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-Po
Clovis Rosa Nery
Psicólogo com formação em Gestalt-terapia, e graduado também em Administração de Empresas.
Possui especialização em Recursos Humanos e Auditoria, com mais de 20 anos de experiência
profissional. Por muitos anos foi auditor, gerente e coordenador de grupos de trabalhos em
empresa de projeção nacional, inclusive responsável por implantação de grandes projetos.
É professor de cursos de desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional,
consultor de empresas e escritor, com 11 livros eseritos.
COMPARTILHANDO
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ora da Juruá Psicologia: Ana Carolina Bittencourt
1SBN: 978-85-362-4409-9
PARA CRESCER
Experiências Psicaterápicas
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em Gestalt-Terapia
Poi fuga!
Editor: José Ernani de Carvalho Pacheco
A Çestal tlerapia
- ao considerar a p.esgna mia totalidade, nan
que o "mellicurjána.4.9ateáa.
de contato entre o organismo e o ambiente Não se concebe n hntrepri
_isolado de seu contexto e a relacao processual carg otgamsw . e am-
a • _NP I • ee a•
vivencia1 do nrganismo e_seu ambiente
Na vida, o organismo tem diante de si um campo onde há uma
variabilidade de estímulos ambientais. No ato da percepção, em conso-
nância com suas necessidades a serem atendidas, o organismo assimila
um estímulo e rejeita outro. A soma dos estímulos com os quais o orga-
nismo se identifica e assimila, se reorganiza e forma a sua impressão ou
conclusão sobre determinada situação, reconfigurando o seu campo vi-
vencial (Rodrigues, 2004, p. 168). Ocorre uma relação interativa entre
organismo e ambiente, de forma tal que as necessidades do organismo
estão, até certo nível, ligadas às características do campo vivencial da
pessoa (Ribeiro, 1995, p. 104).
Assim, um viver saudável e_ a ou_raimalkam o fechamento das
• 11. •
É
•
•' ' mogerando neuroses. enfim doenças,
pois, embora tenhamos condições de suportar adversidades e privações,
também, cada pessoa tem suas limitações distintas nesta questão.
Falando sobre isso, Polster e Polster dizem que "a maioria das
pessoas tem unia grande capacidade de tolerar situações inacabadas"
de7ido ao fato de que na vida 'e '• . . ".. m.
des.-kãras situações incompletas anseiam por sua com letude dentro de a-
22
Clovis Rosa Nay
Cornpanilliando para Crescer
n2sso organismo., P2ii.j.g.so_éclliatula
_ há uni clima propícios elas- 23
, 1.2
einergem-dodo s assolando com "preocupiWes, compoarmento — FICOS BÁSICOS
compulsivo, temores, energia opressiva e muitas atividades autoderrotis- `Kat kkjnxbiLlye
tas" (Polster & Polster, 2001, pp. 48-52). Ecamjnernos resumid
e
_gup Ribeiro .9 e 160 a doen a,,, n a fenomenolo ia pilares filosóficos básicos da Ges -
aniza - •.
cam o" uma desarmo • • mo e seu ambiente
visto que o crescimento individual pumeia e decorre da relação =pg. 1.2.1 Humanismo
e nos curamos em adoeçemos em gruno
" atiza ue o o é o es a o vital sinô-
nimo de cam o v. e • O humanismo é um movimento filosófico-moral iniciado no sé-
ou en a odem acontecer, culo XIV, na Europa. Existem várias correntes humanistas. Todas com
. denendendo da qualidade dos níveis de contato
porque, de certa forma, filosofias distintas. Dentre elas, podemos citar o humanismo religioso, o,
todos estamos conectados. Miranda e Miranda (1986, p. 31) falam que universalista, o logosófico, o secular, o renascentista e o positivista.
ninguém sai de um encontro da mesma forma que entrou, porque, con-
forme Rodrigues (2004, p. 188) "somos o resultado de nossas relações" Na escola gestáltica, o humanismo é concebido de uma forma
que travamos durante a existência. singular que prioriza e valoriza a relação dialógica buberiana "Eu-Tu"
nas práticas psicoterápicas. Talvez, poderíamos batizá-lo de "Humanismo
Isadore From, na introdução do livro de Perls, Hefferline e Go- dialógics
r'nOriginou-se na Europa e, quase simultaneamente, nos EUA,
odman (1997, p. 25) diz que "a experiência" da pessoa "se desdobra em um no século XX. Foi uma opção alternativa crítica à psicologia comporta
campo [...] carregado de premências — a vontade, necessidades, preferên- mental mecanicista, reducionista e determinista que exclui de seus méto--
cias, anseios, desejos, julgamentos e outras expressões ou manifestações do dos a introspecção e os fatores emocionais.
