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TEXTUALIDADE E COESÃO

I- TEXTUALIDADE E COESÃO

Um texto, da perspectiva de sua estrutura interna, não é um aglomerado de palavras aleatoriamente


dispostas no papel; trata-se de um todo composto de partes interligadas. O sentido integral do texto,
entretanto, não é dado pela mera soma das partes que o compõem, mas pelas múltiplas relações de
sentido que elas estabelecem entre si. Para ser coeso, portanto, o texto deve permitir ao leitor acompanhar
a sequência lógica das ideias nele desenvolvidas, bem como a relação entre elas. Os recursos linguísticos
formais utilizados para estabelecer essa interligação constituem, assim, os elementos de coesão. É
importante ressaltar, ainda, o caráter lógico dessa ligação, ou seja, sua coerência, condição necessária para
uma coesão eficiente. Em termos gerais, um texto coerente é um texto cujas partes não sejam contraditórias
e apresentem harmonia de sentido.

São dois os tipos de coesão: a referencial e a sequencial. O primeiro tipo diz respeito aos processos
de retomada e antecipação de elementos do texto por meio de itens lexicais; já o segundo trata das relações
lógicas de sentido entre os termos e ideias de texto, realizados por mecanismos coesivos formais, os
operadores argumentativos. A seguir, trataremos de ambos.

1. Coesão referencial: trata-se do processo coesivo estabelecido por recursos linguísticos que tem a
função, além de conectar, estabelecer referência entre as parte do texto, “isto é, não são interpretados
semanticamente por seu sentido próprio, mas fazem referência à algum elemento necessário à sua
interpretação” (Leonor Fávero, “Coesão e Coerência textuais”). Sua presença no texto é um fator coesivo e
seus mecanismos de funcionamento são a retomada ou a antecipação, a substituição ou repetição de
termos.

1.1. Anafóricos: termos que servem para retomar outros termos.

(1) A publicação de imagens trágicas sem os cuidados éticos que o bom jornalismo exige acentua os
dramas pessoais das vítimas. Tal exposição indevida é cruel não apenas por expô-las ao espetáculo
horrendo do sensacionalismo midiático, mas também porque as faz reviver seus fantasmas.

1.2 Catafóricos: termos que servem para antecipar outros termos.

(2) No atual estágio da mídia nacional, mesmo que ele ainda mantenha o seu prestígio ancorado
nos altos índices de audiência, deve-se considera-lo como fator de alienação dos espectadores. O
sensacionalismo, de fato, torna as pessoas reféns de uma realidade paralela entrevista somente nas
telas dos programas de TV e rádio.
1.3. Principais recursos coesivos referenciais

1.3.1 Pronomes pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos

(3) A sociedade ergue muros e neles se refugia de seus medos.

(4) A mídia produz o sentimento de medo e o estimula nas mentes alienadas.

(5) O poder manipula o medo de acordo com seus interesses e o faz através da mídia. Isso pode ser notado
na forte presença do sensacionalismo na grade de programação das TVs.

(6) Os direitos sociais devem ser estendidos aos mais necessitados, para quem se deve dar prioridade nas
políticas assistenciais.

(7) O realismo conformista alimenta a rotina alienante que nos abate.

(8) A conveniência a que a ação humana se habituou alimenta as mentiras sociais.

(9) De modo que não se pode atingir a justiça em um país onde a violência está fora de controle.

(10) Assim, pode-se afirmar que a construção dos muros como símbolo do medo é um processo cuja raiz
profunda se encontra na manipulação desse sentimento pelo poder e na sua exacerbação pela indústria
cultural.
Atenção para:

. ambiguidades
. “mesmo” com valor de pronome pessoal
. retomada da referência quando ela estiver muito distante
. artigo indefinido: serve para marcar a introdução de informações novas, uma vez introduzidas, usa-se o definido.
. em posição anafórica “fazer” substitui verbos de ação, e ser verbos de estado

1.3.2 Palavras gramaticais: verbos, numerais, advérbios

(11) Ao presenciarem uma injuria racial, os cidadãos deveriam denunciar esse crime; mas, em geral, não o
fazem.

(12) A sociedade aprendeu diversas lições com as experiências totalitárias; mas fatos recentes mostram que
não foi tanto quanto se poderia esperar.

(13) Certamente, o país deveria seguir o exemplo do Canadá. Lá, os membros do primeiro escalão do governo
refletem a pluralidade que há na sociedade.

(14) A esse respeito, pode-se dizer que as raízes profundas da questão do racismo no Brasil ligam-se a dois
fatores: o primeiro, as históricas relações de poder estabelecidas desde o período da escravidão e o segundo,
a subsequente institucionalização dessas relações em todas as esferas da sociedade nacional.
1.3.3 Palavras lexicais: substantivos, verbos, adjetivos

Sinônimo, hiperônimo, hipônimo, antonomásia

(15) Os indivíduos se entregam ao trabalho como autômatos. Desse modo, a atividade laboral os aliena,
agrilhoando-os, como sísifos modernos, a um cotidiano de eterna reprodução. (sinônimo)

(16) Nesse contexto, ocorre a criação de barreiras simbólicas. Muros ideológicos, assim, são erguidos como
proteção a pontos de vista distinto, freando do diálogo e possibilidade de alternância de poder.
(hiperônimo/hipônimo)

(17) Pode-se dizer que, infelizmente, os muros são símbolos dos medos mais profundos da sociedade. Essas
barreiras físicas e psicológicas são criadas e recriadas em função dos interesses de quem controla os poderes
que gerenciam a sociedade. (hipônimo/hiperônimo)

(18) Deste modo, as ações afirmativas devem ser defendidas pelos cidadãos negros como forma de se
amenizar as barreiras sociais erguidas pelo racismo institucional. Nessa batalha, será necessário que cada
um seja um martin luther king da luta racial. (adjetivo, antonomásia)

1.4 Elipse, nominalização

(19) Ademais, a suposta democracia racial existente no Brasil, conforme revelam os dados sobre a questão
racial no país, oferece aos brancos, principalmente aos ricos, os direitos de cidadania; já à população negra,
a miséria e o cárcere. (elipse)

(20) A princípio, a lógica inerente ao modo de produção capitalista impõe a rotinização das tarefas como
forma de controle racional no contexto das indústrias. Tal imposição, entretanto, se amplia para a dinâmica
do comércio e dos serviços e dali se espalha por todos a sociedade, tornando a produtividade um imperativo
da vida moderna. (nominalização)

1.5. Exercício 1: reescreva o texto abaixo, eliminando as repetições.

(21) Em outubro de 1839 Paris ainda possuía a mesma mística embriagadora que Chopin experimentara ao

chegar em Paris em setembro de 1831. A ausência de 11 meses só servira para aumentar o apaixonado

fascínio de Chopin por Paris. Paris havia se tornado a amante de Chopin muito antes de Chopin conhecer

Mme Sand e durante vários anos subsequentes as afeições de Chopin ficaram divididas entre Paris e Mme

Sand. Paris e Mme Sand adoravam Chopin, do mesmo modo que eram, por sua vez, cultuadas por Chopin

e Paris e Mme Sand eram essenciais à existência Chopin. Com a saúde debilitada, Chopin não podia

sobreviver ao estímulo de Paris sem o amparo de Mme Sand.


2. Coesão sequencial: trata-se do processo coesivo estabelecido por recursos linguísticos que tem
como função, além de conectar partes do texto, estabelecer, por exercerem certa carga semântica, relações
de sentido. Eles possuem um papel argumentativo fundamental no texto. São, por isso, considerados
operadores argumentativos.

2.1 Preposições

. nos complementos verbais: valor relacional


. nas locuções adverbiais: valor semântico (causa, matéria, condição, posse, etc.)
. preposições acidentais: salvo, consoante, exceto, durante, conforme, senão, segundo, etc.

(22) No Brasil, consoante as estatísticas relativas à população negra, as barreiras raciais persistem contra o
discurso da existência de democracia racial. Alguns dados são especialmente notórios como a população
carcerária ser 65% negra, enquanto o corpo estudantil das melhores universidades ser composto por menos
de 30% de negros e pardos, mesmo após a adoção de políticas de cotas há dez anos. De fato, não obstante
os recentes avanços nas leis, há ainda muito para se caminhar.

2.2. Principais tipos de operadores e relação de sentido que estabelecem:

2.2.1 Adição: e, também, nem, não só...mas também, além de, além disso, ademais, ainda etc.

(23) De acordo com o filósofo Zygmunt Bauman, vive-se atualmente um período de liberdade ilusória, já que
o mundo globalizado não só possibilitou novas formas de interação com o conhecimento, mas também abriu
portas para a manipulação e alienação semelhantes às vistas em “1984”.

