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P.

E JEAN VIOLLET

RELAÇÕES
ENTRE RAPAZES
E RAPARIGAS

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19 48

LIVRARIA TAVARES MARTINS-PORTO

I N T R O D U Ç Ã O

N ÃO é aos dezoito anos que surge o problema das relações entre mpazes
e raparigas.
Nessa idade, o problema está resolm'do, bem ou mal, conforme a educação
recebida.
Os educadores nunca devem esquecer que são eles próprios os
responsáveis, na maior parte das vezes, pelas lev'ianilades e erros da juventUde.
Por falso '{YUd;!Yr .ou farisaísmo inconsciente, algu mas vezes, mas quase
sempre por leviandade e incomP't'6ensiio, deixaram passar os anos decisivos da
puberdade sem intervir, para esclarecer e 1orienfJar.

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O resultado é que as tendências instintivas e obscuras da natureza se
desenvolveram em detrimento das luzes que teriam sustado o adolescente no
declive dos e1·ros sexuais ou sentimentais.
O modesto trabalho que apresentamoH ao púlJlico interessa tanto aos
jovens wrolescentes como (f(}. }!ais. Não tem apenas em vista delimitar com
Jll't·d.lio aquilo que é permitido ou proíbido na.'l ·rdn.QtÍt'H t'IIÜt! rapazes e

rapa 'fi:gas, mas também mostra·r oH Jlt'riflo.ol e clmrnar «atençwo!» qumru!


Jo for necesHâ:rio. O anfor desejaria especialmente ajudar os adolflsct•ntt'H (t
('01npreenderem-se melhm·, para melhor Htl pro/.t'flt'l't'lll.
Talvez alguma criatura hipócrita nos tomlt•nt• a precisão, dada a crueza de
alguma.'l das 1WHHcts alt'f/tl
ções; mas não recwamos perante taiH t'Ht!I'Úpulo.'l. Preferimos, imitando S.
Francisco flr Salt•H 'I lO H ctJ }JÍtulos da «Vida Devota», consagrados ao tr(tfo
rondugal, falar claramente de assunto.'! qutJ rm Hi m.rHmo.'l nada têm de

malsão e evifxlr prooNl(!r t'lfml.tJ aqul·lr.s que negam à luz e não querem ve1·
com simplicidade

e inocênC'ba a grandeza das obms de Deus.


Sabemos de antemão que os jovens nos hão de jica1· gratos por lhes
falm·mos com franqueza e precisão. Quantas vezes nos têm confessado que, se
caíram, foi porque nunca ninguém lhes falou cwramente dos perigos que os
ameaçavam.
Este falso pudor tem feito muito mal à juventude para que não julg_uemos
necessário reagir.

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Contudo, chamando às coisas pelo seu nome, esforçamo-nos em lhas
apresentar com delicadeza e sob o seu aspecto mai. s moral.
Apenas nos move um desejo: ajudar a juventude a bem preparar o
c01·ação para a alta vocação familia'r que a espera.
I

RAPAZES E RAPMIGAS

NA VIDA FAMILIM

N Ão está no plano de Deus separar os dois sexos.

A sua primeira obra, a família, constituiu-se pela união dos sexos.


Para cumprir as obras de Deus e levar a efeito o grande mandamento:
«Crescei e multiplicai-vos:., o homem e a mulher dão-se mutuamente, corações
e corpos. Da sua união mútua, nas·cem indiferentemente rapazes ou

raparigas
No decorrer dos anos de formação, tanto na infân cia como na
adolescência, vivem lado a lado, confundindo-se nas brincadeiras, sentimentos e
reflexões.
Os mais velhos interessam-se pelos irmãos e irmãs mais novos.
Nunca mãe de família numerosa se lembraria de recusar os serviços que a
filha mais velha lhe poderia

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VIOLLET
P: JEAN

prestar junto dos seus irmãozitos pela simples razão de estes não serem do
mesmo sexo.
Esta colaboração, desejada pela natureza. na vida familiar, previne e
desvia as tentações e as curiosidades malsãs que fatalmente se apresentam ll11
crlonças que vivem sõzinhas, fora do melo natural constltuido por irmãos e
irmãs, misturando os seus cnrnctere c obrigando cada um dos sexos a adaptar-se
oo outro.

Ninguém pensa em separar os L'llpnzn dn11 rnparlgas duma família sob


o pretexto de que atlnRirnm o perigoso período da puberdade.
A vida em comum, longe de ser motivo de desordem, é elemento
importante de formaçlo mornl e sentimental. O contacto cotidiano de lrmAos
com Irmãs cria uma atmosfera de mútua compreensão, um11 fusão das
tendências mascul.inas e femininas que reduzem as ten
tações mais ou menos mórbidas da puberdnde r Impedem rapazes e raparigas
de satisfazerem, forn tht ft1mllia, as tendências que os levam a procurar
relações sociais com o outro sexo.
Não acontece o mesmo com os filhos únicos. ArrisRELAÇÕES ENTRE
RAPAZES E RAPARIGAS 13

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cam-se a tentações particularmente graves, devido ao isolamento em que
vivem.
Se passaram muito tempo debaixo das saias maternas, atingem a
puberdade com aspecto efeminado, perturbando-se logo que se encontram em
presença do sexo contrário.
Ou, então, não tendo sentido no meio familiar a influência normal do
outro sexo, deixam-se levar por curiosidades doentias que podem perturbar-lhes
a imaginação ou a sensibilidade no dia em que a idade neles despertar atractivos
até então desconhecidos.
A separação dos sexos excita frequentemente a imaginação sentimental.
Origina sonhos e inquietações que
podem falsear para sempre a orientação dos sentimentos, provocar mesmo
desvios graves sob o ponto de vista sexual.
Estas tentações ficam reduzidas ao mínimo no seio duma família
numerosa, pela simples razão de que a educação em comum facilita a evolução
normal dos sentimentos.
Se está averiguado que, chegados à idade da puberdade. os rapazes
procuram o convívio das raparigas, e reciprocamente, não há melhor solução
que a de reunir num meio naturalmente são e moral. como o da família, a
feminilidade das irmãs com a masculinidade dos irmãos.
P." JEAN

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14 VIOLLET
Deus criou a humanidade, homem e mulher. Deu a cada um dos sexos
qualidades e tendências que se completam tão perfeitamente, que o homem,
mesmo destinado ao celibato, não possuiria o seu completo equilí
brio sentimental se não tivesse sofrido algumn Influência feminina, mesmo que

apenas fosse a da mãe. A mulher que apenas tivesse vivido em meios


femininos, sem nunca ter sido influenciada por qualidades próprias do homem,
seria mais ou menos presa de uma scntlmcntalidade sem nexo.
Existe pois um problema, independente do problema sexual
propriamente dito, o da mútua compenetração do masculino e do feminino, da
masculinidade e da feminilidade, tendo em consideração que as qualidades
sentimentais, morais e intelectuais dos dois sexos se destinam a influenciar-se e
completar-se reciprocamente.
Ora esta compenetração necessária faz-se naturalmente, durante os anos
de formação, no melo familiar.
Realiza-se primeiro pela influência convergente do pai e da mãe.
É notável que Deus tenha confiado a educação da criança a duas pessoas
de sexo diferente. Não é a prova RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E
RAPARIGAS 15

de que, no pensamento de Deus, a influência dos dois sexos é igualmente


necessária e que, para encontrar o seu perfeito equilíbrio, a alma da criança
deverá ser penetrada pelo duplo temperamento, masculino e feminino, do pai e
da mãe?
A criança educada apenas por homens, falta ordi nàriamente certa
delicadeza de sentimentos própria da mulher e que não se desenvolve senão
pela influência

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da mãe.
Reciprocamente, aquela que, nos· seus anos de desen volvimento, apenas
tenha vivido num ambiente feminino, será frequentemente uma sentimental
emtiva, incapaz de lutar contra as dificuldades da existência.

Esta dupla influência, masculina e feminina, que se exerce sobre a


criança desde os primeiros anos da educa ção, deve normalmente continuar
pelos anos fora.
Mas o pai e a mãe pertencem a uma geração e os filhos a outra. Os pais
são, aos olhos dos filhos, grandes personagens que ordenam e dirigem e cuja
maneira de ver e de julgar é totalmente diferente da sua.
Para que a acção da influência recíproca dos dois

P." JEAN

sexos se exerça normalmente, convém pois que rapazes e raparigas se


encontrem no mesmo plano, no mesmo ambiente e, quando crianças, sob o
mesmo domínio, o
.da família.
Por estarem constantemente juntos, irmãos e irmãs aprendem a
conhecer-se como rapazes e raparigas; sofrem, inconscientemente, sem
intervenção de qualquer ideia

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malsã, a influência do sexo oposto: as raparigas são obrigadas a contar com o
temperamento mais ou menos brutal dos rapazes, e os rapazes a contar com a
sentlmentalidade mais ou men<?s enervante das raparigas.
Na família, masculinidade e feminilidade compenetram-se sem esforço.
Rapazes e raparigas, mesmo arreliando-se mutuamente, sentem-se felizes por
estarem juntos e não é raro que entre irmãos e Irmãs haja confidências que
confortam os corações e evitam erros de -conduta. As influências benéficas não
se poderiam exercer se não fora a diferença dos sexos: o irmão confiou-se à
irmã porque era mulher, e reciprocamente.

Esta compenetração da masculinidade e da feminilidade que começa


normalmente entre Irmãos e irmãs, no
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 17

meio familiar, continua e aumenta quando estes recebem


os amigos.
Assim como a irmã é respeitada, também o são as amigas
dela. O irmão nunca consentirá que um camarada, introduzido na
intimidade familiar, se permita uma atitude equívoca para com a
irmã dele.

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É a continuação da influência recíproca dos sexos, baseada
no respeito mútuo.
Conversas e distracções comuns ajudarão rapazes e raparigas
a compreenderemse e apreciaremse, sem que
a moral sofra com isso.
Não estando cada um dos sexos privado da pre sença do
outro, a rapariga atravessará incólume o pe ríodo perigoso da
adolescência, porque nunca lhe faltou
o seu complemento natural. a masculinidade. E, recipro-camente, o
rapaz não será tentado a procurar para o trato social raparigas
desconhecidas, pois estará em contacto com raparigas que sabem
fazerse respeitar. Receberá a feliz influência feminina naquilo que
tem de mais puro e delicado.

Se a mistura dos sexos começa na família, prossegue na vida


sob os mais variados aspectos.

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P." JEAN VIOLLET

Mistura nas relações e nas salas; a propósito de distracções sãs ou


perigosas, no terreno profissional, no escritório ou na oficina; e, cada vez mais,
nos bancos da escola e da universidade.
Não é pois separando sistemàticamente os sexos (o que, de resto, é
perfeitamente impossível. e até mesmo antinatural) que os ensinaremos a
respeitarem-se um ao outro.
Qualquer separação sistemática não pode deixar de ser provisória e
momentânea e, por consequência, arti ficial.
Quer os rapazes sejam agrupados à parte nos tra balhos e nas distracções
propriamente masculinas, quer
as raparigas estejam reunidas entre si em colégios particulares ou em reuniões
piedosas, uns e outros em breve se encontrarã.o frente a frente na vida
cotidiana.
Se, no ntanto, as obras de formação em separado são úteis e necessárias
para dar a cada um dos sexos a orientação que lhes convém, não deve daí
concluir-se que o problema das relações entre rapazes e raparigas esteja
resolvido pelo facto de uns e outros frequentarem meios especificamente
masculinos ou femininos.
O problema continua posto. E só será resolvido no dia em que rapazes e
raparigas tenham aprendido a respeitar-se mutuamente nas múltiplas ocasiões
em que virão a encontrarse.
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 19

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Os directores de instituições e patronatos bem o sabem. Não se iludem a
esse respeito e não acreditam que a separação dos sexos baste para preservar os
adolescentes dos encontros tanto mais perigosos por se lhes apresentarem sob o
atractivo do froto proibido.
O problema não se resolve pois pela simples separação dos sexos em
determinadas circunstâncias. Esta separação é por vezes necessária, mas deixa
subsistir a
questão de saber como ensinaremos os rapazes e as raparigas a conviverem
respeitando-se e sem que de tal resulte perigo para a sua moralidade.
Este difícil problema não se resolve suprimindo-o, mas sim encarando-o
de frente, como vamos tentar fazer nas páginas que se seguem.
11

OUTROS TEMPOS. OUTROS COSTUMES

S ERIA muito interessante comparar, sob o ponto de

vista das relações entre os sexos, os costumes dos

diferentes povos, segundo as latitudes e os países.


Verificar-se-ia que aquilo que é perigoso e por consequência condenável
deste lado do Atlântico, deixa de o ser do outro.

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É que, na verdade, a educação, os costumes e os temperamentos
desempenham importantíssimo papel no problema das relações entre rapazes e
raparigas.
Ouvi dizer que, em determinada grande ilha do Extremo-Oriente os
rapazes e as raparigas devem evitar qualquer contacto e, se precisam de
conversar, o fazem conservando-se a respeitosa distância um do outro.
No dizer de missionários desse país do Extremo-Oriente, é absolutamente
excepcional que rapazes e raparigas não se conservem puros até ao casamento.

P." JEAN VIOLLET

Escusada será dizer que, para os habitantes desse país privilegiado, os costumes
do Ocidente ou da América eram considerados escandalosos.

É lícito perguntar, de resto, o que acontecerá à juventude desses países,


no dia em que, pelo desenrolar das relações internacionais, caírem as barreiras
que actualmente os protegem. Não será de recear que se deixe muito mais
fàcilmente arrastar pelas fraquezas da natureza, visto nunca ter tido ocasião de
lutar contra essas mesmas fraquezas?
Não se deve confundir barreira social e formação de carácter. Quando
este não foi formado na luta, pode terse a certeza de que, no dia em que os
obstáculos caiam, nada poderá conter os instintos desenfreados.
Conhecemos em Fr ança o costume de, a pretexto de as proteger contra
as seduções do sexo masculino, não deixar nunca sair sõzinhas as raparigas
burguesas. Deviam

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ser sempre acompanhadas por uma criada ou pela mãe, ou pelo menos por um
parente próximo, que servia de protector. As que pretendessem escapar a este
hábito provocavam escândalo.
Foi necessária a guerra e a penetração em França dos costumes
anglosaxões para que as raparigas pudes sem sair sem ser acompanhadas.
Deve daqui tirarse a conclusão de que os novos costumes -sejam mais
perigosos que os antigos?

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RAPARIGAS
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E 23

As raparigas doutrora sonhavam com o amor enquanto bordavam e


bastava um olhar um pouco mais
,.. demorado para as perturbar. Estavam por isso à mercê
dos seus devaneios sentimentais e casavam-se sem suspeitar sequer em que
consistiam os deveres da sua vocação conjugal.
Cometia-se para elas uma espécie de crime, embora inconsciente,
dizendo-se-lhes apenas, na véspera do casamento, a pretexto de lhes tirar os
escrúpulos: «Serás uma mulher submissa, fazendo tudo o que teu marido te
disser».
Quando pensamos que, nessa mesma época, esses mesmos pais que
defendiam cuidadosamente as filhas de todo o contacto com o sexo masculino,
davam plena liberdade aos filhos, achando natural que eles multipli
cassem, antes de casarem, as aventuras galantes, das mais requintadas às mais
grosseiras, não nos espanta que os costumes masculinos fossem, nessa época,
particularmente deploráveis.
Desde que se instiga os rapazes a perseguir as mulheres, parecendo
votar-lhes uma admiração tanto maior quanto mais irresistível é a sua sedução,
não haverá outro processo de preservar as raparigas das suas tentativas
amorosas senão suprimindo-lhes toda a liberdade.
Estranha forma de preparar uns e outros para o respeito mútuo e para a
sua futura vocação familiar!

JEAN VIOLLET

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P."
Em poucos anos -ós costumes modificaramse de alto a baixo.
Rapazes e raparigas disfrutam pràticamente das mes mas liberdades.
Que grande número abusa, é evidente. Verificá lemos bastantes vezes no
decorrer deste trabalho.
Deverá daí concluirse que a única maneira de reagir contra os abusos
seja o regresso aos antigos métodos?
Esses métodos caducaram e os pais que resolvessem pô-los em prática
encontrariam resistências que depressa se transformariam em revolta.
Convém pois procurar antes a maneira de se fazer a adaptação aos
costumes novos, para que sirvam à for mação e não para a deformação dos
caracteres.
No fundo, a questão está em sabermos como pr ceder, junto dos
adolescentes, para a educação da liber dade. Não estando destinados a ficarem
crianças subme tidas à tutela dos educadores, é necessário preparálos para as
suas responsabilidades futuras.
Os novos costumes obrigamnos a considerar com mais atenção que
nunca o grave problema da educação do carácter. Isto não é um mal. antes pelo
contrário.
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E 25

Não se resolve o problema opondo uma à outra as duas gerações,


justificando «a priori» os métodos da antiga e condenando' os factos e gestos da
nova.
Esta atitude é perigosa e prepara as piores incom preensões. A rapariga
que diz ser a mãe «bota de elás tico» e não compreender nada das aspirações da
nova geração e a mãe que suspira desesperadamente levan tando os braços ao

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RAPARIGAS
céu, porque a filha goza duma liber dade que ela desconheceu no seu tempo.
estão uma perante a outra em situação bastante equívoca.
Para que as gerações encontrem o equilíbrio, é necessário que novos e
velhos se não considerem como pertencendo a dois mundos diferentes e
incompatíveis.
A formação do carácter exige que os adolescentes tenham a sensação de
serem compreendidos pelos mais velhos. Mas como o serão se estes se recusam
a explicar lhes a vida, a transmitirlhes a sua experiência, a ajudá-los a penetrar
no conhecimento do seu próprio sexo e a esclarecêlos sobre as tentações que
acompanham a eclo são da puberdade?
Pouco importa que um adolescente goze duma liberdade relativamente
grande, se a sua inteligência estiver impregnada de princípios morais que lhe
sirvam, ao
mesmo tempo, de luz e salvaguarda.
Pouco importa que rapazes convivam com raparigas da mesma idade
nas diversas circunstâncias da vida coti
26 JEAN VIOLLET

diana, se estiverem decididos a respeitá-l- as e se tiverem compreendido duma


vez para sempre que não há o direito
de pronunciar uma palavra de amor e ter liberdades sen· timentais com uma
rapariga, senão no dia em que esti· verem decididos a falarem-lhe de
casamento.
Pouco importa que as raparigas tenham com os rapazes relações mais
livres que dantes, se estiverem prevenidas e souberem defender-se dos perigos
duma sensibilidade desorientada e se compreenderem que devem resguardar o
coração de qualquer atracção contrária ao ideal do casamento.

