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A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Contexto do Livro
Escrito primeiramente em 1980 e traduzido para o português em 1987
O livro aborda os conceitos iniciais da Psicodinâmica do Trabalho
Em 1980, a psicopatologia do trabalho estava em estado embrionário
A psicanálise, a psicossociologia do trabalho e a psicologia abstrata
não davam conta das explicações para o entendimento das relações
de trabalho
O subdesenvolvimento prolongado da psicopatologia do trabalho se
explica por fenômenos de ordem histórica
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

A história da Saúde dos Trabalhadores


O Século XIX e a luta pela sobrevivência
Era do Capitalismo industrial
Jornada de trabalho entre 12 e 16 horas
Crianças trabalhando
Salários baixos
Desemprego exerce pressão
Altos índices de acidentes
Não havia “saúde” na/da classe operária
“Miséria Operária”
As exigências do trabalho ameaçavam a própria mão de obra
Conceito assimilado a uma doença contagiosa
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

O movimento higienista é a resposta social ao perigo da época


A higiene trata de aspectos físicos: limpeza dos comestíveis e das bebidas, do
regime dos soldados, dos marinheiros.
Controle de epidemias, zoonoses, hospitais, hospícios, cabarés, presídios,
inumações, cemitérios etc.
Lado ruim: ênfase no comportamento moral da sociedade.
Define o que são “enfermidades sociais” (decorrentes da miséria, promiscuidade,
questionamento da religião, etc.)
O movimento higienista se alia ao movimento das ciências morais e políticas e ao
movimento dos grandes alienistas
Os médicos ocupam posição de destaque
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

A repressão estatal surge como resposta aos movimentos de


higienistas, moralistas e alienistas
O Estado passa a agir em nome dos patrões (vira árbitro parcial)
Em contrapartida, as reivindicações operárias tornam-se um
movimento político.
Os movimentos operários buscam o direito à vida e a liberdade de
organização.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Da primeira Guerra Mundial a 1968


O movimento operário adquiriu bases sólidas
Buscam a saúde do trabalhados como pauta constante
Por conta da primeira guerra mundial, muitos inválidos para a guerra passam a ocupar
as indústrias. Há escassez de mão de obra.
Surge o Taylorismo – escola que neutraliza a aDvidade mental do operário.
O aparelho psíquico e o corpo dócil e disciplinado são as víDmas do sistema.
Albert Thomas, em 1916, reduz a jornada de trabalho para 8 horas diárias e a
produção aumenta!
Surgem as primeiras leis que permitem indenização por doenças/acidentes de
trabalho.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Medicina do Trabalho se estabelece, assim como a
Previdência Social e os Comitês de Higiene e Segurança.
Infelizmente, o entendimento da época limitava-se apenas ao corpo, esquecendo-se
do aparelho mental.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours
Terceiro Período: Após 1968
Começam a surgir os primeiros trabalhos de Saúde Mental
Há o reconhecimento do fracasso do movimento taylorista para a saúde dos
trabalhadores.
Ocorre uma crise de civilização (contestações da sociedade) e a desilusão pós-guerra.
1968 foi um ano de greves selvagens e quesDonamentos contra a sociedade de
consumo e alienação
Muitas publicações acadêmicas surgem
O sofrimento mental resulta da organização do trabalho
Condição de trabalho:
Ambiente [sico – ambiente químico – ambiente biológico – as condições de higiene
e segurança e as caracterísDcas antropométricas do posto de trabalho
Organização do trabalho:
Divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa (na medida em que ele dela deriva), o
sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões
de responsabilidade, etc.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

A psicopatologia do trabalho
O objetivo da psicopatologia do trabalho de Dejours é ir além da
explicação do campo comportamental e entender a anulação do
comportamento livre.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

AS ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS
As ideologias defensivas
O sofrimento é maciço e evidente no subproletariado
Todos os problemas sociodemográficos – resumindo Dejours – são culpa do trabalho
(alcoolismo, excesso de filhos, doenças, etc.)
A ideologia da vergonha – Não existe nem palavra, nem linguagem para falar do
corpo do subproletariado.
Espera-se chegar no limite da dor para procurar ajuda e quando ela some, parece
que o subproletariado está mentindo.
Para eles ter doença significa admitir que não se quer trabalhar
O trabalho é sagrado, adoecer é profano
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Função da ideologia defensiva – afastar o corpo do trabalho.