2.2.2 Gradação: até, mesmo, até mesmo, inclusive, ao menos, no mínimo, no máximo, quando muito.

(24) De fato, pode-se imputar, ainda, à indústria cultural a disseminação de um modo de pensar
padronizado, vinculado ao consumo dos bens culturais que aqueles que a controlam nos impõem. E ela o
faz, inclusive, por meio de propagandas subliminares que naturalizam modelos de conduta moldados pela
adesão a marcas e produtos.

2.2.3. Alternativa: ou, ou então, quer... quer, seja... seja, caso contrário.

(25) Torna-se evidente, portanto, que ultrapassagem dos limites éticos pelo sensacionalismo é um fato que
fere profundamente a dignidade do indivíduo que, padecendo de uma tragédia pessoal, tem sua imagem
reproduzida incessantemente com a finalidade de produzir audiência. Compete, assim, à sociedade condenar
tal abuso e ao Estado tomar as providencias legais cabíveis. Caso contrário, ambos estarão sendo cúmplices
de um atentado aos direitos fundamentais da pessoa humana.
2.2.4 Conclusão: portanto, logo, por conseguinte, pois, então, assim

(26) Portanto, diante desse quadro dantesco de marginalização da população negra no Brasil torna-se mister
que se adote medidas de diminuição da secular e violenta desigualdade racial presente no país.

(27) Na obra “Os caminhos da liberdade, o filósofo iluminista francês Jean-Paul Sartre, associa a liberdade
de ação do indivíduo à responsabilidade pelos seus atos, já que toda ação individual, para o autor, se reflete
no corpo social. Essa perspectiva de análise implica, logo, na necessidade de que a ação humana se
fundamente em uma ética da responsabilidade para que se possa alcançar o bem coletivo.

(28) Aristóteles, em sua “Ética a Nicômaco”, retrata a conduta humana como uma prática constante das
virtudes. Para o filósofo grego, o homem é causa de suas próprias ações e, portanto, sem uma práxis virtuosa
não há possibilidade de se alcançar o bem comum.

2.2.5.Comparação: tanto...quanto, tão... quanto, mais... (do) que, menos... (do) que, assim como

(29) No contexto da sociedade de consumo, o imperativo consumista, através dos mecanismos da indústria
cultural, atiça o desejo hedonista pelo automóvel. Nesse sentido, assim como a publicidade e o cinema
associaram as marcas de cigarro ao prazer e ao status, hoje, elas fazem o mesmo com os automóveis,
erguidos à condição de símbolos do status e do poder.

2.2.6. Explicação ou justificativa: porque, já que, que, pois (anteposto ao verbo), ou seja, uma vez que.

(30) Na obra “Os caminhos da liberdade, o filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre associa a liberdade
de ação do indivíduo à responsabilidade pelos seus atos, já que toda ação individual, para o autor, se reflete
no corpo social. Essa perspectiva de análise implica, então, na necessidade de que a ação humana se
fundamente em uma ética da responsabilidade para que se possa alcançar o bem coletivo.

(31) Segundo Emilie Durkheim, sociólogo estruturalista francês, “fato patológico” é aquele que prejudica o
convívio social e destoa da “consciência coletiva”. Desse modo, o consumismo pode ser considerado como
tal, uma vez que, segundo o seu “modus operandi”, baseado no padrão de massificação do individualismo e
no “fetichismo da mercadoria” marxista, dissemina seus valores individualistas, provocando a desagregação
social.

2.2.7. Causa: porque, pois, que, porquanto, já que, uma vez que, como, visto que, visto como.

(32) Ao longo da história, diversos grupos étnicos foram inferiorizados, discriminados e colocados à margem
do processo social porque foram submetidos ao poder de outros grupos com maior capacidade econômica e
bélica. No contexto brasileiro da escravidão, essa dinâmica pode ser vista no modo como os colonizadores
brancos portugueses submeteram os escravos africanos ao seu domínio. (adaptado)

(33) Com efeito, no âmbito cultural, muitos acreditam, hoje, que consumir pode ser uma fonte de felicidade
e que possuir determinados produtos é uma necessidade para integrar plenamente a sociedade, seguindo
seus valores consumistas. Isso ocorre já que as mídias de massa, que tem papel fundamental nesse contexto,
bombardeiam televisões, jornais, internet e revistas com mensagens publicitárias de lojas, cartões de crédito,
“shoppings centers”, empresas, entre outros (consequência/causa)

(33) As mídias de massa, nesse contexto, têm papel fundamental visto que bombardeiam televisões, jornais,
internet e revistas com mensagens publicitárias de lojas, cartões de crédito, “shoppings centers”, empresas, entre
outros. Assim, culturalmente, muitos acreditam, hoje, que consumir pode ser uma fonte de felicidade e que
possuir determinados produtos é uma necessidade para integrar plenamente a sociedade, seguindo seus
valores consumistas. (causa/conseuência.)

2.2.8. Consequência: que (depois de tão, tal, tanto) de sorte que, de maneira que, de modo que, de forma
que, por isso, por tal razão...

(34) Ao longo da história, as disputas pelo poder na sociedade consolidaram a supremacia de certos grupos
étnicos com superioridade econômica ou bélica sobre outros. Por isso aqueles que, hoje, ocupam o status
superior discriminam as demais, colocando-os a margem dos processos sociais. No contexto brasileiro da
escravidão, essa dinâmica pode ser vista no modo como os colonizadores brancos portugueses submeteram
os escravos africanos ao seu domínio. (causa/consequência)

(35) Ao longo da história, diversos grupos étnicos foram inferiorizados, discriminados e colocados à margem
do processo social porque foram submetidos ao poder de outros grupos com maior capacidade econômica e
bélica. No contexto brasileiro da escravidão, essa dinâmica pode ser vista no modo como os colonizadores
brancos portugueses submeteram os escravos africanos ao seu domínio. (adaptado)/consequência/causa

2.2.9. Finalidade: a fim de, para que, para (+infinitivo)

(35) A sociedade individualista busca satisfazer seus desejos próprios através do consumo e, em shoppings,
encontra o local perfeito para se segregar dos problemas do mundo afora e se inserir na felicidade do
consumo.

2.2.10. Condição: se, caso, desde que, a não ser que, a menos que

(36) O sociólogo francês Guy Debord argumenta, em seu livro “A sociedade do espetáculo” que as relações
sociais, na sociedade contemporânea, são mediadas pela imagem. Assim, ela representa uma fonte
importante de poder político e social de modo que seu controle por interesses políticos e econômicos tornou-
se fundamental. Nessa perspectiva, desde que tal controle possa ser exercido por meios democráticos, as
possibilidades de manipulação com fins outros que não os interesses do corpo social, reduzir-se-ão bastante.
Para tanto, necessita-se cortar as raízes profundas que fazem florescer tal problema, ou seja, as disputas de
poder e o sensacionalismo midiático.

(37) Portanto, a menos que o Estado e a sociedade tomem adotem medidas que caminhem firmemente na
direção do combate as causas do racismo na sociedade, esse problema não será superado.
2.2.11. Temporalidade: quando, logo que, assim que, toda vez que, enquanto, etc

(38) A maneira de pensar do ser humano sofreu uma reviravolta na Grecia Antiga, quando, ainda que
gradualmente, os mitos deixaram de sustentar a autoridade de um cidadão. Com isso, para fazer valer sua
vontade nas decisões da polis, o homem grego precisou adaptar-se a uma nova prática: a política. A partir
de então, graças à influência do pensamento grego no mundo ocidental, a política torna-se instrumento
básico para qualquer ser humano que quisesse ser livre.

(39) Desde a infância, quando exerce a importante função de despertar a percepção do risco, o medo
acompanha as pessoas. Nas narrativas infantis, por exemplo, a presença de figuras como o bicho papão ou
o lobo mal, como símbolos do perigo, é constante. Essa exploração inicial do medo, então, vem acompanhada
da necessidade de proteção, ou seja, da criação de barreiras que afastem os riscos. Mais tarde, já na idade
adulta, os medos persistem, embora os perigos tomem diversas outras formas. É quando o temor passa a
ser manipulado pelo poder para subordinar os indivíduos aos seus interesses. Essa exploração social do medo
cria, pois, indivíduos dominados pelo medo, necessitados de muros, reais ou simbólicos, que os protejam.

2.2.12. Oposição: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto

(40) De fato, as tecnologias de comunicação, em tempos de sociedade em rede, aprimoraram as relações


interindividuais na medida em que facilitaram o contato e as trocas de informação em tempo real. Todavia,
a manipulação sensacionalista das imagens trágicas que circulam nas redes sociais interfere nesse processo
interativo, afetando a condição ética que deveria nortear o seu funcionamento.

