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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

Identificação da proposta
Grupo de pesquisa Currículo, Espaço, Movimento (CEM/CNPq)

Resumo
O grupo de pesquisa Currículo, Espaço, Movimento (CEM/CNPq) está vinculado à
pesquisa “O currículo em espaços escolares e não escolares no Brasil e na Colômbia:
diferentes relações com o aprender e o ensinar”, do Mestrado em Ensino do Centro
Universitário Univates e ao sub-projeto “Espaços e movimentos do currículo: entre o
escolar e o não escolar e o escolarizado e o não escolarizado”, aprovado pelo Edital
Universal MCTI/CNPq Nº 14/2013. Com início em 2013, o grupo de pesquisa busca
investigar as especificidades curriculares em espaços escolares e não escolares e suas
relações e cruzamentos com os movimentos escolarizados e não escolarizados, tomando
como aporte teórico o pensamento pós-nietzschiano da diferença, tal como é proposto
por autores como Gilles Deleuze, Michel Foucault e Roland Barthes. Neste sentido, ao
perguntar pelos modos através dos quais se constitui o currículo em determinados
espaços escolares e não escolares, questionando-se sobre suas semelhanças, diferenças e
rupturas, a pesquisa, além de pensar um currículo rizomático e transversal em
contraposição à concepção disciplinar e linear de currículo criada como modelo para a
escola moderna, também se propõe a uma investigação das condições de possibilidade
dos referidos espaços, assim como dos marcadores sociais, políticos e econômicos que
operam em sua constituição. O campo empírico da pesquisa é constituído por dois
espaços escolares e dois não escolares. Trata-se, pois de buscar compreender como se
constituem esses currículos e que efeitos eles produzem, contribuindo para os estudos e
discussões do tema da pesquisa. Tais discussões estão sendo apresentadas em eventos
nacionais e internacionais e publicadas em periódicos científicos.

Referencial teórico
O grupo de pesquisa Currículo, espaço, movimento (CEM/Cnpq) está vinculado
à pesquisa “O currículo em espaços escolarizados e não escolarizados no Brasil e na
Colômbia: diferentes relações com o aprender e o ensinar”, do Mestrado em Ensino do
Centro Universitário Univates e ao sub-projeto “Espaços e movimentos do currículo:
entre o escolar e o não escolar e o escolarizado e o não escolarizado”, aprovado pelo
Edital Universal 14/2013. Com início em 2013, o grupo de pesquisa busca investigar as
especificidades curriculares em espaços escolares e não escolares e suas relações e
cruzamentos com os movimentos escolarizados e não escolarizados. Tal estudo articula-

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se ao pensamento pós-nietzschiano da diferença, tal como é proposto por autores como
Gilles Deleuze, Michel Foucault e Roland Barthes. Por essa via, os movimentos, são
arquitetados em meio a questões sabidamente centrais a qualquer teorização curricular
pós-estruturalista (CORAZZA; TADEU, 2003, p.37), quais sejam: a discussão sobre o
conhecimento e a verdade, o sujeito e a subjetividade, os valores e o poder. Assim, a
questão sobre o que é ou deve ser ensinado não se separa da problematização sobre o
que, em determinado tempo e espaço, constitui-se como conhecimento válido,
verdadeiro, ou, em outras palavras, o que “quer” (CORAZZA, 2001) determinada
organização curricular: ora, todo currículo carrega alguma noção de subjetivação e de
sujeito, capaz de ser compreendida através da análise daquilo que ele pensa ser e no que
busca tornar aqueles que são por ele envolvidos. Tal reflexão sobre as motivações,
escolhas e juízos curriculares não se faz a não ser em meio à análise das relações de
poder aí implicadas, ou seja, a genealogia dos valores morais que movimentam este ou
aquele currículo: por que estes (e não outros) conhecimentos são considerados certos e
verdadeiros? Por que determinado tipo de formação e não outra? Por que esse sujeito e
não outro? Longe de qualquer crença em fundamentos primeiros e verdades
transcendentes, esta pesquisa está implicada com a pergunta sobre as forças por trás de
todo processo valorativo:

