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CAMPINAS
2017
ANDRÉIA SANCHEZ MORONI
CAMPINAS,
2017
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CAPES, BEX 4567-14-5; CNPq,
141414/2013-8
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0422-5931
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas Biblioteca
do Instituto de Estudos da Linguagem
Crisllene Queiroz Custódio - CRB 8/8624
Nelson Viana
IEL/UNICAMP
2017
Nesta tese pretendo descrever uma pesquisa cujo objetivo foi conhecer e interpretar
as representações de um grupo de adultos vinculados à Associação de Pais de
Brasileirinhos na Catalunha (APBC) sobre as políticas linguísticas familiares e
institucionais relativas ao Português como Língua de Herança (PLH) nesse contexto.
Para tanto, fez-se uso de subsídios advindos da Linguística Aplicada brasileira e da
Sociolinguística catalã, áreas de estudo interdisciplinares. O PLH, isto é, o português
usado por brasileiros emigrados quando ainda crianças ou jovens, ou por filhos de
brasileiros nascidos fora do Brasil, se caracteriza por derivar de deslocamento
geográfico e por ser língua minoritária em contato com a(s) língua(s) majoritária(s)
da sociedade de acolhida. Seu aprendizado é intermitente e costuma se dar no
interior da família, de modo informal e, em geral, pouco sistematizado. Os
procedimentos metodológicos utilizados na investigação incluíram (i) questionários
aplicados a um grupo de pais e professoras da instituição; (ii) entrevistas
semiestruturadas, gravadas em áudio, com esses participantes da pesquisa; (iii)
gravação de discussão ocorrida em um grupo focal com alguns desses sujeitos e (iv)
observação participante de algumas das atividades desenvolvidas na APBC. Exceto
pelos questionários, esse conjunto de dados foi analisado de uma perspectiva
qualitativa. O aparato teórico utilizado como suporte para a análise desse corpus
incluiu, dentre outras, reflexões sobre afetividade e multilinguismo (PAVLENKO,
2005), repertórios linguísticos (BUSCH, 2012), práticas translíngues (GARCIA, 2009;
CANAGARAJAH, 2013) e políticas linguísticas (SPOLSKY, 2012; 2004). O corpus
analisado sugere – ou corrobora achados já apontados em estudos anteriores – que
(1) os níveis de fluência em PLH considerados nesse tipo de contexto tendem a ser
bastante heterogêneos: eles compreendem desde entender um pouco do que é dito
na língua a usá-la com desenvoltura em registros cultos; (2) o perfil do que se
considera “usuário de língua de herança” se relaciona não apenas com o
conhecimento da língua, mas, também, com o sentimento de
identificação/pertencimento à cultura e nacionalidade do grupo que a usa; (3) a
questão da afetividade emerge e determina muitas das relações construídas entre
usuários de PLH. Observou-se ainda que a especificidade da sociedade de acolhida
pode ser um fator determinante no modo como as ideologias linguísticas das
famílias operam nesses contextos. Neste caso específico, em que o catalão opera
como língua cooficial da Catalunha, ao lado do espanhol, parece haver uma
tendência das famílias a valorizar o bi/plurilinguismo de seus filhos e o PLH é parte
do que faz com que as crianças sejam identificadas como plurilíngues. Os dados
analisados também parecem evidenciar que o papel dos progenitores não brasileiros
do estudo tende a ser decisivo no processo de transmissão de PLH, mesmo quando
eles não são fluentes em português. Por último, importa ressaltar que, em diversos
momentos, as representações de falantes de PLH analisadas se aproximam mais
dos paradigmas do que seria o cidadão global plurilíngue (JAFFE, 2012) do que
daqueles que remetem ao cidadão nacional monolíngue, algo que nem sempre é
percebido pelos progenitores participantes da pesquisa em pauta.
In this thesis I intend to describe a research whose objective was to know and
interpret the representations of a group of adults associated to the Associação de
Pais de Brasileirinhos na Catalunha (APBC) on the language policies, both familiar
and institutional, related to Portuguese as Heritage Language (PHL) in this context.
For this, subsidies were used from the Brazilian Applied Linguistics and Catalan
Sociolinguistics, interdisciplinary fields of study. PHL, that is, Portuguese language
used by Brazilian emigrated in their childhood or adolescence, or by children of
Brazilian parents born outside Brazil, is characterized for being a consequence of a
geographical displacement, and by the fact that it is a minority language in contact
with the majority language(s) of the host society. The learning of this language is
intermittent and generally takes place inside the family, informally, and, in general,
with little systematization. The methodological procedures used in the investigation
included (i) questionnaires applied to a group of parents and teachers of the
institution; (ii) semi-structured interviews, recorded in audio, with the research
participants; (iii) recording of the discussion held in through focus group procedure
with some of these individuals and (iv) participant observation in some activities
conducted at APBC. Except for the questionnaires, this set of data was analyzed
from a qualitative perspective. The theoretical apparatus used as a support for the
analysis of this corpus included reflections, among others, on affectivity and
multilingualism (PAVLENKO, 2005), linguistic repertoires (BUSCH, 2012),
translanguaging practices (GARCIA, 2009; CANAGARAJAH, 2013) and language
policies (SPOLSKY, 2012; 2004). The corpus analyzed suggests – or corroborates
findings mentioned in previous studies – that (1) the levels of fluency in PLH
considered in this type of context tend to be quite heterogeneous: they go from
understanding a little what is said in the language to using it proficiently in formal
registers; (2) the profile of what is considered a “heritage language user” is related
not only to the knowledge of the language itself, but also with the feeling of
identification/belonging to the culture and nationality of the group using the language;
(3) the question of affectivity emerges and determines many of the relationships built
among users of PLH. It was also observed that the specificity of the host society may
be a determining factor in the way the linguistic ideologies of the families operate in
these contexts: in this specific case, in which Catalan operates as a co-official
language of Catalonia, besides Spanish, there seems to be a tendency for families to
value bi/plurilingualism of their children, and PLH comes in as part of what makes
these children be identified as plurilingual. The data analysis also seem to suggest
that the role of non-Brazilian parents in the study tend to be decisive in the process of
transmission of PLH, even when they are not fluent in Portuguese. Lastly, it is
important to highlight that in several moments the representations of PLH speakers
analyzed are closer to the paradigms of the plurilingual global citizen (JAFFE, 2012)
than to those referring to the monolingual national citizen, an aspect that is not
always perceived by the parents participating in this research.
En questa tesi pretenc descriure una recerca l’objectiu de la qual ha estat conèixer i
interpretar les representacions d’un grup d’adults vinculats a l’Associação de Pais de
Brasileirinhos na Catalunha (APBC) pel que fa a les seves polítiques lingüístiques
familiars i institucionals relatives al Portuguès com a Llengua Heretada (PLH). Per
tant, s’ha fet ús de les aportacions de la Lingüística Aplicada brasilera i de la
Sociolingüística catalana, àrees d’estudi interdisciplinàries. El PLH, això és, el
portuguès fet servir per brasilers emigrats quan encara eren infants o joves, o per
fills de brasilers nascuts fora del Brasil, es caracteritza per derivar del desplaçament
geogràfic i per ser una llengua minoritària en contacte amb les llengües majoritàries
de la societat d’acollida. El seu aprenentatge és intermitent i acostuma a
desenvolupar-se en el si de la família de manera informal i, en general, poc
sistematitzada. Els procediments metodològics emprats en la investigació han inclòs
(i) qüestionaris aplicats a un grup de pares i professores de la institució; (ii)
entrevistes semiestructurades, gravades en àudio, amb els participants de la
recerca; (iii) gravació de la discussió duta a terme en un grup focal i (iv) l’observació
activa d’algunes de les activitats desenvolupades a l’APBC. Exceptuant-ne els
qüestionaris, aquest conjunt de dades ha estat analitzat des d’una perspectiva
qualitativa. L’aparell teòric emprat com a suport per a l’anàlisi d’aquest corpus inclou,
entre d’altres, reflexions sobre afectivitat i multilingüisme (PAVLENKO, 2005),
repertoris lingüístics (BUSCH, 2012), pràctiques translingüístiques (GARCIA, 2009;
CANAGARAJAH, 2013) i polítiques lingüístiques (SPOLSKY, 2012; 2004). El corpus
analitzat suggereix – o corrobora troballes ja apuntades en estudis anteriors – que
(1) els nivells de fluïdesa en PLH considerats en aquesta mena de context tendeixen
a ser prou heterogenis: comprenen des d’entendre una mica el que es diu en la
llengua fins a fer-la servir amb desimboltura en registres cultes; (2) el perfil del que
es considera “usuari de llengua heretada” es relaciona no només amb un
coneixement de la llengua, sinó que també es lliga amb el sentiment
d’identificació/pertinença a la cultura i nacionalitat del grup que l’empra; (3) la qüestió
de l’afectivitat emergeix i determina moltes de les relacions construïdes entre usuaris
de PLH. S’ha observat que l’especificitat de la societat d’acollida pot ser un factor
determinant en la manera com les ideologies lingüístiques de les famílies operen en
aquests contextos. En el nostre cas específic, en què el català és llengua cooficial de
Catalunya, al costat del castellà, sembla haver-hi una tendència de les famílies a
valorar el bi/plurilingüisme dels seus fills, i el PLH formaria part del repertori lingüístic
que aconsegueix que els infants siguin identificats com a plurilingües. Les dades
analitzades també semblen palesar que el paper dels progenitors no brasilers de
l’estudi tendeix a ser decisiu en el procés de transmissió del PLH, encara que
aquests no tinguin un nivell fluid de portuguès. En darrer lloc, cal ressaltar que, en
diversos moments, les representacions de parlants de PLH analitzades s’aproximen
més als paradigmes del que seria un ciutadà global plurilingüe (JAFFE, 2012) que no
pas a aquells que remeten al ciutadà nacional monolingüe, cosa que no sempre és
percebuda pels progenitors que han participat en la recerca.
Aniversário
clássico que vi no palco, o Bolshoi, o New York City Ballet – e não posso evitar
um sorriso de canto de olho ao lembrar que Misty Copeland, a atual primeira
bailarina do American Ballet Theatre, é a primeira mulher negra a conquistar
esse cargo. Nadia deve ter sido muito bonita quando jovem.
Sento num banco de madeira encostado à parede, pois estou
cansada, a semana foi corrida. Outra família chega à festa e uma jovem latina
simpática e sorridente se senta ao meu lado. Ela puxa conversa. Me pergunta
quem são meus filhos, me mostra quais são os seus: Emily e Juan. Emily,
assim como Ivana, está na mesma classe que Nico e também tem sete anos.
Juan tem cinco. Ela me pergunta, sem constrangimento e com um sorriso de
orelha a orelha, quantos anos tenho, dizendo que pareço jovem. Digo que
tenho 34. “Ah, não parece, parece menos”, ela diz, risonha, os dentes
alinhados, e eu agradeço a gentileza. Aproveito a oportunidade para perguntar
sua idade. Trinta anos, ela me diz. E acrescenta, lançando um olhar
despreocupado para um homem alto, as costas largas dentro de um paletó,
que se encontra parado a dois passos dali: “O Joan tem 55. Mas não me
importo”, diz ela, como que se adiantando a possíveis questionamentos sobre a
grande diferença de idade entre o casal, uma situação com a qual deve
deparar com certa frequência. Joan é o marido dela, Cristina, equatoriana, e,
pelo nome, concluo que ele é catalão. “O importante é que vocês estejam
bem”, eu digo. E, sim, eles parecem estar bem: Cristina sorri o tempo todo, é
atenciosa com Joan; Joan está presente numa festa infantil acompanhando os
filhos, interagindo com os dois e conversando com as outras famílias com que
parece estar habituado a conviver.
Faço contas e calculo que Cristina deveria ter 23 anos quando Emily
nasceu. Isso, mais algum tempo de relacionamento com um homem catalão 25
anos mais velho – ou uma gravidez acidental – levaria mais gente a pensar que
essa bela e jovem mulher latina na verdade talvez fosse uma oportunista em
busca de um marido que lhe mantivesse e resolvesse a questão prática de ter
um visto para imigração, além do aspecto financeiro. Volto a consultar
mentalmente minhas reminiscências do estudo sobre as migrantes por amor.
Sim, há mulheres muito jovens que desejam constituir família e valorizam num
pretendente qualidades como estabilidade econômica e ser um bom pai. E,
sim, também há homens espanhóis maduros, beirando a meia-idade, às vezes
23
vira em qualquer situação. Talvez cada um pudesse falar sua língua neste
momento, mas vigora uma convenção social de que a língua a usar no grupo é
o castelhano.
E assim foi o aniversário de Nico. Nico, que fez sete anos, tem
passaporte espanhol e esse círculo de amigos, alguns dos quais conheceu na
sua escola, que não é de elite, mas uma escola pública, do bairro, considerada
desprestigiada e com poucos recursos, caracterizada (estigmatizada?) por
receber um grande fluxo de alunos imigrantes – apenas porque a direção e a
Associação de Pais não sabem das maravilhas que ocorrem nas festas de
aniversário de seus alunos. Nico que, tecnicamente, é espanhol, e festejou
num espaço pequeno, exclusivo, administrado de modo coletivo pelos
profissionais que trabalham no coworking, como sua mãe, mas também
afetivamente construído por ele, onde os espanhóis eram minoria – mas que
bem poderia ser um parque público. A maioria, aqui, é todo o resto: o
superdiverso, o heterogêneo, o que se deslocou e se deixou deslocar.
Feliz aniversário, Nico, e uma feliz vida – na medida em que a vida
pode ser feliz pra quem fica e pra quem se vai, para os que procuram ser iguais
e os que desejam a diferença, para quem tem voz e quem precisa ficar calado.
Que você possa encontrar a felicidade assim, em espaços de diversidade,
trocas, tolerância e respeito, como aqueles com que seus pais querem te
presentear e fazer presentes em seu dia a dia, tal qual esta ótima festa do seu
sétimo aniversário. Obrigada por ter nos convidado.
28
1
Em alguns contextos, também se utiliza a sigla “POLH” para se referir a “Português como
Língua de Herança” – ver, por exemplo, Souza (2016b).
2
Destaco a opção de utilizar “famílias de brasileiros”, e não “famílias brasileiras”: as famílias de
brasileiros são famílias em que o pai e/ou a mãe da criança é brasileiro/a, e reflete melhor o
perfil de famílias da APBC, de casais de diferentes nacionalidades (às vezes, com famílias
monoparentais).
29
3
A terminologia “transmissão” é bastante utilizada nas discussões de PLH. Não se trata,
porém, de pensar a língua como algo pronto ou como um patrimônio que pode ser entregue ou
transmitido juridicamente aos “herdeiros” para ser simplesmente usado, como se tal atitude
bastasse. A transmissão de uma língua de herança pode requerer muito esforço, tanto de
quem ensina como de quem aprende, assim como o ensino de uma língua estrangeira em sala
de aula. Transmissão, no contexto de LH, se refere a essa maneira de ensinar a língua que
ocorre a partir de situações cotidianas, de interações reais, normalmente entre os membros do
núcleo familiar – mas podendo se expandir à comunidade de fala – desde a mais tenra idade
do aprendiz (ou falante).
30
4
Para conveniência do leitor, as citações das obras publicadas em língua estrangeira são
apresentadas em português. A tradução desses trechos foi feita por mim.
33
Questionário
Embora este não constitua o principal procedimento metodológico
para geração de dados, um questionário (ver Anexo II) foi aplicado aos
participantes antes do início da entrevista. O propósito das perguntas era o de
coletar informações objetivas sobre origem, situação familiar, tempo de
residência na Catalunha, línguas faladas etc. A intenção do questionário era
34
5
Os participantes do grupo focal que não haviam sido entrevistados (e, portanto, não haviam
respondido o questionário antes da entrevista) também o responderam antes de sua
participação no grupo focal. Assim, seus dados foram considerados ao se traçar o perfil do
grupo (ver Capítulo 4).