2.2.13. Concessão: embora, ainda que, mesmo que, apesar de que.

(41) De fato, embora a manipulação sensacionalista das imagens trágicas que circulam nas redes sociais
afete a condição ética que deveria nortear o funcionamento das tecnologias de informação, as mídias, de
modo geral, têm cumprido seu papel de sensibilizar a população para as causas humanitárias a que as
imagens trágicas remetem. (adaptado)

2.2.14. Exemplificação ou especificação: por exemplo, como

(42) Ao longo da história, firmaram-se na sociedade relações de poder advindas da manipulação do medo
por interesses políticos, econômicos e religiosos. No campo da política, por exemplo, tornou-se comum
aplicar-se a máxima maquiaveliana de que seria preferível ao governante ser temido a ser amado. Essa
orientação foi responsável por inúmeras demonstrações de força concretizadas em atrocidades cometidas
com o intuito de irradiar o pavor para se obter a obediência. Nos tempos atuais, os mecanismos de
subordinação são mais sutis e a manipulação do medo com intuito político se dá, em geral, pela via da
indústria cultural e do sensacionalismo.

(43) Nesse sentido, conforme disse o filósofo francês “Michel Foucault”, a autodisciplina é muito mais eficiente
que o controle alheio. As religiões, por exemplo, instituíram valores morais que determinaram como devemos
viver. Como somos educados desde a infância dessa forma, esses valores são tão fortes que acabam sendo
fiscalizados por nossa própria culpa, um elemento de disciplina interno que nos impede de ir contra a
corrente.

(44) Mas, além dessas catracas visíveis, existem outras quase imperceptíveis. A mídia, especialmente, exerce
o papel de formadora de opinião, criando hábitos, tendências e estereótipos, responsáveis pelo preconceito.
Como no passado, quando a beleza idealizada da mulher estava em suas gorduras; hoje, com os padrões
ditados pela indústria da moda, as mulheres devem alcançam a quase anorexia.

2.2.15. Generalização: de fato, realmente, aliás, também, é verdade que.

(45) O filósofo inglês Thomas Hobbes, ao tratar do sentimento do medo em suas elaborações filosóficas,
afirma ser ele o responsável por fazer o homem respeitar as leis. No mesmo sentido, Maquiavel recomendava
ao príncipe de Florença que, para manter o poder, ele deveria ser temido mais do que amado. De fato, o
sentimento de medo, tratado pelos teóricos do absolutismo, é um afeto humano primário que leva o indivíduo
a agir seguindo seu instinto de preservação, buscando proteção contra o perigo. Todavia, quando demasiado,
o medo pode paralisá-lo e submetê-lo a dominação alheia, seja política ou ideológica. Essa condição leva-o,
assim, a se escudar sob muros reais ou simbólicos criados muitas vezes pelo mesmo poder que lhe incutiu o
medo.

(46) Na própria internet, por exemplo, símbolo da comunicação sem fronteiras no novo milênio, o usuário
está sujeito ao monopólio de grandes empresas que controlam cada etapa da transação de informações e
não oferecem nenhuma garantia real do uso que farão dos dados ali fornecidos, transformando, assim, o
usuário em mais um produto a ser vendido. Realmente, nesse contexto, a liberdade que se esboça para o
cidadão comum é principalmente uma liberdade travestida de possibilidades consumistas que escondem todo
um aparato de dominação ideológica e coerção social. (adaptado)/generalização

(47) A liberdade que se esboça para o cidadão comum é principalmente uma liberdade travestida de
possibilidades consumistas que escondem todo um aparato de dominação ideológica e coerção social. Na
própria internet, por exemplo, símbolo da comunicação sem fronteiras no novo milênio, o usuário está sujeito
ao monopólio de grandes empresas que controlam cada etapa da transação de informações e não oferecem
nenhuma garantia real do uso que farão dos dados ali fornecidos. Transforma, assim, o usuário em mais um
produto a ser vendido. (especificação/exemplificação)

2.2.16. Retificação, correção, esclarecimento, desenvolvimento ou redefinição de um conteúdo do primeiro


enunciado: isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras, ou melhor, de fato, pelo contrário, ao contrário

(48) Simone de Beauvoir, filósofa francesa, já dizia no início do século passado que “não se nasce mulher,
torna-se mulher”. Em outras palavras, o “ser mulher” não se resume à suas características biológicas. É
resultado de um comportamento socialmente construído que dita, em determinada época, como uma mulher
deve agir. Nesse sentido, imagens acabam tendo uma enorme importância na construção desse ideal.
2.3 Operadores metaenunciativos: “comentam”, de alguma forma, a própria enunciação

2.3.1. Delimitação de um domínio sobre o que é enunciado.

(49) O filósofo Platão tentou explicar por meio da sua teoria das ideias essa dualidade entre a imagem
projetada e a real. Para ele, todas as formas existentes no mundo físico são reflexos das formas ideais,
presentes somente no “mundo das ideias”. Essas formas são perfeitas e as que temos alcance, segundo Platão,
são apenas reflexos, por isso, passíveis de imperfeição. Passando da Filosofia para o cotidiano, a formação
de um Estado totalitário tenta mesclar símbolos (imagens) como o concreto. Hitler prometia um Estado forte
embasado em arianos nacionalistas e amantes da pátria. Essa seria a imagem ideal, na qual muitos alemães
acreditavam, porém, de fato, o que se teve foi um Estado xenófobo, racista, autoritário e violento, isto é, real
e, como disse Platão, passível de muitos erros.

2.3.2 Grau de comprometimento, de certeza do que é enunciado: evidentemente, aparentemente, não há


como negar, provavelmente, quiçá, talvez, não é certo que.

(50) Com efeito, é inegável que a ação orientada por princípios éticos solidamente consolidados, como
preconiza Kant, deve ser a via perseguida pelos homens em suas condutas sociais. Nesse sentido, não se
pode tolerar a mentira, principalmente no âmbito da vida pública, mesmo que a verdade possa ter
consequências não muito agradáveis para quem a enuncia.

2.3.4 Grau de imperatividade/facultatividade do que é enunciado: é indispensável, é imperativo,


opcionalmente

(51) Portanto, é imperativo que sociedade e Estado procurem formas mais eficazes de amenizar o problema.

2.3.55. Atenuação sobre o que é enunciado.

(52) Nesse sentido, não se pode tolerar a mentira, principalmente no âmbito da vida pública, mesmo que a
verdade possa ter consequências não muito agradáveis para quem a enuncia.
Prioridade, relevância. Em primeiro lugar, a princípio, primeiramente, principalmente, primordialmente, sobretudo, etc.
Então, enfim, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente,
Tempo (frequência, posteriormente, em seguida, afinal, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente,
duração, ordem, sucessão, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo,
anterioridade, simultaneamente, nesse meio tempo, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, assim
posterioridade, etc.) que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, etc.
Semelhança, Como, consoante, segundo, da mesma maneira que, do mesmo modo que, igualmente, da mesma forma, assim
comparação, também, do mesmo modo, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, como, assim como, bem
conformidade. como, como se, à medida que, à proporção que, quanto (mais, menos, menor, melhor, pior)... tanto (mais,
menos, menor, melhor, pior), tanto quanto, que (do que), (tal) que, (tanto) quanto, (tão) quão, (não só) como,
(tanto) como, (tão) como, etc.
Se, desde que, salvo se, exceto se, contanto que, com tal que, caso, a não ser que, a menos que, sem que,
Condição, hipótese.
suposto
que, desde que, eventualmente, etc.
Além disso, (a)demais, mas também, outrossim, ainda mais, por outro lado, também, e, nem, não só... mas
Adição, continuação.
também, não apenas... como também, não só... bem como, e, além de, ainda, etc.

Dúvida Talvez, provavelmente, possivelmente, quem sabe, é provável, não é certo, se é que, a caso, por ventura, etc.

Decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com
Certeza, ênfase.
toda a certeza, etc.
Surpresa, imprevisto. Inesperadamente, inopinadamente, de súbito, imprevistamente, surpreendentemente, etc.
Por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber, ou seja, ou melhor, aliás, ou antes,
Ilustração, esclarecimento. vale dizer, etc.
Com o fim de, a fim de, com o propósito de, para que, a fim de que, com o intuito de, com o objetivo de, para,
Propósito, intenção, etc.
finalidade.
Perto de, próximo a ou de, junto a ou de, fora, mais adiante, além, lá, ali, algumas preposições e os pronomes
Lugar, proximidade, demonstrativos, etc.
distância.
Conclusão, Em suma, em síntese, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, logo, por isso, por
resumo, consequência, assim, desse modo, etc.
recapitulação,
etc.
Por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato,
Causa e com efeito, tão (tanto, tamanho)... que, porque, porquanto, pois, já que, uma vez que, visto que, como
consequência, (=porque), portanto, logo, que (=porque), de tal sorte que, de tal forma que, visto que, dado que, como,
explicação. devido a, em
virtude de, tendo em vista isso, face a isto, etc.
Pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, porém, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto,
Contraste, oposição, embora, apesar de, ainda que, mesmo que, por menos que, a menos que, a não ser que, em contrapartida,
restrição, ressalva, enquanto, ao passo que, por outro lado, sob outro ângulo, apesar de, a despeito de, porém, sob outro ponto
concessão. de
vista, de outro modo, por outro lado, em desacordo com, etc.
Alternativa Ou... ou, ora... ora, quer... quer, seja ... seja, já... já, nem... nem, etc.
Negação Não, absolutamente, tampouco, de modo algum, nunca, etc.
Sim, certamente, efetivamente, realmente, seguramente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem
Afirmação
dúvida,
decerto, por certo, com certeza, etc.
Bem, mal, assim, depressa, devagar, como, alerta, melhor (mais bem), pior (mais mal), às pressas, à toa, às
escuras, à vontade, de mansinho, em silêncio, em coro, face a face, às cegas, a pé, a cavalo, de carro, às
Modo escondidas, às tontas, ao acaso, de cor, de improviso, de propósito, de viva voz, de uma assentada, de soslaio,
passo a passo, cara a cara, etc. Também exprime modo a maioria dos advérbios terminados em mente:
suavemente, corajosamente, etc.
A, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás, além de, antes
Referência de, antes de, aquém de, até a, dentro em, dentro de, depois de, fora de, ao modo de, à maneira de, junto de,
junto a, devido a, em virtude de, graças a, a par de, etc.
Muito, pouco, assaz, bastante, deveras, menos, tão, tanto, demasiado, mais, demasiadamente, meio, todo,
completamente, profundamente, excessivamente, extremamente, demais, nada (Isto não é nada fácil),
Intensidade
ligeiramente, levemente, que (Que fácil é este exercício!), quão, como (Como cantam!), quanto, bem, mal,
quase, etc.
Inclusão Até, inclusive, mesmo, também, ainda, ademais, além disso, de mais a mais, etc.
Exclusão Apenas, salvo, senão, só, somente, exclusive, menos, exceto, fora, tirante, etc.
II - PARÁGRAFO E PROGRESSÃO TEXTUAL

O parágrafo padrão: o parágrafo é um grupo de períodos relacionados uns com os outros e


governados por uma ideia central, formando uma sequência unida, coerente e consistente de ideias
associadas entre si. O conceito de parágrafo padrão possui dois princípios: 1) Todas as ideias devem estar
organizadas e concentradas ao redor de uma ideia central para formar um raciocínio. 2) Cada parágrafo
deve se relacionar com o parágrafo anterior. O primeiro parágrafo apresenta o raciocínio geral, com uma
ideia principal e introdutória; o segundo parágrafo relaciona-se com o primeiro, o terceiro relaciona-se
com o segundo, numa cadeia de raciocínios. O último parágrafo fecha o ciclo de raciocínios e constitui a
conclusão. O entrelaçamento de um parágrafo com outro, ou a ligação de um raciocínio com outro, dá
coesão ao texto.

Minha Vida

(53) Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram minha vida: o desejo imenso de amor,
a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade. Essas paixões, como
os fortes ventos, levaram-me de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para além de um profundo
oceano de angústias, chegando a beira do verdadeiro desespero.
Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase - êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida
por umas horas dessa alegria. Procurei-o, também, porque abranda a solidão - aquela terrível solidão em
que uma consciência horrorizada observa, da margem do mundo, o insondável e frio abismo em vida.
Procurei-o, finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso
que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bom demais para a vida
humana, foi o que encontrei.
Com igual paixão busquei o conhecimento. Desejei compreender os corações dos homens. Desejei
saber porque as estrelas brilham. E tentei apreender a força pitagórica pela qual o número se mantém acima
do fluxo. Um pouco disso, não muito, encontrei.
Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos caminhos do paraíso. Mas a
compaixão sempre me trouxe de volta à Terra. Ecos de gritos de dor reverberaram em meu coração. Crianças
famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desprotegidos - odiosa carga para seus filhos - e o mundo
inteiro de solidão, pobreza e dor transformaram em arremedo o que a vida humana poderia ser. Anseio
ardentemente aliviar o mal, mas não posso, e também sofro.
Isso foi a minha vida. Achei-a digna de ser vivida e vivê-la-ia de novo com a maior alegria se a
oportunidade me fosse oferecida.
Exercicio 2: reordene os períodos abaixo em 4 parágrafos, colocando-os na ordem lógica

(53)

(1) O consumismo, produto dessa confluência, dissemina seus valores através dos canais midiáticos,
bombardeando a população com uma cultura massificada, de modo que o mercado seja homogêneo,
reduzindo-se assim os custos de produção mediante uma menor necessidade de distinção dos produtos.

(2) Os valores consumistas, do mesmo modo, incitam em uma pessoa o desejo quese patológico do
querer consumir cada vez mais, contribuindo egoticamente para uma crescente disparidade socioeconômica,
comprometendo, assim, o convivio social e as possibilidades de uma convivência harmônica e feliz.

(3) A partir da lógica dukheiminiana na qual o homem está para a sociedade assim coma a célula está
para um organismo, o consumismo, portanto, caracteriza-se como um câncer. Essa anologia se torna
possível, pois tal patologia caracteriza-se pelo descontrole de uma célula que passa a se reproduzir
desenfreadamente, prejudicando outras.

(4) Todavia, dentro dessa lógica massificadora, o individualismo é um valor extremamente valorizado,
sendo a unicidade de cada indivíduo alcançada a partir do consumo de produtos que simbolizam projeção
da personalidade da pessoa. Logo, o consumismo opera, paradoxamente, através da massificação e do
individualismo, posto que inúmeros consumidores “compram” uma mesmas projeção de si mesmos.

(5) Sociedade de consumo, com efeito, é aquela que se encontra em uma avançado nível de capitalismo
industrial e caracteriza-se pela compra massiva de bens e serviços. Ela se dá quando – segundo os jargões
da economia de mercado – a oferta sobrepuja a procura e, devido a crescente dificuldade de se comercializar
o excedente, ocorre a junção entre o sistema produtivo e as sedutoras técnicas de marketing.

(6) Segundo Emilie Durkheim, sociólogo estruturalista frances, “fato patológico” é aquele que prejudica o
convívio social e destoa da “consciência coletiva”. Desse modo, o consumismo pode ser considerado como
tal, uma vez que, segundo o seu “modus operandi”, baseado no padrão de massificação do individualismo e
no “fetichismo da mercadoria” marxista, dissemina seus valores individualistas, provocando a desagregação
social.

(7) Uma prova disso reside no fato de que os apartamentos mais valorizados da cidade de São Paulo
localizam-se sobre um dos shoppings mais elitizados. Desse modo, é criada uma cultura que associa
diretamente a felicidade ao consumo, sendo os cartões de créditos considerados a “felicidade em plástico” e
uma vida limitadas a condomínios de luxo isolados do mundo real por suas “muralhas”, sendo apenas
necessário o aperto de um botão para se chegar ao “paraíso”, associada a utopia.

(8) O consumismo, além de se basear no paradoxo citado, possui como um dos seus princípais alicerces
o “fetichismo da mercadoria” - preconizado pelo sociólogo alemão Karl Marx - , o qual implica que o fim das
preocupaçõies e angustica é atingido mediante o consumo de um produto. Baseado nessa logica, o “mundo
perfeito” consumista existe e é simbolizado por uma doas maiores invenções do pensamento capitalista, a
saber, os“shopping centers”.
III- Esquema e Resumo
1. Resumo: redução das ideias contidas num texto, mantendo fidelidade ao texto original

2. Elementos de um bom resumo:


. introdução: referências do texto resumido (título e autor)
. Informações: questões tratadas, pontos de vista, argumentos
. Explicitação clara das informações por meio de conectivos e verbos adequados, seleção lexical adequada.

3. Regras:
a) Apagamento (Sumarização):a. Pedro é um idealista. Orienta sua vida por objetivos nobres → Pedro é um idealista.
b) Generalização: Ganhou um fogão, uma geladeira e uma máquina de lavar → Ganhou eletrodomésticos.
c) Inferência: O paciente acordou com febre, dor e tremores no corpo → O paciente acordou doente.

