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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-ROT-289-58.2020.5.09.0000
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A C Ó R D Ã O
(SDI-2)
GMDMA/FMG/GN
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recorrente postula a extinção do feito
sem resolução do mérito ao argumento de
que a ação rescisória encontra óbice na
Súmula 403, II, do TST, a qual veda a
invocação do art. 485, III, primeira
parte, do CPC de 1973 (dolo da parte
vencedora em detrimento da vencida)
como fundamento do pedido de
desconstituição de decisão
homologatória de acordo. 3.2 - A
incidência da diretriz sufragada na
Súmula 403, II, do TST constitui questão
que deve ser analisada no mérito da ação
rescisória, sendo certo que eventual
aplicação de seus termos ao caso
concreto acarreta a improcedência do
pedido, e não a extinção do processo sem
julgamento do mérito. Recurso ordinário
conhecido e não provido.
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5 – PREJUDICIAL DE MÉRITO. RUMO MALHA
SUL S.A. HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO. MARCO
INICIAL DA CONTAGEM DO PRAZO
DECADENCIAL. CIÊNCIA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO ACERCA DA SUPOSTA
FRAUDE/COLUSÃO. PRAZO DO ART. 495 DO CPC
DE 1973 ULTRAPASSADO. SÚMULA 100, IV, DO
TST. 5.1 – Ressalvado entendimento
pessoal desta Relatora, adota-se o
posicionamento firmado pela maioria
desta SBDI-2 sobre a questão, no sentido
de que a contagem do prazo decadencial
para o Ministério Público do Trabalho
ajuizar ação rescisória visando
desconstituir acordos supostamente
fraudulentos realizados pela Rumo Malha
Sul S.A. teve início em 2/7/2013,
momento em que editado o memorando
TMA/008/2013 pela Procuradoria do
Trabalho do Município de Joinville – 12ª
Região, por meio do qual o Parquet
registrou notícia de irregularidade a
ele direcionada por advogado atuante da
região, informando a celebração de
acordos fraudulentos pela empresa. 5.2
- Assim, considerando que o ajuizamento
desta ação rescisória somente ocorreu
em 13/11/2015, revela-se impositivo o
reconhecimento da decadência do direito
de ação. Recurso ordinário conhecido e
provido. Processo extinto com resolução
do mérito, nos termos do art. 269, IV,
do CPC de 1973.
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O Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região julgou
procedente a pretensão desconstitutiva ajuizada pelo Ministério Público
do Trabalho.
A essa decisão, o autor opôs embargos de declaração,
aos quais foi dado parcial provimento, apenas para a prestação de
esclarecimentos.
Inconformada, a primeira ré Rumo Malha Sul S.A.
interpõe recurso ordinário.
Admitido o apelo, o Ministério Público do Trabalho
apresenta contrarrazões.
Desnecessária a remessa dos autos ao Ministério
Público do Trabalho.
É o relatório.
V O T O
1 – CONHECIMENTO
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Considerando o disposto no art. 282, § 2º, do CPC de
2015 (art. 249, § 2º, do CPC de 1973), no sentido de que o juiz não
pronunciará a nulidade quando puder decidir o mérito a favor da parte
a quem dela se beneficie, deixa-se de analisar a preliminar em apreço.
3 – MÉRITO
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direito fundamental ao titular do polo passivo ou se inviabiliza o provimento
final pretendido.
Na hipótese, a alegação apresentada na defesa, de que haveria inépcia
da petição inicial porque da narrativa dos fatos não decorreria conclusão
lógica, não se sustenta. É fácil perceber, pelas articulações feitas pelo MPT,
que ele pretende a rescisão da decisão homologatória porque a ação teria sido
engendrada pela ré em colusão com terceiros para frustrar direitos dos
trabalhadores, e assim, violar a lei.
Não se confirma, ainda, a alegação de que a petição inicial não
apresenta argumentação contraposta aos fundamentos expressos na decisão
rescindenda ou que da narrativa dos fatos não decorreria lógica conclusão.
Pelo que se deduz dos argumentos que seguem a partir do início da fl. 3, o
autor alegou que a decisão questionada mereceria rescisão com respaldo no
art. 485, HI e VIII, do CPC/1973, porque foi proferida em ação proposta no
intuito de fraudar disposições legais protetivas aos trabalhadores.
