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18/10/2019 Portal Secad

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Pesquisa Estendida

ONDE BUSCAR
PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL E NO
NO ARTIGO ATUAL
PREVENÇÃO
CICLO ATUAL

AOS TRANSTORNOS MENTAIS EM TERAPIA


NO VOLUME ATUAL EM OUTROS PROGRAMAS

COGNITIVO-COMPORTAMENTALBUSCAR
SHEILA GIARDINI MURTA
JANAÍNA BIANCA BARLETTA

■ INTRODUÇÃO
Em todo o mundo, observa-se um interesse crescente pelas áreas de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais.
Dentre as evidências da expansão do interesse pelo campo da promoção de saúde mental, destacam-se:

■ publicação de diretrizes com esse foco, estipuladas pela Organização Mundial da Saúde (OMS);1
■ estudos acerca das condições promotoras de felicidade e de bem-estar subjetivo e suas variações entre países;2
■ uso de indicadores de bem-estar subjetivo no planejamento e no monitoramento de políticas públicas;3
■ no Brasil, as solicitações do incremento em serviços de promoção de saúde mental no sistema público de saúde, documentadas na IV
Conferência Nacional de Saúde Mental.4

Alguns dos indicadores do fortalecimento da área de prevenção aos transtornos mentais e seus fatores de risco são

■ o surgimento de sociedades científicas, como a European Society for Prevention Research (http://euspr.org/) e a Society for Prevention
Research (http://www.preventionresearch.org/);
■ a oferta de cursos de pós-graduação em Ciência da Prevenção em países como Canadá e Estados Unidos;5
■ a organização de congressos científicos que reúnem centenas de pesquisadores e de gestores públicos interessados nessa temática;
■ o crescimento, entre os profissionais de psicologia, de estudos voltados para o desenvolvimento de programas preventivos.6

Conforme a OMS,1 o interesse pela expansão da prevenção aos transtornos mentais e da promoção de saúde mental deve-se à constatação
de que:

■ a saúde mental é fundamental para a saúde física (não há saúde sem saúde mental);
■ a doença mental apresenta custos financeiros expressivos para as sociedades.

A influência recíproca entre saúde mental e saúde física afeta não somente as taxas de morbidade e mortalidade, mas também os
indicadores sociais relevantes, como o desempenho educacional, a produtividade no trabalho, o desenvolvimento de relações
interpessoais gratificantes e a redução de criminalidade e de abuso de substâncias.

A ã d úd t l ã t t t i tã i d ( lt d d l b ) id d
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A promoção de saúde mental e a prevenção aos transtornos mentais estão associadas (resultam de e podem colaborar para) a comunidades
mais seguras, mais produtivas, mais instruídas, mais coesas e, seguramente, mais felizes.

Estudos epidemiológicos revelam uma alta incidência de transtornos mentais ao redor do mundo. Estima-se, por exemplo, que, em
2020, a depressão será a segunda doença mais prevalente no mundo,1 podendo vir a ocasionar perdas econômicas, sociais e
humanas expressivas.

O estigma associado aos transtornos mentais e à escassez de serviços especializados de amplo alcance populacional tornam ainda mais
severas tais perdas. No Brasil, os transtornos mentais apresentam prevalência elevada. Em uma revisão sistemática de estudos
epidemiológicos com adultos brasileiros,7 verificou-se que transtornos de ansiedade, de humor e somatoformes são os mais comuns em
mulheres, enquanto homens apresentam altos índices de consumo de substâncias psicoativas. Nos estudos incluídos nessa revisão,
identificam-se como fatores associados aos transtornos mentais:

■ condições socioeconômicas precárias;


■ desemprego;
■ baixa escolaridade;
■ fraca rede de apoio;
■ habitação insegura;
■ trabalho informal;
■ estressores ocupacionais;
■ falta de acesso aos bens de consumo.

As condições de vida afetam diretamente a saúde mental. Reconhecimento, acesso e exercício dos direitos sociais, econômicos,
políticos, culturais e civis são, portanto, parte relevante do planejamento de intervenções para promoção de saúde mental e
prevenção aos transtornos mentais.1

Em adição à redução das disparidades sociais e ao fortalecimento dos direitos humanos, é reconhecida a inter-relação entre a saúde
mental e o comportamento.1 As competências individuais, familiares e comunitárias afetam o modo como se lida com os estressores da
vida (como, por exemplo, o desemprego e a violência intrafamiliar), e como tais estressores também afetam as referidas competências.
Os conhecimentos e os métodos derivados da terapia cognitivo-comportamental (TCC) podem ser úteis no desenvolvimento de
programas de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais. De fato, conforme achados de uma revisão sistemática
da literatura nacional,6 os programas brasileiros de prevenção a fatores de risco para transtornos mentais são, em grande parte, embasados
nesse modelo teórico.
Embora outros modelos teóricos possam ser utilizados (em conjunto ou não com a TCC) para a prevenção aos transtornos mentais e a
promoção de saúde mental, este artigo irá centrar-se nas contribuições dessa abordagem para as referidas áreas.

■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

■ revisar a definição de saúde mental, de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental;
■ identificar os fatores de risco e de proteção à saúde mental relevantes para o planejamento de programas preventivos para transtornos em
saúde mental;
■ reconhecer os determinantes sociais de saúde mental e suas implicações para o planejamento de intervenções de promoção de saúde
mental;
■ reconhecer os programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental focados na pessoa e no ambiente;
■ identificar as principais etapas para o planejamento de programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental.

■ ESQUEMA CONCEITUAL

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■ SAÚDE MENTAL
A saúde mental é definida pela OMS como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de desenvolver e apropriar-se de
suas capacidades, enfrentar o estresse normal da vida, trabalhar de modo produtivo e frutífero, além de contribuir para sua
comunidade”.8

A ausência de transtornos mentais não é sinônimo de saúde mental. A saúde mental é uma condição que inclui diversas dimensões
psicossociais.

As dimensões psicossociais da saúde mental são9

■ emoções positivas – o entusiasmo, a esperança e o interesse pela vida;


■ qualidade de vida percebida – a satisfação com os vários domínios da vida;
■ funcionamento psicológico positivo – a atribuição de sentido à vida, a autoaceitação e a busca por crescimento pessoal, a autonomia e as
relações interpessoais gratificantes;
■ funcionamento social positivo – o reconhecimento e a valorização das diferenças humanas;
■ senso de pertencimento a grupos e a comunidades – a autoatribuição de responsabilidade social e a crença no potencial de crescimento
das pessoas, dos grupos e das comunidades.

Nota-se uma estreita relação entre saúde mental e bem-estar subjetivo. Em uma revisão de literatura acerca das condições associadas ao
bem-estar subjetivo, Dolan e colaboradores3 agruparam, em sete grandes classes, os potenciais fatores influenciadores, a saber:

■ renda;
■ características pessoais – idade, gênero, etnia e personalidade;
■ desenvolvimento social – educação, saúde física e mental, tipo de trabalho e desemprego;
■ qualidade da ocupação do tempo – horas de trabalho, envolvimento em trabalho voluntário, exercícios físicos e atividades religiosas;
■ atitudes e crenças em relação a si, ao outro e à vida – percepção das circunstâncias e das experiências, confiança nos outros e
religiosidade;
■ relacionamentos – relação conjugal, familiar e de amizade;
■ contexto socioeconômico e político – desigualdade de renda, inflação, taxas de desemprego, sistema público de saúde e de segurança,
clima e urbanização.

Os autores reforçam que alguns fatores têm evidência substancial, enquanto outros ainda necessitam de mais dados para clarear as
conclusões. Albuquerque e Tróccoli10 incluem os aspectos culturais como influenciadores do bem-estar subjetivo, uma vez que tais
aspectos influenciam a maneira com que as pessoas de uma mesma comunidade se percebem no mundo, a partir do desenvolvimento de
crenças e de valores similares em experiências compartilhadas.

A satisfação com a vida, o afeto positivo e o afeto negativo são considerados componentes do bem-estar subjetivo.

O afeto, tanto positivo quanto negativo, é definido como uma descrição do estado emocional, enquanto a satisfação é um julgamento
cognitivo.

Equilibrar os afetos positivos e os negativos potencializa a percepção de bem-estar. A relação feita pela pessoa entre as circunstâncias de
sua vida (ou de um domínio específico da vida) e o padrão por ela escolhido resulta no nível de satisfação. Uma vez que esse nível pode ser
uma variável importante na interpretação da situação, pode também influenciar nas emoções.
Estudos descritos na revisão de Costa e Pereira11 apontam que os baixos níveis de satisfação com a vida podem ser entendidos como
fatores de risco para a depressão, assim como a satisfação de necessidades humanas pode ser considerada como fator de proteção da
felicidade Dessa forma entende-se que o bem-estar subjetivo é um elemento essencial para a avaliação de qualidade de vida porém não
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felicidade. Dessa forma, entende-se que o bem-estar subjetivo é um elemento essencial para a avaliação de qualidade de vida, porém, não
é o único aspecto de saúde psicológica.

Pessoas com transtorno mental podem sentir-se tão felizes quanto as que não apresentam transtorno;9 porém, é mais difícil uma
pessoa com depressão ou ansiedade sentir-se realizada.12

PREVENÇÃO E PROMOÇÃO
A prevenção aos transtornos mentais e a promoção de saúde mental têm focos distintos, mas parcialmente sobrepostos.1
O objetivo das intervenções para prevenção em saúde mental é evitar o surgimento ou o agravamento de transtornos mentais e/ou fatores
de risco associados. Alguns exemplos são os programas de prevenção a suicídio, a depressão, a transtornos de ansiedade (transtornos
mentais), a abuso sexual, a testemunho à violência intrafamiliar e a apego inseguro (fatores de risco para transtornos mentais).
O campo da prevenção aos transtornos mentais faz uso do conhecimento derivado de estudos epidemiológicos e longitudinais a respeito
de fatores de risco e de proteção para um dado transtorno e implementa ações para maximizar fatores protetivos e para reduzir fatores de
risco para, então, prevenir o aparecimento ou a piora do referido transtorno mental. Como mostra a Figura 1, a implementação de programas
preventivos pode ser dirigida:13

■ exclusivamente a indivíduos que apresentam sintomas iniciais do problema a ser prevenido, sem, contudo, atender a critérios diagnósticos
de um transtorno já instalado – prevenção indicada;
■ a grupos selecionados, em função da sua exposição a fatores de risco para o transtorno que se planeja prevenir – prevenção seletiva;
■ à população em geral – prevenção universal.

Figura 1 – Níveis de prevenção aos transtornos mentais.


Fonte: Elaborada pelas autoras.

A promoção de saúde mental visa à promoção de bem-estar da população. Assim, o escopo da promoção de saúde mental e o seu
público-alvo são considerados mais abrangentes (de acordo com a OMS),1 se comparados à prevenção aos transtornos mentais.

A sobreposição entre as áreas de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais decorre do fato de que os meios para
se promover bem-estar podem ser, em grande parte, também os meios para se enfraquecer fatores de risco e fortalecer fatores protetivos
para um transtorno mental específico.12
Os fatores de proteção para um transtorno mental específico são, comumente, competências individuais (por exemplo, habilidade social) e
familiares (por exemplo, práticas parentais positivas) e recursos comunitários (por exemplo, centros esportivos) e culturais (por exemplo,
normas culturais pró-equidade de gênero) que também atuam como determinantes da saúde mental. Por isso, intervenções para promoção
de saúde mental também podem ser preventivas e vice-versa.
Nos programas de prevenção, a avaliação continuada por um dado período de tempo (podendo variar desde alguns até muitos anos) é
necessária para se constatar se os problemas que se busca prevenir, de fato, deixaram de ocorrer após a implementação do programa. É
denominada meta distal essa condição final cujo surgimento ou agravamento intenciona prevenir. Os maus-tratos contra bebês constituem
um exemplo de meta distal em um programa de prevenção à violência intrafamiliar Contudo as mudanças mais imediatas devem e podem
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um exemplo de meta distal em um programa de prevenção à violência intrafamiliar. Contudo, as mudanças mais imediatas devem e podem
ser avaliadas em um período de tempo mais curto, incluindo os fatores de risco e os fatores protetivos associados ao problema ou à meta
distal. Essas mudanças são nomeadas metas proximais.14
São alguns exemplos de metas proximais no programa de prevenção à violência intrafamiliar:

■ o conhecimento acerca do desenvolvimento infantil;


■ a responsividade na interação pais-bebê;
■ as habilidades sociais educativas parentais (alguns dos fatores de proteção para a violência contra bebês).

