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BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO
Incorporação – Responsabilidade do proprietário
do terreno pelas unidades a construir e não entregues
pelo incorporador. Jaques Bushatsky (p. 3)
I até que ponto o proprietário do terre- vas leituras da lei, se pouco, permitiu
Certamente será sempre lem- no, que o permuta por futuras unida- a preconização, em especial, da in-
brada a lição de Caio Mario¹, para des a serem erigidas no local, res- teligência tradicional, dos dispositivos
quem “toda pessoa física ou jurídica, ponde perante os adquirentes de uni- que claramente regram a sociedade.
independentemente de sua anterior dades destinadas ao incorporador, E a expectativa tem sido coeren-
profissão, torna-se incorporador pelo prometidas à venda e não entregues? temente atendida pelos tribunais, a
fato de exercer, em caráter perma- Para essa responsabilização, o eles entregue a oportunidade da aná-
nente ou eventual, uma certa ativida- alienante do terreno há de ser equi- lise acerca da abusividade de algu-
de, que consiste em promover a parado ao incorporador? Em que mas cláusulas por vezes incluídas em
construção da edificação dividida em medida? contratos, a análise de situações en-
unidades autônomas”. É bem verdade que o entendi- tranhadas de injustiças ou eventual-
Pode ser incorporador o dono do mento jurisprudencial às vezes ema- mente, resolvidas sem atenção à Lei
terreno destinado à construção do nado de nossas Cortes, ou as teses ou a circunstâncias efetivas e fáticas,
edifício, o construtor (que pode ser o propagadas, possam ser porventura permissivas de enriquecimento ilíci-
dono do terreno ou não), o corretor qualificados como exacerbados, qui- to.
e, em alguns casos, o agente finan- çá “diferenciados”. Não são poucas Para os negócios, a possibilida-
ceiro. as oportunidades em que nos espan- de de decisões dissonantes é aterra-
tamos com situações que estampam dora. Para os estudiosos, pode ser
A hipótese explorada nestas ilações de difícil compreensão, exi-
anotações é aquela em que o dono espantosa, mas estimulante. Para os
bindo lógicas nem sempre atentas às que devem profissionalmente prestar
do terreno o troca por unidades a lições tradicionais². Mas, estas posi-
serem construídas, celebrando um assistência jurídica, não raro, resta a
ções esdrúxulas não compõem a ju- perplexidade e abre-se a premência
contrato que obviamente, será soma- risprudência remansosa, a qual é for-
do a vários outros, compondo um de buscar novas e nem sempre fá-
mada por incontáveis conclusões ceis ou economicamente viáveis so-
conjunto complexo, impondo a bem calçadas, consequência da mai-
vinculação de fato e de direito com luções.
or busca pela população, da atuação Cumpre de qualquer maneira,
sujeitos, objetos, obrigações e efei- do Judiciário.
tos distintos. Da quebra do pacto ori- ter em mente que existem novas nor-
ginal (a permuta) foram destacados De qualquer maneira, é certo mas, “cláusulas gerais” francamente
aqui, os elementos que acarretam que aquelas posições, mesmo que adotadas pelo código civil4, equipa-
ônus ao proprietário - permutante. esquisitas, geraram elevada deman- radas aos princípios que norteiam a
da de soluções judiciais, até então legislação, com realce à boa-fé obje-
II não perseguidas pela sociedade, que tiva e à perseguição do equilíbrio do
Com o correr dos anos e a evolu- acordou³ para os dispositivos legais contrato.
ção dos entendimentos jurisprudencial de proteção. Em rápida lembrança, quanto à
e doutrinário, com a elasticidade da A expectativa aflorou, isto é no- aferição da presença da boa-fé, não
aplicação de conceitos insertos no tório, mas é essencial observar que, se admite “... uma aplicação mecâni-
Código de Defesa do Consumidor, mesmo que discutível uma ou outra ca do standard, de tipo meramente
aliada à letra da Lei 4.591 de 16/12/ posição emanada da “jurisprudência subsuntivo ” no dizer de Judith
1964 e com respaldo no Código Civil alternativa”, existe fulcro inequívoco Martins-Costa5, cumprindo sempre
de 2002, findou identificado com mai- para postulações antes não ajuiza- buscar o objetivo do contrato. Ora, é
or realce, um foco de preocupação: das. Em suma, a divulgação de no- nesta linha lógica que se infere a res-
ponsabilidade do dono do terreno que em que o proprietário do terreno já chamados inteligentes), mas tenta
ajusta “permuta no local”6: ele (é ra- levou os projetos à aprovação, optan- disfarçar essa condição com o artifí-
zoável supor) objetiva na modalida- do em seguida por empreender o res- cio de prometer vender o terreno a
de de negócio que enceta, um bene- tante da operação com terceiro. outra firma que assume a aparência
fício que não se confunde com a sin- Porém vale anotar que se trata de verdadeira incorporadora...” 8 .
gela venda de seu imóvel e sim, cer- de presunção que talvez se afaste um Essa decisão do Tribunal de Justiça
ta participação na incorporação, mui- tanto, hoje em dia, das práticas de carioca certamente há de ter sido
to embora distintas as características mercado: premidos por nem sempre alcançada à vista de circunstâncias
inerentes ao contrato de permuta e coerentes ou razoáveis alterações da documentadas, mas serve aqui, para
ao de incorporação. É esta a premis- legislação municipal7, os proprietá- identificar um aspecto que não esca-
sa desta análise. rios de terrenos mais cautelosos por pa aos analistas: o dono do terreno,
III vezes se adiantam, levando projetos ao celebrar a permuta, tem claro in-
à aprovação (assim como cuidam das teresse no sucesso do empreendi-
Estão na Lei 4591 de 1964, os mento.
dispositivos que dão a resposta para questões ambientais, providenciam a
a questão agora enfrentada. No seu baixa de apontamentos negativos em Desde que buscamos a identifi-
artigo 29, é previsto que: “Conside- seus cadastros, por exemplo), tudo cação do incorporador, para então fi-
ra-se incorporador a pessoa física ou para permitir a futura venda do terre- xar a responsabilidade, não bastas-
jurídica, comerciante ou não, que no, sem que obrigatoriamente se ima- se o elastério dos textos legais já ven-
embora não efetuando a construção, gine uma incorporação, sequer uma tilados, cumpre averiguar o que ve-
compromisse ou efetive a venda de construção. É realidade que há de ser nha a ser essa atividade por ele de-
frações ideais de terreno objetivando enfrentada pelos tribunais, certamen- senvolvida.
a vinculação de tais frações a unida- te. O que se considera “incorpora-
des autônomas, em edificações a Na interpretação literal do artigo ção”? A resposta está no parágrafo
serem construídas ou em construção 29 da Lei das Incorporações, se en- único do artigo 28 da Lei 4591/64: é
sob regime condominial, ou que me- contraria como condição necessária “... a atividade exercida com o intuito
ramente aceite propostas para à responsabilização do proprietário de promover e realizar a construção,
efetivação de tais transações, coor- do terreno, a concretização de alie- para alienação total ou parcial, de
denando e levando a termo a incor- nação (ou promessa) de frações ide- edificações ou conjunto de edifica-
poração e responsabilizando-se, con- ais, o que é distinto da alienação to- ções compostas de unidades autôno-
forme o caso, pela entrega, a certo tal do imóvel, através de permuta ou mas”.
prazo, preço e determinadas condi- não. Logo, bastará estar presente o
ções, das obras concluídas”. Mas, não somente cingidos à objetivo descrito na Lei, para haver
Já do artigo 31, se depreende letra do artigo 29, os Tribunais uma incorporação e um incorporador,
que é incorporador: o proprietário do deslindam a questão da responsabi- trate-se de incorporação dita de di-
terreno, o promitente comprador, o lidade e, se assim não fosse, derru- reito (na lei específica, artigos 28 e
cessionário deste ou promitente badas estariam as preocupações ora 32, em especial) ou a incorporação
cessionário com título que satisfaça expostas, se singela e sistematica- denominada de fato (artigos 29, pa-
os requisitos da alínea “a” do art. 31; mente, em cada contrato fosse rágrafo único e 30, do mesmo diplo-
o construtor; o corretor de imóveis. inserida previsão de alienação atra- ma).
