Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Introdução
principalmente, a percepção dos alunos quanto a essas ações. Dessa forma, por que não
dialogar com eles sobre o planejamento, ou melhor, por que não planejarmos juntos? Por que
não ouvi-los? Por que não construirmos juntos, e transformarmos o planejamento numa ação
conjunta e significativa para todos?
Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar a elaboração e
implementação de uma proposta pautada no Planejamento Participativo, para as aulas de
Educação Física de uma turma do quarto ano do Ensino Fundamental ciclo I, de uma escola
da Rede Municipal de Ensino de Bauru-SP.
Segundo Dalmás (1994) o planejamento exige uma tomada de decisão que ocorre em
uma ação contínua, visando o desenvolvimento individual e comunitário, configurando a
participação e dessa forma aponta-o como Planejamento Participativo.
Vianna (1996) define Planejamento Participativo como uma estratégia de trabalho no
qual pessoas interagem em função de objetivos comuns. É flexível, pois procura adaptar-se a
cada situação específica, prioriza o diálogo, a contribuição e a colaboração de todos os
envolvidos, porém, não é uma atividade espontânea, necessita ser incentivada para que todas
as suas potencialidades se efetuem em ações criativas e participativas.
No Planejamento Participativo, o grupo toma consciência de suas necessidades, seus
problemas, da importância do diálogo pela discussão, negociação e trocas, que vão se
aperfeiçoando e promovendo uma mudança social, no sentido de aprender a conviver, pois
promove uma nova forma de pensar, decidir e agir. (DALMÁS, 1994, VIANNA, 1996).
No âmbito escolar o ato de planejar é tarefa comum dos professores, porém,
apresenta-se muitas vezes dissociado, quando pensamos a educação como um processo de (re)
construção social e de formação do ser humano, assim, o Planejamento Participativo
apresenta-se como ferramenta possível na operacionalização desse processo (GEMERASCA
E GANDIN, 2002).
De acordo com Rodrigues e Galvão (2005), na tarefa do trabalho coletivo as pessoas
se tornam agentes responsáveis pelo bem comum que ajudam a construir, dessa forma, a
implementação de ações nas quais os alunos passam a ser protagonistas de seu processo de
formação, são muito relevantes.
7621
Trajetória Metodológica
Resultados e Discussões
A) Tempo de Aula
Nessa categoria é possível apontar que O tempo foi um elemento que permeou a
elaboração e a aplicação da proposta do Planejamento Participativo, pois este apareceu
inúmeras vezes como fator limitante do diálogo e das atividades combinadas, como foi
observado nesses trechos dos diários de campo I, VII e VIII respectivamente:
Comentei sobre o pouco tempo que tínhamos e que se fosse um jogo novo nós não
conseguiríamos executá-lo, então concordamos que fizéssemos um jogo já
conhecido e o escolhido por eles por votação foi corrida pô. (...) Foi um tempo
muito curto, dessa forma não houve conversa final, logo bateu o sinal, e ainda
ficamos uns três minutos além do horário vivenciando o jogo. (DCI)
Então fizemos algum tempo essa atividade e logo tocou o sinal para o recreio,
dispensei os alunos e guardei o material, deixando a conversa sobre a atividade para
a próxima aula. (DCVIII)
Através desses relatos foi possível evidenciar que o tempo da aula não era suficiente e
limitava algumas discussões e embora elas acontecessem posteriormente, já não era possível
retomar de forma tão intensa, as impressões, sensações e tensões como no momento em que
elas ocorriam.
Nesse sentido, o reduzido tempo de aula, e principalmente, sua realização apenas uma
vez por semana, como acontece na rede municipal de Bauru, comprometeu as vivências
práticas combinadas conjuntamente com os alunos. Em determinados momentos os alunos
externaram desânimo e insatisfação com a proposta dialogada, pois quando o diálogo se
prolongava a ponto de inviabilizar a realização da vivência prática, causava desmotivação,
como é observado nesse outro trecho do Diário de Campo II:
Nas ocasiões em que o tempo para as atividades práticas ficou muito reduzido ou
inexistente gerou descontentamento e despertou inúmeras reclamações por parte dos alunos,
como pode ser observado no Diário de Campo III:
Como o sinal tocou, combinamos que na próxima aula faremos uma conversa sobre
as regras, devido as inúmeras reclamações. Os alunos saíram reclamando também do
tempo de prática que foi reduzido, pois contamos com apenas 55 minutos de aula de
Educação Física semanal, e as discussões foram extensas, sobrando poucos minutos
para a prática. Mais uma vez os alunos saíram um pouco desanimados da aula.
