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RELATÓRIO PARCIAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Processo: 2009/15022-4
Perı́odo: 01/01/2010 à 31/05/2010

Introdução à Astronomia
Dinâmica

Orientador: Masayoshi Tsuchida

Bolsista: André Amarante Luiz


Sumário

Introdução ii

1 O Problema de Dois Corpos (P2C) 2


1.1 Problema de Força Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.1 Definição de Força Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Movimento de uma Partı́cula em um Campo de Força Central . . . . 4
1.3 Momento Angular da Partı́cula em um Campo de Força Central . . . 5
1.3.1 Conservação do Momento Angular . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 A Segunda Lei de Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4.1 Prova de que o Movimento de uma Partı́cula em um Campo
de Força Central é Coplanar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4.2 Lei das Áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5 A Conservação da Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6 Órbita em Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.6.1 A Lei da Gravitação de Newton. Primeira Lei de Kepler . . . 14
1.7 Coordenadas Relativas e Baricêntricas . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.8 Posição na Órbita Elı́ptica: Caso h < 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.9 Posição na Órbita Parabólica: Caso h = 0. . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.10 Posição na Órbita Hiperbólica: Caso h > 0 . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.11 Elementos Orbitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.12 Problema de Dois Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.13 O Sistema Solar e a Terceira Lei de Kepler . . . . . . . . . . . . . . . 25

2 O Problema de N Corpos (PNC) 27


2.1 Formulação do Problema de N Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2 Integrais de Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Índice de Figuras 33

Bibliografia 34
Introdução

O objetivo deste projeto de pesquisa é introduzir os princı́pios de Mecânica


Celeste.
Outro aspecto interessante é a aplicação de fundamentos elementares da Fı́sica
à Astronomia. Para atingir esses objetivos, foram propostos os seguintes tópicos.

Problema de dois corpos (P2C)


• Problema de força central

• Conservação do momento angular

• Conservação da energia

• Órbita em coordenadas polares

• Posição na órbita elı́ptica, parabólica e hiperbólica

• Elementos orbitais

• Coordenadas relativas e baricêntricas

Problema de N corpos (PNC)


• Formulação do PNC

• Integrais de movimento

• Comportamento global do PNC

• Função pertubatriz

Problema de três corpos (P3C)


• Movimento do centro de massa

• Integral das áreas

• Integral da energia

ii
Cap. 0 Sumário iii

• Movimento relativo
• Soluções estacionárias

Simulações numéricas
• Órbitas elı́pticas, parabólicas e hiperbólicas no problema de dois corpos
• Perturbação de Netuno sobre a órbita de Urano no problema de três corpos
• Simulação das órbitas dos planetas gigantes (problema de quatro corpos)
No perı́odo a que se refere o relatório parcial, foram desenvolvidos integralmente
os estudos sobre o Problema de dois corpos (P2C) e o Problema de N corpos
(PNC). As dificuldades e dúvidas surgidas no desenvolvimento do projeto foram
dirimidas durante os encontros com o orientador, sempre procurando um bom en-
tendimento do assunto.
Começamos tratando do problema de força central, que é o ponto fundamen-
tal da Mecânica Celeste. De uma maneira geral, podemos dizer que a formulação
matemática da dinâmica teve inı́cio em 1686, com a publicação dos “Princı́pios”por
Sir Isaac Newton. Outros que contribuı́ram definitivamente para isso, e que foram
predecessores de Newton foram Johannes Kepler e Galileu Galilei. Kepler, baseando-
se nas observações de Marte feita por Tycho Brahe, enunciou as suas três leis, as
duas primeiras em 1609, e a terceira em 1619. Em linhas gerais, essas leis são:
1. A órbita de cada planeta ao redor do Sol é uma elipse, com o Sol num dos
focos.
2. O raio-vetor Sol-planeta varre iguais áreas em iguais intervalos de tempo.
3. A razão dos quadrados dos perı́odos de quaisquer dois planetas, é igual à razão
dos cubos de suas distâncias médias ao Sol.
A terceira lei é aproximadamente verdadeira. A sua validade depende do fato
de que as massas dos planetas são bem menores que a do Sol. Essas leis levaram
Newton a concluir que a força que prende um planeta na sua órbita ao redor do
Sol varia inversamente com o quadrado da distância do Sol ao planeta. Essa idéia
foi generalizada quando se provou que a atração gravitacional entre duas esferas
homogêneas, pode ser calculada supondo que as massas das esferas estão concen-
tradas nos respectivos centros. A partir daı́, o progresso da Astronomia Dinâmica
foi claro e rápida. O resultado mencionado acima é conhecido como sendo A Lei
da Gravitação Universal, e é a base da Mecânica Celeste. Essa lei pode ser
enunciada assim:
“Se duas partı́culas de massas m1 e m2 estão separadas por uma distância r, cada
partı́cula atrai a outra com um força igual a Gm1 m2 /r2 , onde G é uma constante
universal.”
As forças agem ao longo da reta que une as partı́culas. O “Princı́pia”contém
também postulados dinâmicos, sobre os quais as análises apresentadas a seguir estão
apoiadas. Essas leis são:
Cap. 0 Sumário 1

1. Uma partı́cula de massa constante permanece em repouso, ou move em veloci-


dade constante e em linha reta, se nenhuma força está agindo sobre ela.

2. Uma partı́cula sob a ação de uma força, move de tal maneira que a variação
do momento linear no tempo é igual a força.

3. Quando duas partı́culas se interagem, a força exercida pela primeira sobre a


segunda é igual em magnitude, mas de sentido oposto da força exercida pela
segunda sobre a primeira.

No perı́odo restante desenvolveremos os estudos sobre: Problema de três cor-


pos (P3C) e para complementar faremos Simulações Numéricas que ajudarão
a compreender melhor a teoria planetária.
Daremos a seguir, um tratamento matemático do problema de força central.
Capı́tulo 1

O Problema de Dois Corpos (P2C)

1.1 Problema de Força Central


1.1.1 Definição de Força Central
O problema de força central, base da Mecânica Celeste, consiste, tal como feito
em [2], em descrever o movimento de uma partı́cula P de massa m, atraı́da por
um centro fixo O, por uma força F~ que é proporcional à massa, e que depende
somente da distância r entre a partı́cula e o centro O. Para caracterizarmos essa
força, faremos como o fez Newton. Em [2] Newton analisa diversas órbitas com suas
respectivas variações de forças (centrais), mostrando como estas variam dependendo
de suas distâncias à seus centros de forças. Temos então que dependendo da órbita
e do centro fixo de força, a força pode variar com o inverso do quadrado da distância
(F ∝ r−2 ), com o inverso do cubo da distância (F ∝ r−3 ) ou até mesmo ser propor-
cional à distância (F ∝ r). Por isso, não podemos caracterizar nossa força F~ por
nenhuma dessas proporções anteriores ou por quaisquer outras se não sabemos como
esta varia com a distância. Para resolvermos este problema, seja f (r)1 a função que
relaciona a variação da força F~ com a distância r.
No nosso caso a função f (r) será chamada lei de atração, e supõe ser contı́nua
em 0 < r < ∞. Matematicamente, o problema é fácil de formular e o faremos a
seguir.
Definição 1.1. Considere que uma força F~ atuante sobre uma partı́cula P de massa
m (Fig. 1.1), é tal que:

1. ela é sempre dirigida de P para um ponto fixo O ou em sentido contrário.


2. ela é proporcional a massa m e seu módulo depende somente da distância r
de P a O (já que a massa m podemos supor constante), isto é, é caracterizada
pela função f (r).

Uma força assim é chamada de força central ou campo de força central,


em que O é o centro fixo de força. Logo, é uma força central se, e somente se,
1 M Mm
f (r) pode ser algo do tipo f (r) = −G , ou até mesmo f (r) = −G 2 , incluindo também
r2 r
implicitamente a massa m da partı́cula, como sugerido por alguns autores [22] e [23].