O liame entre o alienante de fra- vés de terceiro. Num segundo passo, tenha-se
ções ideais do terreno e a atividade De fato, a identificação da pre- em mente que o parágrafo único do
de construção é presumido, diz o pa- sença desse intento de incorporar artigo 39 da Lei 4.591/64, prevê que
rágrafo único do artigo 29, se “... ao tem sido freqüente na jurisprudência, nas incorporações em que a aquisi-
ser contratada a venda, ou promes- colhendo-se decisões que claramen- ção do terreno se der com pagamen-
sa de venda ou de cessão das fra- te enxergaram que é responsável o to total ou parcial em unidades a se-
ções de terreno, já houver sido apro- “... proprietário do terreno que tem rem construídas, “Deverá constar,
vado e estiver em vigor, ou pender interesse direto na realização e no também, de todos os documentos de
de aprovação de autoridade adminis- sucesso do empreendimento (pois ajuste se o alienante do terreno ficou
trativa, o respectivo projeto de cons- alardeou que concebeu e estava exe- ou não sujeito a qualquer prestação
trução, respondendo o alienante cutando em seu terreno um projeto ou encargo”.
como incorporador”. que implicava na construção de um Quanto a esse parágrafo único,
São aquelas situações, cediças, conjunto arquitetônico com edifícios tragam-se de pronto as palavras do
Ministro César Asfor Rocha, ao rela- Consumidor, traduzidos até na nuli- ter-se mais, como ocorria antes da Lei
tar Recurso Especial9: “... mesmo dade de dispositivos contratuais n. 4591 de 16/12/1964, numa atitude
que existisse tal cláusula, ela vincu- abusivos. Nessa lógica, são aplicá- de simples expectadora dos conflitos
laria apenas as partes que a tives- veis as regras da Lei 8.078/90 aos que fatalmente surgiriam entre os
sem estabelecido”, para limitar seus contratos de incorporação, de forma impacientes adquirentes das unida-
efeitos. Ou seja, não se afastará a supletiva, quiçá em complemento às des autônomas e as rés tão lerdas
responsabilidade do proprietário do já existentes na lei específica, bus- na execução”.(SIC)
terreno que o permuta por unidades cando-se sempre, a proteção do 4. Ruy Rosado de Aguiar (em “As
autônomas, ante os adquirentes des- adquirente. obrigações e os contratos”, Revista do
tas, se lançada a exoneração permi- Ao tratar deste tema Melhim Centro de Estudos Judiciários do Con-
tida pelo parágrafo único do artigo 39. Namem Chalhub11, afirmou que “o selho da Justiça federal, 09/31-39,
Mais adiante, o artigo 40 da Lei Código de Defesa do Consumidor, edição de setembro a dezembro de
de Incorporações, disciplina as con- que veio sistematizar as idéias 1999) apontou que: “Convencido o
seqüências da rescisão do contrato caracterizadoras do atual estágio da legislador de que, com a sua razão,
de alienação do terreno, dando por evolução da teoria contratual realçan- não pode organizar o mundo de acor-
rescindidas as cessões ou promes- do a função social do contrato e pri- do com a sua vontade como aconte-
sas de cessão de direitos correspon- vilegiando a boa-fé objetiva e o equi- ceu logo após a Revolução France-
dentes à aquisição do terreno10. É líbrio do contrato. O Código de Defe- sa; convencido de que as leis rígidas,
dispositivo nodal para o problema em sa do Consumidor equipara o contra- definidoras de tudo e para todos os
foco. to de incorporação ao contrato de casos, são necessariamente insufici-
Neste caso, o alienante, poderá consumo, suprindo eventuais lacunas entes e levam seguidamente a situa-
dar continuidade ao negócio, pois do sistema de proteção estruturado ções de grave injustiça, o legislador
passa a ter direito sobre a constru- pela Lei das Incorporações, notada- admitiu, como instrumento de
ção já existente no terreno (artigo 40, mente no que tange às clausulas ge- regulação social, a norma legal que
parágrafo 1º). De seu turno, os rais”. permite a solução do caso concreto
adquirentes das unidades autônomas Enfim, toda a sistemática e to- de acordo com as suas circunstânci-
que seriam construídas, têm direito dos os fundamentos, apresentados e as, ainda que isso possa significar
à devolução dos valores pagos pela discutidos pelos estudiosos, buscam uma multiplicidade de soluções para
construção, em face do alienante (pa- elidir o enriquecimento ilícito de um uma mesma situação...” (SIC).
rágrafo 2º). em detrimento dos demais contratan- 5. “in” A Boa-Fé no direito priva-
Clara a intenção do legislador de tes, com o restabelecimento das si- do, cit. p 411.
proteger o negócio, emprestando-lhe tuações fáticas e jurídicas do momen- 6. AVVAD, Pedro Elias, Direito
juridicidade, prestigiando a função to da contratação. Imobiliário, Rio de Janeiro:Renovar,
social do contrato, sustentada pela NOTAS p. 575
boa-fé objetiva e pelo equilíbrio 1. Caio Mário da Silva Pereira 7. No ano de 2005, a cidade de
contratual. De fato, ao contratar com (Condomínio e Incorporações, p. 248, São Paulo enfrentou exatamente este
a incorporadora, o alienante do ter- 10ª edição, RJ, Editora Forense, problema, sabidamente impossibilita-
reno buscava a obtenção de ganho 2001). da a aprovação de novos projetos,
econômico, esta a “economia do con- 2. A lembrar a “justiça lotérica” por empeços legais que se prometia,
trato”. na palavra de Allain Peyreffite, recor- seriam superados; os proprietários
A história nos remete a não ra- dada por Ricardo Dip (Sobre a Crise precavidos foram, esta a constatação
ras situações, nas quais ocorreram Contemporânea da Segurança Jurí- prática, aqueles que, mesmo não pre-
“golpes”, ou mesmo, falha na dica, Revista de Direito Imobiliário, n. tendendo construir, até porque dedi-
estruturação jurídica do procedimento 54, ano 26, p.29, IRIB, Editora Re- cados a outras atividades, cuidaram
de incorporação. Daí a criação de vista dos Tribunais, 2003). de encomendar projetos e os apre-
mecanismos hábeis à garantia da 3. Sim, acordou. Há trinta anos, sentar à Prefeitura. Caber-lhes-á,
boa-fé e do equilíbrio contratual. Daí o Professor Antonio Chaves (Incor- sendo o caso, o ônus da derrubada
a ereção de proteções aos poração Imobiliária, consulta, “in” da presunção legal de vinculação.
adquirentes, por vezes suportadas Revista dos Tribunais volume 498, 8. Agravo de Instrumento
pelos alienantes dos terrenos. abril de 1977, p 34), já ensinava: “A 1999.002.04963, Capital, 16a Câma-
São estes mesmos os princípios situação da proprietária do terreno é ra Cível do TJRJ, julg. 14-10-99, mai-
inspiradores do Código de Defesa das mais complexas. Não pode man- oria, relator Desembargador Dauro
O fundo de comércio ou estabe- cretizado o negócio, sem prejuízo das não se configura de plano, sendo
lecimento, à luz do artigo 1.142, do demais diligências de praxe, inclusi- necessário, basicamente, que seja
Novo Código Civil, é definido como o ve com a completa auditoria legal, dada continuidade ao negócio do
conjunto de bens corpóreos (mobili- imprescindível que o cessionário ana- cedente), fica o registro de que os
ário, equipamentos etc.) e incorpó- lise o passivo da empresa/cedente, cuidados acima são meros exemplos
reos (ponto comercial, marca etc.) a fim de que seja avaliado o risco para embasar o argumento do pre-
utilizados para exploração da ativida- existente, o qual, em última análise, sente, no sentido de que, sem pre-
de econômica escolhida. servirá de base para a quantificação juízo da devida análise comercial, é
Feitos tais esclarecimentos, im- do preço do estabelecimento. fundamental o prévio exame jurídi-
portante indicar, desde logo, os ris- Do ponto de vista da cedente, co completo da viabilidade do negó-
cos inerentes à operação em pauta, cabe ressaltar a parte final do artigo cio.
seja do ponto do cedente/locatário 1.146 do Código Civil, a qual estabe- (*) Os autores são Sócios do
(alienante do estabelecimento) ou do lece que o “devedor primitivo” conti- escritório Cerveira, Dornellas e Advo-
cessionário/locatário (adquirente do nua obrigado pelo prazo de um ano, gados Associados.
(*) O autor é Advogado, Professor de Direito Imobiliário. Autor dos livros: Direito Imobiliário, Uma Abordagem
Didática, edição particular; Títulos de Crédito, Editora Plêiade; Contratos Mercantis, Editora Graph Press; Despesas
Ordinárias e Extraordinárias de Condomínio, Editora Juarez de Oliveira. Autor do curso a distância, por correspondên-
cia, sobre locação de imóveis, da empresa Diário das Leis. E-mail: jorgetarcha@jorgetarcha.com.br
outro contratante. Os dispositivos apontados como viola- pre de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
dos ilustram tais hipóteses. Na espécie, pretende o Distrito Federal, cumulativa-
Em casos de inadimplência do promitente compra- mente: a reintegração de posse, a rescisão contratual e
dor, a jurisprudência desta Corte Superior já se firmou no indenização pelo período em que os recorridos permane-
sentido de que a indenização deve ser fixada em ceram no imóvel inadimplentes. Isso tudo, saliente-se, sem
percentual sobre a totalidade dos valores pagos ao que houvesse a devolução de qualquer percentual das
promitente vendedor, que, dessarte, além de receber de prestações pagas pelos promitentes compradores.
volta a posse do imóvel, não se vê obrigado a restituir ao Dois dados merecem especial relevo: 1) o fato de se
comprador toda a quantia já paga. tratar não de uma incorporadora imobiliária privada, que
Neste sentido: tem como função primordial a busca do lucro em seus
“Civil. Promessa de compra e venda. Inadimplência empreendimentos, mas sim do Distrito Federal, substitu-
do adquirente. Ação pretendendo a rescisão e restituição to do extinto Instituto de Desenvolvimento Habitacional do
das importâncias pagas. Retenção em favor da vendedora, DF, na construção de moradias populares para a popula-
como ressarcimento de despesas. Código de Defesa do ção de baixa renda; e 2) a possibilidade de nova venda do
Consumidor, arts. 51, II, 53 e 54. Código Civil, art. 924. imóvel, beneficiando-se o recorrente com a forte valoriza-
ção imobiliária ocorrida nos últimos anos.
I. A rescisão do contrato por inadimplência do com-
prador dá ao vendedor direito à retenção de parte das Acrescente-se inexistirem nos autos quaisquer pro-
prestações pagas, a título de compensação por despesas vas ou sequer evidências de que os recorridos tenham agi-
administrativas e defasagem do bem. do com má-fé ou animados pelo espírito de locupletamento.