A literatura sobre promoção de saúde15 utiliza, por sua vez, as expressões resultado primário (do inglês primary outcome) e resultado
secundário (do inglês secondary outcome) para se referir à meta final e à meta intermediária, respectivamente. As metas intermediárias ou
os resultados secundários constituem os mecanismos geradores ou mediadores do resultado primário.
Conforme sugere o Modelo Integrativo entre Promoção, Prevenção e Tratamento,16 os programas de prevenção e de promoção integram
um leque de serviços em saúde mental, que variam desde a promoção de saúde e de desenvolvimento positivo até os serviços de
tratamento de longa duração, que podem ocorrer em uma diversidade de settings e ter como alvo mudanças em comportamentos de
indivíduos e/ou mudanças em condições ambientais (Figura 2).
De acordo com o público-alvo do programa de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental, tem-se:14

■ programas com foco na pessoa – destinados a promover fatores de proteção ou determinantes de natureza cognitiva (como autoeficácia
e otimismo) ou comportamental (como habilidades sociais assertivas e habilidades de solução de problemas interpessoais) das pessoas
que são usuárias finais do programa (como adolescentes, professores e pais);
■ programas com foco no ambiente – voltados para a promoção de fatores de proteção ou determinantes comunitários (como oferta de
bibliotecas e ações de encorajamento à leitura) e sociais (como políticas públicas de promoção da igualdade racial);
■ programas com foco combinado – dirigidos tanto às mudanças individuais quanto às comunitárias e sociais.

Figura 2 – Tradução e adaptação do Modelo Integrativo entre Promoção, Prevenção e Tratamento.


Fonte: Weisz e colaboradores (2005).16

■ FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO À SAÚDE


Os fatores de risco e de proteção à saúde são conceitos importantes para a compreensão da prevenção aos transtornos mentais,
uma vez que a intervenção preventiva foca na mudança desses fatores antes do desenvolvimento do problema. Dessa forma, as
ações para minimizar os fatores de risco e para fortalecer os fatores de proteção são chamadas de ações preventivas.

Os fatores de risco à saúde podem ser entendidos como variáveis ou circunstâncias que aumentam a probabilidade de ocorrência de um
problema de saúde mental quando os indivíduos são expostos a ele. Como exemplo, tem-se a relação familiar de baixa qualidade, a qual
pode ser identificada como um fator de risco para a saúde mental infantil, incluindo o nível de estresse, a discórdia e a violência intrafamiliar.
Estilos parentais educativos negativos e problemas de saúde mental dos cuidadores também são exemplos de fatores de risco quando o
público-alvo é a criança.17
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Alguns fatores de risco para transtorno mental, de modo geral, são uso de drogas, isolamento social, falta de educação, de transporte
e de habitação, injustiça racial e discriminação, violência, estresse laboral e desemprego.18

A violência sexual, por exemplo, tem sido bastante discutida nos últimos anos, com denúncias no cenário nacional e internacional. O
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o transtorno depressivo e o transtorno de ansiedade (TA) são desfechos negativos comuns
a curto prazo, e os problemas de ajustamento e de transtornos de personalidade são desfechos negativos a longo prazo.19 Nessa
situação, também são comuns os sentimentos de vergonha, raiva, culpa e tristeza, assim como comportamentos agressivos, de isolamento,
de agitação psicomotora e de abuso de drogas.
Os fatores de proteção à saúde, por sua vez, minimizam a probabilidade da ocorrência de problemas de saúde, favorecendo o
desenvolvimento saudável. Em geral, os recursos pessoais e as redes de apoio social diminuem o impacto do risco, sendo reconhecidos
como fatores protetivos.17
Os fatores de proteção à saúde só têm efeito na presença do risco, uma vez que seu mecanismo de atuação ocorre por meio da
transformação do efeito da outra variável. Ou seja, esses fatores reestabelecem o equilíbrio que foi perdido na exposição ao risco, por meio
de:

■ modificação do significado do risco para a pessoa exposta;


■ redução das reações negativas da exposição;
■ diminuição da exposição ao risco.

Alguns exemplos de fatores de proteção em saúde mental são18

■ fortalecimento pessoal;
■ interações interpessoais positivas;
■ participação em atividades sociais;
■ capacidade de lidar com estresse e com situações adversas.

Os fatores de risco e de proteção à saúde não costumam aparecer de forma isolada, pois fazem parte de um contexto social que
envolve aspectos políticos, socioeconômicos e ambientais. Portanto, a interação de fatores psicológicos, sociais e biológicos é
determinante para a saúde mental.

Sabe-se, por exemplo, que comportamentos de abuso de substâncias e situações de violência são mais difíceis de manejar em condições de
desemprego, de baixa renda e de baixo nível de escolaridade. Da mesma forma, em tais condições, esses comportamentos abusivos são
mais prevalentes.

Quanto mais fatores de risco estiverem relacionados, maior será a dificuldade de manter o equilíbrio de forma saudável e maior a
necessidade de programas de prevenção.

Duas equações (Quadro 1) facilitam o entendimento da relação dos fatores de risco: a primeira é elaborada em nível individual por Albee e a
segunda, que foi uma ampliação da primeira e foi elaborada por Elias, visualiza o nível ambiental. Na equação de Albee, as experiências de
estresse individual somadas às vulnerabilidades individuais são fatores de risco à saúde mental, que seriam minimizados pelas habilidades
de enfrentamento, pela percepção de apoio social e pela autoestima positiva, que são fatores de proteção.20 Na equação de Elias, os
estressores e os fatores de risco do ambiente podem ser minimizados com práticas de socialização positiva, recursos de apoio social,
engajamento social.21 Em ambas, é fundamental potencializar os fatores de proteção.
Quadro 1

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Fonte: Albee (1982);20 Dalton e colaboradores (2007).21

1. A que se deve, segundo a OMS, o interesse pela expansão da prevenção aos transtornos mentais e da promoção de saúde
mental?

2. Analise as afirmações a seguir sobre saúde mental e saúde física.


I – A influência recíproca entre saúde mental e saúde física não afeta indicadores sociais, como, por exemplo, redução de
criminalidade e de abuso de substâncias.
II – O estigma associado aos transtornos mentais e à escassez de serviços especializados de amplo alcance populacional tornam
ainda mais severas as perdas econômicas, sociais e humanas expressivas.
III – As condições de vida afetam diretamente a saúde mental.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

3. Como a OMS define saúde mental?

4. A ausência de transtornos mentais não é sinônimo de saúde mental, que é uma condição que inclui diversas dimensões
psicossociais. Cite essas dimensões.

5. Em uma escola de Ensino Médio, um estudante inconformado com o término do namoro espalhou fotos íntimas de sua ex-
namorada, também aluna dessa escola. Os transtornos para a reputação da menina foram muitos, a ponto de a liderança do
Grêmio Estudantil decidir fazer “alguma coisa” para conscientizar os alunos sobre a violência no namoro. Depois de fazerem
algumas leituras, descobriram que a violência no namoro resulta de diversos fatores, como fatores culturais (sexismo), dos pares
(ter amigos que endossam a violência como meio de resolver problemas), da família (ter sido vítima de maus-tratos pelos pais e
ter testemunhado violência conjugal entre os pais) e da pessoa (ter apego inseguro e déficits em habilidades para lidar com a
raiva). O Grêmio Estudantil optou por realizar, durante a feira cultural anual da escola, um debate sobre músicas com letras
sexistas, uma sessão de cinema divertida, com a exposição de uma comédia romântica que mostrava como lidar com conflitos no
namoro, e a produção de um blog com textos informativos que auxiliassem no reconhecimento de relacionamentos violentos como
forma de autoproteção. Todos os estudantes da escola e seus pais foram convidados a participar dos eventos da feira cultural e
também a se envolverem na sua preparação. As atividades propostas pelo Grêmio Estudantil durante a feira cultural anual da
escola tiveram

A) foco na pessoa.
B) foco no ambiente.
C) foco combinado.
D) nenhum dos focos supracitados
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D) nenhum dos focos supracitados.
Confira aqui a resposta

6. A respeito dos programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental, correlacione a primeira coluna
com a segunda.

(1) Prevenção a transtornos mentais com programas ( ) Intervenção com policiais militares, cujo objetivo é diminuir sintomas de
com foco no ambiente. estresse e aumentar o manejo emocional.
(2) Prevenção a transtornos mentais com programas ( ) Intervenção com pais e filhos, cujo objetivo é aumentar a qualidade de
com foco na pessoa. interação familiar.
(3) Prevenção de saúde mental com programas com ( ) Intervenção com agentes comunitários de saúde, cujo o objetivo é
foco combinado. capacitá-los na identificação precoce de abuso sexual de crianças da
(4) Promoção de saúde mental com programas com comunidade.
foco na pessoa. ( ) Intervenção com mulheres que têm parceiros violentos e com agentes de
saúde, cujo o objetivo é aumentar o empoderamento de mulheres que
sofrem violência doméstica, o senso de autoeficácia e a rede de apoio.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) 1 – 3 – 2 – 4.
B) 2 – 4 – 1 – 3.
C) 3 – 2 – 4 – 1.
D) 4 – 1 – 3 – 2.
Confira aqui a resposta

7. Cite quatro exemplos de fatores de proteção à saúde mental.

8. Em relação aos fatores de risco e de proteção à saúde, assinale a alternativa correta.

A) Ações para maximizar os fatores de risco e para fortalecer os fatores de proteção são chamadas de ações preventivas.
B) Os fatores de proteção à saúde têm efeito na presença ou não do risco.
C) A interação de fatores psicológicos, sociais e biológicos não é determinante para a saúde mental.
D) Quanto mais fatores de risco estiverem relacionados, maior a necessidade de programas de prevenção.
Confira aqui a resposta

■ DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE MENTAL


Os determinantes sociais da saúde mental são os fatores socioeconômicos, culturais, étnicos, ambientais, psicológicos e
comportamentais que estão relacionados às condições de vida e de trabalho das pessoas e da população.

O que se percebe é que as relações dos determinantes sociais são complexas e estão estreitamente relacionadas com a saúde. O
desequilíbrio entre esses fatores indica os motivos pelos quais alguns grupos populacionais são mais suscetíveis e vulneráveis a contrair
algumas doenças do que outros. Nesse sentido, a pobreza é uma condição impactante na saúde, assim como os aspectos ambientais nos
quais as pessoas têm pouco ou nenhum controle, como questões climáticas e poluição do ar. Existem outros fatores que estão sob maior
controle da própria pessoa, como a competência social e os comportamentos alimentares saudáveis.22
Um modelo conceitual sobre os determinantes sociais, descrito por Dahlgren e Whitehead,23 utiliza as camadas listadas a seguir para
explicar a relação de desequilíbrio, conforme mostra a Figura 3.

■ Na camada central, estão os indivíduos que são considerados a base do modelo e suas características são conhecidas como
determinantes proximais.
■ A camada seguinte corresponde aos comportamentos individuais e aos estilos de vida, em que as relações sociais mais próximas (família e
amigos) e as normas e as culturas da comunidade têm influência.
■ A próxima camada é composta pelas redes sociais e comunitárias.
■ Na camada seguinte, as condições de vida e de trabalho são consideradas determinantes intermediários e estão associadas ao acesso à
saúde, à educação, à alimentação, à habitação, ao saneamento básico, ao desemprego e às condições de trabalho. Entende-se que,
nessa camada, as comunidades mais pobres ou que estão em desigualdade social encontram-se em maior risco.
■ Na camada externa, estão alocadas as condições socioeconômicas, culturais e ambientais mais gerais, que interferem nas demais
camadas.

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Figura 3 – Modelo de Determinantes Sociais em Saúde elaborado por Dahlgren e Whitehead.


Fonte: Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (2008).23

Os determinantes sociais em saúde ajudam a entender como (em que condições) e quais estratégias, aspectos culturais, comunitários e
individuais são utilizados para que as pessoas se engajem em atividades destinadas ao bem-estar psicológico, à promoção do senso de
autoeficácia e à busca do sentido de coerência e de equilíbrio interno e com o ambiente/contexto em que está inserido.

Os determinantes sociais são foco das ações em saúde, com intuito de minimizar as iniquidades que podem ser evitadas ou que são
injustas.