2
Cap. 1 1.1. Problema de Força Central 3

F~ = mf (k~rk)~
r1 (1.1)
Na expressão 1.1, F~ é a força, m a massa da partı́cula, f (k~rk) = f (r) a função lei
de atração, mf (k~rk) representa o módulo da força, ~r é o vetor de posição, k~rk = r
denota o módulo deste vetor e introduzimos um vetor unitário r~1 na direção de ~r
~r ~r
para caracterizar a direção vetorial da força, sendo que r~1 = = . Se F~ tem o
k~rk r
sentido de r1 a força central é dita de repulsão, isto é, no sentido de O para P . Caso
contrário a força central é dita de atração. A expressão 1.1 será reescrita como

~r
F~ = m[−f (r)]~
r1 = −mf (r) (1.2)
r

Figura 1.1. Representação da força central atuando sobre a


partı́cula de massa m.

Observando a figura 1.1 temos também que a força F~ que atua sobre a partı́cula
P de massa m, tenta mudar constantemente seu estado de repouso, então pela
segunda lei de Newton, essa força também é igual a

F~ = m~a (1.3)
Vamos utilizar a nomenclatura:

d~r
= ~v = ~r˙
dt

d2~r d~v
2
= = ~a = ~v˙ = ~r¨
dt dt

Na verdade, qualquer que seja a variável x,


dx
ẋ =
dt
Logo, a equação 1.3 pode ser reescrita como

F~ = m~r¨ (1.4)
Igualando as equações 1.2 e 1.4, temos
Cap. 1 1.2. Movimento de uma Partı́cula em um Campo de Força Central 4

~r
m~r¨ = −mf (r)
r
Essa equação pode ser desdobrada por

 ~r˙ = ~v
~r (1.5)
 ~r¨ = ~v˙ = −f (r)
r
Note que a massa m é irrelevante. A questão agora se resume em estudar as
propriedades das funções ~r(t) e ~v (t) que satisfazem o sistema de equações 1.5, num
determinado intervalo de tempo.

1.2 Movimento de uma Partı́cula em um Campo


de Força Central
Lema 1.1. Suponhamos que ~r e ~v satisfazem as equações 1.5 num determinado
intervalo de tempo e seja F~ = −mf (r)~
r1 , o campo de força central. Então, ~r×F~ = ~0.

Demonstração
De fato,

~r × F~ = ~r × [−mf (r)]~
r1 = −mf (r)[~r × r~1 ] (1.6)
1
Mas, r~1 tem a mesma direção que ~r, ou seja, r~1 k ~r, uma vez que r~1 = ~r.
k~rk
Logo, o ângulo entre os vetores ~r e r~1 é 0o , o que implica que k~r × r~1 k =
r1 ksen0o = 0 ⇒ [~r × r~1 ] = ~0, já que k~xk = 0 ⇔ ~x = ~0
k~rkk~
Voltando a equação 1.6 temos que: ~r × F~ = −mf (r)[~r × r~1 ] = −mf (r)~0 = ~0.
Portanto,

~r × F~ = ~0 (1.7)
Esse resultado, se olhado com mais atenção, mostra que a força F~ atua na direção
do vetor posição ~r, já que ~r × F~ = ~0 (~r k F~ ).
¥

Teorema 1.1 (Conservação do Momento Angular). Suponhamos que ~r e


~v satisfazem as equações 1.5 num determinado intervalo de tempo e seja F~ =
−mf (r)~r1 , o campo de força central. Então, ~r × ~v = ~c, onde ~c é um vetor
constante.

Demonstração
De fato,
d~v
Da equação 1.4 como F~ = m , então a equação 1.7 pode ser escrita como
dt
d~v d~v ~ d~v ~
~r × m = ~0 ⇒ m~r × = 0 ⇒ ~r × =0
dt dt dt
Cap. 11.3. Momento Angular da Partı́cula em um Campo de Força Central 5

Mas,

~0 = ~r × d~v = ~r × d~v + ~0 = ~r × d~v + ~v × ~v = ~r × d~v + d~r × ~v = d (~r × ~v )


dt dt dt dt dt dt
Ou seja,
d
(~r × ~v ) = ~0 (1.8)
dt
Integrando 1.8, temos:
Z Z
d ~0dt
(~r × ~v )dt =
dt

~r × ~v = ~c (1.9)
¥
onde ~c é um vetor constante. O resultado 1.9 é conhecido como conservação do
momento angular. Vejamos a seguir por quê.

1.3 Momento Angular da Partı́cula em um Campo


de Força Central
1.3.1 Conservação do Momento Angular
Consideremos uma partı́cula P de massa m e momento linear p~, em uma posição
r, relativa à origem de um referencial inercial. O momento angular Ω ~ da partı́cula
P , em relação à origem O, é definido como sendo o produto vetorial entre ~r e p~,
ou seja: Ω~ = ~r × p~. Assim o momento angular é um vetor cujo módulo é dado por
~ = k~rkk~pksenθ, onde θ é o menor ângulo formado entre ~r e p~ quando estes dois
kΩk
vetores têm suas origens coincidindo com O. Sua direção é perpendicular ao plano
determinado por ~r e p~, e o sentido é dado pela regra da mão direita, isto é, com os
dedos da mão direita curvados, giramos ~r e p~ através do menor ângulo entre eles; o
polegar direito estendido apontará o sentido de Ω ~ (Fig. 1.2). O momento angular
é também comumente chamado de momento do momento linear ou momento da
quantidade de movimento.
Tomemos a equação 1.9. Multiplicando pela massa m, obtemos: m(~r × ~v ) = m~c
⇒ ~r × m~v = m~c.
Sabendo que p~ = m~v (onde p é o momentum ou momento linear), temos: ~r × p~ =
m~c. Mas, Ω~ = ~r × p~ é o momento angular, logo:

~ = ~r × p~ = m~c

Portanto, o momento angular Ω ~ sobre uma partı́cula em um campo de força
~ é sempre constante, em
central é conservado, pois m e ~c são constantes, logo Ω
magnitude e direção.
Cap. 1 1.4. A Segunda Lei de Kepler 6

p
θ
O h
r

P θ p =mv

Figura 1.2. Representação do momento angular Ω ~ de uma


~
partı́cula P de massa m. O vetor Ω tem módulo igual a área
do paralelogramo de lados formados pelos dois vetores ~r e p~.
∆A = k~rkh = k~rkk~ ~
pksenθ = kΩk.

1.4 A Segunda Lei de Kepler


1.4.1 Prova de que o Movimento de uma Partı́cula em um
Campo de Força Central é Coplanar
No livro I, seção II, Proposição I. Teorema I de [2] Newton prova utilizando
argumentos geométricos que a órbita de um planeta é coplanar, faremos agora o
mesmo aqui, só que agora fazendo uso de argumentos vetoriais.

Corolário 1.1. A curva descrita por uma partı́cula P de massa m em torno de um


centro fixo de força é uma curva plana, ou seja, a curva está contida em um plano.

Demonstração
Para provarmos tal fato, basta mostrarmos que o vetor posição ~r = ~r(t) é a todo
instante t ortogonal a um vetor constante.
Fazendo o produto escalar de ambos os membros de 1.9 por ~r, temos:

~r • (~r × ~v ) = ~r • ~c
Como, ~r • (~r × ~v ) = ~v • (~r × ~r) = ~v • ~0 = 0, temos:

~r • ~c = 0 (1.10)
¦ Se ~c 6= ~0, isso significa que sempre se tem ~r(t)⊥~c, ∀t, isto é, a curva descrita por
P está contida em um plano fixo que passa pela origem O, e é ortogonal ao vetor
constante ~c, como ilustra a figura 1.3.
Portanto, se uma partı́cula move-se em um campo de força central, esta partı́cula
move-se em um plano fixo ortogonal a um vetor constante.
Portanto, a órbita de um planeta é uma curva plana.
Cap. 1 1.4. A Segunda Lei de Kepler 7

¦ Se ~c = ~0, vamos considerar um vetor ~u = ~u(t), função do tempo e diferenciável.