Em vez, pois, de perguntar ‘o que é?’, perguntar ‘o que faz


que seja o que é? Buscar, antes, o impulso, o desejo, o
motivo que faz com que as coisas tenham o sentido que
têm do que sua essência, sua origem ou o seu fundamento
último. No lugar de uma ontologia, uma ciência das
forças. (CORAZZA; TADEU, 2003, p.49)

Nesse sentido, ao perguntar pelos modos através dos quais se constitui o


currículo em determinados espaços escolares e não escolares, questionando-se sobre
suas semelhanças, diferenças e rupturas, busca-se investigar as condições de
possibilidade dos referidos espaços, assim como dos marcadores sociais, políticos e
econômicos que operam em sua constituição. Entendendo que as verdades de um
currículo não preexistem a ele, e que sua existência só faz sentido em uma determinada
relação de poder (que ele encena, movimenta, encarna), a pesquisa se articula ao
pensamento do currículo enquanto imposição de sentidos, de valores, de modos de
subjetivação particulares.

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Propõe-se, então, um estranhamento do currículo, entendido como forma de
governamento, de regulação dos sujeitos e coisas, como programa com função
educativa, pois tomado nesse sentido, o currículo conecta-se a um movimento
escolarizado ou escolarizante, delimitando fronteiras.
Os conceitos de escolar e não escolar comumente misturam-se com os conceitos
de escolarizado e não escolarizado, como se essas relações estivessem diretamente
relacionadas com o local onde ocorre o processo educacional. No entanto, sabe-se que
tais delimitações não são precisas, uma vez que outros determinantes, além do espaço
físico, devem ser considerados, tais como as relações, movimentos e disciplinamentos
em cada espaço educativo. Contudo uma vez tomada por escolarizado, a educação irá
pressupor, também, a invenção de espaços próprios, o controle do tempo em que se
desenvolvem as atividades, a seleção dos saberes aos quais se confere caráter de
universalidade, a invenção de uma relação saber-capacidade, a obrigação à frequência, a
desqualificação de outras práticas distintas, a seriação, a avaliação e a certificação (cf.
CORRÊA, 2000, p.54).
Desse modo, ao tomar o escolarizado e o não escolarizado como noções a serem
estudadas, tal pesquisa entende que o currículo deve ser pensado em razão das posturas
e das relações que engendra, ou seja, pelo modo como, em seus movimentos, o espaço é
ocupado. A simples distinção entre escolar e não escolar não parece ser suficiente para
garantir tal problematização, uma vez que carrega consigo a pressuposição de que o
escolar, com as normas que o governam, não traz consigo as forças necessárias a
possíveis transmutações – e, por via inversa, a crença de que quaisquer esforços práticos
de questionamento aos modelos escolares instituídos garantiriam a obtenção de um
espaço livre de regulações. Nesse ponto, faz-se necessário lembrar a distinção feita por
Deleuze e Guattari (1997), na esteira do compositor Pierre Boulez, entre aquilo que
denominam espaço liso e espaço estriado:

O liso e o estriado se distinguem em primeiro lugar pela


relação inversa do ponto e da linha (a linha entre dois
pontos, no caso do estriado, o ponto entre duas linhas no
caso do liso). Em segundo lugar, pela natureza da linha
(liso-direcional, intervalos abertos; estriado-dimensional,
intervalos fechados). Há, enfim, uma terceira
diferença que concerne à superfície ou ao espaço. No
espaço estriado, fecha-se uma superfície, a ser ‘repartida’
segundo intervalos determinados, conforme cortes
assinalados; no liso, ‘distribui-se’ num espaço aberto,

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conforme frequências e ao longo dos percursos (logos e
nomos)” (p.187-188).

