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ESCOLA SECUNDÁRIA / 3º CEB DA BATALHA

PORTUGUÊS B - 12º ANO


Luís Sttau Monteiro, FELIZMENTE HÁ LUAR

Para mim há uma coisa sagrada: “É preciso que os homens se definam para que
Ser livre como o vento possam ser julgados.”
Luís de Sttau Monteiro Felizmente há Luar!

“São tantas as portas que se nos fecham,


“Os degraus da vida são logo esquecidos
que acabamos por ter medo das que
por quem sobe a escada...”
se abrem à nossa frente...”
Felizmente há Luar!
Felizmente há Luar!
“Todos somos chamados, pelo menos uma vez, a desempenhar um papel que
nos supera. É nesse momento que justificamos o resto da vida, perdida no
desempenho de pequenos papéis indignos do que somos.”
Felizmente há Luar!
“Enquanto nos não matarem,
“Ninguém consegue viver sem ouvir a voz da consciência”
aquele de nós que estiver livre tem de lutar.”
Felizmente há Luar!
Felizmente há Luar!

ACÇÃO
ESTRUTURA EXTERNA
A peça tem dois actos. Os actos estão divididos em cenas. Pode-se, contudo, tentar gizar
quadros em que as personagens monologam ou dialogam, marcando as suas entradas e saídas de
cena...
ACTO I ACTO II
- Manuel, Rita, 1º Popular, 2º Popular, 3º Popular, - Monólogo de D. Manuel.
Uma Velha e Antigo Soldado; para além destas - Manuel, 1º Popular, 2º Popular, 3º Popular,
personagens do povo que dialogam entre si, é de Antigo Soldado, 1º Polícia e 2º Polícia.
destacar ainda Uma Voz e Outra Voz. - Manuel e Rita.
- Vicente, 1º Polícia e 2º Polícia. - Manuel, Rita e 1º Polícia.
- Vicente e D. Miguel. - Monólogo de Matilde.
- D. Miguel e Principal Sousa. - Sousa Falcão e Matilde.
- Beresford, Principal Sousa e D. Miguel. - Monólogo de Matilde.
- Morais Sarmento e Andrade Corvo. - Matilde e Beresford.
- Morais Sarmento, Andrade Corvo, Beresford, - Padre, Matilde e Beresford.
D. Miguel e Principal Sousa. - Populares, Matilde e Antigo Soldado.
- Beresford, Principal Sousa e D. Miguel (em - Manuel, Matilde e Rita.
conflito verbal). - Sousa Falcão e Matilde.
- Vicente, Beresford, Principal Sousa, D. Miguel, - Matilde, Sousa Falcão e o criado de D. Manuel.
Andrade Corvo e Morais Sarmento. - Matilde e Principal Sousa.
- Frei Diogo, Principal Sousa e Matilde.
- Matilde e Principal Sousa.
- Sousa Falcão, Matilde, D. Miguel e Principal
Sousa.
- Manuel, Povo, Matilde e Sousa Falcão.
- Matilde e Sousa Falcão.

A Professora: Ana Luísa S. Fernandes 1/4


ESTRUTURA INTERNA
Esta peça não se trata de uma obra que respeite a forma clássica nem obedeça à regra das
três unidades (de lugar, de tempo e de acção).
A apresentação dos acontecimentos processa-se pela ordem natural e linear em que
ocorrem, facilitando assim a sua compreensão.

ACTO I – PROCESSO DE INCRIMINAÇÃO; PRISÃO DOS INCRIMINADOS

z Apresentação das situações


z Informações trazidas pelos espiões
z Reunião dos três espiões
z Revelação do nome do chefe dos conjurados

Desenvolvimento da acção:
Gomes Freire de Andrade encontra-se na sua casa “para os lados do Rato donde não há
qualquer referência que tenha saído”.
O primeiro núcleo de personagens do povo – de que fazem parte Manuel, Rita, Antigo
Soldado e vários outros populares sem nome – de que fazem parte Manuel, Rita, Antigo Soldado e
vários outros populares sem nome – vêem no general o seu herói, o único homem que será capaz de
os libertar da opressão, da miséria e do terror em que vivem. É neste quadro que se insere a frase
reticente de Manuel “SE ele quisesse...” (P. 21), o que significa que depositam nele expectativas e
esperanças no sentido de ser ele quem poderá libertá-los da tirania da regência e da exploração
dos ingleses de que são alvo.
O segundo núcleo de personagens do povo – constituído por Vicente, Andrade Corvo e
Morais Sarmento e os dois polícias – vão contribuir, através da denúncia, da traição e da força das
armas, para a prisão de Gomes Freire de Andrade e para a sua ulterior execução.

Em suma:

Manuel
Rita
z Freire de Andrade é o herói para Antigo Soldado
Vários outros populares sem
nome

Vicente
z Freire de Andrade é o objecto de denúncia por Morais Sarmento
Andrade Corvo

Vicente num primeiro momento:


Vicente tem um papel de provocador, tentando denegrir junto do povo a imagem de Freire
de Andrade: “cá vou discutindo o general de manhã, à tarde e à noite... Para esta cambada o Freire
é Deus” (p. 24), o que revela que Vicente despreza o povo (classe de que é, aliás, oriundo) ao mesmo
que desrespeita o general.