Esquematize e resuma os textos abaixo

(54) É conhecida a raridade de diários íntimos na sociedade escravocrata do Brasil colonial e imperial, em
comparação com a frequência com que surgem noutra sociedade do mesmo feitio, o velho Sul dos Estados
Unidos. Gilberto Freire reparou na diferença, atribuindo-a ao catolicismo do brasileiro e ao protestantismo
do americano: aquele podia recorrer ao confessionário, mas a este só restava o refúgio do papel. Essa é
também a explicação que oferece Georges Gusdorf, na base de uma comparação mais ampla dos textos
autobiográficos produzidos nos países da Reforma e da Contrarreforma. Ao passo que no catolicismo o
exame de consciência está tutelado na confissão pela autoridade sacerdotal, no protestantismo, ele não está
submetido a interposta pessoa. (Evaldo C. de Mello, “Diários e ‘livros de assentos’”. In: Luiz Felipe de
Alencastro (org.), História da vida privada no Brasil- 2)

(55) Não se poderia, de todo modo, falar em indústria cultural num período anterior ao da Revolução
Industrial, no século XVIII. Mas embora esta Revolução seja uma condição básica para a existência daquela
indústria e daquela cultura, ela não é ainda a condição suficiente. É necessário acrescentar a esse quadro a
existência de uma economia de mercado, isto é, de uma economia baseada no consumo de bens; é
necessário, enfim, a ocorrência de uma sociedade de consumo, só verificada no século XIX em sua segunda
metade — período em que se registra a ocorrência daquele mesmo teatro de revista, da opereta, do cartaz.
IV - SÍNTESE E CITAÇÃO
1. Síntese: reelaboração sumarizada de um ou mais textos, através da seleção pertinente das informações
mais importantes do texto sintetizado.

2. Modos de citação da palavra alheia: a) direta: uso das palavras da fonte original; recurso de pontuação:
aspas; b) indireta: paráfrase das palavras da fonte original: recurso sintático: verbo discendi+conjunção.
Alguns verbos de dizer mais comuns: analisar, calcular, explorar, examinar, observar, descobrir, constatar,
mostrar, acreditar, mostrar, acreditar, pensar, julgar, ver, conceituar, considerar, ponderar, concluir,
hipotetizar, definir, dizer, discutir, expor, afirmar, argumentar, propor, descrever, discorrer, apresentar,
destacar, citar, mencionar, relatar, etc.

(56) Na obra “Os caminhos da liberdade, o filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre associa a liberdade
de ação do indivíduo à responsabilidade pelos seus atos, já que toda ação individual, para o autor, se reflete
no corpo social. Essa perspectiva de análise implica, então, na necessidade de que a ação humana se
fundamente em uma ética da responsabilidade para que se possa alcançar o bem coletivo.

(57) Segundo o filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, em sua obra “Caminhos da Liberdade”, a
liberdade de ação do indivíduo à responsabilidade pelos seus atos, já que toda ação individual, para o autor,
se reflete no corpo social. Essa perspectiva de análise implica, então, na necessidade de que a ação humana
se fundamente em uma ética da responsabilidade para que se possa alcançar o bem coletivo.

(58) A dinâmica sociopolítica que molda esses processos históricos, como bem mostrou a filósofa alemã
Hannah Arendt, resulta da marginalização de setores da sociedade que, alijados do poder, são violentados
de forma banal.

(59) O filósofo Platão procurou explicar por meio da sua teoria das ideias essa dualidade entre a imagem
projetada e a real. Para ele, todas as formas existentes no mundo físico são reflexos das formas ideais,
presentes somente no “mundo das ideias”. Essas formas são perfeitas e as que temos alcance, segundo Platão.
são apenas reflexos delas, por isso, passíveis de imperfeição. Passando da Filosofia para o cotidiano, a
formação de um Estado totalitário tenta mesclar símbolos (imagens) como o concreto. Hitler prometia um
Estado forte embasado em arianos nacionalistas e amantes da pátria. Essa seria a imagem ideal, na qual
muitos alemães acreditavam, porém, de fato, o que se teve foi um Estado xenófobo, racista, autoritário e
violento, isto é, real e, como disse Platão, passível de muitos erros.

(60) O filósofo inglês Thomas Hobbes, ao tratar do sentimento do medo em suas elaborações filosóficas,
afirma ser ele o responsável por fazer o homem respeitar as leis. No mesmo sentido, Maquiavel recomendava
ao príncipe de Florença que, para manter o poder, ele deveria ser temido mais do que amado. De fato, o
sentimento de medo, tratado pelos teóricos do absolutismo, é um afeto humano primário que leva o indivíduo
a agir seguindo seu instinto de preservação, buscando proteção contra o perigo. Todavia, quando demasiado,
o medo pode paralisá-lo e submetê-lo a dominação alheia, seja política ou ideológica. Essa condição leva-o,
assim, a se escudar sob muros reais ou simbólicos criados muitas vezes pelo mesmo poder que lhe incutiu o
medo.

(61) Desde a infância, quando exerce a importante função de despertar a percepção do risco, o medo
acompanha as pessoas. Nas narrativas infantis, por exemplo, a presença de figuras como o bicho papão ou
o lobo mal, como símbolos do perigo, é constante. Essa exploração inicial do medo, então, vem acompanhada
da necessidade de proteção, ou seja, da criação de barreiras que afastem os riscos. Mais tarde, já na idade
adulta, os medos persistem, embora os perigos tomem diversas outras formas. É quando o temor passa a
ser manipulado pelo poder para subordinar os indivíduos aos seus interesses. Essa exploração social do medo
cria, pois, indivíduos dominados pelo medo, necessitados de muros, reais ou simbólicos, que os protejam.

(62) A dinâmica sociopolítica que molda esses processos históricos, como bem mostrou a filósofa alemã
Hannah Arendt, resulta da marginalização de setores da sociedade que, alijados do poder, são violentados
de forma banal

Exercício 3: procure fazer pequenas sínteses, com no máximo 5 linhas, dos textos abaixo. Busque sintetizar
as ideias filosóficas neles expostas, associando-as a seus autores.

(63) O utilitarismo de Bentham:

Princípio de Utilidade entende-se aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que
tem a aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros
termos, segundo a tendência a promover ou comprometer a referida felicidade. Digo qualquer ação de um indivíduo
particular, mas também de qualquer ato ou medida de governo(...) O termo utilidade designa aquela propriedade
existente em qualquer coisa, propriedade em virtude da qual o objeto tende a produzir ou proporcionar benefício,
vantagem, prazer, bem ou felicidade (…), ou (…) a impedir que aconteça o dano, a dor, o mal, ou a infelicidade para a
parte cujo interesse está em pauta. Se esta parte for a comunidade em geral, tratar-se-á da felicidade da comunidade,
ao passo que, em se tratando de um indivíduo particular estará em jogo a felicidade do mencionado indivíduo.

(Jeremy Bentham , filósofo utilitarista inglês, in “Princípios de Moral e Legislação”)

(64) A ética kantiana:

Podemos agora perceber a relação, segundo a concepção de Kant, entre moralidade e liberdade. Agir moralmente
significa agir por dever — em obediência à lei moral. A lei moral consiste em um imperativo categórico, um princípio
que exige que tratemos as pessoas com respeito, como fins em si mesmas. Só agimos livremente quando agimos de
acordo com o imperativo categórico. Isso acontece porque sempre que agimos segundo um imperativo hipotético
agimos em prol de algum interesse ou objetivo externo. Mas nesse caso não somos verdadeiramente livres; nossa
vontade não é determinada por nós, e sim por forças externas — por nossas necessidades circunstanciais ou por
vontades e desejos que porventura tenhamos. Só podemos escapar dos ditames da natureza e das circunstâncias se
agirmos com autonomia, segundo uma lei que impomos a nós mesmos. Tal lei não pode ser condicionada por nossas
vontades e nossos desejos particulares (...) Essa concepção de moralidade e liberdade leva Kant a sua crítica contundente
do utilitarismo. A tentativa de basear a moralidade em algum interesse ou desejo particular (tal como felicidade ou
utilidade) estava destinada ao fracasso. “Porque aquilo a que eles se referem jamais foi dever, mas apenas a necessidade
de agir a partir de um determinado interesse.” Mas qualquer princípio baseado no interesse “jamais passou de um
princípio condicionado a algo externo e não poderia ser considerado uma lei moral”.

(Michel Sandels, in “Justiça: qual a coisa certa a fazer?”)

