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Produtividade
A instalação de lavouras de soja com populações de plantas adequadas é base para a obtenção de
altas produtividades. Para isso, o uso de sementes de elevado padrão é fundamental (Figura 1). A
produção de semente de soja de qualidade é um desafio para o setor sementeiro, principalmente
em regiões tropicais e subtropicais, nas quais a produção desse insumo só é possível mediante a
adoção de técnicas especiais. A não adoção dessas técnicas resulta na produção de sementes infe-
riores que, caso utilizadas, causarão severas reduções de produtividade. Apresentamos, a seguir,
os principais fatores que afetam a qualidade da semente de soja, enfatizando os que atingem prin-
cipalmente as regiões tropicais.
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FIGURA 1 | LAVOURA DE SOJA COM POPULAÇÃO DE PLANTAS IDEAL, OBTIDA COM O USO DE 3. Seleção de regiões mais propíci-
SEMENTES DE ELEVADA QUALIDADE
as – A produção de semente de alta
JOSÉ DE BARROS FRANÇA NETO/EMBRAPA SOJA
FIGURA 4 | SEMENTES DE SOJA ESVERDEADAS DEVIDO À SECA NA FASE DE MATURAÇÃO da acidez e o fornecimento de níveis ade-
quados de potássio, fósforo e micronu-
JOSÉ DE BARROS FRANÇA NETO/EMBRAPA SOJA
COLHEITA
É a fase mais crítica de todo o processo de
produção, já que na colheita pode ocor-
rer mistura varietal, se não for feito o iso-
lamento dos campos de produção, além
FIGURA 5 | SEMENTES DE SOJA MANCHADAS E DEFORMADAS DEVIDO A PICADAS DE PERCE-
da limpeza completa das máquinas colhe-
VEJOS SUGADORES doras e carretas transportadoras. Quan-
do da troca de cultivares, é importante
JOSÉ DE BARROS FRANÇA NETO/EMBRAPA SOJA
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da pelo teste de hipoclorito de sódio BENEFICIAMENTO de corrente, com velocidade máxima de
(Krzyzanowski et al., 2004), pelo menos O beneficiamento é necessário para a deslocamento de 40 m/min. O fluxo de
três vezes ao dia; d) manter todas as remoção de contaminantes, como mate- beneficiamento ideal para as sementes
partes do sistema de trilha em boas riais estranhos (vagens, ramos, torrões da soja (Figura 7) inclui as seguintes eta-
condições de uso, especialmente as e insetos), sementes danificadas e dete- pas: recepção, pré-limpeza, armazena-
barras estriadas, que não podem estar rioradas, sementes de outras culturas e mento temporário em silos aerados, se-
desgastadas; e) colher com velocidade de plantas daninhas. Além disso, possui cagem, armazenamento temporário em
adequada de deslocamento, de acordo outras finalidades, como: a classificação silos aerados e reguladores de fluxo,
com a velocidade das facas de corte; f) das sementes por tamanho, forma e den- máquina de limpeza, separador em espi-
manter o motor regulado; e g) evitar a sidade, visando a melhorar a qualidade ral, padronizador por tamanho, mesa
produção de cultivares com sementes fisiológica do lote; a aplicação de fungi- densimétrica e balança ensacadora.
