Você está na página 1de 81

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


SOLO E DISTINÇÃO DE AMBIENTES
CONSERVAÇÃO DO SOLO PARA PASTAGENS TROPICAIS

Alexandre Romeiro de Araújo


Pesquisador da Embrapa Gado de Corte

Campo Grande - MS
CONTEÚDO

• Principais componentes do solo


• Características das principais classes de solo do Cerrado
• Conservação do solo (causas e consequências)
• Técnicas de prevenção e controle da erosão em pastagens
tropicais
• Considerações finais
SOLO

• Sistema dinâmico em não equilíbrio (aberto) em evolução

• Estado estacionário

• Sofre impacto da conversão de ecossistemas para


agroecossistemas
• Necessidade de intervenção para minimizar mudanças
negativas – Adoção de práticas de conservação do solo e da
água
COMPONENTES DO SOLO

Líquido Sólido
B
inorgânico

Gás

C Sólido
orgânico
TEXTURA DO SOLO
É a distribuição das partículas primárias do solo por tamanho

Silte
0,053–0,002 mm
Argila
<0,002 mm

Areia
2–0,053 mm
ESTRUTURA DO SOLO
É o arranjo das partículas secundárias do solo e do espaço poroso entre
elas, incluindo o tamanho, forma e resistência (Adaptado Marshall,
1962).
Grânulos Blocos
Fonte: Ferreira et al., 1999
Fonte: Ferreira et al., 1999
PRINCIPAIS TIPOS DE SOLOS DOS “CERRADOS”
Solos ------- Área da Região -------
km2 %
Latossolos 935.870 46,0
Neossolos Quartzarênicos 309.715 15,2
Argissolos 307.677 15,1
Litólicos 148.134 7,3
Laterítas Hidromórficas 122.664 6,0
Cambissolos 61.943 3,0
Concrecionários Lateríticos 57.460 2,8
Gley 40.752 2,0
Terras Roxas 34.231 1,7
Outros 19.154 0,9
Total 2.037.600 100
Fonte: Adamoli et al., 1986.
CARACTERISTICAS DAS PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS
DO CERRADO E PAISAGENS DE OCORRÊNCIA

Fotos: Alexandre R. Araújo


LATOSSOLOS
Características Gerais
• B latossólico (Bw)
• Intemperizados e lixiviados
• Teor de argila variável
• Profundos e bem drenados
• Uniformes em profundidade
• Poucos minerais primários, exceto quartzo
• Ácidos e com “alto” Al trocável
• Baixa CTC, bases trocáveis e P disponível
• Alta adsorção de P
Foto: Alexandre R. Araújo • Estrutura granular/blocos
PAISAGEM DE OCORRÊNCIA DE LATOSSOLOS
EMBRAPA GADO DE CORTE – CAMPO GRANDE/MG

Foto: Alexandre R. Araújo


NEOSSOLO QUARTZARÊNICO
Características Gerais
• A-C
• Sem contato lítico dentro de 50 cm de
profundidade
Foto: Alexandre R. Araújo

• Textura areia ou areia franca até no


mínimo 150 cm de profundidade ou
até contato lítico
• Essencialmente quartzosos
• Cuidados com o manejo!!!!
PAISAGEM DE OCORRÊNCIA DE NEOSSOLOS
QUARTZARÊNICOS – CAMPO GRANDE/MS

Foto: Alexandre R. Araújo


Foto: Silvia R. Pereira
Fonte: Google Earth 14/10/2013
ARGISSOLOS
Características Gerais

• Solos minerais com argila Tb


• Horizonte B textural
• Textura variando de arenosa a
argilosa
• Variando de forte a imperfeitamente
drenado
• Profundidade variável
• Cuidados com o manejo!!!!
Foto: Alexandre R. Araújo
PAISAGEM DE OCORRÊNCIA DE ARGISSOLOS
NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


CAMBISSOLOS
Características Gerais

• Solos minerais
• Horizonte B incipiente
Foto: Alexandre R. Araújo

• Características variáveis de local para


local
• Variando de forte a imperfeitamente
drenado
• Rasos a profundos
• Minerais facilmente intemperizáveis > 4%
PAISAGEM DE OCORRÊNCIA DE CAMBISSOLOS –
CAMPOS DAS VERTENTES/MG