O pedido, por sua vez, é claro. Permite vislumbrar que, como juízo
rescindendo, o autor pretende invalidar a decisão proferida, e, como juízo
rescisório, a nulidade de todos os atos subsequentes e a extinção do processo
principal sem resolução de mérito. Não há inépcia na petição inicial a ser
pronunciada. Rejeita-se.
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e fundamentos jurídicos que embasaram a pretensão, permitindo aos réus
o amplo exercício do contraditório e da ampla defesa.
É de se destacar que eventual não subsunção dos fatos
narrados na petição inicial à hipótese do art. 485, III, do CPC de 1973
não acarreta a inépcia da ação rescisória, mas sim a improcedência, por
constituir questão de mérito da demanda.
NEGO PROVIMENTO ao recurso ordinário, no particular.
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firmados entre as partes. Por outro lado, o fundamento jurídico para ataque à
decisão rescindenda reside no veto do sistema jurídico à colusão das partes,
expressão empregada em sentido amplo, para fraudar a lei, ainda que tenha
se dado por meio de formal composição de litígio com homologação judicial,
questão objeto de ataque direto pelo MPT. A preliminar suscitada, de não
cabimento da ação rescisória, deve ser afastada. Rejeita-se.
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pacificado na Súmula 406 do TST (AÇÃO RESCISÓRIA.
LITISCONSÓRCIO. NECESSÁRIO NO PÓLO PASSIVO E
FACULTATIVO NO ATIVO. INEXISTENTE QUANTO AOS
SUBSTITUÍDOS PELO SINDICATO. 1 - O litisconsórcio, na ação
rescisória, é necessário em relação ao polo passivo da demanda, porque
supõe uma comunidade de direitos ou de obrigações que não admite solução
dispar para os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto. Já em
relação ao polo ativo, o litisconsórcio é facultativo, uma vez que a
aglutinação de autores se faz por conveniência e não pela necessidade
decorrente da natureza do litígio, pois não se pode condicionar o exercício do
direito individual de um dos litigantes no processo originário à anuência dos
demais para retomar a lide. II - O Sindicato, substituto processual e autor da
reclamação trabalhista, em cujos autos fora proferida a decisão rescindenda,
possui legitimidade para figurar como réu na ação rescisória, sendo
descabida a exigência de citação de todos os empregados substituídos,
porquanto inexistente litisconsórcio passivo necessário.). Por consequência,
o entendimento pacificado na Súmula não se aplica à situação em exame.
De qualquer forma, integraram o polo passivo desta ação os dois
titulares da ação principal. Quanto a essa formação litisconsorcial, nada há a
prover pois, conforme narrativa do MPT, foram as partes que se
consorciaram para fraudar a lei, o autor daquela ação, pelo que se deduz do
contexto, por mau patrocínio pelos seus advogados.
Quanto aos demais indicados na petição inicial ou defesa, após a
decisão sobre a limitação litisconsorcial, o MPT, nas razões finais, renovou
seu pedido de inclusão dos advogados que formalmente patrocinaram aquela
ação em nome do autor.
A ALL, ao longo do procedimento, renovou sua preliminar de inépcia
da petição inicial porque não teria sido pedida a integração do sindicato
profissional no polo passivo.
O CPC de 1973, aplicável a situação, previa que o litisconsórcio seria
impositivo ou necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da
relação jurídica, o juiz tivesse que decidir a lide de modo uniforme para todas
as partes, hipótese em que a eficácia da decisão final dependeria da citação
de todos os litisconsortes presentes. Por outro lado, o sistema jurídico prevê a
possibilidade de formação litisconsorcial de forma facultativa quando entre
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os litisconsortes houver comunhão de direitos ou de obrigações
relativamente à lide.
Enquanto que na primeira situação da formação litisconsorcial seria
coativa, na segunda, como o próprio nome está a indicar, a formação
litisconsorcial seria uma faculdade outorgada à parte, assegurado ao
magistrado competente decidir pela limitação quanto ao número, quando
este comprometesse a rápida solução do litígio ou dificultasse a defesa (art.
46 e 47).
