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Quando o poeta (d)escreve os “VERSOS À MINHA INFÂNCIA”, nos remete ao que temos de
mais puro. Dificilmente encontraremos alguém que escreva poesias, que não tenham os “pés-
sujos” com a poeira dos terreiros do interior. É onde surgem muitos motes, que vem dos ditos
populares, coisas que os “matutos” expressam naturalmente, sejam: Por espanto, para
afirmarem suas palavras de compromissos, para se pabular, para enaltecer o amor, para expor
suas gratidões, suas amizades, sua religiosidade...etc.
Esse escrito final, fiz de improviso ainda extasiado pela poesia deste livro e saiu esta
singela homenagem ao meu querido poeta Agmael (de Ipixuna) Lima.
Desejo uma boa leitura a tod@s, pois me diverti muito com essas proezas do meu
amigo/confrade Agmael Lima.
Maciel Melo
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra à memória de todos os meus ancestrais, de um modo especial à memória do meu
avô materno José Braz Lima (Zeca Rapaz), o maior professor de vida que eu tive.
AGRADECIMENTO
A edição desta obra só foi possível graças ao apoio, a colaboração e a confiança de muitas
pessoas que ajudaram a torná-lo uma realidade.
Consideramos essencial agradecer, em primeiro lugar, a Deus, a Ele toda a honra e toda glória;
Em segundo lugar, agradeço à minha amada esposa Edinha Lima pela força e incentivo;
Ao romancista e poeta Silvio dos Anjos, meu mestre e padrinho literário, responsável pelo
comentário de orelha deste livro;
Ao meu amigo poeta Adalberto Marcos (Bertin de Carmelita), prefaciador desta obra.
Ao meu amigo poeta e cantador Luis Carlos Pinheiro, responsável pela contracapa deste livro;
Aos meus familiares, amigos, leitores e todos aqueles que direta ou indiretamente
contribuíram para que este projeto viesse a se concretizar.
A literatura brasileira, paraense e especialmente de Nova Ipixuna, recebe o poeta Agmael Lima de
braços e mente aberta.
Falar deste poeta é uma grande honra. É meu amigo e companheiro da Academia de Letras de
Rondon do Pará e Região (ALERPRE).
Ancestralidade nos leva a poesia matuta, tão decantada neste país na atualidade. Remontar as
origens é uma maneira de valorizar as pessoas, que deixaram no passado a sua cultura, e os seus feitos
marcados para sempre.
O poeta comenta as suas peraltices na infância e desenvolve os seus motes com maestria e alegria.
Também revela o seu ser “homem” apaixonado pela sua amada.
Apresenta na sua obra os seus devaneios, a sua poética brincalhona na poesia “Cabaré da Damiana”.
Viaja dentro da crítica religiosa e política; comenta poeticamente os revezes da vida, e, fala do óbvio
quando poetisa a velhice. O poeta pode fazer alquimia quando transforma mijo em perfume.
Ressalta a ancestralidade africana quando cita na sua obra as rezadeiras, benzedeiras e as mães de
santo do seu lugar.
Na sua poesia a seca é apresentada como uma preocupação da sua região.
A sua obra termina levando os adjetivos ofídicos para nomear seres humanos da pior espécie.
O poeta Agmael Lima viaja pelos caminhos da poesia matuta, fazendo um belo mingau poético,
regado com araruta.
Ao ler e comentar esta obra deixo este comentário: a sua poesia é boa, como as do nosso nordeste.
Falou cabra da peste.
Quando nasceu chorando, careca e sem dentes foi por Deus embrulhado com o manto
sagrado da poesia e acalentado nas palavras sertanejas dos pais, descendentes dos rincões
nordestinamente baianos onde quando faltam água e pão, sobram poemas. Na sua gaveta
de poemas se encontram o romântico com a sinceridade poética que regam a origem de
autêntico sobrevivente das tempestades. O autor mantém viva a poesia pura e de origem
que desde cedo viaja nas veias da sua construção que faz a poesia puramente nordestina,
despida dos modismos insanos que fazem proliferar a decadência poética. O Poeta Agmael
Lima é mais um abençoado tão quanto todos que fizeram da palavra em versos sua espada
e seu escudo nesse Brasil afora. Se esse Poeta morrer embriagado pelo próprio veneno e
esse veneno tenha sido destilado da sua poesia, com certeza morrerá poeticamente Feliz.