O réu não precisa contestar para poder reconvir. No Ap. c/Rev. 434.333-00/1 - 3ª Câm. - Rel. Juiz MIL-
entanto, se quiser apresentar as duas formas de respos- TON SANSEVERINO - J. 28.7.95.
ta, terá de fazê-lo simultaneamente, isto é, ao mesmo tem- RECONVENÇÃO - Interposição no prazo de respos-
po. Haverá preclusão do direito de reconvir, independen- ta, mas depois da contestação - Admissibilidade -
temente de haver ainda prazo, se o réu contestar em um Inocorrência da preclusão consumativa - Interpretação do
dia e pretender reconvir em outro. Em suma: caso não artigo 299, do Código de Processo Civil - Reconvenção
sejam apresentadas simultaneamente a contestação e tempestiva - Recurso improvido quanto ao tema.
reconvenção, ocorre preclusão consumativa: a oportuni- Apelação nº 836.171-3 - Campinas - 10ª Câmara -
dade para fazê-lo já terá se consumado. 24.09.02 - Rel. Juiz PAULO HATANAKA - v.u.
Ap. c/ Rev. 596.968-00/0 - 11ª Câm. - Rel. Juiz MEN- Diante do exposto, nego provimento ao recurso do réu
DES GOMES - J. 2.4.2001 (quanto ao dia seguinte). locador, mantendo a correta sentença de procedência.
Janeiro Previ/Rio interpõe agravo interno contra decisão bunal, não à parte. CPC, art. 476. Exegese. Crédito
do E. Ministro Carlos Alberto Menezes direito (fls. 92/94) condominial. Preferência ao crédito hipotecário. Obriga-
que negou provimento a recurso especial, ao entendimento ção propter rem.
de que a orientação perfilhada pelo Tribunal de origem, (...)
quanto à preferência dos créditos condominiais na exe-
II. O crédito condominial tem preferência sobre o cré-
cução estaria de acordo com a jurisprudência desta Cor-
dito hipotecário por constituir obrigação propter rem, cons-
te.
tituído em função da utilização do próprio imóvel ou para
2.- Pede a reforma da decisão hostilizada, sob a ale- evitar-lhe o perecimento. Precedentes da STJ.
gação de que a jurisprudência desta Corte não está paci-
(REsp 654.651/SP, Rel. Ministro Aldir Passarinho
ficada a respeito do tema. Reitera a alegação de ofensa
Junior, DJ 28/5/07);
aos artigos 1.442 do Código Civil e 709, II, do Código de
Processo Civil. Processo civil. Recurso especial. Arrematação. Cré-
dito hipotecário. Crédito oriundo de despesas condominiais
3.- Sustenta que a decisão agravada não observou o
em atraso. Preferência. Débito condominial não mencio-
pedido de instauração de incidente de uniformização de
nado no edital. Responsabilidade pelo pagamento.
jurisprudência.
- Por se tratar de obrigação proter rem, o crédito oriun-
É o breve relatório.
do de despesas condominiais em atraso prefere ao crédi-
VOTO to hipotecário no produto de eventual arrematação.
O Exmo Sr. Ministro Sidnei Beneti (Relator): (REsp 540.025/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Ter-
Não merece prosperar a irresignação. ceira Turma, DJ 30/6/06);
4.- A decisão agravada, ao negar provimento ao re- 6.- Ressalte-se, de outra parte, que “O incidente de
curso especial nos pontos ora impugnados, o fez pelos uniformização de jurisprudência é de iniciativa dos órgãos
seguintes fundamentos (fls. 92/94): do Tribunal, não da parte, ao teor da exegese dada ao art.
No caso, trata-se de ação de cobrança de quotas 476 da lei adjetiva civil em precedentes do STJ” (REsp
condominiais, tendo sido o imóvel levado a leilão e arre- 654.651/SP, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ 28/
matado por R$ 55.000,00, sendo o recorrente credor hi- 5/07).
potecário, recaindo a hipoteca sobre o imóvel arremata- No mesmo sentido:
do. Depois da arrematação, o credor hipotecário reque- Ação civil pública. IDEC. Interesses individuais ho-
reu que antes do levantamento fosse observado o seu mogêneos.
privilégio, mas o Juiz entendeu que o Condomínio teria
Cadernetas de poupança. Janeiro de 1989. Unifor-
direito de receber seu crédito primeiro.
mização de jurisprudência.
Mas, a jurisprudência da Corte está alinhada com o
1. O art. 476 do Código de Processo Civil não vincula
acórdão. De fato, não discrepa a Corte que o crédito de-
o colegiado perante o qual foi suscitado o incidente de
corrente de despesas condominiais em atraso prefere ao
uniformização de jurisprudência, que fica subordinado aos
crédito hipotecário no produto de eventual arrematação
aspectos de conveniência e oportunidade. Precedentes
(REsp n° 605.056/SP, Relatora a Ministra Nancy Andrighi,
da Corte.
DJ de 3/10/05; REsp n° 577.547/RS, da minha relatoria,
DJ de 25/10/04; REsp n° 208.896/S, Relatar o Ministro Ari (REsp 175288/SP, Rel. Ministro Carlos Alberto
Pargendler, DJ de 19/12/02; REsp n° 315.963/RJ, Relatar Menezes direito, DJ 18/11/02).
Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJ de 16/11/04; AgRgAg 7.- Vê-se, assim, que o agravante não trouxe qual-
n° 680.183/RS, Relator o Ministro Jorge Scartezzini, DJ quer argumento capaz de modificar a conclusão alvitra-
de 10/10/05). da, que está em consonância com a jurisprudência con-
Quanto ao dissídio está presente a Súmula n° 83 da solidada desta Corte, devendo a decisão ser mantida por
Corte. seus próprios fundamentos.
5.- O entendimento sufragado pela decisão agrava- 8.- Pelo exposto, nega-se provimento ao agravo re-
da repete-se, ainda, nos seguintes julgados: gimental.
Civil e processual. Incidente de uniformização de Ministro Sidnei Beneti, Relator
jurisprudência. Faculdade reservada ao integrante do tri- Brasília, 16 de outubro de 2008
atestou a prova documental produzida (fls. 44/63), encon- nos autos do Recurso Extraordinário nº 140.773, Relator
trando-se atualmente sujeito à incidência de ITR (fl. 31). Ministro Sidney Sanches, DJU 04/06/1999.
Todavia, a certidão expedida pela Seção do Uso do Solo “Direito constitucional. Tributário e processo civil.
da Secretaria de Edificações e Urbanismo da Prefeitura Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Imposto
de Sorocaba (fl. 73) evidencia que o imóvel está localiza- Territorial Rural (ITR). Taxa de Conservação de Vias. Re-
do no perímetro urbano do município de Sorocaba. curso extraordinário.
Com efeito, dispõe o artigo 32, § 1º, do Código Tribu- “1. RE não conhecido, pela letra “a” do art. 102, III,
tário Nacional da seguinte forma, consagrando o critério da CF, mantida a declaração de inconstitucionalidade da
topográfico: Lei Municipal de Sorocaba, de nº 2.200, de 03.06.1983,
“Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, que acrescentou o parágrafo 4º do art. 27 da Lei nº 1.444,
sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como de 13.12.1966.
fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de “2. RE conhecido, pela letra “b”, mas improvido,
bem imóvel por natureza ou por acessão física, como mantida a declaração de inconstitucionalidade do art. 12
definido na lei civil, localizado na área urbana do Municí- da Lei Federal nº 5.868, de 12.12.1972, no ponto em que
pio. revogou o art. 15 do Decreto-lei nº 57, de 18.11.1966.
§ 1º. Para os efeitos deste imposto, entende-se como “3. Plenário. Votação unânime”.
zona urbana a definida em lei municipal, observado o re-
quisito mínimo da existência de melhoramentos indica- Nesse sentido, o critério a ser utilizado para defini-
dos em pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, ção da incidência de IPTU ou ITR sobre um imóvel locali-
construídos ou mantidos pelo Poder Público. zado no perímetro urbano é o da destinação econômica,
conforme orientação do Supremo Tribunal Federal, en-
“I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas tendimento esse que vem sendo acolhido pelo Superior
pluviais; Tribunal de Justiça, conforme as seguintes decisões:
“II - abastecimento de água; “Tributário. IPTU e ITR. Incidência. Insuficiência do
“III - sistema de esgotos sanitários; critério da localização do imóvel. Necessidade de se ob-
“IV - rede de iluminação pública, com ou sem servar, também, a destinação do imóvel.
posteamento para distribuição domiciliar; “- O critério da localização do imóvel é insuficiente
“V - escola primária ou posto de saúde a uma distân- para que se decida sobre a incidência do IPTU ou ITR,
cia máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considera- sendo necessário observar-se o critério da destinação
do”. econômica, conforme já decidiu a Egrégia 2ª Turma, com
base em posicionamento do STF sobre a vigência do DL
Segundo a certidão de fl. 74, o imóvel em questão nº 57/66.
está localizado no perímetro urbano e possui a seguin-
te infraestrutura “rede elétrica, rede telefônica, água “- Agravo regimental improvido” (Superior Tribunal de
encanada e, no raio de 2.400,00 metros (linha reta) da Justiça, AgRg no Ag nº 498.512, Rel. Min. Francisco
referida área, (PENSO nº 46 Ernesto Martins - Retiro São Peçanha Martins, DJU 16.05.2005, p. 296).
João)”. “Tributário. IPTU. ITR. Imóvel. Exploração extrativa
Vê-se que o imóvel poderia ser objeto de IPTU, pois vegetal. arts. 32 do CTN, 15 do Decreto-Lei nº 57/66.
presentes os requisitos para sua instituição, caso adota- “1. O artigo 15 do Decreto-Lei nº 57/66 exclui da inci-
do o critério topográfico. dência do IPTU os imóveis cuja destinação seja,
Contudo, na espécie, aplicável o disposto no artigo comprovadamente, a de exploração agrícola, pecuária ou
15 do Decreto-lei nº 57/66. industrial, sobre os quais incide o Imposto Territorial Rural
- ITR, de competência da União.