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P."
Estas disposições íntimas exigem formação, a qual só pode ser dada se a
geração dos educadores considerar seu dever não tratar os adolescentes como
crianças, a quem se escondem sistemàticamente as realidades da vida, lançando-
os por ignorância nos piores perigos, sob o pretexto de lhes conservar a candura
e a inocência.
É um facto, bastas vezes verificado que as raparigas educadas em
conventos, até aos dezoito ou vinte anos, ficam geralmente sem defesa perante
as tentações da vida. Esta observação é particularmente verdadeira para as órfãs,
que não encontram na vida que as espera, a do trabalho em oficinas ou casas
burguesas, nenhum afecto familiar, nenhum apoio moral e espiritual.
Qualquer que seja a dedicação das freiras, esforçando-se por junto delas
substituir a mãe ausente, con-
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E 27

servandolhes o fervor religioso que lhes embalou a adolescência, nem por isso
estão menos sujeitas a passar bruscamente dum ambiente aconchegado para um
meio
agreste. Vão deixar a atmosfera dum convento, ondl! tudo é regulado e previsto
sem que, por assim dizer, a vontade tenha de intervir, para bruscamente se
encon trarem frente a frente com a vida real, isto é, com os mil acontecimentos
imprevistos para os quais é preciso um carácter habituado à luta, uma
inteligência esclarecida sobre os perigos da vida e uma vontade moldada para
as resistências necessárias.
Se a vitória contra o mal supõe uma graça do Senhor, esta não pode
substituir a formação do carácter, senão
a graça não seria um socorro, mas um milagre permanente de Deus, actuando
sem o concurso da vontade.

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RAPARIGAS
Preparar as vitórias futuras é pois habituar a pessoa a vencer as
dificuldades e as tentações de hoje. Mas como vencêlas, se o ambiente é tal que
as tentações são pràticamente inexistentes ou dum sistema absolu tamente
diferente daquele em que mais tarde se apre sentarão?

Eis uma órfã piedosa e de boa vontade. Segue com fervor as práticas de
piedade e nelas recolhe um amor por Jesus, de que é incapaz de verificar o valor
espiritual. Ama ela Jesus porque Ele ocupa na sua imaginação, sem que disso
tenha consciência, o lugar do amigo ausente

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P."

JEAN VIOLLET

por que aspira o seu coração, ou amaO porque Ele a ajuda a vencer as paixões
nascentes? Ela não o sabe e nem sequer é capaz de analisar o valor dos seus
sen timentos, que não sofrem a influência • de qualquer ten tação.
Por pouco que sinta uma amizade demasiado sen sível por uma amiga, é
de temer que ninguém a advirta de que esta amizade é um perigoso sintoma
que é preciso vigiar.
Certamente lhe dirão que o mundo está cheio de ciladas e que o
demónio espreita as almas inocentes, para as fazer cair no pecado.
Mas em que consistem precisamente estas ciladas e em que se
diferençam as malícias do demónio dum senti mento legítimo? Desconheceo
em absoluto.
Se é dotaa de boa vontade, vai encontrarse repenti namente no mundo
como um passarinho assustado. Con centrarseá devotamente em si mesma.
Está votada a um celibato sem grande valor moral. porque não foi voluntário e
a impede de aceitar corajosamente os perigos da vida. O seu ideal será
encontrar um emprego tranquilo, em casa duma senhora piedosa e velha, onde
possa continuar as práticas de devoção do convento.

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Se se deixar arrastar mais ou menos pelas seduções do mundo e pelos


prazeres fáceis que aí se encontram: se qualquer aventureiro do amor,
aproveitandolhe a

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RAPARIGAS
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E 29

ignorância, lhe faz a corte, muito longe de reconhecer nele o hediondo demônio
que semeou o terror na sua imaginação infantil, abandonar-se-á com tanto
maior facilidade às suas impressões quanto será incapaz de lhes reconhecer o
prejuízo e o perigo.
Um dia cairá nos braços dum amável desconhecido e será o princípio
das misérias morais ou mesmo da perdição.

É por isso que importa formar a alma dos adolescentes no meio onde
devem viver.

É só nesse meio normal que vão aparecer as tendências profundas do


temperamento. E como estas tendências se manifestam por ocasião dos
acontecimentos mais correntes da vida, será fácil apanhá-las no ponto de
partida e rectificá-las.
Ê surpreendendo no vivo a atitude dos adolescentes muito novos para
com o outro sexo, verificando que tal rapariga se enerva quando está na
presença de rapazes ou que tal rapaz se toma excessivamente familiar com as
raparigas, que se poderá explicar a um e a outro os perigos que os ameaçam e a
maneira como de futuro se deverão comportar se não quiserem resvalar em
fraquezas cuja natureza será preciso explicar-lhes.
Estas observações mostram que é impossível estabelecer regras gerais a
propósito das relações declaradas perigosas e daquelas que o não são.

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30 JEAN VIOLLET

Tudo depende das circunstâncias, da educação recebida e da formação


do carácter:
O que para um não tem perigo, torna-se grave risco para outro.
Conclui-se que aquele que tenha aprendido cedo a conhecer-se e a
conhecer o outro sexo, que tenha sido habituado à luta consigo próprio, estará
mais bem pre
parado para resistir às pérfidas insinuações do coração, da sensibilidade e da
carne.

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P."
111

JNCOMPREENSAO MúTUA DE PAIS E FILHOS


GERACAO DE ONTEM E GBRACAO DE AMANHA

Avida confunde as gerações umas com as outras.


A experiência dumas serve para a inexperiência das outras. Um constante
vaivem de aqueles que repre sentam o passado e dos que marcham para o
futuro estabelece o equilíbrio entre a geração de ontem e a de amanhã.
A guerra parece ter modificado, pelo menos apa rentemente, este facto
inegável. sobretudo entre a gera ção dos pais e a dos filhos. Filhos e pais
acusamse mutuamente de incompreensão, e os filhos, chegados à idade em que
teriam mais necessidade de conselhos, pre tendem conduzirse a si mesmos, à
maneira dos adultos.
Esta separação actual das gerações merece exame atento. Talvez este
exame nos permita estabelecer as responsabilidades e procurar os remédios.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES
VIOLLET

um facto que a maior parte dos educadores parece não dar pelo
desenvolvimento progressivo do corpo humano. Ao passo que, por maravilhosa
intuição, a mãe procura surpreender no rosto da criança as mais pequenas
impressões e, pelos gestos e jogo fisionómico se esforça por se colocar ao nível
dele e, por qualquer modo, ter a idade do filho, esquece muito depressa este
princípio essencial de toda a educação, .a saber que, para elevar uma criança ao
nosso nível, é preciso começar por descer ao dela.
Por outras palavras, para educar um homem, o educador deve abstrair da
sua própria evolução pessoal, para voltar a percorrer com o discípulo os
diferentes estados do conhecimento humano.
Se se recusa a este trabalho, que exige grande desinteresse e constante
esforço de adaptação, pertence a uma esfera diferente da esfera da criança, a
ponto de as duas pessoas- a criança e o educador- estarem justapostas sem se
compenetrarem.
Esta separação entre as duas gerações começa em geral muito cedo.
Desde qut; a criança está de posse das suas faculdades físicas, e começa a
dedicar-se a toda a -espécie de divertimentos que para ela representam a
expressão da sua vitalidade e a sua maneira natural de, cada dia, fazer novas

experiências, o adulto está como deslocado e, em vez de se imiscuir nas


ocupações infantis
E RAPARIGAS 33

para ajudar a criança a dar-lhes todo o valor e todo o interesse, divide


arbitràriamente a vida da criança em duas partes distintas: os jogos, dos quais se

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P." JEAN
desinteressa, e o ensino pelo qual se esforça por meter na cabeça da criança os
seus próprios conhecimentos.
Quem avaliará os malefícios da frase que tantas vezes se ouve na boca
das mães: «Vai brincar e deixa-me sossegada . . . !». Frase, aparentemente
inofensiva, mas alicerce da separação das duas gerações.
Com efeito, a criança verifica, desde os primeiros anos, que não pode
contar com os adultos para a ajudarem a brincar, isto é, a descobrir o valor de
todos os exercícios aos quais espontâneamente se entrega.
Pelo contrário, o adulto vai arrancá-la constantemente a essas
brincadeiras, que para ela constituem o grande atractivo da vida, para a obrigar a
submeter-se
a disciplinas fatigantes, sob pretexto de aprender a ler, escrever e contar.
Acontece pois que é apenas a propósito de exercícios que a aborrecem o mais
possível que a criança se encontra submetida à influência dos seus educadores.
Como é que estes não compreenderam que, para exercerem sobre o
coração e a actividade da criança uma influência real. é necessário que se tornem
indispensáveis cada vez que ela se entregue aos exercícios espontâneos da sua
natureza?
34 VIOi.LET

O que é verdadeiro, a respeito das brincadeiras da criança, éo mais ainda


no que respeita aos problemas que se apresentam ao seu espírito, à medida que
vai multi plicando os seus contactos com o mistério das coisas e da vida.
Se os pais, geralmente, se dignam responder aos «porquê» e «como» da
criança, quando as perguntas não são embaraçosas, conservam comprometido
silêncio ou contam uma história tôla, chegando mesmo a dizer à criança que o
assunto não lhes diz respeito, quando a pergunta é mais complicada.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES
Disto resulta que a criança depressa compreende que foi enganada ou
que os pais se recusam sistemàticamente a esclarecêla. Desde então a
separaÇão entre as duas gerações é completa.
A criança irá aclarar as suas dúvidas onde puder. geralmente junto de
camaradas que só parecem mais conhecedores por estarem já pervertidos.
Desde então os pais deixam de ter qualquer influência e a criança fica entregue,
sem defesa, aos acasos dos encontros e das conversas.
Aprendendo assim à sua custa que os pais se
recusam a explicarlhe a vida, a criança, chegada à adolescência, nada lhes
confiará das suas dificuldades ou das suas experiências sentimentais. Tornou-se
um adolescente que vive a sua vida independentemente dos pais.
E RAPARIGAS 35

Estes lamentarseão de que a criança nada lhes confia dos seus


sentimentos e que se tornou impenetrável, a ponto de tudo ignorarem de quanto
ela pensa. Mas
esquecem que são eles os primeiros culpados visto como se recusaram a
transmitir à inteligência e ao coração da criança os seus conhecimentos e
experiência, missão que lhes competia como adultos encarregados de formar a
nova geração.
Por um fenómeno psicológico inexplicável. a maior parte dos
educadores parecem ter esquecido por completo os estados de alma pelos quais
passarm durante a puberdade. E, no entanto, Deus sabe se têm direito de se
orgulharem das experiências de que frequentemente
foram vítimas!
Para obviar à separação das gerações. o primeiro remédio deve partir dos
próprios educadores. O jovem adolescente aceitará os conselhos dos educadores,
desde que sinta que estes o compreendem, e procuram darlhe aquelas luzes de

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P." JEAN
que necessita para se orientar bem na vida. Mas, para isso, é indispensável que
tenham sido capazes de lhe conquistar a confiança, nos primeiros anos da vida. e
hajam demonstrado capacidade para tal orientação.

VIOLLET

Quer isto dizer que pretendemos suprimir a responsabilidade dos


adolescentes no conflito que, na hora presente, separa as duas gerações?
Seria esquecer as pretensões e as presunções que nascem com a
puberdade. Com razão se classifica a puberdade de idade difícil. Ao passo que a

criança acha natural a existência de IJE:ssoas crescidas e de crianças e não


contesta àquelas o direito de mandar nestas, o adolescente pretende governar-se
só e considera qualquer acto de autoridade como um atentado directo à sua

personalidade e à sua independência.


Tem a pretensão de tudo saber e, inconscientemente, profere juízos
decisivos e categóricos sobre os mais complexos e difíceis problemas.
Daí a considerar que a geração de ontem nada tem a transmitir-lhe, vai
apenas um passo.

E a tentação a dar esse passo será aumentada pelo facto de viver numa
atmosfera perturbada, cheia de inquietação pelo futuro, sem saber como
chegará a atingir uma situação. Assim, naturalmente, acusa a geração que o
precedeu de todos os males de que é vítima inocente.
Parte da nova geração compreendeu que o remédio

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES
E RAPARIGAS 37

só podia ser encontrado na humildade. Procura o equilíbrio numa vida religiosa


mais intensa. Mas quantos fogem da verdadeira solução, afastando-se dos
benefícios da religião e declarando peremptõriamente que Deus já passou de
moda!
Esses nunca encontrarão o laço que os une às gerações que os
precederam.
Separam-se delas para fazerem novas experiências e sob o pretexto de
emancipação, tornar-se-ão por vezes adeptos da liberdade sexual e da união
livre. Só despertarão do erro, só retomarão contado com o passado,
especialmente sob o ponto de vista religioso, no dia em que tenham bebido até
às fezes a taça amarga e cheia de desapontamento dos prazeres que matam no
seu princípio a beleza da vida.
Mas, a maior parte das vezes, as tentações do amor
-próprio poderiam ter sido combatidas se os pais tivessem sabido conquistar,
desde os primeiros anos. a confiança da criança, ajudando-a a conhecer-se
melhor e a conhecer melhor as tentações da sua natureza e do seu sexo.

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IV

PREVENIR PARA GUIAR

mães que considéram os filhos como inocentes criaturas, que


nunca se interrogam nem são objecto de qualquer tentação a seu
respeito ou do outro sexo, são ingémms perigosas.
Mesmo supondo que, uma vez por outra, se encontrem adolescentes de
inocência infantil, não é caso para regozijo. No dia em que o acaso das
circunstâncias os
colocar, bruscamente, em face das realidades da vida, o choque recebido não
será senão mais brutal. e a tentação mais perigosa.
Sagaz é pois a orientação que vise a preparar as crianças para se
respeitarem a si mesmas e ao outro sexo,
mediante explicações progressivas que lhes servirão de defesa em face das
misteriosas influências do instinto sexual.
Esta iniciação necessária deve ser feita cedo, por

várias razões: a primeira é que a criança tem nos pais, em especial na mãe,
confiança sem limites e que convém manter esta confiança, particularmente a
respeito de casos delicados, se quisermos que, mais crescida, não se sinta
embaraçada para fazer as perguntas que a possam
preocupar e contar as suas primeiras emoções sentimentais.

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P." JEAN VIOLLET
Outra razão é a de que, não sendo ainda a criança objecto de nenhuma
imaginação sexual e não sentindo nenhuma sensação especial, é possível dar-
se-lhe expli
,
cações sem que ela experimente a mais pequena perturbação.

Nunca s deve esquecer, e isto é duma importância capital, que as


primeiras impressões são sempre as mais persistentes. Se, por exemplo, a
criança do sexo masculino se habituou a respeitar as raparigas desde a mais
tenra idade, continuará a respeitá-las durante toda a vida.
As primeiras explicações que uma mãe der ao filho, a respeito do
nascimento, se forem bem conduzidas, podem ter por resultado estabelecer na
alma da criança um profundo respeito pela mulher.
'Vejamos de que manira a mãe se poderá conduzir para obter este
resultado.
RAPAZES E RAPARIGAS 41

Depois de ter dado todas as explicações que permitam à criança


compreender a grandeza do mistério da maternidade e despertar nela uma
emoção profunda, tanto mais que ela não suspeitava a solidez dos laços que os
uniam, a mãe aproveitará esta ocasião excepcional para
fazer nascer no rapaz um respeito quase religioso pelo sexo feminino e, na
rapariga, um tal sentimento da sua dignidade de mulher que nunca mais
admitirá que lhe faltem ao respe\to.

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RELAÇÕES ENTRE
Aos sete ou oito anos o rapaz não tem respeito pelas raparigas;
considera-as como camaradas de brincaeiras. São familiaridades sem perigo
enquanto jovens, mas que fàcilmente se podem tornar tentação quando
apareçam os primeiros sintomas da puberdade. As brincadeiras da criança
mudar-se-ão em meiguices e intimidades, tanto mais perigosas quanto mais
habituadas estiverem as crianças a tratar-se como camaradas.
Mas se a mãe tiver sabido aproveitar as primeiras revelações para
explicar ao filho que todas as raparigas podem ser destinadas à vocação
maternal, que um dia serão o tabernáculo no qual Deus talvez deposite uma
pequenina semente da qual se desenvolverá uma criança. ser-lhe-á fácil
despertar no rapazinho um sentimento de respeito para com o sexo feminino, o
que terá por resultado habituá-lo a tratar as raparigas, mesmo nas brincadeiras,
com a maior delicadeza.