ser"; logo, a conscientização, que é caracterizada pelo sentir o contato, Par
refere-se ao aperceber mental, corporal e emocional do que se passa no mo o homem e "v - r" o
uanto houver vida há
aqui e agora de um organismo, não ocorre desvinculando-o do ambiente. - se •
ossibilidades
52 -
de crescimento. Vê o home
• é- -.01 r - et - ido a uea.essoaé o ue e
Polster e Polster (2001, p. 85)&stentam que o organismo tem ea vontade •ois é ela mesma uem escolhe o sue suerser.
uma disposição natural para desenvolver um "bom contato", mas o entra-
ve surge quando ele não consegue "2 que deseja.", daí emergem as pertur- home lidade de construir-se dele!se do pl.:
bações, sendo estas a gênese da neurose. Ribeiro (1994, p. 150), a res- ue o hum citar seu direito de escolha. Não seria inc s . eIg
é
•
III • I eis ,
peito desse assunto é sucinto. Ele fala que "o homem nasceu para ser mem existe no mundo
• 01 It" • •
• mos e g g
saudável". Finalmente, Powell (apud Miranda & Miranda, 1986, p. 130) ortanto, tem •ue e t, .e er r a -
arremata essa questão dizendo que "a pessoa inteira é aquela que stabe- cantes ara viver. Na visão das sicoterapias humanísticas, ao se• "simro- e
lece um contato significativo e profundo com o inundo à sua volta". mover a ideia do homem como centro" esta se rmando ue ele é "ca-
A abor.:, ! ! - •' (Ribeiro, 1995, p. 29).
. utilizando- e inclusive de experimen-
os trai). e • • t im . s• g. .6...•i.'
is .1 Quando se diz que "o homem é o centro do mundo", em princí-
chamento e pio, não há nenhuma novidade na afirmação, porque desde os tempos do
` te a ao me or do cliente (Perls, Hefferline & Go-
odman, 1997, p. 48). Gênesis, já estava sentenciado ao homem: "[...] enchei a Terra e sujeitai-
-a; dominai-a [...]". Esse fato, de alguma forma, implica poder conferido
Os pressupostos teóricos que dão consistência a este trabalho ao homem para que ele o exerça sobre os demais seres viventes na Terra.
"compõem as bases da Gestalt-terapia e são apresentados aqui, com ênfase
nas questões atinentes aos pilares filosóficos básicos, ao selfe Embora sejamos limitados, não o somos no sentido lato do vo-
suas funções, cábulo. Temos mais poder outorgado pelo Criador do que qualquer outro
a doença e a cura, o contato, as escolhas, o experimento e a psicoterapia.
animal terreno. Parece que o que nos falta é mais conhecimento de nós
mesmos. Possunnos e icit de autoconhecimento, e a pronnst
humanismo é reg lá t eiro, 1995, pp. 28-29).
24 Clovis Rosa Nen, çompartilliando para Crescer 25
(Uma vez restritos no conhecimento intrapessoal, temos dificul- ria: "A existência precede a essência", enfatizando que o homem, no dias
dades para explorar todas as possibilidades de nosso ser. Consequente- dia, é o seu próprio criador, e utilizou-se enfaticamente do conceito de
mente, nossas relações interpessoais também ficam fragilizadas. Se não angústia de Kierkegaard para mostrar o peso de nossa responsabilidade
nos conhecemos bem, como podemos nos amar plenamente? Se não no ato de escolher (Sartre, 1984, pp. 3-9).
amamos a nós mesmos como devíamos, como podemos amar o nosso À luz do que esse autor nos legou, há um "fazer-se" destinado a
próximo? Daí, vivemos na periferia de uma vida plena, tanto em relação cada um de nós, mas que jamais se completará porque somos finitos. Esse
intrapessoal, quanto interpessoal) princípio indica que nós escolhemos o que vamos ser nesta vida passagei-
A Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica/existencial/ ra, inclusive o que aceitamos, pensamos, rejeitamos, sentimos e procede-
htun a • • e vendo e tratando o homem por inteiro, procura conduzir o mos. É a consciência de liberdade e a responsabilidade que dão sentido à
cliente a conhecer melhor a si mesmo, a a cançar uma "plemtu e' e nossa peregrinação terrena, mas essa liberdade aparece como uma espécie
vida, por meio do "agir", do "pensar", e do "expressar-se através da lin- de condenação e fonte de, grande angústia, pois o fim é inevitável.
guagem" (Ribeiro, 1995, p. 30).