Vicente num segundo momento:


A Professora: Ana Luísa S. Fernandes 2/4
Vicente tem um papel de denunciante ao aludir ao general como presumível chefe da
conjura.

Vicente num terceiro momento:


Vicente é incumbido de vigiar a casa de Gomes Freire de Andrade, o que ele cumpre de
forma eficiente: “entraram mais de dez pessoas na casa que fui incumbido de vigiar” (pp. 60-61).

ACTO II – PROCESSO DE ILIBAÇÃO DOS INCRIMINADOS; PUNIÇÃO DOS INCRIMINADOS:

z A acção centra-se na deambulação de Matilde cujo estatuto social ( por nascimento e casamento
ocupa um lugar social elevado e privilegiado) lhe permite ter acesso às figuras do poder.
z Matilde considera-se uma vítima inconformada de uma injustiça.
z Expansão da subjectividade de Matilde (inicialmente lírica e depois dramática).
z Ritmo modulado pela fala de Matilde que culmina na acusação do poder instituído (conformação
do bispo, conveniência política de Beresford, ultraje de D. Miguel).

Desenvolvimento da acção:
Matilde:
z suplica a Beresford que liberte o marido;
z intimida o povo à acção no sentido de lutar contra a opressão e pela libertação do marido;
z exige ao povo que se solidarize com ela;
z dirige-se a D. Miguel e sente o ultraje deste, primo do marido;
z dirige-se ao Principal Sousa a quem acusa de hipócrita e prepotente;
z sente o reconforto e a compreensão do frade que acabara de confessar o general preso em S.
Julião da Barra;
z chega à serra de Santo António acompanhada de Sousa Falcão onde a fogueira queima o corpo de
Gomes Freire de Andrade;
z reconhece, na parte final do acto, que a morte do general não foi gratuita e nota-se nela um sinal
de esperança e de optimismo.

“Esta praga lhe rogo eu, Matilde de Melo, mulher de Gomes Freire de Andrade, hoje 18 de
Outubro de 1817” (p. 129)
TEMPO

TEMPO HISTÓRICO

z Portugal está numa situação de aliança com a Inglaterra (os ingleses instalaram-se em Portugal
desde 1808).
z A corte portuguesa foi para o Brasil.
z Os negócios do reino ficaram a cargo da regência (Junta Provisória).
z Clima de recessão económica e de instabilidade social decorrentes das invasões francesas (1807,
1809 e 1810).
z Perseguições políticas constantes reprimindo a liberdade de expressão, a circulação de ideias e
qualquer tentativa de implantação do liberalismo.
z Repressão contra os conjurados de 1817 levada a cabo pela Junta Provisória.

A Professora: Ana Luísa S. Fernandes 3/4


z Condenação à morte de Gomes Freire de Andrade – um estrangeirado liberal e um militar
competente e prestigiado, supostamente envolvido numa conspiração.

TEMPO CULTURAL

A obra Felizmente há Luar! foi publicada em Portugal em 1961 e retirada logo pela censura.
Há uma correlação estrutural entre duas épocas ( a década de 1810-1820 e a década de
1950-1960).

ESPAÇO

O espaço e o tempo de duração da “história” aparecem muito difusos. São as didascálias e


as falas das personagens que facultam algumas referências ao espaço.
A acção decorre em Lisboa em três espaços principais:
z a sede da regência (zona da Baixa);
z a casa do General Gomes Freire de Andrade (zona do Rato) – “Tenho uma missão para si.
Quero que se torne conhecido para os lados do Rato e que veja quem entra em casa do meu primo”
(p. 38);
z a serra de Santo António, lugar onde é visível o forte de S. Julião da Barra – “ Matilde –
«Que estará ele fazendo, a esta hora, fechado numa cela em S. Julião da Barra?» (p. 89)”.

Há porém referências a outros lugares:


z ao Campo de Sant’Ana – “Principal Sousa - «Sonhei já três vezes que estava no Campo de
Sant’Ana, subindo ao cadafalso» (p. 68)”;
z a uma rua de um bairro da zona ribeirinha – “Manuel - « E eu na descarga das barcaças,
todo o dia, sem saber de nada!»(p. 82); Rita - « Deu-me vontade de fugir, de largar a correr por
essas ruas fora e de me deitar ao Tejo!» (p.82)”;
z à porta da Sé onde os populares mendigavam – 2º Popular - « Na Páscoa, à porta da Sé,
fiz o bastante para comer durante três dias.» (p.100)”.

in, REIS, Fernando E.; SANTOS, Maria V.; GONÇALVES, Maria L. , Felizmente há
Luar, de Luís Sttau Monteiro – Análise da obra, Texto Editora

A Professora: Ana Luísa S. Fernandes 4/4

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