“O disposto no art. 32 da Lei nº 5.172, de 25 de outu-
bro de 1966, não abrange o imóvel de que, comprova- “2. Tratando-se de imóvel cuja finalidade é a explora-
damente, seja utilizado em exploração extrativa vegetal, ção extrativa vegetal, ilegítima é a cobrança, pelo Municí-
agrícola, pecuária ou agroindustrial, incidindo, assim, so- pio, do IPTU, cujo fato gerador se dá em razão da locali-
bre o mesmo, o ITR e demais tributos com o mesmo co- zação do imóvel e não da destinação econômica. Prece-
brados.” dente.
Vale ressaltar que foi declarado inconstitucional, pelo “3. Recurso especial improvido” (Superior Tribunal de
Supremo Tribunal Federal, o artigo 12 da Lei 5.868/72, no Justiça, REsp nº 738.628, Rel. Min. Castro Meira, DJU
ponto em que revogou o artigo 15 do Decreto-lei 57/66, 20.06.2005, p. 259).
“Tributário. IPTU. ITR. Fato gerador. Imóvel situado rente do texto da própria Constituição Federal, está reser-
na zona urbana. Localização. Destinação. CTN, art. 32. vada tão-somente ao Código Tributário Nacional, nos ter-
Decreto-Lei n. 57/66. vigência. mos do seu art. 29 (Lei nº 5.172/66). A lei municipal efeti-
“1. Ao ser promulgado, o Código Tributário Nacional vamente não poderia modificar a natureza do imóvel, para
valeu-se do critério topográfico para delimitar o fato gera- tributá-lo com impostos municipais, ainda que invocando
dor do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial critério de cumprimento da função social da propriedade.
Urbana (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade Territorial Tal foi a conclusão, analisando a mesma matéria, do
Rural (ITR) se o imóvel estivesse situado na zona urbana, ínclito Juiz Luis Carlos de Barros:
incidiria o IPTU, se na zona rural, incidiria o ITR. “Ademais, na forma do artigo 146, inciso III, letra “a”
“2. Antes mesmo da entrada em vigor do CTN, o da Constituição Federal, cabe à lei complementar a defi-
Decreto-Lei nº 57/66 alterou esse critério, estabelecendo nição de tributos e de suas espécies, bem como, em rela-
estarem sujeitos à incidência do ITR os imóveis situados ção aos impostos discriminados na Constituição, os res-
na zona rural quando utilizados em exploração vegetal, pectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuin-
agrícola, pecuária ou agroindustrial. tes.
“3. A jurisprudência reconheceu validade ao DL 57/ “Inviável, pois, alterar através de Decreto (no caso
66, o qual, assim como o CTN, passou a ter o status de lei de nº 9.061/94) ou Lei Orgânica Municipal, o Código Tri-
complementar em face da superveniente Constituição de butário Nacional que prevê a incidência do Imposto
1967. Assim, o critério topográfico previsto no art. 32 do Territorial Rural e também o Imposto Predial Urbano, em
CTN deve ser analisado em face do comando do art. 15 razão da localização do imóvel, e não em virtude de sua
do DL 57/66, de modo que não incide o IPTU quando o destinação ou função social.
imóvel situado na zona urbana receber quaisquer das “Observe-se ainda que segundo preleciona Hely
destinações previstas nesse diploma legal. Lopes Meirelles, ‘a Lei 5.868, de 12.12.72, fixou, para fim
“4. Recurso especial provido” (Superior Tribunal de de incidência do ITR, o conceito de imóvel rural, baseado
Justiça, REsp nº 492.869, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, na sua destinação (exploração extrativa vegetal, agrícola,
DJU 07.03.2005, p. 141). pecuária ou agroindustrial) e área (superior a 1 ha), inde-
E mais: pendentemente de sua localização, considerando urba-
nos todos os demais (artigo 6º, parágrafo único), mas este
“Tributário - Imposto Predial e Territorial Urbano e artigo foi julgado inconstitucional pelo STF (RE 93.850-8,
Imposto Territorial Rural - Critério distintivo entre área ur- Tribunal Pleno, j. 20.5.82), vigorando, portanto, a localiza-
bana e área rural - Relevância da destinação econômica ção do imóvel para ser considerado urbano ou rural, como
da área tributável - Relevante para definir a incidência do definido no Código Tributário Nacional (artigo 32 e seus
tributo, o ITR ou IPTU, não apenas a localização do imó- parágrafos)’. Vide Direito Municipal Brasileiro, 7ª edição,
vel, mas a destinação econômica da área tributável. O página 180.
art. 32 do Código Tributário Nacional deve ser interpreta-
do com as alterações introduzidas pelos arts. 15 e 16, do “A conclusão, pois, é que tanto o Decreto Municipal
Decreto-Lei nº 57/66, não revogado pela Lei nº 5.868/72, 9.061, de 3.11.94, como o artigo 167, § único da Lei Orgâ-
porque declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal nica Municipal de Sorocaba, são inconstitucionais” (9ª
Federal e suspensa sua vigência pela Resolução nº 313/ Câmara do E. 1º Tribunal de Alçada Civil do Estado de
83, do Senado Federal. Apelação desprovida.” (AC nº São Paulo, Apelação nº 892.025-8, da Comarca de
70008076457, 2ª Câmara Cível do Eg. Tribunal de Justi- Sorocaba).
ça do Rio Grande do Sul, j. 22/06/2005, Rel. o Des. Arno Desta forma, evidencia-se a inconstitucionalidade dos
Werlang). arts. 167 (e parágrafo único) e 168 da Lei Orgânica do
Portanto, havendo prova que atesta a destinação do Município de Sorocaba.
imóvel à agropecuária, não pode o referido imóvel sofrer Para os devidos fins de direito, ficam desde já
a incidência de IPTU. prequestionados todos os dispositivos legais e constituci-
Ainda que assim não fosse, patente não poder o onais citados no corpo deste voto.
Município, por intermédio da sua Lei Orgânica, traçar Portanto, merece provimento, assim, o recurso do
parâmetros referentes àquilo que deve ou não deve ser impetrante, para o fim de reformar-se a r. sentença de
considerada como sendo propriedade rural (seja para es- primeiro grau, ressalvada a convicção do nobre julgador,
tabelecer-se quando se aplica o ITR, seja para estabele- que dava pela denegação da ordem rogada, julgando-se
cer-se quando se aplica o IPTU), na medida em que tal procedente o presente mandamus, impondo-se a sua con-
questão, por divisão de competência legislativa, decor- cessão, tal qual pleiteada na peça inicial, para o fim de
determinar-se a anulação do lançamento do Imposto Predi- sendo devidos honorários advocatícios, em face do dispos-
al e Territorial Urbano - IPTU e das taxas de serviços, refe- to na Súmula nº 512 do E. Supremo Tribunal Federal.
rentes ao exercício de 1999. Custas na forma da lei, não Com isto, dá-se provimento ao recurso.
absolutamente incompatível com o valor do bem, de modo a 1. Caracteriza-se o preço vil quando o preço de
caracterizar apenas o oportunismo do terceiro - que, à min- arrematação do bem é inferior ao da metade do valor da
gua de concorrentes, pensa poder arrematar os bens por avaliação. Desnecessidade de análise de matéria fático-
qualquer importância. Em regra, para presumir o preço como probatória para se chegar a esta conclusão. Precedentes
vil, toma-se como parâmetro a metade do valor atualizado do STJ
da avaliação. Ou seja, quando o preço é menor do que a 2. A arrematação realizada por preço vil, nula torna-
metade do valor atualizado da avaliação, presume-se, como se a mesma. Ademais, para a sua decretação, não é ne-
regra apriorística, que o valor seja vil. Porém, este parâmetro cessário que o executado impugne a avaliação. Prece-
é nitidamente relativo, já que questões específicas do caso dentes do STJ.
concreto poderão recomendar a alienação do bem por pre-
ço inferior à metade de sua avaliação (por exemplo, diante 3. Agravo Regimental improvido.”
da depreciação da coisa ou da perda de interesse no bem (AgRg nos EDcl no Ag 454.247/SP, Rel. Ministro Luiz
por parte do mercado).” (Marinoni, Luiz Guilherme; Arenhart, Fux, Primeira Turma, julgado em 06.05.2003, DJ
Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil v. 3 - Execução. São 19.05.2003 p. 134)
Paulo, Revista dos Tribunais, 2007) Na hipótese em apreço, como antes relatado, o apar-
Conforme assinalado pelos eminentes processualistas, tamento da recorrente, avaliado em R$ 60.000,00 (ses-
considera-se, em regra, preço vil o lance que não atinge senta mil reais), foi arrematado por R$ 25.000,00 (vinte e
50% (cinquenta por cento) do valor obtido na avaliação ju- cinco mil reais), equivalente a 41,6% (quarenta e um vír-
dicial, sendo que, em casos excepcionais, dependendo da gula seis por cento) da avaliação. De outra parte, resta
situação fática, a quantia ofertada pode ser inferior à meta- incontroverso que a recorrente reside no imóvel levado à
de da avaliação. Necessário destacar que o Superior Tri- hasta pública, ou seja, trata-se de bem de família, que,
bunal de Justiça também tem adotado esse parâmetro, neste caso, em virtude da exceção do art. 82 da Lei 8.245/
consoante se verifica dos seguintes julgados: 91 (fiador em contrato de locação), foi objeto de penhora.
