Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
[Edição] TRIPLOV.COM
[Capa] Maria Azenha — Imagem de capa —
[Organização] M. Céu Costa “Arte com luvas brancas”
Vice directora do TriploV Maria Azenha
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
Manuel Silva-Terra
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
Nicolau Saião
“LINHA SONORA”
Maria José Camecelha
https://soundcloud.com/user-615068778/linha-sonora-por-maria-jose-camecelha
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
O MEDO
É NOITE GERAL
https://www.youtube.com/watch?v=-owafs8tS1A
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
SEM TÍTULO
POEMA
Manuel Silva-Terra
Então a minha mãe embalou-me no peito.
— Poeta, tradutor e editor —
Mais tarde tive medo de ter medo.
AS MÁSCARAS DO AR
E a cada passo
mais indelével.
II
IV
Quem disse para tentar o abismo abaixou os olhos e não se viu em corpos cujos órgãos todos,
lugar nenhum. há muito tempo, nós doamos para o sonho.
Essa foi a solução. Talvez seja possível doar uma pedra
Assim, a partir deste alvo privado de cor surge a figura que lançaremos com a mão direita,
de um dos deuses sem fronteiras. que é hábil em lidar com golpes até a morte.
Posso fazer a pergunta agora que você já sabe tudo? Joguemos
Uma rua pelo mar, talvez para onde estamos indo, com nosso estilingue de todos os mares
é a resposta. — atlântico, pacífico, negro, vermelho, índico —,
Era esta a solução? E a verdade, ainda passa por aqui? uma única pedra
A resposta, a resposta, já a podemos imaginar? — basáltica, granítica, enfim, vulcânica —
Talvez, também pode ser a transparência de uma careta, e o manto da terra se erguerá, como um animal velado.
ou o uivo de uma linhagem escondida atrás da máscara de sua O ar que já foi sinônimo de vida,
história. agora envenena.
No entanto, o alfabeto permanece nas mãos daqueles que insistimos A cicuta de Sócrates,
em decifrar os tempos de sua escritura. agora invisível,
A ciência do desastre penetra através dos orifícios, através das fendas.
clama que doemos nossos corpos;
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
V VI
VII
XI XII
XIII
XIV
XVI
É a morte que o governo impõe ao passar pelas populações do As mulheres coroadas com quimeras, sobre a cidade sitiada.
mundo. De suas mãos saíram roupas anunciando o massacre.
E com uma de suas máscaras infectadas ele procura contaminar as Estamos sombrios e mudamos o idioma,
[ brasas da vida, ] nós gritamos feitiços, colocamos fogo nas esfinges.
a razão e o mistério cotidiano daqueles que temos ali a nossa Incontáveis corpos purificados,
presença afogamos os olhos dos desencarnados.
[ diária. ] Fechamos os poços onde os demônios assistem.
Já são muitas as vozes que jazem ao dar conta do dom da morte Nós dançamos enquanto o céu cai abaixo dos joelhos.
[ onipresente, ] É a morte, é a morte, com suas sementes de ar podre.
em Medellín, San José, Nova York, Fortaleza, San Juan, Madri, João
[ Pessoa, no norte da Itália… ]
Ai dos montes dos vivos, dos montes dos mortos! XVII
Enquanto isso, os rios seguem seus canais, as flores florescem e
[ depois da tarde ] No crepúsculo, onde a vida resiste com mordidas,
a noite chega e com ela as incógnitas do dormente e sua manhã. surge Omar Khayyam, o poeta persa,
Registram-no as estanzas deste poema, como um esquecimento como se fosse uma miragem,
[ inesquecível. ] cantando alguns de seus versos:
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
XIX
[Março de 2020]
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
“MEDO”
Maria Estela Guedes
VÉSPERA
Quebro a violência muda do primeiro verso deixo de acreditar que o amor é véspera ou
com as sombras que não se dissolvem nestes o socalco de um rio que se vislumbra ao longe.
“O MEDO”
Elisa Scarpa
“MÊDO"
Luís Filipe Gomes
— Ilustrador —
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
DIAS DA PESTE
o casal de velhos que todos os dias se senta de cada lado da cancela da fronteira Dinamarca - suécia à mesa improvisada a celebrar mais um dia com
uma chávena de chá
a antiga senhora de limpeza que telefona a desabafar os filhos do marido não a deixam sair para não trazer o vírus e só sai à noite para levar o lixo
o amigo improvável no percurso matinal da marginal porque se descobre percurso comum de resistência na escrita
a senhora e o senhor português que todas as manhãs trazem os seus cães a brincar no campo da petanca
e os pássaros que todas as manhãs e todas as tardes vêm partilhar os cantos entre as folhas que rebentam nas árvores
e a rapariga colombiana da fundação o século que espreme o sumo de três laranjas e se esmera num croissant com queijo e fiambre para alimentar a
simpatia dos exilados entre pássaros que cantam
Manuel Santos
— Professor, jornalista e poeta —
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
A RESPIRAÇÃO DO MEDO
A U T O R E S:
Alfonso Peña
Manuel Santos
Amirah Gazel
Manuel Silva-Terra
Anna Apolinário
Maria Azenha
Armando Romero
Maria Estela Guedes
Berta Lucía Estrada
Maria José Camecelha
Casé Lontra Marques
M. Céu Costa
Elisa Scarpa
Nicolau Saião
Floriano Martins
Omar Castillo
José Ángel Leyva
Sandra Costa
Luís Filipe Gomes
Abril / 2020
A RESPIRAÇÃO DO MEDO