35
Grupo focal
O grupo focal foi utilizado como um procedimento complementar às
entrevistas, tendo por objetivo encontrar coincidências (ou não) entre
enunciados e pontos de vista expressos nas entrevistas, já que se configura
como uma ferramenta que permite reconstruir as opiniões individuais (FLICK,
2009).
No caso desta pesquisa, como o grupo de discussão seria formado
com membros da APBC, que já constituíam um grupo real, as pessoas partiram
de uma história de interações compartilhadas em relação aos assuntos em
discussão. Isso permitiu um estudo mais próximo das situações cotidianas de
vida real das atitudes, opiniões e práticas sociais, que talvez não pudessem ser
observadas unicamente com entrevistas individuais ou observações.
O grupo focal, mediado por mim e com cerca de uma hora de
duração, teve a participação de nove adultos, seis dos quais haviam sido
entrevistados individualmente. Como estímulo para a discussão do grupo,
foram apresentados alguns enunciados sobre os usos e definições do PLH, por
exemplo: “Meu filho fala menos português que eu gostaria e me sinto
frustrado”, bem como sobre as práticas da APBC, e pedi aos participantes que
se manifestassem se estavam de acordo ou não para iniciar a conversa,
frisando que não havia respostas certas ou erradas, e o propósito era levar a
cabo uma discussão sobre questões relacionadas ao PLH. Neste caso, a
metodologia de registro foi a gravação em áudio e vídeo (gravador digital +
iPad), pois, numa situação em que muitos sujeitos interagem, os dados visuais
poderiam ser fundamentais para a compreensão do contexto na etapa de
triagem e análise dos dados.
6
O Sandaru é um espaço da prefeitura de Barcelona e faz parte de uma rede de 51 centros
cívicos municipais, os quais oferecem atividades de cultura e lazer direcionadas à população
do bairro em que se situam. Algumas atividades são gratuitas, outras, pagas, entre as quais se
destacam shows, espetáculos e oficinas trimestrais de idiomas, dança, canto, teatro, música,
cultura ou esportes para todas as idades, incluindo bebês e terceira idade. Em geral, os centros
cívicos têm autonomia para escolher as atividades que incluirão em sua programação.
Também oferecem espaços e equipamentos que podem ser alugados por pessoas ou grupos.
37
7
Sobre a relevância dos registros autobiográficos para compreender as questões relacionadas
às línguas em contato, processos de substituição linguística ou línguas de herança, vale
mencionar o Concurso de (Auto)biografias Linguísticas organizado, entre outros, pelo Grupo de
Estudos de Línguas Ameaçadas (Grup d’Estudi de Llengües Amenaçades, GELA) da
Universidade de Barcelona (UB), que reconhece a importância dessas narrativas, contadas por
escrito ou com a ajuda de outros suportes audiovisuais, com a intenção de criar um fundo
documental de livre acesso que possa ser utilizado em atividades como “[...] simpósios,
oficinas, atividades didáticas etc.”. (GRUP D’ESTUDI DE LLENGÜES AMENAÇADES DE LA
UNIVERSITAT DE BARCELONA, 2015). Também o grupo de pesquisa Plurilinguismos
Escolares e Aprendizagem de Línguas (Plurilingüismos Escolares y Aprendizaje de Lenguas,
PLURAL), da Faculdade de Educação da UB, inclui entre seus temas de pesquisa “Textos
reflexivos: relatos de vida linguística”. (PLURILINGÜISMOS ESCOLARES Y APRENDIZAJE
DE LENGUAS - PLURAL, 2017)
8
Faço uma distinção entre os contextos de ensino de língua em sala de aula – ensino – e
aqueles de imersão ou em que a língua se aprende num contexto de situações comunicativas
reais experimentadas a partir das necessidades colocadas pelo entorno – transmissão.
“Aprendiz” (learner, em inglês) é o termo utilizado na bibliografia para se referir àqueles que
aprendem uma LH, em oposição ao termo “aluno” (student), geralmente utilizado quando se
fala de ensino de língua estrangeira em sala de aula.
42
input recebido na LH varie caso a caso por uma série de fatores, como não
considerar as dimensões afetivas nos caminhos e percalços do PLH?
Nesse cenário, o PLH é parte da materialidade linguística em que
ocorrem as interações entre mãe, pai ou outros sujeitos desse núcleo e o bebê,
e talvez entre os próprios sujeitos, e, posteriormente, entre tais sujeitos e a
criança, e fará parte das experiências emocionais que a constituirão.
Isso, como explica Pavlenko (2005), marca uma diferença na
maneira como a emotividade pode se manifestar para os aprendizes de uma
LH, cujo aprendizado começa em casa, em “contextos naturais” que fazem com
que as palavras sejam processadas também por “canais afetivos”, num
processo verdadeiramente diferente daquele do aprendizado de uma língua
estrangeira (LE) em sala de aula, que não está necessariamente integrado a
associações emocionais:
9
Por gerar mal-entendidos constantes quando utilizada em discussões de PLH, “língua
materna” é uma expressão que prefiro evitar. Nesse caso, ao me referir à língua falada pelos
pais de um falante de língua de herança, prefiro a terminologia adotada por Fukuda (2011):
língua inicial.
44
10
Ressalto que os contextos de PLH não são exclusivamente brasileiros, mas dizem respeito
também aos relacionados às comunidades oriundas de outras regiões de língua portuguesa
46
deslocadas pelas migrações. No entanto, para efeitos de minha pesquisa, delimito o universo
do PLH dentro das comunidades brasileiras emigradas. Essa questão é retomada no
Capítulo 2.
47
11
Das 15 entrevistas individuais da pesquisa, 13 foram realizadas antes de que eu ocupasse o
cargo de Presidente na instituição.
49
pelo que ela mesma desejava ensinar ao próprio filho.12 Não posso deixar de
me perguntar por que a história não é outra: por que, com a proliferação das
franquias de ensino de idiomas no Brasil, não predominam as franquias para o
ensino de PLH no exterior, e sim majoritariamente iniciativas da sociedade
civil? Por que o ensino dessa língua de herança é protagonizado por mães, e
não por educadores e empresários, por exemplo?
Observo algo parecido quando me debruço sobre o conhecimento
acadêmico que vem sendo produzido em torno do PLH, já que parte importante
do que tem sido dito e escrito sobre o tema é produzido por mulheres, uma
parte das quais se aproximou do tema, como já dito, graças à maternidade. Sei
disso não pelo que li em seus artigos ou capítulos de livros publicados, mas
porque, nas oportunidades que tive de conhecê-las pessoalmente, o PLH, a
academia e a vida são uma só e fala-se de filhos como fala-se de pesquisas.
Evidentemente, nem todas têm filhos e a maternidade ou o gênero
não são em si fatores de mérito ou de exclusão de uma pessoa ou pesquisador
das questões de PLH. Ainda assim, as que não têm filhos acabam falando dos
filhos dos outros, pois costumam ter vocação declarada de educadora e ser
professoras de PLH, estando acostumadas ao universo dessas crianças, suas
famílias, suas mães e pais. E me resulta impossível fechar os olhos a algo que
insisto em chamar de protagonismo feminino, a como o PLH pode redirecionar
identitariamente a trajetória dessas mulheres. Para um melhor entendimento
disso tudo, precisamos ter a sensibilidade de afinar nosso olhar.
12
Como exemplo, menciono o trabalho de Luzia Tanaka, no Projeto Construir/ARTEL – Oficina
Arte-Educação e Letramento em Osaka, Japão; o de Andréa Menescal, no Mala de Herança,
em Munique, Alemanha; o de Ana Lúcia Lico, na Associação Brasileira de Cultura e Educação
(ABRACE), na Virginia, EUA; o de Shirley Caldeira Nascimento, do Clube dos Canarinhos, em
Nantes, França; o de Magaly Dias de Quadros, d’A Hora do Conto em Dubai, nos Emirados
Árabes, entre outros.
51
13
“Falante de herança”, assim como “aprendiz de herança”, são termos bastante utilizados na
área de PLH. Não se referem a “falar” ou “aprender” uma “herança”, mas são, na verdade,
expressões em que há elipse e correspondem a “falante de língua de herança” e “aprendiz de
língua de herança”. Observe-se, ainda, que nem todos os “aprendizes de língua de herança”
falam a língua em questão – aspecto que será aprofundado no Capítulo 2.
53
15
No original, “reconhecimento do meio” = “ecological affordances”. “Affordance”, traduzido por
“reconhecimento”, é a qualidade de um objeto que permite ao indivíduo identificar sua
funcionalidade sem a necessidade de prévia explicação.
59
língua que prefere em cada situação. Por exemplo, como os presentes tinham
filhos, ao serem conhecedores da natureza da comunicação entre pais e filhos
– uma chamada de atenção, um alerta, uma observação ou o que for –,
puderam não se sentir desconfortáveis ao ver outros pais usando a língua
familiar com os filhos, pois conhecem ou imaginam do que podem estar
falando. Ou que, no caso dos pais que também usam uma língua familiar, os
mesmo gostariam de se sentir à vontade para usá-la com seus filhos, tendo
uma atitude de respeito quando outras famílias a usam. Outra possibilidade é
pensar que, como todos vivem numa sociedade que assegura direitos
linguísticos a uma segunda língua, o catalão, além do castelhano, reprimir ou
censurar o uso de uma língua minoritária não é socialmente bem visto ou
aceitável.
Em todo caso, a cena descrita é complexa, e, embora tais cenários
possam ser pensados e analisados a partir da teoria dos sistemas dinâmicos
ou da teoria do caos, talvez o mais importante seja ter a complexidade “como
uma perspectiva, não como um vocabulário compulsório ou modelo teórico”, a
qual proporciona “liberdade para imaginar”, em vez de uma obrigação de “se
submeter ao que há”, pois, metodologicamente, devemos aceitar a
“necessidade de novas imagens, metáforas e noções que cubram
adequadamente o que observamos” (BLOMMAERT, 2013, p. 8-10).
Reforçando os postulados de Blommaert encontra-se a teoria complèxica
(MASSIP e BASTARDAS, 2015), uma abordagem transdisciplinar que pode ser
aplicada à linguagem e, entre outros pontos, se empenha em desconstruir
conceitos binários, revê as relações entre parte e todo e considera aspectos
cognitivos, os quais incluem percepção, emoção e ação, como parte dos
sistemas a serem estudados – a qual se alinha aos paradigmas de pesquisa
feminista de Sprague e Zimmerman (2004).
O modo como me propus pensar o PLH e a APBC está, assim,
dentro da perspectiva da complexidade – e de suas possibilidades de
imaginação. Há muitos paralelos entre os usos linguísticos, o cenário afetivo,
as histórias de migração e mobilidade do aniversário de Nico e da APBC – com
seus incluídos e excluídos, suas práticas translinguísticas ou exemplos de
maternagem que pude observar, e sobre os quais retornarei mais
detalhadamente ao longo das próximas páginas.
60
À vista disso, creio ser possível afirmar, como vem sendo aventado
por diferentes autores, que as discussões propostas pela LA brasileira
encontram consonância com o que se conhece como Sociolinguística na
Catalunha, conforme entendido pelos pesquisadores do CUSC (BASTARDAS-
BOADA e MASSIP-BONET, 2013; BASTARDAS-BOADA, 2007; BASTARDAS-
BOADA, 1996; BOIX-FUSTER, 2009a; 2009b; BOIX-FUSTER e TORRENS
GUERINI, 2011; BOIX-FUSTER e VILA I MORENO, 1998; VILA I MORENO,
2004).
Trabalhos como o de Cardoso de Oliveira (2000; 2006) mostram
como o olhar da academia brasileira pode contribuir para pensar as questões
catalãs, sendo que o caminho inverso também ocorre. Citando caso análogo,
as contribuições da sociolinguística catalã e de periferia em pesquisas
brasileiras foram utilizadas, por exemplo, para refletir sobre o conceito de
conflitos sociolinguísticos na pesquisa de Maher (1996) sobre educação
indígena.
Dessa forma, quando utilizo o termo “Linguística Aplicada”, me refiro
à LA de tradição brasileira, crítica, e às correntes da LA que lhe são afins,
como descreve Pennycook (2010) ao refletir sobre os novos rumos da LA
australiana – para exemplificar com outras correntes internacionais, que trazem
uma abordagem aberta a questões de poder, desigualdade e diferença.
Por outro lado, quando utilizo o termo “Sociolinguística catalã”, me
refiro à definição de Boix-Fuster e Vila i Moreno (1998), que compreende
também as línguas com as quais o catalão está em contato (grifo dos autores):
16
Há uma série de definições para o conceito de “ideologia” – para uma discussão, ver, por
exemplo, Woolard (2012). Nesta pesquisa, trabalharei com a definição de Van Dijk: “as
ideologias são as crenças fundamentais de um grupo e de seus membros” (VAN DIJK, 2003, p.
14)
70
17
A própria expressão “língua de herança” é discutível: essa “língua”, como se verá, não é algo
que vem pronto, mas que deve ser construído. Nesse processo, que pode durar toda a vida, as
fronteiras sobre o que pertence a uma ou outra língua de um repertório linguístico plurilíngue
pode ser tênue ou difusa. “Herança”, por sua vez, apesar de remeter a um “legado”, também
pode levar ao (mal) entendimento de que tal “patrimônio” é recebido pronto. Como as próprias
áreas de estudo vem se consolidando com os nomes de “Língua de Herança” ou “Português
Língua de Herança”, estas são as expressões utilizadas ao longo da tese.
73
18
Reitero que o contexto de PLH no mundo não é exclusivamente brasileiro e compreende
outras comunidades provenientes de regiões onde se fala a língua portuguesa (e algumas
variantes crioulas), como Portugal, Açores, Cabo Verde etc. As iniciativas que trabalham com
PLH às vezes reúnem diversas nacionalidades, em outros casos, não – o que depende, em
parte, das especificidades da sociedade de acolhida. Por exemplo, na Finlândia, onde há um
programa nacional que oferece ensino na “língua materna”, crianças portuguesas, brasileiras,
cabo-verdeanas etc. frequentam as aulas juntas (PIIPO, 2016). Vale destacar, ainda,
importantes contribuições às pesquisas de PLH, por exemplo, por pesquisadores portugueses,
como Melo-Pfeifer (2016). Para efeitos de minha pesquisa, no entanto, optei por centrar-me
nas especificidades do contexto brasileiro.
76
19
Agradeço a Maria Badet Souza, Conselheira de Temas Sociais do Conselho de Cidadania do
Brasil em Barcelona (2014-2016) e porta-voz do Conselho de Cidadania de Barcelona junto ao
CRBE, pelos esclarecimentos sobre a evolução no processo de escolha dos representantes do
CRBE.
82
20
Para maiores informações sobre o exame CELPE-BRAS, ver Viana (2014).
83
21
Cada Consulado é responsável por submeter os projetos de sua jurisdição ao PDLC,
cabendo ao mesmo decidir se abrirá a chamada para receber projetos da comunidade de sua
jurisdição ou se enviará apenas projetos elaborados internamente.
22
A sigla “POLH” também é utilizada para se referir a “português como língua de herança”. Por
questões de consistência, optei por utilizar “PLH”, usando “POLH” apenas em nomes oficiais ou
em citações diretas.
84
23
Em Miami, a escola Ada Merritt oferece um currículo bilíngue em português e inglês. Embora
seja uma proposta de educação bilíngue aberta a qualquer interessado, seja de origem
brasileira ou não, e não especificamente de PLH, vale ser mencionada como opção procurada
por famílias que desejam transmitir o PLH.
88
pelo PLH e você também, eu sei em linhas gerais o que você propõe e aonde
quer chegar, e você deve saber o mesmo de mim.
