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Título original: The Thinking Heart: Three Leyels of PsychoanaLytic Therapy with

Disturbed Children
( l rlr tcúdo
O coração pensante: três níyeis de terapia psicanalítica com crianças e adolescentes
CO 2012 Anne Alvarez
@ 202 1 Editora Edgard Blücher Ltcla.

P ub li she r Edgard Blücher

Editor Eduar clo Blücher


C o or d en ação e di torial Bonie Santos

Produçao editoriaL Isabel Si1va, Luana Negraes, Milena Varallo


Preparação de texto Cátia de Almeida
Diagramaçao Negrito Produção Editorial
Revisão de texto Karen Daikuzono
Capa Leandro Cunha
Imagem da capa iStockphoto

l'r'clácio

lrr troclução
11

l. Níveis de trabalho terapêutico e níveis de patologia:


Dados Internacionais de (iatalogaç:io
ua Publicaçào (CIP)
o trabalho de calibragem 23
Blucher Angélica Ilacqua CRB 8/7057

Rua Pedroso Alvarenga, 12,15, 4! andar Alvarez, Annc Parte I. Condições de nível explicativo
04531 934 São Paulo SP Brasil O coraçao pensante: três niveis cie terirpia
Tel.: 55 I 1 3078 5166 psictrnalítica com crianças e atlolesceltes / Alne 2. Condições emocionais para o desenvolvimento
do pensar
Alvarezi tradução de Tanra NIara Zalcberg; revi
contato@blucher.com.br
são técnicâ de [,iâ[à Pinto Cl]zrvcs. - São P:rulo: em dois trilhos ftwo-tracked thinking]:a sensação
w.blucher.com-br tslucher 2021.
de ser
392 p.
agente e a sensação de abundância 59
Segundo o Nolo Acordo OrtográÍico, conlirlue
5. ed. do \ktcqbulat'io OrtogriiJrco da Língua IlibliogrrÍia 3. ObstruçÕes e desenvolvimento para pensar
em sequência:
PorLLtguestL, Acaclenria Brasileira de Letras, ISBN 978 6:5 5506 060 7 (impresso)
março de 2009. ISRN978 65 5506 059-l (eletrônico)
ligaçoes entre fantasiâ, penSâr ecaminhar g3

É proibida a reprocluçâo total ou parcial por l. PsicaDálise infultil I. TÍtulo. II. Za)cberg, 4. Fazendo ligações e fazendo tempo: passos
para
'lania Mara. IIL Chavcs, l,ianâ Pinto.
quaisquer meios scn autorização escrita di1 descompressão de pensamentos e criação cle
20 0266 CI)l) t50 195
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Illiicher [,tda.
l. Psicanhlise
I.N íveis de trabalho terapêutico
c rríveis de patologia: o trabalho
tlc'calibragem

Itilrodução

lrrrr clecadas recentes, tem havido muita discussão sobre a impor-


tiirrcia relativa de dois níveis de trabalho com pacientes borderline
orr rrruito prejuclicados, ou seja, insight yersus outros níveis mais
plirnários de compreensão. Neste capítulo, mostro que concordo
(()n1 esses autores, mas também avento a necessiclade de urn ter-
r'ciro nível, anterior a ambos. thmbem proponho a ideia de que
os três níveis podem estar interligados, como pontos de um con-
tínuo de níveis de significado. No terceiro nível (de psicopatologia
c, portanto, de tecnica), questiona-se se sentimentos e significados
tôm importância para pacientes em estados desafetados de trutis-
nro, de dissociação, cle apatia desesperadora ou em estados des-
viantes de excitaçãcl.

As discussÕes dos primeiros dois níveis têm sido expres-


sas por diversos termos: uns dizem respeito ao equilíbrio entre
a necessidade de o paciente se responsabilizar por algum sen-
timento versus a necessidade de que seja contido pelo analista
ANNE ALVAREz 25
E Nívt'ls DE PAToLoGIA
sÍvrts DE TRABALHo 'reRapÊurtco

llotlr (2(X)l) identificou quatro níveis de interpretação trans-


197};Steiner' 1994)' Outras
(Bion, 1962b;Feldman' 2004; Ioseph ' e Target' lr'rlrrr r.rl, irbrangendo desde comentários relativos ao significado
mentalização (Fonagy
discutem rlrr., r ('l,r\(res no mundo externo até enactments no aqui e agora da
versÕes
'"'''f* "*u' (Blake' 2008)' Outros ainda
1998) e interpretaçã o"''*"'brincar em ter- rr'l,rq,lrr rrrrrrlítica. Ela sugeriu que, enquanto este último nível está
de algo alem cla interpretação'
sublinham a importância informaçáo nrr r'l'r1t'rrlro cla análise, o analista precisa estar disposto a acom-
"pro."r.rrul; de compreensão de
mos de um modo (Sander' 2002; Stern Ir,rrrlr,rr o pirciente em um panorama bastante amplo da sua vi-
um "momento de reconhecimento' \ r'n( r,r Irirra flirzer uma descrição mais rica e mais completa do seu
durante de uma
p' ra7) relsalta a necessidade
et al.,1998)' Schore i'oo'' rlrrrrtlo. l{oth comenta, no entanto, a capacidacle de sua paciente
límbicos" do paciente " ":'d:]:::
"conversa entre os ,,r' ,ll)r'opriar de certa culpa em um momento em que ela formula
"'*-ut e Botella (2005)
mals graves de patologia' Botella
peuta nos níveis de rrrrr,r irrterpretação especialmente enérgica, o que sugere, ao me-
empreender o "trabalho
de o analista
clescrevem u nos ncssir qurestão, que, segundo ela, a escolha do nível depende
'l"t""'dJde
acienl;s'*
fi gurabilid ade" com r
:,
assemelham mals a
:':til: rTH::lXi"J:ioS ,l,r t irlxrc:iclade de o paciente escutar algo. Mas a força principal do
rJpresentativos e se de facilitar a fun-
\('u iu'!l,Lllnento é a utilidade e o enriquecimento propiciados pelo
Tuch (2007) cliscutiu a maneira tr.rhirlho em todos os níveis. Roth parece sugerir que todos podern
recentemente,
pré-interpretativo'
ção reflexiva com trabalho l,rvrrlccer o insight. Contudo, parece que a maior parte da preocu-
dos níveis infantis da
per-
A propria Klein' a grande especialista l,,r\rlo primária dos autores anteriores é a necessidade de identifi-
pré-verbais
ressalto;;u., qrurlào emoçóes e fantasias (,u' cnl que condições as interpretaçÕes com função de fornecer
sonaridade, como "memórias
revivida"" ttansferencial' surgem rtrsidú são inadequadas e exigem que, primeiro, se faça algo mais.
sáo
";;;; ainda que "não podemos traduzir a lingua-
em sentimento'' Disse Anna Freud colocott a questão de maneira vívida, tnas em ter-
lhe conceder palavras
para aconsciência sem rrros da psicologia tradicional unipessoal. Ao voltar à discussão do
gem do inconsciente
cánsci"nte (Klein' 1957'p' 180)' As psicotera-
do nosso tt"itO'io diversos modos
t«rrrceito de defesa com seus colegas da Clínica Hampstead, refe-
peutas de crianças Lanyado.e':tt:lil:ttigaramadolescentes mui- liu-se à necessidade de estruturação anterior da personalidacle:
e
de trabalhar na área
transicional com crianças tlisse que, se ainda não se construiu a casa, não é possível jogar
e Blake (2008) ilustrou:::-:::"tt"
to prejudicaao' " ut'-'uaores' agressivos que
irlguém para fura dela, isto é, usar tnecanismos projetivos. Sandler
para atenuar impasses com adolescentes ircrescentou: "Nern jogar a pessoÍr no porão'l isto é, usar repressão
do humor Partes II
e Horne' 2006) Nas
sofreram grande )'"'n*it-uttyudo e se comunicar cotn
(J. Sandler e A. Freud, 1985, p. 238). Um teórico kleiniano das re-
que, para chegar até -
e III, tento demonst.ar sentimento' laçoes objetais, que trata crianças que sofrerarn grandes privaçÕes,
ou pior' grave perda de
- memórias em sentimentos' concordaria e acrescentaria que, às vezes, se trata basicamente cle
p o demo s p"'i'
i
u' ut"- di'
| "11-]:T;J:i::ffi::i:;:iT: r-rma questão de construir duas casas, uma para o self, outra parâ o
emoclo
,"rportu' contratransferenciais objeto interno. A. M. Sandler (1996, p. 281) e Hurry (1998, p. 34)
e especialmente
se escolhemos a palavra
formas que determinem r-rltrapassam Anna Freud quando sustentam que é falsa a diÍ'erença
o tom certo' entre terapia do desenvolvimento e trabalho psicanalítico. Nesse
ANNE ALvAREz 27

