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A C O M PREEN SÃ O V/ETO-TESTAMENTÁRIA

DE HISTÓRIA’)
Dr, Eberhard v. W aldow

É singular que, em tôda a Bíblia, não encontram os nenhum


têrm o p ara isto que cham am os de H istória. M as seria totalm ente
errôneo qu erer afirm a r a p a rtir daí, que a Bíblia não tem n a d a a
ve.r com H istória, que aqui se tra ta apenas de Religião, de D eus ou
de um a idéia de D eus. O fato é exatam ente o oposto. O lhem os
p ara o V elh o T estam ento! A qui quase todos os livros têm relação
com H istória. O u é contado o que aconteceu; assim o co rre desde
G ênesis até o livro de E ster. O u a H istó ria contem porânea é in te r­
p re ta d a e daí deduzida a H istó ria do futuro; assim ocorre nos livros
dos profetas.
Q uem , pois, não se der um a vez o trab alh o de ler como um
todo êstes livros do V elho T estam ento, te rá inicialm ente a im pressão
de que está dian te de um a porção de histórias. Assim, nós falajmos,
p. e.x., da h istó ria da criação, da história d a tô rre de Babel, d a his­
tó ria do sacrifício de Isaque' etc., etc. M as enq u an to lerm os ap en as
estas histórias isoladas, nunca entenderem os o V elho T estam en to . E s­
tas h istórias isoladas são ape.nas p artes de um todo m aior, p arte s de
um a exposição histórica contínua. São como pérolas enfileiradas num
fio e exatam ente êste fio é a exposição da H istória que o povo de
Israel viveu.
A penas êste reconhecim ento nos d á o direito de in d ag ar da
questão sôbre a com preensão v eto -testam en tária de H istória. E êle
tam bém nos dá a possibilidade de resp o n d er a esta questão, em bora
de certa m aneira o V elho T estam en to teórica e fundam entalm ente
n ad a diga sôbre, H istó ria e nunca seja usado um vocábulo p ara H is­
tória.
M as an tes de exam inarm os as fontes v eto -testam en tárias a re s­
peito da sua com preensão d e H istória, farem os bem em to rn a r claro
a nós mesm os o que entendem os sob os conceitos de H istó ria e H is­
to riografia. Com o já dem os a entender, o relato de fatos e aco n teci­
m entos isolados, ainda não é h istoriografia. Isto se pode fazer sem
jam ais ter refletido sôbre H istória. U m a com preensão de H istória
só existe onde o h isto riad o r re la ta m ais acontecim entos em seqüência
cronológica e com isto os relaciona en tre si, condiciona um ao outro;
quando eu p erg u n to como e por quê tud.o pôde aco n tecer d esta m aneira;

1) Palestra proferida a 2 de julho de 1963, perante a C asa do Estudante E vangélico


do Rio Grande do Sul. Para a tradução para o português agradeço ao acadêm ico
W a ld ir Bem dt, do Seminário T eo ló g ico Presbiteriano dê Campinas.