Tal oposição, no entanto, não é situada de maneira simples. Se é verdade que o


espaço liso se configura pelos movimentos, subordinando toda formação pontual à força
e às determinações de seu trajeto, também é fato que ele “não para de ser traduzido,
transvertido num espaço estriado”, sendo o último “constantemente revertido, devolvido
a um espaço liso” (p.180). De certo modo, ambos se fazem possíveis graças às misturas
entre si, e toda a variação, todo o desenvolvimento contínuo das formas diz respeito à
determinada maneira de se ocupar o espaço: habitá-lo de modo incerto, de maneira
puramente direcional, irregular e não determinada; ou então, ao contrário, defini-lo por
um corte dimensional, estratificando-o em padrões capazes de subordinar a totalidade
dos movimentos que nele são produzidos. Em meio a experimentações nômades e
formações sedentárias, interessa pensar as passagens e as combinações, as alternâncias e
sobreposições entre as operações de alisamento e estriagem, ou seja, de que modo a
organização dos saberes, das práticas, da vida, pode entrar em um movimento contínuo
de desprendimento de valores, medidas e propriedades, ao mesmo tempo em que as
linhas de fuga, os movimentos criadores, não cessam de ser rebatidos e remanejados por
uma maquinaria normativa.
O currículo, enquanto movimento escolarizado, fixa-se a um espaço estriado que
captura e hierarquiza saberes e relações. Contudo, quando o currículo é tomado por
linhas, atalhos, fluxos, abre-se um leque de possibilidades que modifica os limites, os
contornos, a lógica escolarizante. Tal lógica pode estar presente nos espaços escolares e
não escolares, pois o que a define não é a configuração do espaço, mas a qualidade dos
seus movimentos. Fora dessa lógica, os espaços podem se tornar mutantes, nômades,
visto que prioriza-se os processos, os atravessamentos, os cruzamentos.

... o que distingue as viagens não é a qualidade objetiva


dos lugares, nem a quantidade mensurável do movimento
– nem algo que estaria unicamente no espírito – mas o
modo de espacialização, a maneira de estar no espaço, de
ser no espaço. Viajar de modo liso ou estriado, assim como
pensar... Mas sempre as passagens de um a outro, as
transformações de um no outro, as reviravoltas
(DELEUZE e GUATTARI, 1997, p. 190).

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Os movimentos, as passagens e as trocas de saberes em currículos não
escolarizados, escolares ou não, podem configurar-se através de aprenderes
desvinculados de resultados, de significações reduzidas por ações pedagógicas. Em tal
perspectiva, a proposta de um currículo não escolarizado é também um esforço de
oposição e de luta contra a coerção de discursos teóricos, unitários, formais e
discursivos, através do reconhecimento de saberes locais, menores, ativados contra a
hierarquização científica do conhecimento e de seus efeitos intrínsecos de poder
(FOUCAULT, 2004, p.172).
Misturar esses espaços - escolares e não escolares - e os movimentos
escolarizados e não escolarizados, tem por finalidade buscarmos entender de que modo
o currículo pode se compor e se cruzar com novas práticas, tecidas por outras relações
de saber e por novas experimentações.
Sendo assim, o campo empírico da pesquisa é constituído por dois espaços
escolares e dois não escolares. Um dos espaços escolares é a Escuela Pedagógica
Experimental (EPE), em Bogotá/Colômbia, na qual já existe um convênio com o curso
de Pedagogia da UNIVATES. O segundo espaço escolar é a escola Municipal Porto
Novo, situada na cidade de Lajeado/RS, na qual também o curso de Pedagogia da
Univates estabelece parcerias através da realização de estágios curriculares. Os dois
espaços não escolares constituem-se na ONG Abaquar, situada em um bairro periférico
da cidade de Lajeado, e a Fundação Iberê Camargo, localizado em Porto Alegre/RS.

Qualificação do principal problema a ser abordado


A pesquisa busca investigar as especificidades curriculares em espaços escolares
e não escolares e suas relações e cruzamentos com os movimentos escolarizados e não
escolarizados. Embora os conceitos de escolar e não escolar misturem-se com o de
escolarizado e não escolarizado, tais delimitações não são precisas, uma vez que outros
determinantes, além do espaço físico, devem ser considerados, tais como as relações,
movimentos e disciplinamentos em cada espaço educativo. A reflexão sobre as
motivações, escolhas e juízos curriculares não se faz a não ser em meio à compreensão
das relações de poder aí implicadas, ou seja, a genealogia dos valores morais que
movimentam este ou aquele currículo: por que estes (e não outros) conhecimentos são
considerados certos e verdadeiros? Por que determinado tipo de formação e não outra?
Por que esse sujeito e não outro? Assim, investigar os movimentos escolarizados e não
escolarizados em espaços escolares e não escolares, poderá nos ajudar a compreender o