Este hábito de respeito, adquirido desde os anos de infância, persistirá


nos perigosos anos da puberdade e
impedirá os .à-vontade e as familiaridades que preparam e facilitam as
fraquezas da natureza.
As mães obterão idêntico resultado junto das raparigas, as quais,
maravilhadas com a revelação do papel que virão a desempenhar no grande
mistério da vida, compreenderão por que se devem a si mesmas, e devem aos
seus futuros filhos, respeitar-se e fazer-se respeitar, sem nunca consentirem aos
rapazes familiaridades que representariam uma antecipada injúria à sua
dignidade de futuras mães.

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P." JEAN VIOLLET
Contou-nos um pai que, depois de ter explicado à sua filhinha, de oito
anos de idade, que Deus colocava as crianças a nascer perto do coração da mãe
e que esta as alimentava com o seu próprio sangue, tinha aproveitado a ocasião
para enumerar os defeitos da filha, dizendo-lhe quanto temia que os filhos que
ela viesse a ter se lhe assemelhassem. Não era ela uma criança desobediente,
que não respeitava ninguém, gostando de arreliar e de ser arreliada, tiendo
enfim uma série de defeitos que certamente passariam para o sangue de seus
filhos se não se
corrigisse?
Profundamente comovida e aterrorizada, compreendendo pela primeira
vez a grandeza das suas futuras responsabilidades, a criança decidiu que os seus
filhos não

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
43

se pareciam com ela e que, por consequência, evia aplicar todas as suas forças
em se corrigir dos seus defeitos e das suas atitudes.
A partir deste momento, tornou-se de tal maneira diferente que irmãos e
camaradas sentiram nascer em seus corações um novo sentimento de respeito e
de admiração por aquela que lutava corajosamente contra si própria, por
antecipado amor aos filhos futuros.

Mas não bastam estas primeiras revelações. Torna-se necessário, um


pouco antes da eclosão da puberdade, completá-las por aovas explicações,
destinadas a reforçar o sentimento de mútuo respeito entre os sexos.
As primeiras tentações da puberdade, pelo menos na maior parte dos
rapazes, apresentam-se sob um aspecto mais físico que sentimental. Não
queremos dizer que as crianças muito bem educadas, que receberam uma forte
educação moral e cujos pais lhes dão o exemplo duma perfeita intimidade
moral. não sejam levadas a considerar a união dos sexos sob uma forma
especialmente moral e, de certo modo, desencarnada. Mas, se sonham com
intimidades puramente sentimentais, não deve concluir-se 44

por isso que, inconscientemente, não sintam o atractivo físico dos sexos.
Quer se queira ou não, o rapaz é tentado pelos encantos físicos da
mulher. As linhas do corpo feminino exercem sobre ele tamanha fascinação que

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fàcilmente se pode tornar em obsessão. Ao mesmo tempo que teme o contacto
do corpo feminino, deseja-o e procura-o.
É na idade da puberdade que circulam entre camaradas folhas e
fotografias sórdidas e eróticas que apenas servem para excitar os apetites físicos
do sexo que des·
ponta.
Se a rapariga não parece, à primeira vista, sofrer com a mesma violência

a atracção física do corpo masculino, não é de todo indiferente à sua força e à


sua galhardia. Fàcilmente se sente como que subjugada pela força masculina e
tentada a deixar-se proteger e dominar por ela.
Ao mesmo tempo, toma consciência dos seus atractivos femininos.
Inquieta-se, até à angústia, para saber se pode ou não considerar-se como uma
rapariga bonita. Examina-se demorada e cuidadosamente em todos os espelhos.
Arranja-se, enfeita-se, cuida dos trajas e penteados, modificando-os
constantemente para os tornar mais atraentes.
Nada compreenderíamos da atracção natural dos dois -sexos se
acreditássemos que as jovens adolescentes não

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS

45

têm o cuidado de agradar aos jovens e que apenas cultivam os seus encantos
femininos por mero amor platónico da beleza. Têm um prazer infinito em se
sentir admiradas e desejam, mais ou menos inconscientemente, as homenagens
dos homens.
Quer isto dizer que a atracção física reveste aspectos complementares na
rapariga e no rapaz adolescentes. Ele gosta de ver, ela de ser vista.
.
Daí resultam tentações tanto mais perigosas quanto mais livres são as
relações entre os dois sexos e mais frouxas as barreiras sociais, que retêm e
prendem os instintos.
É então que se torna necessário intervir para esclarecer a inteligência e
conseguir que os cegos impulsos do instinto sejam orientads pelas normas da
razão.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS

O ponto mais importante consiste em depositar no coração dos


adolescentes um alto ideal moral. norteado especialmente no sentido do amor,
do matrimónio, e da família.
Antes de mais nada, trata-se de lhes fazer compreender que o amor não
deve nunca ser separado da noção

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P."
JEAN VIOLLET

de casamento. Assim, um rapaz não deve fazer a corte a uma rapariga se não
estiver na idade de se casar ou se as circunstâncias não permitem esperar uma
união normal. A rapariga não deve nunca aceitar a corte dum rapaz que não
tenha a intenção de com ela fundar um lar.
É preciso que os jovens se convençam de que o amor é uma potência
moral e espiritual com que se não pode brincar.
Por consequência, cada um dos sexos deve manter certa reserva para com
o outro.
A adolescência é um longo período de formação, durante o qual cada um
se empenha em formar e con quistar a sua personalidade moral ao mesmo tempo
que, sem nunca se cansar, desenvolve as qualidades próprias do seu sexo.
Quando soar a hora do casamento, o amor será tanto mais rico quanto
mais desenvolvidp estiver a personali dade e mais numerosas forem as
qualidades morais.
Cabe agora a oportunidade de algumas considerações sobre a
hereditariedade: mostrar que a hereditariedade física não basta e que é preciso
juntarlhe uma boa here ditariedade moral e espiritual que só será eficaz se os
adolescentes tiverem conquistado valorosamente as quali dades e virtudes que
querem transmitir aos filhos.
É para os obrigar a formar e a moldar a sua perso nalidade moral que
Deus permite aos adolescentes en
47

centrarem certas tentações durante os anos que os separam da realização da sua


vocação.

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P." JEAN VIOLLET
Estas tentações são, primeiro, de ordem física. É para os ajudar a
dominálas que convém dar algumas explicações precisas relativamente à
sexualidade.
Porque Deus depositou, em partes iguais, no corpo da mulher e no corpo
do homem, os elementos que, pela sua conjugação, darão origem à criança, os
dois corpos têm tendência a juntar;-se. Daí, nos rapazes, a tentação de olhar os
corpos das mulheres, para delas se aproximarem e, nas raparigas, a de aceitarem
as investidas do homem.
É apenas no casamento que o homem e a mulher têm o direito de
mutuamente manifestarem toda a ternura de um pelo outro.
Há familiaridades que são rigorosamente proibidas fora do casamento.
Constituem o pecado de im pureza.
Essas familiaridades, que excitam a vida sexual. começam pelos olhos e
continuamse pelos beijos e pelas mãos. Por essa razão os adolescentes devem
atentamente evitar que os seus olhos percorram as intimidades do corpo
feminino e lutar contra as imagens que lhes apresentem essas mesmas
intimidades.
Rapazes e raparigas devem cuidar do seu porte, das suas relações mútuas,
dos seus olhares e dos seus pensa-

mentos, para conservarem a integridade do corpo e do coração.


É uma luta difícil. que exige permanente vigi lância de si mesmo e do
outro sexo e para a qual são necessárias uma alta preparação moral e o constante
apoio da graça divina, pela oação e pela prática dos sacramentos.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
Porque ignoram até onde podem ir as fraquezas da natureza e porque são
naturalmente presunçosos, os ado lescentes imaginam que saberão com
facilidade dominar as tentações, e que o que para os outros é perigoso não o é
para eles.
Não pensam que as tentações são •subtis e que é difícil descobrilas na
origem e no seu desenvolvimento· progressivo.
Começam por devaneios e sonhos aos quais se não dá importância por
não ·serem acompanhados de qualquer contacto físico. Não se percebe que,
pouco a pouco, se transformam em obsessão e que bastarão algumas circuns
tâncias favoráveis para provocar uma queda certa e que
se considerava impossível.
Há adolescentes que são verdadeiros intoxicados
49

pela imaginação sexual. O seu cérebro está em perma nente ebulição. E como é
por intermédio das imaginações e representações cerebrais que, mais
frequentemente, se preparam as excitações sexuais, estão à mercê das piores
fraquezas.

Para conservar o equilíbrio moral. os adolescentes não devem apenas


evitar as imagens perigosas, mas também ter o cuidado de nunca estarem
desocupados. A falta de ocupação é o mais perigoso dos excitantes sexuais no
período da puberdade. É preciso combatla pelo trabalho, pelas distracções sãs,
pelas ocupações va
riadas e interessantes.
Às tentações da imaginação, vêm juntarse as dos olhos.
Sob este ponto de vista, certas raparigas a quem não se explicou que o
seu corpo é objecto de desejos masculi nos, mas que são, de resto, perfeitamente

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P." JEAN VIOLLET
puras e ino .centes, tornamse com frequência, pela leviandade, mesmo
inconsciente, do seu porte, grave ocasião de tentações para os rapazes.
Prevenilas das excitações que provocam é prestarlhes um imenso serviço, ao
mesmo tempo que lhes evita olhares e familiaridades culposas.
Também, pelos olhares que provoca, constitui tenta ção a apresentação de
mulheres e raparigas em grande número de praias ou em certas situações
equívocas em açampamentos. especialmente à hora da iktte.
50

A estes espectáculos já perturbantes, vêm juntarse os cinemas e as


gravuras licenciosas dos periódicos ilustrados.
O olhar é um imã mais subtil que o do tacto, mas tanto mais perigoso e
excitante, quanto facilita os jogos mórbidos da imaginação sem que seu alvo
possa reagir, como faria talvez se tentassem tocar-lhe.
Se existem numerosas circunstâncias em que a mulher ignora os desejos
que provoca, não deve por isso concluir-se que seja o homem o único
responsável das tentações que se originam pelos olhares. A maior parte das
vezes, a mulher tem plena consciência da sua culpa. E, se aceita modas que mais
ou menos a despem, é porque sente uma secreta satisfação em fazer valer as
suas formas aos olhos do sexo masculino.
Os olhares, multiplicandose, especialmente se dirigidos constantemente
para a mesma mulher, e se esta se sente lisonjeada pela admiração que provoca,
criam uma espécie de familiaridade carnal que prepara e anuncia
outras familiaridades, como as do tacto.
Querer conservar-se puro é pois, para os rapazes, aprender a desviar os
olhos dos espectáculos e das formas susceptíveis de perturbar a imaginação e,
para as rapa
rigas, nada mostrar que possa excitar o desejo masculino.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
É pelo tacto que a tentação fecha o seu circuito.
Excitando a carne, as carícias do tacto excitam os sen-

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RELAÇÕES ENTRE RAPARIGAS
RAPAZES E 51

tidos, em especial quando atingem certas regiões do corpo


mais particularmente! sensíveis.
Veremos, num capítulo especial, como certas danças podem
perturbar a sensibilidade geral do corpo humano, pelo que nos
basta por agora assinalar os perigos de todos os exercícios que têm
por efeito provocar o contacto do corpo masculino com o corpo
feminino e as situações equívocas que se multiplicam pelo facto de
rapa:z;es e raparigas viverem lado a lado na promiscuidade de
acampamentos e de certas excursões a que se chama desportivas.
Declarar que nestas variadas situações não se sente qualquer
emoção de ordem sensível ou mesmo sensual. e concluir disso que
se trata de casos de temperamento, é esquecer que a vida sexual
está sujeita a caprichos mis
teriosos que fazem com que a mesma pessoa que muitas vezes
atravessou o fogo sem se queimar, seja bruscamente tomada por
uma febre que a lançará ofegante num estado de sexualidade que
não conseguirá dominar.
O único método para os adolescente que querem conservar-se
castos é fugir de todo o contacto íntimo e coibirem-se, da maneira
mais absoluta, de familiaridades equívocas com pessoas de sexo
diferente.

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52

Não julgamos que seja método aconselhável. espe cialmente


numa sociedade em que os dois sexos gozam pràticamente duma
liberdade sem limites, desde o período da puberdade, esconderlhes,
a pretexto de pudor e de inocência, os perigos que assinalámos
neste capítulo.
Não temos o direito de, com a desculpa de que é inútil
prevenilos e que eles se saberão desembaraçar sôzinhos, expor os
jovens às surpresas da sexualidade e arriscarmonos a vêlos cair
numa aventura cujas conse quências podem ser incalculáveis.
v

O PUDOR

/ E evidente que a puberdade desperta tendências novas e


atracções perigosas, nos rapazes e nas raparigas.

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P." JEAN VIOLLET
Mas é pura ilusão julgarse que o procedimento de rapazes e
raparigas, no decorrer da infância, seja coisa sem importância.
O comportamento deles, durante a adolescêrvda, de penderá, em
grande parte, da orientação dada aos senti mentos e aos hábitos
drtrante os primei-ros anbs da infância.
Não se lança um soldado na batalha sem primeiro o ter
preparado para vencer as fadigas e os perigos da
guerra.
*

Uma das tentações mais graves da puberdade é, como


acabamos de ver, a que se origina no despertar dos sentidos.

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P."
54 JEAN VIOLLET

O rapaz olha para as raparigas, e sente-se perturbado e


curioso. As graças femininas acordam nele desejos até então
insuspeitados. Não é ainda o coração feminino, com as suas
delicadezas e sacrifícios, o que o faz desejar conhecer melhor a
mulher, mas sim, mais prosaicamente, é o corpo da mulher que
nele faz nascer emoções novas.
As raparigas começam a preocupar-se com os seus encantos.
Olham-se demoradamente ao espelho e, por pequeno que seja o seu
contacto com os rapazes, sentem uma necessidade instintiva de
atrair os olhares deles.
Em face deste instinto natural que provoca uma atracção de
ordem pràpriamente física, devemos perguntar se não será
possível. pelo menos em parte, carrilá-lo, logo desde a primeira
educação.

* *

Já dissemos que a puberdade desperta uma curiosidade


instintiva que leva os rapazes a desejarem conhe
cer as formas do corpo feminino. Esta curiosidade pode revestir as
formas mais brutais e levar o rapaz a procurar ocasiões, mesmo as

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VIOLLET
menos correctas, que lhe permitam surpreender alguma coisa do
que deseja ver.
As mães, porque têm o pudor do seu sexo e sabem por
experiência que o corpo feminino provoca as tenta-
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 55

ções masculinas, interrogam-se naturalmente sobre o problema de


saber que hábitos ensinarão a seus filhos, durante os primeiros
anos, para que a diferença dos sexos não se torne motivo de
curiosidades malsãs.
O método mais simples e que se apresenta naturalmente ao
espírito, consiste em separar os sexos, isto é,
impedir que irmãos e irmãs. por muito novos que sejam, possam
alguma vez compreender que a constituição física de rapazes e
raparigas não é a mesma. As mães fazem prodígios de habilidade
para que o irmãozinho, mesmo se tem dois anos, nunca assista à
tcilette da irmãzinha,
que pouco mais tem que algumas semanas.
Estas precauções, mesmo admitindo que não tenham sido
atraiçoadas por qualquer descuido, terão como consequência
manter a criança, até à puberdade, numa completa ignorância das
diferenças de sexo.
É a altura de perguntar se esta extrema prudência não é uma
enorme imprudência. Porque, um dia chegará em que a total

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ausência de conhecimento provocará curiosidades, tornadas mais
perigosas pelo facto de o
jovem adolescente ser então tentado por desejos sexuais. Será de
recear que procure instruir-se junto de camaradas mais elucidados
ou que ele mesmo provoque ocasiões que lhe abrirão os olhos.
Há inúmeros exemplos de adolescentes que se lanaram nas
piores tentações porque queriam saber.
s6 P." JEAN

Parece pois que o verdadeiro método é aquele que segue as


indicações da natureza e da evolução dos seres. Eis, nalgumas
palavras, o que queremos dizer:
Há uma idade em que a criança não tem sexo, no sentido de
que as diferenças morfológicas do corpo em nada influenciam a
sua imaginação e sensualidade. Consideraas como um facto que se
observa, da mesma maneira que se observam diferen Ças entre os
produtos da natureza, a maçã e a ameixa, por exemplo. Se uma
criança observa que um rapaz não é feito da mesma maneira que
uma rapariga, isso não o perturba. Acha absolutamente natural que
Deus tenha estabelecido diferenças que per mitam à mãe distinguir
um rapaz duma rapariga.
O facto de saber suprimirá parte, senão todas as tentações do
jovem adolescente.

