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SISTÊMICA:
UMA FORMA DE ORGANIZAÇÃO
DOS COLETORES DE MATERIAL
RECICLADO DA CIDADE DE
Vol. 2, Nº 1, 2009 FORTALEZA PARA A MOBILIZAÇÃO
ISSN: 1982‐5447
www.cgs.ufba.br
DO CAPITAL SOCIAL EM FAVOR DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Revista do Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social ‐
CIAGS
Raquel Viana Gondim*
*Graduada em Administração de Empresas (1994), Especialista
em Arte‐Educação (1998) e Mestre em Administração (2007)
pela Universidade Estadual do Ceará ‐ UECE. Professora Titular
da Faculdade Nordeste, Faculdade Integrada do Ceará,
Faculdade Católica do Ceará.
E‐mail: gondim.raquel@gmail.com
Resumo elaboração de projetos, da busca das fontes de
financiamento e implementação de soluções.
O desenvolvimento local não está
associado exclusivamente ao aspecto econômico.
Este é também percebido como um processo Palavras‐chave:
multidimensional, envolvendo a comunidade
impregnada de história, relações, instituições e a Capital social. Desenvolvimento local.
capacidade de conduzir seu próprio destino. O Cooperatividade Sistêmica.
capital social está associado à ocorrência de
ajuda mútua por razões sociais, de lazer ou
econômicas. Na articulação teórica destes Abstract:
tópicos, este ensaio teve como objetivo
apresentar uma proposta de organização dos The local development concepts is not
coletores de material reciclado da cidade de exclusively linked to economic aspects. This is
Fortaleza sob a forma de cooperatividade also perceived as a multidimensional process,
sistêmica para a mobilização do capital social em involving a community full of history,
favor do desenvolvimento local. A pesquisa foi de interactions, institutions, and able to shape its
natureza bibliográfica e documental. Assim, a own destiny in a permanent social capital motion
cooperatividade sistêmica pode ser considerada for common goals. The social capital is related to
como uma forma a se pensar politicamente, já mutual help due to social, leisure and economic
que o desenvolvimento de uma comunidade factors. At the theoretic articulation among these
resulta da sua capacidade contínua de issues, this essay has as its main objective to
participação, mobilização, aprendizagem e present a way for an organization of collectors of
organização traduzida pela proximidade, da recycled material at the city of Fortaleza in the
form of a cooperative system for the mobilization
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utilizam como base, suporte, para interagirem No âmbito da proposta do
numa dinâmica político‐econômica mais ampla. desenvolvimento local, os participantes de uma
Para Manfredini e Lopes (2005, p.2), o comunidade ocupam posições relativas na
enfoque do local no âmbito do conceito de mobilização de recursos e na elaboração de
desenvolvimento é justificado “pelas projetos e são responsáveis por sua gestão e
diversidades existentes, que estabelecem desenvolvimento. A participação dos membros
condições diferentes, e, por isso, precisam da comunidade configura‐se, portanto, como
soluções específicas e adequadas”. Ainda para os primordial para o desenvolvimento local e nessa
autores, novas formas e instrumentos são acepção, a idéia de capital social, como
necessários e devem ser pensados para expectativa generalizada de cooperação
possibilitar o relacionamento entre as pessoas da (BERETTA; CURINI, 2003), emerge como uma
localidade, assim como, capacitá‐los à autogestão importante dimensão, influenciando na
dos processos de desenvolvimento, em conjunto. realização de projetos de desenvolvimento
Segundo Milani (2005), o alicerçados nos valores culturais, na construção
desenvolvimento local envolve fatores sociais, do contexto relacional e nos recursos naturais da
culturais e políticos que não são exclusivamente comunidade. Diante disso, reconhece‐se que
regulados pelo sistema de mercado. Dessa forma, cada localidade tem sua própria necessidade e
a acepção de desenvolvimento local está demanda. Os indivíduos que nela atuam
relacionada a formas de ação com competências elaboram respostas particulares e diferentes em
de reconhecer a complexidade que se apresenta termos de políticas públicas e projetos de
em situações novas. Por sua vez, essas situações desenvolvimento local.