A relação interpessoal é um determinante em saúde mental, portanto, a competência social é foco de intervenção, pois favorece o
estabelecimento de relações saudáveis e o ajustamento social. Em ambientes sociais insalubres e socioeconômicos precários, tanto o
desenvolvimento físico e mental quanto a aquisição de competência social têm maior probabilidade de serem prejudicadas.
A presença isolada de fatores determinantes sociais tem menor impacto na saúde, enquanto o efeito cumulativo de múltiplos fatores acarreta
maior prejuízo emocional e comportamental para o desenvolvimento saudável.24

■ PROGRAMAS DE PREVENÇÃO AOS TRANSTORNOS MENTAIS E DE


PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL
Saúde mental e transtorno mental são componentes sobrepostos do mesmo conceito e estão interligados; portanto, não podem ser
entendidos como dois polos em uma escala linear.17

Os programas de intervenção preventiva e de promoção de saúde mental são complementares e utilizam estratégias semelhantes; porém, as
variáveis avaliadas e o tempo de verificação de resultados diferem. A maior sobreposição está entre ações de promoção de saúde e de
prevenção primária.
A prevenção primária oferece intervenções para a população que está exposta ao risco, sem sinais de transtornos, com intuito de diminuir
problemas futuros e de aumentar a promoção de saúde mental. A prevenção secundária ou precoce oferece ações para populações que já
apresentam sinais iniciais de transtornos, enquanto a prevenção terciária está voltada para a reabilitação, com intuito de reduzir a
consequência negativa nas populações já diagnosticadas, seja minimizando a intensidade e a duração da problemática, seja prevenindo
complicações ou mesmo sua recorrência.

Nos programas preventivos para transtorno em saúde mental, devem estar claros os desfechos negativos (transtornos mentais ou
fatores de risco associados) avaliados, assim como o tempo necessário para a verificação da resposta preventiva.6

Os programas preventivos estão associados à diminuição da incidência e à prevalência de sintomas e de transtornos mentais; portanto, com
ação voltada para reduzir fatores de risco e para potencializar fatores de proteção, seja da pessoa, da família ou da sociedade.17
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A principal forma de prevenção primária aos transtornos mentais é educativa e tem como objetivo evitar o estabelecimento e a
manutenção de comportamentos de risco à saúde.

Entende-se que, dessa forma, possibilita-se o empoderamento, a autonomia e a participação da comunidade no próprio cuidado com
a saúde.

O desenvolvimento de um programa de prevenção ao abuso de álcool e de drogas (considerado um fator de risco a diversas problemáticas)
orientado à escola, por exemplo, pode contar com atividades que incluem aumentar o nível de informação sobre a problemática, aumentar o
reconhecimento dos fatores de risco presentes no cotidiano daquela comunidade e desenvolver estratégias para lidar com tais riscos e para
potencializar os fatores de proteção. Com crianças, as atividades lúdicas adequadas à idade e relacionadas com a temática são, em geral,
utilizadas em intervenções preventivas.

As prevenções secundária e terciária têm sido bastante realizadas em unidades básicas de saúde, hospitais dias e instituições de
saúde, que possuem maior facilidade em detectar precocemente os transtornos mentais e em trabalhar com a reabilitação.

Atividades de grupos reflexivos ou de grupos focais para aumentar o repertório de manejo de sintomas depressivos, por exemplo, são
estratégias que têm sido utilizadas como prevenção secundária. A intervenção breve para diminuição de uso de tabaco e de álcool com
pessoas dependentes pode ser considerada uma estratégia preventiva terciária.
Nos programas de promoção de saúde mental, o recurso que se deseja fortalecer também deve estar claro e a avaliação vai estar ligada ao
desfecho positivo (aumento de recursos).6 Esses programas têm como objetivo potencializar a saúde mental e criar condições e ambientes
favoráveis à saúde, diminuindo desigualdades e diferenças entre as expectativas de saúde de diferentes comunidades.17

A promoção de saúde mental está associada ao aumento do bem-estar psicológico e da capacidade emocional, com objetivo de
melhorar a relação do indivíduo com o ambiente, tendo como ênfase a capacitação das pessoas ou da comunidade para aumentar o
controle e para melhorar a própria saúde.

As estratégias de promoção de saúde mental focam nas mudanças das condições de vida e de trabalho, a partir do empoderamento das
pessoas e das comunidades. Podem ter como objetivos o fortalecimento de recursos pessoais ou as mudanças em fatores ambientais que
vão requerer uma ação coletiva da sociedade. Em 1986, o documento conhecido por Carta de Ottawa, resultante da Primeira Conferência
Internacional de Promoção de Saúde, apontou cinco estratégias de ação que continuam como base para a promoção de saúde. São elas:21

■ implantação de políticas públicas saudáveis;


■ criação de ambientes de apoio;
■ fortalecimento de ações comunitárias;
■ desenvolvimento de habilidades pessoais;
■ reorientação de serviços de saúde.

Dessa maneira, tanto as intervenções individualistas quanto as coletivistas são percebidas como importantes para a mudança social e, por
conseguinte, necessárias para os programas de promoção de saúde.

Entende-se que os programas de promoção de saúde mental poderão ter impacto na prevenção a longo prazo, já que fortalecendo os
recursos (como habilidades de enfrentamento, práticas de socialização positivas, rede de apoio, autoconceito positivo), os indivíduos
ficarão menos vulneráveis aos estressores (sejam ambientais ou individuais) e terão maior habilidade de lidar com os fatores de risco.
Dessa forma, um possível resultado secundário da intervenção promocional de saúde é a diminuição da incidência dos transtornos
mentais.17

Os programas de desenvolvimento de habilidades sociais e de habilidades de vida têm sido fortemente utilizados na promoção do bem-estar
emocional e relacional. Tais programas estimulam o senso de autoeficácia, de resolução de problemas, de manejo de estresse, de expressão
de pensamentos e sentimentos, de habilidades comunicativas, assertivas e empáticas. Uma abordagem que tem sido referendada na
literatura, em especial, em programas de promoção de saúde, com o uso de estratégias e de intervenções e com resultados positivos é a
TCC.

Algumas das vantagens consideradas da TCC são o tempo, a estruturação do procedimento, a orientação para o presente e a
relação colaborativa, as quais podem facilitar o alcance das metas (promocionais e/ou preventivas) estabelecidas.

Pode-se dizer que a TCC potencializa os aspectos positivos da saúde mental (promoção), pois atua diretamente em alguns fatores
influenciadores do bem-estar subjetivo. Um dos seus focos é aumentar as crenças funcionais em relação a si mesmo, aos outros, ao
mundo e ao futuro, além de potencializar a interpretação e a compreensão do ambiente de forma adequada, possibilitando estratégias de
adaptação, de enfrentamento ou mesmo de alteração do ambiente. Essas estratégias são possíveis, pois aumentam os recursos internos da
pessoa, o lócus de controle, a qualidade da relação interpessoal, a variabilidade comportamental e, consequentemente, o manejo das
adversidades.
Uma maneira de potencializar os recursos individuais nos programas com foco na pessoa é desenvolver o senso positivo de autoeficácia, o
autoconceito e o autoconhecimento, a partir da identificação dos pensamentos, dos sentimentos, dos comportamentos e das reações
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corporais. Além de identificar o questionamento das percepções distorcidas, a reestruturação de pensamentos alternativos e o aumento da
variabilidade de comportamentos, tornam o repertório da pessoa mais adaptativo e saudável. Por outro lado, alguns sintomas e desfechos
negativos são alvo da TCC (prevenção):25

■ depressão;
■ ansiedade;
■ distúrbio do sono;
■ desesperança;
■ comportamentos autodestrutivos, como tentativas de suicídio e automutilação, mania, delírios e alucinações.

Os programas de prevenção e de promoção de saúde mental no Brasil, de uma forma geral, ocorrem em grupos, com tempo variado de
acordo com o objetivo e as metas, em sua maioria com foco combinado e com a população-alvo infanto-juvenil.6 Ainda que crianças e
adolescentes sejam os principais participantes de ações de prevenção e de promoção no Brasil, adultos e idosos também podem ser
usuários dessas ações.

A estratégia de intervenção em grupo tem sido uma ferramenta de escolha em função das vantagens oferecidas: o ambiente grupal
favorece a modelação, a modelagem e a manutenção de padrões cognitivos e comportamentais funcionais.

Uma vez que o grupo se torna coeso, aumenta a sensação de pertinência a esse grupo, a probabilidade de expressão e o compartilhamento
sem julgamentos e a probabilidade de auto-observação e reflexão. Ou seja, a estratégia grupal aumenta a possibilidade de reestruturação da
interpretação da situação vivenciada, da emoção sentida e da mudança comportamental. Além disso, o grupo pode manter a motivação para
a mudança.26 Os programas têm utilizado grupos de apoio, de psicoeducação ou mesmo de treinamento de habilidades específicas.
Uma das estratégias iniciais utilizadas nas intervenções tem sido a psicoeducação, que consiste em ensinar à população-alvo os aspectos
do problema, dos fatores de risco e de proteção e das alternativas de relação com o ambiente. Além de aumentar o conhecimento sobre o
assunto, aumenta a probabilidade de o indivíduo ficar mais sensível às situações, aos potenciais fatores de risco e às possibilidades de ação.
Há várias alternativas para a psicoeducação, como o uso de vídeos, palestras ou mesmo oficinas.
Em intervenções em comunidades (foco no ambiente), Silva e colaboradores27 avaliaram estratégias utilizadas em nove programas
internacionais de prevenção com uma grande população-alvo, que variou entre 12 mil a 4 milhões de pessoas, com duração de 1 a 25 anos.
Em todos os programas, a principal estratégia utilizada foi educacional, por meio de campanhas para a população geral e de atividades
comunitárias com grupos específicos, como profissionais de saúde e professores. Alguns programas utilizaram, ainda, outras estratégias
com colaboração intersetorial, incluindo a combinação de:

■ elaboração de políticas públicas de saúde;


■ aumento de serviços de cuidados preventivos de saúde;
■ projetos de intervenção em locais de trabalho e em escola;
■ fortalecimento da estrutura organizativa comunitária, com intuito de manter e de aperfeiçoar os recursos já existentes.

Em outra revisão sobre programas de prevenção para violência sexual, Pelisoli e Piccoloto19 relatam uma intervenção realizada em uma
escola, com o intuito de sensibilizar e de capacitar os professores para identificar, de forma precoce, sinais de abuso em alunos. Inicialmente,
utilizou-se o processo psicoeducativo sobre o desenvolvimento infantil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os aspectos legais e
os sinais de violência.

Capacitar os profissionais de saúde facilita a identificação de abusos e de violência, aumenta a capacidade de intervenção em
situações complexas com maior segurança e adequabilidade, além de favorecer a relação de rede entre os serviços com a
população.

Outras ações muito utilizadas são as intervenções preventivas e promocionais com famílias (foco no ambiente), podendo incluir a
criança (foco combinado), cujo principal objetivo é aumentar a qualidade da interação intrafamiliar. Na revisão de Pelisoli e Piccoloto,19 foi
descrito um estudo com intervenções preventivas que buscou o aumento da qualidade da comunicação sobre abuso sexual. Para tanto, foi
utilizado um vídeo para psicoeducação e para treinamento de habilidade de comunicação.
Os principais resultados desse tipo de intervenção preventiva ao abuso sexual são

■ discriminação de fatores de risco;


■ identificação de crianças vítimas de violência;
■ aumento de estratégias para lidar com as revelações de violência;
■ ampliação de estratégias de cuidados e de proteção utilizadas pelos pais.

Outra intervenção de prevenção e de promoção em saúde descreve o treinamento de pais, cujo objetivo é fortalecer as práticas educativas
parentais positivas e as estratégias de enfrentamento de estressores.28 Foram realizadas 20 sessões grupais, de 90 minutos cada, com sete
cuidadores (cinco mães e dois pais). As primeiras quatro sessões foram destinadas às apresentações, às avaliações e ao fortalecimento da
coesão grupal. As sete sessões seguintes foram psicoeducativas sobre práticas parentais positivas e habilidades sociais e educativas. As
sete sessões subsequentes focaram no treino de habilidades sociais. Para tanto, foram utilizados:

■ identificação, reconhecimento e expressão de emoções (habilidades empáticas);


■ treino de fornecimento de feedback (habilidades comunicativas);
■ ensaio comportamental para treino de expressão de raiva e solicitação de mudança comportamental (habilidade assertiva e expressividade
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■ ensaio comportamental para treino de expressão de raiva e solicitação de mudança comportamental (habilidade assertiva e expressividade
emocional);
■ filmagens e jogos educativos para potencializar a reflexão sobre a responsividade na interação com os filhos.

Como resultado do treinamento de pais, houve um aumento:

■ nas habilidades educativas;


■ nas práticas parentais positivas;
■ na interação saudável com os filhos.