Na hipótese, em relação aos advogados que teriam formalmente
patrocinado a ação principal, a decisão, de forma estrita ou isolada, não tem
relevo e pouco ou nada repercutiria em suas esferas pessoais. Assim, não se
trata de litisconsórcio necessário, mas, quando muito, litisconsórcio
facultativo. Como não há risco de o provimento da ação rescisória gerar
repercussão de direitos comuns ou assunção de obrigações conjuntas,
decidiu-se pela limitação litisconsorcial. Os fundamentos daquela decisão
são aqui renovados como razão de decidir (fls. 1548/1550):
(...) 1. O Ministério Público do Trabalho ajuizou a presente
ação rescisória, com objetivo de desconstituir acordo firmado
entre Thiago José Narciso (Espolio de) e All América Latina
Logística Malha Sul S.A., nos autos da Ação Trabalhista
00609-2012-665-09-00-6. Além das partes envolvidas na ação
originária, também incluiu como réus Roberto Carlos Goldman e
Yara Ejczis Henriques Goldman, que atuaram como advogados
do trabalhador, credenciados pelo Sindicato dos Trabalhadores
em Empresas Ferroviárias nos Estados do Paraná e Santa
Catarina.
O pedido formulado pelo autor se funda no art. 485, III e
VIII, do CPC/1973 (Art. 485. A sentença de mérito, transitada
em julgado, pode ser rescindida quando: (...) III - resultar de dolo
da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de
colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; (...) VIII - houver
fundamento para invalidar confissão, desistência ou. A pretensão
é de rescisão da sentença transação, em que se baseou a sentença)
homologatória de acordo, com extinção do feito originário sem
resolução do mérito. Na petição inicial não se constata pedidos
direcionados especificamente aos advogados incluídos no polo
passivo da presente ação rescisória, mas apenas referência na
causa de pedir, de que teriam agido em conluio com a ré All
América Latina Logística Malha Sul S.A., diante da
circunstância de prestarem assessoria jurídica ao sindicato da
categoria profissional.
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Os réus Yara Ejczis Henriques Goldman e Roberto Carlos
Goldman arguiram em suas defesas que não são partes legitimas
para compor o polo passivo da presente ação rescisória. A
primeira argumentou que não realizou tratativas referentes às
ações trabalhistas propostas em face da All América Latina
Logística Malha Sul S.A., com a empresa ou seus procuradores,
tampouco participou das audiências que ocorreram na Vara do
Trabalho Irati. O segundo afirmou que "não pode integrar a lide
no polo passivo, haja vista, conforme robusta comprovação
acostada, os Reclamantes estavam assistidos pelo órgão
classista, com a precípua função de eximir qualquer vício de
vontade".
Este Colegiado adotou o posicionamento unânime de que é
possível a análise imediata da preliminar suscitada em defesa,
com intuito de evitar produção de provas desnecessárias,
especialmente depoimentos de partes e testemunhas, que não
contribuirão para a almejada celeridade processual. Passa-se,
portanto, ao exame da preliminar.
O conceito processual de legitimidade passiva foi
delineado por Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de
Direito Processual Civil. V. N 2º ed. São Paulo: Malheiros,
2002) nos termos que seguem:
"Legitimidade ad causam é qualidade para estar em juízo,
como demandante ou demandado, em relação a determinado
conflito trazido ao exame do juiz. Ela depende sempre de uma
necessária relação entre o sujeito e a causa e traduz-se na
relevância que o resultado desta virá a ter sobre sua esfera de
direitos, seja para favorecê-la ou para restringi-la.
Sempre que a procedência de uma demanda seja apta a
melhorar o patrimônio ou a vida do autor, ele será parte legítima;
sempre que ela for apta a atuar sobre a vida ou patrimônio do réu,
também esse será parte legítima. Daí conceituar-se essa condição
da ação como relação de legítima adequação entre o sujeito e a
causa."
Manoel Antônio Teixeira Filho explica, ainda, que
"legitimado, passivamente, para a ação rescisória é aquele que
integrou - como autor ou como réu - a relação processual
originadora da sentença rescindenda" (Curso de Direito
Processual do Trabalho Vol. III, São Paulo: LTr, 2009).
Na hipótese, os réus Yara Ejczis Henriques Goldman e
Roberto Carlos Goldman não integraram o polo ativo ou passivo
da ação originária.
Considerando que a presente ação tem por finalidade
apenas desconstituir a decisão homologatória do acordo firmado
na ação trabalhista e que não há qualquer pedido específico em
relação a eles, concluiu-se que não possuem legitimidade para
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figurar no polo passivo da presente ação rescisória, pois ausente
qualquer causa que justifique a existência de litisconsórcio
passivo necessário (art. 47 do CPC/1973 - art. 114 do
CPC/2015).
