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A Influência da Família na Formação Empreendedora

Autoria: Maria Cristina Bohnenberger, Serje Schmidt, Ernani Cesar de Freitas

Resumo
O empreendedorismo vem se tornando, cada vez mais, foco de estudo das universidades
e centros de pesquisa junto à sociedade. Neste contexto, a família é apresentada como
fator fundamental para o desenvolvimento do empreendedorismo. Neste estudo,
objetivou-se, por meio de uma pesquisa descritiva com enfoque quantitativo, verificar o
quanto o contexto familiar está contribuindo para o desenvolvimento do comportamento
empreendedor dos alunos dos cursos de formação superior do Centro Universitário
Feevale. O presente artigo se desenvolve em quatro etapas apresentando: a) uma revisão
bibliográfica sobre empreendedorismo; b) a construção, teste piloto, análise e revisão do
instrumento de medição; c) a aplicação dos questionários em uma amostra aleatória e
probabilística; e d) a análise das informações obtidas com o uso de estatística
multivariada. Os resultados encontrados apontam que o perfil empreendedor possui
associação com o contexto familiar, corroborando o que foi encontrado na literatura.

Palavras-chave: empreendedorismo; ensino superior; intenção empreendedora;


formação empreendedora; família.

1. Introdução
O estudo do empreendedorismo tem atraído maior interesse nos últimos anos,
principalmente em virtude da sua forte relação com o desenvolvimento regional. Com
intuito de promover o comportamento empreendedor, unem-se governos, instituições de
ensino e afins; investindo esforços e grandes quantidades de recursos financeiros.
Preparar pessoas pró-ativas que aprendam a pensar e agir por conta própria, com
criatividade, criticidade, liderança, espírito inovador e visão de futuro, parece ter sido
tarefa deixada especialmente para as universidades.
Algumas pesquisas que apontam essa preocupação mostram que na América do
Norte grande parte das instituições de ensino superior apresenta em seus currículos
disciplinas voltadas ao ensino de empreendedorismo. Talvez essa ação se explique pela
necessidade de se trabalhar a inovação, tema central do desenvolvimento da maioria das
organizações locais (VÉSPER; GARTNER apud SOUZA, 2001). Apesar de o ensino
ter apresentado uma melhora significativa nos últimos anos, introduzindo disciplinas e
conteúdos específicos sobre empreendedorismo, ainda é insuficiente na formação de
profissionais e preparação dos estudantes (SEBRAE, 2004). Talvez, pela subseqüente
falta de clareza na efetividade das iniciativas para o desenvolvimento do perfil
empreendedor, não são presenciados avanços significativos no sentido de fomentá-las,
principalmente no Brasil.
A exposição dos alunos à influência empreendedora familiar deve ser
considerada outra possível causa para o seu perfil e intenção empreendedora. Hisrich e
Peters (2004) destacam a ocupação dos pais como influenciadores do perfil
empreendedor. Nesse sentido, pais que atuam por conta própria tendem a ser um fator
de inspiração, pois aspectos como independência e flexibilidade no trabalho são
absorvidos em idade precoce.
No contexto em que atua, o Centro Universitário Feevale tem como visão
“consolidar-se como universidade inovadora que contribua para o desenvolvimento
regional”. Nesse sentido, sendo o empreendedorismo um dos elementos que colaboram

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para o desenvolvimento regional, torna-se importante para essa Instituição conhecer os
fatores que impactam na formação empreendedora de seus alunos.
Assim, o objetivo central desta pesquisa é avaliar a influência familiar na
formação empreendedora dos alunos do Centro Universitário Feevale.

2. Empreendedorismo

2. 1. Perfil empreendedor
Ao iniciar a discussão sobre o tema, primeiramente, é importante buscar sua
origem e referencial ao longo da história. Segundo Cunha (2004, p.293), a palavra
empreender, imprehendere, tem origem no latim, por volta do século XV, e significa
tentar “empresa laboriosa e difícil”, ou ainda, “pôr em execução”.
Filion (1999) buscou a conceituação do termo ao longo da história das
civilizações, desta forma, para cada século, o empreendedor é descrito de uma forma
diferente. A palavra “empreendedor”, entre-preneur, tem origem francesa, no século
XII, sendo definida como “aquele que incentivava brigas” (VÉRIN apud FILION, 1999,
p.18). No século XVI, descrevia uma pessoa que tomava a responsabilidade e dirigia
uma ação militar. Mas, foi no final do século XVII e início do século XVIII que o termo
foi utilizado para referir-se à pessoa que criava e conduzia projetos ou
empreendimentos.
Há divergência quanto à época e origem em que foi mencionada pela primeira
vez a palavra “empreendedor”. Contudo, no final do século XVIII, Cantillon conceituou
entre-preneur como uma pessoa que comprava matéria-prima, processava-a e vendia-a
para outra pessoa, aproximando-se da conceituação atual do termo (CANTILLON apud
FILION, 1999). Desta forma, o entre-preneur identifica uma oportunidade de negócio
assumindo o risco inerente à compra e comercialização do produto final.
O estudo do perfil empreendedor não é novidade. Revistas acadêmicas
internacionais como Entrepreneurship Theory and Practice, Entrepreneurship and
Regional Development, Journal of Developmental Entrepreneurship e Journal of
International Entrepreneurship dedicam-se exclusivamente a este assunto. No Brasil,
apesar de não existirem revistas específicas, o empreendedorismo é freqüentemente
encontrado naquelas sobre administração e desenvolvimento regional.
No presente estudo, procurou-se ampliar a base conceitual sobre o perfil
empreendedor, por meio das diversas definições encontradas na literatura. A partir
dessas definições, foram extraídas características atitudinais citadas diretamente ou
presentes indiretamente, na forma de pré-requisitos para sustentá-las. As características
propostas para o perfil empreendedor foram conceituadas a fim de sustentar o processo
de elaboração do questionário. Alguns conceitos foram encontrados na literatura e
outros foram construídos com a participação de especialistas na área, conforme constam
na Tabela 1:
Tabela 1 – Características atitudinais do empreendedor
Características
Descrição
atitudinais
“é a estimativa cognitiva que uma pessoa tem das suas capacidades de mobilizar a
motivação, recursos cognitivos e cursos de ação necessários para exercitar controle sobre
eventos na sua vida” (CHEN; GREENE et al., 1998);
Auto-eficaz “Em quase todas as definições de empreendedorismo, há um consenso de que estamos
falando de uma espécie de comportamento que inclui: (1) tomar iniciativa, (2) organizar e
reorganizar mecanismos sociais e econômicos a fim de transformar recursos e situações
para proveito prático, (3) aceitar o risco ou o fracasso” (HISRICH; PETERS, 2004, p.29).
Assume riscos “Indivíduos que precisam contar com a certeza é de todo impossível que sejam bons