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quando eu p ergunto pela força propulsora ou pelo au to r de todo o
acontecido e pela idéia que. dom ina tudo. P a ra nós é in teressan te cons­
ta ta r que tal com preensão e' exposição de H istórias só exista muito
raram en te n a antiguidade. D e modo geral nós só conhecem os um povo
no O rien te A ntigo, que pôde escrever H istória neste sentido e. êste foi
o povo de Israel. E suas exposições históricas estão no nosso V elho
T estam en to . O u tro s povos, tais como o egípcio, o sum ério, o babilônio
ou o assírio, cuja significação histórico-cultural é muito m aior que a de
Israel, não estavam em condições de expor H istória. Êles nunca foram
além de crônicas sêcas e sem espírito.
Israel e com êle a sua lite ratu ra ap resen tad a no Ve.lho T es-
tanjento, tomam, portanto, uma posição p rivilegiada no O rien te A n-
tigp. .E .e sta posição p rivilegiada não só nos autoriza, como nos obriga
mesmo a p erg u n ta r pela com preensão de H istó ria de Israel e pela
razão p a ra esta posição privilegiada.
' A g o ra a nossa prime.'ra pergunta d ev erá ser: A p a rtir de que
épôca escrêveú-sè H istória em Israel? A s prim eiras ten tativ as de uma
h 'sfo rio g rafia v eto -testam en tária têm origem no tem po dos prim eiros
re.-s,, D avi e Salom ão (cêrca de 1.000-930 a.C .).' Isto é relativam ente
tard e, pois Israel Vivelí H istó ria muito antes. P o r isto se disse' que
só no tem po de D avi e Salom ão Israel teve a m aturidade intelectual
necessária p a ra a visão conjunta da H istória. N atu ralm en te isto é
m uito difícil de averiguar. Assim se to rn a necessário m encionar uma
outra" i'azâo: o interesse por um a historiografia só pôde n ascer quando
Israel mesmo pôde in terv ir ativam ente na H istó ria de seu meio de
m aneira form adora e determ in an te.' M as isto só pôde acontecer qu an ­
do as tribos israelitas sé tinham organizado em E stad o ,’ i.é, era n e­
cessário que houvesse um rei com o qual os reis dos povos vizinhos
tivessem que contar. M as isto só aconteceu — salvo no curto in te r­
valo do reinado de Saul — a p a rtir de D avi (1.000-960).
Ne.sta época têm origem os prim órdios de um a historiografia.
N aquele tem po, por determ inação dos reis ■ — de m odo análogo com
o exemplo de cu tra s côrtes reais ■ — surgiram D iários e C rônicas.
Èlcs reg istravam acontc.cim entós notáveis, tais como guerras, cons­
truções e fatos sem elhantes. M as isto ainda não é historiografia.
E sta — como vim os — tam bém nasceu então, m as singularm ente' não
como determ inação governam ental na côrte. do rei, m as nasceu an ô ­
nima, algures entre o povo. A s m ais v elhas destas h istoriografias
são « À H istó ria da A scensão de D avi»: 1" Sam. 16:14 —■ 29 Sam.
5:25; e a« H istória da sucessão de D avi»: 2" Sam. 7:9 a té Cap. 20 e
1- Reis 1 e 2. O conjunto da H istó ria da época dos reis foi exposto
na assim cham ada obra histórica do deuteronom ista, D euteronôm io -—
2" Reis. F inalm ente o trecho mais longo é ab ran g id o na assim c h a ­
m ada obra histórica do cronista, de A dão até a época do autor, por
volta de 450 a.C ., 1? C rônicas — N eem ias. Q uem quer se ocupar com
a com preensão de H istó ria de Israel, precisa, portanto, p a rtir prim à-
riam ente destas obras históricas. A inda assim isto não d aria um
q uadro com pleto. A idéia principal da com preensão veto -testam en tária
de H istó ria expressa-se muito m ais no assim cham ado P entateuco,
G ênesis — D euteronôm io. A qui igualm ente se n a rra , como sê: se tra -

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tasse de H istó ria e o israelita tam bém nunca entendeu o íé ftta te u c o
de o u tra m aneira, do que como um a exposição da p ré -H istó ríà e dos
prim órdios d a H istória de Israel. Se bem que' isto ainda' não seja 3hiMi
to rio g rafia no nosso sentido, pois aqui se tra ta principalm ente dir' cfóle-
ções de tradições originalm ente sacras e religiosas, m as que então fo­
ram com piladas sob um ponto de vista histórico-teológico bem defiítido.
Ê ste processo já permite, reconhecer que no- V elho T estâm entoÿ'-âté
em tô d a a Bíblia, a significação de H istó ria está intim am ente ligada
com a teologia. Assim, tendo em vista a Bíblia, nós podem os falar di­
retam ente de. um a teologia da H istó ria. - ; '
Finalm ente, p a ra as questões a respeito de Hiístdria, também--sãô
im portantes os livros dos profetas. Aqui, é v erd ad e, ísó muito- excep­
cionalm ente encontram os exposição de fatos históricos,- rrias os livtfos
dos p ro fetas estão cheios de significação da H istória. Além* díSso êles
tam bém ain d a são im portantes porquê tam bém em pregam a com preen­
são de H istó ria dos israelitas p a ra a H istó ria fu tu ra r
A g o ra vam os considerar sucessivam ente êstes três grupos de
livros do V elh o T estam ento, p a ra nêles esclarecer m ais «ie perto- o
pensam ento de H istó ria veto-testam entário. Em cada üm d ê s te s : três
grupos se distinguem , de m aneira especialm ente «Iara, alguns traços
básicos.