o trabalho analítico precisa estar ao mesmo


caso, enfatizo qLle r tlrilrr,,l,, otr irtlolescentes, durante
o brincar ou na coflversa entre
tempo amparado no desenvolvimento e na psicopatologia e, con- r'.r('t'rt'rapeuta,
Ir'r, de modo que façam sentido _ e alcancem
sequentemente, precisa levar em conta a capacidade de introjeção o
1r'rr r.rtrt' A r,aneira pela quar o terapeuta verbaliza
e exprime
sua
do paciente. ,'rrrrr.r'rrsii, e processa seus sentimentos
contratransferenciais,
Rocha-Barros (2002) introduziu a ideia de um contínuo, ao as- r,.""'r\'('l,.lcrrtc muito perturbadores, pocre facilitar
ou impedir
sinalar qLrepassos em direçao à pensabilidtrde podem ser fornecidos ,'r\'"(''t()§ ern direção à simbolização. Nos
casos cros pacientes
por pictograrnas afetivos em sonhos. AÍirmou que, nos prirneiros ,lr'ir ulos a seguir, às vezes, é uma
questão de passos de elaboração,
r il11111 l(11ç11i1-Barros
estágios do seu surgimento, essas imagens visuais e dramatizadas sugeriu. Em outros casos, porém,
em que a
ainda não são processos de pensamento, mas podem conter ele- 'r'("'r'r(' rrã. é apenas processar a clor e a ansiedacre,
rnas introje-
mentos expressivos e evocativos potentes subjacentes a fantasias l,rr r.r,1.1 i[116ias possivelme,te
rnuito .rovas de alívio, p.or., ouiu
inconscientes (p. 1087). Ele não diz se o analista deve responder a ''rr'r('zil atraente, bem co,ro da receptividade dos seus objetos,
esses passos iniciais com um tipo diferente de interpretação, mas I'r,,lt'rn«ls qLlerer ressaltar esse outro termo, .,trabalhar
em direção
,i' I turking towards)o, rlcrescentar
afirma clue tais imagens podem levar à transmutação e à elabora- outro, co,.ro ,,pôr para .entro,,
çã«r, o r1ue, por sua vez, levam à função simbólica e à compreensão
It'rhirryilJ, em vez de elabortrr [working through].
verbirl. Moore (2004) demonstrou haver, nas crianças traurnati- (Juestões de introjeção, internalização
e i<lentificação estão em
zirrlrrs, a tcurlêncitr de criar desenhos que assLlmem forma não de (,ilrsir. Klein (1957) escreveu:
reprcscrrtaçClcs, nr.ls de novas representaçóes, não genuinamente
sirubrilicas. (lour a psicoterapia, os desenhos das crianças tendiarn I{ao ha dúvida de que, se o bebê realmente
a sc torn.rr mais livres e m.ris genuinamente representacionais. for expos-
to a condições muito desJavoráveis,
o estabelecimento
Comparou essa mudança às observaçÕes de Hartmann (1984) so-
retrospectivct de um objeto bom
bre a evolução, em adultos traumatizados, dos terrores notumos do
nào consegue tlesfazer
as experiências más iniciais. Contudo,
estágio 4 do sono para os sonhos REM, o que sinaliza que ocorreu a introjeçao do
analista como objeto bom, se não estiver
- e está ocorrendo - certo processamento e digestão do trauma. baseada na
idealizaçào, em certa medida, tem
o e.f.eito de fornecer
Assim como Rochtr-Barros e Moore, também apresento a ideia o objeto born interno onde ele em
grande parte faltou.
de um contínuo que leve em conta a maneira de encontrar o ní- (p sot
vel de intervenção adequado ao nível de distúrbio e/ou de desen-
volvimento do ego (e do objeto) do paciente. Isso implica conside- Atualmente, compreendemos, baseacros
ern tsion, nos teóri_
rar suâ capacidade de introjeção. Rocha-Barros irpresenta o meio cos do desenvolvimeuto e nos
neurocientistas, que a capacidade
dos sonhos como modelo de um pirsso específico com seus pacien- cle pensar e, portanto, cle assimilar
interpretaçÕes,
envolve fun_
tes adultos, enquânto levo em conta a rnaneira de fazer colttato ções cognitivas e emocionais, ou, como diz Urwin,
funçÕes cog_
corn os diverscls níveis de desenvcllvimento mental/emocional das rritivo/emocionais (Bion, 1962b; panksepp,
199g; Schore, 1994;
Ió NIVEIS DE TRABALHO TERAPEU'TICO E NIVEIS DE PATOLOGIÀ
ANNE ALVAREZ

Trevarthen, 2001; Urwin, 1987). Depende em parte do nível de lr',r'r r'rr l)('r',ritir a perspectiva necessária. parecia que ele, entào,
desenvolvimento do ego, do self e do objeto já alcançado, mas l,rrlr'r r,,rirr l)aril si tanto quanto pudesse tolerar. Em todo caso,
também do nível de transtorno emocional em cada momento es- r *r r r'r r,s ;111;111s11n.s, o que
está sendo sentido precisa ter prece-
pecífico: se o distúrbio for grave, pode interferir em um ego e na r lr,rr, r,r :,olrr.t./rrrr que estásendo sentido (e,
como eu disse antes, até
função simbólica j á desenvolvidos. ',r
rlrtr' 1y111,111 cstá SentindO).

Os neurocientistas mostraram que o trauma ou negligência l'rr prxl(.rii1 sugerir, portanto, que, se
estamos comprometidos
social/emocional na primeira infância afetam não só o desenvol- r .'l '.r
( rrrstrução da casa
«
de Anna Freud ou com as duas casas
de
vimento comportamental e psicológico como ainda o crescimento lr l,'tr t ( pru'ir
<t self e para o objeto interno),
podemos ter de começar
do cérebro. A dissociação que surge depois do trauma - olr, pos- gr.l,s 'rlir'c'ces de cada casa. os i,tersubjetivistas
crescreveram c)
sivelmente, a desatenção ou retraimento que surgem no autismo ,r'rlrlt'r,ir tlo déficit no se$ e a diferença entre estratégias
defen-
- pode empurrar a pessoa na direção de uma trajetória de desen- \t\',r (lcsti.adas a compensar a interrupção
clo .esenvolvimento
volvimento emocional e cognitivo desviante, o que pode interferir
'' ,r\ vcrdadeiras defesas contra desejos conflituosos (Stolorow e
profundamente no crescimento em partes afetivas e relacionais do | ,r, lrrrrann, 1980). Em linguagem
kleiniana, podemos
cérebro (Perry, 2002; Schore, 2003). Na verdade, o córtex orbito- .'r (o'tál a diferença entre a tentativa de "superar" querer levar
esse déficit e a
frontal, essencial para a compreensão empática da mente de outras lr,rrtirliva de se defender dele (Klein,
lg37).
pessoas e das emoções pessoais, desenvolve-se quase inteiramente
Ncste livro, contudo, gostaria de acrescentar
na vida pós-natal (Gerhardt, 2004) - via interaçóes do bebê com outra dimensão à
rr'('stiio do déficit ressartando a existência,
outros seres humanos. Quando Robbie, que sofria de autismo e em arguns pacientes, de
rrrrrtlcficit ou de danos no objeto interno. Isso
de trauma, finalmente começou a usar sua mente, com frequência cliz respeito a obje_
Itrs vividos como desinteressantes,
parecia que parte de sua mente/cérebro se comportava como um não varorizaclos (e não desvaro-
t t .: t t d () s), imprestáveis
e, possivelmente, desmentalizados.
músculo quase atrofiado - debatendo-se de modo repentino e er- Tambénr
,,.<lc dizer respeito a objetos com excitabiridacre perversa,
rático em movimento e vida. Na ocasião, as descobertas modernas às vezes,
srrtlorrrasoquista. Alguns anos
sobre o cérebro não estavam disponíveis, mas a pesquisa atual me
atrás (Alvarez, 1992, 1999),sugeri
(rrc um nível intensificado
leva a crer que esses eventos estavam acontecendo no cérebro e na
de i,tervenção - denomi.ado ,,recla_
rttitção" -, em resposta à sensação
mente de Robbie (ver o Capítulo 13 para reflexões sobre os parale- contratransferencial de urgência
tlesesperada, seria necessário com
los com a neurociência). pacientes corno Robbie em risco
ilrrinente de algo semelhante à morte
psíquica. Como descrito an_
Na Introdução, descrevi os passos que tomei para, finalmente, It'riormente, a experiência posterior
- com um Robbie muilo vivo
encontrar um modo de ajudar Robbie com seus pânicos frenéticos c quase freneticamente psicótico
- revou-me a imaginar as concli-
sempre que estava atrasaclo e como, por fim, passei a evitar a pa- çi1es sob as quais ele _ e outros como ele nesses
diversos estados
lavra "você" quando tentava descrever seus sentimentos. Comecei - poderia ouvir minhas tentativas
de chegar até ele.
assinalando com sentimento que "É aborrecido quando...", e isso
NÍvFrts I)F. TRABALHo rERAPÊurICo E' NÍvEIs DE PA'roLoGlA

e cror,ológicos na I I t trttlittrto de técnica de cima para baixo


Sugiro, portanto, que progressos históricos
por Biot-t, para os
teoria e na técnica de Freud e Klein, passando
Hlu'l lrplitrrtivo: oferecer significados alternativos
especialistas em autismo - de cima
para baixo' por assim dizer -'
em conta conside-
podem precisar ser revertidos quando levamos I r, rr,l ( ll'1,) I
lu95) descobriu o poder das interpretaçoes explicati-
Trabalho
,uç0", clínicas, psicopatológicas e cle desenvolvimento' r ,r1 ,r r('\l)('ito da ligação entre as partes reprimidas e deslocadas da
superior da casa descrita
meu traieto descendente a partir do nível r,,,rrr,rlirlirtlc c as defesas contra elas. (A crença de que sua perna
e seus ali- 1,'
por Anna Freud, passando pelo térreo' ate o subsolo r rlri gr,r r ,r lisitda se deve à culpa inconsciente acerca de sua hostilida-