Aos poucos, as redes sociais e a formação de comunidades virtuais
em torno desses “pontos de encontro” (sites, blogs e fan pages das iniciativas
no Facebook, Plataforma PLH etc.) permitiram que as iniciativas soubessem da
existência umas das outras, compartilhassem algumas questões, descobrissem
dúvidas similares, trocassem experiências. Grupos fechados começaram a ser
criados no Facebook, alguns para as famílias e colaboradores que frequentam
determinadas atividades e encontros, outros que reúnem representantes das
diferentes iniciativas, mais voltados à troca de experiências, como a Federação
de Iniciativas pelo PLH ou o Elo Europeu de Educadores de POLH. Depois de
começarem, essas “conversas” não cessaram mais.
Embora não seja possível mensurar o impacto de todo o trabalho de
divulgação realizado pela BEM desde o início, o qual inegavelmente influiu para
que o termo “PLH” se consolidasse como uma bandeira conhecida e
reivindicada em vários pontos do mundo, sabe-se que, no mês de fevereiro de
2015, a Plataforma Brasileirinhos teve mais de 35.000 visualizações. Cabe
ressaltar, ainda, que o trabalho da BEM de promoção do PLH, sob direção de
Felicia Jennings-Winterle, não se restringe à internet e às redes sociais. Em
2014, a BEM (2015b) criou o “Dia do Português como Língua de Herança”, 16
de maio, e vem fomentando a comemoração da data por iniciativas em todo o
mundo, as quais enviam registros das ações desenvolvidas (fotos, mensagens
etc.) para publicação na plataforma. O objetivo de criar a data era não só dar
visibilidade à causa, mas também “disseminar conceitos e práticas para
profissionais que trabalham com o PLH e enfrentam os desafios de entender e
atuar no ensino de língua-cultura diante de tantas variáveis complexas das
comunidades a que pertencem” (BRASIL EM MENTE, 2015b). Entre os que
aderiram à causa como embaixadores oficiais a convite da BEM, encontram-se
a escritora Ana Maria Machado, por exemplo.
Outra ação de destaque da BEM foi a criação do “Curso de
Capacitação de Professores e Demais Envolvidos em PLH”, em formato on-
line, que teve sua primeira edição no começo de 2014 e se encerrou com um
encontro presencial, a “I Conferência de PLH (CPLH)”, em Nova York com
participantes da Alemanha, Brasil, Canadá, Espanha, EUA, Japão e Nova
91
24
Como mencionado, desde 2011 alguns cursos de formação em PLH dirigidos a professores
começaram a ser realizados, inclusive na Europa, porporcionando a oportunidade dos
encontros presenciais. No entanto, não disponho de dados suficientes para valorar se,
previamente, os participantes já constituíam uma comunidade virtual, como no caso da BEM.
92
2.PLANO DE AÇÃO
25
Cabe mencionar o curso de Pedagogia oferecido à distância pela Universidade Federal do
Mato Grosso (UFMT) a brasileiros residentes no Japão. Entre agosto de 2009 e agosto de
2013, foi aberta esta turma especial, no qual se utilizou uma metodologia que incluiu encontros
presenciais com professores para oficinas e seminários regionais e nacionais. Embora se insira
no contexto de PLH, o caso japonês tem peculiaridades: o Japão é o único país estrangeiro
com escolas brasileiras reconhecidas pelo MEC. Longe de ser motivo de orgulho, tais escolas
são uma medida paliativa para acolher alunos de origem brasileira que não conseguem se
inserir de modo satisfatório no sistema escolar japonês. Este curso de Pedagogia foi oferecido
para melhorar a formação e oferta de professores para atuar nesses espaços.
95
(CHULATA, 2015) – que, não por acaso, se publicaram nos EUA e na Itália,
respectivamente, e não no Brasil – cujos capítulos foram escritos por algumas
lideranças que atuam em iniciativas ou academicamente em torno do PLH, ou
projetos como “O mundo pelos brasileirinhos” (do Elo Europeu) e “Dona Terra”
(da ONG Carlotas). Neles, iniciativas que trabalham com o formato de aulas
desenvolvem atividades em sala com as crianças e os alunos produzem
materiais como cartas, vídeos ou desenhos posteriormente trocados com outra
iniciativa, levando os aprendizes a interagir com brasileirinhos de outros pontos
do mundo e criando espaços nas aulas de PLH para falar também da cultura
local, não-brasileira, em que essas crianças se inserem.
Nos discursos em torno dos encontros presenciais, observa-se uma
tendência a que estejam dirigidos a um público-alvo de “professores e
profissionais” que atuam com PLH. Os objetivos e resultados desses
encontros, no entanto, como descrito na seção 1.2.5 sobre o curso de
capacitação em PLH oferecido pelo Consulado Geral de Madri em 2014,
podem levantar o questionamento de se direcionar tais cursos e encontros a
“professores e profissionais” realmente é o mais adequado. Consolidar o
trabalho de sala de aula é, sim, necessário, e os desafios são muitos, mas a
participação de envolvidos na transmissão e ensino de PLH em outras
instâncias – pais e representantes de iniciativas que trabalham com outros
modelos, que não o das aulas – tem sido uma constante. É necessário,
portanto, refletir se realmente os “professores” são o único público a ser
considerado nos encontros de capacitação para se atuar com PLH.
Em todo caso, os encontros presenciais, recebam o nome que for,
têm se mostrado importantes e tudo indica que continuarão a acontecer. São
esses eventos que caracterizam o momento atual do movimento pelo PLH, cujo
avanço recente está sintetizado na tabela a seguir.
96
que ele considera como “sua” –, pois é um dos traços culturais que permite aos
membros do grupo se identificarem como brasileiros. Ou, ainda, como
brasiliófilos: aqueles que, embora não construam uma representação de si
próprios como brasileiros, desejam participar das práticas culturais e dos usos
linguísticos desse grupo, pois se identificam com ele.
Ao pensar os processos de identificação dos promotores e falantes
de língua de herança com uma das línguas e com práticas culturais
identificadas como pertencentes ao Brasil, muito se fala em identidades e faz-
se necessário refletir sobre o que realmente essa “identidade brasileira”
significa. Embora as referências à “identidade brasileira” ou simplesmente
“identidade” nos discursos em torno do PLH sejam frequentes, devo ressaltar
que essa identidade brasileira é plural e está num constante processo de
construção e negociação.
Os brasileiros emigrados, articulados em torno do PLH, não provêm
todos da mesma zona geográfica: há uma diversidade de sotaques e
regionalismos no português que falam, de sabores na culinária que para eles é
“brasileira” e continua presente em seu cotidiano, de referentes musicais,
manifestações populares, práticas esportivas ou religiosas, enfim, há uma
pluralidade de modos de significar-se a si próprio e a suas experiências no
mundo. Mas há, também, um repertório compartilhado de práticas comuns nos
espaços de PLH (embora não necessariamente o sejam nas regiões ou
culturas de origem), que permite o processo de identificação (HALL, 2011). A
esse respeito, He (2010) destaca que a LH cumpre uma função sociocultural,
sendo não apenas um meio de comunicação, mas também de permitir que um
grupo se identifique através de diferentes elementos comuns, culturais,
expressos por meio da língua.
Embora não seja o objetivo deste trabalho discutir e discorrer de
forma aprofundada sobre os processos de identificação que permitem que
alguém se sinta “brasileiro”, parto de paradigmas de identidades pós-modernos
(BAUMAN, 2005), que rechaçam a tradição modernista homogeneizadora da
ideia de identidade nacional como algo sólido, estável, a ser adquirido por seus
cidadãos – tal como também defendem Burke (2003), Hall (2011) e
Canagarajah (2015). Paralelamente, um entendimento das questões de PLH
pede ainda que sejam desconstruídas relações determinísticas estabelecidas
98
Gui
Texto original:
Esi ano vo pasa u natau na ispany vo dar un present pro papai Noel y
pra mamai i papai eu sa botei a arvuri di natau cun meu irma Gui
i mina mamai i u e o papai ondi nosis a carta pero mas sei uma coisas
quievo pidi.
Vo pidi o vi di o tronic i crano bun...
FELIÇ NATAU
26
Foi obtido o TCLE para que a produção de texto de Daniel fosse utilizada na pesquisa. No
entanto, nem ele nem seus pais participaram de outros procedimentos de geração de dados,
101
dessa questão. Daniel tem nove anos, nasceu na Catalunha, é filho de pai e
mãe brasileiros, os quais sempre falaram em português com os filhos. Tem um
bom domínio oral do português, mas pouco contato com a língua escrita.
Começou a participar das aulas de língua e cultura do Brasil cerca de dois
meses e meio antes de ter escrito essa carta.
Nessa produção de texto, ele demonstrou ter entendido o enunciado
do professor (escrever um texto sobre o Natal), conhecer as tradições
brasileiras para a festividade (Papai Noel, árvore de Natal), diferentes das
catalãs27, e ter um bom vocabulário, usando, por exemplo, o verbo “sabotar”.
As soluções encontradas por ele para cumprir a tarefa são muito interessantes,
pois dão pistas de como os falantes de PLH utilizam recursos translinguísticos
para preencher as lacunas de seus conhecimentos em português. Assim,
Daniel recorre ao amplo repertório linguístico (BUSCH, 2012) de que dispõe e
faz uso de formas escritas do castelhano (inexistência de “ss”: “pasa”; uso do
“y” para a conjunção “e”), do catalão (a grafia de “feliç” está correta em catalão;
“ny”, que corresponde ao dígrafo “nh” do português, em “ispany”, cuja forma
correta seria “Espanya”; uso do “i” para a conjunção “e”), algumas comuns a
essas duas línguas (“n” ao final de palavras: “un”, “cun”), usando ainda seu
conhecimento do português oral (“natau”, “arvuri”, “pidi”).
A produção escrita de Daniel nos recorda que, mesmo no Brasil, nos
contextos em que a variante da língua portuguesa usada por uma criança
monolíngue em português se distancia mais do português padrão (como em
contextos de baixa escolaridade, periferias urbanas, entornos rurais), os
recursos translinguísticos podem ser utilizados, por exemplo, ao tentar
reproduzir no texto escrito os usos e sons do português oral – e os estigmas
com que tais produções de texto podem ser recebidas.
28
Por “Português Língua Materna” (PLM) entendo o ensino de português no Brasil,
notadamente no contexto de educação obrigatória, e não necessariamente a língua falada pela
mãe do aprendiz. Por “Português Língua Estrangeira” (PLE) me refiro a abordagens como as
de Santos e Ortiz Álvarez (2010), que consideram o aprendizado da língua portuguesa nessas
condições como algo que ocorre principalmente no ambiente controlado de sala de aula – e
distante de boa parte dos mecanismos por meio dos quais os falantes de PLH aprendem o
português.
103
linguística, é preciso lembrar que ele dispõe de outros recursos que tais
crianças não têm: é muito fluente em duas outras línguas, o catalão e o
castelhano, com as quais também esteve em contato desde que nasceu.
Ademais, como frequenta a escola, Daniel sabe em que consiste a tarefa
“escrever um texto sobre o Natal”, tendo possivelmente realizado um exercício
semelhante em catalão, língua em que é escolarizado, ou castelhano, que faz
parte de seu currículo escolar como segunda língua.
Somado a isso, Daniel está familiarizado com referentes da cultura
brasileira não só aprendidos em suas aulas de português, mas vividos em
casa, em vivências significativas também do ponto de vista emocional: montar
a árvore de Natal, escrever uma carta ao Papai Noel e esperar que ele lhe
trouxesse seus presentes são parte de sua experiência de vida familiar.
Resultado: embora Daniel tenha lacunas em seus conhecimentos do português
escrito, foi capaz de levar a cabo a atividade proposta sob paradigmas
translinguísticos. Este é um caso em que, como explica Canagarajah (2013), a
comunicação transcende cada língua, transcende as palavras e envolve
diversos recursos semióticos e do entorno.
Tanto se for pensado em termos de pertencimento à cultura
brasileira, como do ponto de vista das vivências afetivas e da proficiência
linguística, o PLH é heterogêneo e, muitas vezes, fragmentado e híbrido.
Heterogêneo, por um lado, como já dito anteriormente, nas competências
linguísticas individuais que, como comenta Valdés (2000), podem abarcar um
continuum que vai de falantes fluentes na LH a sujeitos que apenas
compreendem a LH, mas não a falam, podendo chegar, para Van Deusen-
Scholl (2003), a não falantes que se sentem culturalmente vinculados à
comunidade de falantes de herança – lembrando que o pertencimento não é
exclusivo à cultura de herança e pode ser concomitante ao sentimento de
pertencer a outra(s) cultura(s). De forma análoga, as vivências afetivas do
falante de herança não se darão apenas na língua e nas práticas culturais
identificadas como brasileiras, mas naquelas do lugar onde esses falantes
moram. O PLH é, assim, híbrido não só pelas questões identitárias, mas
também do ponto de vista linguístico, pelas influências e transferências da
língua majoritária e de outras línguas com as quais seus falantes estão em
contato (que varia de país para país ou mesmo de região para região, podendo
104
Figura 4 – Desenvolvimento típico da língua inicial (L1) e língua estrangeira (L2) (após a
puberdade) em um contexto de língua majoritária (MONTRUL, 2012, p. 6)
Figura 5 – Desenvolvimento típico de uma LH, sem apoio acadêmico, num contexto de
língua majoritária (MONTRUL, 2012, p. 7)
106
L1
L1
desconcertado: “Ah, então você fala brasileiro”. Brasileiro?, pensará ele ou ela,
provavelmente emendando: “Não, falo português”, imaginando que talvez o
interlocutor desconheça os costumes desses povos tão longínquos que vivem
sob a bandeira verde e amarela, incapaz de ouvir o que realmente o catalão
quis lhe dizer: “Eu reconheço as particularidades do seu povo e sei que vocês,
brasileiros, em nada ou em muito pouco se identificam com Portugal hoje”.
A identificação com a ideia de catalanidade hoje está relacionada ao
desenvolvimento do movimento nacionalista, pelo que se faz necessário
compreendê-lo, ao menos em linhas gerais.
Afinal, desde tal data, Catalunha já não é dona de seu território, pois
passa a estar atrelada à Espanha. Resta, assim, defender não as fronteiras
físicas e territoriais, mas as culturais – e em boa medida é nessa diferenciação
daquilo que se identifica como “espanhol” que a Catalunha tem construído e
reconstruído sua identidade, sendo a língua um de seus eixos.
29
Embora o País Basco, administrativamente, seja uma Comunidade Autônoma, tanto ele
como Navarra têm um estatuto fiscal diferenciado das demais CAs: em vez de pagarem
impostos ao governo central e logo receberem um repasse, arrecadam eles próprios os
impostos para depois fazerem o repasse ao governo central. Em termos de autonomia,
portanto, nesse aspecto, o País Basco tem prerrogativas diferentes em relação à Galícia e à
Catalunha.
123
30
Segundo a prefeitura, em 2014, 347.897 dos 1.602.386 habitantes de Barcelona haviam
nascido em outro país. Este dado difere dos que utilizam a nacionalidade para identificar a
população de imigrantes, pois o segundo caso considera como espanhóis ou europeus
125
imigrantes que adquiriram a cidadania espanhola ou de outro país da UE, o que não seria o
melhor indicativo para rastrear movimentos migratórios. No caso das estatísticas sobre
nacionalidade, esta pode incluir também os filhos de estrangeiros nascidos na Catalunha ou
Espanha que não adquiriram a nacionalidade espanhola.
31
Também segundo a prefeitura, em 1996, 150.805 dos 1.508.805 habitantes de Barcelona
haviam nascido no exterior.
126
língua não catalã aprendam esse idioma. Esse fato, no entanto, está longe de
resultar num cenário de usos linguísticos homogêneos, muito pelo contrário.