1. O Pentateuco

Logo no comêço da história d a criação aparece o que cham a­


mos de tempo. Em meio às trev a s existentes D eus -’cftia a lue. E a
altern ação de luz e trev as, d.è dia e noite, que ag o rá começa, é o
tem po. Ê ste decurso D eus pôs em m ovim ento, p o rtan to êle é o Se­
n h o r do tem po. M as é singular que a expressão* « tem p o » 'n ão apareça
neste lugar. B àsicam ente nem existe em hebraico uift conceito Jferá
«tempo», que co rresponda à nossa noção. P a ra nós téihpb- é âlgò
absoluto e que precede a tódo acontecim ento? O tefôpo só Se tòrnh
concreto quando é preenchido com acontecim entos, com Hííátófia.3 A s­
sim o tem po é p a ra nós um form ulário infinitam ente longo è ^Váiziô;
no qual nós tem os que inscrever os acontecim entos da H istófia. O
V elho T estam en to não conhece êste cohceito ab stfato ; vazfõ, do
tem po. A qui só existe tem po «preenchido», tém pô qualificado. - O
israelita só pode pen sar em categorias de «tempo», quando algo
aconteceu. Ê ste aco n te cer no m undo D eus pôs em m ovim ento pela
criação. Com isto D eus é o S enhor d a H istória. Assim, p à ra o crer
bíblico, D eus não é só o criador, por te r criado o m undo, m as êle
perm anece sem pre o criador, porque constan tem eike faz algo acon­
tecer nêle. "
P orém êste acontecim ento causado p o r D eus não o co rre a rb i­
tràriam en te, m as tudo acontece segundo uma ordem bem determ inada.
P rim àriam ente esta ordem se to rn a visível de' nfáneira m uito simples
n as festas, que rep etidam ente interrom pem , como pontos culm inantes,
o curso do ano. E n tre òutros povos do O rie n te A n tig o 1 èrâm estas
festas d eterm inadas pelo ano n a tu ra l e estavam relacionadas com se­
m enteira e ceifa. Em ïsra e l elas significativam ente já tinham recebido
muito cêdo outro conteúdo. A qui se tra ta v a sem pre de acontecim en­
tos p assados n a H istória, que algum a vez D eus fizera suceder a Is­
rael. Assim se com em orava a festa d a P áscoa reco rd an d o a saída do
E gito. T am bém n a festa dos tabernáculos, no fim do ano, com em o­
ra v a -se o acontecim ento da libertação de Israel do E gito por Deus.
H a v ia tam bém a festa do P acto, na qual se com em orava o P acto do
Sinai, ou h avia um a festa da Posse da terra, n a qual se ag rad ecia a
D eus p or êle' hav er dado a Israel a te rra de C an aã. N e sta s festas
não se tra ta v a a p e n a s de um a com em oração piedosa, de rem em oração,
de p ro teg er do esquecim ento um p assado grandioso — como nos
nossos d.ias com em orativos. Em Israel isto era bem diferente. De
modo que na festa da P áscoa se vestiam trajes de viagem , como
foram, usados pelo antigo Israel na prim eira P áscoa, pouco antes da
saída do E g ito .. D esta m aneira a com unidade reu n id a p a ra a festa
se tran sferia de volta p a ra a situação do Êxodo, êle? era quase que re ­
vivido. Com isto to rn av a -se a experim entar a g r a n d e . e' fundam ental
ob ra de salvação de D eus. A gora se estav a d iretam en te sob a mão
deste. Deus,- que podia realizar atos poderosos p a ra seu povo e,
em tô d as as situações do ano seguinte, Isra el po d eria confiar n a ajuda
de D eus. Igualm ente se to rn a v a p resen te tam bém a realização do
P acto do Sinai ou a doação d a te.rra de C anaã. D esta m aneira Javé
anualm ente re n o v av a com êle o P acto do Sinai e anualm ente Israel
recebia de nôvo a te rra n a qual habitava.