2
calculados empreendedores” (DRUCKER, 1986, p.33).
“O passaporte das empresas para o ano 2000 será a capacidade empreendedora - isto é, a
capacidade de inovar, de tomar riscos inteligentemente, agir com rapidez e eficiência para
se adaptar às contínuas mudanças do ambiente econômico” (KAUFMAN, 1991, p.3).
“Os empreendedores não apenas definem situações, mas também imaginam visões sobre
o que desejam alcançar. Sua tarefa principal parece ser a de imaginar e definir o que
Planejador querem fazer e, quase sempre, como irão fazê-lo” (FILION, 2000, p.3)
“O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma
visão futura da organização.” (DORNELAS, 2001, p.15).
“é a habilidade de capturar, reconhecer e fazer uso efetivo de informações abstratas,
implícitas e em constante mudança” (MARKMAN; BARON, 2003, p.289).
“que tem capacidade de identificar, explorar e capturar o valor das oportunidades de
Detecta
negócio.” (BIRLEY; MUZYKA, 2001, p.22).
oportunidades
“A predisposição para identificar oportunidades é fundamental para quem deseja ser
empreendedor e consiste em aproveitar todo e qualquer ensejo para observar negócios”
(DEGEN, 1989, p.19).
“capacidade de trabalhar de forma intensiva, sujeitando-se inclusive a privações sociais,
em projetos de retorno incerto” (MARKMAN; BARON, 2003, p.290).
“Desenvolver o perfil empreendedor é capacitar o aluno para que crie, conduza e
Persistente
implemente o processo de elaborar novos planos de vida. (...) A formação empreendedora
baseia-se no desenvolvimento do auto-conhecimento com ênfase na perseverança, na
imaginação, na criatividade, associadas à inovação” (SOUZA; SOUZA et al., 2004, p.4).
“Os empreendedores (...) fornecem empregos, introduzem inovações e estimulam o
crescimento econômico. Já não os vemos como provedores de mercadorias e autopeças
Sociável nada interessantes. Em vez disso, eles são vistos como energizadores que assumem riscos
necessários em uma economia em crescimento, produtiva” (LONGENECKER; MOORE
et al., 1997, p.3).
Carland et al. (1988) concluem que o empreendedorismo é principalmente função de
Inovador quatro elementos: traços de personalidade (necessidade de realização e criatividade),
propensão à inovação, risco e postura estratégica.
“Uma vez que os empreendedores reconhecem a importância do seu contato face a face
Líder com outras pessoas, eles rapidamente e vigorosamente procuram agir para isso”
(MARKMAN; BARON, 2003, p.114).
Fonte: elaborada pelos autores da pesquisa.

Assim, as características propostas para identificar o perfil empreendedor foram:


auto-eficácia, capacidade de assumir riscos calculados, planejador, detecta
oportunidades, persistência, sociável, inovação e liderança.

2.2 Antecedentes do perfil e da intenção empreendedora


Em termos dos antecedentes do perfil empreendedor, puderam ser observadas na
literatura variadas abordagens, desde a avaliação da instituição de ensino em geral
(CUNHA, 2004; PERERA; NASSIF et al., 2004), passando por programas de educação
empreendedora (HINDLE; CUTTING, 2002; PETERMAN; KENNEDY, 2003) e
iniciativas mais específicas como a utilização do plano de negócios (GREATTI, 2004)
até antecedentes atitudinais (GATEWOOD; SHAVER et al., 2002; SEGAL; BORGIA
et al., 2005) e de personalidade (WANG; WONG, 2004).
Para Souza (2001), algumas atividades desenvolvidas no âmbito da universidade
contribuem positivamente para a formação empreendedora, entre as quais o autor
destaca a realização de seminários com empresários de sucesso e o exame de estudo de
casos em sala de aula. Na Feevale especificamente, Vianna (2004) propôs um estudo
quantitativo não-experimental comparando o perfil empreendedor dos alunos do
primeiro semestre com os do último semestre do curso de administração de empresas.
Nesse estudo, não ficaram evidenciadas as contribuições da instituição para a formação
empreendedora de seus alunos.