Essa conclusão, no entanto, de acordo com o entendimento
dos membros deste Colegiado, não impede a apuração dos fatos
alegados na petição inicial quanto a eventual participação dos
réus no alegado conluio e a tomada das providências cabíveis.
Por esses fundamentos, reconhece-se a ilegitimidade
passiva dos réus Yara Ejcezis Henriques Goldman e Roberto
Carlos Goldman e determina-se, sem prejuízos de outras
medidas, sua exclusão do polo passivo da lide. Declare-se, em
relação a eles, extinto o feito sem resolução do mérito, nos
termos dos art. 267, VI, do CPC/1973 (art. 485, VI, do
CPC/2015), e a retificação da autuação.
Prejudicada a análise das demais matérias e requerimentos
de defesa dos réus excluídos.
Especificamente quanto à inclusão do SINDIFER no polo passivo,
ainda que tenha atuado em alguma medida na prática considerada ilícita pelo
MPT e que justificaria o provimento rescisório da sentença homologatória,
não tendo sequer figurado entre os titulares dos polos da ação principal, não
há justificativa para sua integração à lide. A exemplo dos advogados Roberto
Carlos Goldman e Yara Ejczis Henriques Goldman, não será atingido
diretamente por eventual provimento do pedido formulado.
Evidente que a não integração ao polo passivo não inibe nem impede a
responsabilização civil do SINDIFER ou de sua diretoria por eventual
prejuízo decorrente de ilícito. Contudo, a matéria deve ser discutida perante o
juízo competente para analisar pedidos baseados em responsabilidade civil
por atos ilícitos.
Em resposta a argumentos apresentados a este juízo sob a forma de
exceções peremptórias, eventual provimento, respaldo legal ou tratamento
jurídico a ser atribuído aos fatos descritos, se a hipótese é ou não de colusão
entre partes ou outros enquadramentos legais, se superada a admissibilidade,
devem ser analisados no mérito.
Não cabe, por consequência, extinção sem resolução de mérito da
ação, mesmo considerados os entendimentos pacificados nas Súmulas 403
(AÇÃO RESCISÓRIA. DOLO DA PARTE VENCEDORA EM
DETRIMENTO DA VENCIDA. ART. 485, II, DO CPC. 1 - Não caracteriza
dolo processual, previsto no art. 485, III, do CPC, o simples fato de a parte
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vencedora haver silenciado a respeito de fatos contrários a ela, porque o
procedimento, por si só, não constitui ardil do qual resulte cerceamento de
defesa e, em consequência, desvie o juiz de uma sentença não-condizente
com a verdade. II - Se a decisão rescindenda é homologatória de acordo, não
há parte vencedora ou vencida, razão pela qual não é possível a sua
desconstituição calcada no inciso III do art. 485 do CPC (dolo da parte
vencedora em detrimento da vencida), pois constitui fundamento de
rescindibilidade que supõe solução jurisdicional para a lide.) e 406 do TST.
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Acerca da matéria, a Corte de origem assim se
manifestou:
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Quanto à contagem do prazo decadencial, não há razão plausível para
adotar, como termo inicial, a data da homologação do acordo. Por óbvio, o
MPT não o acompanhou. Tampouco a notícia de que o Parquet teve ciência
de potencial irregularidade havido em outro processo, ainda que tenham
alguma semelhança com o principal, pode ser considerada para esse fim.
Apesar de o ato rescindendo ter sido proferido fora do biênio que
antecedeu a propositura da ação, o que se deve considerar, na hipótese de
ação rescisória proposta pelo Ministério Público do Trabalho, é a data em
que realmente teve ciência da irregularidade que justificaria o pedido de
provimento rescisório.
A rescisão perseguida pelo Ministério Público do Trabalho só pode ser
obtida por meio da ação rescisória, como se encontra pacificado na Súmula
259 do TST (259 - TERMO DE CONCILIAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA. Só
por ação rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no
parágrafo único do art. 831 da CLT..). É nesse sentido o seguinte julgado:
(...)