“Processual civil. Execução fiscal. Arrematação. Pre- Consideradas as diretrizes doutrinária e
ço vil. jurisprudencial e as circunstâncias do caso concreto, ob-
1. Considera-se preço vil se a arrematação ocorrer serva-se a ocorrência de arrematação por preço vil. Com
por menos da metade da avaliação. efeito, admitir a validade um lance de aproximadamente
42% (quarenta e dois por cento) da avaliação de um imó-
2. Caracteriza-se a vileza quando a alienação judici- vel utilizado como residência pela parte executada, efeti-
al ocorre por apenas 33,3% do valor do bem. vamente vai de encontro ao mandamento do art. 620 do
3. Recurso especial provido.” Código de Processo Civil, de se realizar a execução do
(REsp 938.778/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Se- modo menos gravoso para o devedor, além de infringir a
gunda Turma, julgado em 26.06.2007, DJ 08.08.2007 p. norma do art. 692 do mesmo diploma legal, que veda a
372) arrematação por preço vil em segunda praça.
“Execução - Arrematação - Imóvel - “Preço vil” - Con- De se ressaltar, por fim, que não se mostra necessá-
ceito. rio o revolvimento de matéria fático-probatória para se
concluir pela vileza do preço oferecido. Isso porque a aná-
1. O conceito de preço vil resulta da comparação entre lise de tal questão partiu de um parâmetro objetivo, qual
o valor de mercado do bem penhorado e aquele da seja, 50% (cinquenta por cento) da avaliação, bem como
arrematação. do fato de o bem imóvel arrematado servir de residência
2. Em se tratando de arrematação de imóveis, presu- para a parte recorrente, particularidade essa não contes-
me-se vil o lance inferior a 50% do valor da avaliação atua- tada pelos exequentes e, portanto, incontroversa. O caso,
lizado. O respeito aos arts. 620 e 692 do CPC exige a atu- portanto, não atrai a incidência da Súmula 7/STJ.
alização dos valores dos bens que irão à hasta pública. Ante o exposto, conheço do presente recurso espe-
3. Recurso provido.” cial e a ele dou provimento, a fim de acolher os pedidos
(REsp 448.575/MA, Rel. Ministro Humberto Gomes formulados na inicial dos embargos à arrematação, anu-
de Barros, Primeira Turma, julgado em 26.08.2003, DJ lando, dessa forma, a praça do imóvel de propriedade da
22.09.2003 p. 263) recorrente. Condeno a parte recorrida ao pagamento das
custas e dos honorários advocatícios, estes fixados em
“Agravo regimental. Execução fiscal. Nulidade de 5% (cinco por cento) do valor da causa, ressalvada a hi-
arrematação. Impugnação da avaliação. Desnecessidade. pótese de concessão da justiça gratuita.
Arrematação de bem por preço vil. Nulidade. Preceden-
tes. Desnecessidade de análise de matéria fático- É como voto.
probatória. Precedentes. Brasília, 29 de abril de 2008
Turma tem reafirmado, em diversos julgados, seu enten- Rossi, entre outras). Referido julgado anotou que a resti-
dimento de que, em princípio, o promissário-comprador tuição dos valores pagos deve ser feita de uma única vez
tem direito à devolução das prestações pagas na execu- - o que também deve ocorrer na hipótese vertente. Isso
ção de contrato que ficou impossibilitado de cumprir, face porque a demora na devolução no numerário implica em
à superveniente alteração das circunstâncias, direito que definitiva negativa, o que mantém os compradores vincu-
pode ser reconhecido seja na ação de resolução propos- lados ao sistema.
ta pela promitente-vendedora, seja na iniciativa do A cooperativa, por sua qualidade, por sua forma de
promissário-comprador, pois a restituição, como efeito da constituição, representa a reunião do esforço comum dos
extinção do contrato, se faz presente tanto em um caso cooperados na tentativa de obter por essa somatória o
como em outro, independentemente da autoria da ação...” objetivo comum, não tem a seu favor só por isso, a possi-
Nesse sentido, inúmeros julgados deste E. Tribunal, bilidade de não restituir ao cooperado desistente o que
merecendo destaque a Apelação Cível nº 111.319-4, que dele recebeu.
teve como Relator o Desembargador Narciso Orlandi, Voltada a executar tarefa que lhe é própria e aqui são
publicada na RJTJ 248/58, da qual se extrai: eles a construção e a comercialização de imóveis, está
“Contrato - Compromisso de compra e venda - Res- claro que havendo adesão ao sistema e pago o preço
cisão - Inadimplemento do compromissário-comprador - mensal do consórcio, desde que o aderente desista, a ele
Perda total das quantias pagas - Inadmissibilidade - se dará a permissão de receber de volta o quanto pagou.
Inaplicabilidade do artigo 35 da Lei Federal nº 6.766/79 - Por tudo isso, de rigor que a restituição dos valores
Derrogação pelo artigo 53 do Código de Defesa do Con- seja efetuada pela ré de maneira global e imediata. Em
sumidor - Recurso não provido”. situação semelhante, decidiu este E. Tribunal, por sua 6ª
Pretende a ré a compensação dos valores pagos na Câmara de Direito Privado no julgamento da Apelação
forma do art. 1.009 do C.Civil; a exclusão dos prêmios de Cível nº 95.066-4, que teve como Relator o
seguro coletivo, além das multas pagas por atraso na qui- Desembargador Testa Marchi, cuja ementa apresenta a
tação das parcelas, a correção monetária e os juros de seguinte redação:
mora. Pretende, também, que a verba honorária seja fi- “Cooperativa Habitacional - Exclusão de cooperado
xada em 20% sobre o valor da condenação. Já o autor de plano habitacional para a sua aquisição de casa pró-
apelou adesivamente, pleiteando a restituição de 100% pria - Devolução de imediato das parcelas pagas e não
dos valores pagos, atualizados monetariamente, desde quando do encerramento do plano - Cabimento por apli-
os respectivos pagamentos, além da condenação em cus- cação do Código de Defesa do Consumidor - Recurso
tas, despesas processuais e honorários advocatícios no não provido”.
importe de 20% sobre o valor da causa.
Desta forma, deverá ser restituído ao autor 90% dos
Merece reforma a r. sentença, no tocante à determi- valores pagos, deduzindo-se o percentual de 10% a título
nação da devolução de 70% dos valores pagos pelo au- de prefixação de perdas e danos e cláusula penal.
tor, cabendo a devolução com a retenção de apenas 10%
dos valores pagos. Traduz pagamento de despesa presumidamente fei-
ta pela ré na administração do cumprimento de suas obri-
Aliás, acerca do cabimento da retenção no percentual gações e de seus consorciados. A mera existência da ré
acima mencionado, esta 8ª Câmara de Direito Privado vem com a finalidade de dar cumprimento àquilo para o que foi
reiteradamente decidindo pelo seu cabimento, merecen- constituída, já traduz justificativa para a retenção de ta-
do destaque o julgamento da Apelação Cível nº 85.058-4, xas de administração e do seguro, que não poderão ser
que teve como Relator o Desembargador Cesar Lacerda, devolvidas aos cooperados, sob pena de resultar a seu
cuja ementa apresenta a seguinte redação: favor em enriquecimento sem causa com prejuízo de ou-
“Compromisso de compra e venda - Rescisão tra parte, ao sistema de cooperativa e aos próprios coo-
contratual - Culpa dos adquirentes que não reúnem con- perados que, por razões que não cabem aqui discutir,
dições pessoais de obter financiamento e honrar ajuste - continuaram adimplindo as obrigações então por eles con-
Previsão contratual para devolução das quantias pagas, tratadas.
com retenção de 10% do preço do negócio, a título de O montante fixado pela r. sentença não se reputa
prefixação de perdas e danos - Ausência de abusividade - abusivo e pelo percentual apontado, traduz, representa,
Multa que se destina a cobrir despesas várias inerentes significa e simboliza verdadeira cláusula de perdimento.
ao negócio desfeito (corretagem, administração, publici-
dade) - Recurso provido”. Correta a incidência da verba honorária sobre o valor
Anote-se que aludida restituição deve ser feita na da causa.
integralidade e não em parcelas - como pretende a ape- Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao recur-
lante - consoante reiteradamente vem decidindo esta 8ª so da ré e dou parcial provimento ao recurso do autor
Câmara (Apelação Cível nº 255.529.4/4-0, Des. Salles para restituição de 90% dos valores pagos.
no entanto, discrepa da orientação predominante nesta ca do quantum a ser pago a título de contraprestação (pre-
Corte, no sentido da impossibilidade de se propor lide ço do aluguel), a solução encontrada pelo legislador foi a
revisional nos três anos posteriores a acordo de majoração ação revisional de alugueres (Lei nº 8.245/91).
de aluguel firmado entre locador e locatário, independen- 2 - Contudo, nos termos do art. 19 da Lei nº 8.245/
temente se o novo valor alcançou ou não o patamar de 91, qualquer tipo de acordo firmado entre as partes, du-
mercado. Nesse sentido, destaco os seguintes julgados: rante o triênio legal, que majore os aluguéis, independen-
“RECURSO ESPECIAL. LOCAÇÃO. AÇÃO temente de atingir os mesmos o chamado “valor de mer-
REVISIONAL. REAJUSTE ANTERIOR NO CONTRATO cado”, impede a propositura da ação revisional, porquan-
QUE NÃO ALCANÇA O VALOR DE MERCADO. CARÊN- to o prazo foi interrompido, devendo recomeçar sua con-
CIA DE AÇÃO. CONHECIMENTO E PROVIMENTO. tagem.
