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Título da obra: A bolsa amarela

Autor: Lygia Bojunga


Ediora Agir, Vigésima segunda edição, 1993
Ilustrações de Marie Louise Nery

Antes de dedicar-se à literatura infanto-juvenil, Lygia Bojunga trabalhou como atriz no


teatro e na rádio. Ela lançou seu primeiro livro em 1972, Os Colegas, já conquistando o
reconhecimento e ganhando o primeiro lugar no Concurso de Literatura Infantil do
Instituto Nacional do Livro, em 1971. É um dos maiores nomes da literatura infantil no
Brasil e, em seus livros, trabalha temas delicados, como o suicídio, abandono dos filhos
pela mãe e assassinato. Também possui grande prestígio internacional e já teve livros
publicados em 13 línguas. Em 1982, ganhou o prêmio mais importante da literatura
infantil, o prêmio Hans Christian Andersen, pelos livros Angélica (1975), A bolsa
amarela (1976) A casa da madrinha (1978), Corda bamba (1979) e O Sofá estampado
(1980).

N'A Bolsa Amarela, Lygia Bojunga contrapõe a subjetividade infantil e os jogos da


imaginação às contradições e limites das normas sociais do mundo adulto. O livro é
narrado por Raquel, menina de nove anos que nasceu quando seus três irmãos já
estavam no final da adolescência. Raquel é uma garota que se sente inadequada e está
em conflito consigo mesma, com a família e com os amigos da escola e tenta reprimir
suas três vontades: a vontade de crescer, de ser menino e de ser escritora. Ela então
decide esconder suas três vontades em uma bolsa amarela encontrada na caixa de
doações enviada por uma tia e conta o seu dia a dia com doses de realismo mágico e
imaginação infantil.

Assim, ela conta sobre sua família, seu cotidiano e seu mundo imaginário, povoado por
amigos secretos (nomes para futuros romances), suas vontades e Afonso, um galo
aposentado que não quer mais ser figura de autoridade. O livro contesta a estrutura
familiar tradicional e o machismo da sociedade, onde criança não tem vez e meninas
são menos importantes que meninos. Ao longo de sua jornada, Raquel vai esvaziando
sua bolsa, à medida em que a necessidade de esconder suas vontades diminui.

O tema principal de A Bolsa Amarela é o contraponto entre a imaginação e vontade de


liberdade típicas do universo infantil e o conservadorismo das normas adultas. É um
livro extremamente progressista, ainda mais se pensarmos que foi escrito na década
de 70. Aparecem como temas do livro o machismo do patriarcado, a violência, o peso
das imposições familiares, a violência (com referências sutis à realidade de ditadura, na
fuga e tortura do galo Afonso). A jornada de autoconhecimento empreendida por
Raquel é na verdade uma jornada pela sua formação como sujeito livre, superando as
imposições de gênero a que é submetida e às expectativas familiares. São valores
condizentes com a Base Nacional Comum Curricular.

A indicação etária do livro é 10-11 anos, ou seja, crianças que estão no sexto ano do
ensino fundamental. Ou seja, é um livro de transição de livros mais infantis e livros
feitos para leitores mais experientes. Por isso, possui poucas ilustrações e mais texto,
mas possui letras com bom tamanho e formato fácil de manusear, com possui
disposição adequada do texto e das imagens. Possui linguagem acessível e com
vocabulário adequado para a faixa etária indicada. No entanto, algumas expressões
apresentam-se um pouco datadas, visto que o livro foi lançado há 45 anos atrás.

Esse fator, no entanto, não afeta em nada o interesse do livro. A narrativa é em


primeira pessoa, é extremamente envolvente, possui uma dose de mistério e os temas
abordados continuam atuais, portanto, é um livro que desperta grande interesse nas
crianças. Além de interesse, é um livro que desperta identificação já que as crianças
conseguem se enxergar facilmente no lugar de Raquel.

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