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currículo em seus atravessamentos com os jogos de poder e as suas implicações com o
saber, problematizando os modos como, em seus movimentos, os espaços são
engendrados e ocupados. Além disso, a pesquisa também busca abrir a possibilidade de
desenvolver diversos olhares sobre tais currículos, enquanto territórios coletivos e
políticos que interagem com forças diferenciadas, com dispositivos disciplinares, com
possibilidades de experimentações.

Objetivos e metas a serem alcançados


Objetivos
 Estudar as diferentes teorias do currículo e suas implicações para a educação;
 Investigar as especificidades curriculares em espaços escolares e não escolares e
suas relações e cruzamentos com os movimentos escolarizados e não
escolarizados;
 Investigar as condições de possibilidade dos referidos espaços, assim como dos
marcadores sociais, políticos e econômicos que operam em sua constituição;
 Compreender o currículo em seus atravessamentos com os jogos de poder e as
suas implicações com o saber e os processos de subjetivação contemporâneos,
problematizando os modos como, em seus movimentos, os espaços são
engendrados e ocupados;
 Compreender de que modo o currículo pode se compor e se cruzar com novas
práticas, tecidas por outras relações de saber e por novas experimentações;
 Compreender as relações que se estabelecem entre as práticas de gestão escolar,
a governamentalidade neoliberal e os movimentos do currículo.
 Integrar a pesquisa com o Mestrado em Ensino, Centro Universitário
UNIVATES, compondo a terceira linha de pesquisa do referido Programa de
Pós-Graduação (Formação de professores, estudos do currículo e avaliação),
possibilitando a produção de dissertações vinculadas ao tema da pesquisa.

Metas

Meta(s) Descrição Detalhada da Meta(s)


1. Reuniões e sessões de estudos 1.1. Definição de material bibliográfico para as sessões de
sobre os referenciais teóricos e estudo;

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concepções metodológicas da 1.2. Sessões de estudos sobre a temática do projeto;
pesquisa 1.4. Reuniões de planejamento das ações da pesquisa
2. Aproximação e conhecimento 2.1. Visitas aos espaços da pesquisa;
dos espaços escolares e não 2.2. Reuniões com os responsáveis pelos espaços escolares
escolares e não escolares selecionados como campo empírico para a
pesquisa, a fim de definir objetivos e atividades;
3. Planejamento das ações da 3.1. Reuniões sobre as questões metodológicas da
pesquisa nos espaços pesquisa;
investigados 3.2. Planejamento e elaboração das estratégias
metodológicas que serão utilizadas nas investigações no
campo empírico da pesquisa;
3. Levantamento dos dados nos 3.1. Investigação nos quatro espaços selecionados para a
espaços investigados pesquisa através de observações, entrevistas semi-
estruturadas, registros em diários de bordo.

4. Análise dos dados 4.1. Transcrições das entrevistas realizadas;


4.2. Organização do material empírico coletado na
pesquisa;
4. 3. Reuniões com pesquisadores e bolsistas para análise
dos dados empíricos e articulação com os referenciais
teóricos da pesquisa.

5. Produção de artigos 5.1. Produção de artigos científicos com os resultados da


científicos pesquisa e encaminhamento para periódicos com qualis.
6. Apresentação dos resultados 6.1. Apresentação dos resultados da pesquisa em eventos
da pesquisa em eventos científicos da área – locais, nacionais e internacionais
científicos
7. Envolvimento da pesquisa em 7.1. Promoção de atividades de extensão relacionadas ao
atividades de extensão tema da pesquisa: grupos de estudos, mini-cursos,
palestras, etc.