3
Na pesquisa realizada por Ghobril et al. (2006), que objetivou avaliar a
propensão a empreender de alunos do último ano de graduação em administração de
empresas de uma universidade de São Paulo, dois fatores foram identificados como
determinantes do interesse para empreender: 1) gênero, homens têm maior propensão a
empreender do que mulheres, e 2) criatividade e inovação, alunos que se vêem como
criativos e inovadores demonstraram maior propensão a iniciativas empreendedoras.
Essa pesquisa, apesar de não abordar as influências da universidade na intenção em
empreender, confirmou algumas características comportamentais presentes no grupo de
alunos com propensão empreendedora.
Martens e Freitas (2006) verificaram a influência da disciplina de
empreendedorismo nas intenções de direcionamento profissional dos estudantes de
ensino superior, a partir da percepção dos que cursaram a disciplina. A pesquisa teve
caráter descritivo, os dados foram coletados em dois momentos, no primeiro dia de aula
e no último. Neste estudo, ficou evidenciada a contribuição da disciplina na intenção
empreendedora, como também sua importância na formação profissional, facilitando e
estimulando o comportamento empreendedor do grupo.
Outros antecedentes do perfil e da intenção empreendedora, como idade e
número de dependentes financeiros, também necessitam ser considerados. Longenecker
et al. (1997) e Vianna (2004) colocam que o jovem é desencorajado a iniciar uma
carreira empreendedora, pela sua falta de experiência e acesso a recursos financeiros.
Em contrapartida, pessoas de mais idade não estariam dispostas a assumir o risco de
abrir um negócio próprio e perder o patrimônio conquistado ao longo do tempo. Os
autores sugerem que a idade ideal seria entre o final da faixa dos 20 e início dos 40
anos. Da mesma forma, um maior número de dependentes financeiros reforçaria a
indisposição ao risco, uma vez que estaria em jogo o sustento de um maior número de
pessoas.
Para Shapero e Sokol (1982) e Young (1971), um dos aspectos importantes para
estimular o comportamento empreendedor e alavancar negócios está justamente
relacionado ao núcleo familiar, ou seja, a experiência de parentes atuando como
modelos e referências. Desta forma, se torna necessário considerarmos a influência
desse estímulo social no grupo pesquisado, tema que é foco neste trabalho.

2.3. Comportamento empreendedor e a influência familiar


Muitos autores têm mostrado que as pessoas apresentam mais chances de
tornarem-se empreendedoras se houver um modelo na família ou no seu meio (FILION,
1999).
Pesquisas na área têm demonstrado que a existência na família de pessoas que
possuem negócios por conta própria, em particular a atividade exercida pelo pai e pela
mãe, é considerada chave na opção pelo negócio próprio (MATTHEWS; MOSER,
1996). Estudos mais recentes, baseados na teoria da aprendizagem social detectaram a
presença do modelo familiar como fator determinante na opção pelo empreendedorismo
(SCHERER; ADAMS, 1998; SCHERER et al, 1989). Indivíduos com familiares
exercendo papéis empresariais diferiram significativamente em sua performance de
indivíduos que não detinham este background. Em seu artigo, Matthews e Moser (1996)
destacam que independentemente do sexo, a presença de background familiar em
atividades empreendedoras é significativa na opção pessoal pelo negócio próprio,
reforçando o papel do exemplo familiar.
Para Filion (1991 apud SOUZA, 2001), o meio social, ou seja, a família, a
escola, os amigos com os quais a pessoa convive contribuem para a formação do seu
autoconceito, um dos fatores fundamentais do processo visionário.

