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"IQL-b.

-Po
Clovis Rosa Nery
Psicólogo com formação em Gestalt-terapia, e graduado também em Administração de Empresas.
Possui especialização em Recursos Humanos e Auditoria, com mais de 20 anos de experiência
profissional. Por muitos anos foi auditor, gerente e coordenador de grupos de trabalhos em
empresa de projeção nacional, inclusive responsável por implantação de grandes projetos.
É professor de cursos de desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional,
consultor de empresas e escritor, com 11 livros eseritos.

COMPARTILHANDO
t(i
ora da Juruá Psicologia: Ana Carolina Bittencourt

1SBN: 978-85-362-4409-9
PARA CRESCER
Experiências Psicaterápicas
Av
- v.A na s --- .
itrinoz da Rocha, 143 - Juvevé
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- Vila Nova de ( 1 aNel'er i”
oii I 'olitigal
ceiam
em Gestalt-Terapia
Poi fuga!
Editor: José Ernani de Carvalho Pacheco

Nery, Clovis Rosa.


N456
Compartilhando para crescer: experielic ias psicole-
'vgnpepro
rápicas em Gestalt-terapial Clovis Rosa Nery Curi t i ha:
Juruá, 2013. Corso:
134p. M
atéria:

1. Psicoterapia. 2. Gestalt-terapia. 1. Titulo. 4r7° tetiv


N° págin4s:
aC
CDD 150.1 982(22.ed.)
CDU 159.9.019.2 V 2
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nossos sites na internet: is"
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wwwjuruapsicologia.com.b
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e-mail: psicologia@jurua.com.br editori3bonw.COR7
Curitiba
Junta Editora
2013
1

DOS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1.1 UMA PALAVRA INICIAL

A Çestal tlerapia
- ao considerar a p.esgna mia totalidade, nan
que o "mellicurjána.4.9ateáa.
de contato entre o organismo e o ambiente Não se concebe n hntrepri
_isolado de seu contexto e a relacao processual carg otgamsw . e am-
a • _NP I • ee a•
vivencia1 do nrganismo e_seu ambiente
Na vida, o organismo tem diante de si um campo onde há uma
variabilidade de estímulos ambientais. No ato da percepção, em conso-
nância com suas necessidades a serem atendidas, o organismo assimila
um estímulo e rejeita outro. A soma dos estímulos com os quais o orga-
nismo se identifica e assimila, se reorganiza e forma a sua impressão ou
conclusão sobre determinada situação, reconfigurando o seu campo vi-
vencial (Rodrigues, 2004, p. 168). Ocorre uma relação interativa entre
organismo e ambiente, de forma tal que as necessidades do organismo
estão, até certo nível, ligadas às características do campo vivencial da
pessoa (Ribeiro, 1995, p. 104).
Assim, um viver saudável e_ a ou_raimalkam o fechamento das
• 11. •
É

•' ' mogerando neuroses. enfim doenças,
pois, embora tenhamos condições de suportar adversidades e privações,
também, cada pessoa tem suas limitações distintas nesta questão.
Falando sobre isso, Polster e Polster dizem que "a maioria das
pessoas tem unia grande capacidade de tolerar situações inacabadas"
de7ido ao fato de que na vida 'e '• . . ".. m.
des.-kãras situações incompletas anseiam por sua com letude dentro de a-
22
Clovis Rosa Nay
Cornpanilliando para Crescer
n2sso organismo., P2ii.j.g.so_éclliatula
_ há uni clima propícios elas- 23
, 1.2
einergem-dodo s assolando com "preocupiWes, compoarmento — FICOS BÁSICOS
compulsivo, temores, energia opressiva e muitas atividades autoderrotis- `Kat kkjnxbiLlye
tas" (Polster & Polster, 2001, pp. 48-52). Ecamjnernos resumid
e
_gup Ribeiro .9 e 160 a doen a,,, n a fenomenolo ia pilares filosóficos básicos da Ges -
aniza - •.
cam o" uma desarmo • • mo e seu ambiente
visto que o crescimento individual pumeia e decorre da relação =pg. 1.2.1 Humanismo
e nos curamos em adoeçemos em gruno
" atiza ue o o é o es a o vital sinô-
nimo de cam o v. e • O humanismo é um movimento filosófico-moral iniciado no sé-
ou en a odem acontecer, culo XIV, na Europa. Existem várias correntes humanistas. Todas com
. denendendo da qualidade dos níveis de contato
porque, de certa forma, filosofias distintas. Dentre elas, podemos citar o humanismo religioso, o,
todos estamos conectados. Miranda e Miranda (1986, p. 31) falam que universalista, o logosófico, o secular, o renascentista e o positivista.
ninguém sai de um encontro da mesma forma que entrou, porque, con-
forme Rodrigues (2004, p. 188) "somos o resultado de nossas relações" Na escola gestáltica, o humanismo é concebido de uma forma
que travamos durante a existência. singular que prioriza e valoriza a relação dialógica buberiana "Eu-Tu"
nas práticas psicoterápicas. Talvez, poderíamos batizá-lo de "Humanismo
Isadore From, na introdução do livro de Perls, Hefferline e Go- dialógics
r'nOriginou-se na Europa e, quase simultaneamente, nos EUA,
odman (1997, p. 25) diz que "a experiência" da pessoa "se desdobra em um no século XX. Foi uma opção alternativa crítica à psicologia comporta
campo [...] carregado de premências — a vontade, necessidades, preferên- mental mecanicista, reducionista e determinista que exclui de seus méto--
cias, anseios, desejos, julgamentos e outras expressões ou manifestações do dos a introspecção e os fatores emocionais.
ser"; logo, a conscientização, que é caracterizada pelo sentir o contato, Par
refere-se ao aperceber mental, corporal e emocional do que se passa no mo o homem e "v - r" o
uanto houver vida há
aqui e agora de um organismo, não ocorre desvinculando-o do ambiente. - se •
ossibilidades
52 -
de crescimento. Vê o home
• é- -.01 r - et - ido a uea.essoaé o ue e
Polster e Polster (2001, p. 85)&stentam que o organismo tem ea vontade •ois é ela mesma uem escolhe o sue suerser.
uma disposição natural para desenvolver um "bom contato", mas o entra-
ve surge quando ele não consegue "2 que deseja.", daí emergem as pertur- home lidade de construir-se dele!se do pl.:
bações, sendo estas a gênese da neurose. Ribeiro (1994, p. 150), a res- ue o hum citar seu direito de escolha. Não seria inc s . eIg

é

III • I eis ,
peito desse assunto é sucinto. Ele fala que "o homem nasceu para ser mem existe no mundo
• 01 It" • •
• mos e g g
saudável". Finalmente, Powell (apud Miranda & Miranda, 1986, p. 130) ortanto, tem •ue e t, .e er r a -
arremata essa questão dizendo que "a pessoa inteira é aquela que stabe- cantes ara viver. Na visão das sicoterapias humanísticas, ao se• "simro- e