Como2 ~u • ~u = k~ukk~ukcos0o = k~uk2 = u2 (pois, ~u k ~u) e ~u • ~u˙ = uu̇.
Então, se ~u 6= ~0, e se tomarmos o versor de ~u, temos:
µ ¶ ˙
d ~u ~uu − ~uu̇
=
dt u u2
Multiplicando e dividindo o segundo membro da expressão anterior por u = k~uk,
obtemos:
µ ¶
d ~u u(~u˙ u) − u(~uu̇) (uu)~u˙ − (uu̇)~u
= =
dt u u3 u3
Mas, uu = u2 = ~u • ~u e uu̇ = ~u • ~u˙ , daı́
µ ¶
d ~u (~u • ~u)~u˙ − (~u • ~u˙ )~u
= (1.11)
dt u u3

O r

P v

Figura 1.3. Movimento de uma Partı́cula em um Campo de Força


Central.

Fazendo ~u = ~a = ~c e ~u˙ = ~b. De acordo com a fórmula

(~a × ~b) × ~c = (~a • ~c)~b − (~b • ~c)~a


vem que

(~u × ~u˙ ) × ~u = (~u • ~u)~u˙ − (~u • ~u˙ )~u


Daı́, substituindo em 1.11 temos
µ ¶
d ~u (~u × ~u˙ ) × ~u
=
dt u u3
p p
2
k~uk = u e ~u˙ = (ẋ, ẏ, ż) ⇒ k~u˙ k = ẋ2 + ẏ 2 + ż 2 ; u = k~uk = x2 + y 2 + z 2 ⇒ u̇ =
xẋ + y ẏ + z ż
.
u
Cap. 1 1.4. A Segunda Lei de Kepler 8

Fazendo agora a mudança de variável ~u = ~r nessa última expressão vem


µ ¶
d ~r (~r × ~r˙ ) × ~r (~r × ~v ) × ~r
= 3
= (1.12)
dt r r r3
Porém, de 1.9 tem-se ~r × ~v = ~c, daı́ substituindo em 1.12 vem que
µ ¶
d ~r ~c × ~r
= 3 (1.13)
dt r r
Assim, se ~c = ~0 em 1.13, tem-se que
µ ¶
d ~r ~0 × ~r ~0
= 3
= 3 = ~0
dt r r r
Logo,
µ ¶
d ~r
= ~0 (1.14)
dt r
Integrando 1.14, temos:
Z µ ¶ Z
d ~r
dt = ~0dt
dt r
~r
= d~ (1.15)
r
¥
onde d~ é um vetor constante.
Esse resultado diz que se ~c = ~0, o movimento da partı́cula P estará sobre uma
reta fixa que passa pela origem O (Fig. 1.4).

Figura 1.4. Representação do movimento unidimensional.

1.4.2 Lei das Áreas


Teorema 1.2 (Lei das Áreas de Kepler). Se uma partı́cula P se move em um
campo de força central com O como centro, então o raio-vetor, desenhado de O à
P , isto é, de O até a partı́cula, varre áreas iguais em tempos iguais, ou seja, a
velocidade areolar é constante.
Cap. 1 1.4. A Segunda Lei de Kepler 9

Demonstração
Ainda no caso ~c 6= ~0, considere a figura 1.5. Sabemos que o movimento de uma
partı́cula P de massa m em um campo de força central ocorre em um plano, conforme
foi demonstrado em 1.4.1. Para facilitar os cálculos e sem perda de generalidade,
escolhemos esse plano como sendo xOy.
Vamos passar os vetores ~r e ~v = ~r˙ de coordenadas retangulares para coordenadas
cilı́ndricas. Temos então:

~r = (x0 , y 0 , 0) = (rcosθ, rsenθ, 0)


Como o vetor ~r está contido no plano xOy, então este não tem a coordenada do
eixo z, ou melhor, sua terceira coordenada é igual a 0.
µ 0 ¶
d~r dx dy 0
= ~v = , , 0 = (ṙcosθ − rθ̇senθ, ṙsenθ + rθ̇cosθ, 0)
dt dt dt

θ x'
O
x
r

y' v
P
y

Figura 1.5. Na figura as coordenadas retangulares x0 e y 0 do


vetor ~r são dadas, respectivamente, em coordenadas cilı́ndricas
por x0 = ||~r||cosθ e y 0 = ||~r||senθ.

Já o vetor constante ~c por ele ser ortogonal aos vetores ~r e ~v , então ele é ortogonal
ao plano xOy e podemos considerá-lo, sem perda de generalidade, com origem em
O. Daı́, ele só tem a coordenada do eixo z, ou seja,

~c = (0, 0, c)
Vejamos agora como a equação 1.9 fica com essas novas coordenadas.
Cap. 1 1.4. A Segunda Lei de Kepler 10

¯ ¯
¯ ~i ~j ~k ¯
¯ ¯
~r × ~v = ¯¯ rcosθ rsenθ 0 ¯¯ = 0~i + 0~j + rcosθ(ṙsenθ +
¯ ṙcosθ − rθ̇senθ ṙsenθ + rθ̇cosθ 0 ¯
rθ̇cosθ)~k − rsenθ(ṙcosθ − rθ̇senθ)~k

= 0~i + 0~j + [(rṙsenθcosθ + r2 θ̇cos2 θ) + (−rṙsenθcosθ + r2 θ̇sen2 θ)]~k

= 0~i + 0~j + (r2 θ̇cos2 θ + r2 θ̇sen2 θ)~k = [r2 θ̇(sen2 θ + cos2 θ)]~k
Mas, como sabemos da relação fundamental sen2 θ + cos2 θ = 1. Logo,

0~i + 0~j + [r2 θ̇(sen2 θ + cos2 θ)]~k = 0~i + 0~j + r2 θ̇~k


Daı́, então

~r × ~v = ~c ⇐⇒ (0, 0, r2 θ̇) = (0, 0, c)


Portanto,

r2 θ̇ = c (1.16)
Mas, o que representa o termo r2 θ̇ na equação 1.16? Procuremos uma inter-
pretação geométrica para esse resultado.

Integrais em Coordenadas Polares


Como o movimento de nossa partı́cula P é através de um plano, podemos então
deixar de lado o termo coordenadas cilı́ndricas e falarmos simplesmente em coorde-
nadas polares.

Teorema 1.3. Seja r : R −→ R contı́nua em [α, β] tal que r = r(θ).


Se 0 ≤ α ≤ β ≤ 2π e r(θ) ≥ 0 então a área da região A (Fig. 1.6 hachurada)
delimitada pelos gráficos r = r(θ) e θ = α e θ = β é dada por:
Z β 2 Z β 2
r (θ) r
A= dθ = dθ
α 2 α 2

Teorema Fundamental do Cálculo


Seja f definida e contı́nua no intervalo I e seja k ∈ I. Nestas condições, a função
F dada por
Z x
F (x) = f (y)dy
k
x∈I
dF
é uma primitiva de f em I, isto é, F 0 (x) = = f (x) para todo x em I.
dx
Cap. 1 1.4. A Segunda Lei de Kepler 11

Figura 1.6. Representação da área do setor OP Q (área da região


A). OBS: Mesmo que a representação da curva da figura seja uma
elipse, algebricamente estamos fazendo os cálculos para qualquer
tipo de curva, apenas considerando que a mesma seja contı́nua.