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VIOLLET
*

Mas é fora de dúvida que o corpo duma criancinha não pode


compararse com a dum adulto.
Não é o corpo duma criança, mas sim o do adulto, que
desperta os desejos da concupiscência. E aqui surge um novo
problema, o da educação do pudor.
O pudor é uma espécie de prudência natural dos sexos, um
meio de evitar . promiscuidades que, antecipa

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RAPAZES
RELAÇÕES ENTRE E RAPARIGAS 57

damente, arruinariam a moralidade das relações entre o homem e a


mulher.
O pudor é próprio do homem. Não o encontramos nos
animais. Deve-se isto à diferença de destinos.
O animal apenas tem por missão perpetuar a espécie.
Para tal basta-lhe o instinto.
O homem é um ser livre, chamado a santificar-se e, se tem a
vocação do casamento, a santificar a sociedade familiar no seio da
qual nascerão criaturas, como ele, cha madas a uma vocação
superior. Desde então, não tem o direito de se abandonar aos seus
instintos. Deve domi ná-los e dirigi-los com o fim de cumprir o
mais perfeitamente possível o seu destino moral e espiritual.
O pudor é um meio providencial, graças ao qual o homem e a
mulher aprendem a respeitar-se mutuamente e a conter os impulsos
dum instinto que, abandonado a si mesmo, não reconheceria
pràticamente nenhuma disciplina moral.
Como o animal. a criança desconhece o pudor. É com as
primeiras tentativas da inteligência e da mora lidade que aparecem
os seus primeiros sintomas. Vai aumentando à medida que os sexos
se diferençam cada vez mais. Atingido o seu pleno
desenvolvimento, que coincide com a puberdade, os dois sexos
habituaram-se a nada deixar ver dos seus corpos que possa excitar
ou provocar o sexo complementar.
P." JEAN

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VIOLLET
Só mais tarde, quando um sincero sentimento de amor mútuo
tiver ligado um ao outro homem e mulher, decididos a juntos
fundarem uma família, só então o pudor
perderá os seus direitos. Porque estarão casados e porque terão por
missão .dar filhos ao mundo, os seus corpos pertencer-se-ão e
conhecerão intimidades nas quais se
misturarão simultâneamente os corações e os corpos.
Conforme o pudor tiver sido bem ou mal orientado, assim os
adolescentes serão mais ou menos tentados nas suas relações
mútuas.

Um erro inicial é o que se comete confundindo pudor e


ignorância, deixando supor aos adolescentes que o conhecimento
das realidades da vida, até da vida sexual. é uma falta contra o
pudor e a pureza.
Não é raro que, por falso pudor, mulheres jovens se sintam
perturbadas, até ao ponto de se julgarem cúmplices dum pecado de
impureza, quando em face das realidades da vida conjugal. É
evidente que são vítimas duma falsa educação. Recusando-lhes
explicações necessárias,
levaram-nas a confundir, mesmo no casamento, o verdadeiro pudor
e o falso. Envolveram-se, durante os anos

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RAPAZES

RELAÇÕES ENTRE E RAPARIGAS 59

da adolescência, num pudor feminino que se transformou em


repulsa, quando teriam bastado algumas explicações para lhes
ensinar a distinguir entre a reserva duma rapariga e os deveres da
vida conjugal.
O perigo contrário encontra-se frequentemente nos rapazes.
Como os pais se recusaram a dar-lhes as explicações que lhes
fariam compreender porque devem res
peitar-se a si mesmos nos seus corpos e a respeitar o outro sexo,
aceitaram as revelações de camaradas mais ou menos pervertidos e
falam dos problemas sexuais sem o mais leve respeito. Constitui
frequentemente para eles um desporto e uma vã gloriola
exercitarem-se em vencer o
pudor das raparigas.

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RAPAZES

Por falta de conhecimentos das razões e das exigências do


pudor, não é raro, como vimos, que raparigas, aliás honestíssimas,
provoquem inconscientemente tentações sexuais nos rapazes.
Como ninguém lhes explicou que os encantos do sexo
feminino são excitantes do desejo masculino, cobrem-se de modas
que mostram ou sublinham, despudoradamente, graças que deviam
conservar-se ocultas.
Mas, a pretexto de pudor, seria outro exagero o

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VIOLLET
6o P." JEAN

fazer desaparecer as graças femininas sob vestuários desgraciosos.


É natural e conforme com a decência que uma rapa riga se
apresente com os enfeites do seu sexo. Etimolõ gicamente, «moda»
quer dizer «maneira de ser». Donde se conclui que há maneiras de
ser em conformidade com a mais estrita delicadeza dos costumes e

outras que o não são.


Há mulheres que são mais ou menos impúdicas, só na sua
maneira de andar. Parece que querem ser provo cantes mesmo nos
gestos mais naturais.
Quer isto dizer que as maneiras de ser variam se gundo as
disposições íntimas da alma.
Tal rapariga, de resto muito elegante, não provocará nunca
um pensamento indiscreto, porque o seu conjunto e os seus gestos
inspiram respeito.
Outra, por mais discreto que seja o seu vestuário, mostrará
mesmo nos seus olhares e nos seus sorrisos um não sei quê que
será como que um convite ao atrevi menta.
Preparar os jovens para, correntemente, se encon trarem nas
mais variadas circunstâncias da vida, sem que desses encontros
resultem choques perigosos para os sen tidos e para a sensibilidade,
deve ser obtido, antes de mais nada, ensinandolhes discreção e
comedimento.
Pela discreção e pelo comedimento, muito antes das

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RELAÇÕES ENTRE E RAPARIGAS ÓI

perigosas provas da puberdade, as crianças aprenderão


a não se ligarem, à toa, a camaradas, a tratar com deferência o outro
sexo, e a nunca se deixarem arrastar pelas impressões da
sensibilidade.
Equivale isto a dizer que uma criança que não tiver aprendido
a dominar-se que não se tenha habituado a analisar as suas
impressões, pode um dia vir a estar à mercê das perturbações
confusas da puberdade e das excitações mais ou menos mescladas
de sensualidade, provocadas pelas relações com o outro sexo.

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RAPAZES
VI

A DANÇA

r-l UE pensam a este respeito os adolescentes, os pais e os


moralistas?
Para os jovens, é assunto resolvido. A maior parte gosta de
dançar. Encontram na dança uma distracção natural e, não estando
pervertidos, dançam sem preo cupações e sem ver nisso o mais
pequeno mal.
Muitos pais facilitam as danças das filhas para que
encontrem marido. Isto é uma corrupção da arte de Terpsicore e

tornase mais grave quando, a pretexto de que é moda, se fazem


cúmplices de danças mais ou menos lascivas ou quando acham
natural que rapazes e raparigas organizem partidas de dança das
quais os pais são excluí dos, por incómodos.
Feitas as contas, os pais compartilham da opinião dos filhos:
para eles os bailes são distracções inofensivas.

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O caso dos moralistas é mais complexo. Citaremos de
passagem os que a condenam em qualquer ocasião e quaisquer que
sejam as suas formas. Esquecem que David dançou diante da arca e

que as cerimónias do coro, na igreja, são o prolongamento


esquemático das evoluções coreográficas das cerimónias religiosas
da antiguidade. A sua severidade não é partilhada por São Fran..
cisco de Sales. Acha natural que a sua Filoteia vá algu
mas vezes ao baile, desde que o faça em boa companhia.
Há numerosos moralistas que, sem as condenar, dizem ser
necessário distinguir as várias danças.
Têm muita razão; como todas as outras manifesta-ções
estéticas, as danças são a expressão, ritmada pelo gesto, dos mais
variados e contraditórios sentimentos.
A dança pode perfeitamente. exprimir pensamentos
religiosos. Fomos um dia testemunha dum ensaio de coro religioso
que representava a veneração dos anjos em volta do trono da
Virgem. Nada de mais comovedor e de mais apropriado para
despertar um profundo senti mento religioso que os gestos e as
danças daquelas rapa rigas.
Mas, assim como há danças religiosas, há danças guerreiras
ou lascivas. Os povos selvagens excitamse para a carnificina e para
a mortandade com ritmos trepi dantes que despertam a coragem
física e abafam os sen timentos de piedade.

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P." JEAN VIOLLET
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 6S

Outros procuram uma excitação de carácter propriamente


sensual. por meio de gestos perturbantes. É um
sinal de decadência moral dos tempos modernos a penetração desta
espécie de danças nos países civilizados.
Se a dança é uma das maneiras de expressão dos sentimentos
humanos, tal como as outras artes, a música, a pintura ou a
escultura, nunca se deve impedir uma criança de saltar de alegria,
nem se lhe proibirão as danças de roda nem as valsas.
A dança, em si, é uma arte que não é nem virtuosa nem
imoral: tudo depende dos que a praticam.
Aqui também, como em todos os assuntos que respeitam às
relações entre rapazes e raparigas, o papel essencial é
desempenhado pelas disposições íntimas de cada um.
Determinada rapariga, ao valsar, não sentirá senão o encanto
do ritmo da valsa e conservará para consigo mesma e para com o
seu par todas as reservas precisas,
ao passo que outra se prestará, nos braços do compa
nheiro, a um abandono impróprio e sensual.

Evidentemente que nem todas as danças são iguais.

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O minuete é uma escola de respeito mútuo. A har-
66

monia dos gestos e dos corpos não tende nunca a enlaçar os corpos.
mas antes a acentuar a delicadeza com que se devem abordar e
comportar os dançarinos de sexo diferente.
As danças em que rapazes e raparigas se enlaçam são mais
perigosas. Podem dar ocasião a atitudes lascivas. E, por pouco que
uma rapariga tenha a impressão que o seu par, intencionalmente, a
aperta demasiadamente, não deve hesitar em afastar-se. Se estiver
habituada a vigiar as suas sensações e a atitude do sexo masculino a
seu respeito, saberá ràpidamente distinguir o perigo e fugir-lhe.
Mas há danças infinitamente perigosas que parecem não ter
outro fim senão o de despertar a sensualidade dos pares. Aceitar
esta espécie de danças é expor-se deliberadamente à tentação. O
facto de deixarem insensível
esta ou aquela pessoa não basta para as justificar, pela mesma razão
de que não se tolerará a leitura dum
livro imoral a pretexto de· que não causa qualquer impressão.
De resto, é grande presunção acreditar que, em todas as
circunstâncias se terá o mesmo estado de insen
sibilidade. O gesto que hoje não produziu nenhuma impressão,
pode amanhã perturbar-nos, porque as nossas disposições
mudaram. A mesma dança com vinte pares· diferentes terá deixado
uma rapariga na mais perfeita

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P." JEAN VIOLLET
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 67

insensibilidade, a qual será perturbada pelo par vinte e um, apenas pela razão de
que a sensibilidade tem fre
quentemente bruscos e inexplicáveis despertares.
Mais uma vez. a vigilância de si mesmo é sempre a condição basilar da
boa conduta moral.

O que principalmente preocupa os moralistas é a composição dos meios


onde se efectuam os bailes.
Se tantos padres de aldeia protestam energicamente contra os bailes, não
é por condenarem a dança, como dança. Frequentemente vimos em regiões
muito cristãs, como por exemplo no Tirol. o padre presidir paternalmente às
evoluções coreográficas da mocidade.
O que eles condenam são as condições perigosas que acompanham
grande número de bailes. Sabem que muitos daqueles que os frequentam não
têm nenhuma moralidade, neles procurando apenas aventuras; que a decência é
frequentemente deplorável e que se: bebe mais que o razoável'. Sabem que, a

pretexto de conduzir as raparigas até à quinta distante, os rapazes aproveitarão


da excitação da dança e das libações que a acompanham para
abusar mais ou menos delas durante o trajecto. Não desconhecem que há bailes
que apenas são frequentados por 68

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raparigas de porte duvidoso e, se os condenam, é apenas para preservar do
contágio a parte sã do rebanho.
O que se dá com os bailes campestres dá-se também com certas reuniões
chamadas «mundanas» em que a elegância dos trajos não é senão um requinte e
um perigo mais. Os jovens misturam-se sem se conhecerem e os que têm menos
compostura nas conversas e nos gestos são os mais procurados.
É no baile que, em geral. se esboçam aventuras que acabam na
devassidão ou na imoralidade.
O baile pode ser ocasião de distracções sãs, mas sob condição de que os
convidados sejam escolhidos e a sua
moralidade garantida.
A melhor defesa contra os perigos dos bailes e da dança será sempre a
família. Dançar em família, com amigos conhecidos e. experimentados, só será
um perigo para os que deliberadamente o procuram.
VII

BRINCADEIRAS DE MAOS. ..

HÁ brincadeiras a que os poetas costumam chamar


«jogos de amor» mas que, no fundo, não passam de manifestações mais ou
menos conscientes do instinto sexual.
Estas brincadeiras começam logo na puberdade e manifestamse de mil
maneiras, por vezes tão subtis que os próprios interessados parecem ignorarlhes

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P." JEAN VIOLLET
a origem e consequências. Na base de todas está a atracc;ão que os dois sexos
exercem um sobre o outro.
Primeiramente, são os olhos que se procuram, olhares mais ou menos
demorados e provocadores, como se o rapaz quisesse exprimir o seu poder
fascinador sobre o sexo fraco e como se o sexo fraco quisesse provocar o desejo
masculino lançando-lhe olhares que parecem apelos.
Outras vezes são uma espécie de lutas ou corridas

durante as quais o rapaz parece aplicarse em conquistar a rapariga e esta em


fugir para acentuar melhor as difi culdades da conquista.
Olhese para esses adolescentes de treze ou catorze anos que brincam às

corridas. A rapariguinha foge, lan çando gritos agudos e fingindose assustada.


No fundo. apenas tem um desejo: ser apanhada e agarrada. Pare cendo
defenderse, ela, sem o confessar, deseja ser hei jada. Se é vencida, o seu furor
aparente esconde uma íntima satisfação da sensibilidade.
Dirseia que a natureza quer excitar o desejo pelo combate e torálo tanto
mais vivo quanto mais difíceis de vencer são os obstáculos. Estas brincadeiras
instin tivas são especialmente perigosas nos jovens adolescen tes que não têm
consciência das armadilhas que a natureza lhes prepara.
Quer isto dizer que, nas relações entre rapazes e raparigas, é preciso não
desprezar, e antes evidenciar. com um dos problemas capitais, este das
brincadeiras.

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A maior parte das vezes, as brincadeiras das crianças não têm perigo
algum, embora sejam comuns aos dois sexos e estes se persigam sem pejo.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 7i

Dado que os sentidos ainda não despertaram, rapazes e raparigas podem


perseguir-se ou brincar às escon
didas. aos casamentos ou aos pais, sem que de tal resulte qualquer perturbação
equívoca.

E. no entanto, se não houver cuidado, as brincadeiras da infância podem


preparar e prenunciar as brincadeiras mais perigosas da adolescência.
Na verdade, que acontecerá ao rapaz habituado durante anos a tratar as
raparigas com desenvoltura e brutalidade, quando chegar a idade das tentações
subtis da puberdade? Não será de recear que encontre divertimento em as
agarrar mais ou menos violentamente, em
excitá-las por meio de provocações de todo o gênero? Serão outras tantas
brincadeiras malsãs, que não passam de tentativas talvez semi-conscientes do
sexo forte, para
seduzir, e dominar, o sexo fraco.
Ainda que a rapariga, por ignorar os seus próprios instintos, tenha pouco
prazer nestas brincadeiras, consentirá nelas. e longe de pela sua reserva acalmar
as audácias masculinas, excitá-las-á, o que, tanto para o rapaz como para a
rapariga será o começo de perigosas familiaridades.

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P." JEAN VIOLLET
72

As carícias só são isentas de perigo quando se trata de crianças de colo.


Mas, à medida que a criança cresce, devem prati carse com maior
parcimónia, e prudente discreção. Embora as mães, por vezes, se gabem de que
algum dos seus filhos goste de ser amimado, não devem esquecer que a
necessidade de ser amimado e afagado pode, no futuro, ter perigosas
consequências.
Chega um dia em que a criança sente frenesis de ternura, que não são já
apenas a expressão ingénua da ternura que tem pela mãe, mas sim o início duma
sen sualidade que se ignora.
Nesse dia a criança estará em tanto maior perigo de aceitar ou de procurar
ternuras perigosas, quanto mais habituada tiver sido a ser amimada, numa idade

em que a sua formação moral exigia já severa vigilância da sen sibilidade.

As carícias, que a mãe, imprudentemente, considera inocentes, excitam o


desejo doutras que já o não são.
Não nos admiremos de, um belo dia, surpreendermos crianças a que

chamamos «meigas», sentadas lado a lado, nalgum canto solitário, dando uma à
outra sinais de afei ção que as preparam para as mais perigosas intimidades.
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 73

É por meiguices e beijos que elas julgam inocentes que, pouco a pouco,
se insinuam as excitações sensuais propriamente ditas.

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P."
*

Seria extravagância pretender impedir os adolescentes de ambos os sexos


de se encontrarem, de em comum se distraírem, sob o pretexto de os preservar
dos perigos da idade. Na vida, não estarão sempre em contacto ?
O que é necessário é habituá-los a distinguir as brincadeiras perigosas
das inocentes.
As brincadeiras de namoro só aparecem mais tarde.

Mas, no decorrer dos primeiros anos da puberdade, o perigo é, principalmente,


de ordem física. Para o rapaz, a necessidade de olhar para as raparigas e, para
estas, a de se fazerem olhar, bem como a procura dos contactos furtivos ou de
outros mais ou menos violentos.
Estas tentações que levam os. adolescentes a faltarem ao respeito, que
mutuamente se devem, não podem de forma alguma ser vencidas directamente.
Para tal seria preciso vigilância permanente, que exasperaria os interessados,

tanto mais que estão numa idade que já não suporta qualquer forma de aberta
vigilância.
74 JEAN VIOLLET

É muito cedo, muito antes da puberdade, que se torna necessário


despertar nos rapazes e nas raparigas o sentimento do respeito mútuo.

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Resumindo: as brincadeiras entre adolescentes são tanto menos perigosas
quanto melhor estes se tenham habituado a respeitarem-se mutuamente.
Mas, dessas brincadeiras, umas há que devem ser condenadas sem a mais
pequena hesitação.
As mais perversas são, sem dúvida, as que acabam por corpo-a-corpo.
Seria loucura admitir, por exemplo, desafios de futebol entre rapazes e raparigas
crescidas. Poder-se-ia estar antecipadamente certo de que provocariam
excitações que acabariam ràpidamente na imoralidade.
As brincadeiras em que jovens de sexo diferente têm de se agarrar
apresentam os mesmos perigos.
Quanto aos jogos que deixam a cada um dos corpos a sua plena e
completa independência, como o tênis, são pràticamente desprovidos de perigo
sob o ponto de vista físico. Podem vir a apresentá-lo pelo namoro, mas esse é
outro problema que apreciaremos a seguir.
VIII

O NAMORO

O
que é o namoro, tal como hoje correntemente se entende?
É uma maneira de brincar com o amor; uma brinca· deira do
coração à qual não se atribui consequências por não ligar por
compromisso as duas partes.