H av ia, portan to , prim ordialm ente três acontecim entos no p as­


sado histórico do povo de Israel, nos quais de m aneira especial e fun-
dam èntal D eus tinha encontrado o povo de Israel, e dêle se aproxi­
m ado com um a d ád iv a da graça: a libertação do E gito, o P acto em
Sinai e a P osse da terra. E n tão se deu em Israel, e po d er-se-ia dizer
que os teólogos israelitas o deram , um passo im portante, que' mal
pode ser superestim ado em sua significação. E stas trê s prim itivas tr a ­
dições de fé, m uito possivelm ente transm itidas p o r diferentes tribos
de IsraeJ, foram co ordenadas com um a série de acontecim entos de
m aneira que surgiu um a linha histórica, com eçando com o êxodo e
term inando com a posse d a terra. E sta linha histórica era um a H is­
tó ria da S alvação, que, pela m aneira como se iniciavam as três g ra n ­
des festas anuais, se desenvolvia até o presente, pràticam en te sem
quebra. E sta H istó ria da S alvação foi exposta de m aneira form al em
a n tig a s confissões, p. ex. D eut. 25:5 s.:

«Um sírio e rra n te foi meu pai e desceu ao E gito e ali foi es­
tran g eiro com pouca gente; porém ali cresceu até v ir a ser
n ação grande, poderosa e num erosa. M as os egípcios nos m al­
tra ta ra m e nos oprim iram e sôbre nós puseram um a d u ra se r­
vidão. E n tão clam am os ao S enhor D eus de nossos pais e o
S en h o r ouviu a nossa voz e atentou p a ra a nossa m iséria e p ara
a nossia fadiga e p ara a nossa opressão; e o S enhor nos tirou
do E gito com m ão forte e com braço estendido e com g ran d e
esp an to e com sinais e com m ilagres; e nos tro u x e a êste lu g ar
e nos deu esta terra, te rra q u e m ana leite' e mel. E eis que
a g o ra e.u trag o as prim ícias dos frutos das terras que tu, ó
S enhor, me deste».

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É bem v erd ad e que aqui ainda falta a m enção do P acto no
Sinai, m as posteriorm ente êste acontecim ento tam bém foi incorporado.
E stas confissões an tigas são o cerne do atual P entateuco, no qual a
H istó ria d.a S alvação nos tem pos prim itivos de Israel é ag o ra aprer
se n ta d a em n arraçõ es m inuciosas. E stas m inuciosas n arraç õ es isola­
d as eram im portantes p a ra Israel, pois era necessário sab er em m inú­
cias o que h avia acontecido nestes eventos fundam entais da. salvação,
o-s quais anualm ente eram sem pre de nôvo festejados d a m aneira
acim a descrita.
A gora, p ara identificação da com preensão d e H istó ria do Is­
rael antigo, nós podem os a g ru p a r as seguintes afirm ações:
1. Israel cria que a H istória, v iv id a no passado e constantem ente
rev iv id a no p resente, é um a H istó ria que seu D eus Javé realiza e
faz acontecer.
2. N o d ec o rre r d esta H istória, que é identificada por três aconteci­
m entos salvíficos básicos .— êxodo do E gito, pactO' firm ado no
Sinai e posse da te rra .— Israel reconhece que seu D eus quer a
salvação e o bem estar de seu povo; é um a H istó ria d a Salvação.
3. N e sta H istó ria d a S alvação, como ela tinha ocorrido no passado,
o Israel do presente sem pre se in co rp o ra de nôvo, quando no d e ­
co rrer do ano regularm ente festeja suas g randes festas cúlticas.
4 . D esta m aneira, n a religião do V elho T estam ento, n ã o se tra ta
ide q u alquer idéia a b stra ta de Deus, m as de um D eus vivo, que,
na H istó ria que êle mesmo fo rm a/ m ostra quem êle é e o que êle
qu er p a ra o seu povo.
A inda podem os com pletar estas q u atro afirm ações,' se ag o ra
olharm os p a ra a ob ra h istórica do deüteronom ista.

