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COSTUMES E DIÁLOGOS - ASSOCIAÇÃO CULTURAL

CARTAS QUE EU PROMETI

II

VISITANDO O CASTELO

O sol dardejava a terra com os seus raios de fogo quando eu,


pachorrentamente, subi o conjunto de ladeiras e escadas que nos levam ao
Castelo de Pombal.
Nesta região da Beira que se estende desde o Douro ao Tejo não é raro
encontrarmos, em muitas terras, estas fortalezas, outrora inexpugnáveis e que
se levantam sobranceiras às povoações como atestar eternamente o passado
histórico a que estão ligados. Desde o que serviu de berço à nacionalidade
portuguesa até ao mais obscuro, todo o castelo tem a sua história.
Hoje, que vão passados séculos e séculos sobre a nossa dinastia
guerreira, os castelos não são mais que simples lugares de peregrinação para
todo o português curioso e amante da sua história.
Pombal, cujo passado está ligado a tantos factos históricos, tem lá no alto
daquele monte, que domina toda a vila, um vestuto castelo que conta para cima
de 800 anos, segundo se infere da data em que foi fundado por D.Gualdim Pais,
Mestre da ordem dos Templários.
De forma nenhuma se pode estabelecer um paralelo entre as linhas deste
e doutro qualquer. Não há neles pròpriamente beleza arquitectónica nessa
massa enorme de pedra, cuja construção obedeceu à necessidade de defesa.
Há sim preciosas incrustações de janelas rendilhadas em estilo gótico,
renascença ou manuelino e portas ogivais semelhando as das construções
mouriscas.

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Após estas divagações, vamos entrar no Castelo. O mestre José Augusto


é o senhor absoluto da fortaleza – o senhor feudal dos tempos presentes. De
bigode imperial, de guias enceradas, este nosso amigo acede com a maior das
gentilezas ao meu pedido de visita e acompanha-me nesta rápida digressão.

Uma vasta praça de que a relva tomou posse, estende-se à nossa frente.
Quase a meio, entre muros de pedras desconjuntadas, abrem-se dois orifícios
com um metro de diâmetro apròximadamente, que dão acesso às citernas onde
a água das chuvas era acumulada para consumo da população do castelo. Há
quem tenha feito a exploração no tempo de seca e afirma a grandeza desse
subterrâneo, segundo me comunica o meu prestimoso guia.

Não é fácil o acesso à torre de menagem, porquanto não tem uma escada
exterior em condições de ser usada com segurança. Fazendo exercícios de
perigoso equilíbrio lá consegui chegar ao alto mas desta vez só, pois a idade
avançada do guarda já lhe não permite tais extravagâncias. Cá de baixo informa-
me que em tempo bom consegue-se avistar a praia da Figueira da Foz, com a
ajuda de um óculo de grande alcance.

A minha vista espraia-se por toda a vila que eu vejo a meus pés. E o
Convento de Santo António e a Igreja Matriz com as suas torres, o Relógio
Velho, o Teatro, fábricas, a Estação de Caminho de ferro, etc.; pela rectaguarda
o espectáculo é pouco convidativo e só nos desperta um sentimento de piedade,
uma oração por todos aqueles que baixaram para sempre à terra que os criou.

Desço e admiro agora uma janela de estilo manuelino na ala direita. É


curiosa. Fazendo frente a uma estrada circular, na rectaguarda encontram-se as
ruínas da Igreja de Santa Maria do Castelo cujo teto, em alto relevo acusa a
admiração dos visitantes. As paredes, de enegrecidas pedras, constituem o Livro
de Ouro onde se vêm em grande confusão centenas de assinaturas. Não resisto

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e no meu melhor cursivo oponho o meu valioso autógrafo na pedra que me


pareceu mais livre.

Visito por último os jardins aliás bem tratados e, já com o sol a declinar,
abandono com saudade essa fortaleza altiva que, impassível, domina tudo e
todos com a sua rigidez de pedra.
Até breve.
Teu

Rui da Fonseca

Publicado no Jornal “O ECO”

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