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Para Krausz (1981, p.17), qualquer organização é a expressão dos propósitos de
seus fundadores, que determinam também a forma como são aglutinadas as
contribuições individuais de cada um dos participantes do sistema. O autor ainda
completa afirmando que, dentro de uma organização, os comportamentos individuais
são determinados, em parte, pela característica de personalidade de cada pessoa, pela
cultura da organização e também pela malha de relacionamentos sociais, ou seja, dos
papéis representados em diferentes situações.
De acordo com Pati (1995, p.45), toda pessoa é fruto da relação constante entre
os talentos e características que herdou e os vários meios que freqüentou durante toda a
vida. É o contato com o meio ambiente da família, da escola, de amigos, do trabalho, da
sociedade, enfim, que vai possibilitando o desenvolvimento de alguns talentos e
características de personalidade e bloqueando ou enfraquecendo outros. Isto acontece ao
longo de nossa vida, pelas diversas circunstâncias com que nos defrontamos e que
fazem parte de nossa história.
Para Garcia (2001), a família, em especial, exerce um papel fundamental na
formação do ser humano. O autor acredita que o papel dos pais tem uma ação direta na
construção de um projeto de vida e, para isto, sonhar é fundamental. Neste sentindo,
perguntar à criança o que ela quer ser quando crescer não é só estimulá-la a sonhar, mas
também provocá-la positivamente para acreditar em si e desenvolver a sua
autoconfiança.
Especialistas em educação, pedagogos e psicólogos têm afirmado que a melhor
atitude dos pais é serem incentivadores dos planos de seus filhos. Pais censores tendem
a podar as iniciativas e os próprios sonhos dos seus filhos (GARCIA, 2001).
É em relação a esses projetos, sonhados ainda na infância, que poderemos
encontrar mais pessoas com perfil e características empreendedoras na fase adulta.
Apostar na educação infantil, e nesse caso relacionada ao meio familiar, é também
apostar no futuro desse indivíduo quando engajado na sociedade.
Murrauy (1973) apresenta uma lista provisória de 20 motivos sociais que podem
influenciar o comportamento humano. Porém o motivo de realização, apresentado na
lista, foi amplamente estudado por David C. McClelland e seus colaboradores (apud,
MURRAUY, 1973, p.155). O autor define realização como um desempenho em termos
de um padrão de excelência ou, mais simplesmente, como um desejo de alcançar o
sucesso.
Ainda, na visão do mesmo autor, as pessoas altamente motivadas para a
realização tendem a ter autoconfiança, a gostar da responsabilidade individual (líder) e a
preferir o conhecimento concreto dos resultados de seus trabalhos (auto-eficaz). Gostam
de enfrentar riscos moderados em situações que dependem de suas próprias aptidões e
capacidades, mas não quando se trata de puras situações de sorte.
Para Marion (apud MURRAUY, 1973), desenvolver um motivo de realização
parece depender dos valores dos pais e da ênfase que eles imprimem a esse gênero de
coisas. Ele mediu a motivação de realização de um grupo de meninos de oito anos de
idade, em uma comunidade do Centro-Oeste dos Estados Unidos, e relacionou-a com a
descrições maternas de suas práticas de criação dos filhos. Apurou que as mães de
meninos com alta motivação de realização formulam exigências para a sua
independência e autonomia mais cedo que as mães de meninos com baixa motivação de
realização. E ainda, que as mães com baixa motivação eram mais severas e não
encorajavam a autoconfiança, fazendo com que os meninos permaneciam mais
dependentes da família. Murrauy (1973) conclui que os motivos sociais são fortemente
influenciados pelos métodos de criação dos filhos, valores paternos e estrutura familiar.

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Entre os estudos de McClelland (apud MURRAUY, 1973), encontramos a sugestão
de que os países que desenvolveram um forte motivo de realização em suas crianças
colheram frutos econômicos nos anos vindouros quando as crianças se converteram em
empresários. Ele mediu, em um grupo de crianças selecionadas, o grau de ênfase sobre a
realização a que as crianças estavam sujeitas. Os resultados foram positivos, afirmando
que um fator importante no progresso econômico é a motivação que foi enfatizada às
crianças da geração anterior. A implicação é que se as crianças forem motivadas no
sentido da realização, farão as coisas necessárias para expandir a economia quando
crescerem.

2.4 Estudos que relacionam o perfil empreendedor a seus antecedentes


Em relação à medição do empreendedorismo, foram observados desde
instrumentos para medir o próprio perfil empreendedor (CUNHA, 2004; PERERA;
NASSIF et al., 2004), passando por medições de intenção empreendedora, no caso a
intenção de abrir um novo negócio (GATEWOOD; SHAVER et al., 2002;
PETERMAN; KENNEDY, 2003; WANG; WONG, 2004; SEGAL; BORGIA et al.,
2005), até medições com foco nas questões da empresa, como a sua continuidade
(GREATTI, 2004) e desempenho financeiro (HINDLE; CUTTING, 2002).
Dentre os estudos encontrados sobre o tema, o de Lopes Jr e Souza (2005)
objetivou especificamente a construção de um instrumento de medição para o perfil
empreendedor. Os autores partiram de quatro fatores identificados pela literatura:
realização, planejamento e poder, acrescidas do fator inovação. A análise fatorial
apontou a existência de somente dois fatores: Prospecção e Inovação, e Gestão e
Persistência, sendo que os autores também sugerem a existência empírica de somente
um fator, chamando-o “Atitude empreendedora”.
Entre os trabalhos encontrados que medem a efetividade de iniciativas para
desenvolver o perfil empreendedor, pode-se observar uma variedade de objetos de
estudo, instrumentos de medição, abordagens metodológicas e técnicas estatísticas.
O principal método utilizado foi o experimental com grupo de controle pós-teste
(HINDLE; CUTTING, 2002; GREATTI, 2004; PERERA; NASSIF et al., 2004;
WANG; WONG, 2004; SEGAL; BORGIA et al., 2005).
Somente um dos estudos pesquisados (PETERMAN; KENNEDY, 2003)
utilizou-se de grupo de controle pré e pós-teste, que consiste na mesma abordagem
anterior, só que com medições antes e depois do experimento.
Entre as técnicas estatísticas utilizadas para verificar o relacionamento entre as
variáveis investigadas estão: Teste T (CUNHA, 2004; PERERA; NASSIF et al., 2004),
Teste U (HINDLE; CUTTING, 2002), ANOVA (GATEWOOD; SHAVER et al., 2002;
PERERA; NASSIF et al., 2004; WANG; WONG, 2004), correlação (PETERMAN;
KENNEDY, 2003; SEGAL; BORGIA et al., 2005) e regressão hierárquica (WANG;
WONG, 2004).
É possível sugerir, a partir do exposto acima, conforme também já observado
por Lopes Jr e Souza (2005), que não existe consenso metodológico entre os estudos
que objetivam medir os resultados de atividades que visam promover o
empreendedorismo. Além disso, sendo o perfil e a intenção empreendedora
conseqüência de múltiplos fatores, técnicas estatísticas bivariadas se tornam limitadas.
Considerando as limitações observadas nesses estudos, a proposta neste artigo é
de se utilizar uma abordagem quantitativa multivariada. A seguir será descrito o
processo de construção do modelo de medição para o perfil empreendedor, a intenção
empreendedora, a participação dos alunos nas atividades da Feevale, que visam

