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Curso de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social - 2016.

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Portfólio 2: Reconhecer que a pobreza e as desigualdades existem. Romper com a visão


moralista. Apresente em seu portfólio individual uma discussão sobre a visão moralista
arraigada na cultura política e pedagógica no Brasil.

Neste texto pretende-se expor e discutir sobre a visão moralista arraigada na cultura
política e pedagógica no Brasil em períodos distintos da história: Ensino jesuítico e o Ensino
no Estado Novo. O interesse por esses momentos históricos se prende ao fato de que o Ensino
Jesuítico foi o primeiro a ser instituído no Brasil e o Ensino no Estado Novo, pela valorização
da educação moral.
A visão moralista tem início no Ensino Jesuítico implementado no período colonial
brasileiro, que pretendia formar um modelo de homem, para a formação da estrutura social,
administrativa e produtiva da sociedade que estava sendo formada. Pensando assim, devemos
entender que o fenômeno educacional não é um fenômeno independente e autônomo da
realidade social de determinado momento histórico (SHIGUNOV NETO E MACIEL, 2008,
p.169).
Shigunov Neto e Maciel (2008, p. 171) afirmam que as principais intenções dos
Portugueses e da Igreja para catequizar e moralizar os índios eram:
Para consecução dos objetivos do Projeto Português de colonização das terras
brasileiras, a Coroa portuguesa contou com a colaboração da Companhia de Jesus.
Segundo Leite (1965), Azevedo (1976) e Ribeiro (1998), a principal intenção do rei
D. João III1 ao enviar os jesuítas para a Colônia brasileira – tal idéia e o conselho
foram de Diogo de Gouveia – foi para converter o índio à fé católica por intermédio
da catequese e do ensino de ler e escrever português

Complementa Raymundo (1998 apud SHIGUNOV NETO E MACIEL, 2008, p. 171)


ao inferir que:
A Ordem dos Jesuítas é produto de um interesse mútuo entre a Coroa de Portugal e o
Papado. Ela é útil à Igreja e ao Estado emergente. Os dois pretendem expandir o
mundo, defender as novas fronteiras, somar forças, integrar interesses leigos e
cristãos, organizar o trabalho no Novo Mundo pela força da unidade lei-rei-fé.

Ou seja, desde os primórdios da nossa feitura/gênese enquanto Nação, vivemos a


mercê de interesses dos dominadores, dos “colonizadores”, dos políticos e das elites.
Predomina nessa ideia de educação e ensino, os princípios de dominação e imposição, de sua
cultura, de seus conceitos, de seus conhecimentos prioritários (mínimos necessários), de seus
valores e vontades, alheia a realidade e ao interesse local. Evidencia-se assim nessa
perspectiva de educação, que se perpetua até os dias de hoje, a desvalorização e a negação dos
valores, da cultura e dos conhecimentos locais.
Em outros momentos históricos, como no Estado Novo, alguns autores também fazem
e formulam conexões entre o pensamento educacional, a cultura aos aspectos políticos e
ideológicos do Estado.
Adonia Antunes Prado em sua dissertação de mestrado faz uma análise da Revista
Cultura Política (escrita pela elite intelectual da época), afirma sobre o período do Estado
Novo (1937-1945):
[...] que a educação foi concebida como um instrumento para a consecução de
objetivos sociais não necessariamente de caráter escolar. Observou-se que a
manipulação dos recursos educacionais com vistas à obtenção de fins políticos
favoráveis ao poder estabelecido foi um marcante no discurso de Cultura Política
(PRADO, 1982, p. V).

O autor ainda seleciona parte do discurso de Getúlio Vargas, para ratificar sua análise
e compreensão (PRADO, 1982, p. VII): "precisamos com a maior urgência dar sentido claro,
diretrizes construtoras e regras uniformes a política educacional, o mais poderoso instrumento
a utilizar no fortalecimento de nossa estrutura moral e econômica", em “Discurso pronunciado
na comemoração do centenário da fundação do Colégio Pedro lI, a 2 de dezembro de 1937”.
É nesse momento histórico, o Estado Novo, onde se prioriza a Educação Moral, Cívica
e Física da juventude brasileira. Nesse contexto percebe-se a influência das intenções do
Estado, de tentar moralizar, militarizar e docilizar corpos e mentes, é onde se busca também
através da educação, o aprimoramento eugênico da raça, a exclusão dos inaptos e a
preparação para o trabalho.
Será então que (como fala Arroyo) “Os condenados a pobreza nunca, nunca, nunca
vão merecer conhecimento”? Será que os currículos “nunca, nunca, nunca” irão valorizar a
reflexão, a crítica, a cultura local, as experiências e sapiências individuais?
Acredito que, por mais difícil que possa parecer, ainda é possível e visível romper com
certos paradigmas em nossas mentes e práticas. Creio também na utopia realizadora, creio na
vontade de transformação, creio no papel da educação, creio no papel do professor, creio no
papel do cidadão.
REFERÊNCIAS:

PRADO, Adonia Antunes. Educação para a política do estado novo (1937-1945): um estudo
do conceito e dos objetivos educacionais na revista cultura política. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1982. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9148/000310750.pdf?sequence
=1>. Acesso em: 31 maio 2016.

SHIGUNOV NETO, Alexandre; MACIEL, Lizete Shizue Bomura.O ensino jesuítico no


período colonial brasileiro: algumas discussões.Educar, Curitiba, n. 31, p. 169-189, 2008.
Editora UFPR. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/er/n31/n31a11.pdf>. Acesso em: 31
maio 2016.

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