Consideremos agora o movimento de nossa partı́cula sobre o plano xOy. Sejam ~r


o raio-vetor que dá a posição da partı́cula em função do ângulo θ, isto é, ||~r|| = r(θ),
θ ∈ [0, 2π] e θ o ângulo entre o eixo x e o raio-vetor ~r em função do tempo t, ou
seja, θ = θ(t), t ∈ R+ .
Vamos fazer a área varrida pelo nosso raio-vetor ~r variar entre dois instantes t1
e t, e ver o que acontece (Fig. 1.7).

Figura 1.7. Área varrida pelo raio-vetor da partı́cula.


Cap. 1 1.5. A Conservação da Energia 12

Como sabemos a área da região ∆A da figura 1.7 é dada pela integral do teorema
1.3.
Vamos considerar essa integral como sendo a função F do Teorema Fundamental
do Cálculo, e chamá-la de A. Neste caso, passando para nossas notações, fica:
r2 (θ) r2
F = A, F (x) = A(x), f = a, f (y) = a(y) = = , k = α = θ(t1 ) e é fixo,
2 2
x = β = θ(t) e é variável, isto é, varia em I=[0, 2π], y = θ, y ∈ I=[0, 2π].

Teorema 1.4. Seja a definida e contı́nua no intervalo I=[0, 2π] e seja α ∈ I. Nestas
condições, a função A (área) dada por
Z β 2 Z β 2
r (θ) r
A(β) = dθ = dθ
α 2 α 2
β∈I
dA
é uma primitiva de a em I, isto é, A0 (β) = = a(β) para todo β em I.

Logo,

dA r2 (β)
A0 (β) = = a(β) =
dβ 2
No caso particular em que β = θ teremos,

dA r2 (θ)
A0 (θ) = = a(θ) =
dθ 2
Mas, θ = θ(t). Daı́, pela regra da cadeia

dA dA dθ r2 (θ) dθ 1
= = = r2 θ̇
dt dθ dt 2 dt 2
Porém, da equação 1.16 vem que
dA c
=
dt 2
¥
Esse resultado é conhecido como segunda lei de Kepler, e diz que a partı́cula
varre a área numa razão constante e igual a c/2.

1.5 A Conservação da Energia


Vimos que o vetor ~c é constante durante o movimento. Existe uma outra cons-
tante de movimento, que é de maior importância, desta feita uma quantidade escalar,
chamada energia.
Demonstração
Multiplicando escalarmente as equações 1.5 pelo vetor ~v = ~r˙ obtemos:
· ¸
˙~r • ~r¨ = ~r˙ • −f (r) ~r ⇒
r
Cap. 1 1.5. A Conservação da Energia 13

~r • ~r˙
~r˙ • ~r¨ = −f (r) (1.17)
r
Seja θ o ângulo entre o raio-vetor ~r e a velocidade ~v = ~r˙ . Observando a figura
1.8 temos:

180- θ
v
a
θ
O
a
r

P θ v

Figura 1.8.
· ¸
d ˙ ˙ 1d d 1
Como (~v • ~v ) = 2~v • ~v ⇒ ~v • ~v = (~v • ~v ) = (~v • ~v ) e ~v • ~v = v 2 ,
dt 2 dt dt 2
substituindo na equação 1.17 vem que
µ ¶
d 1 2 dr
v = −f (r)ṙ = −f (r)
dt 2 dt
Multiplicando por dt e integrando resulta
1 2
v = f1 (r) + h (1.18)
2
com h uma constante de integração, e
Z a
f1 (r) = f (x)dx
r

Na determinação de f1 (r) teremos vários casos


a) o valor de a será +∞, se a integral converge.
b) o valor de a será zero, se o caso a) levar a uma integral divergente, e o caso
b) não levar.
c) o valor de a será 1, se os dois casos anteriores falharem.
Então, se f (r) é da forma µr−p , teremos

a = ∞ se p > 1
a = 0 se p < 1
a = 1 se p = 1
Cap. 1 1.6. Órbita em Coordenadas Polares 14

Os casos mais importantes são p = 2 e p = 1. Assim, −mf1 (r) é conhecida como


1
energia potencial do sistema, e usamos a notação −U . A quantidade T = mv 2 é
2
chamada de energia cinética, e h1 = mh é a energia total do sistema. Com estas
notações, a equação 1.18 fica

T = U + h1 (1.19)
e é conhecida como princı́pio da conservação de energia total. ¥

1.6 Órbita em Coordenadas Polares


1.6.1 A Lei da Gravitação de Newton. Primeira Lei de Ke-
pler
O caso especial quando a lei de atração é a lei de gravitação de Newton, é o caso
mais importante em se tratando da Mecânica Celeste.
Demonstração
Seja então, uma partı́cula que se move de acordo com a lei de atração f (r) =
µr−2 , onde µ é uma constante positiva que depende da unidade escolhida, e da fonte
de atração.
As equações diferenciais 1.5 se escrevem

~r˙ = ~v
~r
~v˙ = −µ 3 (1.20)
r
Além do vetor ~c, existe um outro vetor importante que mantém constante durante
o movimento. Chamaremos de vetor excentricidade e denotaremos por ~e. Para
deduzi-lo, tomaremos a fórmula 1.13 e multiplicamos ambos os lados por −µ. Então
µ ¶
d ~r
−µ = ~c × (−µr−3~r)
dt r
De acordo com 1.20 vem
µ ¶
d ~r
µ = ~v˙ × ~c
dt r
Integrando essa última equação resulta
µ ¶
~r
µ ~e + = ~v × ~c (1.21)
r
que é conhecida como integral de Laplace, onde ~e é uma constante de integração.
Como ~r • ~c = 0, segue que ~e • ~c = 0 pois
µ ¶
~r
µ ~e + •~c = ~v × ~c • ~c = 0,
r
isto é
Cap. 1 1.6. Órbita em Coordenadas Polares 15

~r • ~c
µ~e • ~c + µ = 0,
r
donde ~e • ~c = 0.
Portanto, se c 6= 0 os vetores ~e e ~c são sempre perpendiculares, logo ~e está contido
~r
no plano da órbita (~e é coplanar com ~r). Se c = 0, temos que = −~e e ~e estará
r
sobre a reta do movimento, e e = ||~e|| = 1.
Vamos agora interpretar a quantidade e quando c 6= 0. Multipliquemos escalar-
mente por ~r a equação 1.21, obtendo

µ(~e • ~r + r) = ~r • ~v × ~c = ~r × ~v • ~c = ~c • ~c
Portanto

c2
~e • ~r + r = (1.22)
µ
c2
Temos dois casos a considerar. Se e = 0, então r = e ~r é uma constante.
µ
Nesse caso, o movimento é circular. Utilizando a relação:

(~r • ~v )2 + (~r × ~v )2 = r2 v 2
temos que:

v 2 = ṙ2 + c2 r−2 (1.23)


c µ
Sendo r uma constante, resulta que ṙ = 0, e portanto v = = , isto é, o
r c
movimento é circular, e a partı́cula move com velocidade constante.
Pela lei da conservação de energia.
1 2 µ
v = + h,
2 r
substituindo os resultados acima, concluı́mos que

µ2
h=−
2c2
ou seja, h < 0 e 2T = U .
Suponhamos agora e 6= 0, que é o segundo caso. Representemos o vetor ~e no
plano da órbita, como mostra a figura 1.9
O ângulo fixo entre o eixo x e o vetor ~e indicaremos por ω. Se (r, θ) representa
a posição Q da partı́cula, o ângulo θ − ω indicaremos por f . A mesma posição Q
pode ser representada por (r, f ), se ~e é utilizado como uma referência.
Assim, ~e • ~r = ercosf , e a equação 1.22 torna:

c2 /µ
r= (1.24)
1 + ecosf
Considere agora uma lina L, traçada a uma distância c2 /µe de 0, perpendicular
a ~e, e do lado em que ~e está apontando. A equação 1.24 pode ser escrita:
Cap. 1 1.7. Coordenadas Relativas e Baricêntricas 16

Figura 1.9.