Foto: Alexandre R. Araújo


PAISAGEM DE OCORRÊNCIA DE CAMBISSOLOS –
SUL DE MINAS E CAMPOS DAS VERTENTES/MG

Foto: Alexandre R. Araújo


CONSERVAÇÃO DO SOLO – TECNICAS DE PREVENÇÃO E
CONTROLE DA EROSÃO PARA PASTAGENS TROPICAIS

Foto: Rodrigo A. Barbosa


Formas de degradação Causas de degradação
Uso excessivo (7%)
Física (4%)

Química (12%)

Super
pastoreio (35%) Desmatamento (30%)
Erosão Erosão
Hídrica (56%) Eólica 28%)

Atividades Industrialização (1%)


Agrícolas (28%)
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA EROSÃO DO SOLO
EROSÃO HÍDRICA

Desagregação

Transporte

Deposição
EROSÃO LAMINAR OU ENTRE-SULCOS
Área de pastagem com incidência de erosão laminar
Manejo Rapadão

Foto: Ademir H. Zimmer


EROSÃO EM SULCOS
Ocorre onde há concentração da enxurrada na superfície do terreno, promovendo o
desgaste localizado do solo, formando os sulcos de enxurrada.
Erosão em sulcos profundos em cana-de-açúcar no Noroeste Paulista

Foto: Alexandre R. Araújo


EROSÃO EM SULCOS EM TERRENO PREPARADO
PARA O PLANTIO NO NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


EROSÃO EM VOÇOROCAS
Expressão mais severa da erosão em sulcos

Foto: UFLA-DCS
PRÁTICAS DE CONTROLE DA EROSÃO
VEGETATIVAS
Utilizam a vegetação para o controle da erosão
• Reflorestamento
• Plantas de cobertura
• Cultura em faixas
• Alternância de capinas
• Cobertura morta (SPD)
• Faixas de bordadura
• Quebra-ventos
• Pastagens (MANEJO CORRETO!!!)
FUNÇÕES DA COBERTURA DO SOLO
• Reduzir perdas de solo e água por erosão;
• Diminuir o impacto da chuva, protegendo o solo;
• Aumentar a capacidade de infiltração de água no solo;
amenizando escorrimentos superficiais e enchentes;
• Estabilizar a temperatura do solo, favorecendo os processos
biológicos;
Foto: Cézar F. Araújo Junior
• Manter a umidade do solo em função da diminuição da
evaporação;
• Ciclagem de nutrientes;
• Aumento do teor de MOS, aumentando a CTC e a
estabilidade de agregados do solo;
• Efeito supressor na germinação de plantas daninhas
ÁREA COM CULTIVO DE CANA DE AÇUCAR –
NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


PERDAS DE SOLO EM PASTAGENS CULTIVADAS EM
SOLO ARENOSO DA BACIA DO ALTO TAQUARI/MS
T1 – Past. Degradada de B. T5 - Past. Recuperada (B.
decumbens sem terraços e brizantha) com preparo de
super pastejo solo com terraços, sem
T2 – Past. Recuperada (B. adubação e manejo
brizantha) com preparo de adequado
solo sem terraços, sem T6 - Past. Recuperada (B.
adubação e super pastejo brizantha) com preparo de
T3 - Past. Recuperada (B. solo com terraços, com
brizantha) com preparo de adubação e manejo
solo sem terraços, sem adequado
adubação com manejo T7 - Past. Recuperada (B.
adequado brizantha) com preparo de
T4 - Past. Recuperada (B. solo com terraços, com
brizantha) com preparo de adubação e manejo
solo sem terraços, com adequado e consorciado
adubação e manejo com estilosante.
adequado
Fonte: Vetiver.org
FAIXAS DE VEGETAÇÃO
Faixas de retenção empregadas no controle da erosão.
Associada a terraços (esquerda) e implantadas isoladamente (direita)
ÁREA COM CULTIVO DE CANA-DE-AÇUCAR
E CROTALÁRIA – NOROESTA PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


ÁREA COM CULTIVO DE CANA-DE-AÇUCAR –
NOROESTE PAULISTA
Foto: Alexandre R. Araújo
11m
Efeito do quebra-ventos