(65) Paulo Freire a ética e a autonomia do indivíduo

Eu acho que os adultos, pais e professores, deveriam compreender melhor que a rebeldia, afinal, faz parte do processo
da autonomia, quer dizer, não é possível ser sem rebeldia. O grande problema está em como amorosamente dar sentido
produtivo, dar sentido criador ao ato rebelde e de não acabar com a rebeldia. Tem professores que acham que a única
saída para a rebelião, para a rebeldia é a punição, é a castração. Eu confesso que tenho grandes dúvidas em torno da
eficácia do castigo. Eu acho que a liberdade não se autentica sem o limite da autoridade, mas o limite que a autoridade
se deve propor a si mesma, para propor ao jovem a liberdade, é um limite que necessariamente não se explicita através
de castigos. Eu acho que a liberdade precisa de limites, a autoridade inclusive tem a tarefa de propor os limites, mas o
que é preciso, ao propor os limites, é propor à liberdade que ela interiorize a necessidade ética do limite, jamais através
do medo. A liberdade que não faz uma coisa porque teme o castigo não está “eticizando-se”. É preciso que eu aceite a
necessidade ética, aí o limite é compromisso e não mais imposição, é assunção. O castigo não faz isso. O castigo pode
criar docilidade, silêncio. Mas os silenciados não mudam o mundo.

(Paulo Freire in “Pedagogia dos sonhos possíveis”)

(66) Kant: autonomia e maioridade

Esclarecimento é a saída do homem da menoridade pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapacidade
de servir-se do próprio entendimento sem direção alheia. O homem é o próprio culpado por esta incapacidade, quando
sua causa reside na falta, não de entendimento, mas de resolução e coragem de fazer uso dele sem a direção de outra
pessoa. Sapere aude! [ouse saber!] Ousa fazer uso de teu próprio entendimento! Eis o lema do Esclarecimento.
Inércia e covardia são as causas de que uma tão grande maioria dos homens, mesmo depois de a natureza
há muito tê-los libertado de uma direção alheia, de bom grado permaneça toda vida na menoridade, e porque seja tão
fácil a outros apresentarem-se como seus tutores. É tão cômodo ser menor. Possuo um livro que faz as vezes de meu
entendimento; um guru espiritual, que faz às vezes de minha consciência; um médico, que decide por mim a dieta etc.;
assim não preciso eu mesmo dispender nenhum esforço. Não preciso necessariamente pensar, se posso apenas pagar;
outros se incumbirão por mim desta aborrecida ocupação. Que, junto à grande maioria dos homens (incluindo aí o
inteiro belo sexo) o passo rumo à maioridade, já em si custoso, também seja considerado muito perigoso, para isso
ocupam-se cada um dos tutores, que de bom grado tomaram para si a direção sobre eles. Após terem emburrecido seu
gado doméstico e cuidadosamente impedido que essas dóceis criaturas pudessem dar um único passo fora do andador,
mostram-lhes em seguida o perigo que paira sobre elas, caso procurem andar por própria conta e risco. Ora, este perigo
nem é tão grande, pois através de algumas quedas finalmente aprenderiam a andar; mas um exemplo assim dá medo
e geralmente intimida contra toda nova tentativa.
É, portanto, difícil para cada homem isoladamente livrar-se da menoridade que nele se tornou quase uma
natureza. Até afeiçoou-se a ela e por ora permanece realmente incapaz de servir-se de seu próprio entendimento, pois
nunca se deixou que ensaiasse fazê-lo. Preceitos e fórmulas, esses instrumentos mecânicos de um uso, antes, de um
mau uso racional de suas aptidões naturais, são os entraves de uma permanente menoridade. Também quem deles se
livrasse, faria apenas um salto inseguro sobre o fosso mais estreito, visto não estar habituado a uma liberdade de
movimento desta espécie. Por isso são poucos os que conseguiram, através do exercício individual de seu espírito,
desembaraçar-se de sua menoridade e, assim, tomar um caminho seguro.

(Immanuel Kant, filósofo alemão, in “O que é Esclarecimento”)

(67) Sócrates: “a vida que não se questiona não vale a pena viver”

Talvez alguém diga: “Sócrates, será que você não pode ir embora, nos deixar em paz e ficar quieto, calado?” Ora, eis a
coisa mais difícil de convencer alguns de vocês. Pois se eu disser que tal conduta seria desobediência ao deus e que por
isso não posso ficar quieto, vocês acharão que estou zombando e não acreditarão. E se disser que falar diariamente da
virtude e das outras coisas sobre as quais me ouvem falar e questionar a mim e a outros é o bem maior do homem e
que a vida que não se questiona não vale a pena viver, vão me acreditar menos ainda. E assim é, senhores, mas não é
fácil convencê-los.

(Platão, in Apologia de Sócrates)

(68) Freud: vida e morte, Eros e Tanatos

A civilização constituía um processo especial que a humanidade experimenta, e ainda me acho sob a influência dela.
Posso agora acrescentar que a civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar indivíduos
humanos isolados, depois famílias e, depois ainda, raças, povos e nações numa única grande unidade, a unidade da
humanidade. Porque isso tem de acontecer, não sabemos; o trabalho de Eros é precisamente este. Essas reuniões de
homens devem estar libidinalmente ligadas umas às outras. A necessidade, as vantagens do trabalho em comum, por
si sós, não as manterão unidas. Mas o natural instinto agressivo do homem, a hostilidade de cada um contra todos e a
de todos contra cada um, se opõe a esse programa da civilização. Esse instinto agressivo é o derivado e o principal
representante do instinto de morte, que descobrimos lado a lado de Eros e que com este divide o domínio do mundo.
Agora, penso eu, o significado da evolução da civilização não mais nos é obscuro. Ele deve representar a luta entre Eros
e a Tânatos, entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como ela se elabora na espécie humana. Nessa luta
consiste essencialmente toda a vida, e, portanto, a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita como a luta
da espécie humana pela vida. E é essa batalha de gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de
ninar sobre o Céu.

(Sigmund Freud, médico e psicanalista alemão, in “O Mal estar da Civilização”)

(69) Milton Santos e a sociedade de consumo

A esfera do consumo se tornou fundamental na sociedade atual, superando, a até então, supremacia da esfera da
produção como pedra angular do sistema capitalista, segundo o geógrafo brasileiro Milton Santos no livro “O espaço
da cidadania” o consumo na contemporaneidade ganhou tamanha importância que Marx teria que mudar sua célebre
frase, substituindo a religião pelo consumo, como o ópio do povo, para o autor: [...] o consumo instala sua fé por meio
de objetos, aqueles que em nosso cotidiano nos cercam na rua, no lugar de trabalho, no lar e na escola, quer pela sua
presença imediata, quer pela promessa ou esperança de obtê-los. Numa sociedade tornada competitiva pelos valores
que erigiu como dogmas, o consumo é verdadeiro ópio, cujos templos modernos são os shopping centers e os
supermercados, aliás construídos à feição das catedrais. O poder do consumo é contagiante, e sua capacidade de
alienação é tão forte que a sua exclusão atribui às pessoas a condição de alienados. Daí a sua força e o seu papel
perversamente motor da sociedade atual.
V - PROPOSTA DE REDAÇÃO

Considere as opiniões atribuídas ao referido político japonês, tendo em conta que elas possuem
implicações éticas, culturais, sociais e econômicas capazes de suscitar questões de várias ordens: essas
opiniões são tão raras ou isoladas quanto podem parecer? O que as motiva? O que elas dizem sobre as
sociedades contemporâneas? Opiniões desse teor seriam possíveis no contexto brasileiro? Como as jovens
gerações encaram os idosos? Escolhendo, entre os diversos aspectos do tema, os que você considerar mais
relevantes, redija um texto em prosa, no qual você avalie as posições do citado ministro, supondo que esse
texto se destine à publicação – seja em um jornal, uma revista ou em um site da internet.

Leia o seguinte extrato de uma reportagem do jornal inglês The Guardian, de 22 de janeiro de 2013,
para em seguida atender ao que se pede:

O ministro de finanças do Japão, Taro Aso, disse na segunda-feira (dia 21) que os velhos deveriam “apressar-
se a morrer”, para aliviar a pressão que suas despesas médicas exercem sobre o Estado. “Deus nos livre de
uma situação em que você é forçado a viver quando você quer morrer. Eu acordaria me sentindo cada vez
pior se soubesse que o tratamento é todo pago pelo governo”, disse ele durante uma reunião do conselho
nacional a respeito das reformas na seguridade social. “O problema não será resolvido, a menos que você
permita que eles se apressem a morrer”. Os comentários de Aso são suscetíveis de causar ofensa no Japão,
onde quase um quarto da população de 128 milhões tem mais de 60 anos. A proporção deve atingir 40%
nos próximos 50 anos. Aso, de 72 anos de idade, que tem funções de vice-primeiro-ministro, disse que iria
recusar os cuidados de fim de vida. “Eu não preciso desse tipo de atendimento”, declarou ele em comentários
citados pela imprensa local, acrescentando que havia redigido uma nota instruindo sua família a negar-lhe
tratamento médico para prolongar a vida. Para maior agravo, ele chamou de “pessoas-tubo” os pacientes
idosos que já não conseguem se alimentar sozinhos. O ministério da saúde e do bem-estar, acrescentou,
está “bem consciente de que custa várias dezenas de milhões de ienes “por mês o tratamento de um único
doente em fase final de vida. Mais tarde, Aso tentou explicar seus comentários. Ele reconheceu que sua
linguagem fora “inapropriada” em um fórum público e insistiu que expressara apenas sua preferência pessoal.
“Eu disse o que eu, pessoalmente, penso, não o que o sistema de assistência médica a idosos deve ser”,
declarou ele a jornalistas. Não foi a primeira vez que Aso, um dos mais ricos políticos do Japão, questionou
o dever do Estado para com sua grande população idosa. Anteriormente, em um encontro de economistas,
ele já dissera: “Porque eu deveria pagar por pessoas que apenas comem e bebem e não fazem nenhum
esforço? Eu faço caminhadas todos os dias, além de muitas outras coisas, e estou pagando mais impostos”.