µ 2 ¶
c
r=e − rcosf ,
µe
o que diz que a distância da partı́cula Q até a origem O, é e vezes a sua distância
até L.
Consequentemente, a partı́cula move sobre uma secção cônica de excentricidade
e, e com um dos focos em O.
Esse resultado é precisamente a primeira lei de Kepler.
Quando f = 0, teremos o menor valor para r, desde que e > 0, como podemos
ver em 1.24. Portanto, o vetor ~e tem o comprimento igual à excentricidade, e aponta
para o ponto P , onde a partı́cula está mais próxima do foco. O ponto P é chamado
pericentro, e o ângulo f , a anomalia verdadeira. Dependendo da fonte de atração
em O, o pericentro P recebe nomes apropriados, por exemplo,
Sol em O: P = perihélio
Terra em O: P = perigeo
Júpiter em O: P = perijove, etc
No estudo do Sistema Solar, o eixo x é fixado pela convenção astronômica inter-
nacional. O ângulo ω é denominado de amplitude do pericentro.
Da teoria das cônicas, os vários tipos de órbitas são obtidos, dependendo do valor
de e. Assim, para 0 < e < 1 a órbita é uma elipse, se e = 1, temos uma parábola, e
se e > 1, teremos um ramo de hipérbole, convexo ao foco.
Lembramos que em cada caso tem-se que e > 0. Como r2 θ̇ = c e θ̇ = f˙, vem que
f˙ > 0, e a órbita se desenvolve na direção de f crescente. ¥

1.7 Coordenadas Relativas e Baricêntricas


Um elemento fundamental sobre equações diferenciais é a existência e unicidade
de solução. Sejam fi (z1 , ..., zn ), i = 1, ..., n funções cujas primeiras derivadas parciais
Cap. 1 1.7. Coordenadas Relativas e Baricêntricas 17

são contı́nuas numa região do espaço n-dimensional, e seja (ς1 , ..., ςn ) um ponto
particular dessa região. Então o sistema de equações diferenciais

z˙i = fi (z1 , ..., zn )


terá uma única solução zi (t) definida na vizinhança de t = 0, tal que zi (0) = ςi ,
i = 1, ..., n.
Consideremos agora as equações básicas 1.5 e suponhamos que f possua derivada
contı́nua. Em termos de coordenadas, sejam ~r = (x, y, z) e ~v = (α, β, γ). Então o
sistema equivalente será

ẋ = α
ẏ = β
ż = γ
x
α = −f (r)
r
y
β = −f (r)
r
z
γ = −f (r)
r
onde r2 = x2 + y 2 + z 2 . Segue-se que existe uma única solução satisfazendo seis
valores iniciais de x, y, z, α, β e γ para t = 0. Na forma vetorial, significa que existe
uma única solução ~r(t) e ~v (t) tomando valores iniciais ~r0 e ~v0 no instante t = 0.
No caso especial f (r) = µr−2 , vimos que cada uma das quantidades ~c, ~e e h
mantém constante durante o movimento, e portanto, é determinada pelo seu valor
no instante t = 0.

~c = ~r0 × ~v0
~v0 × ~c ~r0
~e = −
µ r0
1 2 µ
h = ~v0 −
2 ~r0

~c, ~e e h constituem sete constantes escalares, e devem estar relacionadas entre


si, pois devemos ter seis constantes independentes. Uma relação já foi vista entre
~c e ~e, que é →
−c • ~e = 0. Na verdade existe mais uma relação entre as constantes, e
reduz para cinco o número de constantes independentes.
Para obter a segunda relação, tomemos a integral de Laplace, e lembrando que
~v e ~c são perpendiculares, fazendo produto escalar em ambos os lados obtemos
µ ¶2
2 ~r
µ ~e + = v 2 c2
r
Usando a equação da conservação de energia e a equação 1.22, vem que

µ2 (e2 − 1) = 2hc2 (1.25)


Note que 1.25 está de acordo com resultados anteriormente obtidos, como

e = 1 se c = 0
Cap. 1 1.8. Posição na Órbita Elı́ptica: Caso h < 0 18

e
−µ2
h= se e = 0
2c2
Consequencias importantes decorrem de 1.25. Se c 6= 0, então e < 1, e = 1 ou
e > 1 conforme a energia h seja negativa, nula ou positiva. Se h 6= 0 e c 6= 0 e a é o
semi-eixo maior, então:
1
a = µ|h|−1 (1.26)
2
Com esse resultado e a fórmula de energia, obtemos as seguintes fórmulas básicas
µ ¶
2 2 1
v =µ + se h>0 (1.27)
r a

v2 = se h=0 (1.28)
r
µ ¶
2 2 1
v =µ − se h<0 (1.29)
r a

1.8 Posição na Órbita Elı́ptica: Caso h < 0


Na seção 1.7 vimos que os valores iniciais ~r0 e ~v0 determinam a órbita, pois
fornecem ~c e ~e. Mas ainda o problema está incompleto. A questão agora é localizar
a partı́cula na órbita num instante qualquer.
Uma solução seria obter ~r(t) numa forma explı́cita do tempo, mas isso não é
trivial, e portanto adotaremos outro procedimento.
Consideremos inicialmente o caso h < 0 (Órbita elı́ptica).
Na figura 1.10 a relação entre as áreas da elipse e a do cı́rculo é πab/πa2 = b/a.
Por outro lado, QX/Q0 X = b/a. Sejam A a área do setor P OQ e A0 a de P OQ0 .
Então A/A0 = b/a. Na figura 1.10 CP = a(= OR), CO = ae e CR = b.

Figura 1.10.

Ainda da segunda lei de Kepler, se T e t são os instantes em que a partı́cula


ocupa posições P e Q respectivamente, e p é o perı́odo, temos que
Cap. 1 1.9. Posição na Órbita Parabólica: Caso h = 0. 19

A T −T πab
= A= (t − T )
πab p p
Por outro lado, A0 é obtida da área do setor circular P CQ0 , subtraindo a área
do triângulo OCQ0 . Assim,

0 a2 u aeasenu
A = −
2 2
Portanto

(t − T ) = u − esenu
p
e que escrevemos

l = u − esenu (1.30)
onde l = n(t−T ) com n = 2π/p. A equação 1.30 é chamada equação de Kepler, l
é conhecida como anomalia média e n é o movimento médio. O ângulo u é chamado
de anomalia excêntrica, e f de anomalia verdadeira.
Existem fórmulas que relacionam f e u.
Procuremos agora expressar r como função de u. Da figura 1.10 temos que
b
acosu = ae+rcosf e rsenf = asenu. Destas relações obtemos r2 = a2 (1−ecosu)2 ,
a
e portanto

r = a(1 − ecosu) (1.31)


Diferenciando a equação de Kepler, temos que l˙ = n = u̇(1−ecosu). Combinando
1.31, vem que u̇r = na. Então u̇r é uma constante, e escrevemos u̇r = na = k.
Assim, u pode ser definida como sendo
Z t

u=k (1.32)
T r(τ )

T é, como vimos, o instante de passagem da partı́cula pelo ponto P , que é o


pericentro. De 1.32 constatamos que T é uma constante de integração, a sexta
constante que estava faltando.
Como o movimento é periódico, T não é univocamente determinado pelas condições
iniciais r~0 e v~0 . Se f0 > 0 no instante t = 0, então T é a primeira passagem anterior
a t = 0. Caso contrário, T será a primeira passagem posterior a t = 0.
Fixando uma origem, eixo x na figura 1.11, o ângulo ω formado entre essa origem
e a direção do pericentro P , é denominado argumento do pericentro. O ponto oposto
a P (P 0 na figura) é o apocentro (apogeu, aphélio, etc).