O treinamento de habilidades sociais também tem sido uma estratégia muito utilizada nos programas de prevenção aos transtornos
mentais e de promoção de saúde mental. Uma intervenção preventiva de abuso sexual com crianças (foco na pessoa), relatada na
revisão de Pelisoli e Piccoloto,19 objetivou o fortalecimento de recursos individuais por meio do treinamento de habilidades assertivas (dizer
não), de busca de apoio e de confiança (contar para alguém ou procurar um adulto em quem confia) e de habilidades de autoproteção (saber
diferenciar tipos de toques). Em programas como esse, algumas estratégias da TCC para o fortalecimento dos recursos individuais são

■ ensino do reconhecimento de pensamentos e de sentimentos;


■ exploração de seus significados e das relações com a situação;
■ reavaliação dos pensamentos e dos sentimentos;
■ desenvolvimento de comportamentos alternativos de enfrentamento e de proteção.

Como resultado do treinamento de habilidades sociais, tem-se o aumento de:

■ senso de autoeficácia positivo (crenças em relação a si);


■ emoções positivas, como esperança e motivação (crenças em relação ao futuro);
■ suporte social e sensação de cuidado (crenças em relação ao outro).

Dessa forma, a criança adquire maior poder de discriminação dos riscos, mas menor afeto negativo (como medo).
No programa de prevenção de estresse ocupacional, Murta e Tróccoli29 realizaram 12 sessões com um grupo de sete bombeiros (foco
na pessoa), com intuito de diminuir sintomas de estresse e de aumentar estratégias de enfrentamento. A primeira e a penúltima sessão
foram destinadas à mensuração de comportamentos e de sintomas, à coleta de sangue e à medida de pressão arterial, enquanto a última foi
destinada ao feedback.
A intervenção em si ocorreu em nove sessões estruturadas, de 90 minutos cada, com as seguintes estratégias:

■ psicoeducação de causa;
■ fatores de risco e de proteção ao estresse;
■ treino de estratégias de enfrentamento, de habilidades sociais, de solução de problemas, de automonitoramento, de modelagem e
modelação, de relaxamento e de reestruturação de crenças distorcidas;
■ prevenção de recaída.

Como resultado do programa de prevenção de estresse ocupacional, foi possível medir a redução de estresse e de sintomas somáticos,
a pressão arterial e o aumento no senso de autoeficácia.
Em um estudo com objetivo de avaliar um programa de prevenção à violência no namoro e de promoção de habilidades de vida em
adolescentes,30 participaram 60 alunos de Ensino Médio de uma escola pública de Brasília/DF, divididos em quatro grupos, sendo dois
gupos-controle (sem intervenção) e dois que receberam a intervenção em sete sessões estruturadas, grupais, com frequência semanal de 80
minutos cada.
Após o levantamento de conhecimentos e de crenças a respeito de questões sobre sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos, assim
como a devolutiva na segunda sessão, as estratégias utilizadas foram:

■ inclusão dos adolescentes nas escolhas dos temas;


■ uso de vivências;
■ modelação a partir de filmes;
■ ensaio comportamental para treino de papéis;
■ tarefas de auto-observação;
■ exposição dialogada.

Tais estratégias tinham como objetivo o treino de habilidades sociais (comunicação, assertividade e empatia), o manejo de emoções, o
autoconhecimento, o treino em solução de problemas e a tomada de decisão. Os resultados sugeriram mudanças positivas na redução de
respostas sexistas hostis e homofóbicas, porém, não houve aumento na intenção de enfrentamento à violência no namoro.

Ao descrever programas e intervenções de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais, pode-se notar que a
distinção entre eles está nos resultados projetados. Uma vez que a saúde mental positiva é um fator de proteção importante contra o
transtorno mental, estratégias promocionais podem facilitar o alcance de resultados de prevenção.17

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9. Na zona rural da cidade satélite do Gama/DF, moram quatro idosos em uma casa de madeira de difícil acesso. Para chegar até a
casa, é possível ir de carro até uma estrada que fica a 3km de distância do local; depois, é preciso continuar a pé e, ao final da
caminhada, descer um barranco pequeno da mata. O acesso fica mais difícil em época de chuva. A casa fica localizada ao lado de
um córrego pequeno e estreito que serve como fonte de água para banho, ingestão e alimentação e como banheiro. Além dos
idosos, as galinhas e os cachorros também utilizam esse mesmo córrego. A alimentação é proveniente da natureza, sendo frutas,
algumas raízes plantadas pelos idosos, ovos e a própria galinha. Com a dificuldade de mobilidade, os idosos pouco vão à cidade e
há mais de dois anos não acessam o sistema de saúde. Relatam que não gostam de sair, pois têm dificuldade de ouvir, de
enxergar e de se relacionar com as pessoas da cidade. Apenas um dos idosos recebe aposentadoria e esse é o fator que o motiva
ir à cidade. Dois idosos estudaram até a 3ª série do Ensino Fundamental e os outros dois não estudaram. Nenhum relata ter
contato com familiares ou parentes. Com base no Modelo de Determinantes Sociais em Saúde de Dahlgren e Whitehead,
identifique os determinantes de saúde.

Confira aqui a resposta

10. Com relação aos determinantes sociais da saúde mental, analise as afirmações a seguir.
I – Os determinantes sociais são foco das ações em saúde, com intuito de minimizar as iniquidades que podem ser evitadas ou que
são injustas.
II – Em ambientes sociais insalubres e socioeconômicos precários, tanto o desenvolvimento físico e mental quanto a aquisição de
competência social têm maior probabilidade de serem prejudicadas.
III – A presença isolada ou cumulativa de fatores determinantes sociais tem o mesmo impacto emocional e comportamental para o
desenvolvimento saudável.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

11. Os programas de intervenção preventiva e de promoção de saúde mental

A) são independentes e utilizam estratégias diferentes.


B) são complementares e utilizam estratégias semelhantes.
C) se igualam quanto às variáveis avaliadas e ao tempo de verificação de resultados.
D) têm menor sobreposição entre ações de promoção de saúde e de prevenção primária.
Confira aqui a resposta

12. Quais são as cinco estratégias de ação que continuam como base para a promoção de saúde apontadas pelo documento
conhecido por Carta de Ottawa, resultante da Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde?

13. Em relação à TCC, assinale a alternativa correta.

A) O tempo é uma desvantagem da TCC.


B) A TCC potencializa os aspectos positivos da saúde mental, atuando indiretamente em todos os fatores influenciadores do
bem-estar subjetivo.
C) O distúrbio do sono faz parte dos sintomas e dos desfechos negativos que não são alvos da TCC (prevenção).
D) Um dos focos da TCC é aumentar as crenças funcionais em relação a si mesmo, aos outros, ao mundo e ao futuro.
Confira aqui a resposta

14. A TCC tem sido utilizada em programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental com resultados
positivos. Explique como ela favorece tal processo.

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Confira aqui a resposta

15. Indique duas estratégias ou técnicas cognitivo-comportamentais que podem ser utilizadas nos programas de prevenção e de
promoção de saúde.

Confira aqui a resposta

■ PLANEJAMENTO DE PROGRAMAS DE PREVENÇÃO AOS TRANSTORNOS


MENTAIS E DE PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL
Embora existam diferenças nos objetivos e no escopo das ações de prevenção e de promoção de saúde mental, nesta seção, será adotado
um modelo único para descrever as etapas gerais no planejamento de programas com ambos os focos – prevenir transtornos mentais e
promover saúde mental. Quando couber, serão realizadas diferenciações em procedimentos adotados entre esses campos. Será utilizado o
modelo proposto por De Vries,31 denominado I-Plan Model, originalmente elaborado para descrever o planejamento de ações para educação
em saúde e promoção de saúde.
Conforme De Vries,31 o desenvolvimento de programas de promoção de saúde (e, por extensão, de prevenção aos transtornos mentais) se
dá em três grandes etapas, que são:

■ análise preliminar para subsidiar a criação do programa;


■ desenvolvimento da intervenção propriamente dita;
■ continuação e expansão da intervenção para novos contextos.

Esse processo sistemático de planejamento evita o desperdício de esforços e maximiza o potencial de eficácia e de efetividade das ações de
prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental. A Figura 4 sintetiza essas etapas.

Figura 4 – Modelo de Planejamento de Programas de Promoção de Saúde Mental e de Prevenção aos Transtornos Mentais.
Fonte: De Vries (2014).31

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ETAPA 1 – ANÁLISE
O desenvolvimento de programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental tem início com a etapa de análise,
a qual visa a conhecer os problemas e as circunstâncias em que ocorrem para posterior planejamento do programa. Nesse momento,
dá-se a familiarização com as queixas existentes, os problemas que afetam a saúde mental, o impacto resultante e as condições contextuais
relevantes, como barreiras e oportunidades para implantação do programa. Essa etapa também deve servir ao envolvimento entre a equipe
de profissionais e a comunidade e ao fortalecimento de alianças com possíveis parceiros locais, de modo a viabilizar a implantação do
programa.31
A análise do contexto em que se examinam os problemas que afetam a saúde mental pode ser feita em passos ou subfases, conforme
seguem:31

1. avaliação de necessidades;
2. identificação dos fatores associados ao problema;
3. escolha do grupo que receberá a intervenção;
4. determinantes motivacionais;
5. canais de acesso ao grupo-alvo.

Avaliação de necessidades

A análise preliminar ao desenvolvimento do programa de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental tem
início com a avaliação de necessidades, cujo objetivo é a identificação dos problemas e dos interesses da comunidade, das famílias
ou do indivíduo.14 A avaliação de necessidades resulta no mapeamento dos problemas percebidos como prioritários para o público-
alvo, o que viabiliza a construção dos objetivos e do conteúdo da intervenção.

Diferentes procedimentos podem ser utilizados para se conduzir avaliações de necessidades.14 A observação direta do contexto pode ser
feita, seja por meio da inserção do profissional cotidianamente no contexto ou por meio de visitas programadas. A consulta a documentos,
como relatórios, que descrevem fatos relevantes a respeito dos problemas vividos na comunidade pode ser outra estratégia.
Entrevistas com lideranças comunitárias, gestores, coordenadores e membros do público-alvo são estratégias comumente utilizadas. Essas
entrevistas podem ser conduzidas individualmente, muitas vezes informalmente, ou em grupo. Nesse último caso, são denominadas grupos
focais. Os grupos focais podem ser segmentados por idade, gênero, tempo na instituição ou outras características relevantes, se isso vier a
facilitar a autoexpressão dos participantes.
Outra estratégia grupal são os grupos nominais, em que um coordenador faz uma pergunta e cada participante deve anotar a resposta com
uma única palavra. Essa palavra deve traduzir e sintetizar a ideia sobre o tema que está sendo abordado. No segundo momento, todos os
participantes compartilham suas palavras e iniciam uma discussão, a fim de aprofundar o significado e o sentido de cada resposta. Ao final, o
grupo deve resumir, de forma consensual, o que foi levantado e entendido.32
Por fim, pode-se também fazer uso de estratégias escritas, como questionários, aplicados presencialmente ou on-line, e sentenças
incompletas. Essa última estratégia foi uma das utilizadas na avaliação de necessidades do Programa Viva Mais! – programa de promoção
de saúde na transição para a aposentadoria da Universidade de Brasília (UnB).33 O instrumento segue descrito no Quadro 2.
Quadro 2

SENTENÇAS INCOMPLETAS UTILIZADAS NO PROGRAMA VIVA MAIS! – PROGRAMA DE PREPARAÇÃO PARA


APOSENTADORIA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Prezado(a) colega

Nós, da Equipe do Programa Viva Mais! – Programa de Preparação para Aposentadoria da UnB –, gostaríamos de conhecer o que você pensa sobre
aposentadoria. Suas ideias nos ajudarão a construir um programa que atenda bem às necessidades e aos interesses de todos os que trabalham na UnB.
Agradecemos por colaborar completando as frases abaixo:

■ Quando eu me aposentar...
■ As minhas expectativas em relação à aposentadoria são...
■ Os meus receios em relação à aposentadoria são...
■ Penso que se preparar bem para a aposentadoria inclui...
■ Viver bem depois da aposentadoria requer...
■ No meu círculo de relações, os aposentados...
■ Eu participaria de um Programa de Preparação para a Aposentadoria...
■ Eu sugiro que o Programa de Preparação para a Aposentadoria da UnB...

