
não está mais protegido pelos termos do
duelo. Se você atacar esse homem agora, será
considerado um ato de guerra!
— Vou declarar a guerra já antes de
permitir que isso aconteça! — Niko grita. — Ele
difamou uma de nossas tradições mais antigas
e roubou o que é meu por direito!
— Eu não roubei nada! — Arsen grita. —
Exceto, talvez, suas bolas, se você vai vir até
mim com essa besteira de perdedor!
— Príncipe Niko, — aponta o Ancião. —
Essa é uma acusação extremamente séria. Você
tem alguma prova?
— Só que não há nenhuma maneira
possível que tenha sido uma luta justa, — diz
Niko, o rosto ficando vermelho. — Vocês todos
viram o quão louco ele ficou! Ele estava
claramente usando alguma coisa!
— Sem provas, meu príncipe...
— Para o inferno com provas! Sasha! Você
estava lá perto de mim! Ele também teria
matado você! Diga a eles!
Eu congelo quando Niko vira seu olhar
ardente para mim, exigindo que eu diga a
verdade. Arsen está rígido ao meu lado, com
cuidado, não olhando na minha direção. Meu
coração dispara. Deveria...?
— Eu... eu não sei, — finalmente gaguejo.
— Quero dizer, nunca o vi realmente lutando
antes, então...
Niko grita de frustração sem palavras e vira
uma mesa de refresco. Há gritos de vários
vampiros enquanto eles esquivam-se da comida
voadora e se apressam para apagar as chamas
das velas.
— Isso não acabou! — Ele declara e olha
para mim. — Vou te ver novamente.
Ele sai em disparada, acompanhado pelo
resto dos Baetal. Curiosamente, sinto uma
pontada de traição, não de mim,
mas por mim. Posso querer estar com Arsen,
mas os Baetal são meu sangue, pelo menos
agora eles são. A festa nos observa em silêncio,
atordoados. Quando a porta bate atrás dele, os
murmúrios e os olhares de lado começam.
— Você está bem? — Arsen pergunta,
virando-se para colocar as mãos nos meus
ombros.
— Eu estou bem, — digo rapidamente,
balançando a cabeça.
Ele me puxa para um abraço apertado, a
fim de sussurrar no meu ouvido.
— Obrigado por estar do meu lado.
Eu sorrio para ele, mas meu estômago
ainda está se apertando.
Sei os motivos de Arsen. Por que ele
sacrificaria tanto? É pessoal e eu entendo. Ele é
um líder e, em tempos desesperados, as
pessoas precisam fazer escolhas difíceis. Mas
...isso ainda está errado. E gostaria que ele não
tivesse trapaceado. Gostaria que ele ainda
pudesse ser esse mocinho perfeito aos meus
olhos, mas ele não é perfeito. Ele cometeu um
erro. A pergunta é: — Este é o último?
Peço licença da festa cedo e recuo para o
laboratório. Estou mais confortável lá do que
em qualquer outro lugar do complexo. Talvez
possa resolver meus pensamentos com um
pouco de paz e sossego.
Acabo passando a maior parte da noite lá,
realizando mais testes com a proteína que
isolei. Nada útil ainda, mas é assim que essas
coisas boas acontecem. A menos que tenha um
avanço milagroso, pode levar meses até que eu
tenha algo que valha a pena testar nas
pessoas. Ainda assim, é bom me distrair dos
meus outros problemas por um tempo e me
concentrar na praga que está matando metade
da minha nova espécie.
É tarde quando finalmente desisto e decido
descansar um pouco. Meus machucados da
luta estão doendo e eu poderia usar tomar
longo banho quente agora. Mas primeiro preciso
de comida. Lembro-me de uma máquina de
lanches no mesmo prédio do salão de
banquetes e não é muito longe, então me
arrasto nessa direção, bocejando.
A festa acabou. Alguns casais ainda se
escondem, se beijando na luz cinzenta do
amanhecer. O salão de banquetes é uma
bagunça que alguém terá que limpar
amanhã. Espero não estar nessa lista de
tarefas.