Na hipótese, conforme indicam os documentos trazidos aos autos, o
MPT do Paraná somente teve ciência inequívoca das ações simuladas a partir
da solução de inquérito instaurado especificamente para apurar se teria
havido colusão e tentativa de fraude à legislação. O fato ocorreu dentro do
biênio que antecedeu a propositura da ação rescisória, em fins de novembro
de 2013, mais precisamente no dia 29, quando teve conhecimento dos fatos a
partir de notícia que ensejou o despacho que determinou a autuação da
notícia de fato NF – IC 001887.2013.09.000/1-026, e que, na sequência,
motivou a instauração do Procedimento Investigatório perante a
Procuradoria Regional do Trabalho da 9º Região.
O procedimento instaurado perante o MPT de Joinville, por outro lado,
não tinha como objeto investigar esse mesmo conjunto de ações trabalhistas
findas por meio de homologação de acordo pelo Juiz da Vara do Trabalho de
Irati, mas algumas que foram extintas sem resolução de mérito em face da
desistência por parte dos autores. Os dois procedimentos investigatórios
tiveram objetos substancialmente diversos, e assim, a data a ser considerada
para efeitos da contagem do biênio decadencial é novembro de 2013.
Destaca-se, ainda, que a emenda à petição inicial feita pelo MPT não
importou mudança substancial de causa de pedir, mas apenas esclarecimento
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de que pretendia enquadramento jurídico mais amplo aos fatos descritos.
Não interfere na contagem do prazo decadencial.
Não se sustenta o argumento de que a contagem do prazo teria início
em 02 de julho de 2013, data em que o MPT começou a realizar apreciação
prévia para fins de instauração do IC, pois a contagem do prazo deve ocorrer
a partir de ciência concreta, e não de referências abstratas e vagas quanto à
possibilidade de tentativa de fraude. Somente após o MPT apurar
minimamente dos fatos descritos é que pode considerar como o momento da
ciência, que justificaria ajuizar a ação rescisória. Nesse sentido tem se
posicionado este Colegiado, conforme decisão proferida nos autos
00659-2015-909-09-00-2 em que foi relatora a Desembargadora Thereza
Cristina Gosdal:
(...)
Rejeito.
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para o MPT ajuizar a demanda desconstitutiva seria o dia 15/7/2013, data
da Portaria 143 da Procuradoria do Trabalho no Município de Joinville
– 12ª Região, por meio da qual se instaurou inquérito civil para apuração
dos fatos ilícitos de que teve notícia. Assim concluí por reconhecer que
somente se poderia cogitar da efetiva ciência do Parquet acerca da fraude
a partir da instauração do referido procedimento administrativo, quando
reunidos elementos mínimos justificadores do início da apuração da
irregularidade noticiada.
Contudo, a maioria dos integrantes desta Subseção,
acompanhando o voto-vista proferido pelo Ministro Douglas Alencar
Rodrigues, decidiu que a ciência efetiva do MPT sobre a suposta fraude
ocorreu em 2/7/2013, momento em que editado o memorando TMA/008/2013 pela
Procuradoria do Trabalho do Município de Joinville – 12ª Região, por meio
do qual o Procurador do Trabalho Thiago Milanez Andraus registrou notícia
de irregularidade a ele direcionada pelo advogado Bráulio Renato Moreira,
informando a celebração de acordos fraudulentos pela ré. Eis os
fundamentos do julgado, publicado em 27/9/2019:
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Não por outra razão, confere a ordem jurídica poderes expressivos para
a promoção do inquérito civil e da ação civil pública, voltados à proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos
e coletivos (CF, art. 129, III, da CF), previsão também reprisada no art. 84, II,
da LC 75/1993 (instaurar inquérito civil e outros procedimentos
administrativos, sempre que cabíveis, para assegurar a observância dos
direitos sociais dos trabalhadores).
Conforme art. 8º da LC 75/1993, no rol de medidas legalmente
previstas para o exercício de suas atribuições, os membros do Ministério
Público podem, nos procedimentos de sua competência, entre outras
medidas:
I - notificar testemunhas e requisitar sua condução
coercitiva, no caso de ausência injustificada;
II - requisitar informações, exames, perícias e documentos
de autoridades da Administração Pública direta ou indireta;
(...)
IV - requisitar informações e documentos a entidades
privadas;
V - realizar inspeções e diligências investigatórias;
VI - ter livre acesso a qualquer local público ou privado,
respeitadas as normas constitucionais pertinentes à
inviolabilidade do domicílio;
VII - expedir notificações e intimações necessárias aos
procedimentos e inquéritos que instaurar;
VIII - ter acesso incondicional a qualquer banco de dados
de caráter público ou relativo a serviço de relevância pública.