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P."
Como se fosse possível brincar com os mais elevados sentimentos da
alma humana, aqueles que encerram as mais graves responsabilidades, sem que
daí resultem graves danos!
Os namoros originam·se de maneira diferente, se· gundo as idades, as
tendências e as circunstâncias.
Durante os primeiros anos da puberdade, raparigas e rapazes observam-
se, contrariam·se e fazem partidas uns aos outros. Os rapazes, ostentando um

falso desprezo pelas raparigas, e estas declarando que aqueles não


JEAN VIOLLET

passam de imbecis, apenas têm um desejo, o de se faze rem notar pelo outro
sexo.
Os gestos, as atitudes, são como que provocações.
Os rapazes exibem a sua força física, fazem admirar a sua audácia, o seu desdém
pelo perigo, a sua dextreza desportiva.
As raparigas cochicham umas com as outras e falam dos rapazes ou,
então, riem ruidosamente. Cuidam das suas toilettes pessoais para se tornarem
reparadas.
Um belo dia, uma delas dá conta que determinado rapaz lhe agrada mais
que os outros; é distinto, usa uma gravata bonita e bem armada, o corte do fato e
do cabelo obedecem à última moda. Desejaria poder acercarse dele, mas não
sabe como fazêlo. Uma camarada complacente encarrega-se de transmitir a
declaração, escrita num pedaço de papel : Madalena gosta de Jorge.

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Jorge sente-se lisonjeado. Conhece Madalena : é graciosa. Porque não
aproveitar a ocasião? Aproveita-a e começa uma troca de missivas, que acabará
por um encontro.
Quando não é Madalena quem começa, é Jorge. Geralmente Jorge é mais
atrevido e vai direito ao àlvo, sem intermediários.
Estas primeiras tentativas de namoro são singular mente encorajadas
pelos costumes modernos, especial-

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P."
E RAPARIGAS 77

mente pelos espectáculos a que rapazes e raparigas assistem todos os dias nos
cinemas.

O cinema é, frequentemente, um espectáculo nefasto para adolescentes


muito jovens. Habitua-os a considerar as relações entre os sexos como coisa de
tal maneira normal que não é raro encontrar crianças estreitando-se
apertadamente e até mesmo beijando-se na boca, que declaram ingenuamente
que brincam ao cinema.
Se as crianças muito jovens brincam ao cinema sem que os seus sentidos
se excitem, o mesmo não acontece
/ com as mais velhas, que estão em
plena crise de puberdade.
É então que os sentidos do rapaz despertam e que qualquer espectáculo,
mais ou menos licencioso, se torna
para ele uma ocasião de excitação que o leva a procurar, com uma espécie de
inquietação obcecante, a intimidade das raparigas.
As raparigas procurarão nas «estrelas» e vedetas de cinema modelos de
toilette, de atitudes e de expressões. Desejosas apenas de agradar, consideram-
se vítimas se parece não se reparar nos seus encantos. Passarão a ser
.provocantes para se tornarem notadas.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES
JEAN VIOLLET

Se os adolescentes muito jovens se preocupam especialmente com o


físico do outro sexo, bem depressa terão preocupações sentimentais que os
levarão longe, se no forem vigiadas e dominadas.
É preciso não esquecer que a castidade, quer a do corpo quer a do
coração, cria uma espécie de isolamento que fàcilmente se torna em tentação.
Não será para escapar a este isolamento que a rapariga alimenta a sua
imaginação com romances de amor e procura nas personagens cujas aventuras
lê, as aventuras dos amigos que, provisõriamente, substituirão aquele que ela
espera um dia encontrar?

E o rapaz, mergulhado em perigosos devaneios, não se arriscará a não


ver senão certa rapariga, encontrada ao acaso das circunstâncias?
Tudo disposições que preparam e prenunciam o namoro. Basta que um
encontro fortuito ponha em presença as duas personagens, para que um nada
incendeie os corações, dando origem a uma aventura sentimental.
E RAPARIGAS 79

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P."
Não é raro que o namoro se esboce a pretexto de confidências, sem
qualquer intenção perversa, e apenas por simpatia mútua.
Não é a rapariga uma pobre incompreendida que em ninguém pode ter
confiança, nem mesmo nos pais, e o rapaz não tem no seu coração compaixão
por esta rapariga mais ou menos desamparada?
E começam as longas missivas, cheias de desabafos, as intermináveis
conversações sentimentais durante as quais cada um fala de si, das suas
esperanças e das suas decepções.
Insensivelmente, formamse laços que, mais tarde, já não poderão ser
desatados.
De resto, como não dar a prova, por meio de olhares, de apertos de mãos,
de delicados beijos, duma mútua
compreensão, e de que se é capaz de reciprocamente consolar as tristezas e
decepções da vida?
Começou o namoro. Porque os jovens são sérios, pode acontecer que
cheguem a promessas de casamento.
Mas que imprudência falar de casamento quando se tem quinze anos e
nada se conhece ainda quer do próprio ·coração quer do coração de comparte.
8o JEAN VIOLLET

Por cada casamento que virá um dia a realizar-se, quantas destas


ligações não acabarão el;ll desoladoras decepções!
Quantas raparigas deixaram de acreditar na lealdade dos homens por se
terem entregado com toda a
confiança e terem sido depois abandonadas!

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES
Para as mais desenvoltas é muito difícil não namoriscar.
Fazem-se belas com a esperança de recolher homenagens e
cumprimentos. Se não os recebem prontamente,
provocam-os. A mulher, na verdade, não tem mil recursos para captar a
admiração dos homens 1
Vestidos e pinturas, atitudes e gestos, não são outros tantos meios de que
o sexo fraco dispõe para seduzir o sexo forte?
De resto, a maior parte das vezes, o sexo forte não pede senão que o
seduzam.

Os homens desprovidos de delicadeza e de escrúpulos, que procuram as


aventuras amorosas, não são
raros. Espreitam a ocasião e, por pouco que a rapariga pareça esperar e desejar os
cumprimentos, cortejam-na.
É RAPARIGAS 8I

É um novo namoro que começa, o namoro por reciproca atracção dos


sexos, a que se vêm juntar as complicações do amor próprio.
Nada de mais penos9 para a natureza feminina que sentir-se abandonada
por lhe faltarem encantos que atraiam o sexo masculino. Sofre com isso, a tal
ponto que chega a sentir animosidade e ciúme pelas companheiras mais
favorecidas.
É pois natural que a mulher, que receia não ser admirada, se esforce por
corrigir a natureza e por se tornar mais ou menos provocadora, com a esperança
de chamar
a si os admiradores.

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P."
As mais belas são frequentemente as mais perigosas. Não se deixam
prender como as ingénuas que acreditam no amor. Brincam com o coração dos
homens, para se inebriarem com a própria capacidade de sedução.
Provocam-os para os excitar e perturbar e, se triunfam no seu abominável
desígnio, se o coração masculino se deixou captar, parecem experimentar uma
alegria doen
tia em o abandonar e fazer sofrer.
Não atraem para volta de si um homem· apenas, mas sim o maior número
possível de admiradores. Rainhas e soberanas, gozam com as paixões que
excitam e são
cruéis bastante para se regozijarem com os ódios e ciúmes de que são causa.
Frequentemente, são semi-virgens como as que foram

82 JEAN VIOLLET

descritas por Mareei Prévost. Pródigas em intimidades, quando não vão mesmo
até ao ponto de comprometer definitivamente a sua própria repótação.
Estimuladas sobre tudo pelo orgulho, ficam à mercê da personagem cuja
situação seja particularmente bri
lhante. Como não procurar esta embriaguez do êxito, obtendo as homenagens
do mais rico, do mais belo ou do mais célebre?
A rapariga que pretende dominar e escravizar os homens, servindo-se dos
seus encantos, esquece geralmente que é mulher e que, portanto, está à mercê
das suas impressões sentimentais. E a que pretenda dominar o sexo forte
arrisca-se bastante a ser um dia dominada por ele. Nesse dia, a rainha tornarse-á
escrava e, por

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES
não ter sabido formar a sua personalidade moral, abdicará nas mãos de
.qualquer aventureiro, tanto mais perigoso quanto está habituado a dominar o
sexo fraco, vergando-o aos caprichos e vícios próprios.
Aquelas que empregam os seus atractivos para com os homens, talvez se
casem um dia, mas casar-se-ão mal. Umas, cansadas dum jogo que não lqes,
pode satisfazer o coração, virão a encontrar-se sozinhas numa idade em que o
casamento é difícil e aceitarão o primeiro que lhes apareça. Outras casar-se-ão
com homem que não amam.
mas cuja fortuna ou cuja posição lhes satisfaz o orgulho;.
Qualquer que seja a sorte final das levianas, é sem-

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P."
83

pre um fracasso, pois nada se constrói de belo sem o


coração e desprezaram este para o substituir por frivo !idades e aparências
enganadoras.

Do lado masculino, o sedutor profissional é o cor respondente à leviana.

É um homem belo ou, melhor, tem uma falsa beleza, cônscio da impressão que
produz nas mulheres. Geralmente de boa aparência, cuida de si como um
da.rtdy.
Oco de coração e de inteligência, tem predicados de sociedade. Dança
bem, está ao corrente dos últimos es cândalos e usufrui de outras prendas de
sala.
Presumido, porque se julga irresistível, ostenta certo cinismo, ainda que
só para excitar as cobiças mais ou menos mórbidas das mulheres que o rodeiam.
É um fascinador que sabe servirse dos olhos, da voz e dos gestos para
perturbar e dominar a sensibilidade feminina.
Sempre à cata de novas aventuras amorosas, conta aos amigos os triunfos
alcançados, troça das mulheres em geral e, mais especialmente, da que acaba de
seduzir ou conta seduzir em breve.
Aposta com camaradas, apostas que dizem respeito

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
JEAN VIOLLET

à desgraçada que espera seduzir para dela fazer a sua própria vítima.
As raparigas, porque não têm experiência e ignoram a perversidade de
certas naturezas masculinas, correm frequentemente o perigo de se deixarem
prender pelas manobras hábeis destes flibusteiros do coração feminino.
Admiram cegamente esse homem belo, que se apro veita da ingenuidade
delas para começar o seu atroz plano de D. João sem escrúpulos.
Quantos males se evitariam se, em vez de se abando narem as raparigas às
seduções instintivas da beleza das formas, lhes ensinassem a analisar os
caracteres e a des cortinarem o valor real dos corações e das almas, para
' além das aparências tantas vezes
ilusórias dos sentidos. Um curso de psicologia masculina para as raparigas, outro
de psicologia feminina para os rapazes, ajudariam uns e outros a melhor
desembaraçar a meada dos seus sentimentos instintivos e a resistir mais
convenientemente
às tentações que os espreitam durante os anos da ad lescência.

Há um gênero de namoro qu não aparece desde logo como tal por se


esconder atrás de pretensas preocupa ções intelectuais ou religiosas.
85

Certa jovem estudante olha com desprezo para as fraquezas do coração e


do sentimento. Para ela, a mulher moderna é uma intelectual, como o homem, e

a sua eman cipação definitiva exige que ela o trate em pé de igual· dade. A

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P."
partir de então, nada se opõe a que discutam os mais árduos problemas da
filosofia e que ela considere imbuídos de preconceitos fora de moda aqueles que
a censurem por preparar os seus exames JlO quarto de um camarada ou por
receber este no dela.
Que perigo pode haver quando duas inteligências procuram em conjunto a
solução dos altos problemas da filosofia ou da ciência?
Os que se entregam a este jogo perigoso esquecem que se trata de
inteligências pertencentes a sexos diferen tes. Como foi que, desde o início das
suas relações, não suspeitaram que, se se procuraram um ao outro, foi por· que
uma secreta simpatia os atraía instintivamente?
Apenas viam a ciência, quando uma reflexão um pouco mais atenta lhes
poderia ter mostrado que a ciência nada mais era que um pretexto e que, no
fundo, eles se davam por serem de sexos diferentes.
Chegará um dia em que os olhares demonstrarão que, à força de contactos
íntimos, os problemas clen tíficos serão postos de parte e substituídos pela
alegria de estarem juntos, de apertarem as mãos um do outro, de trocarem
confidências e de se deleitarem em longas 86 JEAN VIOLLET

intimidades silenciosas, cheias de desejos e de pro· messas.


ti: perigoso esquecer a diferença de sexos e pensar que duas inteligências
de sexo diferente podem, sem mais consequências, entrar em contacto íntimo e
frequente.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
Se o namoro aparece por toda a parte, em todos os climas e em todos os
terrenos, se reveste aspectos dife· rentes e variados, nem por isso a sua origem
deixa de ser sempre a mesma.
Nasce dum certo sentimento de isolamento e de solidão que faz desejar a
cada um dos sexos preencher a penosa impressão do vazio do coração, por meio
de relações mais íntimas com o sexo complementar.
Estas diversões do amor não • podem senão magoar as mais elevadas
aspirações do coração humano. Brin· cando com o amor, quando o casamento é
impossível, e, a maior parte das vezes, nem sequer desejado pelos que a tal jogo
se entregam, o coração adquire hâbitos de leviandade que jamais na vida se
abandonarão.
Para ser forte, o amor deve ser preparado. Esta pre· paração implica que
cada um dos sexos cuide de moldar
a sua personalidade moral e de conquistar as qualidades destinadas a enriquecer
os seus sentimentos. Desprovidos 87

desta preparação necessária, os que namoraram entrarão levianamente no


matrimônio, não levando com eles o con
junto de qualidades morais que o matrimônio exige.
Se, em teoria, o namoro não implica relações sen suais, na prática, quase
infalivelmente, leva a tal. Como é que duas pessoas de sexo diferente, jovens e
cheias de ardor, podem imaginar que, impunemente, seja possível declararem a
sua afeição sem que apareça o desejo de o demonstrarem, mediante provas
sensíveis.

Bastantes namoros acabaram por dramas. E, desde que as raparigas


burguesas gozam duma liberdade idên tica à das suas irmãs, as jovens operárias,
multiplicam·se as quedas que obrigam a casamentos precipitados bem como a

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partos clandestinos em clínicas privadas. Isto prova que a humanidade é a
mesma em toda a parte e que, para resistir às tentações e às fraquezas, necessita
duma sólida estrutura moral e religiosa.

Para ajudar os adolescentes a triunfar das lutas difi c:eis que hão·de ter
entre a puberdade e a hora do casa· mento, importa dar·lhes fortes e claras
convicções a res· peito dos deveres que os esperam e não os abandonar.
sem luzes e sem armas, às perigosas sugestões da carne . e do coração.

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IX

DISTR.ACÇOES E óCIOS

H Á pais e adolescentes um pouco simplistas que, ingenuamente, pedem


para se lhes fixar, da ma neira mais precisa e mais rigorosa, quais as
distracções permitidas e proibidas entre pessoas de sexos diferentes.
Ambicionariam que se lhes simplificasse a busca da perfeição,
encerrando-os numa rede apertada de permissões e proibições.
Querem uma resposta categórica a cada uma das suas perguntas mais ou
menos absurdas:
Se o llen'nj.s é permitido, deve ser proibida a companhia antes ou depois
do jogo? Quais são, exactamente, as danças permitidas e as proibidas ? Há o
direito de assistir a qualquer espectáculo quando na companhia dos pais,
cessando esse direito na ausência dos mesmos? Se os passeios solitários de dois
adolescentes de sexo diferente são perigosos, sê-lo-ão ainda se acompanhados

por JEAN VIOLLBT

um terceiro? Se são condenáveis os isolamentos de um rapaz e duma rapariga na


escuridão, deverão ser autorizados em plena luz?. etc.
Como é que não compreendem que é impossível dar a tais perguntas
respostas peremptórias e definitivas e que, fazendo-o, a consciência acabaria por
se atrofiar ou por cair no mais perigoso e acanhado farisaísmo? Como

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RAPAZES
é que não vêem que, inconscientemente, acabam por substituir o espírito pela
letra? Em lugar de cuidarem de tornar a sua alma mais pura e o seu carácter
mais viril. por entre a variedade das situações, contentam-se em respeitar
algumas prescrições puramente exteriores. sem se preocuparem com as
disposições profundas do coração e dos sentimentos.
No que respeita a distracções e ócios de rapazes e de raparigas, é
.impossível fixar, com precisão, os limites do bem e do mal. das distracções sãs
e das que o não são. A partir de que momento deixa de ser normal e legítima a

simpatia entre rapaz e rapariga. para se tornar numa falta sentimental? É

impossível fixá-lo. Só uma alma delicada pode examinar com clarividência o


valor moral dos sentimentos que experimenta. Ninguém se lhe pode substituir.
O problema das relações entre rapazes e raparigas, especialmente no que
respeita às suas distracções comuns, depende, antes de mais nada, do valor
moral das almas, RELAÇÕES ENTRE E RAPARIGAS 9I

da delicadeza da sua consciência moral e religiosa, da formação do carácter.


