Superação do pensamento religioso; dos dogmas para a verdade que se
constrói pelo uso da razão
o homem moderno, classificado como empreendedor, centrado na razão e no
discurso da ciência, promove um autocentramento no eu e na consciência e teria, assim, essa condição modificada para um tipo de servidão agora denominada de voluntária.
Estado moderno: Organização dos feudos para organização em Estados-
Nação. poder absoluto, que revelou ao mundo uma nova ordem: a dominação sobre os homens deslocando-se do céu estrelado para o mundo sublunar. A quebra do monopólio da Igreja Católica implicou a emergência de uma gama de saberes que forçaram o homem a realizar sua filiação simbólica: a tradição, marca do mundo medieval, proporcionava, de certa forma, uma possibilidade de localização do sujeito, pois explicitava o que era esperado de cada um, de acordo com seu lugar de nascimento. A religião, dominante, oferecia sentidos e respostas para a vida e também para a morte e ainda orientava no que diz respeito às escolhas morais. A modernidade destituiu Deus de algumas de suas funções.
Reforma protestante: democratização do saber. Lutero: direcionava-se a um
retorno ao Cristianismo primitivo, não contaminado, e com alianças com o poder profano. A consequência disso foi uma pluralização da verdade da fé.
Fim do escambo: Trocas mediadas pelas moedas; estabelecimento da
mercadoria com um valor diferente de seu uso através das relações capitalistas.
Navegações: provocou certa relativização das convicções morais e sociais
europeias, devido à circulação das notícias da existência de outros povos que se organizavam socialmente de forma diferenciada.
Individualismo: ênfase no indivíduo. [Homem vitruviano]
alçado à condição fundamental de medida de todas as coisas
Dadas a conjunturas sociais, políticas e uma economia capitalista que começa
a se desenvolver, é necessário que os homens sejam legalmente livres e possam responder juridicamente pelos seus atos. Isso tem implicações para a constituição de mão-de-obra, bem como para a incipiente construção de consumidores.
Kehl (2002, p. 13) acrescenta que as sociedades ditas modernas enfatizam
como pilares a liberdade, a autonomia individual e a valorização narcísica, que se constituem em novos modos de alienação e que orientam em direção ao gozo e ao consumo. (FLECHA, 2011, p.32) Autonomia dos sujeitos: autonomia que se exercita pelo uso da razão.
em uma sociedade na qual se valoriza a autonomia do indivíduo, o sujeito se
vê obrigado a recorrer e a referir-se a si próprio, imerso em uma busca narcísica de perfeição e completude, evitando, dessa forma, um confronto com sua condição de ser marcado pelo falta e pela castração, que impõem limites.
Autonomia que se
O corpo: ainda lugar de impulso, excesso e do desejo desmedido. Sanções
sociais são aplicadas; uma microfísica do poder se instala sobre os corpos, a partir do exercício dos saberes disciplinares e das extensões dos braços das instituições disciplinares (discursos da saúde – psicologia; da educação; do direito); sem Deus para punir, o que passa a vigorar é uma renúncia de si pelas vias da constituição de um imperativo moral da autonomia e responsabilidade pelos seus atos. Tal imperativo viabilisa a renúncia de si por meio de uma relação com a norma que o joga para o campo da vergonha, da imperfeição, da falta. O descontrole é a falta de uso da faculdade da razão, arrastando os sujeitos para o campo da loucura. Não mais o homem como imagem e semelhança de Deus, mas como princípio racional, como ser que se diferencia dos animais pela sua capacidade de uso da razão. Os apetites do corpo continuam sendo lugar de expiação e expurgo da desordem, do caos, do impuro, que mancha a racionalidade do homem.
Desenvolvimento tecnológico
Na modernidade, a tecnologia expressa três imperativos inevitáveis.
Primeiro, a tecnologia significa arregimentação numa escala jamais vista, o que contrasta totalmente com a maioria dos ofícios pré- modernos ou mesmo com as antigas atividades manufatureiras. O trabalho e os trabalhadores devem ser arregimentados, disciplinados e as tarefas transformadas em funções e integradas. A máquina tornou-se a palavra-chave para a tecnologia moderna. A configuração das fronteiras foi aqui central, estendendo-se à ciência, às disciplinas científicas e à comunicação entre elas, na mesma medida que à produção tecnológica. Segundo, a tecnologia estava ligada à ideologia comteana do progresso científico e humano. Esse conceito de progresso inevitável tinha sido inicialmente enunciado, no final do século xviii, por Condorcet com referência ao conceito de progresso humano; assim, a filosofia de Condorcet e de Comte fundiram-se para tornar-se uma peça central da modernidade. Para Weber, esse amálgama de progresso técnico inevitável, o qual se estende para sempre e é fomentado pela força implacável da burocracia, aprisiona o homem em sua "gaiola de ferro".
Desencanto. O desencantamento do indivíduo deriva da falta de
perspectiva, do fracasso ou da desesperança na felicidade devido a certos progressos agressivos da máquina tecnológica. Porque a espécie humana nunca pode esgueirar-se no passado, nem perscrutar seu destino futuro, não há lugar seja para o desencantamento, seja para a esperança perplexa. Terceiro, a tecnologia reduziu a margem de liberdade do indivíduo. Embora a modernidade represente um avanço nos direitos e deveres individuais, os espaços da liberdade e da liberação estão limitados, na modernidade, pelos imperativos da universalidade homogeneizadora, pela racionalidade inconstante e pela integração e funcionalidade tecnologicamente impostas. A obediência e o alinhamento constituem o âmago da hierarquia, a qual, por sua vez, constitui o fundamento da burocracia tecnológica e civil.