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DA ARTE PARA DEUS...

“Sim, eu quero viver muitos anos mais. Mas não a qualquer preço. Quero viver
enquanto estiver acesa, em mim, a capacidade de me comover diante da
beleza”
(Rubem Alves)
Sabemos que a verdadeira arte não é uma réplica exata da realidade existente.
Expressa mais. Por meio de cores, linhas, formas, etc... a arte sugere outro
mundo.
A arte é como um sonho. O artista tem algo de profeta de um mundo melhor. O
artista traz a nossos sentidos e, através deles, a todo o nosso ser, algo da
profundidade de nosso mundo e de nós mesmos, algo do “mistério” do ser.
Mas a arte enquanto arte, não faz afirmações, não tem inquietudes nem
políticas nem morais. O artista não tem que ser crente para criar arte religiosa,
arte para uso litúrgico. “Arte é que conta como arte”.
A arte não pode ser identificada com a religião, para não se converter numa
religião da arte.
A arte não pode produzir, nem o pretende diretamente, um sentido da vida.
No entanto, o cristão é aquele que sabe combinar a experiência estética com a
experiência de fé. Isto é evidente quando a obra de arte bela expressa um tema
religioso ou uma cena bíblica. Quem não é atingido esteticamente ao contemplar
um quadro de Salvador Dali ou um pedacinho da Criação de Michelangelo na
Capela Sixtina?
Paul Tillich, diante do quadro de Botticelli “A Virgem e o menino com os anjos
cantores”, caiu numa espécie de êxtase:
“Na beleza da pintura estava a beleza em si mesma. Brilhava através das
cores da pintura como a luz do dia brilha através
dos vitrais de uma igreja medieval. Estando ali, banhado na beleza que seu
pintor havia imaginado fazia tanto tempo, algo
da fonte divina de todas as coisas chegou até mim”.
Para a pessoa de fé autêntica que desfruta de uma experiência estética
realmente participativa, algumas obras de arte podem abrir uma perspectiva
escatológica.
“A arte projeta antecipadamente algo que ainda não existe” (Romano Guardini).
Se a teologia é uma reflexão sistemática e científicamente justificada sobre a
Revelação divina e a experiência cristã de fé, porque não utilizar a arte e a
experiência estética como valiosas fontes teológicas?
A literatura, a música, as artes visuais... podem ser um importante “locus
theologicus”.
A música é a arte da qual acostumamos dizer que é celestial.
“A música é Deus como som” (Felix Timmermans).
“Talvez a música seja a respiração de Deus, soprando pelo universo, implorando algumas harmonias.
Não sei. Ela enche minha alma, alimenta meu coração, massageia deliciosamente minha psique”
(Michael Riddell).
Qual é a diferença entre arte sacra e arte profana?
Desde uma perspectiva cristã, a linha que separa o sagrado do profano
desaparece. Nada é sagrado ou religioso em si mesmo, mas tudo pode sê-lo
para a pessoa de fé. O caráter religioso da arte não depende do conteúdo mas
da atitude do sujeito que a está admirando.
É claro que nem toda experiência de profundidade ou de beleza é um caminho
para a divindade. Não é mais que o começo de um caminho para uma beleza
mais profunda e ampla, para a beleza essencial.
De nenhuma obra de arte ou da natureza podemos dizer que é a beleza em si.
Nenhuma experiência estética é insuperável. A sede de prazer estético pode ser
satisfeita temporariamente, nunca definitivamen-te. Esta ânsia de beleza pura e
perfeita aponta para a “beleza essencial”, outro nome de Deus.
A obra de arte e uma paisagem formosa afetam nossos sentidos. Admirar e
saborear é, antes de tudo, uma questão dos sentidos: olhar, escutar, sentir... E
Deus é impossível vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo... O máximo que se pode é interpretar
algumas experiências como sinais da
transcendência, como sinais que remetem à única Beleza.
Texto bíblico: Eclo. 38,27-34

Na oração: Se o Espírito é como o vento que balança as folhas, direci-


ciona o barco, purifica o ar e intensifica o fogo, está garan-
tida a boa qualidade da sua oração; deixe-se, então, conduzir por ele.
- Estremeça frente ao grande Mistério que envolve tudo e todos,
e espontaneamente procure expressar o que lhe vai no fundo
do seu coração: grato e admirado, balbucie uma prece.

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