2. A obra histórica do deüteronomista

N e sta o b ra volum osa a H istó ria de Israel é exposta desde a


realização do pacto no Sinai até a destruição de Jerusalém no ano
587 a.C . N esta exposição aparecem dois pontos característicos:
P rim eiro se tra ta da p ergunta: Como dirige D eus a H istória?
i.é, que faz D eus p a ra g erar os acontecim entos? A resposta que d ev e­
mos d ar aqui é simples: D eus dirige a H istó ria pela sua p alav ra. Assim
tô d a a exposição d a H istó ria dos reis d e Israel é entrem eada d e p a la ­
v ra s de pro fetas e seu cum prim ento, p.ex. 2° Sam . 7:12-13: a d in astia
de D avi deve ocupar p a ra sem pre o tro n o em Jerusalém e o filho
de. D avi deve co n struir em Jerusalém um tem plo p a ra Javé ■ — C um ­
prim ento em l 9 Reis 8:2, onde se' diz: «Javé confirm ou a p a la v ra que
tinha dito», Salom ão tinha subido ao trono e construído o tem plo:
P rofecia: l 9 Reis 11:29ss.: um p rofeta diz que, por te r Salom ão a b a n ­
d o nado Javé e ad o rad o a ídolos, o seu reino s e d esin teg ra ria e seria
dividido em duas p arte s ■ — C um prim ento: l 9 Reis 12:15: sob o filho
de Salom ão o reino se d esin teg ra em duas p artes, Judá e o R eino
do N o rte. P oderíam os ap re se n ta r ainda num erosos exemplos, m as
aqui se tra ta apen as do que é fundam ental. P ela p a la v ra que Javé
faz an u n c ia r ao mundo- pela bôca do profeta, a H istória- é conduzida
p ara um alv o determ inado. E sta p alav ra, que pela sua origem é
p alav ra de D eus, «não é vazia», como é dito em D eut. 32:47, m as