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Identificação dos fatores associados ao problema


A segunda subfase da etapa de análise é a identificação dos fatores de risco e de proteção para o problema de saúde mental que se almeja
prevenir ou dos determinantes do comportamento que se almeja promover.31
Essa etapa pode ser suprida pelo acesso aos resultados de pesquisas. Revisões de literatura, estudos longitudinais e epidemiológicos
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ssa etapa pode se sup da pe o acesso aos esu tados de pesqu sas e sões de te atu a, estudos o g tud a s e ep de o óg cos
podem oferecer informações relevantes acerca disso. Por exemplo, a prevenção ao abuso de drogas pode fazer uso de evidências que
apontam como fatores de risco para esse problema:

■ leis e normas sociais;


■ acesso facilitado às drogas;
■ privação econômica extrema;
■ comunidades com infraestrutura precária;
■ uso de drogas na família;
■ práticas educativas parentais coercitivas ou negligentes;
■ conflitos familiares;
■ falta de vínculos afetivos;
■ problemas de comportamento precoces e persistentes;
■ dificuldades de aprendizagem;
■ rejeição por pares;
■ associação com pares que fazem uso de drogas;
■ atitudes favoráveis ao uso de drogas;
■ falta de habilidades sociais para lidar com a pressão dos pares.

Em outro exemplo, a prevenção aos transtornos de personalidade deve considerar resultados de estudos que indicam as práticas parentais
negligentes, abusivas ou permissivas como fatores de risco. Como se nota nos exemplos citados anteriormente, os fatores de risco estão
inter-relacionados e diferentes problemas (como transtornos de personalidade e abuso de drogas) podem resultar dos mesmos fatores de
risco (como maus-tratos parentais). Por isso, as ações preventivas para um dado problema podem prevenir diferentes desfechos negativos,
além de ser promotoras de saúde mental.
No planejamento dos programas de promoção de saúde mental, a etapa de identificação de fatores de risco e de proteção típica dos
programas de prevenção aos transtornos mentais é denominada identificação dos determinantes ou dos fatores relacionados ao
problema. Conforme ilustrado anteriormente na Figura 3, esses podem ser de ordem cultural, econômica, biológica, comportamental,
atitudinal e motivacional, dentre outros.

Escolha do grupo que receberá a intervenção


A definição dos destinatários da intervenção é o terceiro passo na análise prévia ao programa de prevenção aos transtornos mentais e de
promoção de saúde mental.31 Esse pode ser um grupo-alvo (por exemplo, mulheres podem ser o grupo-alvo de um programa de promoção
de direitos sexuais e reprodutivos) ou subconjuntos de grupos-alvo (por exemplo, mulheres adolescentes, mulheres gestantes e mulheres
trabalhadoras rurais podem ser os grupos prioritários do referido programa de promoção de direitos sexuais e reprodutivos).

Nos programas de prevenção aos transtornos mentais, conforme discutido previamente, o grupo-alvo pode ser do tipo:

■universal – toda a população de um dado contexto;


■seletivo – apenas os expostos a fatores de risco para o problema em questão;
■ indicado – apenas os que apresentam sintomas iniciais do problema, sem, contudo, atender a critérios diagnósticos para um
transtorno.

Um programa de prevenção à depressão, por exemplo, pode ser destinado a estudantes universitários (prevenção universal), a estudantes
universitários migrantes ou imigrantes (prevenção seletiva) ou a estudantes universitários com problemas acadêmicos (como reprovações
consecutivas em uma disciplina e trancamento de matrícula) que apresentem sinais iniciais de depressão (prevenção indicada).
Nos programas de promoção de saúde mental, o grupo-alvo pode ser escolhido dentre três níveis, conforme mostra o Quadro 3.31
Quadro 3

GRUPO-ALVO
Classificação Definição Exemplos

Micro ou Consiste em grupos de indivíduos, como grupos ■ Intervenção para promoção de bem-estar em homens idosos de uma
individual de crianças ou de adolescentes. Universidade Aberta à Terceira Idade.
■ Programa de promoção de comportamento pró-social em crianças de educação
infantil.

Meso ou Compreende instâncias que afetam o ■ Intervenção para promoção de habilidades parentais e resiliência em famílias
social comportamento de indivíduos, como famílias, (pais, avós, irmãos, filhos) usuárias do Bolsa Família e atendidas em um Centro
organizações de trabalho e escolas. de Referência em Assistência Social.
■ Oferta, por uma dada empresa, de um programa de promoção de manejo de
estresse ocupacional centrado no treinamento de habilidades de liderança dos
gestores.

Macro ou Engloba instituições responsáveis por ■ Secretarias de saúde municipais e estaduais e o Ministério da Saúde (instituições
institucional desenvolver políticas e serviços que possam que podem criar diretrizes e coordenar serviços que promovam a saúde mental).
afetar a saúde mental. ■ Secretaria de Políticas para as Mulheres, Secretaria de Promoção de Igualdade
Racial e Secretaria dos Direitos Humanos (cujas políticas também repercutem na
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( j p p
saúde mental).
■ Prêmios de incentivo a boas práticas organizacionais em equidade de gênero.
■ Cotas para facilitar o acesso à educação de Ensino Superior para estudantes
negros.
■ Festival de cinema em direitos humanos para disseminar informação acerca
dessa temática.

Se comparadas as terminologias utilizadas nas áreas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental, os
programas de prevenção – focados na pessoa – discutidos previamente se equiparam aos programas de promoção de nível micro ou
individual, ao passo que os programas de prevenção – focados no ambiente – equivalem aos programas de nível meso ou social e
macro ou institucional.

Outra forma de se nomear o público-alvo de uma intervenção em promoção de saúde é por meio dos termos grupo-alvo primário e grupo-
alvo secundário.31 O grupo-alvo primário inclui os usuários do programa, enquanto o grupo-alvo secundário consiste nos atores que
integram o ambiente social do grupo-alvo primário e, por isso, podem afetar a probabilidade de os resultados da intervenção serem
alcançados.
Considere o exemplo: se o grupo-alvo primário de um programa de promoção de competência social for composto por adolescentes, os
outros que lidam com os adolescentes são o grupo-alvo secundário (como pares, pais, professores ou profissionais de saúde). Se o grupo
primário da intervenção for composto por adolescentes e pais, o grupo secundário será composto por todos aqueles que representam
ambiente social para os adolescentes e os pais (como profissionais de saúde mental e líderes religiosos que lidam com os adolescentes e os
pais).
Juntamente com o grupo-alvo, define-se o contexto em que os usuários do programa de prevenção aos transtornos mentais e de promoção
de saúde mental serão encontrados. Nesse sentido, ressalta-se que qualquer ambiente pode ser adequado para se conduzir programas
preventivos ou de promoção de saúde mental (ver Figura 2), como, por exemplo, abrigos para crianças que aguardam adoção; berçários;
escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio, Profissionalizante e Universitário; centros de atenção a crianças e a mulheres
vítimas de violência; igrejas; centros comunitários; unidades para adolescentes em conflito com a lei; unidades básicas de saúde; hospitais;
centros culturais; centros esportivos; organizações de trabalho, etc.
Mesmo os programas de promoção de saúde de nível macro ou institucional, quando operacionalizados, podem ser dirigidos a contextos
específicos onde se podem alcançar os subgrupos usuários do programa (como escolas e espaços de convivência para adolescentes).

Determinantes motivacionais

O quarto passo na análise preliminar para a implantação de programas de prevenção aos transtornos mentais e promoção de saúde
mental é a identificação das razões pelas quais o grupo-alvo se engaja em comportamentos de risco ou em comportamentos
saudáveis relativos ao objetivo final do programa.

Entende-se por razões as variáveis cognitivas e comportamentais relacionadas ao comportamento final que se almeja promover ou reduzir.
Essas incluem conhecimento, percepção de risco, atitude, influência social, autoeficácia, planos de ação e habilidades. Nesse modelo, o
comportamento final resulta de intenções de engajamento no comportamento, as quais são fortalecidas por fatores motivacionais que, por
sua vez, são incrementados pela consciência do problema.31 A relação entre consciência, fatores motivacionais, intenção e comportamento-
alvo está descrita na Figura 5.

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Figura 5 – Determinantes motivacionais influentes no comportamento.


Fonte: Elaborada pelas autoras.

A fim de ilustrar, considera-se um programa cujo objetivo seja a prevenção à vitimização por violência no namoro destinado a adolescentes.
Segundo o I-Plan Model,31 devem ser examinados os seguintes determinantes:

■ Conhecimento: quais informações os adolescentes têm sobre a violência no namoro? O que eles consideram violência?
■ Percepção de risco: qual a percepção dos adolescentes sobre o dano potencial causado pela violência no namoro? Quão suscetíveis eles
se veem como possíveis perpetuadores ou vítimas de violência contra o parceiro íntimo?
■ Atitudes: quais vantagens e desvantagens os adolescentes percebem a respeito do uso da violência na relação amorosa? Quais vantagens
e desvantagens os adolescentes percebem sobre a manutenção de uma relação amorosa violenta?
■ Influência social: os adolescentes tiveram acesso a que normas sociais a respeito do uso da violência na relação íntima? Eles possuem
modelos de casais violentos? Eles percebem fontes de apoio social para não usar a violência na relação amorosa? Eles se percebem
pressionados a usar de meios violentos para lidar com conflitos no namoro?
■ Autoeficácia: quão confiantes os adolescentes se percebem em sua própria habilidade de lidar com conflitos no namoro de modo não
violento? Quão confiantes eles se sentem acerca da própria capacidade de buscar meios de interromper a violência?
■ Planos de ação: que estratégias os adolescentes intencionam usar para lidar com conflitos no namoro ou com um parceiro violento?
■ Habilidades: que habilidades de solução de problemas interpessoais os adolescentes apresentam em seu repertório?
■ Barreiras: que barreiras os adolescentes percebem para uso das habilidades de solução de problemas interpessoais no enfrentamento à
violência no namoro?

Canais de acesso ao grupo-alvo


O último passo na análise preliminar consiste em identificar qual o meio mais viável para se oferecer a intervenção.31

O canal mais usual para oferta dos programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental é a
intervenção face a face.

A intervenção face a face é mediada por facilitadores com formação especializada, como profissionais de saúde mental e facilitadores
treinados para o programa (pares, professores, educadores sociais ou agentes comunitários de saúde). Outros canais para oferta dos
programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental que também podem ser utilizados são as intervenções
mediadas por computador, mídia impressa ou televisiva.

Os programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental mediados pelo computador têm sido cada vez
mais utilizados em TCC.

Para os programas de nível macro ou institucional, pode ser necessária a ação coordenada entre gestores e profissionais atuantes no
campo das políticas públicas, podendo incluir regiões de um município, municípios inteiros, estados e regiões do país.
Leis e regulamentos também podem ser canais integrantes de programas preventivos ou de promoção, como leis que proíbem a venda de
álcool para menores e o uso de publicidade que encoraja o consumo de álcool. Nesse caso, pode ser pertinente a ação de grupos de
pressão e o uso de meios democráticos de participação social para se influenciar os legisladores no processo de tomada de decisão em
aspectos que afetam a saúde mental.
Em se tratando da ação de grupos de pressão para o estabelecimento de leis e políticas que afetem positivamente a saúde mental, destaca-
se a ação de conselhos profissionais, como o Conselho Federal de Psicologia (CFP). Uma análise do site do CFP, realizada no segundo
semestre de 2012, identificou um relatório intitulado Relatório de Monitoramento de Proposições em Andamento no Congresso Nacional.
Esse documento evidenciava que o monitoramento legislativo, uma das etapas do trabalho dos grupos de pressão, vinha sendo realizado
pelo CFP.
Ressalta-se que, dentre os projetos de lei monitorados na época, encontravam-se dois diretamente relacionados à prevenção e à promoção
de saúde mental: um projeto de lei que previa a prevenção e o combate ao bullying na escola, proposto por um Senador, em 2010, e outro
que propunha o diagnóstico precoce de depressão pós-parto em puérperas, proposto por um Deputado Federal, em 2009. Ambos estavam
em análise e não haviam ainda sido aprovados naquele ano.
Estratégias não ortodoxas podem servir ao propósito de representar interesses e pressionar para sua inserção na agenda das políticas
públicas. Um exemplo disso foi relatado por Susan Pick,34 vinculada à Universidade Nacional Autônoma do México, pesquisadora na área de
prevenção à violência intrafamiliar e à violência de gênero. Para persuadir o governo mexicano a implementar, em larga escala, a educação
sexual nas escolas públicas do México, Susan Pick optou, em uma das fases de seu trabalho de convencimento, por abordar esposas de
políticos influentes no governo federal convidando-as para uma reunião. Nessa reunião, elas demonstraram forte oposição à proposta,
argumentando que ações com esse conteúdo poderiam favorecer a libertinagem sexual e uma excessiva liberdade de pensamento e ação,
com graves efeitos perniciosos para a juventude mexicana.
Frente ao fracasso dessa estratégia, Susan Pick decidiu convidar a cada uma das mulheres-chave desse grupo de oposição para um café da
manhã, individualmente. Vestida sóbria e elegantemente como elas se vestiam, Susan Pick começava o encontro falando de si mesma. O
sucesso foi tamanho que as mulheres fizeram-lhe um convite para que lhes oferecesse o curso de educação sexual (sem o conhecimento de
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sucesso foi tamanho que as mulheres fizeram lhe um convite para que lhes oferecesse o curso de educação sexual (sem o conhecimento de
seus maridos). Como relata Pick, “depois de uns trinta cafés da manhã e vários meses facilitando os grupos de educação sexual, abriu-se a
via para implementar o programa no sistema educativo mexicano”.34

Diferentes canais podem ser utilizados para a oferta de intervenções em saúde mental para diferentes grupos, no nível micro, meso e
macro. O uso do canal de maior potencial de alcance do público-alvo é, certamente, uma das variáveis influentes na eficácia da
intervenção.

