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O ser humano como um SER-DE-CUIDADO e de COM-PAIXÃO

A base última da existência humana é seu ser-no-mundo-com-os-outros.


Uma determinação básica do ser-no-mundo-com-os-outros é o cuidado.
Somos seres de cuidado e esta realidade inerente ao ser humano não é apenas um atributo ou uma
virtude, mas um “estilo de vida”, um modo de proceder que se manifesta como “compaixão”.
Pelo cuidado o ser humano se religa ao mundo afetivamente, assumindo responsabilidade por ele. Os
seres da natureza não são vistos como concorrentes na luta pela vida, mas sim como parceiros, com os
quais é preciso compartilhar o espaço vital.
A pessoa que tem cuidado sempre sente-se afetada e afetivamente ligada ao outro.
“Em sua essência, ser-no-mundo é cuidado.
Do ponto de vista existencial, o cuidado é encontrado ‘a priori’, antes de toda atitude e situação do
ser humano, o que significa dizer que ele se acha em toda atitude e em toda situação de fato” (Heideger)

Mesmo realidades tão fundamentais como o querer e o desejar se encontram


enraizadas no cuidado.
O cuidado significa a constituição existencial mais original do ser humano e está
presente em tudo quanto ele faz. É o cuidado que fornece o solo sobre o qual se
move toda ação do ser humano.
O cuidado forma a substância do ser humano. Ele deve ser definido como um
“ser-de-cuidado”.
O cuidado oferece a base mais segura para entender a compaixão em seu
sentido fundamental. Ela apa-
rece como uma das concretizações e irradiações do cuidado.
De fato, a com-paixão não é um sentimento menor de “piedade” para com os
que sofrem.
A com-paixão não é passiva, mas sim altamente ativa.
Com-paixão é a capacidade de com-partilhar a própria paixão com a
paixão do outro. Trata-se de
sair de si mesmo e de seu próprio círculo e entrar no
universo do outro enquanto
outro, para sofrer com ele, para cuidar dele, para alegrar-se
com ele e caminhar jun-
to a ele, e para construir uma vida em comunhão e
solidariedade.
Em 1º lugar, esse modo-de-ser acarreta comoção frente ao outro, vontade de
cuidar dele, de devotar-lhe
dedicação, a fim de lhe aliviar o sofrimento. Com-paixão é
preocupação com a vida do ou-
tro. Implica uma relação de total renúncia ao poder sobre ele.
Significa, portanto, con-sentir mais do que entender, é mostrar a
capacidade de identificação
e de com-paixão com o outro.
A arte do cuidado confere a cada um a capacidade de exercer a
paternidade-maternidade
espiritual; cuidar é sentir o outro, é verdadeiramente escutar, é ir
além das palavras, é ter um
olhar desarmado, eliminando todo preconceito.
Em 2 lugar, a com-paixão busca construir comunhão a partir dos que mais
º

sofrem, ou dos que são pe-


nalizados pela vida. O que sofre possui uma autoridade indiscutível,
porque ele fala ao pro-
fundo de cada ser humano, toca aquelas instâncias em que a
essência humana vigora como
cuidado e compaixão essencial.
Cuidar é dar atenção com ternura, isto é, descentrar-se de si
mesmo e sair em direção ao ou-
tro, participando da sua existência.; é esvaziamento de si mesmo
para deixar o mistério da mi-
séria do outro, que também traz em si, encontrar abrigo no
coração.
Quem já foi tocado por um olhar de uma pessoa pobre ou sofredora e
deixou que este olhar penetrasse no fundo do seu coração sabe que não
sai “ileso” desta experiência; algo mudou dentro de si.
É uma experiência que o modifica profundamente, tanto que muitos
interpretam esta experiência como uma “experiência de Deus”, uma
experiência de ter conhecido no rosto do pobre o rosto de Cristo.
Textos bíblicos: Mc. 8,1-9 Lc. 7,11-17

Na oração: “Deus em sua grandeza, abrange o universo inteiro e, como o


ar, envolve todos os seres recriando-os a cada instante.
Ele se faz oferta, dádiva imensa, realidade oceânica que banha as praias da
nossa vida. Ele é o nosso tudo, porém no amor”. (Frei Cláudio)

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