1.9 Posição na Órbita Parabólica: Caso h = 0.


Substituindo a equação 1.23 na equação da conservação da energia, temos que:
Cap. 1 1.9. Posição na Órbita Parabólica: Caso h = 0. 20

c2
ṙ2 +
= 2[f1 (r) + h]
r2
Multiplicando por r2 ambos os membros, resulta:

(rṙ)2 + c2 = 2(µr + hr2 ) (1.33)

Figura 1.11.

De 1.33 e da definição 1.32 obtemos que ṙ = r0 u̇ = r0 k/r


Portanto a equação 1.33 fica:

k 2 (r0 )2 + c2 = 2(µr + hr2 ) (1.34)


0
onde r = dr/du. O tratamento da equação 1.34 depende do sinal de h. Estude-
mos o caso h = 0 e escolhemos k 2 = µ. Então:

(r0 )2 + c2 /µ = 2r
Diferenciando, vem r0 r00 = r0 . Como r0 6= 0, segue-se que r00 = 1. Portanto r é
quadrática em u, e escrevemos
1
r = (u − u0 )2 + A
2
Substituindo na equação, resulta A = c2 /2µ. Escolhemos u0 = 0, uma vez que u
depende de uma constante arbitrária em 1.32, e então
1
r = (u2 + c2 /µ)
2
Assim, de 1.32 temos kdt = rdu, donde
Z t Z
1 u 2
k dt = (u + c2 /µ)du
T 2 0
3
Sendo k = µ, resulta
Cap. 1 1.10. Posição na Órbita Hiperbólica: Caso h > 0 21

√ 1 c2
µ(t − T ) = u3 + u
6 2µ
µ ¶
1 2 c2
r= u + (1.35)
2 µ
As equações 1.35 do caso h = 0 são as equivalentes às equações 1.30 e 1.31 do
caso h < 0. Aqui também T tem a interpretação já vista. Consideremos inicialmente
o caso c 6= 0. Sendo h = 0, então e = 1 e de 1.24 temos uma órbita parabólica dada
por

c2 /µ
r=
1 + cosf
2
O maior valor de r é c /2µ, quando f = 0. Mas esse valor é o valor de r quando
u = 0, ou ainda t = T , conforme 1.35. Portanto T é o instante de passagem pelo
pericentro. Se c = 0, as equações 1.35 tornam

6 µ(t − T ) = u3

1
r = u2
2
Então t = T acarreta u = 0, e consequentemente r = 0. Nesse caso T corresponde
ao instante de colisão com a origem. Se T > 0, então podemos falar do movimento
no intervalo −∞ < t < T . Se T < 0, então a partı́cula foi emitida de O no instante
t = T , e o movimento é descrito no intervalo T < t < ∞.

1.10 Posição na Órbita Hiperbólica: Caso h > 0


Partimos da equação 1.34, e agora tomamos k 2 = µa, ou de 1.26, k 2 = 2|h| = 2h.
Então a equação fica (r0 )2 + ac2 /µ = 2ar + r2 . Usando 1.25 e somando a2 a ambos
os membros, obtemos

(r0 )2 + a2 e2 = (a + r)2
Definimos uma nova função ρ(u) tal que

eaρ = a + r (1.36)
Substituindo na equação acima, resulta

(ρ0 )2 − ρ2 = −1 (1.37)
Se excluirmos as soluções triviais ρ = ±1, a equação 1.37 é satisfeita por ρ =
cosh(u + k1 ). Como T é livre, escolhemos k1R= 0. Então, de 1.36 vem que r =
u
a(ecosu − 1). Substituindo em k(t − T ) = 0 rdu, obtemos o par de equações
equivalentes a 1.30 e 1.31 para o caso h > 0
n(t − T ) = esenu − u
r = a(ecosh − 1) (1.38)
√ √
onde n = k/a = u/ a3
Cap. 1 1.11. Elementos Orbitais 22

1.11 Elementos Orbitais


O sistema utilizado até agora, é um sistema cujo plano (x, y) é o plano do movi-
mento, e o eixo z é paralelo ao vetor ~c. Como r2 θ̇ = c, o movimento é no sentido de
θ crescente. A órbita é completamente determinada pelas quantidades c, e, T . Ou
ainda, se o eixo x é fixado, tudo é determinado pelos parâmetros a, e, w, T .
No entanto, o que ocorre normalmente, é que o plano fundamental utilizado não
é o plano da órbita. Introduzimos então, um novo sistema (X, Y, Z) centrado na
origem O, e procuramos a descrição do movimento nesse novo sistema de referência.
Assim, os dois novos elementos são introduzidos: i e Ω, como mostra a figura
1.12.
i é o ângulo entre ~c e Z, e determina a inclinação do plano da órbita em relação
ao plano fundamental (X, Y ). É chamado de inclinação. Ω é o ângulo entre o eixo X
e a linha dos nodos, interseção dos dois planos. O eixo x sobre o plano do movimento
é escolhido de modo a coincidir com a linhas dos nodos, e o eixo positivo dirigido
ao nodo ascendente γ.
Portanto, Ω é chamado de longitude do nodo ascendente. Definimos também a
longitude do pericentro como sendo ω ~ = Ω + ω. Então o movimento da partı́cula é
completamente determinado pelos elementos orbitais a, e, i, ω ~, Ω e T.
i e Ω definem a posição do plano da órbita em relação ao plano fundamental.
a, e e w determinam a forma e posição da órbita no plano do movimento.
T determina a posição da partı́cula na órbita.

Figura 1.12.

Definindo-se o vetor nodo como sendo ~n = ~k × ~c, onde ~c = ~r × ~v , e supondo que


as condições inicias ~r e ~v são dadas na forma

~r = X~i + Y ~j + Z~k

~v = X~i + Y ~j + Z~k,
podemos obter um algoritmo para calcular os elementos orbitais
Cap. 1 1.12. Problema de Dois Corpos 23

1. a(1 − e2 ) = c2 /µ

2. µ~e = (v 2 − µ/r)~r − (~r • ~v )~v

3. cosi = (~c • ~k)/c

4. cosΩ = (~n • ~i)/n

5. cosω = (~n • ~e)/ne

6. cosf0 = (~e • ~r)/er

1.12 Problema de Dois Corpos


Uma vez descrito o problema da força central, vamos agora abordar um problema
que consiste em descrever o movimento de um sistema formado por duas partı́culas,
movendo sob a atração gravitacional mútua. Esse problema é conhecido como sendo
o problema de dois corpos.
Seja O um ponto fixo, origem de um sistema inercial, m1 e m2 as massas das
partı́culas r~1 e r~2 as suas posições e r a distância entre elas (Fig. 1.13).

Figura 1.13.