lece um contato significativo e profundo com o inundo à sua volta". mover a ideia do homem como centro" esta se rmando ue ele é "ca-
A abor.:, ! ! - •' (Ribeiro, 1995, p. 29).
. utilizando- e inclusive de experimen-
os trai). e • • t im . s• g. .6...•i.'
is .1 Quando se diz que "o homem é o centro do mundo", em princí-
chamento e pio, não há nenhuma novidade na afirmação, porque desde os tempos do
` te a ao me or do cliente (Perls, Hefferline & Go-
odman, 1997, p. 48). Gênesis, já estava sentenciado ao homem: "[...] enchei a Terra e sujeitai-
-a; dominai-a [...]". Esse fato, de alguma forma, implica poder conferido
Os pressupostos teóricos que dão consistência a este trabalho ao homem para que ele o exerça sobre os demais seres viventes na Terra.
"compõem as bases da Gestalt-terapia e são apresentados aqui, com ênfase
nas questões atinentes aos pilares filosóficos básicos, ao selfe Embora sejamos limitados, não o somos no sentido lato do vo-
suas funções, cábulo. Temos mais poder outorgado pelo Criador do que qualquer outro
a doença e a cura, o contato, as escolhas, o experimento e a psicoterapia.
animal terreno. Parece que o que nos falta é mais conhecimento de nós
mesmos. Possunnos e icit de autoconhecimento, e a pronnst
humanismo é reg lá t eiro, 1995, pp. 28-29).
24 Clovis Rosa Nen, çompartilliando para Crescer 25
(Uma vez restritos no conhecimento intrapessoal, temos dificul- ria: "A existência precede a essência", enfatizando que o homem, no dias
dades para explorar todas as possibilidades de nosso ser. Consequente- dia, é o seu próprio criador, e utilizou-se enfaticamente do conceito de
mente, nossas relações interpessoais também ficam fragilizadas. Se não angústia de Kierkegaard para mostrar o peso de nossa responsabilidade
nos conhecemos bem, como podemos nos amar plenamente? Se não no ato de escolher (Sartre, 1984, pp. 3-9).
amamos a nós mesmos como devíamos, como podemos amar o nosso À luz do que esse autor nos legou, há um "fazer-se" destinado a
próximo? Daí, vivemos na periferia de uma vida plena, tanto em relação cada um de nós, mas que jamais se completará porque somos finitos. Esse
intrapessoal, quanto interpessoal) princípio indica que nós escolhemos o que vamos ser nesta vida passagei-
A Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica/existencial/ ra, inclusive o que aceitamos, pensamos, rejeitamos, sentimos e procede-
htun a • • e vendo e tratando o homem por inteiro, procura conduzir o mos. É a consciência de liberdade e a responsabilidade que dão sentido à
cliente a conhecer melhor a si mesmo, a a cançar uma "plemtu e' e nossa peregrinação terrena, mas essa liberdade aparece como uma espécie
vida, por meio do "agir", do "pensar", e do "expressar-se através da lin- de condenação e fonte de, grande angústia, pois o fim é inevitável.
guagem" (Ribeiro, 1995, p. 30).
Segundo Ribeiro (1995, p. 32), "como -para o existencialismo,
2‘11;c1bém para a Gestalt-terapia a existência é a grande
. interrogação" Em
i.2.2 Existencialismo verdade, não precisamos nos alongar muito, para mostrar que, ao viver-
mos em sociedade, somos "forçados" a vestir algumas camisas de forças
O dinamarquês Aabye Soren Kierkegaard e o filósofo alemão que nos são impostas.
Maitin Heidegger foram os grandes nomes do movimento existencialista,
A vida do homem é dupla: uma, intima e individual, tanto mais inde-
iniciado no século XIX. Nos relatos de Champlin e Bentes vemos Ki- pendente quanto mais elevados e abstratos os seus interesses; outra, a
erkegaard enfatizando a singularidade de cada pessoa e a necessidade de vida geral, a vida no formigueiro humano, que o envolve com suas leis
se encontrar um sentido no ato de viver por meio do "poder da vontade, e co obriga a cumpri-las. (Tolstoi, 1981, p. 65)
não o poder da razão", o homem sendo "por ele defmido como a súmula
de seus atos voluntários", e usando a palavra "Angst" — angústia, para Ao nos adaptarmos ao modo de viver que esperam de nós, si-
mostrar que "um homem aproxima-se de seu alvo, [..] em meio a temor e lenciamos muitas de nossas próprias questões, porque temos de nos
ansiedade", ante a sua finitude. Heidegger tratava da questão da angústia adaptar ao mundo onde estamos. Ao nos "moldarmos" a uma condição
humana como sendo uma consequência da temporalidade e do mistério imposta, inevitavelmente silenciamos parte de nosso ser. Se isso não é
da existência. Usando a palavra "Dasein — estar ali", "em seu livro O ser uma fonte de angústia é, no mínimo, um agravante a esse sentimento que
e o tempo, Heidegger exorta os homens a refletirem sobre o seu próprio nos é tão comum.
ser" (Champlin & Bentes, 1997, pp. 73, 701-702, v. 3). Parece que ficou claro que a nossa liberdade tem limites. Nesta
_.Q...s#,Gulo XX. o existencialismo ganhou foro após a segunda questão, cada de um de nós adapta-se de forma distinta. A diversidade
guerra mundial, com Jean-Paul Sartre. A máxima da filosofia existenci• 'ata dos humanos não decorre somente de nossa história genética, mas princi-
sartriana é. "A existência precede a essênciquer dizer que "o ho- palmente de como cada um por meio de escolhas, ações e omissões porta-
meranão tem uma_essência nré-determinada, mas ele se faz em sua existên- -se no mundo assimilando, rejeitando e introjetando seus estímulos, num
cia" no mundo, por meio de suas escolhas (Marcondes, 2005, p. 159). campo de limitações circunstanciais, porque as possibilidades são restri-
A princípio, as ideias de Sartre receberam críticas, devido ao tas ao que está disponível no contexto do ambiente (Rodrigues, 2004, pp.
seu conteúdo ateu, o que chocava a moral religiosa, e por afrontarem o 87-88). Nesse sentido, se todos nóssomos seres em construção", cada
marxismo. Isso levou esse filósofo a fazer uma conferência em prol da pessoa, em algum nível, é a própria construtora de si, e nisto está incluída
defesa do existencialismo, nos termos por ele propostos. Ele tentou mos- a liberdade com responsabilidade.
trar que se há barreira entre o existencialismo e o humanismo, elas são No existencialismo, a condição humana não se refeleapie..,
porosas, tanto é que o título de sua conferência foi: "O existencialismo é fizeram de mim mas o . • • me • e - - em e • e . .." .
um. humanismo". Na época, disse a célebre frase que entrou para a histó- estou fazendo comigo, por meio de minhas escolhas, me transforma no
26 Clovis Rosa Nery :414W