16. Quais são as etapas em que se dá o desenvolvimento de programas de promoção de saúde (e, por extensão, de prevenção aos
transtornos mentais)?

17. A análise do contexto em que se analisam os problemas que afetam a saúde mental pode ser feita em passos ou subfases.
Usando os números de 1 a 5, numere os passos a seguir conforme a ordem em que devem ocorrer.
( ) Escolha do grupo que receberá a intervenção.
( ) Avaliação de necessidades.
( ) Canais de acesso ao grupo-alvo.
( ) Identificação dos fatores associados ao problema.
( ) Determinantes motivacionais.
Qual alternativa apresenta a sequência correta?

A) 3 – 1 – 5 – 2 – 4.
B) 2 – 1 – 4 – 5 – 3.
C) 4 – 3 – 5 – 2 – 1.
D) 1 – 4 – 5 – 3 – 2.
Confira aqui a resposta

18. Qual o objetivo e o resultado da avaliação de necessidades para implantação de programa de prevenção aos transtornos mentais
e de promoção de saúde mental?

19. O que vem a ser a identificação dos determinantes ou fatores relacionados ao problema de saúde mental?

20. Nos programas de prevenção aos transtornos mentais, quais são os tipos de grupo-alvo que se pode ter? Explique cada um
desses tipos.

21. Considerando que nos programas de promoção de saúde mental o grupo-alvo pode ser escolhido dentre três níveis, analise as
afirmações a seguir sobre os exemplos desses níveis.
I – Um programa de promoção de comportamento pró-social em crianças de educação infantil é um exemplo de nível micro ou
individual.
II – Um exemplo para o nível meso ou social é a oferta, por uma dada empresa, de um programa de promoção de manejo de
estresse ocupacional centrado no treinamento de habilidades de liderança dos gestores.
III – Políticas desenvolvidas pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, Secretaria de Promoção de Igualdade Racial e Secretaria
dos Direitos Humanos, que repercutem na saúde mental, são exemplos de nível macro ou institucional.
Quais estão corretas?

A) A I II
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A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

22. O quarto passo na análise preliminar para a implantação de programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de
saúde mental é a identificação das razões pelas quais o grupo-alvo se engaja em comportamentos de risco ou em
comportamentos saudáveis relativos ao objetivo final do programa. Diante dessa afirmação, o que se entende por razões?

23. Qual é o canal mais usual para oferta dos programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental?

ETAPA 2 – INTERVENÇÃO COMPORTAMENTAL


Uma vez que já foram identificados o problema e os seus fatores de risco, de proteção ou determinantes, e definidos o grupo-alvo e as vias
de acesso a ele, pode-se iniciar o planejamento da intervenção comportamental. Isso é feito por meio de três passos ou subfases, a saber:

■ objetivos;
■ desenvolvimento da intervenção;
■ avaliação.

Objetivos
O estabelecimento das metas da intervenção comportamental ou dos resultados esperados é o próximo passo.31 Conforme discutido
anteriormente, devem ser estabelecidas as metas proximais e as metas distais (se for programa preventivo) ou os resultados primários e
secundários esperados (se for programa de promoção).
As perguntas a seguir podem guiar a tomada de decisão:

■ O que queremos promover no decorrer e logo após o término da intervenção?


■ O que queremos reduzir no decorrer e logo após o término da intervenção?
■ O que queremos evitar meses ou anos após o término da intervenção?
■ O que queremos promover meses ou anos após o término da intervenção?

Além das metas e dos resultados previstos, devem ser planejados os objetivos específicos da intervenção comportamental. Esses
devem refletir conhecimentos, atitudes, habilidades e comportamentos que se almeja modificar.

Os objetivos específicos são traçados a partir da teoria que embasa o programa, do modelo lógico do programa e dos fatores de risco e
proteção ou determinantes que são os norteadores da intervenção comportamental.
Em TCC, pressupõe-se uma relação evento-avaliação cognitiva-emoção-comportamento. Logo, programas preventivos aos transtornos
mentais e de promoção de saúde mental que façam uso dessa abordagem deverão especificar quais mudanças cognitivas, motivacionais e
comportamentais são esperadas na intervenção, em cada sessão ou módulo. Em geral, os programas que dispõem de manual apresentam,
para cada sessão, os objetivos específicos.
Os objetivos também estabelecem compromissos com o conteúdo e o formato da intervenção. O alcance dos objetivos pode requerer
técnicas específicas administradas por certo período de tempo. Por exemplo, o objetivo específico “desenvolver habilidades de resistência à
pressão dos pares” pode requerer o uso de instruções, de modelação (com uso de vídeos, dramatização pelos participantes ou pelos
facilitadores) e de tarefas de casa, com prática repetida ao longo de sessões repetidas, para que mudanças comportamentais possam ter
maior probabilidade de ocorrência.
Por outro lado, o objetivo específico “identificar os diferentes tipos de violência na relação amorosa” pode ser alcançado com procedimentos
informativos de curta duração, em sessão única, com ou sem o uso de materiais audiovisuais de apoio. A relação de interdependência entre
os objetivos específicos e as dimensões que o antecedem e sucedem no planejamento de programas de prevenção e de promoção à saúde
está ilustrada na Figura 6 e será abordada adiante.

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Figura 6 – Decisões no desenvolvimento de programas preventivos aos transtornos mentais ou de promoção de saúde mental.
Fonte: Elaborada pelas autoras.

Desenvolvimento da intervenção
Concluído o planejamento das metas e dos resultados esperados, a curto e a longo prazo, pode-se passar ao desenho do programa
propriamente dito. Essa é uma etapa de intenso trabalho criativo, completamente guiada pelo modelo teórico de base.31 A teoria facilita a
definição dos objetivos da intervenção, informa os mecanismos de mudança esperados e direciona a seleção do conteúdo e dos
procedimentos. Com base nas informações coletadas na etapa de análise e as contribuições da teoria, deve ser escolhido o conteúdo do
programa, criado o material e definidas as técnicas e o formato da intervenção.
Quanto ao conteúdo, os programas podem ser multicomponentes ou unicomponentes. Os programas multicomponentes incluem, em seu
conteúdo, diferentes temas ou componentes, ao passo que os programas unicomponentes abordam apenas um tema. Os temas refletem a
variedade de fatores de risco e a proteção ou os determinantes incluídos no programa, já identificados na etapa de análise preliminar ao
desenvolvimento do programa.
Considere, a título de ilustração, os fatores de risco para vitimização por violência no namoro apresentados na Figura 7. Caso se planeje
realizar um programa com foco no indivíduo, os fatores de risco pessoais, listados na Figura 6, deverão ser transformados em temas a serem
abordados em uma sessão (se intervenção breve) ou em múltiplas sessões (se intervenção continuada). Por exemplo, uma
intervenção de seis sessões para adolescentes de Ensino Médio pode abordar os temas:

■ características de relacionamentos positivos (sessão 1);


■ características de relacionamentos violentos (sessão 2);
■ papéis de gênero e atitudes acerca da violência (sessão 3);
■ estratégias negativas e positivas de resolução de conflitos (sessão 4);
■ manejo das emoções e abuso de álcool (sessão 5);
■ autoimagem e projetos para o futuro (sessão 6).

Com tal diversidade de conteúdo, a intervenção de seis sessões seria multicomponente. Caso fosse exclusivamente focada em um tema,
como uma intervenção breve para abordar as características de relações violentas, seria unicomponente. Da mesma forma, o planejamento
de um programa focado no ambiente (cultura, família e pares) deve seguir uma lógica similar: os fatores de risco direcionam o conteúdo, os
procedimentos e a duração da intervenção.

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Figura 7 – Fatores de risco para a vitimização por violência no namoro.


Fonte: Elaborada pelas autoras.

Pode ser utilizada uma infinidade de técnicas e de estratégias nos programas preventivos aos transtornos mentais e de promoção de saúde
mental. As técnicas mais usadas nesses programas são psicoeducação, modelagem, treino de habilidades sociais, role-play e treino de
resolução de problemas. Porém, todo o instrumental cognitivo e comportamental da TCC pode ser utilizado (ver Quadro 4) a depender dos
objetivos do programa.
Quadro 4

TÉCNICAS COMPORTAMENTAIS E COGNITIVAS POTENCIAIS INTEGRANTES DE PROGRAMAS DE PREVENÇÃO


AOS TRANSTORNOS MENTAIS E DE PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL
Técnicas comportamentais Técnicas cognitivas de identificação de pensamentos Técnicas cognitivas de modificação de pensamentos
automáticos automáticos

■ Relaxamento ■ Reconhecimento de mudanças de humor ■ Registro de mudanças de pensamento


■ Exposição ■ Psicoeducação ■ Geração de alternativas racionais
■ Ativação ■ Descoberta guiada ■ Exame de evidências
comportamental ■ Role-play ■ Descatastrofização
■ Ensaio comportamental ■ Imagens mentais ■ Reatribuição de responsabilidades
■ Modelação ■ Registro de pensamentos ■ Ensaio cognitivo
■ Treino em habilidades ■ Cartões de enfrentamento
sociais ■ Experimentos
■ Solução de problemas
■ Técnicas de
autocontrole
■ Prevenção de recaída

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os materiais a serem utilizados no desenvolvimento das técnicas e das estratégias, nos programas preventivos aos transtornos
mentais e de promoção de saúde mental, são extremamente variáveis e devem guardar sintonia com as preferências e
características do público-alvo do programa, além do canal da intervenção. Podem compreender guias, cartilhas, vídeos e exercícios
escritos comuns em TCC.

A consulta a materiais utilizados em outros programas com fins similares pode ser de grande valia nessa etapa. O formato refere-se à
duração da intervenção, de cada um de seus módulos (se múltiplas sessões forem adotadas) e do intervalo entre cada módulo.

Avaliação
Os procedimentos e os materiais desenvolvidos no passo anterior devem ser apresentados aos usuários do programa para se verificar a sua
atratividade, clareza e adequação. Essa etapa é chamada de pré-testagem.31 Na prática, os componentes da intervenção e o material são
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at at dade, c a e a e adequação ssa etapa é c a ada de p é testage a p át ca, os co po e tes da te e ção e o ate a são
apresentados por partes a membros do grupo-alvo (por exemplo, pedir a adolescentes que avaliem a qualidade de um vídeo desenvolvido
para a intervenção) ou pedir a avaliação a experts (profissionais que lidam com a temática).

Os resultados da pré-testagem permitem aprimorar a qualidade dos procedimentos e dos materiais que compõem a intervenção
comportamental.

Feita a pré-testagem, pode-se fazer um estudo-piloto do programa, que se trata de uma avaliação preliminar da aceitabilidade de uma
intervenção. Os estudos-piloto são de grande valia para se identificar problemas na viabilidade da intervenção e na qualidade dos
procedimentos, das técnicas, dos materiais e do canal de oferta da intervenção (como o desempenho de facilitadores em intervenções face a
face), quando o programa é realizado na íntegra.
Muitas vezes, sucessivos estudos-piloto são necessários até se alcançar a forma definitiva de um programa. As melhorias que se seguem
aos estudos-piloto permitem lançar o programa definitivo. Nesse caso, em estudos sistemáticos, avaliações de eficácia e de efetividade
podem ser realizadas. Critérios de avaliação de eficácia e de efetividade35 e delineamentos para esse fim não serão apresentados neste
artigo, mas podem ser localizados em manuais de avaliação de programas.

