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Processo: 1.0035.19.005093-6/001
Relator: Des.(a) Washington Ferreira
Relator do Acordão: Des.(a) Washington Ferreira
Data do Julgamento: 26/01/0021
Data da Publicação: 29/01/2021
ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em REFORMAR A SENTENÇA EM REMESSA NECESSÁRIA, PROCEDIDA
DE OFÍCIO, E DAR PROVIMENTO AO RECURSO VOLUNTÁRIO.
VOTO
Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de f. 62/64v, proferida pela MMª. Juíza de
Direito da Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Araguari, que, nos autos do mandado de segurança
impetrado por G.G.F., inicialmente assistida por seu genitora, contra ato da DIRETORA DO CENTRO ESTADUAL DE
EDUCAÇÃO CONTINUADA DE ARAGUARI - CESEC, concedeu a segurança, ratificando a medida liminar
anteriormente concedida, para "possibilitar a impetrante o direito de, concomitantemente com a graduação
universitária, caso já não tenha feito, concluir o ensino médio de forma regular ou em caráter supletivo, apresentando
o certificado de conclusão do ensino médio perante a Universidade Federal de Uberlândia, no prazo máximo de 1 ano
a contar do trânsito em julgado da presente decisão". Sem condenação de custas e honorários advocatícios
sucumbenciais. Não procedida a remessa necessária.
Em suas razões recursais, o Estado de Minas Gerais sustenta a legalidade do ato impugnado, nos moldes
do artigo 38, § 1º, II, da Lei nº 9.394/96, destacando, para tanto, que a Apelada não preencheu os requisitos para a
prestação dos exames supletivos. Ressalta que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece os
meios pelos quais os educandos terão acesso aos níveis mais elevados de ensino, devendo ser respeitados os
requisitos estabelecidos. Insurge-se contra o reconhecimento da "inexistência de lei que garanta os meios de acesso
do estudantes ao meios mais elevados". Ao final, pugna pelo provimento do recurso para que seja reformada a
sentença e denegada a ordem (f. 68/70v).
Sem preparo, ante a isenção legal prévia (artigo 10, I. da Lei estadual nº 14.939/03).
Contrarrazões às f. 76/84, pela negativa de provimento ao recurso.
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Constituição Federal de 1988, org. Paulo Bonavides, Jorge Miranda e Walber de Moura Agra. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2009, p. 2224.) 3. Não há violação de qualquer direito líquido e certo, já que a certificação prevista no art.
38, caput, da Lei n. 9.394/96 é voltada aos alunos do supletivo, ou seja, "àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria", o que não o caso do impetrante. 4.
Inexiste violação do art. 3º, IV, da Constituição Federal na referida negativa administrativa, porquanto os requisitos
fixados pela Lei e pela regulamentação estão em conformidade com as disposições específicas da educação,
previstas no texto da Carta Política. Recurso ordinário improvido.
Portanto, após nova interpretação do disposto no artigo 38, §1º, II, da Lei n. 9.394, de 1996, que dispõe
sobre as diretrizes e bases da educação nacional, pude concluir que o menor de 18 (dezoito) anos não está impedido
de se matricular em curso supletivo, pois o referido dispositivo legal estabelece, na verdade, limite de idade apenas
para a realização dos exames de conclusão do ensino médio.
Assinala-se, também, que o Estado, ao lado da família e com o auxílio da sociedade, detém o dever legal de
incentivar o pleno desenvolvimento da pessoa, qualificando-a para o mercado de trabalho, notadamente porque a
educação é um direito reconhecido constitucionalmente. É o que depreendo do artigo 205 da Constituição da
República e do artigo 2º da Lei nº 9.394, de 1996:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Desse modo, apreciando a questão sobre outro foco, não seria razoável abreviar em idade o acesso à
Universidade, que é o principal objetivo para a conclusão dos exames finais.
Embora o educando alcance conhecimento necessário ao ser aprovado em ensino superior, muitas vezes
não detém maturidade precisa para as escolhas profissionais.