(theguardian.com, Tuesday, 22 January 2013. Traduzido e adaptado.

Instruções:

– A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
– Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível.
– Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.
– Dê um título a sua redação.
TEXTOS DE APOIO

Texto 1
CORONAVÍRUS
Idosos não são descartáveis
Campanha Brasil não pode parar põe em risco a vida dos mais velhos
A políticos, corpos de pessoas idosas não pesam. Não pesando, para eles, são descartáveis.

Bolsonaro, em rede nacional na última terça (24): e, segundo, como de fato isso se daria dada a realidade de
“O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de coabitação de idosos hoje no Brasil.
risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que Mesmo com menor taxa de mortalidade, jovens
fechar escolas?” doentes podem sobrecarregar hospitais e, portanto,
Presidente não entende bulhufas de como dificultar o tratamento de grupos de risco. Quarenta por
funciona transmissão de doenças. Três dias depois, cento das internações por coronavírus nos EUA são de
complementou: “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. Essa jovens adultos na faixa de 20 a 54 anos.
é a vida”. Aqui, cabem tantos crimes —de responsabilidade Genocida, no sentido legal do termo, porque
e internacionais— que fica até difícil contá-los. Um já basta. intenciona destruir em parte um grupo etário. Isolar apenas
Bastaria, ao menos. idosos levaria à morte mais de 529 mil pessoas no Brasil,
Ageísmo, termo cunhado em 1968 pelo médico conclui o estudo do Imperial College de Londres publicado
Robert N. Butler, não é exclusividade do Palácio do nesta quinta (26).
Planalto. Desigualdades sociais interseccionam com idade:
Tenente-governador do Texas, Dan Patrick, disse expectativa de vida em Moema, bairro nobre de SP, é de
na terça (24) que idosos arriscariam sua vida para manter a 80 anos; na periferia, em Cidade Tiradentes, é de 57,3 anos,
economia em funcionamento. segundo Mapa da Desigualdade 2019.
Imagino que não seja a dele própria. Em 26 de A medida da justiça de nossa sociedade é a forma
fevereiro, prefeitura de Milão lançou a campanha “Milão como tratamos nossos menos privilegiados. Foi um liberal,
não pode parar”. John Rawls, que escreveu isso.
São mortes invisibilizadas. New York Times Em círculos de direitos humanos, direitos de
publicou na quarta (25) que as taxas de mortalidade pessoas idosas são ou ignorados ou confundidos com
estarrecedoras por conta do coronavírus na Espanha, Itália assistencialismo por quem vê idosos como crianças.
e França não contam, em geral, as mortes que ocorrem em Idosos, no entanto, são sujeitos de direitos, de
asilos e em residências, apenas as que ocorrem em afeto, de lucidez. Suas vidas e autonomia, com apoio,
hospitais. importam.
Muitos idosos, portanto, morrem invisíveis. Neste Todo fascistoide guarda em si o desejo do
domingo, a Unidade Militar de Emergências da Espanha controle sobre quem morre e quem vive.
informou ter encontrado 11 idosos mortos em um asilo Ao desprezar mortes de pessoas idosas,
numa província de Madrid. Bolsonaro encontra onde espiar sua morbidez sádica.
Novo hit entre negacionistas da pandemia, isolar Profetas da morte se desfilam em carreata. Quem os
apenas grupos de risco como pessoas acima de 60 anos é, parará?
numa só toada, impraticável e genocida.
Impraticável, esbarra em algo que Thiago Amparo
convencionamos chamar de realidade: cerca de 66% dos Advogado, é professor de políticas de diversidade na FGV Direito
idosos brasileiros moram com outras pessoas que não o SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve
sobre direitos humanos e discriminação.
seu cônjuge, segundo dados do Censo 2010 do IBGE.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/thiago-
Ao propor isolar apenas idosos, cabe às
amparo/2020/03/idosos-nao-sao-descartaveis.shtml
autoridades federais explicar, primeiro, onde isso funcionou
Texto 2

A família, a sociedade e o Estado, tem o dever de amparar o idoso garantindo-lhe o direito à vida;
• Os filhos maiores tem o dever de ajudar a amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade;
• Poder público deve garantir ao idoso condições de vida apropriada;
• A família, a sociedade e o poder público, devem garantir ao idoso acesso aos bens culturais, participação e integração na
comunidade;
•Idoso tem direito de viver preferencialmente junto a família;
• Idoso deve ter liberdade e autonomia.

O IDOSO TEM DIREITO AO RESPEITO


• Idoso não pode sofrer discriminação de qualquer natureza;
• A família, a sociedade e o Estado tem o dever de:
assegurar ao idoso os direitos de cidadania;
• Assegurar sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar;

O IDOSO TEM DIREITO À SAÚDE


O poder público deve:
•Garantir ao idoso acesso à saúde;
• Criar serviços alternativos de saúde para o idoso;
• Prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso;