Segundo Ribeiro (1995, p. 32), "como -para o existencialismo,
2‘11;c1bém para a Gestalt-terapia a existência é a grande
. interrogação" Em
i.2.2 Existencialismo verdade, não precisamos nos alongar muito, para mostrar que, ao viver-
mos em sociedade, somos "forçados" a vestir algumas camisas de forças
O dinamarquês Aabye Soren Kierkegaard e o filósofo alemão que nos são impostas.
Maitin Heidegger foram os grandes nomes do movimento existencialista,
A vida do homem é dupla: uma, intima e individual, tanto mais inde-
iniciado no século XIX. Nos relatos de Champlin e Bentes vemos Ki- pendente quanto mais elevados e abstratos os seus interesses; outra, a
erkegaard enfatizando a singularidade de cada pessoa e a necessidade de vida geral, a vida no formigueiro humano, que o envolve com suas leis
se encontrar um sentido no ato de viver por meio do "poder da vontade, e co obriga a cumpri-las. (Tolstoi, 1981, p. 65)
não o poder da razão", o homem sendo "por ele defmido como a súmula
de seus atos voluntários", e usando a palavra "Angst" — angústia, para Ao nos adaptarmos ao modo de viver que esperam de nós, si-
mostrar que "um homem aproxima-se de seu alvo, [..] em meio a temor e lenciamos muitas de nossas próprias questões, porque temos de nos
ansiedade", ante a sua finitude. Heidegger tratava da questão da angústia adaptar ao mundo onde estamos. Ao nos "moldarmos" a uma condição
humana como sendo uma consequência da temporalidade e do mistério imposta, inevitavelmente silenciamos parte de nosso ser. Se isso não é
da existência. Usando a palavra "Dasein — estar ali", "em seu livro O ser uma fonte de angústia é, no mínimo, um agravante a esse sentimento que
e o tempo, Heidegger exorta os homens a refletirem sobre o seu próprio nos é tão comum.
ser" (Champlin & Bentes, 1997, pp. 73, 701-702, v. 3). Parece que ficou claro que a nossa liberdade tem limites. Nesta
_.Q...s#,Gulo XX. o existencialismo ganhou foro após a segunda questão, cada de um de nós adapta-se de forma distinta. A diversidade
guerra mundial, com Jean-Paul Sartre. A máxima da filosofia existenci• 'ata dos humanos não decorre somente de nossa história genética, mas princi-
sartriana é. "A existência precede a essênciquer dizer que "o ho- palmente de como cada um por meio de escolhas, ações e omissões porta-
meranão tem uma_essência nré-determinada, mas ele se faz em sua existên- -se no mundo assimilando, rejeitando e introjetando seus estímulos, num
cia" no mundo, por meio de suas escolhas (Marcondes, 2005, p. 159). campo de limitações circunstanciais, porque as possibilidades são restri-
A princípio, as ideias de Sartre receberam críticas, devido ao tas ao que está disponível no contexto do ambiente (Rodrigues, 2004, pp.
seu conteúdo ateu, o que chocava a moral religiosa, e por afrontarem o 87-88). Nesse sentido, se todos nóssomos seres em construção", cada
marxismo. Isso levou esse filósofo a fazer uma conferência em prol da pessoa, em algum nível, é a própria construtora de si, e nisto está incluída
defesa do existencialismo, nos termos por ele propostos. Ele tentou mos- a liberdade com responsabilidade.
trar que se há barreira entre o existencialismo e o humanismo, elas são No existencialismo, a condição humana não se refeleapie..,
porosas, tanto é que o título de sua conferência foi: "O existencialismo é fizeram de mim mas o . • • me • e - - em e • e . .." .
um. humanismo". Na época, disse a célebre frase que entrou para a histó- estou fazendo comigo, por meio de minhas escolhas, me transforma no
26 Clovis Rosa Nery :414W
seguir um caminho e outra não. Com um quadro assim, a ansiedade tende sentido de admitirmos que há em nós um espaço a ser preenchido. Para o
a aumentar. autor, às vezes, é preciso "abrir mão de nossas certezas", esvaziando-nos
Segundo Rodrigues (2004, pp. 102-105), nessas ocasiões ocorre de velhas ideias para que vislumbremos novas "possibilidades".