8. Organização e realização de 7.1. Organização e realização de um seminário

7
seminário institucional na área institucional sobre currículo, no qual serão apresentados os
da pesquisa estudos desenvolvidos pela pesquisa.
7.2. Envolvimento do Mestrado em Ensino no seminário,
sobretudo, no que se refere a apresentação de
investigações na linha de pesquisa “Formação de
professores, currículo e avaliação”.
9. Elaboração de relatório final 8.1. Elaboração de relatório parciais e final da pesquisa
da pesquisa

Metodologia
A metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa é a aproximação com a
Genealogia, tomando-se como referência os estudos de Michel Foucault. O estudo
genealógico parte do presente em direção ao passado tomando a história não como um
processo evolutivo, mas cujas rupturas, impasses, reconfigurações e recorrências nos
permitem compreender as práticas pelas quais nos tornamos sujeitos de determinada
cultura, de determinados espaços e discursos. A genealogia atenta para o momento de
emergência, para as condições de possibilidade que fazem com que determinados
discursos ganhem intensidade. A análise leva sempre a novas buscas, a mudanças de
rota e não se limita ao imediatamente localizado, mas também questiona por que – em
relação ao nosso objeto de pesquisa, por exemplo – determinadas práticas curriculares
não se legitimam e não se fortalecem tais quais aquelas instituídas na modernidade. Para
Foucault (2006), a modernidade corresponde a “uma maneira de pensar e de sentir, e
também uma maneira de agir e de se conduzir que, ao mesmo tempo, marca um
pertencimento e se apresenta como uma tarefa” (Foucault, p.568).
Dessa forma, no estudo genealógico, o pesquisador poderá utilizar-se de
diferentes estratégias metodológicas, como análise de documentos, observações,
entrevistas, registros de diários de bordo buscando “cercar” o objeto de pesquisa a ser
estudado. Essas diferentes estratégias não estão definidas a priori, mas vão sendo
construídas a partir das necessidades identificadas no interior do processo, na medida
em que o estudo avança. Para Foucault (2005), a genealogia constitui-se em um modo:

(...) de fazer da história um uso que a liberte para sempre


do modelo, simultaneamente metafísico e antropológico,

8
da memória. Trata-se de fazer da história uma
contramemória e de desdobrar, consequentemente, uma
forma totalmente diferente do tempo (p. 277).

A metodologia genealógica implica, portanto, não a busca de uma origem


intacta, o começo de tudo; mas todas as descontinuidades inerentes ao nosso objeto de
pesquisa. A partir do olhar sobre a formação do currículo e dos mecanismos nele
presente, pretende-se, inicialmente, entender como se deu esse processo de constituição
curricular via seus dispositivos de poder disciplinar (FOUCAULT, 2004).
Os pesquisadores buscam utilizar diferentes estratégias metodológicas, que
poderão compreender observações registradas em diários de campo, entrevistas semi-
estruturadas, análise de documentos, grupo focal, de acordo com os caminhos trilhados
no decorrer da pesquisa e os questionamentos que forem se produzindo durante o
estudo. O material empírico tem por finalidade estabelecer entendimentos acerca do
currículo escolar e não escolar e suas relações com os conceitos de escolarizado e não
escolarizado. As entrevistas, registros, análise de documentos, bem como, as
observações, abrem-nos a possibilidade de desenvolver diversos olhares sobre tais
currículos, enquanto territórios coletivos e políticos que interagem com forças
diferenciadas, com dispositivos disciplinares, com possibilidades de experimentações.
Assim, o traçado de linhas, de rizomas, dos movimentos curriculares dos espaços
escolares e não escolares, permite que se estabeleçam alguns entendimentos e
compreensões de suas relações, suas resistências, imobilidades e seus campos de
experimentações.
Ao analisar o material de pesquisa com as ferramentas advindas das teorizações
de Michel Foucault (1986), a noção de discurso torna-se central. Na proposição
metodológica do autor, trata-se de esmiuçar o discurso não como a língua utilizada, no
sentido de análise semiótica, mas enquanto prática, mantendo a sua consistência e
fazendo-o surgir na complexidade que lhe é própria.