demandam, na maioria das vezes, respostas Fukuyama (1996) aborda o tema do
inéditas em relação à capacidade de proposição e capital social através da perspectiva social,
de ação em todos os níveis, em uma dinâmica qualificado pela confiança e cooperação
horizontal de negociação e encontro (FERRAZ, manifesta nas ações em grupo. Para esse autor, o
2001). Assim, o desenvolvimento envolve capital social refere‐se à capacidade das pessoas
escolhas e decisões que só podem ser feitas a e organizações que constituem a sociedade civil
partir da articulação entre o local e o global, de trabalharem em conjunto para a persecução
entre o indivíduo e o coletivo e entre as de causas comuns. A capacidade de associação
diferentes esferas sociais (estado, mercado e dos participantes de uma comunidade é algo que
sociedade civil organizada) (ANDION, 2003). depende do grau de partilha de normas e valores
Enfatiza‐se ainda o desenvolvimento local e da capacidade destas para subordinarem os
como forma e processo de cooperação social interesses individuais aos interesses coletivos dos
entre os segmentos de uma comunidade que têm grupos.
interesses e preocupações comuns dada à O capital social existente em uma
mesma posição que ocupam no processo de comunidade depende do grau de confiança e
produção das condições materiais da existência cooperação dos participantes da comunidade
humana e social (SOUZA, 1996). A participação entre si. Fukuyama (1996) ressalta que a relação
social ante as implicações contraditórias da entre confiança e desenvolvimento é central nas
realidade social supõe um conjunto de ações discussões acerca do capital social, pois o bem‐
coletivas articuladas em função de objetivos estar de uma nação está condicionado pelo “nível
claros definidos pelos diversos atores / agentes de confiança inerente à sociedade em causa”
participantes e protagonistas de uma (FUKUYAMA, 1996, p. 19).
comunidade (SOUZA, 1996). Assim como Fukuyama, Putnam (1996)
atribui que a confiança é fundamental na
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cooperativo e, portanto, exigem conhecimento centralização do poder dos brasileiros
qualificado por parte dos participantes. O (HOLANDA, 1995; MONTEIRO; MONTEIRO, 2002).
processo de formação e capacitação dos Portanto, as pessoas que não têm a prática
participantes é importante para a eficácia da do protagonismo na construção do seu destino,
ação cooperativa e se constitui necessidade ficam habituadas a querer resultados imediatos
permanente aos grupos interessados na geração vindos da esfera pública (governantes), privada
de trabalho e renda (ANDRIOLI, 2002). (patrões) ou da sociedade civil. Em contrapartida,
Atores sociais que trabalham dentro de um ressalta‐se que diante da grande diversidade
fazer cooperativo têm como característica a ética, cultural e religiosa, o povo brasileiro, em
autogestão, que propicia o processo de educação especial o cearense, demonstra‐se apto para o
dos participantes. O exercício da participação e desenvolvimento da prática de cooperação
da convivência constrói novas relações entre as devido a determinadas características
pessoas, o que, também, se reproduz para a constitutivas de sua cultura como flexibilidade,
sociedade. As rupturas nas relações de produção adaptação, criatividade, facilidade de
entre os cooperados, decorrentes da organização comunicação, cordialidade que favorecem a
coletiva, refletem no seu processo de cooperatividade (HOLANDA, 1995; MONTEIRO;
consciência, contribuindo para a formação de MONTEIRO, 2002).
lideranças e na promoção da cidadania
(ANDRIOLI, 2002; BURSZTYN et al., 2003). Desse
modo, a prática de uma cooperação em sistemas 2. O SENTIDO DE COMUNIDADE
resulta em:
A idéia de ‘comunidade’ tem presença
[...] ganhos sociais como a capacidade de viver intermitente na historia das idéias. Para Sawaia
em comunidade; ganhos econômicos como o (1996) a idéia de comunidade aparece e
acesso a novos mercados, redução de custos, desaparece das reflexões sobre o homem e
aumento de poder de barganha em compras e sociedade em consonância às especificidades do
vendas; políticos, como a melhoria da contexto histórico e esse movimento explicita a
governabilidade; culturais, como a melhoria da
dimensão política do conceito, objetivado no
qualidade da educação; e ambientais como a
preservação do meio ambiente (MONTEIRO;
confronto entre valores coletivistas e valores
MONTEIRO, 2002, p. 8). individuais.