Compartilhando para Crescer


único res onsável pelo 27
eu sou. Não é uma questão de natureza huma-
sempre o cliente que, por meio de uma-conscientiwãõ,
na, mas de condição humana, porque senão a responsabilidade não seria dar sentido à sua vida. -ídições de
cot
minha, seria do acaso, do determinismo. Somos livres para escolher den-
tro de um contexto à nossa disposição com seus limites, mas não somos omos nosso • •.611 1.4 e•.-
sober infunciarja
consequências da escolha daí a nossa outro or nossas escolhas- assina o psicoterapeutaé somente uni facilita-
responsabilidade ser da mais alta ii dor no processo de cura do cliente, or ue este é o único res onsável or
Nisto há uma armadilha
enfim. sofrimento psíquico. sua viva çRodrigues, 2004~ Nesse
para o autor,
_QUando_se_pensa em condição humana "a existência precede a quanto ao uso das frustrações, o não
5)
tem tudo a ver, porque "impede a
• -e . transmissão da responsabilidade do cliente para o terapeuta" (p. 91).
aljaelp ue é (essência) 130/:
que defrne a essência são as Cada homem Possui uma consciência de si que interage com o
. nossas escolhas "o bunem_d_o_gu"k_f az ambiente, e ele não pode ser dividido em partes, nem ser completamente
.42odeLaus_uu_st.sit
io,,. de si mesmo" "Se queres,
wies.422das_meacer. Aqui estão implícitos os entendido, explicado ou direcionado, a não ser "por eleernesmo" (Ribeiro,
conceitos de intencionalidade e responsabilidade, porque "o homem nada 1995, pp. 33-34).
mais é do que aquilo que ele decide ser" (Ribeiro, 1995, p. 38).
Contudo, como somente posso escolher o que está disponível 1.2.3 Fenomenologia
no mundo, enquanto homem eu escolho numa relação mútua com o meio.
Assim, essa relação é de uma interatividade recíproca: "Eu sofro as con- O vocábulo fenomencilogia é
sequências de minha escolha, mas também influencio o meio com minhas phainomenon e logos; õ, formado por duas palavras gregas:
primeiro quer dizer "aparência", e o segundo
escolhas". Com isso, o mundo é construido pela própria humanidade, e a "conhecimento", ou "estudo de", e o filósofo alemão Edmundo Husserl é
minha vida é determinada por mim, por meio de minhas escolhas. considerado seu fundador, no final do século XIX (Champlin & Bentes,
No existencialismo o que dá força à pessoa para melhorar sua 1997, p. 710, v. 2).iooiogja .e
dos fenlimenr. A.,....:1.-
arece à consciência" (Lyotard, apud Rodrigues,
postura é a ideia de fulitude. É a questão de se aceitar como humano, e ser 2004,- -
"Hei-
p. 189).
moralmente ético como os humanos. Aqui, verifica-se claramente a barrei- degger (1988, p. 65) referia-se ao fenômeno como sendo algo se mos-
ra "porosa" entre o existencialismo e o humanismo, a qual Sartre se referiu. trando e se revelando "na sua luz".
Na psicoterapia, pedir para repetir uma fala é importante, por- [...] só podemos tomar conhecimento
que pode conduzir o cliente à intencionalidade do fato e impactá-lo. A e não das coisas mesmas (coisas em si), dos fenômenos, das aparências,
que, aparentemente, os
propósito, a sua história é levada em conta, mas não é ela em si que tem zem. [...]. A investigação dos fenômenos é uma investigação produ-
relevância maior. O que faz a diferença é como ele a experiencia e toma acerca das essências dos significados comuns ao pensamento de a priori
men-
suas decisões. tes diferentes, e
não de um programa de introspecção psicológica.
(Husserl apud Champlin & Bentes, 1997, p. 191, v.3)
O trabalho psicológico consiste fundamentalmente em oferecer um
contexto dialógico no qual a liberação desse poder seja promovida. Husserl, (apud Müller-Granzotto & Müller-Granzotto, 2007, pp.
Aposta-se na autonomia crescente da pessoa e na fecundidade de uma 14-15), também afirma que uma explicação por meio de "unia investiga-
relação humana honesta para promover essa autonomia. A autonomia ção transcendental" conteria uma "compreensão já presente em nossa
é entendida como a capacidade que o ser humano tem de orientar sua inserção 'ingênua' no mundo das coisas e de nossos semelhantes".
própria vida de forma positiva para si mesmo e para a coletividade.
(Amatuzzi, 2009, p. 98) Para um fenômeno "vir à luz", é mister que ocorra a sua per-
_çsniási.._ Daí a ideia de Flusserl de que o fenômeno é sempie
-is--(5-c-1 j o à
Para o psicoterapeuta entender e aplicar isso é indispensável sa- intencionalidade, porque um fenômeno so é um fenômenoservado
ber como o cliente se sente no aqui e agora, ou
seja, na psicoterapia é ponTria pessoa, já que é esta que lhe conferirá significado.
28 Clovis Rosa Nery Compartilhando para Crescer
'st 'Qu 29
Ir
Compreendo minha experiência, a partir de minha própria vi- realidade dele, e não o fenômeno: o psicoterapeuta lê e descreve o que
vência. Então, não há como o outro compreendê-la por mim. Nesse senti- e4tá presente no aqui e agora na relação consciência do cliente/objeto
do, Perls (1977, p. 17) diz que a oração da Gestalt-terapia é: percebido por ele, pois "o fenômeno, porém, não pode e não deve ser
"------- considerado independentemente das experiências concretas de cada su-
Eu faço as minhas coisas, você faz as suas. Não estou neste mundo jeito" (Ribeiro, 1995, pp. 43-45).
para viver de acordo com suas expectativas. E você não está neste
mundo para viver de acordo com as minhas. Você é você, e eu sou eu. Quando se fala em fenômeno psíquico, o fato está para além das
.1E se por acaso nos encontrarmos, é lindo. Se não, nada há a fazer. aparências e tem tudo a ver com nossa forma de experienciar, de signifi-
car inclusive o que se viveu em outros tempos, porque algo de nosso pas-
Quanto ao método fenomenológico da abordagem gestáltica, sado pode estar ativo no presente, embora com as mudanças que o tempo
Ribeiro (2007, pp. 111-112), delineia seu emprego prático. Vejamos uma legou. E isso é um passo importante na psicologia descritiva da gestalt
síntese de suas orientações: que permite o mapeamento de nosso campo vivencial. Então, o fenômeno
não é a coisa em si, mas é a forma de concebê-la na consciência. Para
1) Ver a realidade e descrevê-la "no sentido lato do termo". 2) "Tra- Ribeiro (1995, p. 46), "existe em todo fenômeno um sentido relacional
balhar o aqui e agora". 3) Trazer "para o aqui e agora as emoções e entre a coisa em si e a sua percepção por parte do outro, ou seja, a coisa
sentimentos vividos pelos clientes", trabalhando o emocional. 4) Ob- em si não é percebida em si identicamente".
servar atentamente a "pessoa como um todo, ao verbal e não verbal".
5) "Evitar interpretações". 6) "Entender que o sintoma é apenas a Uma atuação psicoterápica fenomenológica permite constatar o
ponta do iceberg" e, por isso, trabalhar "os processos que os mantêm". que está latente na subjetividade do cliente e, assim, "ver e ouvir fenome-
7) Trabalhar com "a experiência imediata" do cliente porque a cons- nologicamente, [...] significa ver o invisível e ouvir realmente o outro —
ciência "é sempre consciência de alguma coisa". 8) Usar experimentos 'ouvimos para além das palavras, mesmo quàndo é através delas"
cuidadosamente, porque eles são a "permissão para criar". 9) Entender
que "o psicoterapeuta está incluído na totalidade da relação cliente- (Amatuzzi, apud Moreira, 2009, p. 64).
-mundo". (Ribeiro, 2007, pp. 111-112) O significado de um fenômeno somente tem a relevância atri-
buída pela pessoa atravessada por ele. Aqui entra a questão da "redução
Diz Husserl (2001. r). 48): "A consciência tem de ser consciên- fenomenológica" (Merleau-Ponty, 1999, p. 77), a saber, o psicoterapeuta
Cl - .5- •• ,, 5, ação implica o fato de que sem objeto não aproveita de sua posição e conhecimento para emitir juízo de valores
não há ,01 I • - • • .^. ar eu senso a1 .uma coisa, surgindo daí a
de qualquer natureza, e não deve esquecer jamais que na riqueza da di-
máxima da fenomenolragia • ".4..conse— o'a é sempre se a •- versidade humana há uma subjetividade singular a guiar individualmente
gtuna coisa", não importando se a coisa é concreta ou uma alucinação. cada pessoa à sua própria verdade. Portanto, se o psicoterapeuta atuar
O fenômeno, enquanto algo percebido ou imaginado, ganha um atendendo exclusivamente às expectativas de sua intuição ele poderá ficar
significado consonante com a intencionalidade de cada pessoa que, para cego para as possibilidades do cliente.
esta, na sua concepção toma-se real a seu modo. A consciência é uma
busca intencional de significação nas coisas, uma espécie de representa- Não afirmar, nem negar, abandonar-se à compreensão e o modo de
ção da coisa em si que gera urna polaridade, caracterizada pelo objeto atingir a realidade, assim como ela é. Ao fazer isto, estamos nos vol-
intencional e o objeto em si. tando às coisas mesmas, assim como são, como se apresentam, sem
nenhum juizo a priori, estamos superando a oposição entre a essência
Ribeiro (2007, p. 43), comentando Husserl, clarifica que "uni e a aparência. Estamos fazendo uma redução fenomenológica. (Ribei-
objeto é um objeto-para-uma-consciência" (sic), conforme concebido por ro, 1995, p. 47)
ela, e "a consciência é sempre consciência de alguma coisa". Todavia, diz
Ribeiro: "As coisas são elas próprias, têm um significado independente Quando o psicólogo mostra o óbvio ao cliente, ele está sendo
daqueles que eu, porventura, venha a dar-lhes" (2007, p. 50). fenomenológico. Quando o psicoterapeuta coloca em stand by ou "entre
parênteses", o sintoma apresentado pelo cliente e procura conduzi-lo à
Na prática clinica, o mais importante é o ser em que se mani-
festa o fenômeno; o micoterapeuta foca o cliente, buscando comp_er
reer ,
30
Clovis Rosa Nery
Compartilhando para Crescer
31
compreensão de todo o seu campo vivencial no aqui e agora, ele está
fazendo "redução fenomenológica". P: — O que poderia ser feito para mudar isso? (Psicólogo buscou mo-
bilizar o sistema motor da cliente — ação).
Também, a "redução fenomenológica", às vezes, passa pelos Cliente: — Olhar menos os meus defeitos e potencializar o que eu te-
"cortes", ou seja, o cliente traz diversas situações que estão lhe causando nho de melhor.
sofrimento, e lhe pedimos para priorizar aquela que ele quer trabalhar por P: — Final da sessão.
primeiro. Contudo, como veremos em alguns casos relatados neste livro,
a aplicação desse método requer cautela, sendo prudente esperar o tempo
do cliente. Tendo em vista que nós somos atravessados pelos fenômenos e
que, enquanto humano, o homem e uma unidade bio/psico/social/
Observemos um exemplo prático: o psicólogo recebe a cliente espiritual, embasados nas ideias de Merleau-Ponty, contidas em seu livro
que chega à clínica no horário combinado, se apresenta muito bem vesti- Fenomenologia da percepção,
podemos inferir que "a pessoa enquanto
da e cumprimenta-a com um sorriso. um canal por onde emerge o fenômeno é um fenômeno" que se autorre-
vela continuamente ao mundo. A expressão de
O psicólogo fala: — E aí? Hus§erl "na sua luz"
aponta para essa ideia. É como diz Heidegger (apud Ribeiro, 1995, p. 49):
Cliente: — Estou sofrendo com esta depressão terrível. "O fenômeno do ser mora no ser do fenômeno".
P: — Você está com urna boa aparência e bastante alegre (Psicólogo foi Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2007,