Poeta
Músico
Rua Capitariquara número 07, Nova Ipixuna, Pará, Amazônia, Brasil, sábado, 14 de julho de
1979, às 06 horas e 10 minutos da manhã, local, data e momento em que nasci chorando
calvamente desdentado em plena lua cheia de julho, no dia da “Liberdade de Pensamento”,
nos aniversários da “Queda da Bastilha” e do início da “Revolução Francesa”.
Costumo falar que nasci no limite entre a noite e o dia, um pouco depois do final da aurora,
um pouquinho antes do nascer do sol. Era para ser apenas o nascimento de mais um menino
chorão, mas quis a vida que o destino me fizesse nascer poeta.
Nascer poeta é vir ao mundo para moldar palavras com as próprias mãos. É não encontrar nos
versos dos outros, aquilo que expressa a sua verdade, a sua cólera ou a sua agonia. É desfazer
palavras e em seguida refazer-se com as mesmas palavras que outrora atirou ao lixo.
Nascer poeta é nascer para sorrir, amar, e de vez em quando dar murro em ponta de faca. É
nascer para psicografar o impossível e desejar o intocável. É nascer para embriagar do doce e
do amargo e decifrar gritos e silêncios.
Assim nasci, para isto nasci: poeta condenado a inventar o meu próprio pecado e algum dia
certamente morrer de saudade embriagado pelo meu próprio veneno.
Agmael Lima
Rodeada de meninos.
Do Lampião tenebroso.
“Tubarão” e “Diamante”
E do som do foguetório
As novenas e os reisados
De saudade e fantasia
NOVA ERA
O CABARÉ DA DAMIANA
É o Cabaré da Damiana.
Buscando se divertir
Em busca da boemia
No Cabaré da Damiana.
No Cabaré da Damiana.
Lá vai personalidade
Comprometido na trama
Carlão Pé de Macaxeira
É um exímio usuário
Do Cabaré da Damiana.
Amante de Rogaciana
No Cabaré da Damiana.
No Cabaré da Damiana.
No Cabaré da Damiana.
Tem Tonhão Aranca Couro
O Cabaré da Damiana.
Matador de suçuarana
No Cabaré da Damiana.
Fazedor de rapadura
E aguardente de cana
No Cabaré da Damiana.
No Boteco de Tirana
Do Cabaré da Damiana.
No Cabaré da Damiana.
No Cabaré da Damiana.
Lugar de animação
É o Cabaré da Damiana.
Só se vê gente mesquinha
FOGO NO ORATÓRIO
Do oratório erudito
Da vó Nazinha do Carolino.
Mantinha um oratório
Um altar sacro-bendito
Vó Nazinha agradecida
Transbordava de alegria
E eu moleque “malinava”
Aproveitei um momento
De descuido e calmaria
Abandonei o falatório
E eu naquele zueiro
Pense em um desmantelo
No meio do fumaceiro.
E Benedito sapecado
De deixar desmantelado.
No oratório beneditino
Um “lamentá” de dá dó
“Arremaria”, “Crendeuspai”
Na religião e na ciência
A ladroagem e a corrupção
Mergulhou no absurdo
E a população paralítica
Promessas de compensação
É a rainha da pavulagem
Faladeira de sacanagem
De fofocagem e putaria
Em busca de boataria
Encapetado da disgreta
Excomungado e pivete
Perfumadamente cheirosa.
Na mitologia greco-romana
Perfumadamente cheirosa.
Perfumadamente cheirosa.
O POETA E O OVINI
Amásio da madrugada
Galanteador da lua
Misteriosamente radiante
Lobisomem, Saci-Pererê
Curiango e caxinguelê
Mãe-de-santo e rezadeira
Benzedeira e adivinha
Mulher de sabedoria
Quebranto ou picuinha
Impotência ou frigidez
Ou pinxilinga de galinha
Iluminada e adivinha
Já vi “catiroba” trair
NECRÓFILOS
(Ao meu irmão Emmanuel Lima abortado aos cinco meses de gestação)
A vileza da vizinhança
No mundo fogo eu botava
Fui imperativa criança
Que “Véa Luza” castigava
- “Na peia comigo tu dança!”
Com ela a cobra fumava.
Um profeta insano
Sagrado e profano
Decretou o seu lema:
“O amor não é tudo
É loucura – absurdo
É desgosto é problema”.
Um boêmio da rua
Desses amantes da lua
Levantou-se do seu leito
Declamou um poema:
“Amar vale à pena
Torna um louco perfeito”.
“VÉI DEDÉ”