A idéia de comunidade (gemeinschaft)
A cooperatividade sistêmica já está está baseada em três eixos: o sangue, o lugar e o
presente em várias formas de iniciativas no espírito ou o parentesco, a vizinhança e a
território brasileiro. A despeito dessa realidade, amizade. Todos os sentimentos nobres como o
ressalta‐se que a implementação desta prática amor, a lealdade, a honra, a amizade são
sofre, em determinados locais, resistências emoções de comunidade, sendo que na idéia de
provenientes da herança histórica do sociedade (gesellschaft), os homens não estão
colonialismo e da escravidão que produziu vinculados, mas divididos. Ela aparece na
determinados fatores na cultura brasileira, como atividade aquisitiva e na ciência racional e sua
o assistencialismo, o paternalismo e o base é o mercado, a troca e o dinheiro (SAWAIA,
imediatismo, presentes em vários setores da 1996).
sociedade. Esses fatores ainda contribuem para o Sawaia (1996) ressalta que mais que uma
desenvolvimento da baixa autoestima, do categoria científico–analítica, comunidade é uma
conformismo, da apatia, além da formação da categoria orientadora da ação e da reflexão e seu
postura da esperteza, do individualismo e da conteúdo, extremamente sensível ao contexto
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social em que se insere, pois está associada ao envolvidos no trabalho de catação de lixo. A
debate sobre exclusão social e ética do bem partir da amostragem, 75,6% são homens e, das
viver. mulheres que vivem da profissão, a maioria
Desta forma, compreende‐se nesse acompanha os companheiros. Cerca de 27,8%
estudo que os indivíduos que trabalham na estão entre 18 a 25 anos e pelo menos 23,6%
coleta, na seleção e no transporte de materiais estão entre 31 e 40 anos de idade. A dificuldade
recicláveis formam uma comunidade, pois, uma em conseguir um emprego foi a causa mais
comunidade pode ser definida como um grupo citada pelo ingresso na atividade de coletor. Do
de pessoas que compartilham de uma total de 265 entrevistados, 22,6% se declararam
característica comum, uma comum unidade, que não‐alfabetizados.
as aproximam e pela qual são identificadas O coletor pertence ao grupo de
(NEUMANN; NEUMANN, 2004a). A comum trabalhadores que devido a condições sociais e
unidade ressaltada pelos autores está associada a baixa escolaridade não encontram lugar no
um território, região, características, origens, mercado formal de trabalho. Esse trabalhador,
cultura, crenças, interesses e causas partilhados. que faz o reaproveitamento de materiais
Esses elementos configurantes da comum recicláveis, atua, muitas vezes anonimamente, na
unidade encontram‐se presentes nos problemática questão do lixo das grandes,
trabalhadores em estudo. médias e pequenas cidades. Esse coletivo que
vive da catação de materiais recicláveis tem
papel fundamental, pois seu trabalho,
3. O COLETOR DE MATERIAL RECICLÁVEL NOS caracterizado pela coleta e reciclagem dos
ESPAÇOS DA CIDADE DE FORTALEZA resíduos sólidos, é responsável por produzir
“uma nova lógica de produção onde
Estima‐se que o número de coletores de desenvolvimento sustentável e estímulo ao
materiais recicláveis no Brasil seja de crescimento econômico podem coexistir” (SILVA,
aproximadamente 500.000 (quinhentos mil). 2006, p.3).