fenomenológico: mostrou o óbvio). pp. 33-92), emba-
sados em Brentano e Hus.serl, mostram por meio de uma consistente ex-
Cliente: — Esboça um leve sorriso de apreciação e apenas fala: — É! planação que o conhecimento tem algo de transcendente (está
à disposi-
P: — Como está a sua vida pessoal, social, profissional; enfim, sua vida ção de todos) e imanente — atos intuitivos (fenômeno psíquico), e é a
em geral? (Psicólogo fez redução fenomenológica: conduziu-a a uma interação dessas vertentes que dá consistência ao conhecimento, isto é, o
reflexão sobre seu campo vivencial). conhecimento é concebido em vista de uma interação entre
organis-
Cliente: expõe inquietações com um problema sentimental, além de mo/ambiente, quando então as possibilidades emergem. Ora, se o conhe-
preocupação sócio/familiar e expectativas quanto a seu futuro profissio- cimento é resultante da relação, ele sempre será relativo, já que "o
nal. Mostra sinais de indecisão ante as opções de escolhas disponíveis. ho-
mem não conhece as coisas, ele se encontra com as coisas", e as percebe,
Cliente: por sua própria deliberação, inicia um movimento autorregu- conferindo-lhes sentido, conforme sua maneira peculiar de ver o mundo
lador, em busca de fluidez, faz uma espécie de exame introspectivo e (Ribeiro, 1995, p. 57).
chega à conclusão de que são, realmente, essas as situações que a es-
tão incomodando. Ainda mais: se a revelação do fenômeno é "na sua própria luz",
ela será diretamente proporcional ao que ele se permite revelar. Quer
P: pede à cliente que escolha um dos problemas 'a merecer atenção, dizer que a revelação não é o fenômeno em si, mas o que ele se permite
por primeiro (Psicólogo fez redução fenomenológica: "cortes").
revelar de si mesmo. O outro só tem acesso ao conteúdo revelado e, como
Cliente: sinaliza sua preferência. já foi dito, sua percepção será restringida à sua própria consciência da-
P: mostra-se empático e presente no encontro, sensibilizando-se e quilo que se revelou da coisa, e não à coisa em si.
identificando-se com o problema indicado pela cliente.
Rodrigues (2004, p. 39), comentando Husserl, fala que em sen-
P: entendendo que o sistema cognitivo da cliente já estava sensibilizado, do a realidade "algo percebível, uma função determinada pela consciên-
intervém, objetivando sensibilizar o sistema sensório afetivo, pergun- cia que percebe, [...] teremos diferentes formas de perceber a realidade".
tando-lhe: — Como você se sente agora quanto a esse problema?
Se cada um de nós tem a própria subjetividade, a realidade de cada pes-
Cliente: fala de seu receio do futuro e de estar sentindo-se amarrada, soa é distinta, pois o homem a concebe em consonância com o
devido a seu perfeccionismo. como ele
P: — Amarrada, como? Demonstre, por favor (Psicólogo propôs o vê seu próprio mundo, envolvendo sonhos, frustrações e fantasias. Conti-
perini ento). ex- nuando, ele explica que no ato de perceber está implícito perceber (via
mundo interno do sujeito — organismo) o percebido (via inundo externo
Cliente: faz a demonstração. ambiente), porque —
aquilo que eu (organismo, enquanto "observador")
32
Clovis Rosa Nery
Compartilhando para Crescer
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vejo no ambiente, ou no "objeto observado, [...] forma urna unidade co-
migo", impossível de ser dividida e, desse modo, ao descrever nossas Assim, é impossível realizar Psicoterapia naalordage gs-
táltica sem èscuta fenomenoló.' . e 4
observações, indicamos "nossa relação com o observado" e não, necessa- II • e e.
principal "ferramenta" dá Gestalt-terapia.
riamente, o observado em si mesmo. Assim, fatalmente incluímos algo de
nós na descrição, pois não há como um observador excluir-se totalmente
do caso (p. 40). 1.3 O SELF E SUAS FUNÇÕES
Por outras palavras, ao comentar algo, eu estou apresentando o
que percebi, e não o próprio algo em si. Quer dizer que, ao descrever uma Segun.do Perls,. Hefferline e Goodman, "o
sel.!' é a fronteira de
coisa não consigo ser neutro. Se o percebido tem um pouco de quem o contato em funcionamento" da qual já falamos., O se‘f é o
reRponávpl_
percebeu, e isso pode mudar em cada pessoa, onde se encontra o sentido )ela formação da figura e fundo. Ele é formado do "e o, id e person&j-
da vida? — Esta é urna pergunta objetiva que tem uma resposta subjetiva. dade". E e não e uma instituição anatonuca; mas e uma instância psíquica
O sentido é relativo porque "não está nas coisas em si, mas no que so- integradora e flexível, conforme as necessidades da pessoa e os estímulos
bressai em cada relação observador/observado"; portanto, exatamente do ambiente. Portanto, o self
emite as respostas aos estímulos recebidos,
como cada pessoa vê e se relaciona com o mundo, extrai dele um sentido sendo assim o sistema de "ajustamento criativo" do organismo com seu
especial e distinto para ela (Rodrigues; 2004, pp. 40-41). ambiente. • ' do ambiente, não há como o sel dese v er
A luz das teorias filosóficas de Husserl (apud Mtiller-Gran7otto suas funçõe (Perls, Hefferline & Goodman, 1997, pp. 49 e 17
7-189).
Müller-Grarwotto, 2007) o homem só é capaz de ver o outro, a partir
de sua própria concepção, o que mostra que nós não podemos compreen- IIaneira: c • • e • Ik nte recebe estímul
9
der o outro diretamente e completamente e, ainda que nos esforcemos por do assimilação ou reieição do estímulo Na assimilação, há a agressivida-
descobri-lo e revelá-lo, nossa linguagem expressará a forma como nós o de, destruição do que se recebeu, integrando-o em suas -
percebemos. Destarte, para Husserl, é impossível chegar à verdade pura, fechando a gestalt, j experiências,
a foi completada, restabelecendo o equi-
porque não há como perceber algo sem impregnar no objeto percebido líbrio do organismo.
algo do observador. a pessoa está com fome (figura). Encon-
trou a comida no ambiente (estímulo). Aceitou comer (assimilou) e co-
Nesse. contexto, Vislumbra-se entre o objeto intencional e o ob- meu (agrediu e destruiu). Incorporou em seu organismo o novo do am-
jeto propriamente, dito, um hiato. Então, temos duas realidades: uma, biente (comida). Fechou a gestalt, matando a fome, e o alimento vai aju-
dá-lo a viver (crescer).
subjetiva, criada por meio das intenções e outra objetiva, pertencente ao
mundo das coisas em si. Esta, não obstante independer de como o homem No exemplo anterior, ocorreu um processo de desarrumação
a pensa para ser o que é em si mesma, da-se a conhecer, subjetivamente, à para integração do novo e, com a saciação, a acomodação e a equilibra-
medida que é percebida no que se permite revelar de si mesma. Assim, ção. Esse fluxo é dinâmico, envolvendo sempre figura e fundo formados
como o contato ocorre na fronteira entre o organismo e o ambiente, a pelo self em contato com os estímulos do ambiente.
intencionalidade ocorre entre a consciência e o objeto.
Na assimilação do estímulo, o processo é simples e o self
Ao psicopterapeuta é prudente lembrar que, em termos fenome- dimi-
nui, fechando a gestalt, não tendo muito a fazer ocorre a equilibração, o
nológicos, a realidade é ambigua e de aparência traiçoeira. Por exemplo: organismo cresce e o animal vive bem; mas, quando há uma interação
numa noite estrelada, vemos a lua de forma bastante clara, mas seria uma complexa, com dissonâncias quanto à necessidade do organismo e os estí-
ilusão admitirmos para nós que ela é exatamente como a vemos. Nossos mulos disponíveis no ambiente, o self
aumenta porque há maior dispêndio
sentidos podem nos enganar com distorções significantes entre o que de energia, visando a uma possível conscientização (Perls, Hefferline &
vemos e a coisa que se apresenta a nós. Segundo Ribeiro (1995, p. 57), "a Goodman, 1997, p. 69) que, em última instância, visa concluir urna situa-
percepção da coisa Dão é idêntica à percepção do ser da coisa", e Heidegger ção inacabada. Neste caso, até sua efetiva solução, o organismo sofre.
(apud Ribeiro, 1995, p. 61) complementa ao afin-nar que "a verdade pode
Havendo sobrecarga na fronteira de contato, em vista de difi-
revelar-se exatamente onde ela parece esconder-se".
culdades diversas na identificação e assimilação de estímulos, com mui-
34
Clovis Rosa Nery
Compartilhando para Crescer
tas situações inacabadas, o self 35
cresce (dizemos que aqui ele tem muita
Personalidade) e aí a situação é de perigo para a pessoa porque seu campo Nossa personalidade pode ser forjada porque ao introjetarmos
vivencial se apresenta sobrecarregado com forças de crescimento frustra- algo, obviamente sem identificá-lo e assimilá-lo, permitimos intrusos em
das, pois o self nossas vidas. Esse procedimento é restritivo a um viver saudável.
canalizando energias para "situações inacabadas antigas"
está grande e fraco, inibido em suas deliberações (Perls, Hefferline & Comungando com essas mesmas ideias, Rodrigues (2004, p.
Goodman, 1997, p. 99).
123) clarifica as armadilhas desta questão ao dizer que se o contato de-
Nessa situação, o próprio organismo tem uma função de emer- nunciar problemas de trocas entre o organismo e o ambiente haverá es-
gência saudável, tuna função exaustiva que é o sonho. O organismo, não tagnação e perturbações na fronteira, configurando um clima próprio para
tendo como exaurir a energia que não se equilibrou, providencia um re- se instalar um quadro de neuroses. Voltando ao exemplo da fome: se a
tardamento, uma espécie de "fuga". Essa é a razão pela qual o sonho la- pessoa não encontrar comida ou ingerir algo que não aprecia, poderá ter
dificuldades com seu estômago.
tente é denominado de uma satisfação de uru desejo, ainda que dissimu-
lado porque, como afirma Perls (apud Oaklander, 1980, p. 168), "o sonho Mas, conforme:Perls, Hefferline e Goodman (1997, pp. 90-91),
é urna mensagem existencial", da pessoa para a própria pessoa, de forma além do mecanismo saudável do sonho já descrito, o próprio neurótico
condensada e deslocada. tem sua "autorregulação", porque ao reconhecer sua necessidade emer-
Per1s, Hefferline e Goodm.an (1997, pp. 129 e 172) também fa- gente com coragem toma-se cauteloso e prudente ao extremo, adotando
lam que a personalidade é o espelho do que somos e ela explica nosso comportamentos rituais. Para tentar vencer sua ansiedade, em sua autor-
caráter. "A personalidade é unia estrutura criada", a partir das relações regulação, ele fantasia uma nova figura e exerce seu comportamento ri-
interpessoais; portanto, ela é dinâmica e passiva de influências das nossas tual. Temporariamente, tem um alívio de seu estado de tensão, até que
escolhas na interação com o ambiente. Durante nossa existência terrena, nova situação se estabeleça, reincidindo-se no ritual.
assimilamos/rejeitamos estímulos e adquirimos conflitos. Em consonân- Organismicamente, no excesso de deliberação, fixação e censu-
cia com a soma dos estímulos com os quais o organismo se identificou e ra, o neurótico reprime seus impulsos, de forma tal que sua energia fica
assimilou, ele se reorganiza e forma a sua impressão ou conclusão sobre retida no self. Com o self
aumentado, ele não consegue relaxar já que sua
determinada situação. Essa impressão recebe o nome de caráter. autorregulação aponta uma situação aqui e agora perigosa, não obstante
