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APOSTILA - FRASEOLOGIA MUSICAL

Antonio Celso Ribeiro

A Frase Musical
 Na acepção mais
mais ampla da palavra,
palavra, se denomina  frase o ciclo completo de uma idéia melódica
integrado por ideias parciais que dão origem a formação de seções e subseções de categoria cada
vez menor. A frase pode constituir por si mesma um tipot ipo de composição. As frases  suspensivas
representam uma porta aberta , permitindo a continuação.
continuação. Neste tipo de frase é freqüente a mudança
mudança
do signo rítmico ou melódico para dar passo a uma nova idéia que constituirá o germe da frase
seguinte. As frases conclusivas, ao contrário, representam
r epresentam uma porta fechada, convidando pouco à
continuação.
Os Pequenos Tipos Formais

1. O pequeno tipo primário: corresponde a este tipo as composições breves constituídas por  uma
 só frase. Trata-se, pois, da estrutura mais elementar e simples. Geralmente a brevidade da peça é
compensada pelas repetições como no caso das canções folclóricas(Ciranda, cirandinha, por exemplo).
Neste tipo de composição  Introdução e Coda são facultativos. Ex:

Cór - ta meun ra mi to ver de; ver de te

lo cor ta ré. Cór ta meun ra mi to ver de, de los á la mos del Rey.

2. O pequeno tipo binário: de tratar-se de um tipo  A-A¹, o  A¹ não pode ser a exata repetição do
 primeiro, já que então resultaria um tipo primário. São, pois, indispensáveis
indispensáveis modificações, ou
ou no rítmo,
ou na linha melódica, harmonia ou processo tonal. Esquema:

 Exposição ou proposta A = tende a brevidade


 Repetição ou resposta A¹ = tende a extensão. Nunca mais breve que a exposição. Geralmente apresenta
uma pequena coda (codeta). A tonalidade desta seção geralmente
geralmente é um tom vizinho da 1ª parte. Ex:
A

etc...

etc...

Para o tipo A-B o esquema é o seguinte:


1ª parte ou seção:  A com final suspensivo ou conclusivo
2ª parte ou seção:  B no mesmo modo que  A ou diferente e com final conclusivo. A tonalidade desta
seção geralmente é a dominante do tom principal. Ex:
2

En el por tal de Be lén hay es tre lla, sol y lu na.

La Vir gen y San Jo sé yel Ni ño que está enla cu na. Pas to res ve

nid, pas to res lle gad ya do rad al Ni ño queha na ci do ya.

3. O pequeno tipo ternário: apresenta asseguintes estruturas ->  A-B-A; A-A-B; A-B-B; A-B-C.
A estrutura preferencal é A-B-A: ternária reexpositiva que é, na verdade, a mesma estrutura do  Lied.
Esquema:

1ª parte: Exposição de A (idéia principal), com final  suspensivo ou conclusivo, tanto faz.
2ª parte: B (episódio), constituido com elementos próprios ou derivados de  A.
3ª parte: Reexposição de A, com final conclusivo, seja ou não o mesmo da 1ª parte.
Exemplo:

A repetição textual integral (geminatio)

B A¹ repetição textual parcial (reduplicatio)

Tipos rítmicos determinados pelo começo ou pelo final das idéias melódicas: segundo a sua posição em
relação ao ictus, a frase, o período, etc., o rítmo pode ser:
a) Tético, quando seu ataque coincide com o ictus inicial.
b) Anacrústico, quando seu ataque é anterior ao ictus inicial.
c) Acéfalo, se seu ataque for imediatamente após o ictus inicial.
d) Masculino, se sua terminação coincide com o ictus final.
e) Feminino, se sua terminação ocorre depois do ictus final, seja uma ou mais notas que o sucede. O
final feminino mais característico que existe é o que apresenta uma apogiatura no momento do ictus.
Exemplos:
1 2 3

tético masculino anacrústico  feminino acéfalo  feminino


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Unidade e variedade rítmica na construção da frase: para facilitar a análise esquemática dos
diversos componentes de uma frase, é costume representá-los por meio de letras minúsculas e
em itálico. O primeiro componente se designa com a letra a; o segundo, com a mesma letra se
se repetir a fórmula rítmica, ou com a letra b caso contrário e assim por diante. É preciso ter em
conta que a simples conversão de um final masculino em feminino ou vice versa não se considera
suficiente para uma mudança de letra.
Exemplos de diversos tipos rítmicos de período:

A A

1.

a a a a

A A

2.

a b a b

A B

3.

a b a c

A B

3.

a b c d 

Fórmulas melódicas suspensivas e conclusivas: o caráter de uma frase, período, etc., é determinado
 por seu final, que pode ser suspensivo (interrogativo) ou conclusivo (afirmativo). Mas, ao passo que
algumas fórmulas determinam tal caráter por si próprias, outras já não são assim e necessitam ser 
comparadas. Temos então a seguinte classificação:
a) Fórmula melódica suspensiva ou interrogativa: é a que não dá sensação de final absoluto, senão
um descanso (relaxamento) provisório que necessita de continuação. No caso, a que termina com
uma nota que não pertence ao acorde de tônica.
b) Fórmula melódica conclusiva ou afirmativa: é aquela que dá sensação de final absoluto, o que não
significa que deva forçosamente sê-la. No caso, a que termina com a tônica e rítmo masculino. Ao
dizer tônica nos referimos a que corresponde ao tom principal, excluindo qualquer outra resultante
de uma modulação, pois ao abandonar aquela representa já um efeito de suspensão.
c) Fórmula melódica incorreta: é a que resulta um efeito suspensivo se se compara com outra de efeito
conclusivo, e vice-versa. No caso, a que termina com a tônica e rítmo feminino ou então com uma das
outras notas do acorde de tônica.
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Esquema harmônico das estruturas binárias:

