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HABEAS CORPUS - ALTERAÇÃO DA DATA-BASE - NOVA

CONDENAÇÃO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO


EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
“A esperança nos Juízes é a última esperança”.(1)
*HABEAS CORPUS*(2)

_____, brasileiro, convivente, católico, Defensor Público do


Estado do UF, inscrito na OAB/UF _____, o qual labora na
Unidade da Defensoria Pública de _____, com sede na Rua
_____, nº _____, Bairro _____, _____-UF, vem, mui
respeitosamente, perante Vossa Excelência, nos melhores de
direito, tendo por fulcro e ancoradouro jurídico, o artigo 5º
LXVIII, da Constituição Federal, o qual vem conjugado com os
artigos 647 e 648 inciso I, et alii, do Código de Processo
Penal, interpor, o presente writ of habeas corpus, onde figura
como autoridade coactora a Colenda _____ Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do _____, ação penal
popular constitucional que impetra em favor de: _____,
brasileiro, solteiro, portador da cédula de identidade nº
_____/SSP-UF. filho de _____ e de _____, nascido em
18/07/1985, residente e domiciliado na cidade de _____-UF,
atualmente constrito junto a Penitenciária Industrial de _____,
adicto ao regime fechado, código de pessoa pelo sistema
Themis: _____. Para tanto, inicialmente expõe os fatos, que
sedimentados pelo pedido e coloridos pelo direito, ensejarão
os requerimentos, na forma que segue:

1.) Na Comarca de _____ - Vara das Execuções Penais -


postulou o dignitário do Ministério Público, a alteração da
data-base do paciente junto a carta de guia, tendo por motor o
cadastramento de novel condenação tombada sob o nº
_____, por fato ocorrido em 27/02/2005.