Ao conjunto de comportamentos motores e verbais expressos ser fantasiosa e inexistente, voltada para o passado e mesmo assim, faz
— são facilmente observ 'v .is e verif_irávei — nás_ rie,iniamos com que ele fique cauteloso, vigilante quanto a tudo que ocupa seu cam-
de po de vivência.
caráter" (Perls & Stevens, 1977, p. 31). "Caráter é: um amontoado de
habitos, I...]" (Fox, 1995, p. 140). Nesse sentido, caráter é a impressão Segundo esses autores, o neurótico, gastando suas energias,
geral que ternos sobre o todo que representa uma outra pessoa. Ele não é com uma situação em aberto ou necessidades não atendidas, para no seu
fixo e experimenta constantes mutações, em vistas das experiências ad- estágio de desenvolvimento. Como um desejo frustrado necessita de ou-
quiridas no viver diário.
tro desejo para aliviar a ansiedade, o ciclo vicioso de sublimação se ins-
Ainda, segundo Perls, Hefferline e Goodm.an, a ideologia de nos- tala. O organismo faz um esforço repetitivo para tentar satisfazer sua
so tempo é caracterizada por uma submissão passiva ao sistema e que já faz necessidade e a pessoa tem um alívio temporário no ato compulsivo. Por
parte integrante dos modos de vida, em consonância com diretrizes padro- isso, novas figuras não emergem do fundo em vista de unia perturbação
no processo.
nizadas que nos empurram para um estado de acomodação e resignação.
Hoje em dia há uma espécie de autoagressão muito danosa ao organismo. No dia a dia, o que ocorre é o se iiinte: na irrtera „. a
a• JI e e
A pessoa tem medo de que, não aceitando o que o sistema lhe oferece, or anismo com o amamente se não fecharmos a fi ura ou as fi uras, elas
possa não ser bem-vista em sociedade. Então, ela acata as opções do siste- Oitp ão ee.see ••• - ,• - to
e assim t te - - ,o• . to e
ma e, inibindo suas mais íntimas aspirações, privando-se delas, caminha na dimento ece-
recursivo. O recurso é uma forma de buscar munição no presente
periferia de uma existência plena (Perls, Hefferline & Goodman, 1997, pp. para tentar fechar o passado abertoCq1p situações inacpbpdps &pesoa
147-151).
não consegue estar completamente no a ui e agora e tem "problemas
36 Clovis Rosa Nery
Compartilhando para Crescer
37
sérios de trocas" com o ambiente porque os seus mecanismos de contato Goodman, 1997, p. 170). Sua figura não atendida vira fundo e, para
ficam prejudicados (Rodrigues, 2004, pp. 122-123).
mantê-la como tal, é preciso lançar mão de algum recurso disponível.
Para Perls, Hefferline e Goodman (1997, pp. 235-237 e 248) e Nesse sentido, para Goldstein (apud Ribeiro, 1995, p. 112), o sintoma "é
Mtiller-Granzotto e Muller-granzotto (2007, pp. 261-263) a neurose é também uma forma do ajustamento" Por outras palavras, "é urna forma
uma perturbação decorrente de necessidades do organismo inibidas e não desesperada, criada pelo organismo, para tentar se autorregular" (Ribeiro,
satisfeitas. A pessoa neurótica tem excesso de crwareness. 1 Por tal moti- 2007, p. 99).
vo, sua vida é permeada por controle extremado que, na verdade, se trata R-n_verdade. um problema tepEm'do, ou seja, uni "prpre,ss
do sintoma ou efeito colateral do esforço do self para manter figuras n de
inibição crônico", nos dizeres de Perls, Hefferline e Goodman, é uma
abertas como fundo. Perls, Hefferline e Goodman descrevem que isso gura que virou fundo e o ocupou. Numa situação dessa natureza, o cor-
bloqueia as etapas naturais do processo de contato com o ambiente e o po se transforma em um objeto final da agressão: a figura e o fundo ten-
passado permanece vivo no presente, por causa da pressão da figura tani se completar dentro da própria pele (Perls, Hefferline & Goodman,
aberta, inibida, que virou fundo. Eles salientam que, na prática de vivên- 1997, p. 251). A culpa, por exemplo, é resultante de ressentimento. Sen-
cia diária, há uma "perda da função de ego para uma fisiologia secundá- timos e não conseguimos resolver a situação (figura não resolvida vira
ria", ou seja, a necessidade não satisfeita vira fundo e continua aspirando fundo), sentimos novamente e o clamor por solução investe contra o pró-
completude. Mostram que, como o organismo precisa fazer um esforço prio corpo.
para mantê-la como tal, ocorre um comportamento neurótico, visando a
um "ajustamento criativo", que é o denominado ajustamento neurótico Nesse processo, o neurótico não cresce, não amadurece, fica
(Perls; Hefferline & Goodman, 1997, pp. 235-237 e 248). travado, sofrendo e perde a oportunidade de viver uma vida plena. Ele
precisa encontrar, na psicoterapia, os meios de vencer
O psicólogo deve estar atento para os casos em que o cliente, ele mesmo. Unir
das formas para se fazer isso é levá-lo, via experimento, a se concentrar
para se proteger de alguma experiência amarga ou frustrada no passado, a em um problema real, de forma que ele possa enfrentá-lo e venha a cres-
incorpora "ao presente, sob a forma de atitudes [...]" e, assim, seu caráter cer. A psicoterapia ajuda a restaurar sua autonomia e, enfraquecendo a
o protege para que ele sofra menos dor com as lembranças ruins; entre- estrutura dos elementos neuróticos, busca o restabelecimento do equilí-
tanto, a tendência do caráter é generalizar procedimentos, de forma tal brio do seu organismo.
que acaba protegendo-o de tudo e, com isso, o neurótico pode experi-
mentar "redução da capacidade do organismo para o prazer", tal como Isso quer dizer que a principal vítima das situações inacabadas
SOM II II* IS 5• is - • ir ,
impotência, frieza nas relações sociais e isolamento (Reich, apud Rodri- ficam PMUS. Com o self so-
gues, 2004, p. 73). brecarregado nós vamos, cedendo a impulsos estranhos, dos quais muitas
das vezes detestamos. E como disse num programa de televisão, certa
O neurótico diante de situações conflituosas de sua vida foge vez, um artista famoso: — "Eu detesto minhas manias." Um tempo depois,
para dentro de si, para seu self: Ele, sofre e ressentindo (sentindo nova-
noticiou-se que ele estava com TOC. Examinando sua história, verifica-se
mente), não gostando da situação, suas armas se voltam contra si próprio. que, não obstante o irrefutável êxito profissional, ele já enfrentou muitas
Experimenta uma aparente "estabilidade" não por "ter desistido" do ob- adversidades.
jeto de seu desejo, mas porque há uma autoagressão mais branda; porém
continua, que se manifesta, via sintomas Neuróticos (Perls, Hefferline &
1.4 A DOENÇA E A CURA
O titulo original inglês awareness, com a evolução semântica, atrelada a problemas de
_A doença é consequência da desarmonia na relacão de contato
tradução, é aceito no idioma português como conscientização. Contudo, em conso-
nância com as diretrizes gestálticas, no alemão, berço da Gestalt, dá a ideia de algo do organismo com uni ambiente que frustra as nossas necessidades. E
processual que deve fluir, juntamente com a vida da pessoa. Portanto, julgamos de neste contexto, Ribeiro (1994, p. 150) mostra que quem experimenta a
bom alvitre registrar, logo de inicio que awareness (ou aware) quando citado neste li- saúde ou a doença não é o corpo ou a mente, isoladamente; é o
vro "caracteriza-se pelo contato, pelo sentir (sensação/percepção), pelo excitamento e ser uno,
indivisível, como um todo, porque "tudo é uma coisa só".
pela formação de gestalten" (Perls; Hefferline & Goodman, 1997, p. 33).
38.
Clovis Rosa Nay
Compartilhando para Crescer
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De igual modo não há como separar doença física da psíquica, vukteráver-- vai estar sempre eni
tukestá interligado em nosso organismo, e uem adoece Ou se cura é a primeiro plano de atendimento (Perls;
pessoa, não thille, Hefferline & Goodman, 1997, p. 88).
siedaoldstein
g. (apud Ribeiro, 1995, p. 107), conclui
firmando que "o or anismo é uma só unidade; o que ocorre em uma Ribeiro explica que o corpo tem suas próprias energias preser-
parte,roT07' 10,,,
vativas: quando em grupo - por grupo entende-se espaço vital ou campo
Pascal (1981, p. 65), em sua época, já afirmava que era "impos- vivencial - há um fato, no mínimo, inusitado porque o fluxo das energias
sível conhecer as partes sem conhecer o todo, bem como conhecer o todo individuais forma uma força grupai, de modo que emerge uma espécie de
sem entender particularmente as partes". O filósofo Lefebvre (apud Lima, "matriz" que absorve as energias individuais e as "transforma em energia
2007,p. 21), outrossim, fala a respeito da necessidade de se considerar a grupai autorreguladora de cura". Em decorrência dessa característica
dialética da "Lei da interação universal", porque nada está isolado no fenomenológica, uma "força quântica do grupo emana", favorecendo o
processo de cura (Ribeiro, 1994, p. 151).
campo e, ao tentarmos "isolar um fato" ou "um fenômeno", podemos
"privá-los de sentido", pois eles devem ser considerados no "conjunto de A doença assinala para a estaenação, mas, cura é uni "movi-
suas relações com os demais fenômenos", no ambiente onde emergem. , mento em direção à vida", onde as energias fluem naturalmente, desde
Se
.aença pode surgir em decorrência do contato, a cura tam- que a pessoa qi.jranomae "curar, é antes de tudo um ato" da vontade
bém tem a_ mesma origew embrionária, mas nesta o contato é "bom"; (Ribeiro, 1994, p. 152). Por isso, podemos inferir que a doença é um
enquanto que naquela, a vida toma-se "insípida, confusa e dolorosa", em obstáculo ao processo de crescimento que trava as energias. &doença, é
vista de "identificações falsas" (Perls, Hefferline & Goodman, 1997, pp. uma restrição ao caminhar em direção a uma vida plena.
49 e 65). Em grupo, se o contato entre os seus membros for bom, ou seja, Ainda, segundo Ribeiro ho'e em dia a demanda das essoas é
se o grupo conseguir operar com "sua capacidade autorreguladora e equi- _muito mais 88 • - • • - e
com reensão e res • eito do a ue • or coisas
libradora" das relações interpessoais, ele se transformará num agente ou remédios. Para o autor, isso significa que e imprescindível ao psicólo-
promocional e 'contínuo de cura" (Ribeiro, 1994, p. 150). go uma qualidade libertadora chamada amor para que ele possa ter chan-
_Quanto à natureza da cura, 9 nosso organismo tem, a tendência ces de êxito em sua missão. "Á cura é um fator resultante do_encultn
ao e uilíbrio. A esse finei. io auto • e ador Perls, Hefferline e Go- existencial" decorre do contato es_alpsicoterapia,_ obviamente acontece
um
—wencontro de duas e
odman dão o nome de "autorregulacão orearusmica", um mecanismo em uer curar e outra de quem
cauteloso de preservo- e .p.amar.ação_dp uiA qui, dispara emi _guer ser cora/1(12 (Ribeiro, 1994, pp. 155-156).
aLgrm
.diant.e_da_aLutaça_de. aza_perigcl-inairacate (Perls, Hefferline & Goodman, A ui está envolvida a questão do conceito de saúde ue, ara a
1997, p. 84). São palavras de Ribeiro: Gestalt-tera• ia t II . com ca • ac • e a. •
"dentro de um ro " 4 e - essoa em fazer contatos e
4 1. 51
111 .1'4 11 1 ^ • I.0
Essa pré-orientação organismica para a equilibração que os indivíduos forma" de viver (Rodrigues, 2004, pp. 47 e 87).
possuem, de certo modo, se exacerba na sua função reguladora quando
o organismo se encontra na iminência de um desequilíbrio. (Ribeiro,
1994, p. 151) 1.5 O CONTATO