.".."r, examinando três formas diferentes em que a interpretação rl' onlrir sctr pai moribundo quando você estava cuidando dele.)
pode atribuir significado à vivência ou à fàntasia' Schafêr (1999'
náo implica | ',,.,r t' urrrrr interpretação "por quê-porquê'l Klein (1946) elaboror"t
p.3a7) ressaltou que o uso clo modelo herrnenêutico r ,unl)li()u o trabalho de Freud sobre projeção, ao ressaltar que par-
não há im-
."."rruriu*ente "relativismo obtuso"' E' com cerieza' tr',. rrrlt'irirs cla personalidade poderiam ser projetadas para dentro
aqui citados delbndam
plicação de que os analistas ou terapeutas rLr,, outros. lsso pode conduzir a olltros tipos de interpretação ex-
especíÍrcos de autores
up"rlu, um nível de trabalho' Cito artigos
técnica' Alem do mais' l,lr, ,rtivir, ou seja, localizando ou realocando partes excindidas ou
q.r" ubriram camiuho para a an-rpliação da
possa ser nitidamen- lrr.,('lil(lirs da personalidade. (Você está tentando me fazer sentir
isso nao quer dizer que o trabalho analítico rrrlt'rior para se livrar de seu próprio sentimento de inferioridade.)
mapas psicanalíticos antes'
te dividido llesses três níveis. Iá houve | .,rir c urna interpretação 'quem?-você" ou'bnde?-líi Ambos os
espero ligar o nível de
notavelmente a grade de Bion (1963)' mas Ir1,os clc interpretação tendem a substituir um significado por ou-
desenvolvimento simbólico com a técnica' Há muitos pontos no
Ir o, «r inconsciente pelo consciente ou o renegado pelo recuperado.
assim' e possível con-
contínuo entre cada um dos três' mas' ainda Itron (1962b, 1965) estabeleceu a ligação entre identificação proje-
do alicerce para cima'
siderar que envolvam passos reconhecíveis lrvx c contratransferência: ressaltou que a identificação projetiva
sirnbólico superior'
por assim dizer, em direção ao funcionamento ,'rrrirnada do paciente podia ser poderosamente sentida na mente
ser ajudados a ter
Em prin'reiro lugar, certos pacientes precisam .kr analista e exigia continência e transforrnação, antes c1e ser de-
às vezes' por meio
capacidade de sentir e encontrar significado' volvida ao paciente.
algo tem significado imperativo para
outra
da experiência de que
pessoa; assim, os sentimentos podem
começar a ser identificado's e
acrescentem significaclos
investigados; fi nalmente, explicaçÓes que Nivel descritivo: atribuir ou ampliar significado
e assimiladas'
alternativos adicionais podern ser escutadas
llion aprofundou a qr-restão: sugeriu qlle certas identificações pro-
ictivas não ocorriam simplesmente por motivos defensivos ou
ilcstrutivos como tambérr corr intuito de uma comunictrção neces-
siiria (Bion, 1962b). joseph (1978) e Steiner (1993) prosseguiram,
/ET5 DL, PAT0LOGIA
ANNE ALvAREz 33

chamando a atenção para esse elemento de necessidade, ou seja, a t rrrr rrrvcllinda anterior de trabalho - níver vitarizante:
necessidade de certos pacientes cle que o analista contenha as pro- llqlrlr'rrr ia lro significado
jeçoes em determinados momentos, sem as devolver. O analista
investigaria a natureza da parte faltante do paciente enquanto esti- f ..ll r ,l ro, t orno já mencionei, gostaria de acrescentar
outra dimen_
vesse dentro de si, até que o paciente pudesse se apropriar dela ou 'r'rr,i (lr('sli-r. cl«r déficit, ressaltando a existência em alguns pacien_
recuperá-la. Essa atitude mais receptiva à necessidade de projetar tr" 'h'rlt'Íicits ou de danos,o objeto interno. Isso diz
respeito a
do paciente não difere das ideias de Winnicott relativas a permitir
'lr,r'rr) vivc,ciados corno não i'teressantes, não valorizados (e
que o objeto transicional tenha significado por si próprio (para- ,'rr r 1/1'.r111/llf izados), imprestáveis, desmentalizados
ou excitáveis
doxal), sem ser explicado e destituído de forma prematura demais rr()(lo perverso. o nível de trabalho exigido
'|L' precisa preceder o
(Winnicott, 1953). A partir da perspectiva do desenvolvimento rrtrt,l cxplicativo e o descritivo. No nível rnais
grave de psicopato_
normal, o estudo dos pesquisadores da comunicação pais-bebê lr r1ir,r c, portanto, o nível mais
extremo de técnica _, qr.restiona_se
- e de suas consequências para a saúrde mental do bebê - identi- "{'
.'(',tirr)entos
e sig,ificados têm qualquer irnportância
para pa-
Íicou processos que ocorrem em estados mentais ou emocionais r r(''r('ri crn estados desprovidos
de afeto do autismo, de dissociação
compartilhados, dando a entencler que certos comentários mais ,rr rlc apatia decorrentes de um cresespero crônico. Nesse caso, o
sirnples, empáticos ou amplificadores, por não sobrecarregarem o ,1,'lrrit era ainda mais grave: o objeto era
tão remoto e fraco que
paciente com ideias, podem alcançar, ao mesmo tempo, as partes rrr'rrica,rente não existia. Tarnbé,r surge a questão de qua,do
a
relativas aos sentimentos e as partes pensantes da mente (Stern,
'lrssrciação e o endurecimento agregaram motivaçôes perversas
1985; 'Irevarthen, 2001). Os kleinianos citados anteriormente es- .r()(lcficit e, nesse caso, a ligação com Llm
objeto interno uiro pod"
tão descrevendo o fenômeno "sentir por" e os estudiosos do de- ,rlrrríiar.
senvolvimento estão descrevendo "sentir conil Ambos parecem
fi,al de trabalho - nos alicerces da vida mentar e
lrsse nível
essenciais para a tarefa de comunicar compreensão em níveis mui-
rt,litcional
- aborda o problema de ser escutaclo por pacientes que
to básicos. Cada um dos métodos que dão significado, quando se
r''r'podem escutar nem sentir, talvez em razão
trata de uma interpretação, diz respeito à natureza do que é [what- deautismo, criss.-
r iação de natureza crônica em razão
cre trauma ou apatia crônica
nessl e à ntrtureza de ser da experiência [isness of experience] e, con-
lcsultante de desespero ou negligência. Não
se trata de uma ques_
forme sugiro, isso levanta questões a respeito do grau e da natureza
liro de um trilho ou dois; primeiro, é questão
dos processos introjetivos e do nível de capacidade de Íbrmação de de ajudar o pa.iert"
il cntrar no trilho, ou voltar ao trilho, em situações
símbolos do paciente. Respeita a necessidade de ajuda do paciente elx que ele es_
tcve profu,damente perdido (não se esconcrendo).
no nível do pensar em um único trilho sern lhe empurrar ideias cle ou, vortanclo à
rnetáfora da casa, ajudar nossos pacientes ..terreno
duplo trilho fone-tracked thinking e two-tracked ideasl mais exi- a ficar em sóli_
tlo", como disse um adolescente autista em
gentes e, possivelmente, incompreensíveis para ele. Sugiro que esse
recuperação (Eclwards,
1994). O que está em jogo não é simplesmente
nível de trabalho se define melhor em termos do que é em lugar do um ego fraco nem
rnesmo déficits i,rportantes no senso de
que não e.
self, é uma questão de
cléÍicits ta,to do sefquanto do objeto interno,
ambossendo vividos
NIVI.]IS I)F] 1'I{ABAI,Ho 1'ERAP},]tJ'II(]O Ti NIVF]IS DE PATOI-O(]IA
ANNE ALVAIiEZ