A esse respeito, Vila i Moreno e Sorolla Vidal (2013) realizaram uma
análise dos usos e conhecimentos da população dos territórios de língua catalã
a partir de uma série de dados declarados, o que ajuda a ter uma visão geral
de suas características linguísticas. Com as limitações típicas das pesquisas
quantitativas, essa abordagem não revela qual a qualidade desses
conhecimentos (fluência no idioma catalão) ou a frequência desses usos (se
são constantes ou esporádicos nas situações investigadas, como ambiente
familiar, laboral, escolar, em bancos, hospitais etc.). Ainda assim, é válida, pois,
além de elucidar algumas tendências gerais, permite situar a Catalunha em
relação aos demais territórios de língua catalã. A tabela a seguir sintetiza parte
dessa análise:
seus habitantes. Por outro lado, 5,7 milhões não são falantes iniciais, mas
aprenderam o idioma, o que o caracteriza como uma língua com alto poder de
atração: a proporção entre falantes iniciais e novos falantes é de 1:2,3, o que a
situa um pouco abaixo da mesma proporção no inglês (1:2,8) ou francês
(1:2,5), mas consideravelmente acima da do russo (1:1,6) e do castelhano
(1:1,3), ou como a sétima língua mais aprendida como língua não inicial na
União Europeia (VILA I MORENO e SOROLLA VIDAL, 2013).
Embora parte da explicação para essas proporções esteja nos fluxos
migratórios recebidos, outro fator demográfico a ser levado em consideração é
o fato de que a taxa de natalidade entre a população autóctone se reduz desde
os anos 1970, sendo menor que a dos migrantes e imigrantes.
Consequentemente, o número de famílias que têm o catalão como língua inicial
vem diminuindo, dando lugar a famílias mistas nas quais os cônjuges falam
catalão e castelhano, apenas castelhano ou outras combinações de idiomas. É
nesse contexto, daqueles que não têm o catalão como idioma inicial, que se
encontram os novos falantes de catalão: estes 5,7 milhões são, vale dizer,
certamente bi ou multilíngues e, embora façam uso da língua catalã, dividem
seus usos linguísticos com ao menos mais um idioma.
De fato, outro estudo comprova a percepção de que, na Catalunha,
falar apenas uma língua é praticamente uma anomalia:
32
As habilidades autodeclaradas avaliadas na pesquisa são: entender, saber falar, saber ler e
saber escrever.
129
ENT: “E você acha que para ser catalão_é preciso saber catalão/
IGG: “Olha_veja bem_ se você pensar bem_ quer dizer\bueno\então
não precisa\você pode ser um bom catalão e não saber mas é uma
coisa que acho que está tão ligada que é que não dá para_não dá
para separar\se você é catalão\uma coisa é que você use a língua
mais ou menos\não/ outra coisa é saber num nível ou em outro\mas
se realmente é assim você tem prazer de saber e de falar [...]
[Homem catalão, 34 anos, funcionário público] (BOIX-FUSTER,
2009a, p. 107-108)
33
Note-se que o próprio conceito de “normalização linguística” pode ser interpretado de forma
ambivalente inclusive nas políticas públicas que o contemplam. As pautas não são claras, por
exemplo, sobre se essa “normalização” se dá a partir de um modelo de bilinguismo entre
catalão e castelhano ou de um modelo centrado numa sociedade monolíngue de língua catalã.
136
34
O alto número de italianos se explica porque boa parte deles são, na verdade, cidadãos
argentinos e brasileiros com dupla cidadania, também italiana, que na União Europeia se
identificam como italianos e não com a cidadania de seu país de nascimento.
141
35
A APEC congrega pesquisadores e estudantes brasileiros em geral morando
temporariamente na Catalunha por motivos acadêmicos. Oferece apoio e informação aos que
estão chegando e realiza, desde meados da década de 1990, um seminário anual que dá aos
pesquisadores oportunidade de publicar artigos e difundi-los entre a comunidade científica.
36
A ata de fundação da APBC está datada de 26 de setembro de 2009. A documentação foi
apresentada para registro e obteve aprovação da Direção Geral de Direito e Entidades
Jurídicas (Direcció General de Dret i d’Entitats Jurídiques) do Governo da Catalunha em 27 de
julho de 2011, sendo inscrita no registro de Associações do Governo da Catalunha (Servei de
Registre i Assessorament d’Entitats de Dret Privat) em 19 de agosto do mesmo ano, segundo
documentação oficial à qual tive acesso.
145
37
Ao estabelecer o convênio com o Sandaru, a APBC passou a dispor gratuitamente de três
salas de aula que podiam ser usadas de modo simultâneo e a ter um espaço físico que incluía
um escritório para realizar atendimento ao público, armários para guardar os materiais de aula
e armazém. Em contrapartida, a APBC assumiu alguns compromissos e passou a ajudar na
organização de alguns eventos do centro cívico, como a festa de Carnaval, a festa do bairro no
mês de maio e, desde 2015, a festa de Halloween.
146
38
O acervo, de cerca de 500 livros em português, principalmente infantis, foi constituído a partir
de doações e está à disposição das famílias, reforçando o contato com a língua escrita e
exposição ao português em casa.
147
39
Entre as quatro professoras da APBC e substituta regular em maio de 2015, uma era
formada em Pedagogia, com atuação em educação infantil e doutorado em andamento em
148
Didática do PLH; outra, formada em Letras, com experiência no ensino de espanhol para
alunos do Ensino Fundamental; outra, jornalista, com experiência em projetos de
Educomunicação em ONGs; outra era falante de japonês como língua de herança, tendo
morado no Japão quando jovem; outra, psicóloga e tradutora. Das cinco, quatro frequentaram
cursos e oficinas de especialização em PLH, custeados pela APBC.
149
Objetivos grupo 1 e 2
Objetivos grupo 1 Objetivos grupos 1, 2
+ e3
- Expressão corporal +
- Expressão escrita +
- Comunicação oral
- Uso social da língua
- Estimulação de - Alfabeto, letras, falada e escrita
sentidos - Interação social sons, palavras
40
A metáfora das camadas da cebola no planejamento e poítica linguística é de Ricento e
Hornberger (1996).
153
Catalunha (N = 9)
53%
32% Espanha (N = 1)
Estrangeiros (N = 3)
seus filhos. Isso reforça a percepção de que, no que diz respeito às questões
de gênero no universo do PLH, há um protagonismo feminino (MORONI, 2015).
Em relação à idade desses adultos da APBC, incluindo os
respondentes do questionário, o outro progenitor sobre o qual forneceram
informação e as professoras, a média está em 37,4 anos, sendo 39,8 para os
homens e 35,4 para as mulheres.
4.2 Escolaridade
5
Número de crianças
4
0
0 ano 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos
Idade das crianças 1 0 1 5 3 3 1 3 3
41
A pergunta incluída no questionário foi: “Qual (Quais) sua(s) língua(s) materna(s)?”. No
questionário, optei por utilizar o termo “língua materna”, e não “língua inicial”, por acreditar ser
aquele com o qual os participantes estariam mais familiarizados. O correto entendimento da
pergunta (como a língua inicial do participante, e não como a língua falada pela mãe do
mesmo, por exemplo) foi confirmado ao longo da entrevista.
162
A seguir, o gráfico ilustra como o espaço ocupado pelo PLH – tanto no contexto
familiar como na APBC – não é exclusivo, mas compartilhado com outros
idiomas.
42
Figura 15 – Língua inicial dos progenitores da APBC participantes da pesquisa
42
Os dados sobre a língua inicial do progenitor que não respondeu ao questionário foram
confirmados durante a entrevista ou posteriormente, já que não havia uma pergunta específica
sobre a língua inicial deste outro progenitor no questionário.
163
atenção nas crianças, neste momento, porque é a elas que se deseja ensinar o
PLH e são elas, bi ou plurilíngues desde o nascimento, as aprendizes do PLH a
que esta pesquisa se refere, ainda que boa parte dos dados de pesquisa
tenham sido gerados por participantes adultos.
164
A B C D E F G H I J K L M
entrevistado fala
Língua inicial do
Língua inicial do
outro progenitor
outro progenitor
outro progenitor
filho fala com o
Outras línguas
conhece (além
outras línguas
Língua que os
mencionadas)
entrevistado44
que a criança
Língua que o
Língua que o
Língua que o
Língua que o
Língua que o
irmãos usam
entrevistado
com o outro
com o filho
progenitor
Crianças43
Língua de
entre si
criança
Idade
das
C1 3 P E P PTN NA C+E C C+E C+E NA NA
C2* 3 P E P P NA C+E C+E C+E C I Vê desenhos em I
C3* 0,2 P E P P NA NA C+E C+E NA I Vê desenhos em I
C4 4 C P P P NA P P P C+E NA NA
C5 3 P E+P E+P E+P NA E E E C NA NA
Línguas da cidade e das
C6 6 E+P IT + P P P NA F IT IT IT C+E relações sociais, também
usadas na escola
E - meia
C7 7 P E P P irmã E B+E E C NA NA
paterna
C8♦ 7 P E+F P P E+F+P F E+F F C+E+I NA NA
♦
C9 3 P E+F E+F+P E+F+P E+F+P E+F+P E+F F C+E+I NA NA
C10 †
8 C+E P P P P P P P C I Estuda na escola
C11 †
4 C+E P P P P P P P C I Estuda na escola
C12 3 P E E+P PTN NA E E E C NA NA
C+E+
C13 8 P E+P NA C+E C+E C+E C I Estuda na escola
E P
§
C14 7 P E P P E+P E E E C I Estuda na escola
§
C15 4 P E P P E+P E E E C I Estuda na escola
C16 2 P P P C+P NA C+P P P C+I NA NA
‡
C17 5 E E E E E P P P C NA NA
‡
C18 5 E E E E E P P P C NA NA
∆ Estuda na escola, estudou em
C19 8 E E+P E E E+P P P P C I
escola bilíngue em I
Estuda na escola, estudou em
C20∆ 6 E E+P E+P E+P E+P P P P C I
escola bilíngue em I
43
Os símbolos sobrescritos iguais indicam irmãos. As cores da coluna A indicam o sexo da criança: vermelho para meninas e azul para meninos.
44
B = Basco; C = Catalão; E = Espanhol; F = Francês, I = Inglês; IT = Italiano; NA = Não se aplica; P = Português; PTN = Portunhol
165
Por que as crianças têm que aprender chinês? Parece algo tão natural, tipo,
se as crianças são chinesas, se elas não aprenderem um pouco de chinês,
será uma pena tão grande! – sra. Lin [...]
Só depois que você encontrar suas raízes você poderá se estabelecer num
lugar, se identificar com a sua própria cultura [chinesa]. – sra. Zhou
(CURDT-CHRISTIANSEN, 2009, p. 365-366)
Tal paralelo sugere que essas representações não seriam exclusivas aos
participantes deste estudo, mas podem ser comuns aos pais e mães engajados
numa PL familiar que promova a transmissão de uma LH.
Cabe lembrar, no entanto, que embora os falantes de herança possam se
identificar como brasileiros, apesar de morarem em Barcelona, ou como chineses,
apesar de morarem em Montreal, tal identificação se dará por processos de
construção de uma identidade plurilíngue. Por sua vez, a identidade plurilíngue traz
suas especificidades, já que difere do paradigma do cidadão nacional monolíngue
(JAFFE, 2012).
No caso da Catalunha, a constatação de que os filhos se identificam com
aspectos da brasilidade, algo bastante fomentado e desejado por parte dos
entrevistados – os pais promotores das PLs familiares para transmissão do PLH –,
não significa que esta seja a única via para que as crianças construam suas
identidades. Parece não ser preciso renunciar à identificação com outros grupos e
referentes culturais que são parte de seu universo para acomodar a identidade de
173
herança trazida pelo PLH – aliás, o próprio fato de se falar uma LH já implica
entender códigos culturais de mais de uma cultura (VAN DEUSEN-SCHOLL, 2003):
a de herança, que passou por deslocamentos geográficos, coexiste num mesmo
espaço que outra(s) cultura(s) majoritária(s), e, por conta disso, os falantes de LH se
encaixam no que seriam os sujeitos híbridos e pós-modernos descritos por autores
como Burke (2003), García Canclini (2013) ou Hall (2011).
Essa conciliação de identidades pelos falantes de herança pode ser
observada neste episódio relatado por Camila: nele, a filha utiliza o castelhano para
interagir com outras crianças, porém marca seu pertencimento e identificação com a
família ao se apresentar como falante das línguas do pai e da mãe:
Neste ponto, cabe lembrar que nem sempre uma língua de herança ou
língua minoritária é vista como uma vantagem: em alguns países, a existência de
uma dessas línguas pode ser considerada um “problema” quando a criança entra no
sistema escolar, pois ela não teria o mesmo grau de proficiência na língua de
escolarização que as crianças monolíngues. “Conhecer uma língua minoritária”
equivaleria então a “não saber ou não poder aprender a língua majoritária” – a esse
respeito, ver García (2009) e as menções a programas de educação bilíngue de
bilinguismo subtrativo nos EUA, que focam em que o aluno aprenda a língua
majoritária e deixe de usar a língua minoritária.
É possível que essa não seja a percepção dos progenitores da APBC, em
parte, devido à proximidade dos idiomas locais, o catalão e o castelhano, ao
português, o que propicia certo grau de intercompreensão nas três línguas mesmo
quando não há fluência no idioma-alvo. De fato, todos os entrevistados têm altas
competências em castelhano e algum grau de competência em catalão, um cenário
diferente, por exemplo, do relatado por Mota (2010) sobre mães brasileiras
desejosas de transmitir o PLH a seus filhos na região de Boston (EUA), já que
algumas não falam inglês ou têm competências muito limitadas nessa língua.
O cenário americano mencionado se traduz em relações assimétricas de
poder entre pais e filhos, as quais geram tensão linguística dentro de casa e em
relação aos usos do inglês (MOTA, 2010). Por exemplo, há relatos de situações em
que as mães dependem dos filhos como intérpretes para realizar atividades
cotidianas e declaram não gostar quando os mesmos falam inglês em casa, pois não
conseguem entender o que dizem. Nesse contexto, o fato de os filhos saberem a
língua majoritária, inglês, equivale a um rompimento nas possibilidades de
comunicação intergeracionais familiares e a um rearranjo das responsabilidades que
deveriam ser atribuídas aos adultos (por exemplo, atender o telefone ou explicar ao
médico seu quadro clínico como paciente): “Eu não gosto quando minhas filhas
ficam falando inglês em casa. Eu agora já consigo entender muita coisa. Quando eu
vejo elas falando inglês, eu pergunto se estão falando mal de mim. [...] (Isabel)”
(MOTA, 2010, p. 34).
Assim, talvez se possa associar a percepção positiva dos progenitores da
APBC de que “quanto mais línguas, melhor” ao fato de que eles têm um bom
domínio das outras línguas em uso por suas crianças, sendo que o uso das línguas
177
JORDI: Por quê? Você lembre: eu sou bilíngue. Pra mim não entra na
cabeça que conhecer uma coisa signifique não conhecer outra. Isso é
atitude de monolíngue. Se você já tem conhecimento plurilinguístico
não tem medo a “não vai conhecer”. Evidentemente se você só
conhece uma língua, vai aprofondir [aprofundar] muito mais que outra
[pessoa] que conhece várias. Mas é muito mais conhecer várias que
conhecer uma. E até quantas mais saiba, até mais chances de
aprender mais.
O uso que a língua pode ter para os filhos, quando no Brasil, difere num
ponto interessante do relatado em outros estudos em contexto de PLH: os
participantes da APBC não mencionam a preocupação com a inserção dos filhos no
sistema escolar brasileiro no caso do retorno da família ao Brasil. Para quatro das 12
famílias brasileiras emigradas aos EUA estudadas por Mota (2010), bem como para
uma das três famílias brasileiras do estudo de Yonaha e Mukai (2016) no Japão,
existe o projeto da migração de retorno na família. Para elas, conhecer o português
seria um diferencial para a boa inserção dos filhos no sistema escolar brasileiro.
Note-se que, nos dois estudos, realizados a partir de entrevistas com as mães,
subentende-se que o outro progenitor das crianças seja também brasileiro. Esse
dado, se contrastado com o fato de que apenas uma das 14 famílias do presente
45
Com excessão de uma entrevistada, cujo marido também é brasileiro, que já estava organizando o
retorno ao Brasil.
