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A OBTENÇÃO DE MATÉRIA PELOS SERES HETEROTRÓFICOS

1. A OBTENÇÃO DE MATÉRIA PELOS SERES HETEROTRÓFICOS


Dependendo da forma como os seres vivos obtêm a energia química de que necessitam
para sobreviver, são classificados em duas classes distintas:

▪ Seres autotróficos: seres que conseguem sintetizar a sua própria matéria


orgânica a partir de matéria inorgânica, utilizando uma fonte de energia
externa, pelo processo de fotossíntese. São exemplos as plantas, as algas e
algumas bactérias.
▪ Seres heterotróficos: seres vivos que apenas conseguem sintetizar a sua
matéria orgânica a partir de outra matéria orgânica que lhe é fornecida pelo
meio ambiente. São, portanto, dependentes da matéria orgânica produzida
pelos seres autotróficos.

1.1 PERMUTA DE MATÉRIA ENTRE AS CÉLULAS E O MEIO: ULTRA-ESTRUTURA DA


MEMBRANA CELULAR
Como já foi referido, as células possuem uma membrana plasmática ou celular, que:

▪ Delimita exteriormente a célula


▪ Mantém a integridade celular
▪ Cria uma barreira seletiva que assegura uma superfície de troca de
substâncias, de energia e de informação entre o meio intracelular e
extracelular.

Do ponto de vista químico, as membranas são complexas lipoproteicos, podendo


também conter glícidos. Os fosfolípidos são os principais lípidos que fazem parte da
membrana. Tanto os glicolípidos como os fosfolípidos possuem uma extremidade polar,
hidrofílica, e uma extremidade apolar, hidrofóbica. Também as proteínas membranares
possuem zonas hidrofóbicas e zonas hidrofílicas.

O estudo da membrana plasmática foi evoluindo graças ao trabalho de vários cientistas


e à evolução tecnológica. Existem dois modelos que tentam explicar a estrutura da
membrana celular:
▪ “Modelo de Sanduíche”, de Danielli e Davson (1952)
Atendendo ao comportamento dos fosfolípidos na presença de água, este modelo
defendia a existência de uma bicamada fosfolipídica que garantia que as cadeias
hidrofóbicas ficassem estabilizadas, voltadas para o interior da bicamada, enquanto as
proteínas se ligavam às extremidades hidrofílicas dos lípidos, revestindo a bicamada
interne e externamente. Ao longo da bicamada existiriam interrupções, rodeadas por
proteínas, que formariam passagens nas quais poderiam circular os iões e as substâncias
polares. Por outro lado, as substâncias não polares entrariam diretamente,
atravessando a bicamada.

▪ “Modelo de mosaico fluido”, de Singer e Nicholson (1972)


É o modelo atualmente aceite. Este também considera a existência de uma bicamada
fosfolipídica na qual as proteínas podem estar inseridas (proteínas intrínsecas), ou à
superfície da membrana plasmática na face interna ou externa (proteínas extrínsecas ou
periféricas), lembrando um mosaico fluido. Os glícidos encontram-se à superfície da
membrana ligados a lípidos (glicolípidos) ou a proteínas (glicoproteínas).

As membranas não são estáticas, apresentando tanto os fosfolípidos como as proteínas


movimentos. No caso dos fosfolípidos, estes apresentam mobilidade lateral.

A membrana celular possui permeabilidade seletiva, isto é, permite a passagem


facilitada de certas substâncias, dificultando ou impedindo a passagem de outras. Os
processos através dos quais as substâncias atravessam as membranas biológicas são de
dois tipos distintos:
▪ Processos passivos – não implicam dispêndio de energia e incluem:

o Difusão Simples: as partículas deslocam-se de zonas onde a sua


concentração é maior para zonas onde esta é menor
(movimentação a favor do gradiente de concentração), até se
atingir uma distribuição uniforme dessas partículas. A
velocidade de movimentação do soluto é diretamente
proporcional à diferença de concentração entre os meios
intracelular e extracelular.
o Difusão Facilitada: as substâncias atravessam a membrana a
favor do gradiente de concentração, ou seja, da região onde se
encontra a maior concentração de soluto para a região de
menor concentração; A velocidade do processo é superior se
comprada à difusão simples, pois neste caso o transporte é
mediado por permeases às quais as substâncias a transportar se
ligam, sendo o processo constituído por três fases:
1. Combinação da molécula ou substância
a transportar com a permease, na face
externa da membrana;
2. Alteração da conformação da
permease para permitir a passagem da
molécula através da membrana e
separação da permease;
3. Retoma da forma inicial da permease.

o Osmose: refere-se à movimentação da água através de uma


membrana semipermeável (permeável ao solvente – a água – e
impermeável aos solutos), de um meio hipotónico (meio de
menor concentração de soluto e mais moléculas de água) para
um meio hipertónico (meio de maior concentração de soluto e
menos moléculas de água). Este processo depende,
exclusivamente, das concentrações do soluto nas duas
soluções. Quando os dois meios se tornam isotónicos, isto é,
quando os dois meios atingem iguais concentrações de soluto,
o movimento da água passa a ser idêntico nos dois sentidos.

Devido às diferenças morfológicas entre as células animais e vegetais, estas apresentam


diferentes comportamentos.