Dois jovens de sexo diferente podem falar-se sem o mais pequeno perigo, por
estarem habituados ao respeito mútuo; outros dois, pelo contrário, estarão em
perigo imediato, porque, mais ou menos conscientemente, anelam por que a
conversa tome um tom ligeiro e evolucione para o namoro.
Dito isto, podemos examinar um certo número de distracções e indicar
em que nos parecem inocentes ou. pelo contrário, apresentar as possibilidades
mais ou menos graves de perigo.

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P."
O nosso caminho será iluminado por uma regra que é a seguinte: as
distracções em comum serão tanto menos perigosas quanto as faculdades por
elas postas em jogo forem de ordem mais elevada e espirit1,1al e são-no tanto
mais quanto as faculdades que puserem em acção forem
mais de ordem sensível e corporal.
Ninguém achará mal, por exemplo, que rapazes e raparigas organizem em
conjunto concertos ou sessões de música. No entanto, deve distinguir-se a

música que desperta sentimentos elevados e superiores da que é um apelo à


paixão e à sensualidade.
92 JEAN VIOLLET

Não é raro que um fragmento de música sirva de veículo a uma


declaração amorosa ou que o facto de um par se isolar para tocar música seja o
meio de se encontrarem e de buscarem emoções perigosas. Em contra-partida,
rapazes e raparigas podem. de certo modo. elevar-se
acima de si mesmos e das suas pequenas intrigas. tocando
ou ouvindo tocar uma melodia de Beethoven.

Constitui uma distracção legítima discutir em conjunto problemas de


ordem moral ou social ou mesmo de ordem filosófica ou científica.
Nunca censuraremos um director de obras pias se reunir dirigentes da sua
paróquia, rapazes e raparigas,
para conjuntamente discutirem os interesses gerais da obra a que se devotam.
Tais reuniões não têm nenhum inconveniente. porquanto não se trata, para os

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RAPAZES
que nelas tomam parte, de se interessarem como rapazes e raparigas, mas sim de
uns e outros se consagrarem a um mesmo apostolado.
De igual modo. não vemos o mais pequeno inconveniente, antes pelo
contrário. em que rapazes e raparigas se reunam sob a direcção dum sacerdote
esclarecido. para em comum estudarem certos problemas que dizem respeito à
vocação do casamento e à educação dos filhos.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES 3
E RAPARIGAS 9

Tais reuniões têm uma tripla vantagem : a de inte ressar os jovens, tanto
mais que não estudam os proble mas apenas com o cérebro do seu sexo, mas
também com o do outro, o que tem a maior importância para ajudar cada um
dos sexos a rectificar a sua maneira de ver e melhor a harmonizar com a do
outro. O facto de os dois
sexos aprenderem a conhecerse por intermédio de reflexões comuns a respeito
de assuntos elevados que inte ressam o seu comum futuro, e de as discussões
serem orientadas por uma pessoa na qual todos reconhecem competência e
autoridade moral. tem como resultado habituar uns e outros a tratarem-se com
deferência, e a estabelecer contacto sem que as paixões e as intrigas próprias da
idade se possam manifestar. Este é, talvez, um dos meios mais eficazes para
ensinar os adolescentes a conhecerem-se, sem que daí resulte o mais pequeno
inconveniente.
No entanto, acentuemos as condições graças às quais estes resultados
podem ser obtidos: a primeira, é que os assuntos tratados interessem todo o
auditório,
masculino e feminino, sem que nunca sejam escabrosos. A segunda é que os
adolescentes não sejam abandonados a si mesmos mas dirigidos e orientados
por pessoas experientes e que assim se leve a efeito o contacto das duas
gerações, a dos adultos e a dos adolescentes. Finalmente, que não se trata já de
distracções de casais separados, 94 JEAN VIOLLET

as mais perigosas de todas, mas sim de interesses comuns discutidos entre


elementos numerosos e escolhidos, que assim escapam ao perigo dos colóquios
confidenciais.

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P."
*

Se julgámos dever consagrar à dança um capítulo especial. outras


distracções há que nos parece útil exa minar aqui, analisando as suas
consequências sob o ponto de. vista moral.
Já tivemos ocasião de dizer o que pensamos a res peito de todas as
brincadeiras, jogos e desportos que acabam por corridas ou corpoacorpo entre
pessoas de sexo diferente. Todo o adolescente que se respeite deve
evitálas. Despertam o perturbador espírito combativo que coloca frente a frente
o elemento masculino e o ele mento feminino e levam ao risco de conduzir os
adoles
centes ao nível dos animais que apenas se perseguem para melhor se
acasalarem.
Muitos dos nossos leitores vão escandalizarse e acusarme duma espécie
de deformação profissional que me leva a ver mal nas mais inocentes
brincadeiras. Esta
acusação obrigllme a alguns esclarecimentos.
De forma alguma pretendemos que todos os adoles centes de sexo
diferente que se envolvem em lutas E 9
...

corpo-a- corpo tenham intenções perversas e nelas procurem


excitações malsãs. Felizmente, são ainda numerosas as almas
simples e cândidas que apenas sentem o prazer do jogo.
Evidentemente, não vamos acusar de máfé os irmãos, os primos, os
amigos que organizam jqgos de escondidas ou de bola. Na maior
parte das vezes a sua inocência defendeos do perigo.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES RAPARIGAS 5
Mas não pode negarse que, mesmo da parte dum irmão mais
crescido, haja por vezes, para com sua irmã, já núbil, brincadeiras e
partidas que, possivelmente, não são tão inocentes como parecem.
Com mais forte razão entre primos e primas e entre camaradas
improvisados de praia ou de campismo.
Se os seus hábitos morais travam geralmente os jogadores no
momento preciso em que determinado gesto se pode tornar
equívoco, nem por isso estas espécies de brincadeiras deixam de
provocar excitações cuja natureza é fácil descobrir. Basta
examinar, com um pouco de aten ção, durante a partida, o rosto
avermelhado das rapa rigas e os olhares por vezes fixos e
perturbados dos rapazes, para se chegar a tal conclusão.
De resto, a maior parte das vezes, os adolescentes evitam tais
brincadeiras quando os pais estão presentes, facto que é bastante
eloquente.
Outros exercícios e jogos há, nos quais o corpoa.-corpo não
desempenha nenhum papel. Tomese como
JEAN VIOLLET

exemplo típico o flertnis e, em geral. todos os jogos em que a


atenção está concentrada sobre um objecto e não sobre uma pessoa.
Tratase de colocar bem uma bola, de mos trar que se sabe vencer
com dextn!za os obstáculos acumulados diante dos pares.
Os jogos, quando considerados em si mesmos, são
inofensivos. Quer se procure vencer um par do mesmo sexo ou de
sexo diferente, o jogo é o mesmo. Jogase em função da raqueta ou

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P."
da bola e, se se vence um parceiro do outro sexo, apenas se tem a
vaidade de se sentir mais forte ou mais hábil que ele.
Mas, se o jogo é inofensivo em si mesmo, nem sempre o são
as circunstâncias que o acompanham. Na maior parte dos casos,
não é o jogo o culpado, mas sim os jogadores, que no jogo apenas
procuraram o pretexto para se enco11trarem sõzinhos, fora da
vigilância da família. Pode perfeitamente imaginarse uma partida
de tens que seja ocasião para namorar e que permita dar início a
uma aventura sentimental.

Isto levanos naturalmente a examinar o problema, muito


actual. das relações entre rapazes e raparigas, fora do meio
familiar.
E 9

Quer se trate de reuniões, bailes e festas, «sem trambolhos»,


isto é, sem os pais, de excursões ou viagens
a pé, de desportos de Inverno ou em barco, de passeios de
automóvel. ou de campismo, encontramo--nos em face de novos
hábitos cujas consequências se torna mais
necessário analisar, pelo facto de a opinião pública parecer admiti-
los com mais facilidade.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES RAPARIGAS 7
Aparentemente, estes exercícios nada têm de condenável. A
maior parte pertence à categoria dos desportos particularmente
favoráveis à saúde e ao equilíbrio físico.
Não são pois estes desportos, considerados apenas como tal.
que vamos submeter à crítica, mas sim considerados como ocasião
de contactos demorados e íntimos entre adolescentes de sexos
diferentes.
Comecemos por pôr de parte as viagens e passeios de
membros duma mesma família ou de amigos que ·se conhecem de
há muito. Não apresentam qualquer perigo, sob condição, no
entanto, de que a presença de pais ou de pessoas de confiança trave
os deslizes que poderão
produzir-se se os adolescentes dos dois sexos forem abandonados
às ·suas efusões.
Conhecemos um capelão da juventude católica que, todos os
anos, leva para os desportos de Inverno e para os acampamentos de
Verão um grupo de jovens adolescentes dos dois sexos. Começa
por fazer um cuidadoso exame dos candidatos, excluindo sem
piedade aqueles
7

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P." JEAN VIOLLET

cuja reputação ou cujos modos não lhe dão plena garantia. Assiste
sempre às refeições e às excursões em comum;
vela por que nunca uma palavra ou um gesto inoportuno perturbe a
delicadeza e a harmonia das relações. Todos os dias, exercícios
espirituais em comum lembram a uns e outros o ideal moral por
que devem orientar-se. Rapazes e raparigas vivem completamente
separados no que diz

respeito à vida íntima e à habitação.


Este capelão, que não teve receio de críticas bastante severas,
declara no entanto que a sua experiência deu resultados
absolutamente satisfatórios e que nunca teve a lamentar qualquer
desvio de conduta, quer durante quer no regresso das viagens e
que, pelo contrário, bas
tantes casamentos nas melhores condições de êxito moral. familiar
e social resultaram do convívio dos jovens levado a efeito por tal
meio.
Citamos este caso típico para mostrar que os dois sexos
podem, sem inconveniente, viver em conjunto du
rante muitos dias, sob condição de serem acompanhados por
pessoas morais, capazes de sobre eles exercer tal ascendente que o
espírito e a conduta de tada um se encontram como que
impregnados dum ideal superior.

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RAPAZES RAPARIGAS
Estas condições raramente se realizam, e não acreditamos
que haja muitos padres, mesmo entre os mais
bem intencionados, capazes de levar a bom termo tão delicada
empresa.
RELAÇÕES ENTRE E 99

Conhecemos outras empresas de realização mais fácil e que,


em grande parte, contribuíram para ensinar os jovens a estarem
juntos, mesmo a juntos fazerem excursões, sem que de tal resulte o
mais pequeno prejuízo.
Tratase de colónias familiares de férias. Parece-nos duma
importância capital o facto de pais e adolescentes não se
separarem.
A família é o meio normal no seio do qual a juven tude deve,
sem constrangimento, aprender a respeitarse a si mesma e ao outro
sexo. Desde que os pais tenham preocupações morais e que os
adolescentes se distraiam em conjunto sob as suas vistas, são
pràticamente impossí veis as atitudes equívocas ou perigosas e,
quando se apre sentam, permitem aos pais surpreender
imediatamente, para as corrigir, as reacções dos filhos em face do
outro sexo.

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P." JEAN VIOLLET
Ora uma das maiores dificuldades em matéria de educação é
a de conhecer o comportamento dos adoles rentes nas suas mútuas
relações. Desde que dois deles
c sintam atraídos um pelo outro, procuram a solidão; ·romeçam
assim as mais graves tentações.
100

Não o podem fazer quando as respectivas famílias partilham das mesmas


distracções. As assiduidades excés· sivas, as tentativas para escapar às
distracções colectivas, os gestos equívocos, numa palavra, tudo que traduz as

tendências secretas do instinto sexual ou sentimental, salta à vista dos pais


atentos e esclarecidos e pode ser objecto de observações e, mais ainda, tornar·se
ocasião de conversas íntimas nas quais se ensinará ao ado· lescente a melhor se
conhecer, para melhor se com· portar.
Objectar·se·á que os pais esclarecidos são em pe.
queno número e a maior parte nada compreendem das tendências dos
adolescentes.
Infelizmente, esta observação é verdadeira e bastantes vezes disso

tivemos a triste experiência. Mas nada suprime ao que dissemos. Só serve para
marcar mais a obrigação que os pais têm de melhor compreender o seu
dever e os problemas de psicologia sexual e sentimental. Nem por isso é menos
verdadeiro que os desvios de con· duta sejam tanto mais raros quanto mais os
adolescentes
vivem no ambiente familiar.
O perigo aumenta à medida que os jovens dos dois sexos fazem vida à
parte e pretendem distrair·se. viajar, e acampar sõzinhos.

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RAPAZES RAPARIGAS
Muitos pais deixam andar porque é moda. E, para eles, a moda é uma
potência sacrossanta, à qual se sub·

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P." JEAN VIOLLET
IOI

metem sem discussão, mesmo que no seu fõro íntimo a considerem


absurda ou perigosa. Os jovens, muitos, simples e inocentes, não
vêem o perigo. Para eles, o campismo é uma. distracção, mais
agradável em grupo que sós e
isolados. Portanto, partirão de saco às costas, em grupos mixtos,
sem pensar em mais nada.
Durante o caminho, se o sol é demasiado quente, cada um
pôr-se-á à vontade, desembaraçando-se do incómodo vestuário. Se
isso deixar aparecer o que deveria estar recatado, ninguém se
importa. Porque incomodar-se num desporto que tem por fim,
precisamente, o regresso à vida simples e natural?
Chegados ao destino, procede-se à instalação. Quer se trate de
armar as tendas ou de se alojarem num abrigo destinado à
juventude, os dois sexos separam-se, mas voltam a encontrar-se
para a preparação das refeições e outros trabalhos. A intimidade
que começou durante a jornada aumenta e torna-se maior e mais
cordial durante as refeições e os períodos de repouso.
A fadiga duma jornada comprida e o dolce far nientJ.e que se
segue às refeições, amolecem as vontades e preparam cada um para
aceitar sem resistência os gestos, primeiro tímidos, depois mais
atrevidos, que
anunciam e frequentemente preparam as fraquezas definitivas.
Ninguém se engane a respeito das nossas intenções.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
102

De forma alguma pretendemos que as fraquezas sentimentais e


carnais sejam a terminação fatal dos longos dias passados na
intimidade das viagens em comum. Conhecemos rapazes e
raparigas cuja rectidão de consciência e pureza de sentimentos os
preservaram de qualquer fraqueza, embora as circunstâncias nas
quais estavam envolvidos fossem muito escabrosas.
Mas o facto de nem todos os que brincam com o fogo se
terem queimado, não justifica o fogo. Embora, nas batalhas, nem
todos os soldados morram, nem por isso se pode concluir que a
batalha não seja perigosa.
Se julgamos necessário habituar os adolescentes a
respeitarem-se u1tuamente, estamos persuadidos que existem
distracções que, pela supressão das barreiras do respeito,
multiplicam as possibilidades da fraqueza.

Sabemos que existe uma certa mística do campista que é


capaz de reter os interessados no declive das fraquezas da natureza.
Mas não se deve confiar excessivamente nela. Uma mística desse
género, feita especialmente de amor da natureza, corre risco de se
esvair, como o orvalho aos raios do sol. em face da tendência
natural

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P." JEAN VIOLLET
IOJ

dos sexos, que os leva a aproximarem-se- um do outro cada vez


que as circunstâncias tornam propícia tal aproximação. Com
adolescentes que se respeitam, as· tendas dos rapazes e as das
raparigas são colocadas a notável distância umas das outras. Mas
não é de admirar que aconteça estarem muito aproximadas que a
roilette matinal seja à mesma hora e na mesma fonte.
Acreditar que a mística da natureza possa chegar a suprimir
pràticamente a mútua atracção dos sexos, é ir
contra a realidade; desperta o desejo em vez de o suprimir.
Apenas de passagem citamos os que, deliberadamente, ficam
na mesma barraca. São ou loucos ou desavergonhados que,
deliberadamente, se lançam na imoralidade.

Tem-se discutido muito os albergues para jovens, quer para


os justificar quer para os condenar em bloco, quer ainda para
estabelecer entre eles distinções segundo a sua instalação prática ou
o valor moral do ou da hospedeira.
Impõem-se estas distinções. O albergue para jovens não
necessita de justificação quando recebe rapazes ou
.raparigas, viajando em grupos separados. Nada mais

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
104 P." JEAN VIOLLET

legítimo que o agrupamento de amios ou de membros duma


mesma associação social ou religiosa para excur sões ou viagens
em comum.
São distracções que devem ser encorajadas. por quanto não
apresentam nenhum perigo especial. Temos um exemplo flaarante
nos Companheiros de São Fran cisco, grandes amigos do campo,
que, todos os anos, orga nizam nas férias longos passeios
acompanhados de pie dosas devoções nos principais lugares de
peregrinação. Homens e mulheres seguem caminhos diferentes.
Para eles, não existe o problema do alojamento e dos
albergues. Frequentemente dormem em granjas e, se o fazem num
albergue para jovens. é porque conhecem a sua boa reputação.
Sabem que a parte destinada aos homens e a destinada às mulheres
estão nitidamente sepa radas e que é exigida a maior compostura a
todos os que
ali vão procurar abrigo e alimentação.
De resto, seria bastante temerário para um grupo de jovens
enrar num desses albergues sem previamente se ter assegurado do
espírito que o anima e dos grupos que o frequentam.
Em França, a política penetra até onde nada tem a fazer. Os
albergues para a juventude não escaparam a este mal e, se tais
albergues são, em geral, frequentados por agrupamentos católicos,

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outros há que o são por associações socialistas e comunistas que
não partilham
105

das mesmas preocupações morais quanto às relações entre os sexos


(1) •

Poderíamos citar sobre o assunto artigos publicados numa


revista de tendências comunistas, nos quais o autor, médico, se
felicitava pelo facto de rapazes duma dúzia de anos, num
acampamento de falcões vermelhos, terem podido verificar a
constituição física das raparigas, duma maneira tão simples como
natural. graças à constante mistura dos sexos. Claro está que tal
mentalidade prepara e parece mesmo desejar os piores desvios
morais.