181
estudo tem ambos os progenitores brasileiros, e que essa era a única com um
projeto migratório ao Brasil no horizonte, sugere que as representações sobre a
utilidade do PLH para se “inserir no sistema educativo” brasileiro podem variar e o
fato de estarem presentes ou não na família depende de seu perfil sociodemográfico
(famílias endogâmicas brasileiras x famílias mistas).
De fato, Felipe, o único entrevistado que menciona a possibilidade de que
a filha estude no Brasil, o faz, em parte, a partir da pergunta da pesquisadora,
esclarecendo que não pensa muito nisso e mencionando a possibilidade ao lado de
“trabalhar” – talvez sugerindo que essa decisão caiba à filha quando adulta, assim
como ele decidiu ir à Catalunha por motivos acadêmicos, quando adulto, e não num
contexto de migração familiar. Assim, a ausência de representações sobre a
possibilidade de inserção das crianças através da língua no sistema escolar
brasileiro, como as dos estudos de Mota (2010) e Yonaha e Mukai (2016), seria
outro indício de que as famílias deste estudo encontram-se arraigadas.
Por último, em relação aos diferenciais que o português pode
proporcionar como capital linguístico, entra a cidadania global, já que esse idioma se
insere em um repertório linguístico mais amplo, compartilhado com outros idiomas –
e culturas, e visões de mundo – dos sujeitos plurilíngues. Esses valores e
entendimento de cidadania global não são atribuídos apenas ao português,
enquanto idioma, por sua importância como tal (por exemplo, num contexto
monolíngue), mas pelo português como parte de um repertório plurilíngue – o que o
privilegia em sua condição de LH por ser, de forma inerente, quando PLH, a língua
minoritária que coexiste com outros idiomas na sociedade de acolhida.
A seguir, nos excertos 11 e 12, Ivana comenta como vê a filha como
“cidadã do mundo” e Bianca conta como as práticas pluriculturais de seu dia a dia
em Barcelona, associadas a usos linguísticos diferentes dos vivenciados por ela no
Brasil, a transformaram. Ambas as representações remetem à cidadania plurilíngue,
com seus graus variáveis de proficiência em diversas línguas e as vivências de
diferentes culturas (COUNCIL OF EUROPE, 2001) que caracterizariam o cidadão
global plurilíngue idealizado mencionado por Jaffe (2012):
Conforme Iara e Gabriela relatam nos excertos 13 e 14, ainda que sejam
dirigidas especificamente a uma pessoa que compartilha a língua minoritária com o
interlocutor, as interações entre mãe e filha (falantes de português) de Iara e
Gabriela em presença de terceiros (não falantes de português) em certos contextos
sociais marcam uma oposição “nós” (que falamos a língua) x “eles” (que não a
falam), a qual nem sempre é desejada.
Assim, a ideologia de que se deve usar a “língua comum, não-marcada”,
o espanhol, nas interações dos falantes de PLH em um grupo heterogêneo no qual o
português não é comum a todos encontra ecos nas pautas de conduta descritas por
Vila i Moreno e Sorolla Vidal (2013), notadamente a tendência a passar para o
espanhol com pessoas que parecem ser alóctones, ou seja, que não teriam um bom
domínio do catalão. Pode-se dizer que, para os brasileiros, aprender o espanhol
e/ou catalão nesse contexto viria acompanhado de aprender essas normas de
etiqueta do espaço plurilíngue.
A tentativa de adivinhar as proficiências linguísticas dos interlocutores, no
entanto, nem sempre resulta em acertos. Se isso, por um lado, evidencia a
existência de pré-conceitos linguísticos, como relata Laia, mãe catalã, no excerto 15,
por outro, é mais um dado que relata como as línguas podem ser usadas como
elemento de identificação nas relações nós (os que a falam) x eles (os que não a
falam):
46
Embora usar o castelhano como língua comum ao grupo seja uma pauta de conduta entre os
falantes de catalão quando há interlocutores que não falam catalão, vale registrar que também é
habitual que falantes de catalão conversem em catalão na presença de falantes de espanhol, já que é
habitual que estes entendam catalão.
185
Rosana, por sua vez, se no excerto 6 declara que uma língua “não tira
espaço” de outras, no excerto 18 parece cair em contradição, pois diz que promover
o uso do português “é difícil” e é uma “luta” contra os idiomas aos quais a filha tem
mais exposição, e contempla a possibilidade de que, nesse cenário, Flora se recuse
a falar português no futuro, já que seu uso é algo que exige esforço e estímulos por
parte da mãe:
186
Nas duas seções anteriores, explorei como o PLH pode permitir que os
pais identifiquem os filhos como “brasileiros”, ou, em outras palavras, como seus
semelhantes, membros de um mesmo grupo ao qual pertencem, e algumas
ideologias relacionadas a como esse grupo interpreta os usos e nível de proficiência
do português. Tal entendimento, no entanto, vem acompanhado de uma bagagem
emocional: na experiência dessas famílias (e de muitos aprendizes de uma LH) o
PLH foi parte das formas cognitivas de vinculação afetiva (DANTAS, 1992;
WALLON, 1987) entre pais e filhos na primeira infância. O português é, ainda, a
língua em que os progenitores brasileiros passaram da condição de infans e se
construíram como sujeitos e, portanto, parte de sua identidade.
Para os entrevistados, no contexto de LH estudado, o PLH não é visto
apenas como um código a ser dominado ou “um modo de identificação” (MENDES,
2015, p. 87), ele é também um capital afetivo que estreita os vínculos entre pais e
filhos e entre os filhos e a parte da família que está no Brasil (avós, tios, primos).
Isso porque permite às crianças vivências únicas, significativas também do ponto de
vista emocional do pai e da criança, que não são possíveis em outra língua, como
revelam Rosana e Felipe:
Porém, é interessante notar como tanto Felipe como Rosana são capazes
de reconhecer que a importância atribuída por eles, como pais, ao PLH pode não ser
a mesma que a filha atribuirá: “é importante pra mim, né? De repente, pra ela não
190
vai ser”, diz Rosana, ao cabo que Felipe reconhece o português como a língua
sentimentalmente mais importante pra ele, embora acredite que para a filha a língua
mais importante seja o espanhol.
A diferença entre a função emocional da língua para pais e filhos aparece
ainda em outros momentos, também de forma menos consciente: no excerto 9,
Gabriela comenta que o português pode ser importante caso a filha deseje “voltar” a
morar no Brasil (uma “volta” que corresponde à situação da mãe, mas não à da filha,
que sempre morou na Catalunha); no excerto 10, Felipe declara que gostaria de
poder levar e criar a filha no Brasil (mas a garota está crescendo na Catalunha, e
não há projeto migratório na família). Para esses pais, o português é também a
“volta”, o “desejo de criar a filha no Brasil” (e lidar com a dor dessa impossibilidade).
Para as crianças, a língua não é isso: não é uma volta, não é uma dor por não estar
crescendo em certo lugar.
Anteriormente, mencionei que o português é entendido como o meio pelo qual
essas crianças expressam sua identificação com aquilo que os pais são ou desejam
que sejam – brasileiros, como nos excertos 1 a 5, ou cidadãos do mundo, excertos
11 e 12. Porém, vale lembrar que, no continuum de competências linguísticas
heterogêneas, a identificação proporcionada pelo PLH não necessariamente ocorre
por meio do uso ativo da língua, mas ao fornecer recursos para que os aprendizes
participem das práticas culturais do grupo, tais como o conhecimento das tradições,
códigos de conduta e algum grau de compreensão do português oral. O
entendimento de que tais práticas não são necessariamente linguísticas, somado ao
fato de que, nos contextos naturais de aprendizagem, como o português como
língua inicial para os pais ou LH para as crianças, a memória emocional está
envolvida no aprendizado da língua (PAVLENKO, 2005), permite que o PLH se
configure não só como um capital linguístico (BOURDIEU, 1982), mas como capital
afetivo. Exemplificando:
O PLH permite um “sentir”: que a criança se sinta brasileira, que ela “sinta
a família” (excerto 24), que os pais se sintam felizes ou tristes com o uso ou não uso
dessa língua pelas crianças – aspecto que será aprofundado na seção ii-c.
191
31 e 32. A esse respeito, Pavlenko (2005) ilustra, com o caso de judeus perseguidos
durante o Holocausto, que lograram imigrar para os EUA, como experiências
traumáticas associadas à língua inicial e seu contexto fazem com que o imigrante
deixe de desejar usá-la.
Retomando o contexto de PLH, conforme descrito por Mota (2010), a
tensão entre o PLH e a língua majoritária pode chegar a cenários mais extremos nos
casos em que a língua majoritária (inglês, nos EUA) é imposta pelos filhos nos usos
em casa sem a plena anuência dos progenitores, que não a dominam, numa
situação análoga à do excerto 32:
Quase sempre eu brigo com meu filho quando ele começa a falar inglês. Eu
digo: filho, eu não estou entendendo o que você está falando. Você tem que
falar português pra mim. Tinha vez que ele me dizia: Ah, mãe, a senhora é
muito burra. A senhora não quer aprender. Então, a gente encontra
dificuldade pra conversar. (MOTA, 2010, p. 53)
Para encerrar esta seção sobre as ideologias que existem por trás do
PLH entre essas famílias de Barcelona, escolho uma das falas de Rosana, que
sintetiza belamente os três pilares desse fenômeno: identificação, proficiência e
afetividade. Rosana comenta o caso da filha comparando-a com Catherine, uma
prima sua, jovem adulta, que nasceu e cresceu em outro país europeu:
responda: ‘espanhola ou catalana [catalã] (não sei o que ela vai dizer)
e brasileira’. ‘Brasileira por quê?’ ‘Ah, a minha mãe é brasileira.’ Então
eu acho que as três coisas: falar o idioma, se sentir do país também,
apesar de não ter nascido e não ter crescido lá, e sentir amor.
nos usos linguísticos de e entre uns e outros. Por exemplo, a seguir, nos excertos 35
e 36, Camila e Ivana expõem como o uso da língua permite identificação entre quem
a mãe é e quem ela deseja que os filhos sejam:
Ou seja: nestes dois casos, bem como nos excertos 1 a 4, da seção i-a,
falar português pode ser interpretado como consentir e aceitar um movimento de
aproximação com aquilo que os pais são. Mesmo os progenitores não brasileiros
desejam que os filhos se aproximem e se identifiquem com o que há de brasileiro na
trajetória do outro progenitor: “Ele é brasileiro”, declara Laia, no excerto 1. Essa é a
“sua cultura” (dos filhos), declara Jordi, no excerto 3.
Além disso, conforme algumas representações, as crianças são capazes
de identificar seus interlocutores como pertencentes a um grupo de falantes com
quem só há uma língua em comum, o português – a qual vem impregnada de uma
série de elementos e práticas culturais e afetivas próprias. Esse contexto é diferente
do núcleo familiar imediato, já que o habitual no cenário estudado é que pais e filhos
tenham um repertório linguístico composto por várias línguas comuns, embora as
competências de cada geração sejam heterogêneas em cada língua e não
necessariamente coincidam.
As crianças, nas interações com tais interlocutores de outros contextos
identificados como “brasileiros”, não têm a possibilidade de recorrer às outras
línguas de seu repertório para se comunicar. As representações das práticas
linguísticas dos filhos nos excertos 36 e 37, de Iara e Jordi, ilustram como se dá tal
identificação em conversas por Skype com familiares. Sofia é uma prima de Iara que
mora nos EUA e tem a idade de sua filha Diana:
196
1 O pai conversa com o outro progenitor 11 Os pais leem livros em português com os
para decidir que língua(s) usar com o filho filhos
2 O progenitor brasileiro usa o português 12 Os pais leem livros escritos em outras línguas
com o filho em português para os filhos (traduzindo o
texto no momento da leitura)
3 O progenitor não brasileiro usa o 13 Há um acervo de livros e gibis em português
português com o filho em casa, para que o filho leia
4 O progenitor não brasileiro instala um 14 Os pais baixam desenhos animados e filmes
aplicativo de tradução no celular para dublados em português para que os filhos
ajudar com dúvidas de vocabulário assistam
5 Os pais repetem o que o filho disse em 15 Os pais assistem filmes infantis brasileiros
português quando ele se dirige a eles em com os filhos, como O Menino Maluquinho ou
outra língua Tainá
6 Os pais dizem não entender o que o filho 16 Os pais colocam vídeos do YouTube em
disse quando se dirige a eles em outra português para os filhos
língua que não o português
7 A família recebe familiares brasileiros de 17 Os pais ouvem música brasileira em casa ou
visita (geralmente períodos longos, de um rádio em português, na presença dos filhos
mês ou mais)
8 A família viaja ao Brasil (geralmente 18 Os pais cantam cantigas de ninar em
períodos longos, de um mês ou mais) português na hora de dormir
9 Quando viajam ao Brasil, os pais 19 Os pais cantam músicas brasileiras em casa,
matriculam os filhos numa escola brasileira na frente do filho, e convidam-no a
para que convivam com crianças que só acompanhar
falam português
10 Os pais organizam conversas por Skype 20 Os pais assistem a eventos brasileiros com os
com familiares brasileiros para que os filhos pela internet, como o Carnaval de
filhos conversem com eles em português Salvador ou jogos de futebol
Tabela 9 – Representações das práticas realizadas pelas famílias da APBC
para promover a transmissão do PLH em casa
É “natural”
Como Adriana relata, essa escolha linguística da filha foi “difícil” para a
mãe e, para que ela pudesse colocar em prática o que havia planejado – não só
dirigir-se em português à filha, mas que a filha lhe respondesse nessa língua – foi
necessário esforço e disciplina de sua parte. Não foi, portanto, um processo “natural”
nem para a mãe (que teve que se “policiar, prestar atenção”), nem para a criança, já
que o fato de a mãe falar em português com a filha não bastou para que a filha
usasse o português com a mãe. Como a mãe também sabia italiano, a filha poderia
201
responder neste idioma e a mãe a entenderia, e foi então que a mãe “fincou o pé” e
deixou claro que “não entendia” (ou não iria entender) o que a filha dizia em italiano.
Independentemente das políticas linguísticas que os progenitores adotem
– em algum ponto do continuum de “acompanhar os usos plurilinguísticos da
criança” x “reivindicar que ela se dirija a eles em português”, é válido fazermos o
exercício de olhar para o contexto despidos de ideias pré-concebidas sobre o que é
“natural” ou não, o que, como visto, pode variar muito de pessoa para pessoa – para
tentar se colocar no lugar do aprendiz de PLH (o qual está aprendendo também
outras línguas) e ver como são as interações linguísticas do núcleo familiar.
No excerto 42, Iara exemplifica – ainda com a representação do que é
“natural” – o cenário linguístico imediato da família de sua filha Diana, enquanto
Jordi comenta, no excerto 43, as línguas utilizadas pelos filhos para se relacionar
com os amigos e para as brincadeiras entre os irmãos:
excerto 44, somam-se suas dúvidas sobre qual teria sido o momento adequado para
introduzir o português, língua minoritária, nas interações com a filha – dúvidas
legítimas para quem se constituiu como sujeito sob os paradigmas do cidadão
nacional monolíngue, como ela, brasileira que nasceu e viveu até a idade adulta no
Brasil:
Também se expôs que os pais da APBC, ainda que adotem um uso muito
consistente do português com os filhos, como declara Adriana, no excerto 41, falam
outras línguas na presença das crianças, seja com o cônjuge (ver os 14 dos 20
casos da Tabela 7) ou em situações sociais, quando os interlocutores não sabem
português, inclusive com outras crianças, amigas de seus filhos – pois estas são
normas implícitas de boas maneiras nos espaços plurilíngues. Assim, não seria de
surpreender que as crianças identificassem os pais como sujeitos plurilíngues,
capazes de utilizar diversas línguas também com elas – e não unicamente o
português.