suscetíveis a danos mecânicos. cidas, inseticidas, micronutrientes, po-
límeros e corantes, quando necessários; ARMAZENAMENTO
RECEPÇÃO E SECAGEM a embalagem adequada para comercia- Para o armazenamento de sementes de
As sementes colhidas dão entrada na lização. Na padronização por tamanho, soja no Brasil, sugerem-se os seguintes
unidade de beneficiamento de semente sugere-se a classificação das sementes graus de umidade: 13% a 13,5% – para as
(UBS) pelas moegas, que não podem ser em intervalos de 0,5 mm, de forma a au- regiões do Rio Grande do Sul, Santa Ca-
profundas, para que sejam evitados da- mentar a precisão de semeadura. tarina e Centro-sul do Paraná; 11,5% a 12%
nos mecânicos. Atualmente, existem no Misturas varietais e danos mecânicos – para as regiões Norte e Oeste do Para-
mercado moegas vibratórias que funcio- são problemas potenciais para a quali- ná, Sul do Mato Grosso do Sul e São Pau-
nam como sistemas de transbordo, e não dade das sementes. As maiores fontes de lo; 11% a 11,5% – para as demais regiões de
mais como depósitos temporários. As danos mecânicos durante o beneficia- cerrado. As condições de temperatura e
sementes devem passar pelas máquinas mento são o número excessivo de que- de UR do ar devem ser constantemente
de pré-limpeza, objetivando a remoção das, a utilização de elevadores desajus- monitoradas nos armazéns. Em regiões
de impurezas grosseiras e das sementes tados ou inadequados e o transporte da de cerrado, em razão da baixa UR duran-
menores (de tamanho abaixo da boa se- semente em fitas com alta velocidade. te o armazenamento, é comum que as
mente). Caso as sementes cheguem a Os elevadores recomendados para sementes percam umidade, podendo
UBS com mais de 12,5% de umidade, é im- transportar sementes apresentam des- chegar a valores abaixo de 8%. Porém,
prescindível que se faça de imediato carga positiva ou por gravidade, como os isso não afetará sua qualidade.
uma secagem para umidade máxima de
12%. Caso isso não seja possível, a se-
mente úmida poderá permanecer em FIGURA 7 | FLUXO IDEAL PARA O BENEFICIAMENTO DA SEMENTE DE SOJA
silos-pulmões, sob constante aeração
(3 a 5 m3/min.t), por até dois dias.
RECEPÇÃO
A semente de soja pode ser colocada
em secadores estáticos e de fluxo inter-
mitente, atentando-se para que a tem-
peratura da massa de sementes não ve-
SEPARADOR PADRONIZADOR
nha a ser superior a 40ºC. Em secadores PRÉ-LIMPEZA LIMPEZA EM ESPIRAL
estáticos, a camada de secagem deve ser
a menor possível, e nunca superior a 70
cm. Nesse tipo de secador, é normal o
ARMAZENAGEM ARMAZENAGEM
aparecimento de gradientes de umidade ÚMIDA SECA MESA
SECAGEM
DENSIMÉTRICA
entre as camadas de sementes próximas (Silos Ventilados) (Silos Ventilados)
Diversas espécies de Penicillium e adequados promove proteção, nessas das sementes deve ser monitorado fre-
Aspergillus podem infectar as sementes condições. qüentemente (Marcos Filho, 1999). Ou-
da soja, desde que o ambiente (tempe- tros testes, como o de tetrazólio e de
ratura e UR) seja favorável. Em semen- CONTROLE DE QUALIDADE (CQ) emergência em solo ou areia, podem
tes com umidade acima de 14%, haverá Um sistema confiável de CQ permite ser empregados, para se avaliar perio-
predominância de Aspergillus flavus. monitorar as sementes, em todas as suas dicamente a qualidade fisiológica da
Após o beneficiamento, as sementes en- fases da produção, da pré-colheita ao semente, durante o armazenamento e
sacadas poderão ser colocadas em ar- embarque. A avaliação do potencial fi- antes da comercialização.
mazéns convencionais ou climatizados. siológico das sementes e de seu vigor é
No armazenamento convencional, o amplamente abordada por Marcos Filho *José de Barros França Neto
grau de umidade da semente flutuará de (2005) e por Krzyzanowski et al. (1999). (jbfranca@cnpso.embrapa.br) e Francisco
Carlos Krzyzanowski
acordo com a variação da UR do ar. O Em pré-colheita, as plantas são coleta-
(fck@cnpso.embrapa.br) são pesquisadores
resfriamento pela injeção de ar frio (ao das ao acaso no campo, visando-se à de- da Embrapa Soja, Londrina, PR.
redor de 15ºC) e relativamente seco (50% terminação da viabilidade, vigor e índi-
a 65% UR) na massa de sementes ainda ces de deterioração por umidade, e de
nos silos tem sido uma alternativa em danos de percevejo, por meio do teste de
uso no Brasil Central. tetrazólio (França Neto et al., 1998).