(DCIII)
Então, peguei uma bola de vôlei e dividi a turma em dois rapidamente para que
pudéssemos entender a dinâmica de não deixar a bola cair no chão, passando-a por
cima da rede de vôlei. (DC VIII)
Com relação à avaliação como pode-se observar no trecho do Diário de Campo VII
descrito abaixo, as estratégias tiveram participação dos alunos, porém de forma limitante
devido ao fator tempo que influenciou diretamente na escolha inicial dos mesmos:
que era possível realizá-las, mas aconteciam de forma limitada. Pode-se observar este fato nos
seguintes trechos dos Diários de campo IV e VI respectivamente:
Em seguida conversamos sobre a aula, e que iríamos aprender aos poucos, que não
era tudo numa aula só. Alguns alunos me disseram que a aula foi muito legal. Aluno
14: “Foi muito legal professora!” Aluna 4: “Adorei Pro.” Aluna 15: “Se viu pro eu
consegui sacar!” Em seguida fomos para o recreio.(DC VI)
Assim, nessa categoria foi possível observar que o tempo apesar de limitar, permitiu
por outro lado aquisição de conhecimentos significativos quanto a organização e otimização
do tempo. Nesse contexto, o tempo se apresentou como fator limitante, porém não impediu
que a proposta acontecesse e a partir dessas limitações foram apontados outros aprendizados,
como a auto-organização dos alunos perante o que foi previamente combinado no
planejamento.
Nessa categoria prevaleceu como elemento central o diálogo sob duas perspectivas
que se apresentaram prevalentes nos relatos: a resistência e a aceitação dos alunos, que
demonstraram descontentes pelo pouco tempo de prática e pela “perda tempo” com as
7625
discussões. Isso fica evidente nos seguintes trechos dos Diários de campo I e II
respectivamente:
O Aluno 9 disse: - “Nós não vamos ter Educação Física?” E então eu lhe respondi
que já estávamos tendo, e que aquela era a escolha do que seria feito nas aulas, ele
me respondeu: - “Mas nós já escolhemos, vamos fazer?”
Quando estávamos fazendo a contagem, o Aluno 9 disse: - “Estamos perdendo
tempo”. Iniciei um diálogo com uma pergunta: - “Por que estamos perdendo
tempo?” E ele respondeu: - “Porque não vamos pra quadra”. (DCII)
Porém, Vianna (1996) indica que o diálogo não é uma atividade espontânea, necessita
ser incentivado, desse modo, é imprescindível que o diálogo aconteça nessa proposta
participativa, mas, fica claro nos trechos dos Diários de campo citados acima que alguns
alunos têm um imaginário de que a Educação Física seja somente vivências práticas,
demonstrando que não estão habituados com a vivência do diálogo.
Entendo que como explicam Rodrigues e Galvão (2005), o diálogo é a base que
permite que as pessoas discutam, para se conscientizarem e se posicionarem a respeito dos
problemas. No entanto, que os alunos aprendem de formas distintas, pois fica evidente que
uns apresentam maior resistência ao diálogo em relação a outros, como mostram esses trechos
dos Diários de campo III, IV e VI respectivamente:
...o Aluno 3 falou: - “De novo esse papel amarelo, isso é chato.” Então, abri o cartaz
e lhes perguntei o que era aquilo, e a maioria respondeu que eram as coisas que eles
iriam aprender durante o ano.(DCIV)
O Aluno 7 falou resmungando: -“De novo vamos conversar desse cartaz, é chato!”
Então, eu disse que era importante refletirmos sobre o que estávamos fazendo, e que
era necessário agora conversarmos sobre a avaliação, e como seria feita a
verificação da aprendizagem.(DCVI)
Porém o Aluno 3 disse: -“Ainda bem que hoje não tem aquele papel amarelo” (se
referindo ao cartaz com os conteúdos). Então perguntei novamente se estavam
concordando com essa proposta dialogada, se queriam continuar ou se preferiam que
eu decidisse sozinha as coisas. (DCV)
Porém, à medida que o diálogo foi sendo estimulado e exercitado, sua prática tornou-
se mais comum, como aponta Dalmás (1994), a participação é “construção em conjunto”, na
qual todos têm sua palavra a dizer.
Isso favoreceu um envolvimento maior de alguns alunos no processo de construção
coletiva, como é observado nesses trechos dos Diários de campo II e III respectivamente:
Dessa forma eles se mostraram mais animados com a proposta. O Aluno 6 disse: “-
É, dança não é só de menina!” E a Aluna 2: “É na escola de balé tem muito menino
que dança!” Mesmo assim, perguntei novamente a eles se gostariam de participar, de
continuar nessa proposta e todos se manifestaram a favor.