Desta forma, quando uma célula vegetal se encontra mergulhada numa solução
hipotónica, vai absorvendo água – por osmose – até atingir o estado de equilíbrio,
ficando túrgida. Nesta situação o vacúolo aumenta e empurra o citoplasma contra a
parede celular O conteúdo celular exerce pressão de turgescência, mas esta é
contrabalançada pela resistência oferecida pela parede celular. Por outro lado, quando
uma célula vegetal é mergulhada numa solução hipertónica perde água, o citoplasma
contrai-se parcialmente e fica preso à parede celular apenas por alguns filamentos,
denominados por filamentos de Hetch. Neste caso a célula se
encontrasse plasmolisadas.
No caso das células animais, uma vez que não possuem parede celular, ao serem
mergulhadas numa solução hipotónica, pode ocorrer a sua lise devido ao aumento do
volume celular, ficando também plasmolisadas, ao serem mergulhadas num meio
hipertónico.

▪ Processos ativos: implicam dispêndio de energia e há intervenção de


proteínas transportadoras. Ocorrem em situações biológicas em que iões ou
moléculas necessitam de ser transportados, através da membrana, de
regiões onde se encontram menos concentrados para regiões onde se
encontram mais concentrados, ou seja, contra o gradiente de concentração.
▪ Transporte ativo, bomba de Sódio e Potássio: é um complexo
enzimático membranar que se pode encontrar em
praticamente todas as células animais. Esta enzima (ATPase)
requere energia, sob a forma de ATP, e movimenta em sentidos
opostos iões Sódio (Na+) e iões Potássio (K+), saem 3 iões de
Sódio e entram 2 iões de potássio, através da membrana.
▪ Transporte em grande quantidade (permite o movimento de
macromoléculas, partículas com maiores dimensões, ou mesmo
pequenas células entre o interior e o exterior da célula):
▪ Endocitose: transporte em que há inclusão de
material por invaginação da membrana plasmática,
formando-se uma vesícula endocítica. Esta pode
designar-se fagocitose, quando a célula emite
pseudópodes (“falsos-pés”), que envolvem
partículas sólidas e as incluem em vesículas
fagocíticas, ou pinocitose que é um processo
semelhante, mas envolve a inclusão de fluidos
através da invaginação da membrana, seguida da
formação de vesículas pinocíticas no interior da
célula.
▪ Exocitose: é o processo inverso da endocitose.

1.2 INGESTÃO, DIGESTÃO E ABSORÇÃO


Para que os alimentos ingeridos pelos seres heterotróficos possam ser utilizados a nível
celular têm que, primeiramente, passar por vários processos, como:

▪ Ingestão – introdução dos alimentos no organismo;


▪ Digestão – processo que consiste na transformação e simplificação de
moléculas complexas constituintes dos alimentos, em moléculas mais
simples, através de reações de hidrólise catalisadas por enzimas (moléculas
de natureza proteica), de forma a poderem ser utilizadas e integradas no
organismo;
▪ Absorção – consiste na passagem das substâncias resultantes da digestão
para o meio interno.

A digestão pode ocorrer no interior das células – digestão intracelular – ou fora das
células – digestão extracelular – em cavidades ou em órgãos especializados.
▪ Digestão intracelular
▪ Os organelos de complexo de Golgi, lisossomas e retículo
endoplasmático, estão diretamente envolvidos na digestão
intracelular. Esta ocorre após as partículas alimentares serem
interiorizadas na célula, pelo processo de endocitose,
formando-se vesículas endocíticas. A nível do retículo
endoplasmático, formam-se proteínas enzimáticas que são
incorporadas em vesículas, como os lisossomas, que as
transportam até ao complexo de Golgi. Aqui, estas fundem-se
com as vesículas endocíticas, formando um vacúolo digestivo,
onde ocorre a digestão intracelular. Os resíduos que se formam
neste processo são expulsos da célula por exocitose. Este tipo
de digestão é típico de seres eucarióticos unicelulares, como a
ameba ou a paramécia.
▪ Digestão extracelular
▪ Característica dos seres heterotróficos multicelulares, pode ser:
▪ Extracorporal: no caso dos cogumelos, estes,
através das suas hifas, libertam enzimas digestivas
sobre o substrato no qual se encontram, ocorrendo
a digestão extracorporal, seguida de absorção das
substâncias mais simples, também a nível das hifas.
▪ Intracorporal (maioria dos animais). Esta última
ocorre em tubos digestivos, mais ou menos
complexos, apresentando diferentes órgãos
especializados. O tubo digestivo pode
ser incompleto, se apresentar uma única abertura,
ou completo, no caso de apresentar duas
aberturas: a boca e o ânus.

Vantagens de um tubo digestivo completo:


▪ Como os alimentos se deslocam num único sentido, a digestão e a absorção
são sequenciais ao longo do tubo, o que se traduz num aproveitamento
muito mais eficaz.
▪ A digestão pode ocorrer em diferentes órgãos, permitindo aos alimentos
estarem sujeitos a tratamento mecânico e à ação de diferentes enzimas.
▪ A absorção é mais eficiente.
▪ Os resíduos não digeridos acumulam-se durante algum tempo, sendo
depois expulsos através do ânus.

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