Diante deste cenário plurilíngue, seria legítimo esperar que o aprendiz de
PLH – e a comunidade de falantes de português ao seu redor – usasse apenas o
português? Ou seria mais condizente usar também – mas não unicamente – o
português? Esse entendimento parece não estar ainda definido e as representações
que circulam do falar “sempre” português podem ajudar a aprofundá-lo.
A representação do cidadão nacional monolíngue (JAFFE, 2012) parece
continuar a acompanhar a maioria dos entrevistados. A exceção de uma
entrevistada, que cresceu numa família bilíngue, todos os brasileiros, de alguma
maneira, foram alguém próximo ao paradigma de cidadão nacional monolíngue
enquanto moraram no Brasil e ainda veem o português que falam como a língua que
“sempre” falam – ou que “sempre” desejariam falar com os filhos.
Dos 12 progenitores entrevistados, quando lhes perguntei se falam
português com os filhos, oito responderam que sim, “sempre” – e essa resposta,
também presente nos questionário, é a que figura na Tabela 7. No entanto, no
momento de aprofundar um pouco as situações de uso de português e a
abrangência desse “sempre”, geralmente encontramos contradições e outros
matizes. Por exemplo:
P: Mas, por exemplo, hoje, aqui dentro de casa, você falou que
também usa o espanhol pra falar, você e o Jacques [marido]... se as
crianças estão perto, você acaba falando com elas em espanhol
também?
C: Sim.
P: Então você também usa o espanhol, dependendo do contexto.
C: [risos] Falo sempre, sempre, sempre, mas não, espera, vamos
voltar atrás. Não, eu também falo espanhol, dependendo desse
contexto. É que é muito pouco perto do que eu falo em português.
P: Mas você também usa o espanhol.
CAMILA: Uso.
próximo ao ideal do sujeito global plurilíngue (JAFFE, 2012). Isso, embora signifique
renunciar ao falar “sempre” em português ou como um “brasileiro nativo”, não
necessariamente é algo negativo – na verdade, é algo necessário, já que os
paradigmas do cidadão nacional monolíngue, pelos motivos citados, parecem não
fazer sentido no contexto estudado.
diglossia dentro de casa como “uma troca” para ambos os adultos, pois permitia que
ela aprendesse mais espanhol e ele, mais português.
Nas famílias da APBC, pode acontecer que a chegada de uma criança
que tem o português como um de seus idiomas seja um fator que potencialize o
aprendizado de português pelo progenitor não brasileiro. De maneira análoga, Boix-
Fuster (2009a) menciona alguns casos de famílias em que os pais, falantes de
espanhol, melhoram e aprofundam seus conhecimentos em catalão por influência
das crianças. Isso porque os filhos são escolarizados em catalão, o que faz com que
se tornem falantes fluentes e competentes neste idioma e o torna bastante relevante
para suas relações sociais. Boix-Fuster chama esse processo, em que filhos falantes
de catalão potencializam as competências de pais falantes de castelhano na língua
catalã, de “catalanização de baixo pra cima” (BOIX-FUSTER, 2009a).
Conforme relata Rosana no excerto 51, o nascimento da filha, com quem
ela iria falar em português, alterou as dinâmicas linguísticas anteriores do casal e
pode ser visto como outro exemplo de ajuste nas PLFs, promovendo o
“abrasileiramento de baixo pra cima” nas relações com o marido. Nesse caso, o
espanhol era a única língua de interação do casal e, com o nascimento da filha, o
português passa a ser a língua em que Rosana interage com ele quando a filha está
presente – o que, aliás, ela também vê como “natural”:
criança à língua ao permitir que o pai ou mãe brasileiro use o português num número
maior de situações, não se restringindo às interações com os filhos, mas expandindo
as situações também para as interações entre os adultos do núcleo familiar. Quando
é esse o caso, e o progenitor não brasileiro compartilha interações em português
com a criança, participa das “formas cognitivas de vinculação afetiva” (DANTAS,
1992; WALLON, 1987) nesta língua, ainda que não chegue a falá-la.
Como exposto na seção i-c, entende-se que o valor afetivo do PLH para
os pais é diferente do que pode ter para os filhos. A proficiência nos usos linguísticos
para uns e outros é igualmente diferente em ambas as gerações e, assumindo que o
mais habitual seria as crianças terem maior proficiência num dos idiomas
majoritários da sociedade de acolhida, o uso ou não uso da LH pelos filhos é algo
que mexe com aspectos emocionais desses pais, sendo capaz de deixá-los “felizes”
ou “chateados”:
EXCERTO 56 – Professora 2
E eu percebo que essa questão do uso da língua tá muito vinculada
ao momento que eles fazem o resgate emocional e que eles trazem
muito a questão da família, a questão do Brasil, das férias, porque,
em geral, a maioria deles viaja ao Brasil todo ano. [...]
E de ver, de perceber que elas estão ali se comunicando, e que
existe um vínculo com o Brasil, porque isso também é muito
importante, não é só o português, o português. É “por que é mesmo
que eu falo essa língua?” Ah, porque existe um lugar maravilhoso,
com sol – que é como eles veem [risos] [...], que é só férias e não tem
nenhum perigo, que se chama Brasil, onde tá geralmente as avós [...],
com cachorros, que fazem sorvete, que fazem batata frita, enfim...
EXCERTO 57 – Professora 1
Às vezes a gente sai de férias e quando a gente volta de férias os
alunos que não falavam nada de português tão falando superbem.
Mas esses alunos também viajam pro Brasil. Tem casos como a
Isabel, que no primeiro semestre falava comigo só em espanhol e
agora só fala em português. Só. Depois das férias ela só fala
português comigo.
EXCERTO 58 – Professora 1
Às vezes eu falo pro Jorge [marido], a saudade, a gente até tá
controlando mais a saudade porque a gente fala em português o
tempo inteiro, eu trabalho com o português, eu encontro os
brasileiros, existem festas brasileiras, comida brasileira que a gente
come aqui, então a gente acaba controlando até os nossos
sentimentos aí.
Camila mencionou não estar muito preocupada com o que a filha estaria
“aprendendo” na aula. De fato, a maioria dos participantes declara que, embora
reconheçam a APBC como um espaço onde se usa e se pratica a língua
47
Para preservar a confidencialidade dos entrevistados, as falas de membros da diretoria são
identificadas apenas como “Membro da diretoria”, embora tenham sido proporcionadas por mais de
uma pessoa.
219
que não só ela fala português, que não só ela tem uma mãe
brasileira, que não só ela come brigadeiro, que não só ela tem a festa
como é a festa dos brasileiros. Que ela se identifique, que a amiga foi
pro Brasil e tem as Havaianas, ah não, que ela tem as Havaianas
igual. Que ela se identifique. Eu acho que isso vai ajudar muito. Eu
não poderia fazer isso sozinha. Mas o lado de falar... claro, é bem
mais a minha parte, eu acho.
EXCERTO 66 – Professora 3
Acho que também ajuda a difundir ou divulgar a cultura brasileira
aqui, porque acaba tendo projeção em outras atividades da cidade,
então tem carnaval, quem faz a oficina é a APBC, ou uma feira de
associações, isso é legal também, porque você tá mostrando a
cultura brasileira... claro, a educação das crianças, porque eles têm
dois lados, têm duas culturas, e uma delas tá apagada, porque é isso,
eles não têm tanta relação com essa cultura, então esse espaço é um
espaço de identidade, de se conhecer, de saber que parte dele vem
desse lugar, que eu acho que é muito importante [...]. Então ter um
espaço assim eu acho que deve ser muito bom pras famílias, pra
valorizar essa comunicação da mãe com o filho, e dele saber que tem
outras crianças que também falam o idioma dele, que ele não tá
sozinho nesse mundo.
EXCERTO 69 – Professora 1
Porque como a ideia é trabalhar com língua de herança e tem esse
laço de cultura, de família, é como se a gente tivesse essa ideia de
transmitir, mesmo, essa cultura ou essa tradição, então isso faz parte
um pouco da base do nosso projeto [...] Fiz uma seleção de músicas
tradicionais, fiz uma seleção de parlendas, fiz uma seleção de livros
infantis... fui procurar quem eram os grandes escritores de livro infantil
do Brasil, que era uma coisa que eu já tava fora, [...] uma música que
você consiga desenvolver como uma ciranda. A maioria é um pouco
de resgate do que eu aprendi na minha época de escola e que eu
tenho uma certa memória.
EXCERTO 71 – Professora 3
Uma coisa é você aprender uma brincadeira de criança, mas você
não tem ninguém pra brincar. A sua mãe contar: “eu brincava [d]isso”,
mas com quem você vai brincar? Ali não, ali tem outras crianças
brasileiras e ele pode brincar de elástico, de... não sei, de alguma
coisa que era a brincadeira da mãe dele. Então aquilo torna... aquilo
dá mais sentido.
223
EXCERTO 72 – Professora 3
E também a gente trabalha muito o lúdico e esse produtos culturais
do Brasil que são as lendas, que são as cantigas, que são as
músicas... brincadeiras, muita brincadeira que a gente trabalha...
EXCERTO 73 – Professora 2
Eu penso que [para] essas três primeiras turmas, os menores, a base
é a cultura, as cantigas, as festas, o próprio falar, “querida, vem aqui”,
o diminutivo que a gente tanto fala no Brasil, a forma como a gente se
relaciona é muito importante. Isso vai se sedimentando na construção
da identidade deles.
funciona como outro modelo com o qual a criança pode se identificar pela língua e
pelas práticas compartilhadas. No contexto da aula de PLH, sua relação com este
espaço e com os discursos de brasilidade e quanto ele se aproxima deles – e dos da
cultura de acolhida – também parecem ser aspectos a serem observados.
Por exemplo, embora as três professoras entrevistadas tenham
experiência anterior como professora no Brasil, vale destacar como todas tiveram
que trabalhar sua própria identidade de educadoras para construir representações
do que é ser “professor de PLH”, um conceito cujo entendimento não está bem
definido, como se argumentou anteriormente, já que o campo é recente e passa por
um processo de amadurecimento. Elas relatam que o ensino de PLH tem suas
especificidades e não se corresponde exatamente a suas experiências anteriores
como educadoras, segundo os excertos 74 a 76 revelam. Neles, duas delas relatam
um processo de compreender tais especificidades: “não era a aula que eu achava
que seria”, “vi que realmente não se ensina como uma língua estrangeira”:
EXCERTO 74 – Professora 2
Eu achei tudo muito caótico, porque era um espaço pequeno
realmente, os pais ficavam esperando ali fora, e a professora às
vezes deixava a porta aberta, as crianças entravam e saíam, e eu me
lembro que eu pensei como professora: “nossa, isso não é uma aula!”
E depois eu fui descobrir que realmente não era a aula que eu
achava que seria, porque não era a proposta de uma aula formal
como a gente tem nas escolas.
EXCERTO 75 – Professora 3
Você sente que tá fazendo um trabalho diferente, que não é uma
escola formal, uma escola de arte, uma escola de esporte, é uma
mistura de tudo isso, e é legal também.
EXCERTO 76 – Professora 1
Tanto que eu fiz Letras e nunca ouvi falar disso [PLH]. E perguntei
pra [outra professora da APBC]: eu acho que na minha universidade
não se estuda isso! [risos] Ela falou: Não, não se estuda! [...] Aí eu
fiquei sabendo que era uma coisa nova. E aí eu vi que realmente não
se ensina como se fosse uma língua estrangeira, porque não é a
mesma coisa, é isso.
EXCERTO 77 – Professora 1
E é isso que me espanta. É por isso que eu falo que algumas
crianças reconhecem aquela sala como uma sala de língua
portuguesa, porque quando elas saem dali, às vezes elas estão ainda
no ambiente da Associação, mas já tão fora da sala, e elas brincam
em espanhol. Entre elas. As mesmas crianças que estavam falando
só em português. [...] Existe esse reconhecimento do lugar, do
espaço. E também da pessoa, enfim, eu falo com eles só em
português, dentro e fora.
Então, foi nesse aspecto que dizemos: poxa, é importante que ele
esteja com outras crianças. Ele já falava português. O que era a
APBC, sinceramente, ele não tinha muita necessidade, ele realmente
já sabia. [...] Mas, como ensinar que as crianças também usam e
falam de outro jeito?
Essa percepção também foi expressa no grupo focal, quando foi solicitado
claramente que os participantes se posicionassem em relação à seguinte afirmação:
EXCERTO 82 – Professora 1
Uma língua estrangeira muitas vezes você terminou essa lição... eu
falando como professora de língua estrangeira: eu terminei essa lição,
os meus alunos sabem até onde eu ensinei. Numa língua de herança,
não! Eles não sabem até onde eu ensinei. Porque eles trabalham
com essa língua fora, e eles vêm e me trazem coisas que eu às vezes
nunca passei, um vocabulário que a gente nunca trabalhou. Mas eles
sabem, porque eles recebem isso de outras partes. Então é um
trabalho muito conjunto ali, né, não é um trabalho só do professor.
dos dígrafos e ortografia do português para que os alunos possam ler nesta língua
são trabalhados especificamente no grupo 3, contrastando os conhecimentos que
eles já têm de catalão e castelhano com as diferenças próprias do português.
Além de os alunos apresentarem competências heterogêneas, a
diversidade nas origens familiares, com progenitores provenientes de diferentes
países, se reflete nas línguas em uso na sala de aula de PLH: apesar do uso do
português ser privilegiado, ele vem acompanhado do catalão e do castelhano, mas
também do alemão e do italiano, por exemplo, nos casos de famílias nas quais há
uma LH2 em jogo. A observação participante registrou ainda o uso de inglês, croata
e francês nas aulas, sendo que o uso da língua majoritária foi registrado ainda por
Souza (2010b) e Yonaha e Mukai (2016) em aulas de PLH: no Reino Unido, o inglês,
e, no Japão, o japonês, respectivamente, dividem as práticas linguísticas ao lado do
português na sala de aula.
A partir das informações apresentadas até o momento, observa-se que o
desenvolvimento das competências comunicativas dos alunos em português não é
linear e nivelado como nos programas de ensino de língua estrangeira, nos quais os
conteúdos são apresentados em níveis e o conhecimento adquirido nos níveis
anteriores é comum a todos os alunos. Como relatado nos excertos 57 e 82, as
representações indicam que esses alunos estão expostos à língua em outros
contextos além do da sala de aula e seu aprendizado se dá igualmente nesses
outros âmbitos, com input heterogêneo e períodos de imersão como o das férias no
Brasil. Como ilustra Felipe no excerto 83, trata-se de um aprendizado cíclico, com
avanços e retrocessos na intensidade dos usos:
EXCERTO 84 – Professora 1
PESQUISADORA: Esse texto não verbal (pinturas, quadros) também
estimula eles a falarem...?
PROFESSORA 1: Claaaro, eles vão adquirindo vocabulário ali, fazem
a descrição em espanhol, ou em outra língua, porque os alunos
acabam circulando com várias línguas, nem sempre o castelhano é a
língua que eles usam em casa, às vezes é o catalão, tem criança que
fala em italiano. Então eles vão me descrevendo em várias línguas e
a gente vai repetindo em português até que eles começam, de pouco
em pouco, a reproduzir também em português.
EXCERTO 85 – Professora 1
E tem um aluno que fala em italiano, que não fala catalão, e não sei
se ele fala castelhano, na verdade. E ele fala comigo em italiano. E
ele me entende em português! Só que ele responde em italiano. [...] É
interessante porque eu não falo italiano, então às vezes eu entendo
mais ou menos o que ele tá me falando e eu tenho que falar pra ele...
eu repito o que ele me fala, ou eu tento repetir em português, eu me
certifico se é isso: é isso, Enzo? Você tá querendo me dizer isso e
isso e isso? E ele responde se sim ou se não. Então ele vai me
guiando também pra gente poder se compreender. É interessante.
EXCERTO 86 – Professora 1
Como eu já tinha essa ideia de não impor o português pra nenhum
aluno, pelo menos agora nessa fase, a minha preocupação era que
eles me entendessem. Se eles me entendessem, tava tudo bem.
