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Francisco Paulo Rodrigues Mestre1
Resumo: O presente artigo abarca questões do avaliar e do avaliar-se no ambiente escolar, lançando
reflexões a respeito de formas, intensões e instrumentalização que possam de alguma maneira provocar
rupturas nos “novos velhos” conceitos na busca de possibilidades avaliativas em coparticipação aluno e
professor. Apresento breve relato de experiência em avaliação com a utilização de portfólio reflexivo com
turmas de séries finais do ensino fundamental de uma escola pública do interior do estado do Rio Grande
do Sul.
Introdução
“Conhece-te a ti mesmo”
Sócrates
1
Pedagogo (ULBRA), Especialista em Música e Musicalidade (FSG), Especialista em Informática na
Educação (FAVENI), Mestrando em Ensino (UNIVATES). xykomestre@gmail.com (2017)
Aqui a atenção especial ao Portfólio reflexivo como estratégia significativa de
avaliação e auto avaliação dentro do processo de ensinar e aprender no ambiente
escolar. Sua utilização exige tomada de consciência e decisões que por vezes tornam-se
obstáculos a sua compreensão. Exige a desacomodação, a desconstrução de
conhecimentos para ressignicá-los e reconstruí-los a partir de experiências já
vivenciadas. Exige abandonar a zona de conforto aventurando-se por um mundo de
possibilidades.
Desacomodação necessária
“Dói a história, dói o esforço, dói a mudança. A dor já
não é sofrimento, é uma cáustica virtude imposta
pelo roteiro da vida” (Pecci, 1986, p. 147)
Neste contexto a análise dos instrumentos avaliativos pode servir como aliada ao
aperfeiçoamento das práticas pedagógicas cotidianas ampliando a visão de professor e
aluno. Ainda, como poderosa ferramenta de autoavaliação profissional, de
questionamento aos argumentos e metodologias docentes que, por vezes servem para
um aluno, porém, não serve para outro visto a heterogenia das salas de aulas.
Paradigmas da avaliação
Luckesi (1995) diz que avaliar implica uma tomada de posição, diferente de
medida ou “aferição da aprendizagem escolar” (p.91) utilizada em quase totalidade das
vezes com a intensão classificar os alunos em aprovados ou reprovados.
Será que avaliamos nossos alunos durante 13 ou mais anos de estudo para os
“preparar”2 para concursos que cumprem em apenas um turno de um ou dois dias? Ou
poderíamos tentar entender o que a vida poderia oferecer ou compartilhar com estes
alunos em uma formação de respeito aos desejos e sonhos destes?
Instrumentalizando
Por muito tempo professores recorrem a provas difíceis que, segundo Luckesi
(1991), não passam de instrumentos de ameaça e tortura prévia dos alunos podendo
refletir mais tarde inclusive na vida profissional deste aluno. Na mesma direção, a
rigidez demasiada e a pressão por parte do professor, pode causar pânico no aluno
provocando o “branco” por nervosismo no momento da avaliação oral ou escrita
2
Grifo meu.
podendo gerar estigmas, de traumas, com consequências por vezes irreversíveis
(MACHADO, 1995).
3
Texto original: “also, if somebody knows something, then he knows that he knows it, and at the same
time he knows that he knows that he knows” (Spinoza: 1632-1677, in Weinert, 1987, p. 2).
colaborar com cada aluno e com seu próprio aperfeiçoamento. Ainda, do professor deve
partir o exercício da sensibilidade enquanto respeito ao conhecimento da necessidade de
se utilizar, ou não, estratégias em tarefas ou atividades específicas, indutivas ou não
(FIGUEIRA, 1994).
Portfólio reflexivo
São perguntas simples, porém reveladoras. A iniciar pelo feedback aos pais ou
responsáveis sobre os conteúdos trabalhados em sala de aula e interesse dos filhos.
Quando este questionário chega ao professor, este tem o seu feedback sobre o
acompanhamento dos pais ou responsáveis, sobre o nível de compreensão e interesse
sobre o assunto, na visão de cada aluno. Isto permite uma reestrutura metodológica ou
de conteúdo para um melhor conhecimento e aproveitamento de cada aluno.
Com este portfólio foi possível conhecer um pouco mais sobre cada aluno, sua
família, suas rotinas cognitivas, sociais, seus interesses e desinteresses, perspectivas,
suas inter relações com colegas por afinidades ou empatia. Este conhecimento permitiu
uma correlação entre interesses, atividades e conteúdos que considero de grande
importância na escolha de estratégias de ensinar e aprender e sua respectiva avaliação e
autoavaliação. Estas, contínuas, adequando-se ao conhecer e conhecer-se para que
juntos – professor e aluno – consigam desvendar suas maneiras de aquisição de
conhecimento em cumplicidade com o aprender e apreender.
“[...] não é tudo; não deve ser o todo, nem na escola nem fora dela; e se o
frenesi avaliativo se apoderar dos espíritos, absorver e destruir as práticas,
paralisar a imaginação, desencorajar o desejo, então a patologia espreita-nos e
a falta de perspectivas, também.” (p. 16)
E para fugir dessa iminente patologia anunciada, nos cabe o convite a um novo
olhar sobre a avaliação voltado ao conhecer e conhecer-se implicando
fundamentalmente em mudança de atitude, em desconforto, em discutir, mas também
em fazer. Em deixar as conjugações no futuro do pretérito e recorrer ao presente. Fruto
da imparcialidade de conceitos e pré conceitos, de escolhas menos individuais e mais
coletivas com suas tomadas de decisões também em grupo.
Este campo abriga ainda um vasto percurso a ser desbravado, cheio de surpresas,
armadilhas e encantos que, necessariamente, serão enfrentados para que possamos
evoluir na práxis dos processos avaliativos de ensinar e aprender dialógicos.
Referências
FLEURI, Reinaldo Matias. Educar para quê? São Paulo: Cortez, 7. ed., 1994.
GENTILE, Paola; ANDRADE, Cristiana. Avaliação Nota 10. São Paulo: Nova Escola,
2001. Disponível em http://acervo.novaescola.org.br/formacao/avaliacao-nota-10-
424569.shtml acessado em 26/02/2017.
O RAPPA. Perfil. Faixa 1, A minha alma. São Paulo: Som Livre, 2009.