2.) Malgrado o juízo de origem (Vara das Execuções Penais da Comarca de


_____-UF), ter enjeitado o pedido, no rastilho do despacho 687, consignando
que - “Com relação da data-base de benefícios, considerando que se trata de
nova condenação, por fato praticado anteriormente ao início da execução, a
data-base de benefícios não poderá ser alterada. Assim, mantenho inalterada a
data-base de benefícios, devendo permanecer aquela que consta no
expediente inicial”. - dita decisão foi bispada pelo Tribunal de Justiça do Estado
do _____, o qual atendendo peditório manejado pelo Ministério Público, cassou
a decisão de primeiro grau, o fazendo via agravo de execução, tombado sob o
nº _____, datado em 04 de novembro de 2010, provido pelo autoridade
coactora à unanimidade, cumprindo, nesse diapasão, transcrever-se a ementa
do acórdão, que sintetiza os argumentos edificados pela autoridade coactora, a
guisa de enjeitamento do pedido:
AGRAVO EM EXECUÇÃO. ALTERAÇÃO DA DATA-BASE.
SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CONDENAÇÃO NO CURSO DO
CUMPRIMENTO DA PENA.
AGRAVO MINISTERIAL PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.
.........................................................................
3.) Aqui, pois, radica a rebeldia que empresta foros de cidade (curso/aceitação)
ao presente remédio heroico, porquanto ao entronizar nova data-base, em
decorrência da superveniência de novel condenação, por fato praticado
anteriormente ao início da execução das penas, à míngua de norma legal a
chancelá-la, a autoridade coactora, deu causa a eclosão de dantesco
constrangimento ilegal, visto que se desabraçou da lei regente da matéria, a
qual não contempla a hipótese brandida: alteração da data-base, tendo por
âncora o cadastramento de pena pela prática de fato anterior, ao início da
execução da reprimenda corporal.
4.) Em verdade, em verdade, a autoridade coactora incorreu em grave
quiproquó, porquanto é de justiça(3) e equidade(4) que a data-base permaneça
incólume, visto que o cadastramento de nova condenação gerada por delito
cometido antes de iniciada a expiação da sanção corporal não dá ensanchas à
eclosão de nova data-base.
Nesse diapasão, decalcam-se arestos que ferem com acuidade a matéria em
equação:
FALTA GRAVE. DATA-BASE. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. 1.
Conforme artigo 75, § 2º, do Código Penal e artigo 111, parágrafo único,
da Lei de Execução Penal, somente a condenação criminal por fato
cometido após o início da execução da pena enseja a alteração da
data-base para análise do requisito objetivo à concessão de direitos
previstos em lei. Não há disposição legal que autorize o aplicador da lei
a restringir o requisito temporal, alterando a data-base, além dos acima
mencionados. 2. O princípio da legalidade se aplica também no âmbito
da execução penal, na medida em que se constitui em um princípio
constitucional, limitativo do poder do legislador, que terá que formular
preceitos claros, precisos, determinados e de acordo com a
Constituição, limitativo do poder jurídico do órgão acusador, que não
poderá transpor as barreiras legais autorizadoras do exercício da
pretensão acusatória, e limitador do poder jurídico dos Juízes e dos
Tribunais, os quais estão impedidos de definir tipos penais, de aplicar
sanções criminais ou restringir direitos, além da previsão legal,
garantindo-se, assim, a proteção dos direitos e das liberdades
fundamentais. AGRAVO PROVIDO. (Agravo Nº 70024010951, Sexta
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nereu José
Giacomolli, Julgado em 12/06/2008)
AGRAVO EM EXECUÇÃO. FALTA GRAVE. DATA-BASE. Somente a
condenação criminal por fato cometido após o início da execução
da pena enseja a alteração da data-base para análise do requisito
objetivo à concessão de direitos previstos em lei, como se pode
inferir do artigo 75, § 2º, do Código Penal e artigo 111, parágrafo único,
da Lei de Execução Penal. Não há disposição legal que autorize o
aplicador da norma a restringir o requisito temporal, alterando a data-
base, além dos acima mencionados. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo
nº 70041546912, 3ª Câmara Criminal do TJRS, Rel. Nereu José
Giacomolli. j. 25.03.2011, DJ 06.04.2011).
AGRAVO EM EXECUÇÃO. CONDENAÇÃO SUPERVENIENTE À
EXECUÇÃO EM ANDAMENTO. FATO ANTERIOR AO INÍCIO DO
CUMPRIMENTO DA PENA, DE MODO A ENSEJAR TÃO-SOMENTE
A SOMA DAS PENAS E A DETERMINAÇÃO DE REGIME SEM
IMPLICAR ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA BENEFÍCIOS.
AGRAVO PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. (Agravo Nº 70023365612,
Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José
Antônio Hirt Preiss, Julgado em 24/04/2008)
(grifos nossos)
Sob a clave doutrinária, outra não é a intelecção sobre o tema sob escrutínio,
sendo de preceito a obrar-se a traslado parcial do escólio do festejado
Desembargador, MARCO ANTONIO BANDEIRA SCAPINI, in, PRÁTICA DE
EXECUÇÃO DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE, Porto Alegre, 2009,
Livraria do Advogado, onde à páginas 62/63, item 9.5, obtempera com ímpar
propriedade:
“Se o fato que provocou a nova condenação é anterior ao início do
cumprimento da pena, não há alteração da data-base para o cálculo
dos lapsos temporais. Ela continua a ser a que assinala o início da