1. É firme o entendimento deste Superior Tribunal de 3 - Proposta a ação antes do decurso desse novo
Justiça no sentido de que o reajuste celebrado entre as prazo, carece o pedido da autora de possibilidade jurídi-
partes em contrato de locação interrompe o prazo para a ca.
propositura de ação revisional, ainda que o valor alcança- 4 - Precedentes (Resp nºs 184.455/MG, 33.948/CE e
do no acordo não atinja o preço de mercado. Em hipóte- 62.679/SP).
ses tais, é carente de ação o locador que a ajuíza antes
5 - Recurso conhecido e provido para, reformando o
do prazo legal.
v. acórdão de origem, julgar a autora carecedora da ação,
2. Recurso conhecido e provido para, reconhecendo nos termos do art. 267, VI do CPC, invertendo-se o ônus
a carência de ação, julgar extinto o processo com funda- da sucumbência.”
mento no artigo 267, inciso VI, do Código de Processo
(REsp 146513/MG, Rel. Ministro JORGE
Civil, invertendo-se os ônus da sucumbência.”
SCARTEZZINI, QUINTA TURMA, julgado em 19.10.1999,
(REsp 105239/CE, Rel. Ministro HAMILTON DJ 27.03.2000 p. 121)
CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 25.09.2001,
Dessa forma, ante a iterativa jurisprudência desta
DJ 04.02.2002 p. 577)
Casa em sentido diametralmente oposto à orientação ado-
“LOCAÇÃO. ACORDO ENTRE AS PARTES. INTER- tada pelo aresto impugnado, este merece ser reformado,
RUPÇÃO DO PRAZO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO de modo a prevalecer o entendimento esposado na sen-
REVISIONAL. tença monocrática.
- O reajuste dos aluguéis realizado por acordo entre Diante do exposto, conheço do presente recurso es-
as partes tem o condão de interromper o prazo para a pecial e a ele dou provimento, em ordem a restabelecer a
propositura da revisional, independentemente do valor fi- sentença de fls. 222/225.
xado estar abaixo ou acima do preço de mercado.
É como voto.
- Precedentes.
CERTIDÃO
- Embargos acolhidos.”
Certifico que a egrégia Sexta Turma, ao apreciar o
(EREsp 37447/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, processo em epígrafe na sessão realizada nesta data,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14.10.1998, DJ proferiu a seguinte decisão:
23.11.1998 p. 116) “A Turma, por unanimidade, deu provimento ao re-
“CIVIL E PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECI- curso, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.”
AL - LOCAÇÃO - REVISIONAL - PRAZO PARA A Sra. Ministra Jane Silva (Desembargadora
PROPOSITURA - OBSERVÂNCIA AO TRIÊNIO LEGAL convocada do TJ/MG) e os Srs. Ministros Hamilton
(ART.19 DA LEI Nº 8.245/91) - CARÊNCIA DA AÇÃO. Carvalhido e Paulo Gallotti votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
1 - A teor do que dispõe a lei, as partes contratantes
podem, a qualquer momento, e obedecidas as vedações Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Nilson Na-
nela previstas, fixar, de comum acordo, o valor do novo ves.
aluguel, bem como de cláusula que discipline seu reajus- Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza
te. É regra implícita da contrato bilateral. de Assis Moura.
Todavia, na falta de acordo entre os contratantes acer- Brasília, 22 de abril de 2008.
QUALIFICAÇÃO REGISTRAL
DOS TÍTULOS JUDICIAIS DE ARREMATAÇÃO
Assim, com base no princípio da ca-se a sua função qualificadora, Contudo, é importante salientar
legalidade e no instituto da qualifica- corolário desse princípio e fundamen- que a função qualificadora do regis-
to de toda a atividade registral, pois trador, baseada no princípio da lega-
ção registral, busca-se analisar o pro-
tem por objetivo a análise prévia de lidade, mesmo que incidente também
cedimento de registro das cartas de
todo e qualquer documento que vise sobre os títulos de origem judicial, é
arrematação, visando facilitar o en-
ingressar no registro. sempre uma atividade administrativa.
tendimento dos motivos que levam
Conforme DE BONA (1996), tra- Ainda que se pareça com a atividade
aos conflitos e apontar alternativas de
ta-se da função “(...) mais importante jurisdicional de verificação de pres-
solução para o problema, com base
e indispensável da etapa dinâmica da supostos processuais, por exemplo,
no estudo realizado.
atuação da publicidade, por ser obri- difere da mesma por seu fundamen-
2. O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE to e pela natureza de sua seara. Con-
gatória, impostergável e pessoal do
E A QUALIFICAÇÃO REGISTRAL forme DIP (2005), há um
titular da serventia para cujo desem-
Dentre os princípios que penho ele tem a mais completa auto- dúplice aspecto de fundo da fun-
norteiam o ordenamento jurídico bra- nomia.” (p. 66). ção de qualificação registral: a) um,
sileiro como um todo, aplicando-se a Nesse sentido, todo título apre- que põe à mostra a natureza
2º DECÊNDIO JANEIRO/2009 – Nº 2 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 29
BOLETIM CARTORÁRIO
CART 2/2
jurisprudencial – não jurisdicional – da se julga impossibilitado de satisfazê- reito real, apresentado ao registro
atuação do registrador, que é um ope- las” (p. 36). imobiliário” (p. 446). Trata-se do do-
rador jurídico, apto a decidir, a emitir Ainda que se trate de procedi- cumento (aspecto formal) que mate-
um juízo sobre a inscrição, hic et mento administrativo, a dúvida é de- rializa uma operação relativa a um
nunc, de determinado título; b) outro, cidida por sentença, da qual podem o bem imóvel (aspecto material). Pode
que revela a independência decisória apresentante, o Ministério Público ou ter origem pública (escrituras públi-
do oficial registrador, no limite primá- o terceiro prejudicado recorrer, atra- cas, títulos administrativos, cartas de
rio da apreciação e decisão acerca vés da apelação (artigo 202 da Lei dos sentença, etc.) ou particular.
do registro de um título singularizado Registros Públicos – 6015/73). Final- Os chamados títulos judiciais
(p. 164). mente, deve-se destacar que sempre são os previstos no inciso IV, dos
Assim, o chamado juízo é possível ao apresentante utilizar-se quais se destaca, neste estudo, a
qualificador do oficial registrador pode das vias ordinárias para dirimir o con- carta de arrematação, espécie de
resultar positivo, caso admita o título flito resultante da recusa ao registro. carta de sentença. Este título origi-
a registro, ou negativo, caso estabe- 3. A CARTA DE ARREMATAÇÃO na-se de um procedimento executi-
leça a impossibilidade (provisória ou COMO TÍTULO JUDICIAL vo de cobrança, em que um bem imó-
não) de ingresso do mesmo no re- REGISTRÁVEL vel do devedor é alienado para sal-
gistro imobiliário. Segundo DE BONA dar sua dívida. Segundo SANTOS
A Lei dos Registros Públicos pre-
(1996), (1998), “arrematação é o ato pelo qual
vê, em seu artigo 221, os títulos que
o exame formal que precede à se aliena bem, através de oferta pú-
são admitidos no Registro de Imó-
qualificação circunscreve-se, em li- blica. A ela se costuma também cha-
veis, como se pode ver em seu tex-
nhas gerais, ao plano da legalidade mar de venda em hasta pública” (p.
to, in verbis:
das formas extrínsecas e intrínsecas 175). E segue o autor: “a arrematação
Art. 221. Somente são admitidos deve constar de um auto. O auto é o
dos títulos e documentos exibidos, ao
a registro: retrato escrito do ato, isto é, a
plano da validade, próprio dos ne-
gócios jurídicos, e à concordância I – escrituras públicas, inclusive materialização gráfica daquilo que
de seu conteúdo com os assentos as lavradas em consulados brasilei- realmente aconteceu, em toda sua
registrais, se existirem (p. 68). ros; extensão” (p. 197). O auto de
arrematação, assim que assinado
Sempre que o oficial registrador, II – escritos particulares autori-
pelo juiz, pelo escrivão, pelo
no exercício de sua função qualifica- zados em lei, assinados pelas partes
arrematante e pelo serventuário da
dora, verificar a ausência de requisi- e testemunhas, com as firmas reco-
justiça, ou leiloeiro, estará perfeito e
tos legais nos títulos apresentados, nhecidas, dispensado o reconheci-
consolidará a arrematação, tornando-
ele deve negar o seu acesso a regis- mento quando se tratar de atos prati-
a irretratável (art. 694 do Código de
tro, formulando exigências ao cados por entidades vinculadas ao
Processo Civil).
apresentante (se for possível a sua Sistema Financeiro da Habitação;
regularização) ou suscitando o pro- De posse da carta de arrematação,
III – atos autênticos de países
cedimento de dúvida, caso o o adquirente de bem imóvel em hasta
estrangeiros, com força de instrumen-
apresentante discorde da recusa do pública deverá buscar o registro dessa
to público, legalizados e traduzidos na
registrador, ou não possa satisfazer operação no Registro de Imóveis, sob
forma da lei, e registrados no Cartó-
as suas exigências. Neste caso, será pena de não consolidar-se a sua aqui-
rio do Registro de Títulos e Documen-
o título encaminhado ao juiz compe- sição. Em sendo devidamente registra-
tos, assim como sentenças proferi-
tente, com a declaração de dúvida, da a carta de arrematação, o adquirente
das por tribunais estrangeiros após
para que seja decidida, administrati- estará apto a imitir-se na posse do imó-
homologação pelo Supremo Tribunal
vamente, a questão. vel.