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promover o empreendedorismo e as condições familiares que poderiam favorecer o
perfil empreendedor.

3. Descrição do Método

3. 1. Construção do modelo de medição do perfil empreendedor e a variável da


antecedência familiar
A partir das dimensões do perfil empreendedor levantadas na literatura, foram
criados itens de medição para cada uma delas, utilizando uma escala Likert de 7 pontos,
abrangendo desde “Concordo plenamente” a “Discordo plenamente”. Primeiramente, os
itens foram submetidos à especialistas na área de empreendedorismo, que verificaram a
sua adequação às características de perfil e sugeriram modificações nos textos.
Posteriormente, os itens foram aplicados em uma amostra de pré-teste, solicitando aos
respondentes que justificassem a sua concordância ou não em relação às questões, a fim
de trazer à tona o significado entendido. A partir disso, e após análise qualitativa das
respostas do pré-teste, os textos de alguns itens foram modificados para prover maior
grau de entendimento às respostas.
Para avaliar os antecedentes relativos à formação familiar empreendedora do
respondente, o aluno foi induzido a identificar até três pessoas na sua família que têm ou
tiveram um negócio próprio e o quanto a experiência nesse negócio foi positiva ou
negativa. A partir dessas respostas, foi criada uma variável totalizadora para medir o
ambiente empreendedor familiar.

3.2 Procedimentos de coleta de dados e procedimentos estatísticos de análise


A amostra utilizada neste estudo foi aleatória e probabilística em relação ao
curso que os alunos estão matriculados. Para seleção dos acadêmicos, o cadastro de
estudantes da instituição foi utilizado e os alunos foram selecionados de forma aleatória.
Funcionários do Centro de Pesquisa e Planejamento da Feevale foram ao encontro dos
alunos em sala de aula e solicitaram o preenchimento dos questionários.
Para avaliação do impacto do contexto familiar na formação empreendedora dos
alunos e da sua intenção para abrir um negócio próprio, foi construído um modelo em
equações estruturais. Para tanto, o método de dois passos foi utilizado, conforme
sugerido por Anderson e Gerbing (1988): validação do modelo de medição seguido da
estimação do modelo estrutural.
Primeiramente, a validade convergente do modelo de medição foi avaliada
utilizando-se a análise fatorial exploratória. Após, a validade discriminante foi
verificada calculando-se a correlação entre os fatores. Por último, a confiabilidade
multivariada dos fatores foi examinada por meio da confiabilidade composta. Ainda,
índices de ajuste absoluto, incremental e parcimonioso do modelo de medição foram
extraídos utilizando-se equações estruturais no software Amos.
Após a validação do modelo de medição, o modelo estrutural foi estimado
valendo-se de equações estruturais. Novamente, os índices de ajuste foram calculados e,
uma vez demonstrado o ajuste do modelo, estimativas padronizadas e seus graus de
significância foram analisados conforme objetivo deste estudo.

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4. Análise dos resultados

4.1 Análise da amostra


O instrumento de medição foi aplicado em 1.122 estudantes da Feevale, de
forma aleatória e probabilística, em função do curso no qual o aluno está inscrito. Nove
questionários foram descartados por preenchimento indevido, resultando em 1.113
estudantes na amostra. Esta quantidade de alunos representa 7,8% dos 14.322 alunos
matriculados.
A maior parte dos estudantes pertence ao sexo feminino (60,4%) e tem entre 21
e 25 anos (40,3%). A distribuição dos estudantes foi proporcional no que se refere ao
percentual do curso concluído: 26,6% concluíram até 25% do curso; 27,2%
completaram entre 25% e 50%; 22,4% concluíram entre 50% e 75% do curso e, por fim,
23,8% possuíam entre 75% e 100% do curso concluído.
Considerando que o modelo estrutural a ser estimado possui 92 parâmetros, a
amostra apresentou 12,1 sujeitos por parâmetro, ou seja, dentro da faixa de 5 a 10
sujeitos por parâmetro sugerida por Hair, Anderson et al. (2005).