Portanto, cuidando-se de instituição dotada de amplos poderes e
plenamente habilitada e qualificada ao exercício de suas atribuições, a
inércia havida na propositura da presente ação rescisória não parece mesmo
justificável.
Como foi acima pontuado, a denúncia de diversos acordos simulados
promovidos pela empresa Ré foi levada ao Parquet em 2/7/2013, resultando
na Apreciação Prévia - Instauração de Inquérito Civil – datada de 11/7/2013,
com expedição de ofício para obtenção de informações junto à Secretaria da
Vara do Trabalho.
Ora, essa só providência já demonstrava que o Ministério Público do
Trabalho deu início às apurações, tanto que solicitou, no ofício expedido, o
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envio da relação (com número dos autos) das reclamatórias trabalhistas
ajuizadas em face das empresas.
Não há notícias nos autos acerca das razões que levaram o Ministério
Público do Trabalho a não adotar providências outras, além da mera
expedição de ofícios, especialmente diante dos importantes e necessários
poderes conferidos em lei aos membros do MPT (art. 8º da LC 75/1993).
Ainda que se possa afirmar, não sem razão, que as informações
solicitadas fossem relevantes para que o Ministério Público pudesse avaliar a
existência de indícios de fraude, como condição prévia para a propositura da
ação rescisória, é fato inegável que a notícia da fraude já havia chegado, de
modo claro e inequívoco, a seus domínios institucionais, do que resultava a
necessidade de diligência efetiva nas apurações, para efeito de atendimento
do prazo decadencial previsto em lei.
Ademais, não há sentido lógico ou jurídico em reservar ao membro do
Parquet a prerrogativa de definir o instante inicial do marco decadencial,
legalmente previsto a partir do momento em que a ação rescisória poderia ser
proposta.
Afinal, a necessidade de adoção de medidas prévias de apuração, no
âmbito de eventual inquérito civil público, há de ser suprida dentro do biênio
previsto em lei, tal como ocorre em relação a qualquer litigante ou terceiro
juridicamente interessado no desfazimento da coisa julgada. De fato, parece
plenamente possível, em dois anos, a reunião dos elementos mínimos de
convicção necessários ao juízo inicial de conveniência, oportunidade ou
mesmo necessidade de acionamento do Poder Judiciário, sem prejuízo,
ainda, da própria possibilidade de produção de provas no curso da ação
rescisória.
Sob outro aspecto, parece conveniente registrar, com a reverência
devida, a necessidade de edição de norma interna no âmbito do Ministério
Público do Trabalho, com o propósito de uniformizar procedimentos
destinados ao processamento de denúncias de ilegalidades potenciais que
possam ensejar a profilática ação daquele órgão, evitando-se situações de
aparente dubiedade a propósito do instante inicial do marco decadencial da
ação rescisória.
Daí porque, no caso dos autos, verificada a comunicação da suposta
ilegalidade ao Parquet, as informações subsequentes novamente levadas ao
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seu conhecimento por advogada determinada -- com os números de
processos, valores acordados, número provável de trabalhadores atingidos e
a origem das procurações utilizadas -- apenas representava elemento fático
adicional a ser considerado, jamais se prestando, com a devida vênia, para
postergar o marco inicial do prazo decadencial.
Posta nesses termos a questão, com a notícia da fraude recebida em
2/7/2013, a presente ação rescisória apenas poderia ser proposta até
2/7/2015.
Aforada apenas em 13/09/2015, manifesta a configuração da
decadência.
ISTO POSTO
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ACORDAM os Ministros da Subseção II Especializada em
Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade,
conhecer do recurso ordinário da primeira ré, Rumo Malha Sul S.A., e,
no mérito, por unanimidade, dar-lhe provimento para pronunciar a
decadência e julgar extinto o feito, com resolução do mérito, nos termos
do art. 269, IV, do CPC de 1973, ficando prejudicada a análise dos temas
recursais subsequentes. Custas em reversão a cargo do autor, Ministério
Público do Trabalho da 9ª Região, de cujo recolhimento fica dispensado,
nos termos do art. 790-A, II, da CLT. Indevida a condenação do Ministério
Público do Trabalho em honorários advocatícios.
Brasília, 15 de dezembro de 2020.
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