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RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS
(1) Duas grandes associações têm como fim a multiplicação dos albergues para jovens.
Uma, neutra, de tendência moral e católica: a Liga Francesa dos Albergues para Jovens; outra,
igualmente neutra, mas de tendência socialista: o Centro Laico dos Albergues para Jovens.

NAS OFICINAS E NOS ESCRITóRIOS

para as crianças que ainda não atingiram a idade da


puberdade, a escola dá com frequência ocasião
a muitas iniciações perigosas e perversas, que pensar da influência
dos escritórios e das oficinas?
Até se iniciar a idade escolar, a formação moral da criança é
dominada pelo ambiente familiar. Sofrerá uma primeira crise no
dia em que tome contacto com a massa de crianças que frequentam
a mesma classe e cuja moralidade, a maior parte das vezes, é
duvidosa. No entanto,
o perigo é relativamente diminuto, porque ainda não está sob o
domínio das perturbações da puberdade e porque o meio familiar,
se tem preocupações morais, lhe serve de antídoto contra os
miasmas oPrruptot'les de camaradas mais ou menos rvertidos.
Não se dá o mesmo quando a criança deixa a escola, para
começar a trabalhar.

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RELAÇÕES ENTRE
108 P." JEAN

Está na idade mais perigosa. Em pleno despertar da


puberdade, é joguete dos desejos, da imaginação e das sensações.
Rapaz, é violentamente atraído pelos encantos do corpo feminino:
rapariga, preocupa-se com os seus enfeites e com o efeito que
produz no sexo masculino.
Ora, bruscamente, adolescentes dos dois sexos vão gozar
duma independência quase total e encontrar-se, sem a mais
pequena vigilância, nos longos trajectos do carro que os leva ao
_local de trabalho.
Se, quer na oficina quer no escritório, o trabalho é vigiado, o
mesmo não se dá com o comportamento e conversas de operários e
empregados.
Ao passo que, até então, professores e pais se consideravam
como responsáveis pela atitude dos rapazes e das raparigas uns
para com os outros, daí em diante directores e chefes de escritório
desinteressam-se por completo do problema das relações
recíprocas dos sexos,
e entendem que o procedimento dos empregados, qualquer que seja
a idade, não lhes diz respeito.
Quer no escritório, quer na oficina, os adolescentes estão
misturados, sem se considerar a sua moralidade
respectiva. A rapariga mais pura e mais púdica estará ao lado duma
pessoa de costumes ligeiros ou, até, de hábitos viciosos. O rapaz
que, até então, era respeitador da moral e da religião, ouvirá todo o
dia um camarada

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VIOLLET
RAPAZES E RAPARIGAS 109

que discursa contra os padres e o incita a imitar a imoralidade dos


seus costumes.
É fácil imaginar o traumatismo moral, o choque brutal de que
serão vítimas a maior parte dos adolescentes que começam a sua
aprendizagem.
Além disso. é preciso contar com a timidez do recém
-chegado, que tem a consciência de não se adaptar ao meio. Como
resistir à tentação de, para ficar bem visto e para afinar pelo
diapasão dos outros, tomar parte em conversas que, no meio
familiar. o fariam corar até às orelhas?
Também é preciso não esquecer que a maior parte dos
operários e dos empregados são incrédulos e que participam das
opiniões anti-religiosas da classe operária. Aqueles que, até à
primeira comunhão, praticaram a religião, e talvez ambicionassem
continuar a frequentar as obras pias, não se atrevem a manifestar os
seus sentimentos, com receio da troça dos companheiros.
Para serem bem vistos. muitos renegam por palavras os seus
sentimentos íntimos, sem compreenderem que assim se
contradizem a si .mesmos. Chegará um dia em que os seus
camaradas descobrirão que eles continuam a frequentar o patronato
ou a conferência e então sofrerão uma perseguição na qual serão
tanto mais fàcilmente vencidos quanto. desde o primeiro dia,
menos
corajosos se tenham mostrado na afirmação das suas crenÇas
morais e religiosas.

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RELAÇÕES ENTRE
l iO P." JBAN

Em certas oficinas, os novos operários serão subme tidos a


brutalidades odiosas, a pretexto de os «descasca rem» ou «tirarem
o pêlo», e de os iniciarem nas exigências da sexualidade. Homens
e mulheres casados não serão os últimos a tomar parte nestas
estúpidas partidas. Por odiosa que seja tal maneira de proceder, não
é rara nas grandes oficinas.
Acrescentese a estas misérias o facto de que a maior parte
dos rapazes têm uma «amiga». Não a ter, aparece como uma
inferioridade. Para serem como os outros, muitos que se
conservariam castos noutro meio, deixamse arrastar.

Estes reparos. relativos aos perigos que ameaçam os jovens


nos diferentes meios de trabalho, provam com a maior evidência
que o remédio só se pode encontrar numa melhoria progressiva dos
costumes da vida profissional.
Veremos que, se os indivíduos podem contribuir para
melhorar o meio, é indispensável o concurso das autoridades
sociais responsáveis.
Tomemos como exemplo o problema dos transportes
colectivos. Por muito sensatos que supunhamos alguns elementos
escolhidos, não podem substituir o policiamento dos comboios
que, todas as manhãs e todas as tardes,

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VIOLLET
RAPAZES E RAPARIGAS Ili

transportam centenas de milhar de viajantes que vão e voltam do


trabalho.
Assim como as companhias verificam e revisam os bilhetes
de todos estes viajantes, não se percebe porque não empregam uma
parte do seu pessoal na vigilância desses bandos de adolescentes
sem pudor que se entre gam publicamente às cenas mais
escandalosas nas car ruagens dos comboios, especialmente em
certos compar timentos que, pela sua disposição, parecem ser um
meio prático fornecido pelas próprias companhias para se iso larem
e não serem incomodados por quem quer que seja.
Os meios de transporte são lugares públicos que não devem
ser motivo de escândalo para os viajantes, nem pretexto para
tentativas de devassidão dos jovens. Uma vez, aconteceunos ter de
intervir, para meter na ordem um garoto de catorze anos que, em

pUblico, se estava portando o pior possível com uma rapariga da


mesma idade, a qual, com receio de chamar a atenção, não se
atrevia a protestar. Da mesma maneira, nos metropoli tanos, à hora
da maior afluência, a pressão dos viajantes uns contra os outros
constitui perigo moral, cuja respon
sabilidade recai directamente sobre as companhias.
A responsabilidade das companhias vem juntarse a dos chefes
das empresas. A sua indiferença criminosa em face da moralidade
das oficinas, deve ser julgada com a maior severidade. Alguns
despedimentos fundamentados.

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RELAÇÕES ENTRE
1 12 P." JEAN

como consequência de actos públicos de ofensas aos bons


costumes, não deixariam certamente de obter a aprovação da maior
parte dos operários.
Mas, se os responsáveis ficam indiferentes em face das
misérias morais que não ignoram,· compete à opinião pública
intervir.
Põe-se aqui o problema da acção que deveria ser exercida
pelos organismos profissionais, tais como os sindicatos e as ligas
que se preocupam com a moralidade pública.
Por muita que seja a coragem dos adolescentes que
individualmente intervêm para reagir contra os abusos
apontados, como o fazem certos «jocistas», e alguns cidadãos
conscientes do seu dever cívico, nunca chegarão
a dominar o mal. se a sua acção for individual e isolada.
Para obter um resultado proveitoso, é indispensável a

intervenção dos organismos sociais e profissionais para tal


habilitados.
De forma alguma é preciso colocar o problema num terreno
especificamente confessional. Trata-se aqui de moralidade pública
e de moral natural e a acção a empreender deve abranger todas as
pessoas honestas, qualquer que seja a confissão ou o partido
político a que pertençam.
No dia em que os sindicatos se unam para exigir a
moralidade das oficinas e intervenham junto das grandes

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RELAÇÕES ENTRE

RAPAZES E RAPARIGAS 113

companhias para que estas assegurem a moralidade dos transportes


colectivos, os jovens estarão, em grande parte, preservados dos
perigos que os ameaçam quando aban danam a casa paterna para
começar a trabalhar.

Como dissemos, a oficina é um perigo, porque os jovens são


brutalmente iniciados nos piores excessos da vida sexual e porque
muitos dos que os rodeiam lhes fazem supor que ficarão crianças
se, como eles, não arran jarem uma amante. De resto, além de lhes
darem o exemplo, oferecem-se para os ajudar a obter essa
companhia.
É à saída das oficinas que se dão os encontros, e os costumes
estão de tal maneira depravados que o Público acha perfeitamente
natural ver sair, de braço dado, rapazes e raparigas de catorze ou
quinze anos.

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RELAÇÕES ENTRE

Sabemos que nem a polícia dos patrões nem a das grandes


companhias ou dos sindicatos seriam capazes de impedir de se
portarem mal aqueles que o queiram. Seria
utópico julgar que basta purificar a atmosfera soc:ial para impedir
que o mal se espalhe. De resto, se nos é permitido esperar certa
melhoria nos costumes públicos, nunca estes serão bastante
perfeitos para suprimir as numerosas tentações que assaltam a
juventude.

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J J4 P." JEAN VIOLLET

De novo surge pois o problema da formação moral dos


adolescentes. Só os que tenham um carácter bastante vigoroso e
bastante bem temperado serão capazes de resistir à imoralidade que
os rodeia. O problema é tanto mais difícil de resolver quanto é
facto que a maior parte dos adolescentes começa a trabalhar à volta
dos catorze e quinze anos, isto é, numa idade em que a
personalidade moral não está ainda formada.
Tratase pois, de certa maneira, de antecipar a hora da
natureza e de dar a adolescentes que ainda não ultra passaram o
período da puberdade, uma vontade de adultos.
Como se conseguirá tal?
A maior parte das famílias não parece preparada para utilizar
os novos métodos de educação, que tendem
a formar o carácter desde os primeiros anos. Geralmente
desconhecemos e, mais preocupadas com evitar à criança as lutas e
os sacrifícios, dão-lhes uma vida suave que, em vez de prevenir as
fraquezas da adolescência, as favorece.
O esforço de todos os que têm a preocupação de contribuir
para a formação duma juventude forte e gene-

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RELAÇÕES ENTRE
RAPAZES E RAPARIGAS 1 15

rosa, capaz de resistir às deletérias influências do am


biente, em especial nos meios profissionais, deve tender a instruir
os pais no seu dever, não duma maneira vaga e imprecisa, mas sim
pondo-os ao corrente da psicologia da criança nas diferentes idades.
As obras especializadas, que tendem a formar o carácter dos
adolescentes, fazendo-lhes compreender a sublimidade dos valores
morais e religiosos, podem de
sempenhar um papel capital no aperfeiçoamento dos costumes da
juventude. Colocando-os em frente das altas responsabilidades que
lhes incumbem na tarefa de
melhorar o meio em que têm de trabalhar, modelam-lhes o carácter
e ajudam-os a dominar as paixões. Orientam-lhes os pensamentos e
os sentimentos para ideais superiores, capazes de despertar o
entusiasmo sem o qual os adolescentes não podem resistir às
violentas tentações da puberdade.
XI

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NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES

l_) M professor duma faculdade de letras a quem

interrogámos, a respeito das consequências mo

rais da mistura dos sexos nas universidades, não hesitou em afirmar


que o porte e coirecção dos estudantes melhoraram
consideràvelmente desde o tempo em que ele frequentara a
universidade. Atribuia essa mudança à presença de raparigas, em
contacto com os rapazes.
Se bem que, entre a juventude estudantil. haja elementos
indesejáveis, cuja conduta merece aberta reprovação, dizia o
professor, parece-me poder afirmar que, em conjunto, as raparigas
estudantes sabem fazer-se respeitar e que a presença delas nas
nossas faculdades teve sobre a mentalidade dos estudantes feliz
influência. Estes ganharam em aprumo, aprenderam a respeitar o
sexo feminino e passaram a ter cuidado com os gestos e com

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I I8 P." JEAN VIOLLBT

o vocabulário, coisa que não faziam quando não havia a presença de


raparigas.
Esta opinião não nos espanta, posto que não possa ser
indistintamente aplicada a todas as faculdades. A Faculdade de
Letras é privilegiada, não só pelo valor inte
lectual dos que a frequentam, como também pelo facto de que os
seus cursos e cadeiras, ao contrário de outras,
como a de medicina e a de farmácia, não obrigam a contactos
particularmente perigosos, tais como os dos tra
balhos práticos e, especialmente, as salas de estágio, nos hospitais.
Os estudantes de medicina têm, na generalidade, má
reputação. O facto de estarem em contacto com doentes dos dois
sexos, embota-lhes o pudor e facilita certas familiaridades
impróprias.
Mas a circuiJstância de se poderem assinalar, de tempos a
tempos, certas cenas absolutamente impúdicas, não nos deve levar
a concluir pela sua generalização. Existem salas de estágio nas
quais é perfeitamente correcto o comportamento dos estudantes dos
dois sexos. A maior parte das vezes, a correcção dos estudantes
depende exclusivamente da reserva e da correcção das suas
camaradas.

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O mesmo acontece com os estudantes de pintura. O hábito de
copiar modelos nus, que geralmente não são escolhidos em meios
duma moralidade rígida e intransi-
RELAÇÕES ENTRE RAPAZES E RAPARIGAS 1 19

gente, leva com facilida4e os estudantes de belas-artes a liberdades


perigosas e condenáveis. Sob o pretexto de
arte, o «baile das artes» foi durante certo período ocasião para
grosserias e escândalos severamente condenados pela opinião
pública. Em abono da verdade, não deve deixar de se dizer que
nesses escândalos. os estudantes não tinham por comparsas as suas
companheiras de estudo. mas sim modelos ou pessoas pouco
preocupadas com a sua reputação moral.

Não é possível ter-se uma opinião de conjunto a respeito das


relações entre estudantes de um e outro sexo. Tanto podem ser de
perfeita correcção, como descambar em excessos de grosseira
imoralidade.
No entanto, fica o facto de que o encontro diário, nos mesmos
bancos. fazendo os mesmos estudos, pode dar origem a simpatias
que nem sempre são destituídas de perigo.

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Não se deve esquecer que os estudantes não têm ainda uma
situação e não podem pensar em casamento. Assim, não serão
tentados a aceitar ligações ilícitas 1
Infelizmente, o facto não é inédito e demonstra que os
I:Zo P." JEAN VIOLLET

estudantes precisam dum alto ideal moral, para resistir


às aventuras sentimentais.
O mau costume de se tratarem como camaradas, pode
facilitar desvios de comportamento.
O facto de constantemente se encontrarem juntos, não
autoriza o sexo masculino a faltar ao respeito e à correcção que
nunca deve esquecerse de ter para com as companheiras.
Tampouco justifica, nestas, certas ati tudes que são como que um
convite à falta de respeito do sexo masculino.
Na generalidade, estas atitudes condenáveis provêm dum
desejo de ostentação um pouco tolo. Não se quer ter o ar de estar
pouco à vontade diante do outro sexo. Para chamar a atenção,
farseão excentricidades, dir seão frases de sentido duplo, e até
mesmo qualquer idiotice, para provocar o riso dos presentes.
Processos estes que deixarão ·indiferentes os mais sérios, mas que,
infelizmente, exercerão sobre a grande maioria deletéria influência.
Assim se atingirá um àvontade que facilitará as relações
equívocas.

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No dia em que os estudantes se apercebam de que as suas
atitudes grosseiras deixam perfeitamente indi ferentes as
companheiras, compreenderão o erro em que incorrem e
corrigirseão.
XII

A EDUCAÇAO DO HOMEM PELA MULHER.

E A DA MULHER. PELO HOMEM

o contacto frequente de rapazes e de raparigas põe


um problema psicológico da mais alta importân
cia, o de saber qual dos dois sexos é mai!l perigoso para a
moralidade do outro. Ou, por outras palavras: é o homem quem,
mais frequentemente, seduz a mulher ou é
a mulher quem mais provoca a fraqueza do homem?
Outrora, quando as raparigas, pràticamente, não gozavam da
mais pequena liberdade, era o homem quem com maior frequência
se aproveitava da complacência da opinião pública a seu respeito,
para seduzir a mulher e multiplicar as suas aventuras sentimentais.

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Desde que as raparigas disfrutam duma liberdade tão grande
como a dos rapazes, parecem desforrar-se e terem abandonado a
compostura que, durante tanto tepo. caracterizou o seu sexo.
122 P." JEAN VIOLLBT

Chegouse a ponto de, na sociedade actual, ser prà ticamente


impossível definir as responsabilidades de cada um dos sexos. Um
e outro gozam duma independência que facilita perigosamente as
suas fraquezas mútuas mas que, noutro sentido, pode contribuir
poderosamente para a sua formação moral. Se é absolutamente
evidente que os rapazes podem exercer sobre as raparigas uma
influên cia nefasta e cometer o crime de as fazer cair, adormecendo
a sua consciência e fazendo-lhes promessas fala
zes, não é menos certo que as raparigas, pela múltipla acção da sua
garridice, pelas suas atitudes ou pelas suas confidências
imprudentes, podem excitar nos rapazes desejos de que virão a ser
vítimas mais ou menos volun tárias.

Mas, se os dois sexos se podem tornar para um e outro


ocasião de queda, também podem ser maravilhoso e esplêndido
meio de formação mútua.
Deus não fez a humanidade, homem e mulher, para que
multipliquem o pecado pelo mundo fora. Mesmo

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independentemente da vocação familiar que os deve unir de corpo
e alma, a vontade divina quer que homem e mulher se completem e
auxiliem para, por intermédio um do outro, atingirem uma
perfeição mais alta.