O discurso, assim concebido, não é a manifestação,


majestosamente desenvolvida, de um sujeito que pensa,
que conhece, e que o diz: é, ao contrário, um conjunto em
que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua
descontinuidade em relação a si mesmo. É um espaço de

9
exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares
distintos. (Foucault, 1986, p.61-62)

Nesse sentido, a própria construção do conceito de currículo, tal qual o


compreendemos hoje, passa a ser questionada. Torna-se imprescindível atentar não
somente para a história dos conceitos, mas para as rupturas e descontinuidades que
constituem a trajetória dos mesmos, assim como os discursos correlatos que
possibilitaram as suas emergências, intensificações ou apagamentos. Foucault (1986)
alerta que “é preciso manter em suspenso as formas prévias de continuidade” (p. 28),
para isso, trata-se de descrever os acontecimentos discursivos, os seus encadeamentos,
os lugares institucionais – com, nos e pelos quais se manifesta o currículo.
A variedade de dados a ser coletada nos espaços escolares e não escolares da
pesquisa, visam dar conta das formações discursivas pelas quais é possível explanar a
relação da unidade do discurso, o espaço que o circunda e a singularidade do objeto de
pesquisa. Elementos estes que possibilitam compreender “um conjunto de regras que
são imanentes a uma prática e a definem em sua especificidade” (FOUCAULT, 1986, p.
52).

Principais contribuições científicas ou tecnológicas da proposta


A execução desse projeto pretende contribuir no sentido de compreender e
problematizar o currículo enquanto movimento que atravessa os espaços escolares e não
escolares. Os depoimentos de professores e alunos, bem como, as observações, registros
em diários de campo e análise de documentos, poderão servir de orientação para
problematizar o modelo curricular disciplinar e escolarizante que nasce na Modernidade
e continua engendrando e ocupando os espaços educativos, escolares e não escolares, na
contemporaneidade. Os resultados da pesquisa proposta, divulgados em eventos
científicos da área da Educação e em artigos publicados em periódicos qualificados,
poderão contribuir para a compreensão e problematização das discussões acerca do
currículo, seus espaços, relações e movimentos. Do mesmo modo, também poderão
subsidiar a construção e a vivência de outras experiências educacionais em espaços
escolares e não escolares. Estando vinculada ao Mestrado em Ensino do Centro
Universitário Univates, os resultados da presente pesquisa também poderão subsidiar o
mencionado Programa, no que se refere à formação de linhas de pesquisa e produções
de dissertações sobre a temática.

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Produções e publicações já realizadas:

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA EM EVENTOS 2013


NOME DO EVENTO TÍTULO DO TRABALHO
EVENTOS NACIONAIS

VII Seminário Internacional As Redes Espaços escolarizados e não escolarizados:


Educativas e Suas Tecnologias (UERJ - uma discussão sobre currículo
Rio de Janeiro)

XII Encontro sobre Investigação na Espaços e Movimentos do Currículo: entre


Escola (UFSM - Santa Maria/RS) o escolar/não escolar e o escolarizado/não
escolarizado
III Simpósio Internacional Diálogos na O Corpo entre os Movimentos
Contemporaneidade: o real, o atual e o Escolarizados e Não Escolarizados
virtual (UNIVATES - Lajeado/RS)

III Seminário Integrador Escrileituras e V O Currículo em espaços


Colóquio Internacional Educação & escolarizados e não escolarizados:
Contemporaneidade (Pelotas/RS) aproximações genealógicas

EVENTOS INTERNACIONAIS
Seminário de investigação do Jogos de armar: pedagogia, currículo,
programa de doutoramento em filosofia
Filosofia da Universidade de
Évora (Évora/ Portugal)
European Conference on Curriculum 1) Schooled and unschooled places from a
Studies (Braga/Portugal) genealogical perspective
2) GENEALOGY AND IMORALITY –
discussions about curriculum in schooled
spaces