como mortos e vazios ou imprestáveis. Com fiequência, há umir '!'r"''r.r, (rre a atividade de reclamação
também pode ser rele_
indiÍbrença crônica acerca das relações que ultrapassa o desespero. r
'rrrrr' ,,'11;1 lrabalhar com certos adurtos esquizoides
cronicamente
Nada se espera. Green (1997) descreve algo semelhante no caso de 'l' "' "'t't rirtlos. psicoterapeutas de cria,ças tarnbérn utirizaram
,,r r (.r ( ) ( I,)dwards, 200 I Harnilton, o
pacientes que, na infância, viveram uma depressão súbita dir mãe. I I
; Music, 2009),enqlranto
200 I ;
Ele ciescreve o "desinvestimento do objeto materno e a identiÍrca- I lr .,rr (r orrrunicação
pessoal, 2005) sugeriu que trabalhar
com pa_
ção inconsciente com a mãe morta" como defesa contra a perda ' r'i'rr('s ''r,,r síndrome de Asperger ervorve um processo
cre minir_
abrupta do amor materno em razão de luto ou perda dela (pp. 150- r,,, l,rr r rrrçrics constantes.
l5i). Aqr"ri, contudo, penso em casos em qlre mais provavelmente o
Itt'itl (1988) descreveu urna intervenção
retraimento da mãe era mais crônico ou o retraimento do paciente sim,ar mais intensi_
rr"11l1' crquanto reclamação
se refere a situaçÕes em que
mais sernelhante a uma "não atração" lundrawall, muitas vezes, o tera-
l,r'rrlrr clrarna a criançaparár o contato com ele,
por motivos constitucionais. Bob Dylan clescreve algo similar, de a respei_
l, rl1. .,,,.,-,o o terapeuta pocle
tentar atiçar certo"ra."r".,
modo mais agressivo: "Não eston procurando nacla nos olhos de interesse por unl
l'trrrtlLtccl, ou qualquer outro
objetcl da sala. Ela chamou isso
alguém' lI ain't lookingJor nothing in anyone's eTesl (Dylan, 1987). 'lit'rirção" de
ou "dem.nstração" de interesse
No entanto, Dylan sabe o que não está procurando. Algumas crian- ou sig,ificado. Explica
rl,(. s(i Llsa esse metodo cotn
certos pacientes ,"rr"fiJrr,.,
ças não sabem. Esses problemas clínicos podern surgir de maneiras ,r l(obbie e apenas em "rir,n.,
determinailos momentos.
rntritcr diversas em um subtipo "não atraído" fundrawn) específico
cle trr.rtismo e tambem em crianças que passaram por grandes pri- A propósito, seria esse,ciar difere,ciar
o paciente passivo cre-
',('spcrado, ern razâo de um
vaç(res ou que Íbram abusadas e perversas. Sugeri que a ação de objeto interno morto, do tipo cle pa_
, it'rrte descrito por /oseph (1975), que
reclamação ou reivindicação de r,rm terapeuta, que responde a um projeta interesse e preocu_
senso de r"rrgência contratransÍ-erencial muito forte, pode ser uma Irrr\'rro dentro do objeto, que passa, eutão,
a se sentir pressionado
forma extremâ da atividade normal da rnãe de despertar e trler- 'r scr o portaclor da vivacidade e da capaciclacle
de atividacre clue
tar o bebê normal, levemente deprimido ou um pouco distraído l)ilrccem faltar ao paciente. (Há um exentplo em
que ambas as .si-
(Alvarez, 1980, 1992). Esclareci, depois, que essa tecnictr só seria Irraçoes se aplicavanl a Llm paciente
esquizoide lirnítrofb. Consc_
relevante em casos de um subtipo especíÍico de autismo ou de pri- litri respo,der a ambas, enl Llma rara oc.sião, devorvenclo p.rte
clcr
vação em que há grave déÍicit do senso de selJ'e de objeto (Alvarez,
sc,timent. projetad. para o paciente,
nlas eu ntesnta conservei
1999). Esse tipo de trabalho pocle envolver despertar o paciente
c o expressei um pouco. Ver
Alvarez (1992,p.8g).) Seria essen_
t i.l também desenredar elernentos
para atenção e significado - ou, em termos de Bion, pelo menos cla quase atroÍia encontracia er-r
rrlgo semelhante ao deserto psíqr_rico
oferecer realizações para precorlcepçÕes minimamente vivencia- cias pessoas envolvidas no .,re_
Íúgio psíquico'ldescrito por
das (Bion, 1962b). Quando as realizações falham, as preconcep- sreiner (199:). c) cleserto psíquico,,cr
primeiro ano de vida, pocle reu,ir
çoes podem ter desaparecido ou atrofiado. Refiro-me ao trabalho motivc'rs crefensiv,s ou viciantes
com crianças adolescentes, mas Pierazzoli (comunicação pessoal,
tlurante o desenvolvimento para
e a idade aclulta e, eviclentemente,
esses motivos precisam de
2002), Mclean (cornunicação pessoal, 2003) e Director (2009) cuidado analítico. Contuclo, o mesnlo
se
NtVbtS trt IRABALFt() thRÀPt U I lL() t NIVEtS t)11 tj,\lL}LL)GlA
ANNE Al,vAREz 37

daria com relação ao déficit que acompanha e subjaz à situação enr rá;r111" l,,r it'rrtc interpretar sua raiva: não foi necessário
',1;11,
con-
que o objeto, mais que ser evitado, nem sequer é encontrado, enr errL r', "''rr
rr.st'sPcrl) nem suportar o sentimento cre
injustiça por
razâo de seu distanciamento ou fraqueza. Nesses estados mentais, rl.r f.i rIrr',.1,r Ir.r'rpria estava em contato com ele. Algr-rmas
parrou,
o paciente não está se escondendo, está perdido. O refúgio ao me- l"'t'l' rl,t'','rrr «k'sespero precisam que contenhamos isso
nos oferece um lugar para ir; o deserto nada oferece. lr r r r 'rrrrrrr,r (r s.bre imperativos morais), mas
fo. alu,
Linda não. Era foi
r rt|r1,, 11,, ,,r. \,slc.tar por si mesma,
o que precisava ser processado
,ir 'ir,r r,rrv,r. Muitos desenvolvimentos emocionais e cognitivos
Aprimoramento do estado mental do paciente r' rr
"'|r
jii haviam ocorrido,a vida dessa jovern
r'r I rr ('\
para era che-
relevante para o trabalho nos três níveis ll,l ,r r.,,,,('t,sliigio. (Discuto isso na parte I.)
| ,ívcis superiores de interpretação envorvem uma
Interpretações explicativas: precondição necessária ""''s inter-
Irrr t,r,t.ro t,rrr cluas partes e, portanto, supÕem capacidade de pensar
í lr (lols lrillros, ou seja, a capacidacle
de pensar dois pensamentos
Eis um exemplo sucinto de interpretaçóes mais comuns sobre rai- ,I l,rnt.l
bastante completa ao mesrlo tempo (Bruner,
va, por causa de perda ou ciúme, em pacientes que não estão em l96g). As
|,r.,r11liçilgs emocionais são evidentes: certa capacidade de tole-
cstado rrrenttrl psicopático, borderline or-r psicótico, mas funcionan- r'rr 'rrrsir'tlirclc e dor e de torerar pensar
rkl cnr nível relativamente neurótico, enr que é positivamente útil - em outras palavras, um
' 'r'rrLr rrri. distante da posição depressiva. No entanto, tam-
cliz.cr alg«l corno: "Você está zangado, está bravo, porque...'i Isso 'ruito
l" rrr t''vrlve um elemento cre funcionamento
cognitivo, isto é,
crn pircientes em qlre há alguma capacidade de culpa, de amor, al- de
rlr"'r'rvrlvirnento do ego e de formação cle
símbolo já adquiridos.
gLur ego, que possa processar o insight sobre sua própria agressi- l,rrrr,rtkls juntos, isso pode envolver um
estado mental neurótic.
vidade, mats também em quem já se estabeleceu certo autorrespei-
"r .ro(lcradamente rimítrofe. Bruner (196g) descreveu o desen-
i1 to. Recentemente, uma adolescente chegou muito emburrada para r.l'irrrcuto cognitivo que denorninou capacidade
de "pensar entre.
li a última sessão da semana. Explicou que a irmã a fizera se atrasar
l,,rrrrrrtcses" ou de manter algo em reserva. o estuclo de Bruner
meia hora para sua sessão, mas recusou-se a dizer mais e sentou- ob_
bebês em desenvolvimento desde o nascimento,
-se de costas para mim, absolutamente furiosa comigo. Pacientes
"('rvor-l veriÍicancr'
,, tprc chamou de atenção de um trilho, em
que os bebês só con_
borderline ou psicopáticos podem levar semanas para se recuperar
',r'liriam mamar ou olhar, e uma capacidade coordenada
I desse tipo de decepção ou contraternpo. Na verdade, podem estar
de dois
tr illr<ls, aos quatro meses, quando conseguiam
fazer as cluas coisas
sentindo não só raiva ou fúria: podem estar vivenciando confusão rrrrris ou menos ao mesmo tempo. Bruner
(1968, pp. lg_24, 52)
1i
ou desespero, ou urr aumento gelido de seu cinismo. Mas, parir , lrirrrra esse estágio Írnal de ,,marcar
o lugar,, (como
pôr o dedo em
Linda, fui capaz de dizer: "Você está absolutamente furiosa comigo rrnra linha de um livro, enquanto se escuta
alguérn por um instante).
porque temos essa sessão tão curta hoje, especialmente sendo a
última sessão da semana. Deve ser culpa minha'i Ela se virou e dis- Outros autores descreveram algo sirnilar ao pensar
em dois
trilhos de Bruner. Bion (1950) destacou a clificuldade
se: "Sim, e tenho provas na próxima semana". Ela se acalmou bem do paciente
NIVEIS DE TRABAI,HO TERAPEUI'ICO E NIVEIS DE PATOLOGIA
ANNE AT,VAREZ