a "indiferença criativa", caracterizada por um impasse entre as "polarida- Na aceitação de outras possibilidades alternativas emerge a fer-
des" — "forças que atuam no campo vivencial, simultaneamente, porém tilidade, porque nós ampliamos nossa visão e percebemos onde estamos,
em sentidos inversos" —, de forma que, no momento, "nenhuma das es- sendo este um fator primordial para sairmos em direção a um novo hori-
colhas possíveis" parece ser satisfatória; e, a situação pode se agravar se zonte. Para se consumar tal situação é mister que haja espaço por onde as
lidarmos "apenas com o conflito em si", perdendo o contexto, o que pro- energias criativas possam fluir naturalmente. Paradoxalmente, os casos
voca a "redução da percepção". clínicos mais difíceis de serem tratados são aqueles que os clientes não
Na psicoterapia, se identificam as polaridades por meio da figu- aceitam a doença.
ra e fundo no campo. Em seguida, procura-se integrá-las, a saber, o No que diz respeito aos sintomas, a Gestalt-terapia não os seda,
cliente se percebe e se amplia no campo. Não há avaliação ou interpreta- porque, por considerá-los "apenas a ponta do iceberg", ela procura en-
ção porque elas não levam a nada. É importante estar junto com o cliente tender a dinâmica que os determina (Ribeiro, 2007;p. 112). Isso implika
e, para isso, às vezes é preciso ficar uni pouco mais com o problema para o fato de que a psicoterapia não busca enfraquecer o conflito, mas sim
compreender a situação e escolher a melhor opção de saída. fortalecer o self e tomar, principalmente, os introjetos "conscientes de
Quando permanecemos por um tempo com o problema, temos a modo que se nutram de material ambiental novo e atinjam um ponto de
ocasião de fazer um exame introspectivo e, ouvindo os sons do silêncio •crise", para que possam ser solucionados (Perls, Hefferline & Goodman,
da nossa alma dorida, conhecermos um pouco mais de nós mesmos, am- 1997, p. 163). A cura se dá por meio da utilização do poder integrativo do
pliando a chance de vislumbrarmos horizontes mais promissores, melho- próprio self, embora haja ocasiões em que ela dependerá de mudanças
rar nossa qualidade de vida, desde que a escolha seja certa. Com o silên- substanciais, inclusive literalmente de vida, de ambiente ou de costumes.
cio da parada, podemos compreender que o ouvir pode ser muito mais Segundo Ribeiro (2007, pp. 61-62), as projeções dizem respeito
profilático do que o falar, e entender que a força mais eficaz que atua no ao comportamento de atribuir ao próximo algo próprio que não aprova-
mundo, o sopro ativador da vida atua em profundo silêncio. mos em nós; enquanto que nas introjeções (ou introjetos), a pessoa incor-
Perls, Plefferline e Goodman (1997, pp. 41-43) mostram que a pora opiniões e vontades alheias como se fossem suas. Resumindo:
experiência de percepção, ou seja, a conscientização se dá via sentidos aprendemos com o autor que "nas projeções há excesso do organismo no
que são as funções de contato que ocorrem "na fronteira entre o organis- ambiente, e nas introjeções verifica-se excesso do ambiente no organis-
mo e seu ambiente", sendo eles em número de sete, a saber: tato, audição, mo". Ambos os processos são nocivos à saúde porque dissimula a reci-
visão, voz/linguagem, movimento, olfato e paladar, porque "o organis- procidade das relações.
mo/ambiente humano naturalmente não é apenas fisico, mas social". Nes- Na prática psicoterápica, via experimentos, tenta-se recuperar a
se sentido, Powell (1989, p. 113) diz: "Para compreender as pessoas, cena passada, mas principalmente o sentimento que a acompanha que é o
devo tentar escutar o que elas não estão dizendo com palavras, o que elas mais importante porque ele vem junto com uma autoexplicação ao clien-
talvez nunca venham a dizer". (Expressão com palavras: inclusão nossa). te, quanto à necessidade de se desligar do passado perdido e imutável.
O psicólogo deve estar sensivelmente ligado nessas questões e Isso traz resultados porque nós nos comprometemos muito mais quando
não relegar nenhuma das possibilidades de comunicação durante a sessão, descobrimos algo por conta própria do que quando alguém nos diz.
porque a "compreensão" na psicoterapia implica, também, "ouvir o silên- O experimento amplia a capacidade de o cliente conscientizar-
cio que procura se romper com a fala" (Arnatuzzi, 2001, p. 41). -se de seu "momento existencial e emocional", envolvendo-se mais
Há também a questão do vazio que não pode ser olvidada. Se- "completamente" com seu "presente" (Rodrigues, 2004, pp. 84-85), por-
gundo Rodrigues (2004, pp. 161-162) pode haver esperança no vácuo, que ele possibilita urna "compreensão" ao participante, respeito "de suas
porque ao assumirmos que não temos nada, damos o primeiro passo no próprias capacidades e habilidades"; enfim, "de seu equipamento sensori-
al, motor e intelectual" (Perls, 1988, p. 77).