O psicólogo americano Abraham Maslow, em sua teoria da


Hierarquia das necessidades humanas, mostra que dentro dos parâmetros O contato é o sangue vital do crescimento, o meio para mudar a si
/ considerados normais, basicamente ocorre o seguinte: nosso organismo mesmo e a experiência que se tem do mundo. A mudança é um
tem uma hierarquia de necessidades e a mais importante vem primeiro, duto inevitável do contato porque apropriar-se do que é assimilávelpro-
ou
sendo esta a figura que surge, e uma vez atendida, emerge uma outra rejeitar o que é inassimilável na novidade irá inevitavelmente levar à
mudança. (Polster & Polster, 2001, pp. 113-114)
necessidade (Hersey & Blanchard, 1976, p. 71).
Nessa hierarquia de necessidades, o organismo saudável se au- Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 43), "a psicolo-
torregula naturalmente, de forma que a necessidade mais sensível e mais gia estuda a operação da fronteira de contato no campo organismo/
40 Clovis Rosa Nery Compartilhando para Crescer 41

• ambiente", porque é nela que ocorre assimilação ou a rejeição das novi- O autor acima fala que, havendo um bloqueio em um plano,
dades que nos são propostas pelo ambiente e, neste sentido,„Wheiro certamente outros estarão presentes na operacionalização de seu ciclo de
(2007, p. 11)..._à_Que
d. "viver é estar em contato". Diante disso, tanto a contato: a introjeção tem muito a ver com a confluência que, por usa vez,
doença quanto a cura são decorrências de nossos contatos. tem a ver com a fixação e daí por diante. De forma que, na sua opinião,
era cada ponto do ciclo, o ciclo inteiro se repete, nada ocorre isolada-
...Earairbei a não tem ~ar' a- mente, uma coisa depende de outra e "tudo afeta tudo" (p. 34).
pente que ver com a cura, Mas sim com a mudança" na vida do _cliente
que, re-significando as relações de contato, produza a cura. Desse modo, Bloqueios de contato por causa de introjeção de material com o
ele terá mais condições para desbloquear-se e, crescendo, rejeitará os qual não identificamos fragiliza o nosso poder de autodeterminação
mecanismos que estão marcando negativamente sua vida. (Oaklander, 1980, p. 330) e nosso self fica focado somente no problema
(Perls, Hefferline & Goodman, 1997, p. 99). Somos cerceados por medo,
A Gestalt-terapia prioriza a "conscientização ampla" do cliente insegurança e dúvidas no que diz respeito às nossas possíveis escolhas e,
sobre si mesmo Rodri ues 2004 • condi ões • ara sue se rTr
aa entrando em um ciclo vicioso, passamos a pensar que Os outros sabem o
tivados os "fatores de cura: fluidez, sensação, consciência, mobiliza ão, que é melhor para nós, mais do que nós próprios (Ribeiro, 2007, p. 64).
ação. interação, Contato final, satis a ao, retira . • .eiro, •17, p. 59).
Ao passo que identificará e atuará para desativar os respectivos bloqueios Com isso, engolimos "sem mastigar" e, desacostumados a co-
de contato que, quando presentes e ativos, formam polaridades que impe- nhecer nossos "próprios desejos", já que é o outro que deseja por nós,
dem um viver saudável, a saber, fixação/fluidez, dessensibilização! somente sabemos aquilo que não desejamos (Polster & Polster, 2001, pp.
sensação, deflexãolconsciência, introjeção/mobilização, projeção/ação, 87 e 92). A introjeção é um "mecanismo" por meio do qual "acréscimos
prof/exão/interação, retroflexão/contato fmal, egotismo/satisfação e con- estranhos são anexados à personalidade", expondo-a ao risco de desinte-
fluência/retirada (Ribeiro, 2007, pp. 63-66). Se o cliente é identificado grar-se (Perls, 1988, pp. 47-48).
como introjetor, por exemplo, a mobilização é o fator respectivo pelo A ação psicoterápica deve primar por escolher atividades que
qual poderá conduzi-lo em direção à cura. possam trazer algum "material inacabado" na vida do cliente ao "primei-
Gestalt-_terapia acredita que aumentando o autoconhecimento, ro plano", contribuindo para ampliar o conhecimento sobre si mesmo
via conscienti7acão. o cliente poderá reorganizar e ampliar seu campo (Oaklander, 1980, p. 329). Além disso, "descrever para si a própria reali-
yivencial, descobrindo coisas nas quais possa obter algum prazer dade" total e não apenas os sintomas "facilita uma atenção que interfere
(RODR1GUES, 2004, pp. 168-169) porque sem o conhecimento de nós no processo de percepção e desenvolve a aptidão para mudar" (Ribeiro,
mesmos_ dificihnente nossos contatos, seja com nós ou com o "mundo 2007,p. 57).
txterior"_serão nutritivos e transformadores (Ribeiro, 2007, pp. 28-29). Segundo Polster e Polster, um procedimento primário que pode
Havendo bloqueio de contato a nossa condição humana ficará obter êxito na dissolução da introjeção é desenvolver no cliente "um sen-
•• • • • G • IS II e viver melhor, porque nós "so- so das escolhas" dentro das su2s possibilidades, e urna das maneiras
mos o resultado de nossas relações" de contato (Ribeiro, 2007, .pp. 39 e "mais simples" de se fazer isso é pedir a ele que complete ou forme frases
44) ou, reiterando o que já foi falado, pós nos construímos por meio de iniciando com "o pronome eu, e depois com o pronome você". Na se-
no- escolhas e elas ocorrem pas. relaçães de contato_IRodrigues, quência dos trabalhos psicoterápicos, objetivando aumentar a percepção a
2004, pp. 47 e 87). respeito de si próprio, pode-se pedir ao cliente que elabore melhor o sen-
tido de suas afirmações (Polster & Polster, 2001, p. 89).
O cliente com bloqueio de contato ativo, denominado introje-
ção, por exemplo, está colhendo as consequências de uma obediência Para Ribeiro, na psicoterapia, no caso de introjeções, o objetivo
passiva que mina o conhecimento de si mesmo; mas, esses meCanismos, principal deve ser mobilizar o cliente a sair da rotina e caminhar em outra
tanto os de cura quanto os de bloqueio, não existem isoladamente, nem „direção, de forma caie ele_venha a experimentar uma maior plenitude em
funcionam autônomos e independentes, já que um "contém todos os ou- seus contatos através do sentir. agir e pensar. Com a conscientização, ele
tros" (Ribeiro, 2007, pp. 61 e 76-79). terá condições de perceber em cada encruzilhada da vida, a melhor opção
42
Clovis Rosa Nery
Compartilhando para Crescer
43
de escolha que poderá conduzi-lo a seu bem-estar, pois saúde é função de
contatop-leno- (Ribeiro, 2007
-;-pp. 34,77 e 96). di ão humana, acarrete perdas e possa gerar algum -nível de estresse tem-
essa a' me
mos coem as eroce eror ue nos nos construí
1.6 AS ESCOLHAS e- escolhas e elas se dão na relação com o ambiente. As
erdas • _H CO
relativame tte • e eno ue corremos em
de um anho muito maior que somente obtemos ao crescer.
As escolhas dizem respeito à auteridade e à diversidade ineren-
tes a cada uni de nós. Como cada dedo é diferente um do outro, cada pes- Na visão da Gestalt-tera ia o processamento da cura não é ai
uantitativo. E feno
soa também o é. Ademais, em sendo uma unidade dotada de forças "bio/
psico/social/espiritual" (Ribeiro, 2007, p. 113 e Aguiar, 2004, p. 18) o escolha da pessoa. E um milagre que se realiza devido à vontade e à fé da
pessoa que deseja ser curada. "Você quer ser curado?" — Eis a pergunta
homem é uma criatura que possui inteligência, amor e liberdade para
te d que é um apelo ao poder decisório, diretamente ligado à vontade do
ave ara escolher o a ue • uer viver, exercendo cliente, cuja resposta faz toda a diferença, pois o ato de querer "implica
suas potencialidades.
abrir mão de todas as vantagens" que a doença possa trazer e, a partir de
liberdade de escolha do home limites cir- então, viver com responsabilidade e disposição para lutar contra os possí-
cunstanciais, em Vista da
re1id2r1e, Rociai, familiar e econômica de cada veis obstáculos ao crescimento (Aguiar, 1998, p. 20).
.4aLn. Quanto maiores possibilidades existirem no cano existencial ou no
eao
1 será a variabilidade nas 1.7
opções de escolhas, o que é um fator benéfico aaprocesso de mudanca. O EXPERIMENTO
Na sicote " dia osticamos "os processos saudáveis ou não Se do Rodri es, a ado -
saudáveis" ativ‘2 o cam o visando sua reor aniza ã ... o do ex erimento na rática sicote-
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de de mudan as (Ribeii L122.52.1211da_ rápica im 'loa convidar o cliente ara artici ar da reconstitui ão de unia
veis co has devem ser as possi_ —-•••e
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e am ara a vida toda • • • ue
enquanto houver vida há possibilidades de mudanças e de crescimento.
Em ual uer etapa da nossa existência, as escolhas são necessá- bran
um de per si. Sartre(a ucl Mar- ,Lãs_p_g_g
condes. 20 . •c ção atual do contexto etc." (Rodrigues, 2004, p. 83).