Após refletir sobre o tema, passei a entender como salutar a conclusão normal do ensino médio, em
detrimento da busca da sua antecipação, mesmo que para a realização dos exames, valorando, especialmente, o
disposto nos incisos I e VII, da Constituição da República relativamente à "igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola" e "garantia de padrão de qualidade".
Malgrado meus anteriores julgados em sentido contrário, não se mostra razoável encurtar o grau de
exigência dos vestibulandos aos cursos superiores, por meio de exames supletivos, em substituição aos cursos
regulares, quando o aluno sequer possui idade avaliada para ingressar na Faculdade-Universidade.
Volvendo aos autos, verifica-se que, a despeito da aprovação da impetrante no processo seletivo vestibular
realizado pela Universidade Federal de Uberlândia para o curso de Ciências Econômicas, não havia a impetrante
concluído o ensino médio ou alcançado a idade mínima para a realização do exame supletivo à época da impetração,
circunstância que obsta o acolhimento da pretensão mandamental.
E nem se fale na manutenção da sentença em função de já se encontrar a impetrante matriculada e
cursando a Faculdade, uma vez que a medida liminar que possibilitou a matrícula em curso supletivo ou inscrição em
banca de avaliação, somente foi deferida em julho de 2019, de modo que somente concluiu a estudante o primeiro
ano do curso superior. Nessa esteira, embora admita, excepcionalmente, a aplicação da teoria do fato consumado,
não houve, na espécie, a consolidação de fato jurídico pelo decurso do tempo. Não vislumbro, portanto, prejuízo
desrazoável à estudante em decorrência da reversão de medida concedida na origem, vez que ainda se encontre a
estudante no principio de sua formação acadêmica.
Nesse sentido:
EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA/APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA - EXAME SUPLETIVO DE
CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO - MENOR DE DEZOITO ANOS - MATRÍCULA NEGADA - INCIDENTE DE
ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE N° 1.0702.08.493395-2/002 - LEGALIDADE DO ATO IMPETRADO -
LIMINAR DEFERIDA - TEORIA DO FATO CONSUMADO - INAPLICABILIDADE NO CASO CONCRETO -
SEGURANÇA DENEGADA.
- O Órgão Especial do TJMG decidiu, no Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade n. 1.0702.08.493395-2/002,
pela legalidade da exigência da idade mínima de 18 anos para autorizar a matrícula em cursos supletivos e a
submissão às provas para obtenção do certificado de conclusão do ensino médio, prevista no art. 38, §1°, II, da Lei
9.394/96.
- Todavia, nas hipóteses em que o estudante consegue aprovação no exame supletivo para inscrever-se no curso
universitário por força de decisão liminar, a situação jurídica, antes precária, acaba por se consolidar com decurso do
tempo, sendo necessária a verificação caso a caso, se sua modificação implica desarrazoado prejuízo para a parte,
aplicando-se a teoria do fato consumado.
- A subversão da ordem, com a autorização para a continuidade de realização do ensino superior ao estudante que
não foi submetido à formação acadêmica plena, com fundamento no fato consumado, só é viável caso efetivamente
constatado que o retorno à situação regular trará ao aluno um prejuízo irreparável e superior àquele presumidamente
concretizado pela inobservância das etapas de seu desenvolvimento
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
educacional, o que não é o caso dos autos. (TJMG - Ap Cível/Rem Necessária 1.0479.19.005836-8/001, Relator(a):
Des.(a) Maurício Soares , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/12/2019, publicação da súmula em 22/01/2020)
Nesse contexto, tendo em vista que a recorrente não concluiu o ensino médio e somente completou os 18
(dezoito) anos em junho do corrente ano, não se revela possível a submissão ao exame supletivo, assim como a
matrícula no ensino superior antes da conclusão regular do ensino médio.
CONCLUSÃO
Ante o exposto, REFORMO A SENTENÇA, NA REMESSA NECESSÁRIA PROCEDIDA DE OFÍCIO, E DOU
PROVIMENTO AO RECURSO VOLUNTÁRIO para denegar a segurança pleiteada.
É como voto.