http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/direitosdoidoso.htm

Texto 3
Fobia contra idosos: por que o ageísmo ainda é uma regra nas sociedades?
O sucesso do aplicativo FaceApp, que cria efeitos Ageísmo. O maior exemplo disso, segundo ele, é como as
de envelhecimento nos rostos dos usuários, suscitou o mídias retratam os idosos.
debate sobre o amadurecimento da população. Em um “Se desconsiderarmos a imprensa especializada nos
mundo que supervaloriza e privilegia a juventude, começa- seniores, que faz um esforço contra esse preconceito,
se a questionar qual é o espaço para os seniores na frequentemente, a representação de pessoas de idade é
sociedade, onde o "ageísmo" ainda é uma regra. feita por indivíduos muito mais jovens”, observa.
Segundo dados da ONU, a quantidade de Segundo Pellissier, para as idosas, a situação é
pessoas com mais de 60 anos no mundo é atualmente de ainda mais complexa, porque não apenas são excluídas das
962 milhões: um número que tende a aumentar nas mídias por terem envelhecido como por serem mulheres.
próximas décadas. Em 2030, serão 1,4 bilhão de idosos em “Nas séries de TV e no cinema, por exemplo, enquanto os
todo o planeta. Em 2050, em todas as regiões do mundo, homens ganham papéis de velhos patriarcas, as mulheres
com exceção da África, terão um quarto de suas idosas serão representadas como avós ou pessoas doentes,
populações formadas por seniores, que totalizarão 2,1 como vítimas do Alzheimer, por exemplo”, aponta.
bilhões. No universo da música, a situação não é diferente,
Apesar das previsões apontarem para o indica o pesquisador. “Há poucas idosas cantoras ou
envelhecimento das populações, pouca é a preparação roqueiras. Mas a maior parte dos velhos roqueiros que
para essa mudança. Ao contrário: uma espécie de fobia ultrapassam os 60 anos são idolatrados. Já as mulheres têm
contra os idosos ou o “ageísmo”, segundo pesquisadores que lutar para continuar na ativa, caso contrário são
franceses, ganha força com a propagação dos ideais de rapidamente excluídas do sistema”, diz.
corpos e rostos perfeitos nas mídias e redes sociais. É contra esse tipo de preconceito e exclusão que
“Há uma ideologia difundida permanentemente luta uma comissão criada em 2015 pela atriz francesa
na qual tudo em relação ao envelhecimento é Marina Tomé, na AAFA (Atrizes e Atores Associados da
obrigatoriamente negativo”, afirma o pesquisador em França), o “Túnel dos 50”. O grupo criou um manifesto para
psicologia Jérôme Pellissier, secretário do Observatório do protestar contra “o desaparecimento das atrizes a partir dos
50 anos” das produções cinematográficas e televisivas. O
objetivo é lutar contra os estereótipos relacionados à idade “Frequentemente, quando se fala de um idoso, ele
das mulheres, já que, para seus membros, essa falta de é reduzido à sua característica de sênior. Esquece-se que,
visibilidade às francesas seniores é um grave problema para antes de tudo, ele é uma pessoa, que ele existe, tem uma
a sociedade. vida, paixões, competências… Foca-se em suas
Em entrevista à RFI, a atriz e diretora francesa incapacidades ao invés de valorizarmos os dons dessa
Delphine Lalizout, integrante da comissão, aponta que na pessoa para enriquecer a sociedade”, avalia.
totalidade dos filmes franceses lançados em 2015, apenas Llobet questiona até mesmo a utilização de certos
8% dos papéis foram atribuídos a mulheres com mais de 50 termos para designar os idosos que podem ser pejorativos,
anos. Em 2016, esse número ainda piorou e passou a 6%. como “sênior” ou até mesmo a expressão “terceira idade”.
“Mulheres com mais de 50 anos são mais da A especialista considera que, com a evolução das
metade das francesas maiores de idade no país, o que populações, já existe hoje a quarta idade. Ela lembra, por
corresponde a um quarto do total da população da França exemplo, que a maioria das famílias francesas atualmente
acima dos 18 anos. Ou seja, constatamos que essa são formadas por quatro gerações.
discriminação de fato existe e que as mulheres são Entretanto, Llobet percebe que, apesar de a
duplamente penalizadas: pelo sexismo e pelo ‘ageísmo’”, expectativa de vida evoluir ao longo dos anos, o
salienta. preconceito contra os idosos é uma constante. “Nas
Para Lalizout, a questão vai muito além de próximas décadas, vamos ver o aumento de pessoas de 75,
conceder papéis para as atrizes acima dos 50 anos, mas de 80 anos no mundo. Por isso, é urgente pensar sobre como
representá-las. “As mulheres dessa idade, que são maioria iremos manter essas pessoas integradas na sociedade. De
no nosso país, estão sendo tratadas como uma minoria que forma não os excluiremos? Adaptando nossas cidades,
invisível. Elas simplesmente desaparecem das produções os transportes, as residências para que essas pessoas não
quando estão no auge de sua maturidade. É uma traição à sejam desligadas da sociedade”, avalia.
própria realidade da sociedade”, avalia. A especialista ainda aponta para outro novo
A comissão também milita pela realização de um fenômeno: os novos aposentados. Llobet lembra que ao
estudo científico sobre a questão para que o fenômeno deixarem de trabalhar, a partir dos 60 anos, as pessoas
possa ser combatido através de políticas públicas. Até o gozam de boa saúde e muita energia para uma etapa da
momento, o manifesto recolheu mais de 13 mil assinaturas vida na qual querem investir, experimentar e aproveitar.
de organizações profissionais de diretores, roteiristas, “Esses ‘jovens aposentados’ quebram todos os
diretores e casting, produtores e distribuidores. códigos dessas imagens pré-concebidas que há dos
Detectar como o envelhecimento da população seniores. Ao assumirem essa nova forma de amadurecer,
mobiliza as administrações locais, gerando políticas públicas eles enviam um sinal importante para a sociedade que,
em prol dos idosos e da evolução do olhar sobre a idade é com o tempo, vai ter que incorporar essas novas
o objetivo da agência de estudo e conselho Generacio. características da população e se transformar”, afirma.
Dentro dessa filosofia, a diretora Elodie Llobet espera
combater estereótipos de tabus em torno da questão. http://www.rfi.fr/br/mundo/20190718-fobia-contra-idosos-
por-que-o-agismo-ainda-e-uma-regra-nas-sociedades

Texto 4

O preconceito à idade não é uma questão brasileira. Estatísticas divulgadas pela mídia internacional apontam que o ageísmo
afeta mais de 60% da população mundial, com sérias consequências para quem sofre do preconceito, como isolamento social,
incapacidade física, depressão, solidão, demência e perda de autoestima. O ageísmo e a prática de discriminação por idade são
parte das múltiplas formas de discriminação sofridas pelos indivíduos. Em declarações à mídia nacional, Egídio Dórea comenta
que o ageísmo pode reduzir em até sete anos a expectativa de vida das pessoas.

Afinal, o que vem a ser ageísmo? ações diretas ou indiretas em que alguém é excluído,
considerado diferente, restrito, ignorado ou tratado como
se ele não existisse devido à sua idade. É uma das formas
Ageísmo é o preconceito contra a idade. É julgar
de discriminação mais difundidas, aceitas e invisíveis.
alguém porque ela é velha. Inclusive muitas pessoas idosas
O ageísmo está associado ao desrespeito, ao
julgam outras, afinal velho sempre é o outro. Daí falarmos
tratamento injusto, às suposições falsas sobre alguém, e ao
que a velhice é discriminação. Enfim, ageísmo, idadismo ou
sentimento de invisibilidade, afetando negativamente a
etarismo podem ser entendidas de maneira geral como
confiança, a situação financeira, a saúde e a qualidade de ageísmo refere-se essencialmente às atitudes que os
vida de uma pessoa. Ocorre quando os idosos não indivíduos e a sociedade têm frequentemente com os
conseguem encontrar trabalho ou os forçam a se demais em função da idade, enquanto a discriminação por
aposentar, quando não recebem tratamento ou são idade descreve a situação em que a idade é o fator
privados de prioridade nas Unidades Básicas de Saúde, por decisivo. Um exemplo de discriminação por idade é o
exemplo. Quando o crédito é rejeitado nos bancos e empregador que decide contratar, promover, re-treinar ou
quando lhes é dito que são “velhos demais” para vestir aposentar/dispensar um funcionário com base somente na
certas roupas, participar de esportes ou atividades idade. Ainda que reparar na idade de um indivíduo não
comunitárias ou aprender novas habilidades… seja inerentemente ofensivo, agir por estereótipos
Em um recente grupo de discussão da rede baseados em idade é claramente um preconceito contra o
HelpAge, na Costa Rica, os participantes definiram ageísmo indivíduo, que frequentemente não é contestado pela
como “ações diretas ou indiretas em que alguém é sociedade.”
excluído, considerado diferente, restrito, ignorado, para ser No mundo todo, várias campanhas estão sendo
tratado como se não existisse por causa da idade”. Eles realizadas. Membros e parceiros da rede HelpAge, por
disseram ter experimentado o ageísmo em empregos, exemplo, realizaram diferentes ações em todo o mundo
assistência médica, serviços financeiros e até dentro da para expor o ageísmo, por meio das experiências vividas
família. O ageísmo passa despercebido com muita pela população idosa. Mais recentemente, membros da
frequência e é hora de expô-lo. América Latina e do Caribe passaram a ajudar as pessoas
Ana Maria Goldani, no artigo “Ageismo” no Brasil: mais velhas a expressar suas experiências de discriminação
o que significa? quem pratica? o que fazer com isto?, e como elas afetam negativamente direitos e
explica: oportunidades à medida que envelhecemos.
Embora o ageísmo e a discriminação por idade https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/campanha-
sejam termos frequentemente usados como sinônimos, o em-sao-paulo-combate-o-ageismo/

Texto 5
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), o número global de indivíduos acima de 60 anos está projetado
para aumentar de 962 milhões em 2017 para 1,4 bilhão em 2030 e ainda 2,1 bilhões em 2050, quando quase todas as regiões do
mundo, exceto a África, terão perto de um quarto ou mais de suas populações com 60 anos de idade ou mais. Em 2100, o
número de pessoas idosas pode alcançar 3,1 bilhões. A população com 60 anos ou mais está crescendo a uma taxa de 3%
anualmente. Mundialmente, a população acima de 60 anos está crescendo mais rápido do que os demais grupos etários.
Atualmente, a Europa possui a maior porcentagem de população com 60 anos ou mais: 25%. Globalmente, o número de
pessoas com 80 anos ou mais deverá triplicar em 2050, de 137 milhões em 2017 para 425 milhões em 2050. Até 2100, deverá
aumentar para 909 milhões, quase sete vezes seu valor em 2017

https://pebmed.com.br/estudo-americano-revela-como-o-preconceito-afeta-a-saude-dos-idosos/

Texto 6
Preconceito contra idosos pode ser combatido com educação
Pesquisa aponta que o convívio entre gerações também deve ser estimulado
Segundo os estudiosos, programas que incentivem a interação intergeracional, combinados com educação sobre o que é o
envelhecimento e a desmistificação de estereótipos, são os mais eficientes para obter resultados positivos. “O mais
surpreendente foi constatar como esses programas funcionaram bem”, disse Karl Pillemer, professor de desenvolvimento
humano e gerontologia na Universidade de Cornell. “Quando as pessoas aprendem sobre o envelhecimento, e como este é um
processo natural que abrange toda a humanidade, se tornam menos negativas em relação à questão e mais à vontade para
interagir com idosos”, acrescentou.

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