Da lei universal da atração gravitacional de Newton, as equações do movimento


são
Gm1 m2 r~2 − r~1
m1 r~¨1 =
r2 r
Gm1 m2 r~1 − r~2
m2 r~¨2 = (1.39)
r2 r
com G, é a constante de gravitação. Fazendo ~r = r~2 − r~1 , reduzimos às coorde-
nadas relativas, e a equação correspondente será
µ
~r¨ = − 3 ~r (1.40)
r
Cap. 1 1.12. Problema de Dois Corpos 24

onde µ = G(m1 + m2 ). A equação 1.40 mostra que o problema de dois corpos,


em coordenadas relativas se reduz a um problema de força central com µ bem deter-
minado. Uma vez resolvida a equação 1.40, voltamos à equação 1.39 e resolvemos
em r~1 e r~2 .
A órbita de cada partı́cula vista da outra é chamada de órbita relativa. Trocando
~r por −~r a equação 1.40 não se altera, portanto as órbitas relativas são geometrica-
mente idênticas.
Um outro procedimento para a solução do problema de dois corpos, é a redução
às coordenadas baricêntricas. Somando as duas equações de 1.39 resulta

m1 r~¨1 + m2 r~¨2 = ~0
Isso tem uma interpretação muito importante. O vetor posição do centro de
massa O0 é dado por

m1 r~1 + m2 r~2
r~c =
m1 + m2
donde tem-se que ~r¨ = 0. Então

r~c = ~at + ~b (1.41)


onde ~a e ~b são vetores constantes determinados pelas condições iniciais. Esse é
o resultado de princı́pio da conservação de movimento linear: o centro de massa do
sistema se move numa linha reta, com velocidade constante.
O sistema 1.40 é de ordem 12. Os vetores ~a e ~b fornecem 6 constantes, portanto
devemos procurar mais 6. Para isso vamos levar o sistema de coordenadas para o
centro de massa O0 . Isso é equivalente a mudar r~1 por r~1 − r~c e r~2 por r~2 − r~c em
1.39, mas como r~¨c = 0, o sistema fica inalterado.
Sejam agora r~1c e r~2c , as posições das partı́culas em relação a O0 . Então r =
r1c + r2c , m1 r1c = m2 r2c e o sistema 1.39 fica
3
Gm r~1c
r~¨1c = − 22 3
M r1c
3
Gm r~2c
r~¨2c = − 21 3 (1.42)
M r2c

com M = m1 + m2 . Essas equações são dependentes pois

m1 r~1c + m2 r~2c = ~0 (1.43)


Em vista disso, basta resolver uma delas. Novamente temos um problema de
força central, e as 6 constantes são os elementos orbitais de cada órbita, relativamente
ao centro de massa.
A conclusão é que o centro de massa move uniformemente, e cada uma das
partı́culas move em relação ao centro de massa, como se uma força fictı́cia de atração
estivesse localizada aı́, com µ = Gm32 M −2 para a primeira massa, e µ = Gm31 M −2
para a segunda.
Cap. 1 1.13. O Sistema Solar e a Terceira Lei de Kepler 25

A energia potencial do sistema é dada por


Gm1 m2
U=
r
e a energia cinética por
1
T = (m1 v12 + m2 v22 )
2
onde v~1 = r~˙1c e v~2 = r~˙2c
Das equações 1.42 obtemos

1 Gm1 m32 1
h1 = T1 − U1 = m1 v12 −
2 M 2 r1c
1 Gm2 m31 1
h2 = T2 − U2 = m2 v22 −
2 M 2 r2c
Usando 1.43 podemos concluir que

T = T1 + T2 e U = U1 + U2
Ainda podemos mostrar que
h1 U1 T1 m2
= = =
h2 U2 T2 m1

1.13 O Sistema Solar e a Terceira Lei de Kepler


O Sistema Solar real é muito complexo. Com o objetivo de ilustrar a teoria vista,
descrevemos um sistema solar simplificado. Consideremos 10 partı́culas, uma das
quais o Sol, que é responsável pela maior parte da massa.
Pelo fato da maioria da massa do Sistema Solar estar concentrada no Sol, su-
poremos que cada planeta move independentemente dos outros, influenciado apenas
pelo Sol. O resultado é que teremos 9 sistemas de dois corpos. Cada planeta é
governado pela equação

~r
~r¨ = −µ 3 com µ = G(ms + mp )
r
ms sendo a massa do Sol, e mp a do planeta.
Sejam np e ap o movimento médio e o semi-eixo maior da órbita elı́ptica do
planeta, com o Sol num dos focos. Da 3a lei de Kepler

n2p a3p = G(ms + mp )


Segue-se que, para dois planetas p e q temos
mp
n2p a3p 1+ ms
= mq
n2q a3q 1+ ms
Cap. 1 1.13. O Sistema Solar e a Terceira Lei de Kepler 26

Como ms À mp ou mq , resulta que n2p a3p é aproximadamente o mesmo para todos


os planetas.
Para descrever a órbita real dos planetas, tomamos a origem sobre o Sol, e o plano
fundamental (X, Y ) como sendo a órbita da Terra, que é conhecida como sendo a
eclı́ptica. É comum também colocar a origem da Terra (sistema geocêntrico), ao
invés do Sol (sistema heliocêntrico). O eixo X é dirigido para um ponto entre as
estrelas, conhecido o equinócio vernal (ou primeiro ponto de Áries ou simplesmente
equinócio, e se refere ao nodo ascendente da eclı́ptica com relação ao equador da
Terra).
Então, cada órbita é definida pelos elementos i e Ω que fixam o plano do movi-
mento; a, e e w ~ que descrevem a cônica nesse plano, e a posição do planeta sobre
a órbita pode ser determinada quando se conhece T , o instante de passagem pelo
perihélio.
O problema de dois corpos pode ser aplicado aos sistemas binários, ou estrelas
duplas, para estimar as massas das componentes. Esses sistemas são relativamente
numerosos na vizinhança do Sol (aproximadamente 50%), e o primeiro a se observado
foi ς Ursa Maior (Mizar) em 1650 por Jean Baptiste Riccioli (Bologna).
Através de observações contı́nuas podemos determinar alguns elementos, como
o perı́odo e a distância entre os componentes (ou ainda, a distância de cada uma ao
centro de massa). Então, se p é o perı́odo, m1 e m2 as massas e a1 e a2 as distâncias
ao centro de massa, temos que
(1) 3a Lei de Kepler

4π 2 a3
p2 = com a = a1 + a2
G(m1 + m2 )

(2) da definição de centro de massa

m1 a1 = m2 a2
Capı́tulo 2

O Problema de N Corpos (PNC)

2.1 Formulação do Problema de N Corpos


Um dos problemas clássicos mais interessantes, e provavelmente o mais antigo
da Mecânica Celeste, é aquele relacionado com o movimento individual de vários
corpos cada um sob influência do campo gravitacional do outro. Consideremos então
um sistema formado por N corpos puntiformes, ou seja, cada qual com sua massa
concentrada no respectivo centro de massa. Sejam (xi , yi , zi ) e mi , respectivamente,
as coordenadas retangulares de origem arbitrária e a massa do i-ésimo corpo do
sistema (Figura 2.1).

Figura 2.1.

A função potencial do sistema para a Lei de Atração Gravitacional de Newton,


a qual o corpo em questão está sujeito é dado por:

X Gmi mj
V =− (2.1)
i<j
rij
P∗
i<j significa somatório sobre i e j, i < j e i 6= j onde G é a constante de

27
Cap. 2 2.1. Formulação do Problema de N Corpos 28

gravitação universal, e rij a distância entre o i-ésimo e o j-ésimo corpo. Esta distância
é dada por

2
rij = (xi − xj )2 + (yi − yj )2 + (zi − zj )2 (2.2)
As equações do movimento em cada coordenada são

X
mi ẍi = − fij (xi − xj ) (2.3)
j

X
mi ÿi = − fij (yi − yj ) (2.4)
j

X
mi z¨i = − fij (zi − zj ) (2.5)
j

Gmi mj P∗
onde fij = fji = 3
e j é o somatório sobre j 6= i, de 1 a N . Sendo N o
rij
número de corpos do sistema, então temos 3N equações diferenciais do tipo 2.3 e 2.5.
Essa equações não podem ser resolvidas completamente e portanto iremos estudar
algumas propriedades do PNC. Tomemos como exemplo N = 2 ou o P2C (Problema
de Dois Corpos)(Figura 2.2). Pela lei de atração gravitacional e a segunda lei de
Newton,

Figura 2.2.