4.2. Validação do instrumento de medição


O primeiro passo para validação do instrumento de medição foi verificar se os
itens referentes ao perfil e à intenção empreendedora apresentavam a estrutura latente
observada na literatura. Para tanto, uma análise fatorial exploratória foi efetuada, com
método de extração de componentes principais e rotação Varimax. Apesar da análise
fatorial ter retornado uma medida de adequação da amostra (KMO) de 0,893, que pode
ser considerada adequada, a variância total explicada pelo instrumento foi de 47,5%,
que é considerada baixa. Assim foram retirados os itens que apresentaram baixas
comunalidades e que, portanto, não contribuíam para a explicação do perfil
empreendedor e uma segunda análise fatorial exploratória retornou os seguintes
resultados: KMO de 0,852 e variância total explicada de 56,4%. Sete fatores foram
sugeridos por esse método como latentes às estruturas de dados. A Tabela 2 expõe as
cargas fatoriais acima de 0,3 – significativas, considerando o tamanho da amostra – em
cada fator.
Tabela 2 - Análise Fatorial Exploratória Referente ao Perfil e Intenção Empreendedora
Fatores
Questões
1 2 3 4 5 6 7
Freqüentemente detecto oportunidades promissoras de
0,711
negócio no mercado.
Creio que tenho uma boa habilidade em detectar
0,705
oportunidades de negócio no mercado.
Tenho controle sobre os fatores críticos para minha
0,582 0,317
plena realização profissional.
Profissionalmente, me considero uma pessoa muito
0,562 0,419
mais persistente que as demais.
Sempre encontro soluções muito criativas para
0,516
problemas profissionais com os quais me deparo.
Tenho um bom plano da minha vida profissional. 0,515 0,390
Me agrada a idéia de criar meu próprio negócio. 0,863
Já tenho uma idéia de negócio em mente. 0,850
Não tenho a mínima intenção de abrir um negócio
-0,760
próprio.
Abrirei meu próprio negócio em breve. 0,723
Freqüentemente sou escolhido como líder em projetos
0,686
ou atividades profissionais.

8
Freqüentemente as pessoas pedem minha opinião sobre
0,684
os assuntos de trabalho.
As pessoas respeitam a minha opinião. 0,556
No meu trabalho, sempre planejo muito bem tudo que
0,780
faço.
Sempre procuro estudar muito a respeito de cada
0,760
situação profissional que envolva algum tipo de risco.
Tenho os assuntos referentes ao trabalho sempre muito
0,381 0,472 0,337
bem planejados.
Prefiro um trabalho repleto de novidades a uma
0,706
atividade rotineira.
Me relaciono muito facilmente com outras pessoas. 0,369 0,584
Gosto de mudar minha forma de trabalho sempre que
0,573
possível.
Me incomoda muito ser pego de surpresa por fatos que
0,696
eu poderia ter previsto.
Eu assumiria uma dívida de longo prazo acreditando
nas vantagens que uma oportunidade de negócio me 0,668
traria.
No trabalho, normalmente influencio a opinião de
0,479 0,555
outras pessoas a respeito de um determinado assunto.
Admito correr riscos em troca de possíveis benefícios. 0,459 0,521
Meus contatos sociais influenciam muito pouco na
-0,772
minha vida profissional.
Os contatos sociais que tenho são muito importantes
0,743
para minha vida profissional.
Conheço várias pessoas que poderiam me auxiliar
0,332 0,519
profissionalmente, caso eu precisasse.
Fonte: saída do SPSS.
Como pode ser observado na Tabela 2, alguns itens não ficaram agrupados
conforme observado na literatura. O fator 1 consolidou itens que se referiam
principalmente à detecção de oportunidades, auto-eficácia e persistência. Uma
investigação da literatura, direcionada para explicar o construto latente por trás dessa
estrutura de itens, levou à identificação do conceito de auto-realização, ou achievement
motivation. De acordo com Lumpkin e Erdogan (1999, p.4), as pessoas que têm um
elevado grau de auto-realização são motivadas a determinar metas desafiadoras e estão
predispostas a atingi-las. São pessoas que possuem um desejo de serem eficientes, são
persistentes nas suas tarefas e acreditam no seu sucesso.
A definição dos autores, que faz referência a McClelland, um dos primeiros
autores a tratar deste conceito, expressa o conceito de auto-realização de forma muito
próxima àqueles de auto-eficácia, persistência e detecção de oportunidades. Dessa
forma, o fator 1 resultante da análise fatorial foi denominado “Auto-realização”.
Os fatores 2 e 3 corroboraram a literatura, no sentido de representar os
construtos de Intenção Empreendedora e de Líder.
Quanto ao fator 4, os itens apresentaram proximidade ao conceito de Planejador,
uma vez que dois dos itens originalmente atribuídos a este construto estão presentes
nesse fator. O item “sempre procuro estudar muito a respeito de cada situação
profissional que envolva algum tipo de risco”, que estava originalmente associado à
característica “Assume Riscos”, ficou associado à característica Planejador. Talvez a
expressão “estudar muito” tenha reforçado a idéia do cálculo dos riscos levando o
respondente a interpretá-la como planejamento, o que o levou a esta proximidade com
esta característica.
Dois dos itens do fator 5 referiam-se originalmente à característica Inovador, o
que trouxe identidade a esse fator. Outro item que obteve carga fatorial significante com