Então eu sempre tentei agir da mesma maneira com o aluno que fala
comigo em português, em espanhol ou em qualquer outra língua.
Quer dizer: não impor, mas reproduzir o português, depois tentar
notar se ele falou a palavra que eu falei...
EXCERTO 87 – Professora 1
A gente tem um número interessante de alunos [...] que falam comigo
em português, e cada vez mais eu vejo que os que falam outras
232
EXCERTO 88 – Professora 2
PESQUISADORA: E com você, você vê que eles querem se dirigir
em português? Eles querem?
PROFESSORA 2: Sim, a maioria. Tem dois alunos que resistem, que
dizem: “Mas eu já entendo”, “yo te entiendo, yo no quiero hablar
portugués, ya está” [“eu te entendo, eu não quero falar português, já
tá bom”]. Mas isso são 2 de 18, que às vezes eu vejo que se
esforçam e sai super mesclado, às vezes nem eu entendo, mas não,
vamos lá, vamos continuar. E eu sempre falo português. Sempre,
sempre, [...] todos me entendem, 100%.” [...]
Eu tenho vários níveis, até poderia classificar depois. [...] São poucos,
eu diria que são 3 ou 4 que falam comigo como se eu estivesse... é
óbvio que existe um pouco de sotaque, mas enfim, não é isso o que
importa, eles conseguem se comunicar em português numa boa. E
depois vem o portunhol, e depois vem aqueles que “socorro, me
ajuda!”
EXCERTO 89 – Professora 2
Eu tenho duas alunas do colégio alemão e entre elas, elas me falam
em alemão – na aula de português dentro da Catalunha.
escrita e leitura em catalão (em fase silábica do aprendizado de leitura), realize uma
atividade de nível mais fácil que um aluno B de 7 anos, menos proficiente que o
aluno A nas competências orais em português, mas com conhecimentos de leitura e
escrita mais avançados em catalão e castelhano. São competências heterogêneas e
quem faz a atividade mais “avançada” para esse objetivo não necessariamente é o
aluno com maior desenvoltura nos usos orais em português – e talvez esta seja uma
forma de empoderar o aluno menos proficiente em relação a outros conhecimentos
de seu repertório linguístico, não especificamente de português. Mesmo sem ser tão
fluente no uso oral da língua-alvo, de alguma maneira o aluno B, mais velho, mais
adiantado na escola, ainda “sabe mais” que o aluno A.
Em relação à proficiência nos usos da língua portuguesa, essa professora
do grupo 3 relata, no excerto 90, que é capaz de ver o avanço da turma. Embora, à
diferença do que se relata no excerto 87, do grupo 2, não haja uma representação
dos usos da língua pelas crianças, ela proporciona uma visão holística do
aprendizado de PLH relacionado a vários fatores, que passam pela “postura da
família”, pelas amizades e convivência em português fora da sala de aula, sendo
“pouco pelo trabalho de sala de aula”:
EXCERTO 90 – Professora 2
E tão avançando, porque essa turma tá comigo desde o início de
2014 e agora eu percebo que eles avançaram muito. Pouco pelo
trabalho da sala de aula, que é muito pouco tempo, mas eu vejo que
é todo um processo também de frequentar, de fazer uma turminha, de
ter as amigas que vão em casa brincar e tal. São vários fatores que
eu acho também que não a aula em si, talvez a aula também, mas
não somente isso, mas também... a questão da postura da família,
que começa a levar e começa a se dar conta da importância de dividir
bem os códigos, de falar uma língua ou outra, então eu percebo que
eles avançaram muito. Tô bem feliz com o desenvolvimento dessa
turma em especial.
EXCERTO 91 – Professora 3
Atualmente todos falam português. Tem algum momento em que um
solta uma frase em espanhol, em catalão. Eu sempre exijo que eles
falem português na minha aula. [...]: É... eles vão aprendendo, né? É
claro que quando é uma pessoa que você vê que não fala, você não
vai cobrar que cada palavra seja em português, você cobra um
esforço que ela sempre tem que falar em português [...]
Eu acho que a minha turma fala bem o português. Eu acho que o
escrever que eles confundem muito.
EXCERTO 92 – Professora 3
PESQUISADORA: Você consegue ver o resultado do seu trabalho
com as crianças como professora?
PROFESSORA 3: Sim e não. Eu consigo ver que eles absorvem
coisas que se ensinam, mas eu não sinto que eu modifico tanto
assim. [...] Eu sou uma coisa muito pequena dentro desse universo.
[...] Então eu não consigo materializar muito bem os resultados.
EXCERTO 93 – Professora 2
O mais difícil é estabelecer um planejamento e avaliar o que eles
realmente aprenderam nessa heterogeneidade. [...] Mas “o que eu
quero conseguir no final deste ano com essas crianças?” Isso é o
mais difícil pra mim, é um desafio. Estressante. [...] É avaliar isso, é
escolher.
EXCERTO 94 – Professora 1
Então eu acho que até aqueles pais que não falam o português com
seus filhos, depois que começam a frequentar a Associação, que os
filhos começam a frequentar a aula, passam a usar mais o português
com a criança. Talvez não o tempo inteiro, eles já têm uma língua
estipulada dentro de casa, mas eu acho que já existe um esforço
maior dos pais.
EXCERTO 95 – Professora 2
Esse diálogo com a família é importante, por mais que eles não
saibam questões pedagógicas, eles têm como te dizer que de repente
esse tipo de atividade formal não é tão importante quanto uma
musiquinha em português, um carinho em português, que de repente
eles não tenham... Acho que é importante.
EXCERTO 96 – Professora 3
Então, uma das coisas que a gente pensou era trazer mais os pais,
trazer mais as experiências dos pais, coisas que a emoção do pai
seja o que representa a cultura pra eles, essa lembrança do que eles
viveram, do que eles têm em mente que seja a cultura brasileira.
EXCERTO 97 – Professora 2
E eu posso dizer que eu não obrigo ninguém a falar. Claro que a
criança tá falando em português e eu tô assim, né, feliz da vida [com
um sorriso de orelha a orelha], eles percebem isso, né, de repente
“ah, ela tá contente porque eu tô tentando falar!”, porque a criança,
ela é muito sensível. Mas jamais eu vou dizer “fale em português”, eu
não costumo dizer isso. Porque a minha ideia é que eles falem de
alguma maneira e que eles se sintam acolhidos ali, esse fator
emocional é muito importante.
EXCERTO 98 – Professora 2
E a rodinha é o momento que a gente troca sorrisos, troca olhares,
que eu conheço um pouco... “ah, essa semana, não sei, veio o meu
primo”, é o momento que eles se abrem. Geralmente eles iniciam um
pouco com o castelhano e depois vão trocando. Eles precisam desse
momento. [...] É um quebra-gelo, que faz falta.
EXCERTO 99 – Professora 2
Eu vejo que, claro, a ideia é brincar. “O que que eu vou fazer sábado?
Não é aula de português, né, eu quero brincar! Eu quero encontrar
minha amiga ali, mostrar minha boneca que eu trouxe, o bichinho” e
tal. E eu penso, eu numa aula formal não daria tanto tempo pra isso,
porque a gente tem objetivos a seguir numa escola. Mas aqui eu acho
que é de suma importância esse tempo que eles têm de conviver, eu
acho que isso melhorou muito a aprovação deles mesmo, o interesse
239
feira e ele quer passear por aqui sábado de manhã... [...] por ser um
dia “sábado”.
48
Outros fatores identificados incluem separação dos pais, o fato de a família morar longe, a possível
desmotivação de famílias de brasileiros recém-chegadas de outros países europeus cujos filhos
tinham pouco conhecimento do português e das línguas locais usadas pelos colegas em aula.
242
Com isso, espero ter podido explorar, a partir dos dados gerados na
APBC, o modo como os três pilares do PLH – identificação, proficiência e afetividade
– configuram as políticas linguístiscas dessa comunidade. Como agentes do
processo, pais (brasileiros ou não) e professores têm destaque no que podem
oferecer aos aprendizes desta LH: os pais veem o trabalho do professor como um
complemento às práticas que já realizam em casa, e os professores se percebem
apenas como uma parte pequena do processo de aprendizagem de seus alunos –
que acontece em outros âmbitos da Associação, nas relações sociais surgidas entre
seus sócios, em casa e nas férias no Brasil.
246
Este ano, a APBC comemorou o Dia das Crianças com atividades bem
especiais que juntaram adultos e crianças. A contadora de história Larissa
Antunes, acompanhada da percussionista Maria Ilha, apresentou um
pequeno espetáculo para as famílias com contos e cantigas de roda para
maiores de 2 anos. A atividade aconteceu no dia 7 de outubro, em Canet de
Mar, e no dia 8 de outubro, em Barcelona.
Já para as famílias com crianças com mais de 5 anos, a oficina de teatro
em família, com Flávio Carvalho, foi uma opção bem divertida. A oficina
ocorreu no sábado, dia 8 de outubro, em Barcelona.
Todas as atividades foram gratuitas e abertas ao público, com o apoio do
Prêmio Ponto de Memória APBC.
Encerro esta tese com uma entrada publicada no blog da APBC sobre as
atividades realizadas pelo Dia da Criança, 12 de outubro, em 2016 – comemoração
que não tem equivalente no calendário catalão. A atividade foi realizada no horário
das aulas (portanto, como parte do currículo), por convidados especiais, e não pelas
educadoras. Tanto a narração de histórias como a oficina de teatro previa que pais e
crianças realizassem as atividades juntos. De acordo com o que a nota apresenta,
foi possível “saudar as origens brasileiras” “como se estivéssemos em casa”, “numa
248
atividade ótima para integrar principalmente os pais” por meio de uma “oficina em
família”, “com mães, pais e filhos juntos”, a qual provocou “emoção” nos oficinistas e
nos pais, ilustrando “um caminho de educar, com as emoções, com arte”.
Esse texto do blog, que fornece representações do que a APBC entende
ser o PLH, sintetiza alguns dos resultados da pesquisa descrita nesta tese e ajuda a
responder duas das perguntas de pesquisa: “Qual é a influência dos discursos e das
ações da APBC na construção das representações discursivas das famílias?” e
“Como as professoras percebem o impacto dos discursos e das ações da APBC no
estabelecimento de políticas linguísticas familiares por parte dos pais e das mães de
seus alunos?”.
Retomando o post, e relacionando com a análise das representações
apresentadas no Capítulo 5, tanto em relação aos pais como às professoras, pode-
se constatar que: a APBC cria um espaço que privilegia o uso do português em
contextos coletivos; favorece a criação de vínculos entre os usuários da língua;
reforça a percepção de que os pais são protagonistas no processo de ensino e o
entendimento de que o aprendizado de PLH se dá em contexto familiar, ainda que
se ofereçam aulas de PLH; traz indícios de que o PLH, por ser língua minoritária
num contexto de outra(s) língua(s) majoritária(s), é parte de um repertório linguístico
heterogêneo daqueles que o usam (Aisha, mãe brasileira, utiliza a palavra
espanhola cuentacuentos em seu depoimento); e evidencia que as práticas culturais
realizadas em português e associadas ao Brasil por esse grupo de brasileiros
emigrados mexem com a afetividade, ao menos dos adultos – a palavra
“emoção(ões)” aparece três vezes e “emocionados”, uma, nesse texto de 340
palavras.
A seguir, sintetizo alguns dos outros resultados importantes que emergem
da investigação – e também desse post –, tratando de retomar as demais perguntas
de pesquisa norteadoras do processo.
Lê e
1 A
escreve bem
Compreensão leitora e produção escrita
C
B
F
E
Lê bem, mas D
0,5
não escreve
H G
Não lê 0
0 0,5 1
Não entende Entende bem, Entende e
mas não fala fala bem
Tal modelo pode, por exemplo, ser usado como ferramenta que norteie os
processos de avaliação dos alunos pelas educadoras – e, porque não, também
pelos pais em relação aos filhos. Ele ajuda a entender que desenvolver
competências em PLH é um aprendizado que pode estar atrelado também ao
aprendizado de leitura e escrita na escola, além de dar visibilidade às competências
receptivas (compreensão oral e leitura) dos usuários da língua, as quais costumam
ficar apagadas ou serem menos percebidas nas expectativas de uso da língua
demonstradas pelos pais.
Se, dentro desse um repertório linguístico heterogêneo, por um lado é
necessário dar visibilidade às competências receptivas em português desse grupo,
por outro é igualmente importante ver as marcas das demais línguas do entorno
(catalão e castelhano) no português dos adultos entrevistados, com destaque para
aqueles que nasceram e moraram no Brasil nas primeiras décadas de sua vida. Não
é apenas o português falado pelas crianças aprendizes de PLH que tem
heterogeneidades: o dos adultos, tidos por “falantes nativos”, também.
Em diferentes momentos, os participantes, inclusive os brasileiros, lançam
mão do espanhol – e às vezes do catalão – durante as entrevistas (as quais foram
reproduzidas nos excertos transcritos com uso de itálico, seguidas da respectiva
tradução). Na própria entrada do blog que abre este capítulo, uma das mães utiliza,
como já dito, a palavra cuentacuentos. Essa reflexão é importante no sentido de
desconstruir a ideia de que o português hoje falado por estes adultos brasileiros
continua a ser o mesmo que falariam caso morassem no Brasil, a qual se relaciona
ao ideal do cidadão nacional monolíngue (JAFFE, 2012). É preciso dar visibilidade a
esse repertório heterogêneo e às marcas das outras línguas que o compõem no
português que usam, inclusive no caso de adultos brasileiros com alta escolaridade
e com um projeto declarado de ensinar português aos filhos. Talvez uma maior
consciência de tais usos linguísticos por parte dos próprios pais os levasse a melhor
entender os usos linguísticos dos filhos, também heterogêneos, já que por vezes as
expectativas dos pais no que se refere ao uso do português feito pelas crianças se
espelham no ideal do cidadão nacional monolíngue.
Para essas famílias, o multilinguismo é muito valorizado e é parte de sua
história de vida e do que viveram e vivem em diferentes línguas – com práticas
culturais diferentes, identificadas respectivamente com diferentes idiomas, o que
254
responde outra das perguntas de pesquisa: “Como a relação entre língua e cultura é
percebida?”. Esse conhecimento cultural diverso, somado ao repertório linguístico
heterogêneo – com níveis variados de conhecimento em cada língua, como o que os
dados desta pesquisa descrevem – apontam, como afirmado anteriormente, na
direção do paradigma do cidadão global plurilíngue descrito por Jaffe (2012). A
oscilação entre o paradigma do cidadão nacional monolíngue versus o do cidadão
global plurilíngue responde, da perspectiva das famílias, a outras das perguntas de
pesquisa: “Que conceitos de língua e competência linguística orientam a construção
dessas representações?” e “Que relação estabelecem entre o PLH e outra(s)
língua(s) presente(s)?”. Por outro lado, nas representações das professoras e dos
membros da diretoria, pode-se dizer que predominam as que apontam para o
cidadão global plurilíngue.
Assim, considerando que, independentemente do contexto, seja a
Catalunha ou outro, o PLH será sempre minoritário e estará em contato com outras
línguas, deve-se considerar que o referente de cidadão global plurilíngue é mais
adequado que o do cidadão nacional monolíngue para as reflexões que concernem
o PLH – e cabe supor que isso seja pertinente para as reflexões de LHs em geral.
Dispor de mais pesquisas e aprofundar o conhecimento de pesquisas existentes
sobre outras LHs ampliaria a discussão em torno dessa ideia, o que poderia trazer
valiosas contribuições para campo de estudo das Línguas de Herança.