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RElAÇÕES E RAPARIGAS 123

Assim se explica que os dois sexos nunca sejam separados,


nem na família nem na vida social. Nem mesmo na maior parte das
ordens religiosas o são, pois o voto de castidade não impede que
um religioso e uma religiosa sejam, um para o outro, motivo de
edificação e estímulo mútuos.
Encontram-se exemplos particularmente edificantes na
história dos santos: S. Jerônimo e as matronas romanas, S.
Francisco de Assis e Santa Clara, S. Francisco de Sales e Santa
Joana de Chantal, S. Vicente de Paula
e Luísa de Marillac, etc.
Portanto, Deus dotou cada um dos sexos de qualidades
específicas, destinadas a valorizar sentimentos e potências morais
que, sem a sua influência, ficariam incultas.
Desejamos que esta observação não seja mal interpretada
pelos adolescentes, nem que vejam nela um convite para, a
pretexto de mutuamente se fazerem bem e de conjuntamente se
elevarem para um ideal superior, se procurarem uns aos outros.
Estas espécies de intimidade entre adolescentes que ainda não
adquiriram o conheci
mento de si mesmos nem possuem as experiências da vida
sentimental, só teriam por resultado, como já o notamos, lançá-los
nos braços um do outro, fazendo com que tomem por inspiração do
espírito a satisfação dos seus desejos carnais ou sentimentais.

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ENTRE RAPAZES
124 P." JEAN VIOLLET

Pretendemos apenas significar, que a acção recíproca dos


sexos se exercerá no bom, ou no mau sentido, consoante a
respectiva formação. Dela dependerá o respeito, ou a falta de
respeito, a resistência às tentações, ou o abandono às mesmas, de
uma maneira geral. o comportamento perante o outro sexo, as
atitudes, e a forma de encarar a vida e os deveres que lhes
incumbem.
É duma evidência flagrante que uma rapariga coqu.ete que se
aproxime dum jovem que lhe agrada e lhe permite certas liberdades,
tomará bruscamente consciência de quanto a sua atitude é
inconveniente, se o rapaz lhe fizer compreender que considera tal
procedimento indigno duma rapariga decente. Reciprocamente, um
rapaz será brutalmente travado nas suas tentativas de sedução se a
rapariga, pela reserva e atitude manifestadas, lhe fizer
compreender, mais. que pelas suas palavras, que há rapa
rigas com quem se não brinca.

Conviria retomar aqui o estudo das qualidades pró· prias de


cada sexo, para mostrar como se devem apresentar para exercer

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sobre o outro uma influência feliz, sem nunca se tornarem causa de
queda.
RELAÇÕES E RAPARIGAS I 25

Para que assim aconteça, é preciso que cada um dos sexos


compreenda que, no pensamento de Deus, os anos
de adolescência são anos de preparação para a vocação e para as
responsabilidades futuras.
Esta preparação só é possível desde que cada um dos sexos
consinta em formar a sua personalidade na solidão do coração e
dos sentidos, isto é, que aceite a lei da castidade, a qual, se
representa um sacrifício, é no entanto a grande força moral e
espiritual que lhe permitirá moldar o coração e a vontade de
harmonia com os devotamentos da vocação familiar e, se chamado
a uma vocação supe
rior, com as exigências morais e espirituais desta vocação difícil.
Este desejo de castidade fará desabrochar na alma dos jovens
uma serenidade cheia de reserva, que os impedirá de serem motivo
de tentação para aqueles em cuja vida se envolvam no decorrer dos
seus anos de adolescência. A sua atitude fará com que sejam
respeitados, a ponto de que ninguém se atreverá a aproximar-se
deles com intenções impuras nem eles nunca aceitarão a ideia de
provocar os desejos e as tentações do outro sexo.

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ENTRE RAPAZES
O jovem desenvolverá a sua força porque sabe que se destina
a proteger os fracos e a dirigir a sociedade familiar. Sabe que as leis
da hereditariedade exigem que transmita a seus filhos um sangue
puro e que deve con-

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126
P." JEAN VIOLLET

quistar, no decorrer da adolescência, as forças morais que serão


património mais precioso.
Rejeita como uma tentação perigosa o desejo de provocar o
sexo feminino fazendo-o admirar a sua força física ou

experimentando nele a sua influência dominadora, por tentativas de


sedução.
Porque é puro e correcto, a rapariga respeita-o; sabe que pode
contar com a sua força de homem para a pro
teger e para a defender e nunca para a submeter aos caprichos da
paixão.
Por seu lado, a rapariga não ignora os encantos que constituem
uma das mais preciosas prerogativas do seu sexo. Mas sabe também
que os encantos femininos podem ser motivo de tentação para o
outro sexo e, por isso, é reservada nos seus gestos e na sua toiktte. Se
os cultiva, é para que sirvam de moldura às finuras do seu coração.
Para se preparar para o futuro papel de mãe, aprende a sacrificar-se
e mostrar-se amável e prestimosa em todas as ocasiões.
Mas a sua amabilidade em nada se assemelha à das raparigas
que, por vaidade, procuram provocar a admiração dos homens.
Forma o seu coração ao mesmo tempo que o guarda preciosamente
para o dom único que algum dia virá a fazer àquele que venha a
escolher perante Deus como companheiro da sua caminhada na
vida.

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ENTRE RAPAZES
RELAÇÕES E RAPARIGAS 1 27

Os jovens admiram·a, sem sentirem o desejo malé· fico de a


seduzir.

Os rapazes e as raparigas que compreenderam a grandeza da


sua futura vocação, preparam·se para ela pelo trabalho e por
ocupações de toda a espécie.
Nunca estão ociosos, pois sabem que é durante as horas de
ócio que a imaginação se corrompe, que os sen· tidos e a

sensibilidade se excitam e que os sonhos impuros facilitam as

fraquezas do coração e dos sentidos.


Se surge a ocasião de algumas distracções em comum,
dominam·se e não se deixam arrastar por excitações e alegrias
fictícias, que poderiam fazer·lhes perder o domí· nio de sf
mesmos, entregando·os, sem defesa, às influên· cias malsãs da
sensibilidade ou dos sentidos.
Os rapazes e raparigas que compreenderam serem os anos da
adolescência anos de formação e de aquisição, estão defendidos
contra as relações impróprias. O rapaz consagra·se a trabalhos ,que
o preparam para a sua situa· ção futura e• a rapariga a todas as
artes que farão dela dona de casa consumada.

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128
P." JEAN VIOLLET

Para melhor cumprirem os deveres da sua vocação, rapazes e


raparigas lutam contra os egoísmos e falsas vaidades da puberdade.
Dedicam-se a obras sociais e de apostolado que os ajudarão a sair
de si mesmos. Sabem que, para levar a efeito grandes coisas, é
preciso ter dentro de si um grande ideal e não se deixar prender
pelas mil sugestões dos prazeres sem finalidade.
Reunindo-se aos que compartilham· do mesmo ideal familiar,
social e religioso, garantem-se contra os perigos da solidão e
encontrarão, nas obras a que pertencem, o apoio moral que os
ajudará a triunfar dos perigos que não deixarão de encontrar no
caminho.

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XIII

A CAMINHO DO CASAMENTO

O s adolescentes que querem preservarse contra as tentações


do meio, devem ter do amor uma con cepção tão elevada
quanto possível, vendo nele uma obra de Deus.
Não é raro ouvir, em especial àqueles que se aban danaram às
suas paixões ou que desejariam ter a liber dade de o fazer, emitir a
opinião de que a Igreja teme o amor. Se ela exige dos jovens a
castidade, é por consi derar o amor como uma tara e como um
obstáculo ao desabrochar da vida espiritual.
Tratase dum erro grosseiro. Muito longe de con siderar o
amor como uma tara ou como um estado infe rior, a Igreja
considerao como a própria realização da palavra divina, «crescei e
multiplicaivos», consagrao como um sacramento e vê nele um dom
de Deus, que deve ser cultivado com o maior cuidado. Do que tem
P JEAN VIOLLET
."

medo é de o ver degradado e conspurcado por apetites inferiores.


É pois legítimo que os adolescentes pensem no amor e é
mesmo natural que, chegados à idade em que a sua

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130
vocação se pode realizar, cuidem com atenção de descobrir aquele
ou aquela a quem poderão unir o seu destino.
Mas é preciso que tal descoberta não se torne uma obsessão.
Esta obsessão é um perigo que ameaça mais os rapazes que as
raparigas.
Os rapazes estão de antemão convencidos que, no dia em que
se decidam a casar-se, encontrarão com. facilidade a rapariga dos
seus sonhos, no que se iludem. Nem sempre é fácil descobrir a
rapariga que possua as qualidades que permitam aos corações
expandir-se na intimidade do lar. É necessária perspicácia e
preocupações morais para descobrix\ o valor duma alma, para além
das aparências e dos encantos corporais. Quantos jovens se têm
enganado e lamentam por toda a vida terem-se deixado seduzir
pela beleza duma mulher!
Para as raparigas, o perigo é a ideia fixa do casamento. Esta
ideia fixa cria nelas uma verdadeira psicose, que as leva a procurar
a companhia dos rapazes, a entregarem-se a toda a espécie de
hábeis manobras para lhes
agradar, a não temer iniciar namoros perigosos, na esperança de
conquistar o coração de algum. Que valor moral
RAPAZES E RAPARIGAS 13X

poderá ter um casamento arranjado em tais condições? A maior


parte das vezes, terminará nas piores desilusões. As que confiam
num divórcio possível, acrescentam à sua imprudência uma grave

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RELAÇÕES ENTRE
falta contra a moral familiar e tiram antecipadamente à sua união
todo o valor espiritual e religioso.

O casamento não é um jogo. mas sim uma vocação.


Não é assegurar o seu êxito moral e espiritual entregar-se, durante
os anos da adolescência, a toda a espécie de manobras destinadas a
excitar os sentidos e a perturbar a imaginação.
Se é natural que cada um dos sexos observe o outro para
melhor o conhecer e assim reduzir, na hora da escolha definitiva,
os riscos de engano, não é menos verdadeiro que o coração só
conservará todo o seu potencial de amor se tiver sido preservado
das aventuras sentimentais mais ou menos mescladas de egoísmo,
de amor próprio ou de sensualidade.
É um erro pensar que o amor só se manifesta no dia em que
as circunstâncias colocam uma em frente da outra as duas pessoas
destinadas a unirem-se. Por pouco que
·tenham compreendido o seu valor espiritual. os candi-

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2
13 P." JEAN VIOLLET

datas ao casamento terão começado a amar a pessoa que lhes foi


destinada, antes de a conhecerem. Ter-lhe-ão
antecipadamente reservado todos os seus sentimentos e esforçado
por conquistar as qualidades susceptíveis de dar ao amor todo o seu
valor e de enriquecer a comunidade conjugal.
A partir de então, terão cuidado nas suas relações, banindo
corajosamente todas as que possam falsear o seu ideal ou arrastá-
los para faltas que apenas seriam motivo de remorso e de pena no
dia em que encontrassem o verdadeiro amor.
Viverão numa espectativa iluminada pelas esperanças futuras,
não permitindo que o seu coração fale senão no dia em que se
encontrem na presença daquele ou daquela que lhes pareça ter sido
enviado pela própria Providência.
Tendo compreendido que o amor não se confunde com a
união dos corpos, e que· esta só é legítima quando é a expressão da
união mais íntima dos corações, ter-se-ão recusado, corajosamente,
durante a adolescência, a toda a espécie de intimidades, de carícias,
de beijos e familiaridades de toda a natureza, susceptíveis de
despertar o apetite carnal. Se o seu ser sensível teve muitas vezes a
obrigação de aceitar os sacrifícios impostos pelo seu ideal moral,
ofereceram estes como uma preparação para a futura recepção das
graças que devem dar ao seu amor

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RELAÇÕES ENTRE
RAPAZES E RAPARIGAS 133

todo o valor espiritual e obter para seus filhos as forças morais que,
naturalmente, os orientarão para o bem.
Tendo compreendido que o amor é a fusão de dois seres num
só, a harmonia de dois corações no mesmo ideal, terão tido o
cuidado de nunca caírem em aventuras sentimentais que, dando-
lhes a ilusão do amor, antecipa
damente destruirão a unidade a que aspiram e, com razão, lhes
aparece como uma consagração única e definitiva.

Pensando sempre na pessoa a que, de antemão, dedicaram um


culto exclusivo, não podem suportar conversas durante as quais os
adolescentes parecem comprazer-se em aviltar o outro sexo por
melo de alusOes cheias de grosseiros sub-entendidos. A delicadeza
dos seus sentimentos f-los compreender que devem sempre
comportar-se como se a pessoa que um dia virão a desposar lhes
pudesse ouvir as conversas. Para se adaptarem ao ideal moral que
ela representa, cuidam das suas atitudes
e dos seus gestos como se ela estivesse presente para os julgar.
O que é verdadeiro para as conversas e gestos é-o também
para as companhias. Escolhem-as, num e noutro

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4
13 P." JEAN VIOLLET

sexo, da maneira que nunca sejam motivo de perturba ção ou de


tentação, mas sim, pelo contrário, para que os ajudem a manter a
nobreza das suas aspirações senti mentais.
Porque, na rapariga, o amor é um dom total. ela cuida de
preparar o seu coração para todas as exigências dum devotamento
sem limites. Preparase para o seu papel de esposa e de mãe,
multiplicando as ocasiões de se devotar, sem qualquer preocupação
de amor próprio.
Como a mulher necessita de protecção e só se en trega
quando tem confiança, o rapaz preparase para o seu papel de
marido e de pai, desenvolvendo em si, ao máximo, o espírito
cavalheiresco, que se confunde com a vontade de, nunca as
enganando, consagrar as suas
forças aos que necessitam de apoio.

Uma vocação só tem valor se estiver em conformi dade com a


lei moral que a rege. Por vir de Deus, é como que uma aplicação
particular da lei da caridade, na me dida em que esta é a lei
soberana que resume e leva -:-a efeito todas as outras.
Para se prepararem bem para a sua vocação, os que

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RELAÇÕES ENTRE
RAPAZES E RAPARIGAS 135

se destinam ao casamento devem premunirse contra as doutrinas,


hoje tão espalhadas, que querem nada: menos que destruir as leis
morais que presidem aos destinos espirituais da família, quer
justificando o divórcio, quer preconizando a limitação voluntária
dos filhos, por meio da fraude conjugal.
Só o conseguirão desenvolvendo em si, ao máximo, o espírito
de generosidade. Por, durante os anos da adolescência, não terem
sabido criar este espírito, serão incapazes de se adaptarem às
exigências da lei moral e de aceitar os sacrifícios que pràticamente
lhes correspondem.

Os grandes anos de formação e preparação que são os da


adolescência, só produzirão os seus efeitos se forem
acompanhados pela graça divina.
S necessário que Deus esteja intimamente presente na vida
dos adolescentes, para os ajudar a triunfar da sua própria natureza e
a frustrar as manhas as tenta
ções do espírito do mal.

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6
Por custoso que, por vezes, num adolescente deslumbrado
pelas forças novas que descobre em si, seja o hâblto da oração, deve
sujeitar-se a orar todos os dias e dlrlnlr
13 P." JEAN VIOLLET

as suas orações no sentido da sua vocação. Sem pretender impor a


Deus um plano de vida de preferência a outro, sem exigir a
supressão dos sacrifícios pedidos pela lei da perfeição, confiase à

sua divina providência e pedelhe com perseverança, que nele


realize os seus desígnios, isto é, que o conduza para a vocação que,
para cada um, preparou, para toda a eternidade.
A recepção dos sacramentos deve ser tanto mais frequente
nos adolescentes quanto mais numerosos e mais graves forem os
perigos que corram.
Pela confissão, os adolescentes não pedirão apenas a Jesus
Cristo que lhes cure as chagas que receberam durante a batalha,
mas descobrirão as tendências que. mais ou menos
conscientemente os poderiam fazer cair na tentação e no pecado.
Cônscios da sua fraqueza, pedirão a Jesus Cristo, no
sacramento da sua presença real, que os ajude a triunfar de si
mesmos e que deposite no seu coração o amor que ilumina e
abrange todos os outros.
Por terem sabido desenvolver neles a fé, a confiança e a
caridade, resistirão corajosamente às tentações do ambiente social e
serão os pioneiros da renovação social e religiosa da família.

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RELAÇÕES ENTRE

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,

INDICE

PA.G.
INTRODUÇAO 7

I - RAPAZES E RAPARIGAS NA VIDA FAMI


I.IA!? 11
..
11 · OCITUOS TEMPOS, OUTROS COSTUNES 21

111 /NC :OMPREENSAO MGTUA DE PAIS E FI


/.//08. GERAÇA.O DE ONTEM E GERAÇA.O
I )JC AMANHA. 31
IV IWIWiiNIR PARA GUIAR 39

v ( ) Jl/11 )0/? 53 63

Vl -· · A l lAN(.:A 69

Vll -- /1/UN< .'AI JCW?AS DE MA.OS. .. 75

Vlll - O NAMUN(> 89

IX -· /J/.'i'/'/MI ::(')1\S E óCIOS 107

X - NAS 1 1/lft :INA.S E ESCRITóRIOS


117. ..
..
XI - NA.'i Wit '0/.A.'i E UNIVERSIDADES

XII - A IW/It'A.'AO IJO HOMEM PELA MULHER


121

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r
B A I M Mt/1.//UN PELO HOMEM 129

XIII -A I'AMINIIO 1>0 CASAMENTO

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