“S.Inácio tinha preferência pelas grandes cidades” (C.G.34ª, dec.IV, no.26)
Por causa de seu tipo de vida e de sua espiritualidade, S.Inácio desenvolveu
uma relação específica com o espaço urbano. Para ele, a cidade é o espaço para a busca e o encontro de Deus. S. Inácio “adentrou” pragmaticamente na situação urbana já existente , para renová-la a partir de dentro. Podemos falar do “típico modo de proceder inaciano” em sua referência ao espaço urbano. Há um provérbio que reza o seguinte: “S.Bernardo gostava dos vales; S.Bento, dos montes; S.Francisco, dos povoados, e S.Inácio, das grandes cidades”. S. Inácio reconheceu a importância do espaço urbano para a pregação do Evangelho e a reforma da Igreja; ele enviava os membros da jovem Companhia de Jesus às cidades, recomendando-lhes frequentemente como atividade pastoral a “edificação e o proveito espiritual das cidades”. Que relação S. Inácio desenvolve com as cidades durante o transcurso de sua vida? Esta relação de S.Inácio com as cidades grandes e célebres se conclui: a) de sua biografia mesma, onde ele é o “peregrino” dos grandes centros urbanos; b) de sua espiritualidade, que o coloca diante da alternativa “Jerusalém ou Roma”; c) de sua experiência interior de missão que o conduz à “edificação espiritual das cidades”.
Com a chegada de Inácio e seus companheiros a Roma e sua instalação nessa
cidade, terminavam os muitos anos de peregrinação pelas cidades da Europa e suas instituições acadêmicas. A experiência que ele teve das cidades em seus anos de peregrino e sua relação especial com a cidade de Roma, determinam também sua relação com as outras cidades e seu modo de proceder referido ao espaço urbano. Inácio deu-se conta do desafio urbano e compreendeu que Roma, a sede do papa, havia de converter-se em sua Jerusalém. Com uma “estratégia sagrada, ele escolheu conscientemente um lugar, perto da Igreja Santa Maria da Estrada, no centro da cidade, como sede principal da Companhia de Jesus. E começou uma série de atividades para renovar a cidade por dentro. Assim, escreve mais tarde ao reitor do Colégio de Coimbra: o lugar da Companhia deveria encontrar-se “más dentro del cuerpo de la ciudad”.
Nas Constituições, no. 622, S.Inácio nos diz:
“Sendo o bem tanto mais divino quanto mais universal, devem-se preferir as pessoas e os lugares cujo aproveitamento possa ser causa de que o bem se estenda a muitos outros... deve-se preferir o auxílio prestado às grandes nações, às grandes cidades, ou às universidades, onde afluem muitos que poderão ser operários a ajudar os outros, se nós mesmos os ajudarmos”.
Quando o rei Fernando I pensou em Claude Jay como candidato ao cargo de
Bispo de Trieste, S.Inácio fundamentou da seguinte maneira a recusa a tal proposta: “Esta Companhia e os membros dela foram juntados e unidos num mesmo espírito, a saber, para discorrer por umas e outras par- tes do mundo entre fiéis e infiéis, segundo que nos será mandado pelo Sumo Pontífice; de modo que o espírito da Companhia é em toda simplicidade e baixeza passar adiante de cidade em cidade e de uma parte a outra, não fixar-nos num lugar particular. Esta mobilidade aproveita às cidades; um bispo Jay estaria limitado à sua diocese, enquanto que um padre Jay poderia em muitas cidades... fazer grande fruto no Senhor ou seguir adi- ante, se isto não se pudesse conseguir”. (Carta a D. Fernando I, dez. 1546).
Para a “edificação”, S. Inácio atribui um papel especial aos colégios, os
quais deveriam ser um “ornamento da cidade, e irradiar-se a todo o corpo dela”, como o Colégio Romano (carta a Francisco de Borja, set.1555). As cidades “são o motor da nova civilização universal” (Puebla, 429). O Papa João Paulo II, em sua encíclica “Redemptoris Missio”, no. 37, destaca: “Lugares privilegiados deveriam ser as grandes cidades, onde surgem novos cos- tumes e modelos de vida, novas formas de cultura e comunicação que logo influ- em na população. ... Não é possível evangelizar as pessoas ou pequenos grupos, descuidando os centros onde nasce uma nova humanidade, com novos modelos de desenvolvimento. O futuro das nações jovens está-se a formar nas cidades”.