Eu posso ver o brilho da máquina de
salgadinhos na esquina quando ouço o zunido
do motor. Alguém me adiantou.
— ...não pode deixar que ele desrespeite
você assim! — Alguém está dizendo.
— Eu dei uma surra nele uma vez. Posso
fazer isso a qualquer momento.
Reconhecendo a voz de Arsen, eu mordo
meu lábio. Não tenho certeza se estou pronta
para enfrentá-lo ainda. Meus sentimentos ainda
são uma bagunça emaranhada. Enquanto eu
hesito, Arsen continua falando.
— E quando conseguirmos o sangue de
Sasha, todo o clã Baetal estará implorando aos
nossos pés.
Minha respiração para, esperando para
saber se ele não quis dizer isso do jeito que
parecia.
— Nós seremos os únicos com a cura, — ele
continua, confirmando meus medos. — Se eles
quiserem sobreviver, terão que se submeter a
nós.
Minhas pernas ficam fracas e eu me inclino
contra a parede perto de mim, dizendo a mim
mesma que estou ouvindo isso errado.
— E não é só isso, — diz outra pessoa. —
Diga a eles o que você me contou sobre os
poderes!
— Ainda não sabemos ao certo se vai
funcionar, — diz Arsen, com ansiedade em sua
voz. — Mas achamos que o sangue dela fará
mais do que apenas nos curar. Pensamos que,
porque ela foi mordida por um Baetal, ela
também transmitirá seus poderes de sangue
para nós. Não seremos apenas o único clã livre
do vírus, também seremos o único clã com duas
habilidades.
— Ela sabe? — Uma voz pergunta. — Quero
dizer, ela está a bordo de tudo isso?
— Não, ela ainda não sabe de nada, —
responde Arsen. — Você viu como ela é. Ela
faria um grande alarido sobre isso. Quando ela
for minha companheira e parte do clã, direi a
ela. Não posso arriscar que fuja, sabe?
— Cara, eu não gostaria de estar no seu
lugar quando ela descobrir. Você vai ficar na
seca por um tempo.
— Veremos. Somos dinamite juntos. Ela
não pode resistir a mim, cara.
Não fico para ouvir o resto. Eu os ouço se
movendo e sei que eles dobrarão a esquina em
breve e me verão. Saio o mais rápido e
silenciosamente que posso e vou direto para o
meu quarto.
Meu coração dói e minha cabeça
lateja. Claudette estava certa. Ele estava me
usando...o tempo todo. Ele teria me forçado a
ficar com ele, e então me feito dar a cura
apenas para ele e seu clã. Exatamente o mesmo
que Niko. Exceto que Niko, pelo menos, teve a
decência de ser franco sobre isso. Ele nunca
mentiu para mim ou brincou com minhas
emoções. Deus, tenho sido tão idiota. Eu sabia
que algo parecia errado, sabia.
Paro, empurrando as palmas das mãos nos
meus olhos para reprimir as lágrimas que
ameaçam me dominar. Não tenho tempo para
chorar agora. O sol vai nascer em uma ou duas
horas e tenho um lugar para estar. Não posso
ficar aqui. Não posso ficar com ele depois
disso. Trapacear no concurso já é ruim o
suficiente para me fazer questionar as coisas,
mas isso, sabendo que sou apenas uma
ferramenta para ele pegar o poder, é demais.
Enfio meu punhado de pertences em uma
bolsa e saio, silenciosamente e sem encontrar
ninguém. Faço apenas uma breve parada no
laboratório para coletar minhas amostras e
experimentar os resultados. E então vou
embora, voltando para a base Baetal. Para Niko.
Ele abre a porta, com um choque escrito no
rosto, vestindo uma túnica como se estivesse
indo para a cama. Ele não está feliz, mas sua
expressão irritada se dissipa quando vê a bolsa
que estou carregando.
— Você estava certo, — eu digo antes que
ele possa perguntar. — Arsen trapaceou. O
concurso é nulo. E escolho você.

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