Conforme o ‘Diagnóstico socioeconômico e O trabalho que exercem nem de longe
cultural do (a) coletor (a) de materiais recicláveis apresenta condições humanas dignas. De acordo
de Fortaleza’, a estimativa é de que haja cerca de com Medeiros e Macedo (2007), a rotina de
8 mil coletores na capital cearense (IMPARH, trabalho expõe o coletor a riscos para a saúde, a
2006). preconceitos sociais e à desregulamentação dos
À medida que a população de Fortaleza direitos trabalhistas (segurança, horas
cresce, cresce também a quantidade de lixo trabalhadas, remuneração). Magera (2003)
produzido. Esse acúmulo de resíduos dispersados corrobora esse pensamento quando descreve as
todos os dias na cidade propicia o aparecimento condições precárias do exaustivo trabalho
de uma atividade laboral pouco respeitada, a realizado pelo coletor: muitas vezes, ultrapassa
catação de lixo, no caso específico, a coleta doze horas ininterruptas; um trabalho exaustivo,
seletiva de materiais para reciclagem. Um dos visto as condições a que estes indivíduos se
responsáveis por essa coleta seletiva é o coletor submetem, com seus carrinhos puxados pela
de material reciclado, que apesar do seu trabalho tração humana, carregando por dia mais de 200
de garimpagem não impede o depósito de quilos de lixo (cerca de 4 toneladas por mês),
toneladas de lixo reaproveitável diariamente no percorrendo mais de vinte quilômetros por dia, e,
aterro sanitário. De acordo com a pesquisa ao final, muitas vezes explorados pelos donos dos
anteriormente citada, nos espaços da cidade de depósitos de lixo (sucateiros) que, num gesto
Fortaleza transitam homens, mulheres e crianças paternalista, trocam os resíduos coletados do dia
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por bebida alcoólica ou pagam‐lhe um valor 4. A PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DOS
simbólico, insuficiente para sua própria COLETORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DA
reprodução como coletor de lixo (MAGERA, 2003, CIDADE DE FORTALEZA
p.34).
Além dessas condições, as 906 pessoas As condições socioeconômicas dos
que trabalham na área, entrevistadas na pesquisa coletores da cidade de Fortaleza não se
realizada pelo IMPARH, afirmaram não utilizarem diferenciam muito das que ocorrem em outros
equipamentos de proteção corporal e estarem centros urbanos do Brasil. No entanto, conforme
sempre expostos a acidentes na manipulação de afirma Carmo (2005), à medida que o tema
vidros ou outros materiais cortantes. O estudo reciclagem passa a ser discutido em uma
mostrou também que grande parte dos coletores sociedade como uma das formas de gestão
preferencialmente trabalha no fim da tarde e no sustentável dos resíduos sólidos, cresce o
período da noite, por coincidir com o horário em interesse econômico pelo assunto. Isso afeta
que é realizada a coleta do lixo. diretamente os modos de engajamento do
Na retaguarda de toda logística dos coletor na tarefa do manejo dos resíduos sólidos
resíduos urbanos: e consequentemente os seus ganhos.
Leal et al. (2002), citados por Medeiros e
[...] desde a coleta até sua disposição final, Macedo (2006, p. 65), concluem que o “[...]
encontra‐se uma complexa rede operacional coletor de material reciclável participa como
extra‐oficial de grande importância para a elemento base de um processo produtivo
manutenção da dinâmica dos resíduos urbanos. bastante lucrativo, no entanto, paradoxalmente,
Nos grandes centros urbanos, milhares de trabalha em condições precárias, subumanas e
pessoas, direta ou indiretamente, tiram o seu
não obtém ganho que lhe assegure uma
sustento do lixo urbano (SILVA; LIMA, 2007, p.
147).
sobrevivência digna”.
Nesse cenário, o que se propõe é pensar
sobre a possibilidade da comunidade dos
A logística do processo de trabalho dos
coletores da cidade de Fortaleza se organizar sob
coletores abrange a catação dos materiais em
forma de cooperatividade sitêmica para que eles,
lixos distribuídos nos espaços públicos e privados
de maneira organizada, possam articular os
das cidades e a separação do lixo do material
recursos para o bem comum. Desta forma, esses
reciclável numa quantidade que seja suficiente
trabalhadores podem ser protagonistas tanto na
para a venda. No que se refere à comercialização
criação como na gestão do seu capital social, à
desse material, aparece o atravessador, e esse
medida que contribuem para o desenvolvimento
tem como função o recebimento, a pesagem e o
sustentável da cidade. Como dito anteriormente,
estabelecimento do preço a ser pago pelo
o exercício da cooperatividade sistêmica de uma
material reciclável coletado. Na cidade de
cooperativa vai além da instituição formalizada,
Fortaleza, onde são produzidas 15 mil toneladas
legal. Ele está na essência dos processos que
de lixo reciclável por mês e desse total, apenas
geram um desenvolvimento includente,
4,9 mil são recicladas, um dia de trabalho pode
integrador e duradouro para o local. Desse modo,
render aos coletores em torno de R$ 60, a
assim como as cooperativas, grupos voltados à
depender da quantidade e do tipo de material
prática da cooperatividade sistêmica podem ser
que recolhem.