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esse fator foi “me relaciono muito facilmente com outras pessoas”, que em princípio
estava relacionado à característica Sociável. Por um lado, talvez este perfil socialmente
expansivo realmente esteja associado à idéia de provocar mudanças no ambiente de
trabalho, mas não é uma associação óbvia. Por outro lado, este item também obteve
carga fatorial significativa com o fator 3, referente à Liderança. A partir de discussões
com os demais autores deste trabalho e com especialistas no assunto, este item ficou
considerado como pertencente à característica de Líder, representado por este fator.
O fator 6 apresenta dois itens que originalmente estavam associados à
característica “Assume Riscos”, um item que estava associado ao Planejamento e um
item relacionado ao perfil de Líder. O item “me incomoda muito ser pego de surpresa
por fatos que eu poderia ter previsto”, originalmente concebido para a característica de
Planejador, pode ter sido associado à idéia da utilização do planejamento para evitar
riscos, ou “ser pego de surpresa”. Uma pessoa que assume esta atitude provavelmente
calcula extensivamente os riscos que está sujeita a correr no futuro. O item foi, então,
mantido no fator 6. O item “no trabalho, normalmente influencio a opinião de outras
pessoas a respeito de um determinado assunto” originalmente associado à característica
de Líder, pode, por um lado, ter sido associado a uma idéia de exposição pessoal no
ambiente de trabalho, levando a assumir os riscos inerentes a esta exposição. Por outro
lado, a utilização do poder de influência sobre as pessoas também pode ser vista como
uma ferramenta para minimizar riscos, tornando o ambiente mais receptível às idéias
próprias. O item foi considerado como associado às duas características.
O fator 7 obteve cargas fatoriais significativas e seus itens representam o
construto relacionado ao perfil Sociável. Vale observar que o item “Meus contatos
sociais influenciam muito pouco na minha vida profissional” obteve carga fatorial
negativa, pois possui escala de interpretação reversa.
Por fim, os fatores ficaram assim definidos: 1) Auto-realização; 2) Intenção
empreendedora; 3) Líder; 4) Planejador; 5) Inovador; 6) Assume Riscos; e 7) Sociável.
Após a análise fatorial, os itens e fatores referentes ao perfil empreendedor
foram submetidos à validação por equações estruturais. Uma vez obtendo-se
identificação do modelo, procedeu-se com a análise da correlação entre os fatores para
estimar a sua validade discriminante. A correlação mais alta entre os fatores foi de 0,794
entre Auto-realização e Planejamento, ficando abaixo do limite de 0,85 sugerido pela
literatura (HAIR; ANDERSON et al., 2005).
Uma vez observada a não-normalidade multivariada dos dados, por meio do
coeficiente de Mardia, índices de ajuste foram selecionados para evitar esta questão. Os
índices de ajuste absoluto x2/GL obteve o valor de 3,396; e o RMSEA, o valor de 0,046.
Para o ajuste incremental, encontraram-se os seguintes valores, TLI de 0,978; NFI de
0,975, CFI de 0,983. Todos os índices de ajuste ficaram dentro dos valores de
referência sugeridos pela literatura (ANDERSON; GERBING, 1988; KLINE, 1998;
HAIR; ANDERSON et al., 2005).
A confiabilidade composta dos construtos também foi medida, sendo que o valor
mais baixo apresentado foi o do construto Inovação de 0,46, ou seja, um pouco abaixo
do limite sugerido de 0,5. Todos os demais construtos ficaram com a confiabilidade
acima desse limite. Considerando que o modelo tem caráter exploratório, avaliou-se que
a confiabilidade é suficiente para prosseguir com a análise do modelo.

4.3. Estimação do modelo estrutural e análise dos resultados


No modelo estrutural, foram estimadas as relações causais entre a variável
independente – Família– e as variáveis dependentes – Auto-realização, Líder, Assume
riscos, Planejador, Inovador, Sociável e Intenção empreendedora. Apesar de a

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modelagem de equações estruturais ser utilizada, principalmente, para análises
confirmatórias, por não haver consenso na literatura sobre o perfil empreendedor e seus
antecedentes, a proposta de modelagem, neste estudo, pode ser considerada
exploratória, traduzida na estimação das relações entre a variável independente e todas
as dependentes.
Os índices de ajuste absoluto do modelo estrutural ficaram com os seguintes
valores, x2/GL de 7,577; e RMSEA de 0,077. Para os índices de ajuste incremental,
foram encontrados TLI de 0,935; NFI de 0,939; e CFI de 0,946. Todos os índices de
ajuste incremental estão acima da referência de 0,9, o que, de acordo com Hair e
Anderson et al. (2005), sugere o bom ajuste do modelo estrutural.
A partir disso, foram analisadas as estimativas padronizadas do modelo
estrutural e seus índices de significância, conforme constam na Tabela 3. As relações
causais, portanto, estão ali expostas, como se pode observar na seqüência.

Tabela 3 - Estimativas do modelo estrutural

Estimativas Estimativas
Erro padrão Razão crítica Significância
padronizadas não padronizadas
ARealiz 0,206 0,067 0,012 5,751 0,000
Lider 0,215 0,100 0,017 5,771 0,000
Planej 0,109 0,038 0,021 1,789 0,074
Inov 0,163 0,059 0,016 3,656 0,000
Risco 0,121 0,028 0,010 2,979 0,003
Social 0,244 0,104 0,018 5,778 0,000
Inten 0,228 0,118 0,016 7,195 0,000
Fonte: Elaborada pelos autores.