50km/h 13 16 22 24 33 38 42km/h

30 60 90 120 150 180 210m


QUEBRA VENTOS – BOSQUE DE EUCALIPTO 3 X 2M
EMBRAPA GADO DE CORTE

Foto: Alexandre R. Araújo


QUEBRA VENTOS – ÁREA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA –
PECUÁRIA-FLORESTA (AO FUNDO) CNPGC

Foto: Alexandre R. Araújo


SPD X SPC
INTEGRAÇÃO LAVOURA – PECUÁRIA - FLORESTA
• Sistema altamente eficiente para a
conservação do solo e prevenção
das erosões hídricas e eólicas;
• Aumento na ciclagem de nutrientes e
nos teores de MO;
• Aumento da cobertura do solo,
quando realizada sob SPD;
• Melhoria das condições químicas e
físicas do solo;
• Quebra-ventos minimizando a erosão
Foto: Alexandre R. Araújo
eólica.
EDÁFICAS

• São práticas em que se procura manter ou até mesmo melhorar a


fertilidade do solo e, em função disto, manter sua superfície com
maior cobertura vegetal (Pruski, 2006).
• Adubação química
- Correção e manutenção dos nutrientes em teores satisfatórios
para o desenvolvimento das plantas.
SOLOS DO CERRADO

• Muito intemperizados;
• Elevada acidez natural;
• Baixa saturação por bases;
• Alta saturação de Al trocável;
• Uso de calcário e adubações têm sido negligenciados por
pecuaristas.
CONSUMO DE FERTILIZANTES NO BRASIL

600
Café Pastagens 58% da área
cultivada no país e 1,6 %
500
dos fertilizantes NPK
Kg ha-1 de NPK

400
Soja
300 Milho

200 Arroz Feijão

100 Mandioc
a Pastagens

0
CONSTRUÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO TRAZ VANTAGENS
AMBIENTAIS E AO PRODUTOR

• Adubações de manutenção não são onerosas;


• Potencial produtivo e o valor da terra aumentam;
• Sistema radicular e cobertura do solo aumentam;
• Melhora a eficiência no uso da água e nutrientes;
• Aplicação de fertilizantes e corretivos na época de demanda das
pastagens é uma medida de manejo conservacionista na agropecuária.
ADUBAÇÃO VERDE
Consiste no cultivo de plantas, principalmente leguminosas, as quais, após serem
incorporadas (ou não) ao solo funcionam como adubo orgânico.
CONTROLE DO FOGO

• Comum entre os agricultores e pecuaristas;

• Destruição da cobertura vegetal;

• Queima da matéria orgânica;

• Redução da estabilidade de agregados.


DESEMPENHO ANIMAL (KG DE PV/HA/ANO)
EM PASTAGENS APÓS A QUEIMA

Forrageira Com Queima Sem Queima Diferença (% )


B. brizantha 220 420 91
B. decumbens 260 370 42
Tanzânia 280 515 84
Tobiatã 360 455 26
Média 280 440 57

Fonte : adaptado de Bono et al. 1998


PERDAS DE SOLO

Tipos de solo Sem / queima Com / queima


Latossolo 4,8 ton / ha 13,1 ton / ha
Cambissolos 14 ton/ ha 25,3 ton / ha

Bono & Evangelista ( 1994 ). Campos de Vertentes MG


MECÂNICAS
• São estruturas artificiais com a finalidade de quebrar a velocidade de
escoamento da enxurrada e facilitar a infiltração de água no solo.

• Terraceamento

• Bacias de captação

• Canais escoadouros
TERRACEAMENTO
• Principal função:
Diminuir comprimento dos lançantes e
promover a infiltração da água

• Eficiência:
87% perda de solo
12% perda de água (Bertoni & Lombardi
Neto, 1999)
Associação com outras práticas.
TIPOS DE TERRAÇOS
ÁREA TERRACEADA DE CANA-DE-AÇÚCAR
NO NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


ÁREA TERRACEADA DE CANA-DE-AÇUCAR
NO NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


ÁREA DE PASTAGENS TERRACEADA
EM CAMPO GRANDE/MS

Foto: Alexandre R. Araújo


RETENÇÃO DE ÁGUA EM TERRAÇO
NO NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


DEPOSIÇÃO DE SEDIMENTOS EM CANAL DE TERRAÇO
NO NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


DEPOSIÇÃO DE SEDIMENTOS EM CANA-DE-AÇUCAR
NO NOROESTE PAULISTA

Foto: Alexandre R. Araújo


POSSÍVEIS CAUSAS DO ROMPIMENTO DE TERRAÇOS

• Tipo de terraço inadequado ao tipo de solo e regime de chuvas


• Conhecimento deficiente dos solos, em termos de classificação
• Entrada de águas de fora da gleba
• Falta de manutenção e acompanhamento técnico
• Compactação excessiva dos solos entre os terraços
• Espaçamento inadequado, locação do primeiro terraço inadequada, erros
na locação
• Construção mal executada