m1 r~¨1 = f12 (~
r2 − r~1 ) = f12 (~
r1 − r~2 )

m2 r~¨2 = f12 (~
r1 − r~2 ) = f12 (~
r2 − r~1 )
Gm1 m2 2
com f12 = 3
e r12 = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 + (z1 − z2 )2
r12
Cap. 2 2.1. Formulação do Problema de N Corpos 29

As equações em termos das coordenadas são

m1 x¨1 = −f12 (x1 − x2 )

m1 y¨1 = −f12 (y1 − y2 )

m1 z¨1 = −f12 (z1 − z2 )

m2 x¨2 = −f12 (x1 − x2 )

m2 y¨2 = −f12 (y1 − y2 )

m2 z¨2 = −f12 (z1 − z2 )


No P2C a função potencial V possui apenas um termo que depende somente da
distância mútua entre os pontos materiais, logo a escolha da origem é arbitrária.
Fixemo-la sobre a massa m1 . Logo, a partı́cula de massa m2 está sob a ação da
seguinte força gravitacional
Gm1 m2
− ~r
r3
e sua equação do movimento é
Gm1 m2
m2~r¨ = − ~r
r3
Multiplicando escalarmente a equação acima pela sua velocidade v = ~r˙ temos
Gm1
~v˙ • ~v = − 3 ~v • ~r
r
Mas como

1 d(~v • ~v ) 1 d(v 2 )
~v˙ • ~v = =
2 dt 2 dt
e
dr
~r • ~v = ~r • ~r˙ = rṙ = r
dt
Então

1 d(v 2 ) Gm1 dr
=− 2
2 dt r dt
Multiplicando por dt e integrando temos
Z
1 2 1
v = −Gm1 dr + E 0
2 r2
ou
Cap. 2 2.2. Integrais de Movimento 30

1 2 Gm1
v = + E0
2 r
Multiplicando por m2 e fazendo E = m2 E 0
1 Gm1 m2
m2 v 2 = +E
2 r
O termo da esquerda é conhecido como energia cinética T , e o primeiro termo
da direita com o sinal trocado, é exatamente a energia ou função potencial V . A
constante de integração, ou constante do movimento E representa a energia total
do sistema, e a equação

T =U +E
exprime o princı́pio da conservação da energia, donde

U = −V

2.2 Integrais de Movimento


Para transformar as equações 2.3 a 2.5 num sistema equivalente, de 6N equações
diferenciais de primeira ordem, mediante definições de novos parâmetros, as veloci-
dades. Vetorialmente esse novo sistema é da forma

r~˙i = v~i (2.6)


X
mi v~˙i = − fij (~
ri − r~j )
j

Pelo Teorema de Cauchy, se as funções do lado direito satisfazem a condição de


Lipschitz numa vizinhança de um ponto P0 do espaço R6 N , então existe uma única
solução do sistema que passa por P0 num instante inicial t0 . Isso significa dizer que
existe uma única solução, satisfazendo 6N valores iniciais para t = t0 . Portanto,
para uma completa solução do PNC, são necessárias 6N constantes de integração
independentes. No entanto, o número máximo de constantes independentes que
dispomos para o Problema de N corpos é dez, então para N > 2, o problema não tem
solução analı́tica completa. Vamos determinar essas dez constantes e analisarmos
algumas propriedades do PNC que daı́ ocorrem. Tomando as equações 2.3 a 2.5 na
forma vetorial

X
mi r~¨i = − fij (~
ri − r~j ) (2.7)
j

e somando essas equações sobre todo i de 1 a N temos que


X
mi r~¨i = ~0
i
Cap. 2 2.2. Integrais de Movimento 31

Integrando duas vezes resulta


X
mi r~i = ~at + ~b (2.8)
i

onde ~a e ~b são constantes. Sendo a posição R do centro de massa do sistema


dada por
P
~ mi r~i
R = Pi
i mi
o resultado 2.8 nos mostra que o centro de gravidade do sistema de N corpos, ou
está em repouso (se ~a = ~0), ou está em movimento retilı́neo uniforme, em relação a
um sistema de referência inercial. Isso nos permite transferir a origem do sistema
de referência para o centro de massa, simplificando a equação 2.8 para
X
mi r~i = ~0
i

Multiplicando a equação 2.7 vetorialmente à esquerda por r~i e somando sobre


todo i, obtemos
X
mi r~i × r~¨i = ~0
i

Integrando-se uma vez, vem que


X
mi r~i × r~˙i = ~c (2.9)
i

onde ~c é um vetor constante. Esse resultado é conhecido como integral das áreas
e o plano que passa pelo centro de massa e é perpendicular ao vetor ~c, é chamado
de plano invariável do sistema. É importante ter certo cuidado na aplicação desse
princı́pio, pois, mesmo que não existam forças externas ao sistema, se a integração
entre corpos for tal que provoque problemas de maré, criando assim movimentos
precessionais nas órbitas, então o momento angular ~c deixará de ser constante.
No sistema planetário, a conservação é boa, e o plano invariante é bem definido
(Ω = 107◦ e i = 1◦ 350 ).
Falta determinar mais uma constante escalar, e esta está relacionada com o
princı́pio da conservação de energia total do sistema.
Tomando a função potencial 2.1, com o sinal trocado:

X Gmi mj
U = −V = (2.10)
i<j
rij

e lembrando a expressão de rij em 2.1 vem que


1

X ∂ ∗
X
∂U rij
= Gmi mj =− fij (xi − xj )
∂xi j
∂xi j
Cap. 2 2.2. Integrais de Movimento 32

pois,
1 ∂rij
∂ 0.rij − · ¸
rij ∂xi 1
= 2
= − 3 (xi − xj )
∂xi rij rij
∂U ∂U
Analogamente para e , as equações 2.3 a 2.5 podem ser escritas
∂yi ∂zi
∂U
mi x~¨i =
∂xi
∂U
mi y~¨i =
∂yi
∂U
mi z~¨i =
∂zi
Utilizando o operador nabla
∂ ∂ ∂
∇i = ~i + ~j + ~k
∂xi ∂yi ∂zi
podemos escrever a equação 2.7 na forma

mi~r¨ = ∇i U (2.11)
Multiplicando escalarmente por ~r˙ , e somando sobre todo i temos
X X
mi r~˙i • r~¨i = r~˙i • ∇i U
i i
Observemos que

1 d(r~˙i • r~˙i ) 1 (vi )2


r~˙i • r~¨i = =
2 dt 2 dt
e
dU X
= r~˙i • ∇i U
dt i
Portanto,
1X
mi vi2 = U + E
2 i
O primeiro termo sendo exatamente a energia cinética I do sistema, o princı́pio
de conservação da energia total do sistema é representado pela relação:

T =U +E (2.12)
onde E é a décima integral do movimento procurada. Novamente esse princı́pio
é válido somente para sistemas conservativos. Com estas dez integrais primeiras
podemos eliminar 10 coordenadas no sistema 2.6, reduzindo-o assim a um sistema
em 6N − 10 equações diferenciais de primeira ordem. Pode se provar que não existe
mais nenhuma constante independente, além destas aqui determinadas.
Lista de Figuras

1.1 Figura por [23], modificada por LUIZ, A. A.


1.2 Figura por LUIZ, A. A.
1.3 Figura por LUIZ, A. A.
1.4 Figura por LUIZ, A. A.
1.5 Figura por LUIZ, A. A.
1.6 Figura por LUIZ, A. A.
1.7 Figura por LUIZ, A. A.
1.8 Figura por LUIZ, A. A.
1.9 Figura por [6].
1.10 Figura por [6].
1.11 Figura por [6].
1.12 Figura por [6].
1.13 Figura por [6].
2.1 Figura por [6].
2.2 Figura por [6].

33
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