execução, observada a detração (art. 42 do CP). Constitui equívoco
considerar como data-base a da condenação superveniente ou a do
trânsito em julgado da sentença, como se vê, muitas vezes, na prática.
Altera-se apenas a pena total, em função da soma ou em decorrência
da unificação pelo reconhecimento da continuidade delitiva (art. 71 e
parágrafo único do CP).
Para estabelecimento do regime, no entanto, o juiz deverá levar em
conta o resultado da operação e as disposições das alíneas do
parágrafo 2º do art. 33 do CP. Deverá considerar, também, a situação
fática do condenado perante a execução, pois nem sempre a pena total
superior a 8 (oito) anos, por exemplo, imporá o regime mais severo,
mesmo que a nova sentença condenatória o tenha estabelecido. O
condenado, que iniciou o cumprimento da pena no regime fechado e
alcançou progressão, poderá permanecer no regime semiaberto, se,
sobrevindo condenação por fato anterior, já tiver cumprido 1/6 do total
(art. 112, caput, da LEP), resultado da soma ou da unificação. Assim,
também, não será revogado o livramento condicional, se já tiver
cumprido, não sendo reincidente, e não se tratando de crime hediondo
ou equiparado, 1/3 da pena total, como deflui dos arts. 84 e 86, II, do
CP e 141 da LEP.”
5.) De resto, a alteração da data-base, acarreta vencilhos graciosos na
execução da pena, postergando de forma desmesurada a concessão dos
benefícios, mormente o da progressão de regime, passo necessário para
alcançar a ressocialização, tida e havida como fim teleológico da pena.
Assim, impõe-se afastar-se o óbice entronizado pelo autoridade coactora, por
daninho e contraproducente, aos impostergáveis interesses do agravado. Sobre
o tema, discorre com propriedade JULIO FABBRINI MIRABETE, in,
EXECUÇÃO PENAL, São Paulo, Atlas, 2000, onde à folha 26 obtempera:
“... O sentido imanente de reinserção social, conforme o estabelecido
na lei de execução, compreende a assistência e ajuda na obtenção dos
meios capazes de permitir o retorno do apenado e do internado ao meio
social em condições favoráveis para sua integração, não se
confundindo ‘com qualquer sistema de tratamento que procure impor
um determinado número e hierarquia de valores em contraste com os
direitos da personalidade do condenado”.
6.) Donde, assoma de imperativo categórico seja glosado o acórdão alvo de
respeitoso reverbério, no ponto malferido - o pomo da discórdia - qual seja,
geração de nova data-base, tendo por fato gerador a prática de falta grave, na
execução da pena.
Destarte, anela o paciente com todas as veras de sua alma, a concessão da
ordem buscada, consubstancia no restabelecimento da decisão de primeiro
grau de jurisdição, o que pede e suplica seja-lhe outorgado em grau de revista,
por essa Sobre-eminente Cúria Secular de Justiça.
À VISTA DO EXPOSTO, REQUER:
I.- Seja deferida, na natividade da lide, ou seja, LIMINARMENTE o pleito
requestado, restabelecendo-se, ao paciente, a decisão de primeiro grau de
jurisdição, que manteve inalterada a data-base, por ocasião do cadastramento
de novel condenação por delito cometido antes do início do cumprimento da
pena, eclipsando-se, de conseguinte, a decisão vertida pela autoridade
coactora, forte nos argumentos esposados linhas volvidas, comunicando-se, de
imediato, a última, para implemento da medida, junto a VEC, de _____-UF.
II.- Por debrum, postula pela ratificação da ordem deferida no limiar da lide, e
ou pela sua concessão, na remota hipótese restar indeferido o item I,
assegurando ao paciente a data-base anterior, revigorando-se, nesse comenos,
a decisão de primeiro grau de jurisdição, desconstituindo-se, por imperativo
lógico, o acórdão proferido pela _____ Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Estado do _____, decorrência direta da procedência da ação penal
constitucional de habeas corpus impetrado: the great writ.
Certos estejam Vossas Excelências, mormente o Insigne e Culto Doutor
Ministro Relator(5) do feito, que em assim decidindo, estarão julgando de
acordo com o direito; e, mormente, prestigiando, assegurando e
restabelecendo, na gênese do verbo, do primado da mais lídima e genuína
Justiça.
Espera Receber Mercê!
__, __ de __ de __
_______________
Defensor

Modelo cedido por Paulo Roberto Fabris - Defensor Público


(1) (Rui, Obras Seletas, t. VII, p. 204).
(2) Resenha: Data-base. Cadastramento de nova condenação, por fato anterior
ao início do cumprimento da pena. Postulação ministerial que suplicava o
redesenho da data-base rechaçada em primeiro grau, malgrado agasalhada em
segundo grau de jurisdição. Inexistência de previsão legal para efetuar-se a
alteração da data-base na hipótese brandida . Error in judicando, vistoso e
apalpável, conducente a cassação do acórdão.
(3) “significa a manutenção de um ordenamento positivo mediante a sua
conscienciosa aplicação”. KELSEN, in, GENERAL THEORY, cit. I, I, A, e, 5.
(4) “A equidade é uma mitigação da lei escrita, por causa das circunstâncias
que ocorrem, em respeito às pessoas, às cousas, aos lugares ou tempos”.
ARISTÓTELES, apud, CANDIDO MENDES DE ALMEIDA, Auxiliar Jurídico,
1985, vol. II, pág. (479).
(5) “Magistrado em quem o ideal de bem julgar adianta-se ao rigor em punir”.

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