Federal;
Segundo BALBINO FILHO Apesar de sua origem judicial, a
IV – cartas de sentença, formais
(2004), “a dúvida é o caminho legal carta de arrematação, assim como os
de partilha, certidões e mandados
de submeter à apreciação judicial as demais títulos dessa espécie, está
extraídos de autos do processo.
exigências formuladas pelos oficiais, sujeita ao juízo registral de qualifica-
nos títulos apresentados a registro, Título, segundo CENEVIVA (2002), ção, podendo igualmente ser objeto
quando o interessado se recusa ou “é o documento que instrumenta o di- de nota devolutiva ou, se for o caso,
de procedimento de dúvida, caso não gentes sobre o bem; falta de compro- importantíssimo para o bem da cole-
contenha os requisitos legais dela vação do pagamento do imposto de tividade, interagindo harmoniosamen-
exigidos por lei. Conforme DE BONA transmissão, dentre outros -, mas o te entre si. (p. 63)
(1996), “(...) quanto à função resultado sempre é o mesmo: nega- Além disso, é fundamental sali-
qualificadora, o ordenamento jurídi- tiva de acesso do título ao Registro entar que, caso o juiz, autor da carta
co não faz distinção entre títulos pú- de Imóveis. de arrematação, negue-se a
blicos, judiciais e extrajudiciais, e tí- Tal situação leva, muitas vezes, conformá-la às exigências do regis-
tulos particulares” (p. 71). a um conflito entre o juiz que expediu trador, cabe ao apresentante solici-
Nesse sentido, o artigo 703 do o título (que o considera perfeito) e o tar ao oficial a suscitação de dúvida,
Código de Processo Civil estabelece registrador imobiliário (que aponta que deverá ser decidida pelo juízo
que a carta de arrematação deve con- defeitos a serem sanados, para que especial de Registros Públicos (numa
ter: se efetive o registro). E, infelizmen- espécie de segunda qualificação), e
I – a descrição do imóvel, com te, quem sofre os efeitos dessa pro- não pelo próprio juízo que expediu o
remissão à sua matrícula e registros; blemática é o particular, o interessa- título. E sempre será cabível o pro-
do em consolidar sua aquisição. cesso contencioso, caso não haja
II – a cópia do auto de
É interessante salientar, tam- uma solução que atenda a todos os
arrematação; e
bém, que muitas situações que ge- interesses, visto que a dúvida é pro-
III – a prova de quitação do im- cedimento meramente administrativo,
ram a negativa de ingresso dos títu-
posto de transmissão. não obstando a discussão judicial
los de arrematação ao Registro de
Além disso, é necessário que o Imóveis decorrem da ausência de sobre o tema e não estabelecendo a
oficial registrador verifique alguns conhecimentos técnicos adequados coisa julgada. Trata-se de decisão
itens especiais, referentes aos títu- dos servidores da justiça responsá- que tem origem judicial, mas que não
los judiciais, conforme bem salienta veis pela extração dos respectivos corresponde a exercício típico da fun-
Dip (2005): competência (absoluta) instrumentos. Muitos conflitos pode- ção judicial (Ceneviva, 2002).
da autoridade judiciária; congruência riam ser evitados caso houvesse uma BALBINO FILHO (2004), com
da ordem judicial de registro com o verificação, pelo juiz que expediu o muita pertinência, comenta o tema:
processo respectivo; presença das ato, da correção do instrumento ela- Um princípio devem todos ter em
formalidades documentais e requisi- borado pelo servidor, antes que o vista, quer o Oficial do Registro, quer
tos registrais (prioridade, especialida- mesmo fosse entregue à parte inte- o próprio juiz: em matéria de Regis-
de, continuidade, etc.). ressada. tro de Imóveis toda a interpretação
4. O REGISTRO DOS IMÓVEIS Segundo Mezzari (2008), a luta deve tender para facilitar e não para
ADQUIRIDOS EM LEILÃO: que tem sido travada entre juízes e dificultar o aceso dos títulos ao Re-
CONFLITOS ENTRE REGISTRA- registradores deve ser melhor conhe- gistro, de modo que toda proprieda-
DORES E JUÍZES cida, analisada e solucionada, mas de imobiliária e todos os direitos so-
O juízo de qualificação do regis- deve-se ter em vista que o consenso bre ela recaídos fiquem sob o ampa-
trador imobiliário, no tocante às car- é muito difícil, talvez impossível, vis- ro de regime do Registro Imobiliário
tas de arrematação, pode resultar, e to que cada operador do Direito, na e participem dos seus benefícios. (p.
efetivamente resulta, muito sua área de atuação, decide e atua 38)
freqüentemente, na prática, negativo. conforme os seus princípios forma- Não há dúvidas de que o regis-
Os motivos são os mais diversos - dores, que diferem significativamen- trador, para bem cumprir o seu papel
ausência de atendimento ao princí- te, em determinados pontos. de fiscal dos títulos que ingressam no
pio da especialidade, pela falta de No mesmo sentido, DE BONA Registro Imobiliário, a zelar pelo cum-
determinação adequada do bem; (1996) afirma que primento dos princípios registrais,
não-atendimento da continuidade, (...) cabe recordar que os órgãos especialmente o princípio da legali-
pela quebra da cadeia de titularidade judiciais e os da fé pública (registros) são dade, deve apontar todo e qualquer
do imóvel; ausência de qualificação regidos por normas endoconstitucionais óbice que verifique a impedir o regis-
completa das partes e seus respecti- e infraconstitucionais específicas, caben- tro das cartas de arrematação. Po-
vos cônjuges; ausência de determi- do a cada um deles privativamente de- rém, é importante que se perceba que
nação de cancelamento dos ônus vi- sempenhar um encargo peculiar e não há uma invasão de esferas, pois,
2º DECÊNDIO JANEIRO/2009 – Nº 2 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 31
BOLETIM CAR
CARTTORÁRIO 2/4
caso o juiz entenda não procederem al, baseado nos princípios e procedi- CENEVIVA, Walter. Lei dos Re-
as exigências do oficial, determinan- mentos processuais (e não mais so- gistros Públicos comentada. 15.
do o registro, apesar dos defeitos mente registrários) e finalizado por ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
apontados, sempre caberá à parte o sentença que, transitada em julga- DE ARAGÃO, Severiano Ignácio.
acesso ao Judiciário, via processo do, resolverá definitivamente a ques- Da arrematação e da execução. São
judicial contencioso, para dirimir sua tão. Paulo: Livraria e Editora Universitá-
questão. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ria de Direito, 1998.
Nesse sentido, questiona O presente estudo buscou DE BONA, Avelino. Títulos ju-
Mezzari (2008) qual seria esse pro- aprofundar, com base no princípio da diciais no registro de imóveis. Por-
cesso contencioso ao qual se refere legalidade e no instituto da qualifica- to Alegre: Sagra-DC, Luzzatto, 1996.
a Lei dos Registros Públicos (Lei ção registral, o procedimento de in- DINIZ, Maria Helena. Sistemas
6015/73), em seu artigo 204: seria a gresso dos títulos judiciais de de Registros de Imóveis. 6. ed. rev.
apelação, referida no artigo 202 da arrematação no Registro de Imóveis. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006.
mesma lei? Seria uma ação própria?
Verificou-se que, apesar de sua DIP, Ricardo. Registro de Imó-
Seria a busca de uma nova decisão
origem pública e judicial, as cartas de veis: vários estudos. Porto Alegre:
no próprio processo do qual emanou
arrematação ficam sujeitas ao juízo IRIB: Sergio Antonio Frabris Ed.,
o título cujo registro foi negado? Ou
de qualificação – corolário do princí- 2005.
então, seria qualquer uma dessas
pio da legalidade – do registrador
alternativas? MEZZARI, Mario Pazutti. Títulos
imobiliário, sendo necessária a veri-
O autor citado entende que qual- judiciais: a qualificação registral imo-
ficação de sua conformidade com
quer uma das alternativas apontadas biliária. Trabalho apresentado no II
todos os princípios e normas
seria adequada, na medida em que Encontro Estadual de Notários e Re-
registrais para que possam ser
sua fonte é a mesma: o Poder Judici- gistradores, realizado nos dias 14 e
registradas.
ário, instância prestadora da justiça. 15 de março de 2008, em Capão da
Concluiu-se que o conflito entre Canoa/RS.
Dessa forma, estará atendido o prin-
juízes e registradores imobiliários, no
cípio constitucional da inafastabilidade PAIVA, João Pedro Lamana. Tí-
tocante ao registro das cartas de
da jurisdição ou tutela jurisdicional, tulos judiciais e a sua repercussão
arrematação, tem solução, desde que
expresso na Constituição Federal, ar- registral. http://www.irib.org.br/print/
haja uma harmonização entre os
tigo 5º, XXXV, in verbis: “A lei não ex- biblio/lamana.asp, consultado em 18
seus papéis: de um lado os oficiais,
cluirá da apreciação do poder Judici- de julho de 2007.
zelando pelo cumprimento dos prin-
ário lesão ou ameaça a direito.”
cípios registrais; de outro, os juízes, SANTOS, Ernane Fidélis dos.
Assim, cumpridas as etapas de Manual de direito processual civil.
decidindo com base no caso e na lei.
apontamento dos óbices a registro v. 2. Execução e Processo cautelar.