11
APRESENTAÇÃO DA PESQUISA EM EVENTOS 2014
NOME DO EVENTO TÍTULO DO TRABALHO
EVENTOS NACIONAIS

X ANPED Sul (Florianópolis/ SC) Entre espaços e movimentos curriculares

XI Congresso Brasileiro de Extensão 1) Extensão, ensino e Pesquisa: Docência e


Universitária (Belém/Pará) Criação
2) Imposturas Literárias
SEMIEDU - Seminário Educação – 1)Sobre linhas e transversalidades: Currículo e Jerômé
“Educação e seus modos de ler e escrever Bel
em meio a vida” (UFMT - Cuiabá/ Mato 2) Do comparativismo como ciência
Grosso) aplicada: sobre roubos, contrapontos e outras
operações artrológicas
3) A arte em movimento da forma a
Desforma
4) O currículo entre movimentos
escolarizados e não escolarizados: linhas
tênues
VI Seminário Corpo, gênero e sexualidade Palimpsestos arquitetônicas: a
(Juiz de Fora/ RJ) pesquisa como corpografia

EVENTOS INTERNACIONAIS
5th International Conference on New Research as a curriculum movement:
Horizons in Education (Paris/França) teacher protagonism as a pathway to
learning

I Bienal Latinoamericana de Infâncias e Arte, Potência e Resistência: O


Juventudes (Manizales/Colômbia) corpo entre movimentos escolarizados
e não-escolarizados
XI Colóquio sobre Questões Curriculares / 1) Dispositivos de governamento, jogos de
VII Colóquio Luso-Brasileiro e I profanação: o currículo entre movimentos
Colóquio Luso-Afro-Brasileiro de escolarizados e não escolarizados
2) William Kentridge e o

12
Questões Curriculares (Braga/Portugal) currículo:fortuna, excesso, profanação

Artigo completo publicado em periódicos

COSTA, Cristiano B; MUNHOZ, Angélica V. Genealogia e imoralidade: o currículo


entre experimentações nômades e estratificações sedentárias. Revista Linhas. v. 15,
n.29, p. 423-437 UDESC, 2014.
RODRIGUES, Aline. Movimentos escolarizados e não-escolarizados: do corpo aluno e
suas estratégias de resistência. Revista contemporânea de educação. v. 9, n. 18, p. 85-
97. UFRJ, 2014.
COSTA, Cristiano Bedin da; MUNHOZ, Angélica Vier. Liberdade em movimento:
extratos para a construção do corpo em um ensino à deriva. Revista Contemporânea de
Educação. (prelo)
SCHWERTNER, Suzana Feldens; LOPES, Maria Isabel. Estratégias curriculares em
espaços escolares. Revista Pro-Posições. (prelo)

Cronograma detalhado

Atividades do projeto em meses


1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10 11º 12º

Sessões de estudo sobre o tema da X X X X X X X X X X X X


pesquisa

Levantamento dos dados nos espaços X X X X

investigados
Análise dos dados X X X

Produção de artigos sobre os resultados X X X X


da pesquisa
Apresentação dos resultados em eventos X X X X
da área

13
Relatório parcial da pesquisa X

Atividades do projeto em meses


13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º

Estudo e discussão do referencial teórico e X X X X X X X X X X X X


das atividades metodológicas
Levantamento dos dados nos espaços X X X X
investigados
Análise dos dados X X X X X

Produção de artigos sobre os resultados da X X X X X X X


pesquisa
Apresentação dos resultados em eventos da X X X X X X
área

Promoção de atividades de extensão X X X X X X X


relacionadas ao tema da pesquisa: grupos
de estudos, mini-cursos, palestras.

Organização e realização de seminário na X X X X X X


área da pesquisa

Relatório parcial da pesquisa X

25º 26º 27º 28º 29º 30º 31º 32º 33º 34º 35º 36º
Atividades do projeto em meses
Estudo e discussão do referencial teórico e X X X X X X X X X X X X
das atividades metodológicas

Levantamento dos dados nos espaços X X X


investigados

Análise dos dados X X X

14
Produção de artigos sobre os resultados da X X X X X X X
pesquisa

Apresentação dos resultados em eventos da X X X X X X


área

Relatório final da pesquisa X X

Identificação dos integrantes do projeto


Pesquisadores
Coordenadora do projeto:
Prof. Dra. Angélica Vier Munhoz – Docente dos cursos de graduação de Pedagogia,
Licenciaturas e Psicologia; Docente do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências
Exatas e Mestrado Acadêmico em Ensino – Centro Universitário Univates.