• • - "somos condenados a ser livres" para es- O método dialó ico "Eu-Tu" da Gesta t-te .. •
colher, porque a nossa hberdade é gera, ora e angustias, na fenomenologi a ohije_iva rrwrironcvs —
cada ca ,',,, e - ato que para
trilhar nos res onsabilizamos pelo que ga- (Yontef, 1998, pp. 233-234). O
nh.a experimento aumenta a conscientização quanto ao "momento existencial
rian • r ue ao escolher a go, necessa- e emocional", porque a pessoa fica em aware,
ão de outras opções odrigues, 2004, p. 67). de forma que em seus
contatos ela possa buscar com maior intensidade "novas escolhas, novas
Se a escolha não for premeditada, nem legitima, com ela virão a chances de reequilibrar-se" (Rodrigues, 2004, pp. 84-85).
ansiedade e a insegurança; enfim, infelicidade, conflitos e neuroses. Por
outro lado, adotar urna postura inerte, escolhendo não escolher, não é A awareness é
unia forma de experienciar. É o processo de estar em
uma boa alternativa porque o homem constrói sua trajetória por meio de contato atento com o evento mais importante do campo indiví-
posicionamentos (Spinoza, 1989) e, ao travar-se diante das encruzilhadas, duo/ambiente com apoio energético, cognitivo, emocional e sensénio-
ele paralisa seu processo de construção enquanto pessoa. motor totais. Um continuwn constante e ininterrupto de
leva a um Ah!, awareness
a uma percepção imediata da unidade óbvia dos ele-
Nossas vidas são determinadas por nós por meio de nossas es- mentos díspares no campo. Novas totalidades significativas são cria-
lha Em outras palavras, somos livres ara escolher, mas não somos das por contato amure. Portanto, a awareness
so, - ranos o bastante ara de um problema. (Yontef, 1998. p. 236) em si é uma integração
uenciarmos nas suas consequencias. m o-
de escolher seis relativamente cercea o e as unita oes da con-
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Para Perls (2002, p. 374), o ganho fmal de se entrar em aware é
Por último, Rodrigues mostra duas questões importantes no ex-
o resgate natural da formação de figura e fundo perturbado nos processos perimento. A primeira tem a ver com o "não Q-
de neuroses e, nesse sentido, para ocorrer a awareness, é indispensável o penas falar sobre".‘ A pes-
a tem que querer falar sobre algo, tem de aceitar o experimenta. O seu
contato, ainda que este possa acontecer sem aquela.
sentimento é levado em consideração. O psicólogo deve considerar todas
_Eu síntese awareness significa manter-se "consciente de sLe as forças atuantes no campo vivencial do cliente porque do contrário seu
...£1Lmj_m_blette" (Rodrigues, 2004, p. 187). É "um meio contínuo para trabalho não será eficaz, ocorrendo a volta do problema, num ciclo vicio-
manter-se atualizado com o -próprio ‘u", sendo "uma função de orienta- so de repetições. A segunda diz respeito à "concretização da situação
ção" do organismo tal "como a luz do sol, iluminando tudo o que toca", vivencial". O experimento amplia o nível de conscientizacão da pessoa
implicando uma conscientização, e pode ser focalizada principalmente . sobre snms rnssibilidNie_s, aumentando, de algum modo sua variabilidade
nas experiências humanas denominadas sensações, ações, sentimentos, de o • ões de escolhas na solução de um problema. No ex•erimento, a
desejos, valores e avaliações (Polster & Polster, 2001, pp. 217-218 e .- • • - Mffilear~"11~1 • - e - •
232). Há ocasião em que "o cliente precisa apenas de um facho de luz", e das mis as ossi ilidades e otencialidades até então não• observadas
. •••-
há outras em que a "fresta" por meio da qual ele vê o mundo precisa ser (Rodrigues, 2004, pp. 83-85).
alargada (Ribeiro, 2007, p. 25). Isso significa entrar em aware. Conforme Perls (19774 p 14)_as_técuieas na Gestalt-terapia —
No exrimento, o psicólqgo pode trabalhar com a semântica do experimento e nn,a
cliente: — Como ele usa e bastante úteis" mas devem ser usadas
• • 9 — No assado no resente ou no futu- estões fundamentais é sue o cliente tem de que-
ro? — Será que há uma neurose um medo ou um bloqueio que o az fugir re artici ar. c '
do er se t- ' eus e eitos cpJaterai, tornan o-se
7ee - e - Gee - e; . carecer na semântica. uma atividade substitutiva e.impeditiva de um crescimento saudável.
..Qxperimento fundamenta-se _ zaccumina~. Esta visa res-
gatar o homem em sua totalidade, "prestando especial atenção ao seu 1.8 A PSICOTERAPIA
corpo que é o visível do invisível, que é tocável do intocável, que é o
experimental do inexprimível" (Ribeiro, 1995, p. 60). Sem postura feno-
Na psicoterapia, o- cliente "é visto como um todo, vindo de um
menológica não há experimento. Portanto, o experimento é uma prática
todo e presente em um todo" (Ribeiro, 1995, p. 23). Em verdade, todos
criativa que, trabalhando a percepção, mobiliza recursos do próprio
nós temos nosso campo vivencial e nesse campo vivo, dinâmico e intera-
cliente que emergem em seu campo vivencial, buscando uma nova confi-
tivo, afetamos os outros e somos afetados. Nele, não há neutralidade,
guração, uma "reabilitação da função de ego" (Müller-Granzotto &
temos nossa rede de relações e carregamos conosco questões bem resol-
Müller-Granzotto, 2007, p. 354). Mas como é um convite, o cliente so-
mente entra nele se aceitar. vidas e más resolvidas. A saúde, geralmente, é proporcional ao nível de
relações bem resolvidas da pessoa, porque estas interferem na relação
A escuta fenomenológica prima-se no saber se o cliente está organismo/ambiente, alterando sua dinâmica processual.
inteiro no aqui e agora, ou seja, com os verbos no presente, sentindo o
que está falando. Dessa escuta emergem as dificuldades do cliente. A operacionalização do campo vivencial obedece "a uma lógica
interna, uma lógica quântica, que tem muito a ver com a vontade das
Quando ele fala do passado, por exemplo, ele pode ser convidado a usar i
os verbos no presente, falando novamente o que falou. pessoas e com a relação organismo e ambiente" (Ribeiro, 1994, p. 158).
O autor lembra-nos que para entendermos um pouco mais a respeito da
No experimento, há a renresentaeklmas. devemos abster-nos dinâmica processual de um grupo ou campo vivencial, podemos pensar
de interpretações e julgamentos para evitarmos erros. Como psicólogo, no corpo humano e seus membros. Quando o corpo possui seus membros
"mesmo ue eu 111 II tII li, retação, se eu contá-la a ele desajustados, ele tem dificuldades para realizar suas atividades. Quando
Ãae_sajente), roubo-lhe a oportunidade de descobrir por si só" (Stevens, seus membros estão bem ajustados, ele se torna forte e é capaz de contri-
1978, p. 12). Palavras entre parêntese, inclusão nossa. buir para conquistas inexplicáveis. Um outro exemplo seria uma simples
linha de costura. Ela sozinha é frágil, mas quando unida a várias outras,
pode formar urna corda resistente. Essa é a questão do grupo. Quando as
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pessoas, mesmo com suas singularidades e fragilidades típicas da condi- 47
ção humana, se unem de boa vontade com um propósito, tomam-se fortes exterioriza por meio de um "comportamento géraiido comportamento no
e capazes de alcançar estágios outrora impensados. nível intrapsíquico" (Ribeiro, 2007, p. 113). A cura implicará' uma reor-
Para Ribeiro, no processo de união grupai alguns fenômenos se ganização do campo e, como cada pessoa é distinta e tem suas singulari-
agregam numa "lógica interna", caracterizada pela motivação e vontade dades, o processo de cura ocorre de forma ímpar, diferindo de pessoa
para pessoa.
dos seus membros que, com objetivos comuns, gera um ambiente que
Propicia a espontaneidade, aceitação, aprendizagem e outros. Nesse con- Em síntese, Perls, Hefferline e Goodman (1997, pp. 163-174)
texto, didaticamente ele diz que o grupo experimenta algumas fases: a falam que, na psicoterapia, se deve buscar alterar a estrutura da atitude
primeira seria o "campo geográfico"; a segunda, o "campo psicológico"; presente, tanto do pensar e sentir quanto do agir para levar o cliente a
a terceira e áltiina, o "campo comportamental" onde se verificam os re- uma conscientização do que está perturbando o seu aqui e agora. Invaria-
sultados, porque em grupo há uma dinâmica saudável que flui para o velmente, é mister que se empenhe por um tempo no sofrimento emocio-
processo de cura. Uma vez havendo bons contatos em grupo, nos termos nal, no luto e na confusão sem fugir, porque há muito a ser trabalhado no
citados, ocorre urna autoaceitação saudável de seus membros, uma sensa- caminho em direção ao êxito.
ção de segurança importante, instrumento no processo de cura (Ribeiro,
1994, pp. 149-162). O tratamento envolve uma fase de luta contra unia "fera fan-