1. Tom principal e modulação de afastamento || Retorno ao tom principal

2. Tom principal exclusivamente || modulação de afastamento e retorno imediato ao tom principal

Esquema harmônico das estruturas ternárias:

1. Tom principal e modulação de afastamento || digressão ou continuação até outro tom, com princípio
de retorno ou sem tal princípio || tom principal

2. Tom principal exclusivamente || modulação de afastamento, com princípio de retorno ou sem tal
 princípio || tom principal

Exemplos destas estruturas são abundantes nas Sonatas para Piano de Beethoven. Estas estruturas acima
não esgotam todas as possibilidades mas são as principais.

A frase de dois períodos:


Cosntitui o tipo mais breve de frase binária. Sua estrutura, agora um pouco mais detalhada se dá da
seguinte forma:

1. A, suspensivo ||  A, conclusivo

2. A, conclusivo || A, conclusivo

3. A, suspensivo ||  B, conclusivo

4. A, conclusivo ||  B, conclusivo

Exemplos de cada tipo, com períodos binários:

1º período: A, suspensivo 2º período: A, conclusivo

1.

1º período: A, conclusivo 2º período: A, conclusivo

2.

1º período: A, suspensivo 2º período: B, conclusivo

3.

1º período: A, conclusivo 2º período: B, conclusivo

4.
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A frase de três períodos: constitui o tipo mais breve da forma ternária. Os seguintes esquemas são
 possíveis:

1. suspensivo-suspensivo-conclusivo
2. conclusivo-suspensivo-conclusivo
3. suspensivo-conclusivo-conclusivo
4. conclusivo-conclusivo-conclusivo

 No tipo 3, o último período toma o caráter de uma coda. O tipo 4 é mais raro.

Exemplo do tipo 1:

1º período: A, suspensivo 2º periodo: A, suspensivo 3º período: A, conclusivo

A estrutura A-A-A no exemplo acima se refere ao aspecto rítmico. Neste sentido, são possíveis as
seguintes estruturas: A-A-A; A-A-B; A-B-A; A-B-B e A-B-C. Como já mencionado anteriormente,
nos tipos A-A-A e A-B-A quando o 3º período for reexpositivo, se forma a chamada frase  Lied ternária.

A frase de quatro períodos: é, regularmente, uma estrutura binária na qual cada parte está constituida
 por um grupo de dois períodos:

 Frase

1º grupo de períodos 2º grupo de períodos

1º período 2º período 3º período 4º período

Quando o 3º período é conclusivo, o 4º toma o caráter de uma coda. As frases de cinco períodos
geralmente são frases quaternárias conclusivas onde o 5º período funciona como coda. Apesar de
 pouco ocorrentes as frases de seis períodos são assim distribuidas:
Estrutura binária: dois grupos de três períodos cada.
Estrutura ternária: três grupos de dois períodos cada.

Simetrias:
A frase é simétrica ou regular quando cada um de seus períodos estão constituidos pelo mesmo
número de compassos, e os subperíodos estejam nestas mesmas condições. Em todos os demais
casos, frases, períodos e subperíodos são assimétricos e irregulares. Exemplo de estrutura irregular:
A frase é simétrica mas os períodos são assimétricos.
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Considerações sobre a frase assimétrica: a assimetria somente é defeituosa se resultar em uma frase
cocha, ou seja, quando sem motivo sobrar ou faltar um compasso. Por outro lado, a assimetria inten-
cional faz a obra fugir da monotonia, o que vai ocorrer principalmente nas obras a partir do período
 pré-clássico. Os principais meios de que o compositor se dispõe para provocar a assimetria, quando a
deseja, são:
a) Dupla função por elipse
b) Contração rítmica
c) Dilatação rítmica
d) Eco
e) Amplificações

Dupla função por elipse: o ictus inicial de uma frase ou período, etc., coincide com o ictus final prece-
dente, desaparecendo a separação normal entre ambos, fazendo com que o conjunto tenha um compasso
a menos. A dupla função por elipse é muito frequente. Exemplo:

começo
 final 

etc...

começo  final 

em lugar de:

etc...

Contração rítmica: o rítmo de um grupo de notas se contrai por redução de seus valores, com o
qual dois compassos, dois tempos etc. se fundem em um. Exemplo:

 frase normal 

 frase com contração

contração

 frase normal  contração


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Dilatação rítmica: é o oposto da contração rítmica. Exemplo:

 frase normal 

 frase com dilatação

dilatação

Eco: repetição imediata de um grupo de notas, de forma que se imite o fenômeno acústico. Somente
causa assimetria quando aumenta o número de compassos. Exemplos:

eco

eco

eco eco eco

Amplificações:o conteúdo de um período ou subperíodo é amplificado - com frequência por meio de


modulações, repetições ou progressões - para aumentar sua expressividade. A assimetria por amplifica-
ção é muito frequente, principalmente na reexposição de frases e o procedimento é muito variado. Ex:

1º período 2º período

3º período 4º período

continuação do 4º período

amplificação semelhante a um parêntesis


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