psicótico com a visão binocular, e Segal (1957) sugeriu a impor-


rltr 1r,"11,,i11 tlcPressiva de reunir dois pensarnentos/sentimentos
tância do desenvolvimento cla posição depressiva na aquisição d<r
ltlrlln 1l1l1.p.,rrlcs eopostos (amor e ódio ou amor e perda).
funcionamento simbólico - um tipo de pensar e sentir entre pa
rênteses em urn nível emocional profundo, em que amor e ódicr f',, t'rrrirrrt«r, hal ainda
outro fator emocionar na capacidade de
não estão mais separados, mas integrados, embora não borrados tir,iltlr't I(.nriitnlentos em reserva, que examino
com mais detalhes
nem confusos. Bion (1955, p. 237) também descreveu corrro os rrrr r ,rp11111112: ou seja, o elemento d,eprazere de confiança
e o sen_
pensamentos podem se comportar como pessoas, isto é, se sobre- lr rL"rlit'nt ia, irbundância e antecipação
que se ganlra quando se
por um ao outro, r l\ r'rrr r.r rrriris que só um
e, poderíamos acrescentar, nos caçar, nos assom- trilho de experiência. Há urn elemento de
brar, caçry Llns aos outros e, na poesia e em outras artes, ocasio- r ,rrlr''rr,ir c,vorvido em
esperar que uma ideia esteja na retaguarda
nalmente, conjugar-se harmonicarnente. A criança normal pode rli,r(''r('c,quanto prestamos atenção ern outra coisa. Igualmente,
manter Lrm pensamento em reserva, levar em conta o pensamento Ir,l rrrrr grirncle elemento de confiança
e sensação de aventura, por
dentro do pensamento e o pensamento alérn do pensamento. Por ,r'rrrrrkl' .a base da coragem envolvida
em aprender a andar e em
outro lado, pacientes borderline (em seus momentos psicóticos) 'tr..r'r\i,' 'a investigação de novas ideias. Isso pode ser visto
como
r l"r ,l da grande visão de Bion ( 1967) de
são concretos, com pensamentos em urrl irnico trilho, avassalados 't''te que as relações entre
pela singularidade do seu estado rnental, em perigo de equações r'r'':iil,r,rtos parecem se comportar como as relações entre pes-
sinrb(llicas e de cisão e projeção maciças. Podernos correr o risco !rr'f \ ()u entre o self eosoutros. (os capítulos
de 2 a4 ilustram essa
clc p«rduzir integraçoes prematuras se tentamos passar por cirna no\ il( ) (le diversas maneiras.)

clos seus estados mentais urgentes, imperativos, obstinados.

Bruner não discute as condiçoes em que o senso cle reserva


Nívcl descritivo: atribuição simples ou
pode ser facilitado ou perturbado, mas psicanalistas aventaram ampliação de
sigrriÍicado com pacientes com déficit
que as condiçoes emocionais envolvidas l1a passâgem das relaçoes
egoico

bipessoais para as triangulares (edípicas) também podern desem- lVlrritas crianças são doentes demais
ou têm dificuldade de apren-
penhar um pi,rpel importante no desenvolvimento desse tipo de rlizagem (em razão de autismo, trauma
ou negligência) para con_
apreensão cluantitativa profunda (Britton, 1989; Klein, 1932b, pp. scguir pensar dois pensamentos juntos
ou mesmo em sequênciir
183- 184; ver Capítulo 2 para outros exemplos de bebês usando essa
Pn'rxima. Para elas, a simples investigação das características
capacidade). Parece provável que a capacidade de registrar duas que
rcrcam um aspecto do objeto (por exemplo,
seu brilho) ou do sef
versÕes diferentes do objeto, às vezes, ambas positivas (i.e., pode (rninha voz pode ser mais altal)
pode ser suficiente para p.orr"_
estar próxima, mas tarnbém distante, ainda que presente; ou é sugá- guir de modo afazer sua mente crescer.
Mr-ritos pacientes com difi-
vel, mas também visível; ou conversa com ele, mas tarnbém presta culdade de aprendizagem parecem ter
subjacente algo semelhante
atenção em mim; ou me espera em segundo plano enquanto con- ir uma "incapacidade de querer saber,l
Devo dizer que, embora
verso colrr ele), desempenha um papel no desenvolvimento da for- tcnha sugerido que níveis diferentes
de patologia correspondem
mação de símbolos e pode ser precursor importante da capacidade aos três níveis, os pacientes se recLlsam
ao enquadramento em
NIVEIS DE TRAI]ALHO TERAPEUl'ICO E NIVEIS DF] PATOLO(iIA
ANNE ALVAREZ 4I

categorias diagnósticas estritas, assim, os níveis só se referem aos , r ,lrlr'r rrrrt'rrl.s: por causa do elemento de surpresa prazerosa,
diversos estados mentais que, evidentemente, podem ocorrer no 1,,,,1, rrr
,,r'l vililliT.alltes
e fomentar pensamentos.
mesmo paciente, em momentos diferentes da mesrna sessão. Hii
lr,' (lu,rl(lucl.modo, esse nível de trabalho envolve
muito tempo, Glover (1928a) alertou que "a interpretação trans- algo mais
'tomo regra geral, nos- r",r ' rrIr 'r irrr-i['ruir ou dar significacro. Aqui, como disse, sugiro
ferencial da fantasia é incompleta" e que,
rlrrr r',r,rrr.s ,rr iirea das ideias de
sa próxima interpretação transferencial diz respeito aos indícios ]oseph (rg7g) sobre continência
rl,r trlr.rrtrlt(ilçi1o projetiva dentro
transferenciais de defesa' (p. 18). Mas ele tambén-r defendia umir do analista, por algum tempo, e
rr ,rl,r,,t,rrrrt.rrt. da devolução prematura
cuicladosa regulagem e dosagem da interpretação com pacientes do projetado, e de Stei,er
rl'''r l)s'lr'c ir irnportância das interpretaçÕes ce,tradas
bordeiline e advertiu contra os perigos das interpretaçôes prema- no analis-
t'r 1"", st'rclaciona às ideias de winnicott (1953)
turas nesse tipo de caso (Glover, 1928b, p.213). sobre respeitar o
r"' 'rr l( ),.o rra área transicional, ou seja,
,ão identificar o objeto tran-
Bion descreveu duas etapas no desenvolvimento da capacidade ,itr rnn.rl riipido demais como pertencente
i
ao objeto ou ao sefi Con_
de pensar: primeiro, a preconcepção precisa encontrar uma rea-
''rr.r tr'ro partilha e sintonia de estacro mentar, oferecidos
por
lizaçáo para que nasça uma concepção e, segundo, a concepção ,,tr(li()sos clo desenvolvimento
' como Stern (19g5), ou companhia
precisa encontrar frustração para que r-rasça Llm pensamento. ,rt,.nt.r, sugerida por Trevarthen (2001),
também são relevantes.
Curiosamente, ele não disse muito acerca da primeira etapa. Pare-
l)uirs recomendaçÕes de Schore (2003) sobre
cia muito mais interessado na segunda: pensava qr.re a verdadeira técnica com pa_
' r.rr('s bordeiline também são adequacras: o reconhecirnento ,.a
aprendizagem dependia da escolh;r entre técnicas de evasão e téc- e
rrl.rrriíic.ção de afetos i,conscientes que jamais
nicas de modiÍicação da frustração (Bion, 1962b, p. 29) e ligou a forarn regulados
rl( .lil.eira interativa durante o clesenvolvimento,, (pp.
tolerância à frustração ao senso cle realidade. Seu conceito de uma 2g0_2gl)
,(,,t rcpresentados internamente, e Llma abordagem
preconcepção que se junta a urna realizaçáo parece ter alguns indí- que não só
rrlt'rrtiÍica afetos distintos, autotnáticos,
cios do elemento do encaixe perfeito sugeridos nas teorias de nar- expressos por meio cle ex_
l,rt'ssiles faciais e prosódia como tambem leya em cor-lta a inten-
cisismo primário (Freud, 1938, pp. 150-l5i), simbiose (Mahler,
e, especialmente, a duração e a labiridade
1968) e ilusão (Winnicott, 1953), e que parecem insinuar Llm esta- "rtlirrlc dos estacros enlo-
( rollilis. Em termos de Stern, o terapeuta
clo desmentalizado, algo sonolento. Contudo, surpresas agradáveis desses pacientes pode
|'rccisar estar alerta para os "afetos de vitalidade" do seu paciente,
podem alertar ao extremo e estimular, do ponto de vista cognitivo,
islo e, forma, intensidade e temporalidade
de tal modo que talvez a primeira etapa de Bion, a de introjeção de das emoções do pacien_
l(', l.rnto quanto para seu conteúdo e,
momentos de conttrto olr "rnomentos de encontro ou momentos com certeza,para seu víncu_
kr çsyn outras emoções (Stern, 19g5, pp.53_60).
de reconhecimento' (Sander, 2000), mereça mais estudo. O senti- Ou seja, não só
Prdemos dizer "você está muito aborrecido hoje" como tambérn
mento de ser compreendido pocle levar a se sentir bem, sem impli- "Você ainda está
muito, muito aborreciclo, não está?,l Ou, para
car Lrm sirnples modelo de adaptação ou gratiÍicação. Na verdade,
unra criança antes rigidamente controlada
tais experiências podem não envolver exatamente encontros ou e controladora: ..você
l)arece realmente gostar de quicar essa bola, especialmente
porqlle
42 Nívr'its DE'IRABALHo 1'uRÀPÊu't'lco E Ní\r!lIS DE PAToI'()GIA ANNFT Ar.vARFtT. 43