Caso essa ideologia falhe, identifica-se um problema individual e para lidar com
isso surgem a vergonha, alcoolismo, etc.
Calar sobre a doença e o sofrimento leva, de maneira coerente, a recusar cuidados,
a evitar as consultas médicas, a temer hospitalizações.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Ideologia Defensiva Funcional


Objetiva mascarar, conter e ocultar uma ansiedade particularmente grave
É um mecanismo elaborado por um grupo social particular e que está relacionado com a organização do
trabalho ou emprego e subemprego (caso do subproletariado)
Ela não é dirigida contra uma angústia proveniente de conflitos intrapsíquicos de natureza mental, e sim
contra um perigo e riscos reais.
Para ser operatória (funcional), deve obter a participação de todos os interessados. Aquele que não
contribui ou que não partilha do conteúdo da ideologia é, cedo ou tarde, excluído (mandado embora ou
isolado).
A ideologia defensiva inclui certos arranjos rígidos com a realidade
A ideologia defensiva é coletiva e substitui os mecanismos de defesa individuais, ela os torna
impotentes. Quando um indivíduo é isolado, ele se encontra brutalmente desprovido de defesa face à
realidade a que ele é confrontado. (seus mecanismos de defesa se tornam impotentes).
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Os mecanismos de defesa individual contra a organização do trabalho: o exemplo


do trabalho repetitivo
A proposta de Taylor era de reduzir a vadiagem social, porém, o modo operatório
cientificamente estabelecido não pode ser aplicado aos artesões, por exemplo.
O homem no trabalho, artesão, desapareceu para dar luz a um aborto: um corpo
instrumentalizado-operário de massa – despossuído de seu equipamento intelectual
e de seu aparelho mental.
O taylorismo dilui as diferenças, cria no anonimato e intercâmbio enquanto
individualiza os homens frente ao sofrimento.
Para Dejours, a individualização e o fracionamento das tarefas são uniformizantes.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

A falta de senDdo da tarefa individual e o desconhecimento do senDdo


da tarefa coleDva só tomam a sua verdadeira dimensão psicológica na
divisão e separação dos homens.
Uma vez conseguida a desapropriação do know-how, uma vez
desmantelada a coleDvidade operária, uma vez quebrada a livre
adaptação da organização do trabalho às necessidades do organismo,
uma vez realizada a toda poderosa vigilância, não restam, senão corpos
isolados e dóceis, desprovidos de toda iniciaDva.
Desapareceu a aDvidade intelectual engajada pelo operário-artesão no
seu trabalho.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Até indivíduos dotados de uma sólida estrutura psíquica podem ser


víDmas de uma paralisia mental induzida pela organização do trabalho
(monotonia e repeDção)
Certos trabalhadores enfrentam a monotonia da tarefa com
possibilidades defensivas individuais muito menos eficazes (defesas
comportamentais) e seu sofrimento é, com isso, notoriamente agravado.
Poucos são os trabalhadores que podem usar seu tempo fora do trabalho
de acordo com o seu desejo.
Ocorre a contaminação do tempo fora do trabalho.
Se o sujeito está despersonalizado no trabalho, permanecerá
despersonalizado em sua casa.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Que sofrimento?
Os sistemas defensivos individuais e coletivos são utilizados contra o
sofrimento e a insatisfação. Serve para que não percebamos a falta de
significado do trabalho.
Significado do trabalho
Conteúdo significativo em relação ao Sujeito
Conteúdo significativo em relação ao Objeto
Sucesso ou fracasso de um trabalho obrigatório: sucessos reais,
socialmente reconhecidos ou efetivamente desconhecidos não causam
o mesmo impacto sobre o narcisismo.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

