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Clínica Psicanalítica
Aula #12
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Curso: Lacan - Estruturas e
Clínica Psicanalítica
Aula #12
Lacan, para fundamentar o tempo lógico utilizará o sofisma dos prisioneiros, Quinet
apresenta o sofisma em seu livro: As 4+1 condições de análise, vamos ao sofisma e a
forma apresentada no livro:
Tempo de lógica
Lacan introduz aqui a função da pressa que será transportada para o interior da própria
sessão de análise.
Vejamos o sofisma: Um diretor de uma prisão escolhe três prisioneiros e lhes diz que
agraciará um deles com a liberdade. O agraciado será o vencedor de um jogo de
adivinhação que lhes será proposto. Diz que há cinco discos: três brancos ( ) e dois
pretos (•) e que pregará um deles aleatoriamente às costas de cada um dos
prisioneiros. Dito isso, o diretor da prisão prende os três discos brancos nas costas dos
três prisioneiros, que sem conhecer cada um o seu, são soltos numa cela.
O diretor diz, então, que aquele que sair primeiro da cela, justificando logicamente
como chegou à conclusão da cor do disco preso em suas costas, será o vitorioso,
obtendo a liberdade. Depois de um certo tempo, saem os três juntos (uma vez que se
trata aqui de um apólogo, de um raciocínio lógico, pois, na verdade, só há um sujeito
real). Digamos que quem sai é o prisioneiro A respondendo: eu sou branco, e eis como
sei disso: porque vejo que B e C são brancos.
A justifica-se: pensei que se eu (A) fosse preto, cada um deles, transportando-me para o
lugar de B e C e raciocinando como se fosse eles, logo reconheceria que são brancos e
ambos sairiam. Como não o fizeram, concluí que não sou preto e sim branco.
Logo, como os dois não saíram, eu (A) só posso ser branco — acertando, assim, o
sofisma.
Lacan diz tratar-se aqui de um sujeito de pura lógica; o que determina o julgamento do
sujeito é a não-ação dos outros dois, o tempo de parada de B e C.
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Lacan irá, então, decompor o sofisma em três momentos em que a instância temporal
irá apresentar-se de um modo distinto em cada um, aparecendo assim a
descontinuidade desses três momentos lógicos:
Na asserção subjetiva (eu sou branco), o sujeito atinge a verdade desse atributo que lhe
foi conferido e que é tão fundamental para a sua vida.
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Como essa asserção será verificável? Ora, ela só poderá ser verificada na certeza, pois
se o sujeito ficar na dúvida (sou branco ou sou preto?) não poderá jamais vir a constatá-
la. Daí o termo proposto por Lacan de certeza antecipada, pois só se verifica nela
mesma. - APOSTA
No ato, trata-se de arrancar a certeza dessa angústia e é isso que está implicado no ato
do momento de concluir.
Nesse texto de 1945, Lacan proporá um tipo de sujeito para cada momento.
2 — No tempo para compreender o que está em questão (tal como vimos é o tempo
que se abre no raciocínio de A, pensando como se fosse B e C) é o sujeito indefinido,
recíproco, que aparece pareado, pois implica esses dois outros (os brancos que vejo). É
introduzida aqui a dimensão imaginária do outro — esse outro enquanto pura reciproci-
dade, pois só um pode-se reconhecer no outro. Temos aqui, então, um sujeito
indefinido, que é muito mais da ordem do eu imaginário, que se espelha no outro.
Nesse texto, Lacan propõe esse três momentos lógicos como sendo o movimento
lógico da gênese do sujeito. “Eu me apresso em me afirmar como branco” — momento
que marca a constituição do sujeito.
O que nos interessa para o nosso tema é a estrutura dessa certeza antecipada que
existe na asserção em que o sujeito se declara. O que constitui a singularidade do ato
de concluir na asserção subjetiva é ele antecipar a certeza devido à tensão temporal
presente na situação. A pressa tem a função de precipitar esse ato de declaração.
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O sujeito apreendeu o momento de concluir (que ele é branco) diante da evidência
subjetiva de um tempo de atraso que o apressa a sair. Se ele, como diz Lacan, não
apreender esse momento, ficará, diante da evidência objetiva da saída dos outros, com
a conclusão errada de que é preto.
O encurtamento da sessão, tal como Lacan teoriza, não visa outra coisa senão precipitar
no sujeito o momento de concluir, para que o sujeito se declare. De fato, a análise nos
ensina que a pressa é amiga da conclusão.
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