Por último, em relação à percepção positiva do multilinguismo, a pesquisa
realizada sugere que as ideologias linguísticas da sociedade de acolhida influenciam
as dos imigrantes responsáveis pela transmissão de uma LH que ali residem. Cabe
destacar que o contexto em que esta pesquisa se realizou, a Catalunha, é de
bilinguismo. Assim, é válido questionar se haveria alguma correlação entre o fato de
o contexto de pesquisa ser um espaço bilíngue e tais representações positivas do
multilinguismo, e se haveria equivalentes ou diferenças significativas em relação às
representações de multilinguismo em cenários predominantemente monolíngues.
Para isso, seria interessante dispor de mais pesquisas que relacionem as ideologias
linguísticas dos espaços em que as LHs se desenvolvem e, especificamente, em
que o PLH é transmitido, dando importância às línguas de uso oficial na sociedade
de acolhida.
255
Essa mãe diz ter aderido ao modelo de “mãe americana” para que os
filhos não se sentissem diferentes, o que se conseguiria por meio do uso da língua
hegemônica, o inglês. Os dados da pesquisa, por sua vez, apontam para o modelo
de “mãe/pai catalão”, bilíngue, o que parece influenciar o modo como essas famílias
encaram o projeto de transmissão da LH. Apenas uma das entrevistadas declarou
que o marido, cuja família era originária de uma região monolíngue em castelhano,
não tinha interesse em aprender português nem em usar o catalão, apesar de ter
sido escolarizado na Catalunha e conhecer o idioma. Talvez não seja uma
coincidência o fato de ela sentir que a responsabilidade de ensinar português à filha
fosse só dela e, por vezes, sentir que estava fracassando – como a referida mãe
americana, que fracassou sozinha numa responsabilidade que nem sabia ser sua.
Mesmo quando o PLH não foi transmitido, as relações afetivas se viram abaladas
(“nenhum de meus filhos desenvolveram um relacionamento afetivo com os avós,
tios e primos no Brasil”, além do atrito e da “culpa” entre mães e filhos) – e este
257
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Catalunya, 1998.
268
Você está sendo convidado a participar como voluntário de um estudo. Este documento,
chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos como
participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o pesquisador.
Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver
perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se
preferir, pode levar para casa e consultar seus familiares ou outras pessoas antes de decidir
participar. Se você não quiser participar ou retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá
nenhum tipo de penalização ou prejuízo.
Justificativa e objetivos:
O Português como Língua de Herança (PLH), ou a língua portuguesa falada e transmitida
pelos brasileiros que moram fora do Brasil a seus filhos, é um fenômeno recente, que começou a se
consolidar a partir das ondas de imigração na década de 1980, e ainda está pouco estudado.
O cenário em que o PLH se desenvolve é muito diferente daquele do português como língua
materna falado no Brasil, pois o PLH é sempre uma língua minoritária, em contato com outras línguas
majoritárias faladas nos países em que estes brasileiros moram. O PLH também é diferente do
português aprendido como língua estrangeira. Atualmente, iniciativas coletivas, como a Associação
de Pais de Brasileirinhos na Catalunha (APBC), desempenham um importante papel na promoção e
transmissão do PLH. Até o momento, a forma de atuação e as estratégias dessas iniciativas foram
pouco estudadas.
Esta pesquisa pretende aprofundar os conhecimentos sobre algumas questões do PLH,
especificamente sobre o planejamento linguístico e as políticas linguística familiares adotadas por um
grupo de famílias sócias da APBC. Para entender o papel que uma associação como a APBC tem na
transmissão do PLH, esta pesquisa pretende conhecer a representação da APBC, através de suas
famílias, do que é PLH.
“Representações” é um conceito usado nos Estudos Culturais para se referir ao processo pelo
qual as pessoas usam a linguagem para atribuir significados e pensar culturas. As representações
podem ser encontradas em discursos pessoais (de pessoas, através de entrevistas, conversas,
atitudes), institucionais (da APBC, através de sua comunicação institucional) ou mesmo através de
práticas sociais.
Os objetivos desta pesquisa são i) descrever e analisar os discursos da APBC sobre políticas
linguísticas para PLH; ii) conhecer as representações das famílias-membros da APBC sobre o
planejamento e as políticas linguísticas para PLH desenvolvidas pela APBC e por suas famílias; e iii)
verificar se esses discursos são coerentes com as práticas observadas nas famílias e na APBC.
Procedimentos:
Participando do estudo você está sendo convidado a:
1. Preencher um questionário com algumas informações biográficas sobre você, sua família (o
outro progenitor de seu(s)/sua(s) filho(s)/a(s) e seu e seu(s)/sua(s) filho(s)/a(s)) e seus usos
linguísticos, que leva cerca de 15 minutos para ser preenchido;
Rubrica do pesquisador:______________ Rubrica do participante:______________
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276
Desconfortos e riscos:
Durante sua participação na pesquisa, na entrevista individual e no grupo de discussão
podem ser abordados temas de sua intimidade familiar e questões relacionadas à imigração (sua ou
do outro progenitor de seus filhos) que podem gerar desconforto emocional no participante. Caso
você se sinta desconfortável, deve informar à pesquisadora que não deseja abordar o tema ou falar
sobre esse assunto e ele não será abordado.
Você pode se sentir desconfortável ou coibido a agir com naturalidade ao saber que está
sendo observado pela pesquisadora. A pesquisadora tentará agir com naturalidade nas situações
sociais a que tiver acesso para diminuir esse desconforto. Você pode pedir para não ser observado
para as finalidades de pesquisa em certas situações, e a pesquisadora se compromete a respeitar seu
pedido.
Não há riscos físicos previsíveis pela participação neste estudo.
Estima-se que seja necessário cerca de 15 minutos para responder ao questionário, 1h para a
participação na entrevista individual e 1h para a participação no grupo de discussão. O período de
observação pode se estender por até 24 meses. Você pode participar só na entrevista ou só no grupo
de discussão ou em ambos, devendo responder ao questionário em qualquer caso.
Caso deseje retirar seu consentimento total ou parcial para participar na pesquisa ou para
que as informações geradas a partir de sua participação sejam utilizadas, pode fazer isso a qualquer
momento, sem qualquer prejuízo pra você, devendo informar a pesquisadora por escrito.
Benefícios:
Os participantes do grupo de discussão terão a oportunidade de conhecer outras opiniões e
compartilhar experiências de vida com pessoas que têm preocupações semelhantes em relação ao
ensino do PLH aos filhos, o que pode ser enriquecedor para você.
Os participantes das entrevistas individuais terão a oportunidade de ser ouvidos e ter sua
experiência de vida valorizada.
Posteriormente, o conhecimento gerado a partir desta pesquisa e das informações
fornecidas pelos participantes estará disponível à comunidade científica e ao público geral através da
tese de doutorado da pesquisadora, incluída no acervo das bibliotecas da Unicamp e disponível para
consulta, e de artigos científicos sobre este campo do conhecimento. Espera-se que este
conhecimento ajude a gerar um diagnóstico da atuação da APBC, identificando potencialidades
Rubrica do pesquisador:______________ Rubrica do participante:______________
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277
e áreas a serem melhoradas, e que possa ser útil na futura gestão desta associação. Caso isto ocorra
e o participante continue vinculado à APBC, poderá ser beneficiado dos resultados desta pesquisa.
Acompanhamento e assistência:
Além de sua participação na entrevista individual e/ou grupo de discussão, a pesquisadora
pode observá-lo em situações sociais vinculadas à APBC (eventos organizados pela mesma, presença
no Centro Cívico Parc Sandaru durante o horário das atividades da APBC), sempre de modo discreto e
em caráter coletivo – ou seja, considerando as interações sociais que ocorrem nessas situações, e
não sua conduta individual. Essa observação será realizada por um período máximo de 24 meses a
partir da assinatura deste termo de consentimento. Não é necessário comunicar à pesquisadora que
você estará nesses espaços e a pesquisadora não irá contatá-lo(a) para saber se você estará
presente, e você pode continuar a frequentar a APBC com a periodicidade que desejar sem que isso
interfira na pesquisa.
A pesquisadora também poderá observar sua interação com outros sócios da APBC em
situações sociais e encontros organizados entre particulares, e não pela APBC, caso tenha acesso a
eles de modo natural e espontâneo (ou seja, sem que seja preciso agendar para que a pesquisadora
esteja presente). Em todo caso, o foco desta observação são as situações sociais e interação entre os
participantes, e nunca seu comportamento individual.
A pesquisadora tentará contatar os participantes para informar que os resultados da
pesquisa se encontram disponíveis, na forma da tese de doutorado, após sua conclusão.
Os riscos de que sejam necessárias intervenções médicas ou terapêuticas em decorrência de
sua participação na pesquisa são considerados desprezíveis e não haverá acompanhamento dos
participantes após o término da pesquisa.
Sigilo e privacidade:
Você tem a garantia de que sua identidade, e a da(s) criança(s) por qual(is) é responsável
legal, será mantida em sigilo e nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam parte
da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, o nome de vocês não será
citado.
Após a tabulação das informações dos questionários, os mesmos serão destruídos. Após a
conclusão da tese de doutorado, prevista para março/2017, as gravações das entrevistas e dos
grupos focais serão transferidas para o banco de dados do Grupo de Pesquisa certificado pelo CNPq
“Vozes na Escola: cultura e identidade em cenários sociolinguisticamente complexos”, co-liderado
pela orientadora da pesquisadora, profa. Dra. Terezinha de J. Machado Maher, e pela profa. Dra.
Marilda Cavalcanti, do qual a pesquisadora responsável é membro, e serão apagados de quaisquer
dispositivos de armazenamento de dados da pesquisadora (computador, gravador digital, tablet, HD
externo etc.). As gravações não serão armazenadas ou compartilhadas na rede ou em espaços
virtuais como Dropbox, Google Drive etc.
As anotações das observações serão destruídas ou apagadas dos dispositivos de
armazenamento após o término da pesquisa.
Ressarcimento:
Não haverá ressarcimento de despesas aos participantes. A pesquisadora tentará se adequar
aos espaços e horários mais convenientes do participante para evitar que você tenha que se descolar
ou tenha gastos com transporte.
Contato:
Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com a pesquisadora:
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Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do estudo,
você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP:
Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax
(19) 3521-7187; e-mail: cep@fcm.unicamp.br
_______________________________________________________ Data:
____/_____/______.
(Assinatura do participante)
Responsabilidade do Pesquisador:
Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e
complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma cópia deste
documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o
projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta
pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o
consentimento dado pelo participante.
______________________________________________________ Data:
____/_____/______.
(Assinatura do pesquisador)
*** Este documento deve ser assinado em duas vias, uma para a
pesquisadora e uma para o participante. ***
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Responsabilidade do Pesquisador:
Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e
complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma cópia deste
documento ao RESPONSÁVEL LEGAL pela criança participante. Informo que o estudo foi
aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o
material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste
documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.
______________________________________________________ Data:
____/_____/______.
(Assinatura do pesquisador)
*** Este documento deve ser assinado em duas vias, uma para a
pesquisadora e uma para o participante. ***
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Idade: Idade:
Você morou em algum outro país além da O outro progenitor morou em algum outro país
Espanha? Onde e quando? além da Espanha? Onde e quando?
Que línguas você fala com seu(s)/sua(s) filho(s)/filha(s)? (Se forem línguas diferentes com cada criança,
especificar)
Que língua você fala com as outras pessoas que moram com você, além de seu(s) filho(s)/sua(s)
(s)/filha(s)? (Se forem línguas diferentes com cada pessoa, especificar)
Que língua você mais usa nas suas relações sociais fora de casa?
a) Com amigos:
__________________________________________________________________________
b) No trabalho:
___________________________________________________________________________
Filho(a) 1
Nome (opcional):
Data de nascimento:
Que outras línguas seu filho ou sua filha conhece e por quê? (aprende na escola, língua da família, faz
curso, língua do lugar que morou...)
Que língua seu filho/sua filha fala com o outro progenitor da criança?
Em que língua(s) seu filho/sua filha está sendo escolarizado? Em que língua(s) são os livros didáticos que
ele/ela usa?
284
Filho(a) 2
Nome (opcional):
Data de nascimento:
Que outras línguas seu filho ou sua filha conhece e por quê? (aprende na escola, língua da família, faz
curso, língua do lugar que morou...)
Que língua seu filho/sua filha fala com o outro progenitor da criança?
Em que língua seu filho/sua filha está sendo escolarizado? Em que língua são os livros didáticos que
ele/ela usa?
Filho(a) 3
Nome (opcional):
Data de nascimento:
Que outras línguas seu filho ou sua filha conhece e por quê? (aprende na escola, língua da família, faz
curso, língua do lugar que morou...)
285
Que língua seu filho/sua filha fala com o outro progenitor da criança?
Em que língua seu filho/sua filha está sendo escolarizado? Em que língua são os livros didáticos que
ele/ela usa?
286
1. Como você chegou a Barcelona? Por que você veio morar em Barcelona? [se for brasileiro]
Como você se aproximou do Brasil? De onde você é? Por que veio morar em Barcelona? [se
não for brasileiro]
2. Como você conheceu o pai/mãe de seu(s) filho(s)/sua(s) filha(s)? Que língua falava com
ele/ela quando se conheceram? Essa língua mudou com o passar do tempo? Se sim, que
língua vocês passaram a utilizar um com o outro e qual foi o motivo dessa mudança?
3. Você teve que aprender a língua materna do companheiro/a? Seu companheiro/a teve que
aprender sua língua materna?
4. Como foi esse processo de aprendizagem para vocês? Foi difícil? Foi prazeroso?
5. Você chegou a pensar sobre que língua falaria com seu filho quando estava grávida/sua
companheira estava grávida? Vocês conversaram sobre isso em algum momento após o
nascimento da criança? Chegaram a fazer algum plano em relação a isso?
8. Como você vê o multilinguismo da Catalunha? Você fala espanhol? Catalão? Qual dessas
línguas você acha mais bonita, mais fácil e mais importante?
9. Você acha fácil ou difícil entender o português? [se não for brasileiro]
12. O que você acha da APBC hoje? O que tem de bom nessa Associação? O que você não gosta
nela?
13. Por que você traz/não traz seu filho às aulas de português da APBC?
14. Você acha importante ele aprender a língua portuguesa ou para você é mais importante ele
conhecer a cultura do Brasil que a língua?
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15. O que o outro progenitor do seu filho/da sua filha acha de ele/ela vir às aulas? Ele traz a
criança?
16. Na sua opinião, o que seu filho/sua filha aprende nas aulas?
17. Com que frequência você vem à APBC? Todo sábado? Nem sempre? Por quê?
18. Como você se relaciona com as outras famílias da APBC? O que você faz enquanto seu
filho/sua filha está assistindo as aulas de português? Você vê essas pessoas fora do Centro
Cívico Sandaru?
20. Você frequenta os eventos da APBC? De quais atividades você participa? Por quê?
21. Você fala português com seu filho/sua filha em casa? Em que situações? Por quê? Que outras
línguas você usa em casa e com seu filho/sua filha?
22. Você fala português com seu filho/sua filha fora de casa? Em que situações? Por quê? Que
outras línguas você usa fora de casa e com seu filho/sua filha?
23. Você fala português com seu filho/sua filha na frente dos seus amigos? E dos amigos da
criança?
24. O que você acha de seu filho/sua filha aprender mais de uma língua? Quais línguas ele/ela
fala? Qual delas é mais importante pra você?
25. Para você, como é educar seu filho em mais de uma língua? [fácil/difícil/me sinto inseguro/a
etc.] E para seu/sua atual companheiro/a? [Caso o/a companheiro/a não seja o pai/mãe da
criança:] E para o outro progenitor da criança?
26. O que seu filho/sua filha acha de ter que fazer um curso aos sábados?
27. O que seu filho/sua filha acha de falar português? Qual a atitude dele/dela em relação a essa
língua?
28. O que seu filho/sua filha acha de falar outras línguas? Qual a atitude dele/dela em relação a
essas outras línguas? [qual a língua da escola/da família/das brincadeiras, qual língua a
criança prefere usar]
29. O que você acha do papel da professora de português na vida do seu filho/sua filha?