ela nem sempre volta para o mesrlo lugar'l Ligar a experiência a lt,r,l, tlttr,'. niro sc trata de tornar consciente o inconsciente, mas
outros pensamentos, por exemplo, com suas ligaçoes simbólicas' th r,,,,lr rrlrrr';i l«r ou até mesmo estruturá-lo. Estou falar, do prin-
pode ser redunclante, no melhor dos casos, e, no pior, interferir , tlr,rlrrrr'rrlt' tlc ltitcientes bordeiline, autistas ou psicóticos, mas, na

corn Lrm novo progresso. Trata-se de avaliar se devemos Pensar qLle r lrl,r,lr', ,rllirrrrras pessoas precoces do ponto de vista verbal tam-

interpretaçoes descritivas ou arnplificadorrs sào parcilis' incotn lrlril |'orlt,trr necessitar de alguma desaceleração para dar conta
pletas (Glover,l928a, p. 18) e simplesmente preparatórias para a rlrr ril,r \,t'r'tlirrlcira experiência. Uma adolescente, aparentemente
coisa rearl, ou se devemos pensar que ocorre uma vivência mtris lrltln rrlt'r'cssada em entender suas dificuldades, pode dizer: "Eu
completa nesses mornentos. seria necessariamente uma vivência lrt,n',r rntri(o irritada com Matthew e sei que é porque Íiquei com
parcial, quando algo parece tão certo? (luiultkr ele conversou durante muito tempo com aquela
' turrr'
uessa área é o con- uí'nrr,l ;rtrircnte, ontem à noite'i Contudo, precisei aprender a não
urn instrumento muito útil para trabalhar
r|r r'f rl',iuril(lil pelo que aparentava ser insight e, às vezes, perguntar
ceito de "função alfa" de Bion (1962b) - a funçáo mental que torna
,,inrplt's1111'111e o que ela queria dizer com 'tiúme'i Ela precisava de
os pensamentos pensáveis e dá signiÍrcado à experiêr-rcia' Como
com Robbie, às vezes, pode ser mell-ror evitar como um todo a
t n1i,,lir', crlrrendo, minhas interpretaçÕes coffro um todo e, depois,
questão de quem é que vive a experiência. se o ptrciente for mui-
rrr,' rt'lrlinrcntar com sua compreensão pouco digerida.
to persegr.rido, desesperado ou simplesmente coufuso, talvez seja
melhor ligar um adjetivo ou dois ao substantivo, utn advérbio
ou dclis ao verbo, e deixar assim. Uni "É pertr.rrbador c1uando..." ( 'orrlirruação da atribuição descritiva de significado: exemplo
pode servir para colocar o sentimento a certa distâncitr' Assim'
rk' tontinência de identificação projetiva
o paciente pocle escolher se vai deixar que a experiência seia sua,
apropriar-se ou não dela. Nornear e descrever a experiência' creio' () (()nceito de identificação projetiva como comunicação cle Bion
deve ter prioridade sobre sua localização. Hopkins (1996) esbo-
rl('scrcveu situaçÕes em que a mãe contém e transÍbrma ars pro-
Ça os pontos de vista de Winnicott
a respeito da importânciar de
;t'1ircs do bebê de rnaneira a tornar tolerável o intolerável (Bion,
simplesmente notnear por meio do brincar: ele supervisionou o
l(Xr2b, 1965). Ele comparolr esse conceito com a função conti-
trtrbalho de Hopkins colll unla criatlça de 3 anos clue não falava'
rrt'rrte do analista, e há muitos exemplos disso no trabalho clínico
não se vinculava nern tinha capacidade de brincar. Esse nível de
('n'r que o paciente é capaz de investigar uma experiência insupor-
traibalho é ir-nportante com pacieutes psicóticos que estejarn sainclo
tiivcl por meio de outra pessoa. foseph (1978) chamou a atenção
de estados de grave dissociação e tenham necessidade de, simples-
l)ara a necessidade cle os analistas conterem essas experiências fre-
mente, identiflcar e verificar um estado emocional muito antes de
tluentemente muito poderosas dentro de si, às vezes, por longos
conseguirem reconhecer como seu esse estado; talnbétrr e impor-
lrcríodos, sem devolver a projeção para o paciente; Steiner (1994)
tante com alguns pacientes traumatizados ou qLIe Passaram por
tlif'erenciou interpretaçÕes centradas no analista de interpretações
grande privação têm pouca estruturação de seu cérebro/mente
qr're
ccntradas no paciente. No trabalho com crianças, essa continência
erlocioual. Schore (2003) sugeriu que, ao trabalhar com pacientes
44 NÍvErs t)E't'RAUAI-Ho rERApÊulrCo E NÍvErs DE pATot.oGrA ANNE;\LVARll7, 45

pode ocorrer por meio da disponibilidade de o analista encenar i.rrr.,',r llilr,rnr, loi Íicando cada vez mais dramatizada simbolica-
[enact) (por um tempo), por meio do brincaç a parte do sef não §rr ilrr r , .rlrr,rl cnr certos rnomentos -, bem-humorada. Devolver
desejado da criança. Freud (1911) e Bion (1962b) ressaltaram a l,r, il.rrilr,il,,('nlc a projeção só teria aumentado a frustração e o
inrportância da frustração no processo de aprendizagem, contudo, ,1, ', ,1,, 1, 1,r irrrrlcrável da criança, impedindo a lenta investigação
em certos casos, a liberação da tiLrstração parece ser o que promo
'li i' r,l,rrlt's rl.lrlrosas. Ela conhecia perÍêitamente sua invalicrez
ve o pensar - n oportunidade cle investigar a experiência em outra r ,r l'tr,lrrrrtlitlirde clo seu desespero, rnas, em algum lugar, tinha a
pessoa capaz de senti-la profundamente e também pensâr a res- I
tr r r r rr rr,'1,1 irr tlc si como ser humano saudável e capaze encontrou
peito dela. Kleitman (1963) mostrou que ocorrent vigília por es- ;r , rl,, rr rrr. rrlirrlc cle isso ser realizado, ainda que só em Íàntasia. Res-
colha, estados de animada curiosidade, em bebês recém-nascidos ".rlt,,,1,(.,r rrtilidade dessa continência, pela terapeuta, não precisa
rrpós uma mamadar ou deÍêcação, qllando o bebê se sente bem, 'r r \ r',r,r ,rl)(',AS como um parsso no camirrho da reintrojeção subse-
e não como se pensava antes, quando o bebê estii premido pela 'lilr'il1('rl., scntimento de invalidez, nlas como um passo necessário
fome e pelo desconfbrto. l',,,r , ( r'(.scirllento da esperança e da autoria (e do desejo de uma
r r,l.r .lrlirrir c parcialmente capaz) no self, que fbi posto
)ill, uma jovem com deficiência, condenada a umar cadeira de de lado e,-
rodas por toda a vida, ficou desesperacia e em Llrl estado suicida ao 'l
r,r r. r't'ir l izava a projeção,ecessária. I(u,dera ( 1 9g2) descreveu
r

n-ruclar da escola primária para uma escola secuncláritr maior. De-


,r ,r.r.r'i.il pcla qual fantasiirs
de justiça e até de vingança poclerianr
lr \,, .t "r'ctiÍicação" de sentinte.tos duradouros de amargura. Con_
p<ris de uns lneses de terapia, começou a fazer sutr terapeuta sentar
Irr*'rrt iir cr.ridadosa da identificação projetiva parece ter peruritido
cnr Lrma cadeira com Íitas adesivas enroladas em volta das pernas.
Iill clisse que a terapeuta nunca sairia, teria de ficar ali para sempre.
,
I r,' I rll sc recuperasse do desespero e comeÇasse a se ver como mais
() monitoramento cuidadoso poderia nos advertir sobre
r ,1I,1/,.
Hrat uma brincadeira de faz de conta (a terapeuta não estava real- os
mente presa), lrras o tom era glacial e mortalmente sério. Eviden-
rr',t.s tlc continuar por tempo excessivo e com rnuita passiviclacle
rr.sst'tipo de receptividade e, desse rnoclo, cle negar a realidacle ou,
temente, essa figura representava )ill, mas, do ponto de vista clíni-
co, era importante a terapeuta imaginar e descreyer essa vivência l,r, rr', alimentar o narcisislno ou o sadomasoquismo.