Segundo Klein (1998), a associação entre as variáveis é baixa quando é inferior


a 0,1, é média quando está em torno de 0,3 e alta, acima de 0,5. Considerando os
resultados apresentados na Tabela 3, constata-se que todas as variáveis dependentes
possuem uma associação média com a variável independente – família. Entretanto,
convém destacar que a variável Planejamento não apresentou uma associação
significativa (0,074) com a variável Família.
Poderia sugerir-se que a variável planejamento vem com a formação do
indivíduo e que a família pouco influencia neste processo. Uma vez que, em geral, as
famílias trabalham pouco com planejamento familiar e o que acontece no dia-a-dia é
fruto da rotina. Entretanto, ainda que as famílias trabalhem com planejamento,
normalmente esta é uma atividade restrita aos pais, que poucas vezes envolvem os filhos
nos planos da casa. Esta situação acaba se refletindo também nas pequenas empresas
familiares que, em sua maioria, não possuem planejamento estratégico.
Das seis variáveis dependentes com associação significativa, apesar de
apresentarem associação média, podem ser divididas em três grupos: as que possuem
maior associação (Intenção empreendedora e Sociabilidade), as que possuem média
associação (Auto-realização e Liderança) e as que possuem baixa associação (Assume
riscos e Inovação).
As duas variáveis que possuem maior associação são a intenção empreendedora
e a sociabilidade. Considerando que a variável família foi avaliada sob o aspecto do
envolvimento do aluno com pessoas da família que tiveram negócio próprio e o quanto
esta experiência de negócio foi positiva ou negativa, era, então, de se esperar que
houvesse uma associação com a intenção empreendedora. Esta associação corrobora o

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que foi identificado por outros autores que reforçam a relação da família com a
formação do indivíduo (FILION, 1991; KRAUSZ, 1981; GARCIA, 2001).
A auto-realização é outra variável que possui relação direta com o convívio
familiar. Garcia (2001) e Murrauy (1973) destacam veementemente a influência da
família neste processo, o que foi confirmado nesta pesquisa.
A liderança é um tema amplamente discutido e recebe influência,
principalmente, do meio em que o indivíduo está inserido, dos liderados, dos traços de
personalidade e das experiências vividas pelo indivíduo (BERGAMINI; CODA, 1997).
Nesta conjuntura, o modelo de liderança exercido pelos pais (mais coercitivo ou mais
permissivo e participativo) pode influenciar positivamente ou negativamente no
indivíduo (Garcia, 2001). Entretanto, como esta variável pode receber muita influência
externa, era de se esperar que sua associação com a família se apresentasse dessa forma.
As variáveis que possuem a mais baixa associação foram disponibilidade de
Assumir riscos e Inovação. A bibliografia, em geral, não descreve a influência da
família neste contexto. Poderia sugerir-se, também, que, pelo fato de os alunos estarem
em cursos de graduação, o próprio meio já tenha exercido uma forte influência. Apesar
de haver alguns estudos que mostram a influência positiva da formação superior
(MARTENS; FREITAS, 2006) outros ainda apresentam uma influencia negativa para o
empreededorismo. Nesse sentido, o aluno que está exposto a um conjunto de
informações da situação de mercado, da economia mundial e às tendências futuras, pode
estar mais receoso para assumir riscos. Em paralelo a esta situação, poderia aludir-se
que o aluno exposto a métodos de ensino tradicionais estivesse menos propenso à
inovação do que uma pessoa que não está nesta condição. Além disso, considerando que
o Centro Universitário Feevale é uma instituição comunitária, mas de cunho particular,
e que estes alunos possuem, de certa forma, uma condição estável de emprego e renda,
dificilmente estariam propensos a riscos e podem se sentir pouco motivados a inovar,
uma vez que a realidade socioeconômica atual da região, na qual está inserida a
instituição, está passando por um momento de grande instabilidade.

5. Considerações finais
Os resultados da pesquisa podem ser classificados em dois grupos. O primeiro
que valida um instrumento de medição do perfil do empreendedor e, o segundo grupo,
que corrobora o que foi encontrado na bibliografia, demonstra, mais uma vez, a
influência da família no perfil empreendedor.
Destaca-se também que as variáveis de perfil que possuem maior associação
com a família são a intenção empreendedora e a sociabilidade. Além disso, a variável de
perfil que não apresenta associação significativa é o planejamento.
Os resultados deste estudo indicam que um trabalho de desenvolvimento do
empreendedorismo deve se iniciar no primeiro grupo social do indivíduo: a família. Os
esforços despendidos por governos, universidades e órgãos não governamentais podem
reforçar esta relação que já foi iniciada na infância, mas é possível que tenham pouco
impacto nos indivíduos que não foram influenciados positivamente no seu contexto
familiar.
As limitações deste estudo relacionam-se ao grupo pesquisado. Os resultados de
associação entre as variáveis, apesar de corroborarem o que foi encontrado na
bibliografia, não podem ser generalizados. Adicionalmente, o modelo de medição do
perfil do empreendedor está validado para este grupo, será de grande relevância aplicá-
lo em outros contextos para buscar a sua validação.

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Neste sentido, sugerem-se outros estudos, entre os quais a influência de outros
antecedentes no perfil empreendedor, como as iniciativas do governo, dos órgãos de
fomento e das próprias universidades; a validação do modelo de medição do perfil
empreendedor em outros ambientes; e a própria influência da família em outras
conjunturas.

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