• Achar que só o uso de terraços resolve


CANAIS ESCOADOUROS
• São construídos quando a área não possui um escoadouro natural
• Cortam perpendicularmente os terraços
• Normalmente acompanham a declividade do terreno
• Deve ser feito pelo menos um ano antes de se construir os terraços
BACIAS DE CAPTAÇÃO
• Aproveitamento racional das
águas;

• Abastecimento do lençol freático;

• Redução da força erosiva;

• Depende da área de exposição,


do tipo de solo e da precipitação
local.
ESTRUTURAS PARA DIMINUIR A
ENERGIA CINÉTICA DA ENXURRADA
• Construídos quando a erosão em
sulcos já está instalada;

• Geralmente instaladas em voçorocas,


ou em locais que recebem enxurrada
de estradas;

• Devem receber manutenção


permanente.
CONTROLE DA COMPACTAÇÃO

• Controle do tráfego;
• Realização de operações motomecanizadas com o solo no
teor de umidade adequado;
• Utilização de culturas com sistema radicular capaz de
recuperar a estrutura do solo;
• Incrementar os níveis de matéria orgânica do solo;
• Uso de práticas mecânicas como a escarificação e a
subsolagem.
Fonte: Fundação MT 2002
CAPTAÇÃO EM ÁREA DE MILHO PARA ENSILAGEM

Foto: Cézar F. Araújo Junior


COMPACTAÇÃO FORÇADA – LVD MÉDIA –
JABOTICABAL -SP

Beutler et al., 2004


CONSIDERAÇÕES FINAIS –
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

• Abordagem sistêmica: deve abranger toda bacia ou sub-bacia;

• Multidisciplinar: deve abranger aspectos agronômicos, econômicos,


ambientais e sociais;

• Vários agentes: públicos, privados, agrícolas e não agrícolas;

• Vários alvos: erosão, fertilidade, qualidade física e biodiversidade;


• Não existem soluções mágicas ou gratuitas para a conservação dos
solos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS –
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

• Oportunidade para capitalizar e aproveitar a correta aplicação dos


mecanismos de conservação de solos e água na forma de benefícios
econômicos
• Impactos dentro e fora da porteira podem se converter tanto em
benefícios como em custos extras, na forma de multas ou tributos aos
poluidores
• Planejamento da conservação dos solos deve incluir as reservas
legais e as APPs, e todas as áreas não agrícolas, como os pátios,
currais, terreiros, construções e estradas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Cada prática, aplicada isoladamente, previne apenas de maneira
parcial o problema. Para uma prevenção adequada da erosão, faz-se
necessária a adoção simultânea de um conjunto de práticas, pois
nenhuma prática isolada obedece aos três princípios de controle de
erosão (redução do impacto do efeito da gota de água; redução do
escoamento superficial; melhorar as condições de infiltração de água
no solo).
• O controle de erosão do solo deve ser feito durante todo o ano
agrícola, e em todos os estágios de desenvolvimento das culturas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A DEMANDA CRESCENTE NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS É UM
DOS MAIORES DESAFIOS DA HUMANIDADE. O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL, AQUELE QUE ATENDE AS EXIGÊNCIAS DO PRESENTE,
SEM COMPROMETER A CAPACIDADE DAS GERAÇÕES FUTURAS EM
ATINGIR SUAS NECESSIDADES, SOMENTE PODERÁ SER ALCANÇADO
ATRAVÉS DA INTERAÇÃO HARMÔNICA ENTRE O HOMEM E O AMBIENTE.

A AGRICULTURA É A BASE DE SUSTENTAÇÃO DO HOMEM;


MANEJAR ADEQUADAMENTE O SOLO É GARANTIR A CONTINUIDADE
DA VIDA NO PLANETA.
ALFREDO SCHEID LOPES
PROFESSOR EMÉRITO - FUNDADOR DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS
SETEMBRO DE 1995.
Obrigado!

Alexandre Romeiro de Araújo


Pesquisador da Embrapa Gado de Corte

Você também pode gostar