extremamente perturbadora como se fosse sua, e não devolver a


projeção nos estágios iniciais. A paciente não só queria como pre-
( )rntinuação da atribuição descritiva de significado: exemplo
cisava experimentar a identidade de alguém sauclável, ao llesmo
rlc lirnção alfa que provê algo semelhante à autorressonância
tempo que via essa outra pessoa viver o desespercl e a alxargura em
seu lugar. Ela sentia que devia ser a vez de outra pessoa. O senso
I )avid, um menininho, nasceu prematuro e teve crises respiratórias
de necessidade urgente e legítima é muito diferente de um desejo
t' hospitaliztrçóes durante todo o primeiro ano de vida. 'fambern
- ainda que seja um desejo apaixonado - de que as coisas sejam
s.Íieu abuso emocional e tinha atraso grave do desenvolvimento.
de outro jeito, e as palavras da terapeuta, as respostas contratrans-
No início, não sabia brincar nem falar, mas, afinal, começou a ra_
ferenciais e as dramatizações podern refletir esse fàto. A brinca-
llrirr
e gritar com um ursinho de pelúcia. A seguir, acrescentou
ulna
deira começou de maneira sádica, mas, à medida que as semanas
NÍvEIS Dn rRABAr.Ho rERApÊurrco E NÍvErs DE pATor,oGrA ANNE ALvAREz 47

norra brincadeira: começou a pedir ao terapeuta que dramatizasse Vtlusquez, pode ser tao radical quanto o tubarao
que
com ele alguérn tossindo e sufocando. Ele e o terapeuta tossiarl, trttr australiano capturou... há alguns anos e está agora
ameaçavam vomitar e sufocavam juntos. David insistia na repro- st' desintegrando sombriamente em seu tanque, do
ou_
dução exata de cada detalhe. Quando o terapeuta disse, em certo lro lado do Tâmisa. Mais radical, realmente.
momento, lembrando sua história inicial "Coitadinho do bebêl'1
David rejeitou essa fala com desesperada impaciência. Aparente- l',rt rt'rrlcs profundamente imersos na posição
esquizoparanoi_
mente, o terapeuta devia ser David antes de ele estar preparado rh lr.rk,rrr prccisar de muita ajuda para adquirir a função
alfa, em
para sentir com ele e, certamente, antes de ele estar preparado para rr'l'r1'r' ir cliversos elementos minúscuros de cada lado
da cisão,
sentir por si. Talvez o companheirismo na identiflcação, durante a lr.rr',,rr rrraus, rnuito antes de estarem preparacros para integrar
os
experiência, precisasse preceder a empatia, e a empatia precisasse r lr rr,, l)irrccladas mínimas,
da nossa parte, podem bastar.
preceder a compaixão. A compaixão, aÍrnal, vem de outro. Talvez ( ) lcrapeuta de David atribuiu significado ao participar
David necessitasse, em primeiro lugar, encontrar e identiÍicar sua do
rlrrt'rr tlc tosse' mas há muitos equivalentes verbais.
vivência traumática e fazer o impensável passar a ser pensável. o meu ..você
r",t,r rrrtrit. aborrecido'l para Robbie, ofereceu
urn tipo de compai_
Evidentemente, a exatidão da repetição do brincar era importante
\'i., 11111; o "É aborrecido quando" tinha muitcl mais a ver
com urra
I para ele. Vale a pena observar que não se trata de um exemplo de
rrlt'rrliÍicaçãoempática. Mas desconfio que David estava em u,,r
identifictrção projetiva: a criança e o terapeuta precisavam encenar
rrrvt'l airda mais primtirio do que a,ecessidade
cre empatia: preci-
lcnactl <l papel. Era um dueto, não um solo, e o dueto parecia for-
irrvestigar como scria sufocar quase ate a rnorte, por
necer a Íunção alfa e a ressonância necessárias. Ao observar que ",rv.r assim di-
/í'r', l)ilra administrar um pouco isso. corn um
própria criança, sintoniza afuo, por assim paciente mais velho,
algr-rórrr, clue não seja a
'rl1ir c«rmo "Que horrívell" pocre oferecer um polrco da f,nção alfa
clizer, penso que estamos testemunhando os "estados diádicos arn-
n('(cssária, supondo que o terapeuta tenha sido
pliados de consciência" que Tronick descreve (Tronick et a\.,1998). verdadeirarnente
( ,rl)itz de se imaginar na situação.
Já observei pacientes traumatizados ficarem chocados e trauma-
tizados novamente com interpretações que tentavam ligar uma Uma ressalva óbvia: é evidente que o terapeuta precisa
sentir
pequena fobia atual a fatos mais terríveis e amplos do passaclo:
(lrilrldo o pacie,te já consegue assimilar
níveis superiores de inter-
na verclade, precisavam que o terapeuta tratasse a recuperação do ;trctirção - ou seja, quando está na situação emocional cle suficiente
trauma exatamente como o processo de luto descrito por Freud tirlr.ra ou intelectualmente capaz de, de fato, querer
entender as
(1917) - envolvendo um pequeno passo de cada vez. Em 2004, (prcstÕes do tipo'por quê" e,queml (Vemos esse tipo de curio_
Hughes, crítico de arte, disse: sirlade aumentando aos saltos no pequeno Hans,
e vale a pena le_
vilr em conta a prescrição de pine quanto a "marhar
em ferro Írio,,
('om pacientes borderline (Freud, 1909; pi.e,
Necessitamos mais de arte lenta: arte que conserve 19g5, p. 153).) Steiner
(1994) assinalou que o meslxo paciente,
o tempo, como Ltm vaso conserva água... Uma sé- em um momento melhor,
rie de marcas de pincel numa gola de renda, em um P.de conseguir se apropriar de um sentimento, e muitas criancas
48 NÍVEIS DE TRABALHO TERAPÊUTICo E NÍ\TEIS DE PAToLoGIA
ANNE AI-VAREZ