O conteúdo significativo do trabalho em relação ao objeto: ao mesmo


tempo que a atividade de trabalho comporta uma significação
narcísica, ela pode suportar investimentos simbólicos e materiais
destinados a um outro, isto é, ao Objeto.
Toda atividade possui um simbolismo em relação ao Sujeito e ao
Objeto e sua dissociação é difícil.
A certeza de que o nível atingido de insatisfação não pode mais
diminuir marca o começo do sofrimento.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours
Insatisfação e Conteúdo Ergonômico do trabalho
A análise ergonômica desconsidera o aspecto mental, privilegiando apenas os
aspectos físicos e fisiológicos
Apesar disso, temos a “positividade da prática ergonômica” (resultados positivos
da ergonomia)
Porém, para Dejours, a melhoria das condições de trabalho produz efeitos positivos
passageiros (ocorre a habituação)
Geralmente utilizamos uma “ergonomia de correção” (adaptação de um ambiente
que já existe).
É preciso ir além da análise ergonômica no trabalho e enveredar por uma
investigação psicossomática.
A adaptação do sujeito ao trabalho envolve três dimensões: exigências de ordem
física e psicomotora, exigências de ordem psicossensorial e exigências de ordem
intelectual.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

No estudo da insatisfação com o trabalho relacionado ao conteúdo ergonômico da


tarefa é preciso tirar duas conclusões:
A insatisfação com o trabalho não corresponde só ao conteúdo significativo do
trabalho nem ao seu conteúdo simbólico, mas que existe, paralelamente na
profissão, uma satisfação em relação com o exercício do corpo, no sentido físico e
nervoso.
E preciso considerar a estrutura da personalidade na relação homem-trabalho.
As exigências da tarefa são o que nós descrevemos sob o nome de conteúdo
ergonômico.
Carga de trabalho: o custo individual da tarefa (depende da estrutura de
personalidade)
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Satisfações
As satisfações concretas dizem respeito à proteção da vida, ao bem-estar físico,
biológico e nervoso, isto é, a saúde do corpo. Estas satisfações concretas analisam-se
em termos de economia psicossomática, segundo duas linhas diretrizes: subtrair o
corpo à nocividade do trabalho e permitir ao corpo entregar-se à atividade capaz de
oferecer as vias melhor adaptadas à descarga de energia. Isto é: fornecer atividades
físicas, sensoriais e intelectuais segundo proporções que estejam em concordância
com a economia psicossomática individual.
As satisfações simbólicas: desta vez, trata-se da vivência qualitativa da tarefa. É o
sentido, a significação do trabalho que importam nas suas relações com o desejo.
Não é mais questão das necessidades como no caso do corpo, mas dos desejos ou
das motivações. Isto depende do que a tarefa veicula do ponto de vista simbólico.
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

Trabalho e Medo
A investigação da angústia só deve ser realizada pela psicanálise.
O medo é de adoecer ou de se tornar inútil para o trabalho.
As variáveis para gerenciar o medo acabam focando aspectos físicos e biológicos.
O medo assume representações simbólicas coletivas (metáforas, por exemplo)
Os sinais indiretos do medo: a ideologia ocupacional defensiva.
As atitudes de negação e de desprezo pelo perigo são uma simples inversão da
afirmação relativa ao risco.
A ideologia defensiva é funcional em nível de grupo, de sua coesão, de sua coragem, e
é funcional também no nível do trabalho; é a garantia da produtividade
A Loucura do Trabalho – Christophe Dejours

As diferentes formas de ansiedade (p. 100)


Ansiedade relaDva à degradação do funcionamento mental e do
equilíbrio psicoafeDvo
Ansiedade relaDva à degradação do organismo
Ansiedade gerada pela disciplina da fome

A exploração do sofrimento
O medo aumenta com a ignorância
O costume gera a práDca das ideologias defensivas
O medo e a ordem social na empresa
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Metodologia em Psicopatologia do Trabalho


1.A pesquisa inicial
2.A pesquisa propriamente dita
3.A solicitação, o grupo homogêneo e o coletivo
4.O material da pesquisa
5.A observação clínica
6.O método de interpretação
7.Validação e refutação de dados
8.Metodologia e teoria em psicopatologia do trabalho
Paradoxo Tostines: somos os melhores por termos os melhores
alunos ou temos os melhores alunos por sermos os melhores? 22

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