Demais pesquisadores
Profº. Dr. Cristiano Bedin da Costa - Docente dos cursos de graduação de Pedagogia,
Licenciaturas e Psicologia - Centro Universitário Univates
Profª Dra. Suzana Schwertner – Docente dos cursos de graduação de Pedagogia e
Psicologia; Docente do Mestrado Acadêmico em Ensino – Centro Universitário
Univates
Profª. Dra. Morgana Domênica Hattge – Coordenadora do Curso de Pedagogia; Docente
dos cursos de graduação de Pedagogia e Licenciaturas - Centro Universitário Univates
Profª Dra. Mariane Ohlweiler – Docente dos cursos de graduação de Pedagogia e
Licenciaturas - Centro Universitário Univates

Pesquisadores voluntários
Profª Me. Claudia Inês Horn - Docente do curso de graduação de Pedagogia, Centro
Universitário Univates. Doutoranda em Educação Unisinos
Profª Me. Fabiane Olegário - Docente do curso de graduação de Pedagogia, Centro
Universitário Univates. Doutoranda em Educação UFRGS

Bolsistas de Iniciação Científica:


15
Bibiana Munhoz Roos – Estudante do Curso de Psicologia do Centro Universitário
Univates; Bolsista PIBIC/CNPq
Henriqueta Cristina Althaus Moutinho - Estudante do Curso de Psicologia do Centro
Universitário Univates; Bolsista PROBIC/Fapergs
José Alberto Romaña Diaz- Estudante do Curso de Psicologia do Centro Universitário
Univates; Bolsista BIC/Univates
Augusto César Faleiro - Estudante do Curso de Psicologia do Centro Universitário
Univates; Bolsista BIC/Univates
Jhon Danilo Bojaca Pedraza - Estudante do Curso de História do Centro Universitário
Univates; Bolsista BIC/Univates

Bolsistas vinculados ao Mestrado em Ensino:


Ana Paula Crizel – Bolsista Fapergs/Capes
Francine Nara de Freitas - Bolsista Fapergs/Capes
Adriana de Oliveira Pretto – Bolsista Taxa Capes

Voluntários:
Ana Paula Coutinho
Maria da Glória Munhoz Roos
Aline Rodrigues
Tamara Cristina Luersen

Colaborações ou parcerias já estabelecidas com outros centros de pesquisa na área:


A pesquisa já firmou, através de convênio jurídico, a parceria com as seguintes
instituições:
 Escuela Pedagógica Experimental (EPE) - Bogotá/Colômbia
 Escola Municipal Porto Novo – Lajeado/RS
 ONG Abaquar – Lajeado/RS (existente até o ano de 2013)
 Fundação Iberê Camargo - Porto Alegre/RS
 Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) - RJ

Disponibilidade efetiva de infra-estrutura e de apoio técnico para o


desenvolvimento do projeto

16
O Centro Universitário UNIVATES dispõe de infraestrutura para alocação do projeto
tendo em vista que: dispõe de sala denominada “Laboratório de Didática”, local para os
bolsistas de iniciação científica realizarem suas tarefas; integrantes do projeto possuem
gabinete onde também é possível realizar seções de estudos e reuniões, bem como
alocar materiais oriundos da pesquisa; os integrantes do presente projeto de pesquisa já
faz parte da pesquisa vinculada ao Mestrado em Ensino da Instituição, aprovada em
edital interno e tem horas destinadas a essa pesquisa em seu plano de trabalho. Ainda
cabe salientar que há também, por parte da Instituição, contrapartida no que se refere à
disponibilidade de material de expediente para a realização da pesquisa.

Referências Bibliográficas
CORAZZA, Sandra. O que quer um currículo? Pesquisas pós-críticas em educação.
Petrópolis: Vozes, 2001.
CORAZZA, Sandra; TADEU, Tomaz. Composições. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
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DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Trad. Peter Pál
pelbart e Janice Caiafa. Vol. 5. Rio de janeiro: Ed. 34, 1997
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