ETAPA 3 – CONTINUAÇÃO
É comum que programas de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais bem fundamentados teoricamente e com
evidências de eficácia sejam desenvolvidos, mas que seu uso seja finalizado ou interrompido logo após o término da pesquisa ou da
iniciativa profissional que o gerou. Tratam-se de boas práticas que, em vez de serem difundidas para amplo uso da comunidade, tornam-se
restritas ao conhecimento e ao uso de poucos. Contudo, os benefícios resultantes de intervenções preventivas ou promotoras de saúde
mental decorrem do uso continuado e abrangente de tais intervenções. Nesse sentido, tão relevante quanto o desenvolvimento da
intervenção é a sua continuidade.31

As estratégias facilitadoras devem ser planejadas para se maximizar as chances de que um programa de promoção de saúde mental
e de prevenção aos transtornos mentais, fundamentado em teoria e avaliação de necessidades e com evidências de eficácia, possa
ser disseminado e mantido ao longo do tempo em uma dada comunidade ou em novas comunidades.

Colaboração intersetorial
A saúde mental é multideterminada, portanto, sua promoção e prevenção de transtornos mentais requerem ações intersetoriais.1 Uma
implicação desse princípio é que o planejamento do uso continuado e abrangente de programas preventivos e de promoção deve ser feito
por um grupo que congregue diversos atores, instituições e interesses.31
Pessoas que representem diferentes grupos devem integrar esse programa, tais como:

■ desenvolvedores do programa;
■ pesquisadores responsáveis pela avaliação do programa;
■ profissionais que podem atuar como provedores do programa (por exemplo, psicólogos);
■ profissionais criativos que podem auxiliar na elaboração de materiais para o programa (por exemplo, designers gráficos);
■ membros do grupo-alvo (por exemplo, pais, se o programa é destinado a pais);
■ grupos de suporte (por exemplo, membros do Conselho Tutelar, se o programa diz respeito a crianças e a adolescentes);
■ grupo patrocinador ou financiador do programa.

O investimento na formação de alianças e a articulação entre diferentes atores deverá facilitar a etapa posterior de difusão do programa.
O ideal é que um grupo de parceiros trabalhe em conjunto desde a avaliação de necessidades, o que maximiza as chances de identificação
do melhor canal para se oferecer a intervenção, assim como para sua disseminação e sustentabilidade. Ainda que seja rico, algumas
barreiras podem existir para o trabalho em parceria. Essas barreiras podem incluir a falta de suporte para o trabalho em grupo, as
diferenças em linguagem, a sobrecarga de atividades e as atitudes negativas para com o programa. Contudo, a criação de um contrato que
preveja ganhos para todos os envolvidos pode favorecer a superação dessas barreiras.31 Logo, o trabalho de interlocução entre múltiplos
atores demanda múltiplas habilidades sociais e capacidade de gestão das diferenças.

Estratégias de difusão
De acordo com Everett Rogers,36 autor da Teoria de Difusão de Inovações, um programa, uma intervenção ou um serviço, por mais
inovadores e benéficos que sejam, não alcançam a sociedade “naturalmente”, pura e simplesmente como resultado de sua qualidade. Ao
contrário disso, a difusão de intervenções inovadoras deve ser planejada, encorajada e monitorada sistematicamente. Nessa teoria, a
difusão de inovações (em que se incluem os programas preventivos e de promoção desenvolvidos nas etapas anteriores e com evidências
de eficácia e de efetividade) dá-se em quatro etapas, como descrito na Figura 8.

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Figura 8 – Estágios na difusão de programas preventivos e de promoção.


Fonte: Elaborada pelas autoras.

Inicialmente, o programa deve ser divulgado e apresentado a adotantes em potencial, como gestores de serviços de saúde mental,
diretores de escolas, coordenadores de serviços especializados para o público-alvo do programa, pessoas formadoras de opinião na
comunidade e lideranças relevantes.

A fase de divulgação e a apresentação do programa preventivo aos transtornos mentais e de promoção de saúde a adotantes em
potencial, se bem-sucedida, pode resultar na adoção do programa. Diferentes condições podem afetar a probabilidade de que uma
inovação seja adotada, tais como as vantagens que ele oferece, a compatibilidade entre o programa e as necessidades locais e sua
complexidade.31

Programas de longa duração e que requerem profissionais com treinamento altamente especializado podem ter sua adoção prejudicada, em
comparação aos de curta duração e com necessidade menor de treinamento. Independente da complexidade no treinamento de novos
profissionais, as condições para isso devem existir como um pré-requisito para a adoção, como, por exemplo, a disponibilidade de manual e
de equipes para supervisão.37 É possível encontrar adotantes em potencial com atitudes para a adoção bastante diversificadas, desde os
mais abertos às inovações até os altamente resistentes à mudança.
Quando se dá o processo de convencimento e as barreiras para a adoção são vencidas, tem-se, então, concluída a primeira etapa, quando o
programa é adotado pelo novo contexto. A implementação da intervenção no novo contexto é o próximo passo. Para tanto, é necessário
avaliar as necessidades desse novo ambiente, treinar profissionais, supervisionar a implementação, assegurar sua qualidade e cuidar para
que as adaptações (normalmente requeridas) nas técnicas ou os materiais do programa promovam a sua adequação cultural sem ferir a
fidelidade ou a integridade.

Um programa de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental originalmente produzido para um público de
uma dada região, quando transferido para outra região, pode requerer ajustes na linguagem, nas técnicas e nos materiais. Contudo,
deve-se assegurar que os objetivos específicos e os componentes centrais da intervenção sejam preservados, sob o risco de se
comprometer a eficácia do programa.37

Programas transferidos para novos serviços e exitosos em sua implementação podem estar suficientemente maduros para serem
disseminados para uma região ainda mais abrangente. Essa é a etapa de disseminação, ainda mais complexa que a anterior, por requerer
alianças e parcerias com múltiplos atores e múltiplas realidades. Tal como na etapa de implementação, o treinamento de profissionais, a
supervisão e o monitoramento da qualidade do processo de disseminação devem ser feitos, de modo a maximizar as chances de integridade
ou de fidelidade. Os fatores que facilitam e dificultam a disseminação devem ser localizados e monitorados para se prevenir interrupções ou
perdas nesse processo.37
A sustentabilidade é a última etapa e ocorre quando o programa permanece ativo onde foi disseminado, mesmo após o término dos
investimentos iniciais nas etapas prévias.37

Na etapa de sustentabilidade, o programa de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental permanece,
mesmo sem supervisão e acompanhamento da equipe responsável pela sua implementação e disseminação.

Uma dose considerável de esforço e um conjunto de condições são necessários para que os programas se mantenham. Estudos38 indicam
que essas condições incluem:

■ prontidão da comunidade para receber o novo programa;


■ relações de colaboração e alianças entre os responsáveis pela disseminação do programa;
■ equipamentos sociais existentes na comunidade;
■ características da intervenção;
■ planejamento de sustentabilidade financeira do programa, feito no início de sua disseminação.
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p a eja e to de suste tab dade a ce a do p og a a, e to o c o de sua d sse ação

Dentre os equipamentos sociais disponíveis na comunidade, tem-se os serviços que integram políticas públicas diversas, como será
discutido a seguir.

Políticas de suporte

Uma intervenção preventiva aos transtornos mentais ou promotora de saúde mental tem maior chance de sobrevivência ao longo do
tempo (sustentabilidade), se for inserida em serviços ou em políticas já existentes.31

O profissional interessado em trabalhar nesse campo deve fazer um mapeamento dessas políticas e desses serviços relacionados que
possam receber o programa. A depender de seus objetivos, os serviços de saúde mental (por exemplo, os centros de atenção psicossocial)
constituem um dos contextos cabíveis, mas outros podem igualmente ser considerados, como, por exemplo, as políticas para juventude,
educação, direitos da criança e do adolescente, enfrentamento à violência contra a mulher, saúde do homem, direitos humanos, igualdade
racial, cultura e esporte.

24. Quais questões podem auxiliar no estabelecimento das metas proximais e das metas distais (se programa preventivo) ou nos
resultados primários e secundários esperados (se programa de promoção)?

25. Quais as decisões a serem tomadas no desenvolvimento de programas preventivos aos transtornos mentais ou de promoção de
saúde mental?

26. Assinale a alternativa que apresenta apenas técnicas comportamentais integrantes de programas de prevenção aos transtornos
mentais e de promoção de saúde mental.

A) Treino em habilidades sociais e prevenção de recaída.


B) Ensaio comportamental e psicoeducação.
C) Descoberta guiada e geração de alternativas racionais.
D) Ativação comportamental e ensaio cognitivo.
Confira aqui a resposta

27. Assinale a alternativa que apresenta apenas técnicas cognitivas de identificação de pensamentos automáticos integrantes de
programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental.

A) Técnicas de autocontrole e reconhecimento de mudanças de humor.


B) Registro de mudanças de pensamento e psicoeducação.
C) Imagens mentais e registro de pensamentos.
D) Descoberta guiada e modelação.
Confira aqui a resposta

28. Assinale a alternativa que apresenta apenas técnicas cognitivas de modificação de pensamentos automáticos integrantes de
programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental.

A) Relaxamento e ensaio cognitivo.


B) Exame de evidências e descatastrofização.
C) Geração de alternativas racionais e registro de pensamentos.
D) Experimentos e treino em habilidades sociais.
Confira aqui a resposta

29. O que os resultados da pré-testagem permitem aprimorar?

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30. O que é necessário para que programas de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais tenham
continuidade?

31. Em relação às estratégias de difusão de programas de promoção de saúde mental e de prevenção aos transtornos mentais,
analise as afirmativas a seguir.
I – A fase de divulgação e a apresentação do programa preventivo aos transtornos mentais e de promoção de saúde a adotantes em
potencial, se bem-sucedida, pode resultar na adoção do programa.
II – Um programa originalmente produzido para um público de uma dada região, quando transferido para outra região, pode requerer
ajustes na linguagem, nas técnicas e nos materiais.
III – Na etapa de sustentabilidade, o programa permanece, mesmo sem supervisão e acompanhamento da equipe responsável pela
sua implementação e disseminação.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

32. Sobre o planejamento de programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental, assinale com V as
alternativas verdadeiras e com F as falsas.
( ) Os objetivos da intervenção devem estar claros para que se planejem as estratégias e as técnicas cognitivo-comportamentais a
serem utilizadas.
( ) Ao planejar um programa de prevenção ou de promoção, o canal de acesso é o item de menor importância ou mesmo
descartável, pois ele não interfere na execução, eficácia e efetividade da intervenção e tampouco na adesão dos participantes.
( ) Os programas multicomponentes incluem diferentes temas, enquanto os programas unicomponentes incluem apenas um tema.
Essa escolha está diretamente relacionada aos fatores de risco e proteção ou aos determinantes inclusos no programa.
( ) Uma vez que as duas etapas do planejamento estejam bem feitas, a terceira etapa (que inclui colaboração, estratégias de difusão
e políticas) pode ser postergada ou mesmo desconsiderada.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V – V – V – V.
B) V – V – F – F.
C) V – F – V – F.
D) F – F – F – F.
Confira aqui a resposta

■ EXEMPLO CLÍNICO
A equipe de psicólogos e assistentes sociais que atuava no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), localizado em um
bairro da periferia de uma cidade do Centro-oeste do Brasil, frequentemente se deparava com famílias monoparentais e mães muito
jovens, oriundas de famílias migrantes do Nordeste do País.