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nela está contido o p o d e s ’fiara e'xecutar e realm ente fazer acontecer
o que ela>ianunci;a. E o r isto ela se diferencia da p alav ra hum ana
que não tem êste poder. ^ Aqui nos^-deírontam os com o fato q u e -jã
cenhecem os da história da~ criaçãó: >«E D eus disse, haja luz e houve
luz». N ós podem os, portan to , dizer: instrum ento, com quet Deu£
p&e ;em m ovim ento o m ecanism o da H istó ria e o dirige num a di­
reção be.m -definida, é a p alav ra oatfeegada de poder. T a l p a la v ra
da bôca d es . p ro fetas não 'é so profecia, m as é sem pre tam bém 'o
comêço d a realização. 1
A in d a -precisamos exam inar um , segundo ponto. E sta com ­
p reensão v eto -testam en tária de H istória, como a té aqui a expusemos,
nãcnê p ara Israel apen'as ium meiô de tra ta r do seu passado. N ó s já
vim os com o no culto atual c a d a 1 um se colocava sempre' d e nôvo
na H istó ria da S alvação p assada. E sta com preensão de H istória
tam bém tinha consequências bem definidas p a ra o 'C om portam ento
do indivíduo israelita no presente. Se a H istó ria é p a ra o povo de
Israel um* a to d o seu D eus, que. quer e realiza a salvâção dö seu povo,
en tão o indivíduo israelita só deve a d o ra r a êste um D eus. P o r­
tan to , êieoiião deve ad o ra r a outros deuses, os deuses dos povos vizi­
nhos, quennãp podem fazer c H istó ria e por isto são ídolos incapazes
e sem, vida; -Êx. 20:2. Isaías 40:21-24. Isto seria queda do v erd ad eiro
p a ra o inverrdadeiroy- d*o real p a ra o irreal. E se o israelita experi­
m enta a salvação do seu D eus n a sua vida diária, então êle tam bém
p recisa cumpri*v a v o n tad e dêste D eus n a v id a diária. Êle deve
serv ir ao D eus que dirige, a sua H istória. Êle não deve fazer a sua
p ró p ria v o n ta d e hum ana, pois n e ste caso se colocaria co n tra o que o
seu D eus quer e planeja. Ê le co n trariaria; e esto rv a ria e plan o
histórico de seu Deus. A qui nós vem os como a ligação peculiar
da religião israelita «om &>t H istó ria -conduz a um a ética. Ê ste fenô­
m eno ergue a religião israelita m uito além das religiões do O rien te
Antigoij pois elas não têm um a ética. Se bem que- o V elho T e sta -
m e n to m ã o ifconhece a expressão «Ética». j.Q c'qae nós entendem os com
esta p alav ra ali tem .o nome;de'- fé e obediência. ï
M a s aqui o hpmem sem pre tornou a fracassar. Ê le não deixou
D eus d irigir, m as quis in tro m eter-se em - tudo, oif: ôfuis o u tra coisa-,
Ê le *àempre ■tornou a c o n tra ria r e a colocar-se contra o plano h isté­
rico de D eus. Isto a Bíblia cham a de deserfença e desobediência.
Assim o a u to r d a -obra h istórica do deuteronom ista a p re s e n ta a H istó ­
ria de seu povo -com o a H istó ria d e uma descrença ' e q u ed a sem pre
m aior. M as quanto mais Israel >se^ a fa sta de seu D eus, que quer
a H istó ria da S alv ação ,' mais êle -se' aproxim a d a perdição. Em
lu g ar de conduzir Israel p a ia a sálvação, Dfcus tem de conduzi-lo
p a rã o juízo. Assim esta 'obra histórica term ina-com a destruição de
Jerusalém ei o comêço ido cativeiro- babilônio. 1 ' ■■■■' ■
Aqwi nós podem os ab a n d o n ar' a obra h istórica do d eú tero n o -
m istã e resum ir e> a c resc en tar; <às quatr-o - te se s'' acim a form uladas,
o u tras trêsi > '* ■ " - ■ ,:-
I r ^ D e u s d irige a H istó ria pela sua p alav ra, que êle faz ôs profetas
proclam arem . -j ■ 1 :
2. D a compreettisão d e H istó ria israelita resulta o com prom isso do
s- homem, de fazer a v o n tad e d êste D eus da H istória. D esta
m aneira . o homem se íoVtia instrumento- de D eus p a ra a realiza­
ção de,-seu plano histórico.; -,r : i;»;i <'-,ir.v-■
3. M as o homem pode e rra r nesta nfrarefa pela : de^orençgL e desobe­
diência. Com isto êle tra n sto rn a o piano dá -Salva-ção- d e . Deus-
na H istória. A salvação p lan eja d a se tran sfo rm a em juízo re a ­
lizado. 1 .
A últim a com plem entação p a ra esta téoJcpgia .veto -testam èîità-
ria de H istó ria, encontram os, nos livros dos profetas. .- ;