tasmática". Não se vence a fera fugindo dela. A tentação da fuga do pro-
Há ainda no grupo algo importante relacionado ao conheci- blema nessa hora é um estímulo ao medo que precisa ser erradicado para
mento. A pessoa percebe que ela não está sozinha na luta contra uma se vislumbrar a vitória. Mesmo diante de eventuais riscos, é preciso abra-
adversidade qualquer da vida. Com çar as armas disponíveis, e enfrentar a fera com coragem. E, por fim, a
isso, a oportunidade que ela tem para
compartilhar será um importante instrumento em seu processo de cresci- guerra acaba e a pessoa, vencedora, fica liberta do jugo pesado do passa-
mento. No ato de falar e compartilhar há algo muitas das vezes benéfico e do atormentador.
saudável (Rodrigues, 2004, p. 83). No grupo, o compartilhar faz a pessoa Aliás, comentando a questão do luto, Aguidi;
crescer e, em crescendo, ocorre geração de energias canalizadas para r diz que a ele está
intimamente ligado uma "sensação de culpa", envdivendo "remorso",
mudança que produz equilibração organísmica que, em última instância, muitas das vezes sem "fundamento". Discorrendo sobre um caso real, o
Significa a cura.
autor fala que quando se perde urna pessoa querida, geralmente, de início,
A conscientização é indispensável ao crescimento da pessoa e vem um "grande choque"; depois, "o desespero, a angústia, a culpa" que
ela ocorre na fronteira de contato entre o organismo e o ambiente. Ha- podem durar muito tempo, até anos. Por fim, há um fechamento da situa-
vendo um bom contato, as energias fluem naturalmente, fecham-se as ção, e a dor da perda é transfonnada em "gratidão", "saudade" e "unia
Gestalten e ocorre o crescimento. A cura é, então, uma função de contato. certa nostalgia" (Aguiar, 2000, pp. 88-103). Quem já passou por um luto,
A doença é sinalizadora de entraves nessa relação. como eu passei, sabe que é exatamente isso que ocorre.
Em verdade, não é o psicólogo o curador. A cura depende muito Na abordagem gestáltica, muito mais importante do que sair
mais da vontade e da motivação do cliente do que do psicólogo. Este é logo da situação problemática é procurar entender como ela aconteceu,
uma figura importante no processo, porque vai junto, numa comunicação visando erradicar a causa e não, apenas, o sintoma; e, nisso está implícito
mútua, caminhando de mãos dadas com o cliente. conscientizar o cliente de onde ele está e corno ele realmente está, não se
O profissional deve procurar escutar "além das palavras", ten- tratando de o psicólogo dizer o que fazer, porque qualquer mudança efi-
tando compreender o paciente e "ver o mundo com os olhos deste", por- caz envolve uma compreensão do conflito, e a própria disposição para
sair dele (Rodrigues, 2004, pp. 95-98).
que é na qualidade do encontro que emerge a possibilidade de cura (Ro-
drigues, 2004, p. 146).
Há as polaridades no conflito. Elas se apresentam diante de nós
À luz do que foi exposto, na psicoterapia deve-se ter em mente quando temos que efetuar escolhas dificeis. Geralmente, nessas horas
que a neurose indica uma desorganização do campo existencial que se MOS assolados pela dúvida entre as alternativas de soluções disponí-
veis. Ficamos travados e divididos como se uma parte de nós quisesse
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seguir um caminho e outra não. Com um quadro assim, a ansiedade tende sentido de admitirmos que há em nós um espaço a ser preenchido. Para o
a aumentar. autor, às vezes, é preciso "abrir mão de nossas certezas", esvaziando-nos
Segundo Rodrigues (2004, pp. 102-105), nessas ocasiões ocorre de velhas ideias para que vislumbremos novas "possibilidades".
a "indiferença criativa", caracterizada por um impasse entre as "polarida- Na aceitação de outras possibilidades alternativas emerge a fer-
des" — "forças que atuam no campo vivencial, simultaneamente, porém tilidade, porque nós ampliamos nossa visão e percebemos onde estamos,
em sentidos inversos" —, de forma que, no momento, "nenhuma das es- sendo este um fator primordial para sairmos em direção a um novo hori-
colhas possíveis" parece ser satisfatória; e, a situação pode se agravar se zonte. Para se consumar tal situação é mister que haja espaço por onde as
lidarmos "apenas com o conflito em si", perdendo o contexto, o que pro- energias criativas possam fluir naturalmente. Paradoxalmente, os casos
voca a "redução da percepção". clínicos mais difíceis de serem tratados são aqueles que os clientes não
Na psicoterapia, se identificam as polaridades por meio da figu- aceitam a doença.
ra e fundo no campo. Em seguida, procura-se integrá-las, a saber, o No que diz respeito aos sintomas, a Gestalt-terapia não os seda,
cliente se percebe e se amplia no campo. Não há avaliação ou interpreta- porque, por considerá-los "apenas a ponta do iceberg", ela procura en-
ção porque elas não levam a nada. É importante estar junto com o cliente tender a dinâmica que os determina (Ribeiro, 2007;p. 112). Isso implika
e, para isso, às vezes é preciso ficar uni pouco mais com o problema para o fato de que a psicoterapia não busca enfraquecer o conflito, mas sim
compreender a situação e escolher a melhor opção de saída. fortalecer o self e tomar, principalmente, os introjetos "conscientes de
Quando permanecemos por um tempo com o problema, temos a modo que se nutram de material ambiental novo e atinjam um ponto de
ocasião de fazer um exame introspectivo e, ouvindo os sons do silêncio •crise", para que possam ser solucionados (Perls, Hefferline & Goodman,
da nossa alma dorida, conhecermos um pouco mais de nós mesmos, am- 1997, p. 163). A cura se dá por meio da utilização do poder integrativo do
pliando a chance de vislumbrarmos horizontes mais promissores, melho- próprio self, embora haja ocasiões em que ela dependerá de mudanças
rar nossa qualidade de vida, desde que a escolha seja certa. Com o silên- substanciais, inclusive literalmente de vida, de ambiente ou de costumes.
cio da parada, podemos compreender que o ouvir pode ser muito mais Segundo Ribeiro (2007, pp. 61-62), as projeções dizem respeito
profilático do que o falar, e entender que a força mais eficaz que atua no ao comportamento de atribuir ao próximo algo próprio que não aprova-
mundo, o sopro ativador da vida atua em profundo silêncio. mos em nós; enquanto que nas introjeções (ou introjetos), a pessoa incor-
Perls, Plefferline e Goodman (1997, pp. 41-43) mostram que a pora opiniões e vontades alheias como se fossem suas. Resumindo:
experiência de percepção, ou seja, a conscientização se dá via sentidos aprendemos com o autor que "nas projeções há excesso do organismo no
que são as funções de contato que ocorrem "na fronteira entre o organis- ambiente, e nas introjeções verifica-se excesso do ambiente no organis-
mo e seu ambiente", sendo eles em número de sete, a saber: tato, audição, mo". Ambos os processos são nocivos à saúde porque dissimula a reci-
visão, voz/linguagem, movimento, olfato e paladar, porque "o organis- procidade das relações.
mo/ambiente humano naturalmente não é apenas fisico, mas social". Nes- Na prática psicoterápica, via experimentos, tenta-se recuperar a
se sentido, Powell (1989, p. 113) diz: "Para compreender as pessoas, cena passada, mas principalmente o sentimento que a acompanha que é o
devo tentar escutar o que elas não estão dizendo com palavras, o que elas mais importante porque ele vem junto com uma autoexplicação ao clien-
talvez nunca venham a dizer". (Expressão com palavras: inclusão nossa). te, quanto à necessidade de se desligar do passado perdido e imutável.
O psicólogo deve estar sensivelmente ligado nessas questões e Isso traz resultados porque nós nos comprometemos muito mais quando
não relegar nenhuma das possibilidades de comunicação durante a sessão, descobrimos algo por conta própria do que quando alguém nos diz.
porque a "compreensão" na psicoterapia implica, também, "ouvir o silên- O experimento amplia a capacidade de o cliente conscientizar-
cio que procura se romper com a fala" (Arnatuzzi, 2001, p. 41). -se de seu "momento existencial e emocional", envolvendo-se mais
Há também a questão do vazio que não pode ser olvidada. Se- "completamente" com seu "presente" (Rodrigues, 2004, pp. 84-85), por-
gundo Rodrigues (2004, pp. 161-162) pode haver esperança no vácuo, que ele possibilita urna "compreensão" ao participante, respeito "de suas
porque ao assumirmos que não temos nada, damos o primeiro passo no próprias capacidades e habilidades"; enfim, "de seu equipamento sensori-
al, motor e intelectual" (Perls, 1988, p. 77).

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