Em vista do novo papel, a maioria das adolescentes interrompia a formação escolar para sustentar seus filhos, enquanto os deixavam
sob os cuidados da creche pública do bairro. Outras jovens mães abusavam de álcool e de outras drogas e casos de prostituição
vinham surgindo. Eram poucos os casos em que o pai se fazia presente, tanto no cuidado quanto na partilha de custos financeiros.
Em meio ao alto estresse cotidiano, era comum a prática de negligência e de outras modalidades de maus-tratos contra os filhos.
A cada dia, novos casos de gravidez precoce e indesejada eram levados ao conhecimento dessa equipe. Em vista disso, nas
reuniões de equipe, discutia-se o que fazer, por onde começar e como fazer bom uso do tempo e das competências da equipe.
Enquanto alguns profissionais da equipe pensavam que era preciso fazer algo urgentemente para se minimizar práticas parentais
violentas, outros pensavam que era preciso adotar ações de orientação para evitar a gravidez na adolescência. As soluções
pensadas eram também diversas, desde as relacionais (como envolver os pais no cuidado dos filhos) até as econômicas (como
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18/10/2019 Portal Secad

prover novas fontes de renda para as mães) e informativas (como fazer campanhas educativas sobre o uso da camisinha).
Após muitas discussões, decidiu-se iniciar o trabalho fazendo uma análise da realidade dessas famílias e dos recursos existentes na
comunidade, enquanto a equipe mantinha suas atividades regulares previstas no CRAS.
A equipe decidiu fazer visitas domiciliares e entrevistar mães adolescentes para melhor compreender suas dificuldades e os
motivos que as levavam a negligenciar ou a agredir seus filhos. Além disso, decidiu-se conversar com algumas lideranças da
comunidade, como a médica ginecologista que atendia na unidade básica de saúde, o diretor da escola de Ensino Fundamental
(segunda fase), a freira que coordenava um grupo de grávidas no centro comunitário, o diretor do centro espírita, a presidente do
Conselho Tutelar e o pastor que dirigia a emissora de rádio da comunidade.
Também foram feitos grupos focais com adolescentes de ambos os sexos, separadamente, para ouvir suas concepções acerca de
sexualidade e da gravidez na adolescência. Uma nova rodada de discussões em grupo foi realizada, dessa vez mesclando
adolescentes com e sem filhos, em que se adotou a estratégia do grupo nominal. Aos participantes foi solicitado listar as
necessidades que julgavam mais importantes para a promoção de saúde entre os adolescentes do bairro e, ao final, foram eleitas as
prioridades do grupo.
Ao fim dessa etapa, dois focos emergiram com clareza. O primeiro foi a necessidade de se trabalhar o tema coerção sexual – uma
das razões mais comuns associadas à gravidez precoce naquela comunidade – com os jovens casais e adolescentes em geral. Nas
entrevistas e nos grupos, muitos relataram ter vivido ou escutado casos em que um dos parceiros pressionava o outro a fazer sexo,
alegando razões como “se você não fizer vou procurar na rua”, “se você não quiser vou achar quem queira”, “se você não fizer vou
contar por aí que você não é homem”, “se você não fizer é porque não me ama”. Desse modo, a atividade sexual não era planejada e
tampouco escolhida, ao menos por parte de um dos parceiros.
O segundo alvo percebido foi a crença das mães na violência como a única forma de se educar. Todos os modelos que tinham
adotavam tal estratégia e elas próprias tiveram histórias de exposição a maus-tratos. Não conheciam outras formas de educar seus
filhos sem usar da agressão física. Também não sabiam como manejar o estresse sem ser por meio de explosões de raiva, de abuso
de álcool (em alguns casos) e de uso de punições conforme suas variações de humor.
Optou-se por levar adiante duas ações:

■ um programa de prevenção universal à gravidez precoce e indesejada;


■ um programa de promoção de práticas parentais positivas.

Enquanto o primeiro era dirigido aos adolescentes entre 12 a 15 anos de idade, o segundo era dirigido a pais e mães jovens, ainda
na gestação ou com filhos pequenos. Conforme as conversas com as lideranças da comunidade, o Programa Saúde na Escola foi
adotado como a porta de entrada para as ações dirigidas à prevenção da gravidez na adolescência. Os temas coerção sexual,
comunicação assertiva e tomada de decisão foram eleitos como prioritários para abordagem em três encontros com os
adolescentes.
O grupo de gestantes coordenado pela freira foi escolhido como contexto para implementação das orientações e treinamento em
habilidades sociais educativas parentais. Além dessa estratégia, decidiu-se por usar as visitas domiciliares como meio para se
orientar as famílias que já apresentavam sinais de maus-tratos. Procedimentos e exercícios já disponíveis na literatura para
intervenções com adolescentes39 e pais40 foram adotados, a fim de poupar tempo da equipe na etapa de desenvolvimento do
programa.
No primeiro semestre de aplicação dos programas, os profissionais do CRAS ficaram muito entusiasmados com a apreciação
positiva dos participantes para com os programas. Por outro lado, mostraram-se preocupados com as dificuldades de acesso por
parte de outros participantes. Diferentes barreiras na condução dos programas foram identificadas, como dificuldades da equipe
(rotatividade dos profissionais), do contexto (greve dos docentes e alterações no formato do programa para adolescentes) e dos
usuários dos programas (analfabetismo de alguns pais e de algumas mães).
Para obter melhores resultados, os profissionais do CRAS vêm pensando em adaptar parte dos procedimentos que utilizam
atividades escritas para os pais e adotar uma forma mais geral de comunicação com toda a comunidade. Um programa de rádio vem
nascendo e irá se chamar “Ô de Casa!”. Agora, planejam como colocar essa ideia em ação para abordar os mesmos temas tratados
nos programas de prevenção à gravidez precoce e indesejada e promoção de práticas parentais positivas, além de outros temas
relativos a outros interesses da comunidade. Resta saber que interesses seriam esses, e uma nova sondagem à comunidade parece
ser necessária.

33. Em relação à etapa de análise no planejamento de programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde
mental do exemplo clínico, quais são os canais de acesso escolhidos pela equipe?

34. Em relação à etapa de intervenção comportamental no planejamento de programas de prevenção aos transtornos mentais e de
promoção de saúde mental do exemplo clínico, como a equipe decidiu desenvolver a intervenção?
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35. Em relação à etapa de continuação no planejamento de programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de
saúde mental do exemplo clínico, quais as estratégias de difusão adotadas pela equipe?

■ CONCLUSÃO
Os programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental têm tido crescente expansão de interesse em âmbito
mundial, com evidências científicas cada vez mais consistentes de eficiência e de eficácia e com resultados confiáveis para os desfechos
negativos e positivos em saúde mental. Esses programas são complementares, com focos distintos, mas parcialmente sobrepostos. Logo,
muitas vezes os elementos de prevenção e de promoção estão no mesmo programa, o que permite o uso de estratégias de intervenção e de
atividades similares para ambos os objetivos. Enquanto os programas de prevenção têm como objetivo diminuir a incidência e a prevalência
de transtornos mentais, os programas de promoção têm como finalidade potencializar a saúde mental, o bem-estar psicológico, a capacidade
emocional, além de criar condições ambientais saudáveis.
A TCC é uma abordagem que tem sido bastante utilizada nos programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde
mental, em função de sua base em evidências, estruturação do procedimento, tempo determinado, orientação para o presente, relação
colaborativa.
Uma das técnicas de intervenção mais utilizadas é a psicoeducação, independentemente da população-alvo ou do objetivo do programa
(preventivo ou promocional). Para tanto, o planejamento é fundamental, pois, a partir desse passo, é possível fazer uma análise preliminar,
a fim de avaliar as necessidades e de identificar os fatores associados ao problema, o grupo-alvo, os determinantes motivacionais e os
canais de acesso. Um planejamento bem feito ainda dá subsídios para clarear os objetivos da intervenção, escolher técnicas e estratégias
adequadas, incluir os conteúdos e estabelecer o formato. Por último, mas não menos importante, o estabelecimento de colaborações
intersetoriais, a identificação de estratégias de disseminação e de sustentabilidade e a inserção em serviços e políticas já existentes
permitem a abrangência do programa para uso contínuo e acesso populacional.

O investimento em programas de prevenção aos transtornos mentais e de promoção de saúde mental, assim como em profissionais
capacitados para planejar, executar, disseminar os programas, é fundamental para a saúde mental da população.

■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS


Atividade 2
Resposta: C
Comentário: A influência recíproca entre saúde mental e saúde física afeta não somente as taxas de morbidade e mortalidade, mas também
os indicadores sociais relevantes, como o desempenho educacional, a produtividade no trabalho, o desenvolvimento de relações
interpessoais gratificantes e a redução de criminalidade e de abuso de substâncias.
Atividade 5
Resposta: C
Comentário: As atividades propostas tiveram o objetivo de aumentar recursos cognitivos e comportamentais dos alunos (foco na pessoa) a
respeito de violência no namoro. Os alunos correspondem ao grupo primário do programa. Os pais fazem parte do ambiente social dos
adolescentes (foco no ambiente). Uma vez que também foram destinatários da ação do Grêmio Estudantil, pode-se dizer que o foco foi
combinado.
Atividade 6
Resposta: B
Comentário: Nessa atividade, foram de prevenção as intervenções com policiais militares, agentes comunitários de saúde, mulheres que têm
parceiros violentos e agentes de saúde. Essas intervenções tiveram como objetivos diminuir sintomas e/ou fatores de risco (estresse, abuso
sexual e violência doméstica) e aumentar fatores de proteção (manejo emocional, capacitação para identificação precoce de abuso e
empoderamento das mulheres). Na primeira intervenção, o grupo primário consistia em policiais militares (foco na pessoa); na segunda
intervenção preventiva, os destinatários da ação foram os agentes comunitários de saúde (foco no ambiente); na última intervenção, os
destinatários foram as mulheres (foco na pessoa) e os agentes (foco no ambiente), formando um foco combinado. A intervenção com pais e
filhos teve como objetivo potencializar a qualidade da interação familiar, fortalecendo os aspectos positivos da saúde mental (promoção).
Nessa intervenção, tanto os pais quanto os filhos fazem parte do mesmo objetivo, resultando no foco na pessoa.
Atividade 8
Resposta: D
Comentário: Os fatores de risco e de proteção à saúde são conceitos importantes para a compreensão da prevenção aos transtornos
mentais, uma vez que a intervenção preventiva foca na mudança desses fatores antes do desenvolvimento do problema. Dessa forma, as
ações para minimizar os fatores de risco e para fortalecer os fatores de proteção são chamadas de ações preventivas. Os fatores de
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18/10/2019 Portal Secad
ações pa a a os ato es de sco e pa a o ta ece os ato es de p oteção são c a adas de ações p e e t as Os ato es de
proteção à saúde só têm efeito na presença do risco, visto que seu mecanismo de atuação ocorre por meio da transformação do efeito da
outra variável. Os fatores de risco e de proteção à saúde não costumam aparecer de forma isolada, pois fazem parte de um contexto social,
envolvendo aspectos políticos, socioeconômicos e ambientais. Portanto, a interação de fatores psicológicos, sociais e biológicos é
determinante para a saúde mental.
Atividade 9
Resposta: Os determinantes proximais, ou seja, aqueles referentes às características do grupo seriam a idade (idosos), o sexo (dois homens
e duas mulheres) e os fatores hereditários. Os acometimentos da idade (e talvez de fatores hereditários) são visíveis como as dificuldades de
se movimentar, de ouvir e de enxergar. No estilo de vida, são percebidos comportamentos pouco higiênicos, como o uso do córrego como
fonte de ingestão e de banheiro compartilhado com animais. Outros comportamentos podem ser identificados, como a falta da busca por
serviços de saúde, a escassa relação com outras pessoas e a qualidade da ingestão, restrita aos alimentos do próprio ambiente. As redes
sociais e comunitárias também são deficitárias para esse grupo de idosos. As condições ambientais são moradia em casa de madeira de
difícil acesso, baixo nível de escolaridade, dificuldade financeira e falta de acesso à saúde. Os macrodeterminantes, ou seja, aqueles
referentes à camada mais distante ou externa, indicam precárias condições gerais.
Atividade 10
Resposta: A
Comentário: Os determinantes sociais são foco das ações em saúde, com intuito de minimizar as iniquidades que podem ser evitadas ou que
são injustas.
A relação interpessoal é um determinante em saúde mental, portanto, a competência social é foco de intervenção, pois favorece o
estabelecimento de relações saudáveis e o ajustamento social. Em ambientes sociais insalubres e socioeconômicos precários, tanto o
desenvolvimento físico e mental quanto a aquisição de competência social têm maior probabilidade de serem prejudicadas.
A presença isolada de fatores determinantes sociais tem menor impacto na saúde, enquanto o efeito cumulativo de múltiplos fatores acarreta
maior prejuízo emocional e comportamental para o desenvolvimento saudável.
Atividade 11
Resposta: B
Comentário: Os programas de intervenção preventiva e de promoção de saúde mental são complementares e utilizam estratégias
semelhantes; porém, as variáveis avaliadas e o tempo de verificação de resultados diferem. A maior sobreposição está entre ações de
promoção de saúde e de prevenção primária.
Atividade 13
Resposta: D
Comentário: Algumas das vantagens consideradas da TCC são o tempo, a estruturação do procedimento, a orientação para o presente e a
relação colaborativa, as quais podem facilitar o alcance das metas (promocionais e/ou preventivas) estabelecidas. Pode-se dizer que a TCC
potencializa os aspectos positivos da saúde mental (promoção), pois atua diretamente em alguns fatores influenciadores do bem-estar
subjetivo. Uma maneira de potencializar os recursos individuais nos programas com foco na pessoa é desenvolver o senso positivo de
autoeficácia, o autoconceito e o autoconhecimento, a partir da identificação dos pensamentos, dos sentimentos, dos comportamentos e das
reações corporais. Além de identificar o questionamento das percepções distorcidas, a reestruturação de pensamentos alternativos e o
aumento da variabilidade de comportamentos, tornam o repertório da pessoa mais adaptativo e saudável. Por outro lado, alguns sintomas e
desfechos negativos são alvo da TCC (prevenção), a saber:

■ depressão;
■ ansiedade;
■ distúrbio do sono;

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