3. Os livros dos profetas .


, ' I íi. I ■ 'f ■

T am bém aqui nós tem os novam ente rdois pensam entos Lque que-;
rem os seguir brevem ente, P fim êiram ente se, tra ta da constatação de' qu«”
a H istó ria de um povo n ão transcoxre isoladam ente.,' Ela. ré su lta
se.mpre da com unicação com-soutros povos. P rim àriam en te p ara Israel
foi um a experiência da fé ..— não ape.naS um vdogma ab stra to rr^- qúe
Javé dirige a H istó ria d e Israel e a transform a em rH istória dal S al­
vação. M as Israel logo devia reconhecer q u e-Jav é não pode dirigir,
a H istó ria de' Israel, sem influir tam bém na H istó ria dos ou-tsos povos.
Assim nós tam bém encontram os nos profetas veto -testam en t^ rio s cla­
ram ente rep resen tad o êste reconhecim ento: Ja^é é o S enhor-de,- tô d â
H istó ria e cada H istória, que' de qualquer ; m odo tran sp o rf e. nó
m undo, é o b ra do D eus de Israel. E no eentro d esta H istó ria universal
tran sc o rre a H istó rja de Israel, que D eus q u èt form ar cpmó' H istó ria
da Salvação. -a-;, ■
D e m aneira, m ais clara nós deparam os com - êste reconheci­
m ento, onde os poderosos reis do m undo oriental antigo sim ples­
m ente são cham ados «Servos de Javé», os quais, em b o ra -êles m esm os
não o soubessem , cum priam a v o n tad e do D eus de Isra el em suas
determ inações. Assim o rei dos babilônios, N abucodonosor,, é ch a­
m ado «Servo de LJavé»,, Jer. 25:9; de, C iro, o •re i o ^ e rs a ,•. se, diz
que Javé o constituiu senhor do Orie;nte A ntigo, p a ç a q u e êle re a li­
zasse o plano de D eus p a ra Israel, Isaías 44:28; >45: l s s . , r.Asgim
nós ag o ra vem os que os profetas d ilataram universalm ente a fé no
D eus da H istória. Javé ,não é apenas o, De.us de J&rael, m as fu n d a­
m entalm ente êle é o D eus de todo o m undo. , i
A indá outro dilatam ento do conceito ve.to-testam entário: de H is­
tória é característico p ara os profetas. Seu pensam ento histórifco: não
se dirige apen as p a ra o passado, como encontram os principalm ente
no P entateuco. Êle tam bém não olha apenas p a ra o presente', como
se pôde reconhecer n a obra, histórica do deuteíonom ista. C a ra c te rís­
tica p a ra a teologia p ro fética é m uito m ais a dim ensão do futuro. Ê les
falam en faticam en te do alvo, p ara o qual se aproxim a a H istó ria feita
por Deus. Pois p a ra o V elho T estam en to a H istória não é sem f-im.
N ós vim os como D eus a fêz com eçar uni dia. p o rtan to êle tam bém
a fará term in ar um dia. Que' alvo é êste? Q u e pretende. D eus âl-
can çar com sua H istó ria? ,-i , "> '• Yi
Aqui nós precisam os nos re p o rta r ao que jár 'foi r dito. ■ N a
obra histórica do deuteronom ista to rn a-se visível como Israel n ão
realiza a sua tare fa histórica. N ão deixa Deus'' ser o Senhor-,r não
faz a v o n tad e de D eus e ad o ra os deuses dos pagãos. , P o r isto
D eus precisa fazer vir, em lu g ar da salvação, o juízo, ou seja, o ca­
tiveiro babilônio. E sta significação histórica é essencialm ente influ­
enciada pela pregação dos profetas. Êles ren ovadam ente anuncia­
ram de m aneira enfática êste juízo, p a ra o qual Israel é levado e
pelo po d er d a p ró p ria p a la v ra de D eus por êles proclam ada o juízo
foi introduzido. M as êste juízo sôbre Israel não e ra o fim. Q u e Deus,
depois de h a v e r castigado seu povo desobediente, se re tra ia resignado
e cruze os braço s decepcionado a respeito do fracasso de seus planos,