E o Aluno 13 respondeu: - “Cê num ta entendendo, Aluno 9?!” E a Aluna 2
respondeu: - “Nós estamos decidindo o que vamos fazer.” (DCII)
Assim, no decorrer da proposta foi possível observar como a prática do diálogo foi
sendo utilizada com maior frequência pelos alunos, como pode ser observado nos trechos dos
Diários de campo V, IX, e X respectivamente:
A Aluna 1 disse: “Porque a gente pode falar, não é só a sua opinião”, já o Aluno 13
disse: “A gente também decide as coisas.”(DCX)
Nesses relatos foi possível observar que esse tipo de prática despertou o interesse pela
participação, com o envolvimento critico nas discussões, mostrando o valor que foi dado a
proposta, como pode-se observar no trecho: “Vale a pena aprender coisas novas” dito pela
aluna 2 (DCV). Outro aspecto é o de protagonismo por parte dos alunos, evidente na fala do
aluno 13 “A gente também decide as coisas”. (DCX).
7627
Assim, percebe-se que o diálogo não é algo habitual nesse contexto, e que embora isso
se apresentou como dificuldade inicial, foi sendo desenvolvido e se tornando comum na
medida em que foi propiciado, estimulado e exercitado com os alunos.
C) Participação e Envolvimento
Gadotti (1999) coloca que educar significa formar para a autonomia, permitindo a
reflexão sobre a prática e consequentemente a necessidade de sistematizá-la e organizá-la.
Assim, nessa categoria é possível analisar a proposta de acordo com a participação,
observando que esta não atingiu a totalidade dos alunos de forma efetiva, como mostra os
trechos dos relatos em Diários de campo, pois nem todos os alunos participaram com
opiniões, sugestões ou criticas, mas é possível identificar que os alunos estão começando a
perceber esse fato e que com incentivo pode-se promover maior envolvimento dos mesmos.
Este fato se evidencia nos seguintes trechos dos Diários de campo II e XI
respectivamente:
Percebi que aproximadamente seis alunos, não se manifestavam e que pareciam até
alheios a tudo. (DCII)
Percebo que é necessário motivar e conscientizar sobre a participação dos alunos nas
escolhas e decisões sobre as aulas e ainda sobre as responsabilidades e
consequencias desse processo, pois como estão habituados a cumprirem o que lhes é
imposto, nem sempre é fácil para o professor planejar de modo participativo, já que
não fomos educados nesse sentido. (DCI)
7628
A proposta inicial era que alunos fizessem uma pesquisa com os pais sobre o que
deveriam aprender nas aulas de Educação Física, para que houvesse uma
participação da família nessa construção coletiva, porém tal pesquisa não foi
realizada pela maioria dos alunos, e as que foram realizadas, apresentaram
informações confusas. (DCII)
Fica evidente que a participação dos alunos deve ser estimulada, assim como o diálogo
mencionado na categoria anterior, porém, a participação efetiva nas decisões deve ser
incentivada como direito e dever de se envolver no processo, de protagonizar o ensino. Como
aponta Vianna (1996) a ação dialógica caracterizada pela discussão, negociação e trocas, vai
se aperfeiçoando e promovendo uma mudança social, no sentido de aprender a conviver. E na
visão dos alunos sobre a proposta não houve comentários desfavoráveis, apontando que há
uma “vontade” de participação por parte deles, como observado nos trechos do Diário de
Campo XI.
Assim, perguntei aos alunos o que eles achavam sobre o planejamento, nesta
perspectiva da construção coletiva com a seguinte pergunta: “O que vocês estão
achando de trabalhar desse jeito, de decidir junto os conteúdos e as formas de
avaliar?” Aluno 3: “Legal”. Aluna 11: “Porque todo mundo deu opinião do que
queria.” Aluno 14: “Pra gente saber o que a gente ia fazer o ano inteiro.” Aluno 9:
“As meninas escolheram coisas que elas gostam e os meninos coisas que a gente
gosta.”. Conversamos também sobre as formas de avaliar, novamente perguntei-lhes
se foi difícil colocar no papel o que aprenderam na aula prática. Aluno 14: “A gente
pode pensar sobre o que aprendeu!” Aluna 1: “Foi fácil.” Aluna 4: “Eu
gostei.”(DCXI)
Assim, Vianna (1996) ressalta as vantagens, desse planejamento, pois ele assume uma
imagem de credibilidade, e o grupo se responsabiliza, tomando consciência de suas
necessidades, num processo contínuo. Dessa forma, observa-se nesses trechos que quando
incentivados, os alunos se mobilizam e se organizam, apontando que o ensino torna-se mais
7629
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
GOMES, R. Análise de dados em pesquisa qualitativa In: DESLANDES, S. F.; CRUZ NETO,
O.; GOMES, R.; MINAYO, M. C. S.(org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 30ª
ed., Petrópolis: Vozes, 2011.