organizados nos mais diferentes setores da
economia, no campo e na cidade. Pode‐se
afirmar que em torno de qualquer problema
econômico ou social é possível constituir uma
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unidade de trabalho cooperativo. Como de fatores locacionais, formação de parcerias
instrumentos de geração de emprego e renda, para capacitação de pessoal, convênio de
estas unidades podem atuar desde os processos facilitação fiscal e de crédito, ação conjunta de
de produção, industrialização, comercialização, construção de uma infraestrutura de suporte a
crédito e prestação de serviços (ANDRIOLI, 2002; cursos de desenvolvimento de produtos
MONTEIRO; MONTEIRO, 2002) reciclados e comercialização tanto do material
E nesse processo, as políticas públicas coletado, como dos bens produzidos, parcerias
(governo, empresas e sociedade civil) podem e com as universidades e faculdades da cidade para
devem exercer papel relevante na promoção dos o desenvolvimento tecnológico e aquisição de
processos de formação de lideranças, tecnologias, e por fim, a criação de uma
emancipação, conscientização e transformação incubadora que prestaria serviços a
da condição de indivíduos em reais sujeitos de empreendedores locais e/ou projetos com
direito, bem como igualmente favorecer o objetivos de criação de microempresas que, ao
desenvolvimento e a qualidade dos serviços ingressar no programa de incubação, sejam
públicos prestados, evitando a formação de sustentáveis e economicamente viáveis.
guetos discriminatórios. Por outro lado, esses
indivíduos também são atores sociais que devem
assumir o papel de protagonistas nas relações 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
estabelecidas entre a iniciativa privada e
governo, no que concerne às questões A proposta deste ensaio é contribuir para
relacionadas à cidade, que é de todos. Juntos a reflexão sobre as condições de trabalho dos
poderão construir estratégias cooperativas. No coletores de lixo da cidade de Fortaleza. Assim,
entanto é importante que o manejo de condução foi proposto um meio de organizar esses
do poder também seja repensado (questão trabalhadores sob a forma de uma
cultural). cooperatividade sistêmica. Pensar em
A despeito disso, as ações de cooperatividade sistêmica objetiva o rompimento
cooperatividade sistêmica ocorrem em espaço com processos políticos, econômicos e sociais
público onde um novo modelo de governança, que fomentam o desenvolvimento baseado no
apropriado às práticas includentes, integradores crescimento econômico de poucos, em
e promotoras de sustentabilidade do detrimento da qualidade de vida de todos, na
desenvolvimento, deve trabalhar o planejamento destruição irremediável do meio ambiente,
e as ações de parcerias no local (MONTEIRO, subtraindo a dignidade de muitos indivíduos.
2003). Na essência, todos esses indivíduos,
Tais ações podem incluir um processo de homens, mulheres, crianças e adolescentes serão
resgate à cidadania – direitos civis, políticos e estimulados a pensar em soluções para os
sociais e a autoestima desses trabalhadores, a problemas que afetam a si, a sua família, o local
busca coletiva e compartilhamento de onde vivem. Serão também preparadas para agir
conhecimentos (educação básica, educação para em prol de tornar reais as soluções encontradas.
o trabalho, formação de lideranças), a construção À medida que participam, percebem que estão
de visões de futuro compartilhadas, a prática de em um ambiente onde são ouvidas e respeitadas,
discussão e construção conjunta de soluções para em que a cooperação tem um sentido direto em
os problemas comuns, debates para aprovação e suas vidas.
projetos consensuais de desenvolvimento para Nesse contexto fica facilitado o
comunidade, elaboração de agenda de trabalhos, desenvolvimento de uma consciência coletiva
identificação e busca por fomento compartilhado crítica da realidade social. A partir dessa
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