é p ara o V elho T estam e n to um pensam ento irratificável. O que D eus
quer êle tam bém realiza. Assim, p ara a época de após o juízo, os
p ro fetas proclam am que D eus firm ará um nôvo pacto, m as com
novos hom ens, com um nôvo Israel que não pode pecar porque já
tra z a v o n tad e de' D eus em seu coração, Jer. 31:31-34. Neste, nôvo
Israel D eus será S enhor e Rei, Isaías 52:7-10 e os povos d a te rra final­
m ente, reconhecerão on d e está o v erd ad eiro D eus, a êste único D eus
êles finalm ente se co n v erterão e dêle suplicarão conselho e' in stru ­
ção, Isaías 2 e então a soberania do D eus, que segundo G ên. 1 criou'
tô d a a terra e' tudo que sôbre ela vive, será reconhecida incontesta-
daínente em tôda parte.
A gora nós podem os en c errar e resum ir o nosso tem a: O V elho
T estam ento não pode falar deD eus, sem falar da H istó ria que D eus
faz. E não pode. falar de H istória, sem falar de D eus, pois naquilo
que D eus faz na H istória, êle reconhece quem é D eus, como é D eus
e o que êle quer. E sta H istória que D eus faz é exposta em seu aclive'
e declive no V elho T estam ento. D eus cria os hom ens p ara nêles ter
alguém diante de si, pela salvação e bem e star de queirf êle pode agir,
G ên. 1 e 2. M as o homem não se con ten ta com estas dádivas, m as
quer ser como D eus, G ên. 3. E ag o ra principia a linha de um a
queda sem pre m aior com o fratricídio deí Caim , G ên. 4, à desobedi­
ência que conduz ao dilúvio, até a tôrre' de Babel, G ên. 11. M as
D eus quer lib ertar esta hum anidade' de sua desobediência. P a ra isto
êle elege o povo de. Israel, p a ra neste povo d em onstrar a tôda a h u ­
m anidade que êle é o Senhor, que quer o bem dos hom ens. M as
tam bém Israel decai em desobediência e precisa p assa r prim eiro pelo
juízo. E n tão D eus com eça de nôvo. Assim Israel o esperou. Com
um nôvo Israel deve ser firm ado um nôvo pacto. N este nôvo Israel
a hum anidade d ev erá reconhecer a presença e so b eran ia do único,
verd ad eiro Deus. E êste exemplo d a soberania de D eus em Israel
será tão atra e n te p ara os povos d a te rra , que todos êles se co nverterão
a êste Deus, Isaías 2. E n tão a soberania de D eus sôbre todo o
m undo se to rn a rá realid ad e e a H istó ria atin g irá seu alvo.
Com êste pensam ento se en cerra o V elho T estam e n to e aqui
se. liga o N ô v o T estam ento, pois o D eus do V elho T estam en to é o
mesmo do do N ôvo. Assim o N ôvo T estam e n to no seu com êço tam bém
relata um a ação fundam ental de D eus n a H istória. Ê le faz seu
filho se to rn a r hom em no tem po do Im perador A ugusto. Com êste
filho d e D eus na terra. C risto, com eça um a no v a época d a H istória,
a saber, a época do cum prim ento da H istória da S alvação p a ra a
hum anidade, a qual D eus pretendia, segundo o V elh o T estam ento,
desde o comêço. O pecado que até então tinha esto rv ad o a D eus
na realização do seu plano de salvação, é perdoado. O c a ráter

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definitivo é tirad o à m orte, de m odo que o m undo n ão pode p erd er-se
no abism o do n ada. U m nôvo pacto é firm ado, como havia, prom etido
o V elh o T estam en to , de m aneira que finalm ente D eus pode. realizar
seu plano de S alvação com um nôvo pacto.

O-

BIBLIO G R AFIA

O s artigos, Geschichte und G eschichtsauffassung im A T , de O tto Plöger; G eschichts­


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