Campos de semente com vigor acima de
TRANSPORTE E SEMEADURA 90% são aceitáveis. Na colheita, a amos-
O transporte rodoviário por longas dis- tragem da semente deve ser feita pelo
tâncias pode resultar em reduções sig- menos três vezes ao dia, por colhedora.
nificativas de vigor e de viabilidade, de- Cada amostra deve ser avaliada quanto
vido aos aumentos nos índices de dete- ao nível de dano mecânico, pelo teste de
rioração (por umidade e danos mecâni- hipoclorito de sódio (Krzyzanowski et
cos). Nesses casos, recomenda-se a uti- al., 2004) ou por meio da determinação
lização de caminhões-baús, com isola- de semente quebrada, usando-se o mé-
mento térmico e climatizados. A redução todo do copo medidor. Na recepção, a
da qualidade pode ocorrer na semeadu- semente deve ser avaliada para purezas
ra, durante a passagem das sementes física e varietais, grau de umidade, dano
pelos sistemas de distribuição, que po- mecânico, viabilidade e vigor, por meio
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dem fazer crescer significativamente os dos testes de tetrazólio ou de conduti-
FRANÇA NETO, J. B. et al. Semente esverdeada
danos mecânicos. vidade elétrica. de soja e sua qualidade fisiológica. Londri-
Uma boa alternativa tem sido o uso de Durante a secagem, a temperatura e na: Embrapa Soja, 2005. 8 p. (Embrapa Soja.
sistemas pneumáticos que, além de au- o grau de umidade da semente devem Circular Técnica, 38).
mentar a precisão de semeadura, redu- ser monitorados periodicamente, até FRANÇA NETO, J. B.; KRZYZANOWSKI, F. C.; COS-
TA, N. P. O teste de tetrazólio em sementes
zem os danos mecânicos. Também o em- que o nível desejado de umidade seja
de soja. Londrina: Embrapa CNPSo, 1998. 72
prego de sementes padronizadas por alcançado. Uma vez terminada a seca- p. (Embrapa Soja. Documentos, 116).
tamanho tem contribuído, em muito, gem, o teste de tetrazólio pode ser uti- KRZYZANOWSKI, F. C.; FRANÇA NETO, J. B.; COS-
para a melhor precisão de semeadura, lizado para se avaliar a qualidade fisio- TA, N. P. Teste do hipoclorito de sódio para
facilitando a obtenção de população de lógica das sementes. Nas etapas de be- semente de soja. Londrina: Embrapa Soja.
2004. 4 p. (Embrapa Soja. Circular Técnica, 27).
plantas adequada e distribuída unifor- neficiamento e embalagem, os testes de
KRZYZANOWSKI, F. C.; VIEIRA, R. D.; FRANÇA
memente. Se, após a semeadura, o solo tetrazólio e de hipoclorito de sódio po-
NETO, J. B. (Eds.). Vigor de sementes: concei-
estiver seco, muito úmido ou frio (tem- dem ser aplicados para a avaliação da tos e testes. Londrina: Abrates, 1999. 218 p.
peraturas abaixo de 18ºC), as sementes ocorrência de danos mecânicos e regu- MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de
se deteriorarão no solo. Nesses casos, lagem das máquinas. No armazenamen- plantas cultivadas. Piracicaba: Fealq, 2005.
a velocidade de germinação será redu- to, o teste de envelhecimento acelera- 495 p.
zida e a emergência de plântulas preju- do pode fornecer uma estimativa do MARCOS FILHO, J. Teste de envelhecimento ace-
lerado. In: KRZYZANOWSKI, F. C.; VIEIRA, R.
dicadas, uma vez que as sementes esta- potencial de armazenamento dos lotes
D.; FRANÇA NETO, J. B. (Eds.). Vigor de se-
rão expostas à ação deletéria dos fungos de semente. Especialmente em regiões mentes: conceitos e testes. Londrina: Abra-
de solo. O tratamento com fungicidas quentes e úmidas, o grau de umidade tes, 1999. cap. 3, p. 1-24.
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