E o interessado, para efetivar sua
pelo oficial e de decisão pelo juiz a 6. ed. ver. e atual. São Paulo: Sarai-
aquisição, registrando o título, sem-
respeito do conflito da registrabilidade, va, 1998.
pre terá as alternativas de suscitação
estariam satisfeitos os procedimentos
de dúvida (via registrador) ou, caso TUTIKIAN, C. F.; TIMM, L. B.;
exigidos pela Lei Registral, findando-
necessário, de processo judicial PAIVA, J.P.L. (coord.). Novo Direito
se a etapa administrativa e abrindo-
contencioso. Imobiliário e Registral. São Paulo:
se a possibilidade de buscar uma ou-
REFERÊNCIAS Quartier Latin, 2008.
tra espécie de decisão, que a lei não
esclarece qual é, mas que necessari- BALBINO FILHO, Nicolau. Re- (*) A autora é Especializanda do
amente deve provir de um juiz, a quem gistro de imóveis: doutrina, prática Curso de Pós-Graduação em Direito
cabe decidir conflitos de interesses e jurisprudência. 10. ed. São Paulo: Registral Imobiliário da Pontifícia Uni-
que se estabelecem na seara judici- Saraiva, 2004. versidade Católica de Minas Gerais.
32 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 2º DECÊNDIO JANEIRO/2009 – Nº 2
PERGUNT
PERGUNTAS & RESPOST
GUNTAS AS
RESPOSTAS
NECESSIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA PARA TRANSFERÊNCIA DE
IMÓVEL DE PESSOA JURÍDICA A SÓCIO QUE SE RETIRA DA SOCIE-
DADE
Pergunta: Para constituição de uma sociedade mercantil, um sócio entra com seu apartamento em paga-
mento de sua quota de capital. Posteriormente, esse mesmo sócio retira-se da sociedade, mediante aditivo
devidamente registrado na Junta Comercial, recebendo de volta o mesmo apartamento, em restituição de sua
quota de capital. Pergunta: A certidão destes atos de alteração da sociedade é documento hábil para o Registro
Público competente, nos termos do art. 64 da Lei 8.934, de 18/11/94, ou o sócio retirante é obrigado a proceder
mediante escritura pública? (V.M.S.C. – Fortaleza, CE)
Resposta: Trata-se de um assunto controvertido. Veja as seguintes matérias publicadas no DLI e em nosso site
www.diariodasleis.com.br: A CONFERÊNCIA DE BEM IMÓVEL PARA INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL DE
SOCIEDADES MERCANTIS E A NECESSIDADE DA ESCRITURA PÚBLICA - Emanuel Costa Santos - Notário preposto
São Paulo - Capital - DLI nº 21 - ano:2001 - (Boletim Cartorário) - Resposta: Conforme a Lei Federal nº 8.934/1994, o
seu artigo 64, embora contendo um termo impróprio, é claro ao estabelecer: “A certidão dos atos de constituição e de
alteração de sociedades mercantis, passada pelas juntas comerciais em que foram arquivados, será documento hábil
para a transferência, por transcrição no registro público competente dos bens com que o subscritor tiver contribuído
para a formação ou aumento do capital social”. Fora este caso deverá haver escritura para a empresa transferir os seus
imóveis para os sócios. Não haverá a incidência do ITBI somente se o bem imóvel foi conferido pelo sócio à empresa
(pessoa jurídica), retornando novamente a este sócio pela desincorporação. Também, se for desincorporação do
patrimônio na modalidade de cisão é inexigível o tributo; caso contrário, a empresa poderá transferir os imóveis por
escritura. Veja o julgado a seguir: Imposto - ITBI - Desincorporação do patrimônio da pessoa jurídica na modalidade de
cisão - Art. 156, § 2º, I da CF - Inexigibilidade do tributo - Hipótese, ademais, de pequeno decurso de tempo da Consti-
tuição da pessoa jurídica, que não permite aferir se a sua atividade preponderante se refere a transações imobiliárias -
Recurso desprovido. (1º TAC/SP, Proc.: 1203251-4, Julgamento: 09/03/2004, Relator: José Luiz Gavião de Almeida,
Decisão: Negaram Provimento ao(s) Recurso).
Resposta: A lei diz apenas que o dinheiro caucionado seja “depositado em caderneta de poupança” (§ 2º do art. 38
da Lei 8245/91), mas na prática fica sempre em nome do locador. É claro que o depósito feito em nome somente de uma
das partes pode estimular a fraude. Esse depósito chegou a ser regulamentado pelo Banco Central através da Resolu-
ção nº 9, a qual determina a abertura de conta conjunta, permitindo a retirada somente com a concordância das partes,
por autorização judicial ou pelo locatário contra apresentação da quitação locatícia. Mesmo que o locatário não figure na
conta poupança, não poderá sofrer prejuízos, pois o locador responderá pelo valor da caução com os rendimentos da
caderneta de poupança.
Resposta: Veja quais situações se encaixam no seu caso, já que faltam mais detalhes na pergunta: a) A morte do
locatário extingue a locação, salvo se o inquilino vier a ser sucedido pelas pessoas relacionadas no art. 11 da Lei 8.245/
91, as quais ficarão subrogados nos seus direitos e obrigações: o cônjuge sobrevivente ou companheiro(a) e, sucessi-
vamente, os herdeiros necessários e as pessoas que viviam na dependência econômica do de cujus desde que resi-
dentes no imóvel; ou no caso de locação não residencial ficará subrogado o espólio ou o sucessor no negócio. b) A
morte do locatário exonera o fiador, ficando este responsável ao inadimplemento do locatário ocorrido até o dia da morte
deste, tendo em vista que o contrato de fiança é de natureza personalíssima e não admite interpretação extensiva. c) Se
o locatário falecido não tiver sucessor, e permanecer pessoas não autorizada por lei (Art. 11), nos termos do art. 59, §1º,
inciso IV, na ação de despejo será concedida liminar para desocupação em 15 dias.
Resposta: A Procuração por instrumento particular somente poderá ser utilizada na compra e venda de imóvel se
o valor deste for de até 30 salários mínimos, nos termos dos arts. 108 e 657 do Código Civil.
Resposta: O art. 2.º da Lei 8.245/91, diz que pode haver mais de um locatário, os quais serão solidários entre si,
não declinando se são pessoas físicas ou jurídicas. Quanto mais locatários, mais vantagens o locador terá, pois no caso
de inadimplência, haverá mais probabilidade na satisfação do débito em virtude de serem solidários. A isenção de
responsabilidade da imobiliária deverá ser pactuada no Contrato de Administração, e não no contrato de locação, no
qual figuram como contratantes somente o locador, locatários e fiadores.
Notícias que circularam na Internet e em jornais de grande circulação trouxeram a informação de que a antiga Lei
do Condomínio (4.501/64) proibia o aluguel de garagens do prédio a terceiros. Como veremos, tal assertiva não condiz
totalmente com a realidade, pois somente o direito de uso de espaço para estacionamento, nas áreas comuns do
prédio, é que estava condicionado à vontade do condomínio, ao passo que a locação de vagas próprias, delimitadas,
podia ser feita livremente.
O novo Código Civil (Lei 10.406/02) regulamentou a questão, prescrevendo que o condômino pode “alugar área no
abrigo para veículos” (art. 1.338), ou seja, tão-somente o espaço praticamente virtual, não delimitado, que não se
confunde com as vagas (“box”) de garagem, desde que dê preferência, “em condições iguais” a qualquer dos condôminos
em relação a estranhos “e, entre todos, os possuidores”.
Venda - Note-se que o novo Código Civil não disciplinou a locação de garagens unitárias com matrícula própria, as
quais, por serem unidades autônomas do prédio, como qualquer outro apartamento, sala ou loja, podem ser livremente
alienadas e cedidas a qualquer pessoa, independente da vontade dos demais condôminos ou de sua manifestação.
Quanto a estas, no nosso entender, não prevalece o direito de preferência na locação, assim como não havia a impos-
sibilidade de sua transferência a terceiros, na vigência da Lei 4.591/64, porque não são bens acessórios de uma unida-
de do prédio mas sim bens principais, autônomos.
Dizia a Lei velha: “Art. 4º. A alienação de cada unidade, a transferência de direitos pertinentes à sua aquisição e a
constituição de direitos reais sobre ela independerão do consentimento dos condôminos (vetado).”
Diz a Lei nova: “Art. 1.331. § 1º. As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritó-
rios, salas, lojas, sobrelojas ou abrigos para veículos, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes
comuns, sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários.”
O texto jornalístico não nos permite fazer destaques gráficos, por isso repetimos: “abrigos para veículos, com as
respectivas frações ideais.... [podem] ser alienad[o]s e gravad[o]s livremente por seus proprietários”. O texto é claro, ao
distinguir vagas de estacionamento, com fração ideal própria, de áreas coletivas, na qual o proprietário tem direito de
colocar seu veículo.
Interpretação - Portanto, não é totalmente correta a assertiva de que a Lei do Condomínio não permitia alugar as
vagas de garagem, como também não é completamente segura a interpretação de que, agora, para alugar uma gara-
gem é sempre necessário conceder direito de preferência aos demais condôminos e moradores (possuidores) do
condomínio. Ambas as premissas são corretas quando – repetimos – se tratar de área privativa comum, com ou sem
demarcação, mas sem fração ideal própria, e, conseqüentemente, sem matrícula específica no Registro de Imóveis.
Quanto ao receio de que o proprietário estaria permitindo o ingresso de alguém “estranho” ao edifício, basta lem-
brar que novos proprietários e novos inquilinos também são “estranhos” no início de seu relacionamento com os de-
mais. O novo locatário da garagem deixará de ser um desconhecido tão logo passe a obedecer e respeitar as normas
do condomínio, o que pode e deve ser-lhe exigido.
OBS .: Para reajuste anual de aluguel: multiplique o valor pelo indexador contratado.
Veja os índices co mpletos em nosso site: www.diariodasleis.com.br