fragmentadas, aos poucos, começam a alternar estados fragmenta- Nlr'r'ir ilrlcrrsificados e vitalizantes de trabarho: recramação
e
dos e mais integrados. rrf r,'r'rrc'r. da faixa correta de intensidade
com pacientes com
Steiner (1994, p. a2l) assinala que, de qualquer modo, não rlr'lrr rt tle cgo, self e objeto interno
é uma simples questão de dicotomia ou/ou, conter ou devolver
a projeção. Evidentemente, o torn de voz e a gramática podem \r;rrr, rr,r0 cstai em jogo simplesmente unt ego
fraco nem deficiên_
transmitir níveis diferentes de receptividade em um contínuo de I r'r! no senso de self: são deficiências no serf eno
"l)()r't.ntes ob_
níveis de receptividade até a identificação projetiva. (E o tom de fr rrr 111r1'1 11qv, eln que ambos são vivenciados como
mortos
e vazios,
Irrr;r1t.5l;iygic ou capazes de excitaçoes desviantes. Com frequên_
voz certamente acompanha a gramáticai não é uma sirnples ques-
r r'r' lr'r irl)iltia crônica acerca
tão cle palavras.) "Você quer que eu sinta..." é muito ciiferente de de relacionamentos, quevai além do
"Você sente que eu deveria sentir..."; e ambas as fãlas são dife- ,1, ',r'sl,r,r'.. Não se espera nacla. Caso te,ha qualquer
ligação com as
rentes de "Eu acho que eu deveria sentir..."; e todas as três são 'lr"r'11'11ç1igs de Bowlby (19gs) sobre a descida do protesto para o
,1,',,t,s1,1.11y e, depois, para
diferentes da confissão franca de Searles do ciúme que sentia das o desapego, estou pensando em situações
relaçóes idealizadas dos seus pacientes borderline e esquizofrêni- '1il(,(on)cçamtão cedo que o desapego leva a um não apego. Em
cos com figuras idealizadas, partes deles próprios, ate mesmo de ' ,r,,( )s ,t.is graves, a criança, por motivo de autismo ou negligência
,,r'\'(,r'ir, pode
suas alucinaçoes (Searles, 196i, p. a38). Essa calibragem de graus nunca ter desenvolvido um apego (ver perry,2002).
cle receptividade pode se correlacionar de perto com o grau em
I \rutlrlo de reclamaçào
c1r"re o pacietrte vivenciou a si próprio como alguem em quem, an-
terionnente, se projetava e a necessidade consequente de usar a t,ostilria de voltar a Robbie, o paciente
autista, em uma fase an_
identiÍicação projetiva, não como defesa, mas como comunicação I.r i.r do tratamento- Ele diferia muito de
outras crianças autistas
necessária (Bion, 1962b).Indo para outro extremo desse espectro lu(' cu atendera -
Tustin (1992, pp.23_30) descreveu corno
as que
'
especíÍrco, precisamos saber durante quanto tempo devemos con- ''tr;r'concha"
wing e Attwood (1gg7) denominaram ..incri-
e que
tinuar desempenhando o papel de vítima que a criança abusada l.rcrrtes'l Robbie parecia mais não atraído
fmore undrawn tharr
foi um dia (e que precisa que continuemos a ser por algum tempo) ritlulrawnl do que retraído, mais percliclo do que
se esconde.rdo. Já
e quando devemos começar a mostrar a resistência ao abuso que ,lt'screvi (Alvarez, 1992) corno, aos poucos,
fui chegando à conclu_
foi incapaz de ter. r'rr cleque sua passividade não decorria cre uma retirada
defensiva:
t'[' ,ão se afastara, ele desistira. Nem <]ecorria de projeção
maciça
tlt' ,artes intensificadas do seu ego para dentro
cro objeto: seu obje-
Io interno parecia tão esvaziado quanto
ele. Ele, por fim, chamou_o
rlt'"rede com um buraco" - não era um contine,te
muito humano
,('.r, no caso, um objeto atraente ou interessante. A continência
l('ccptiva, de natureza passiva demais, não
parecia ajudá_lo e, de
..pralquer modo, creio que sua capacidade
de projeção era muito
ANNE ALVAREz 57

lraca. Desesperei-me durante anos, sem saber como Íicar suficien-


Irrlrrrl 1,1,,, tir (,(lrre eram láceis cle
temente densa, substancial e condensada para atrair sua atenção e ignorar e esquecer. Mas, nesse
l ri r||r r, l{ oll[tie veio verbal,
rr rrI
fazer sua rnente extremamente Ílácida se concentrar. musica] e dramaticarnente
à vida, à
rr* r,r('sr'ril voz subia
'lr'r'r e descia com a história do resgate
*,r e do
Em determinado momento, quando l{obbie tinha 13 anos, rl," r)('l's(),agens. Edwards observou que,
no caso de Robbie,
precisei interromper a terapia, de duas sessÕes semanais, por al- ,rltt \('1/ como também
"11 "('ll seus objetos internos, voltavam
glrns meses, em razão do nascimento do meu bebê. No mesmo r trl,r rrr.,,st, nromento (comunicação à
pessoal, 2010).
período, a mãe dele tambem teve outro bebê e, quando Robbie
''\ urrplicação parecia ser algum tipo de
voltou para uma série de encontros mensais apenas, parecia ter corda sarva-vidas, e
tt tt''tr)tirttt'ttto da meia correspondia
desistido totalmente. Parecia ter morrido psicologicaniente. Na exatamente ao meu senti_
ltr llo,[,r;rre meu alcance emocional
última sessão antes das férias de verão, vivi um sentimento deses- precisava ser longo, porque
It,l,lrrt. (.slava muito longe
e ali estivera durante forrgo
perado de urgência na contratransferência: eu falava da interrup- ,,,t,,t,to, clc tinha l3 anos). ;"_p; (r"
Eu tinha falado mais alto,
ção próxima, da necessidade de drzer ate logo e da possibilidade rrrlir,rrt irr crnocional e,
com maior
inconscientemente, coloquei
de ele pensar em nós, um lembrando do outro. Nada o alcançava,
,l, rrrotlo a captar seu olhar; acima meu rosto
fiquei cada vez mais preocupada de tê-lo perdido para sempre. c-le tudo, eu exigia
e sua aten_
'r, t lt' ,'r jeito que, na ocasião, pareceu-me inusitadamente
Peguei-me movirnentando minha cabeça dentro da sua lir-rha de " ativo
' "r"si'r' para minha surpresa' consegui. Mais tarde,
visão c chirntirndo seu no[re. De repente, ele me olhou, muitcr rr'' r'r tirrnbém tinha aumentacro
evicrentemen-
sr.u'l)rcso, conro alguém chegando à superfície, yindo de um Io- as sessões de uma vez por
mês
rr'' 'r ( i,co sessões semanais. creio qr-re ele
cirl nrLrilo pr:ofundo, e disse: 'Olá-á-á...", de maneira pensativa e precisava ser chamado
lr t'oltrt' tanto para si próprio
' qrrunto para a Íàmília humana,
docc, couro alguém cumprimentando um amigo há muito per- r'| r)r'occ§co parecia e que
envolver uma espécie de crespertar
clido. (Observe-se que, ao contrário de um paciente defendido, ele (lc dissociação da do autismo
'ru vida inteira _ u., d" ambos. (É
não rnostrou resistência à sua emergência, apenas surpresa.) No rrrru
possível que
Íiaqueza constitucional autística
dia seguinte, teve uma espécie de colapso depressivo, ou melhor, tivesse rid"'";;;;;;;l;"
,lt' tlissociação deflagrada
pela separação repentina dos
uma saída brusca do seu autismo. Chorou durante vários dias. I pais ern
falando aos pais de uma separação traumática que ocorrera aos ''(',stâncias assustadoras. Reid (1ggga) descreveu os efeitos cro
tr,tunla em um pequeno
subgrupo cle crianças corn
2 anos de idade, quando a mãe teve de ser internada às pressas. autisrno.) A
1,rirrcípio, pensei que a quase
Depois de uns meses, quando passou para cinco sessóes sema- morte psíquica de Robbie fosse
lrpo cle retraimento, mas um
passei a pensar que estava
nais, contou-me, muito excitado, mas com bastante coerência, ter mais próxima
,lt'rrrna desistência clesesperada
estado em um poço muito fundo e que alguém jogara uma meia do que a" r_ corte defensivo.
(lulllquer modo, a De
cronicidade de qualquer condição
de mulher muito, muito, muito longa e puxara a ele e a todos os t rr idadosamer-rte difer
precisa ser
seus entes queridos para fora. lJm a um, eles todos foram "voando
para o outro lado da rual Ele geralmente falava em Írapinhos de
,
:aso,
do dencit, * r#J,:]ff :"'j::l Í'f;,T lii,:.:
;,,r.lc levar isso em conta.
frases - enunciados apáticos que aparentemente sentia não terem
5I NIVEIS D!]'I'IIAtsALI{O'I'-hI{AIJEU't'ICO B NIVEIS DE PAIOLUUIA
ANNE ALVAREz 53

Reid (comunicação pessoal, 1989) assinalou a possibilidade de lltt',lt,t1,ro vívida da dificuldade


de suner At a
não se querer deÍênder esse tipo de técnica com a criança autista lr r r rl,r r.t. tl.t práticanecessária, -nni-i)._)^
do tipo concha, com quem não devemos ser intrusivos. Por isso, lr,u,t r onlirruar vivo. Robbie
rr"r.r;T;;ili::l*T; ilI
ficou muit< I rnelhor em se pegar à de-
teria sido contraproducente com Robbie, em estágios posteriores, rr, ll(,sse caso,
r r\ ,r r
afundando.
quando ele frequentemente tirava partido da sua passividade, sim-
( ;r('('r)sr)irn
(1997) criscutiu a técnica
plesmente porque era confortável deixar para os outros o trabalho de se gerir níveis mui-
r' 1111ç11i1dos (muito
erevados on muit. baixos)
de sentir e pensar. Conversamos muito sobre a diferença entre o '11"'1
de excitação
! r ('l
mau Llso da ajuda e sua necessidade genuína de ajuda nos primei- 'r l()s pacientes, muitos dos quais, mas rlern tocros, autistas.
\,, rrlr,i;rs clesse at
ros ternpos. Essa técnica intensiÍicada vitalizante certamente não
e
, \ i,,, e,,," r;i*:::
l,, :i:
(.
seria necessária com um paciente que tivesse ego suficiente, senso
\siv
"rl?i'o ;1ffi:'J;1 J.ff i:,T
de self e interesse pela vida a ponto de lutar contra a tendência a '1" '11111
r modero de continê,ciu
de grck (cliferente
rrr,ris rclacionado com do de Bion
se retrair. É interessante qlle minha operação de resgate emergen- a promoção da integraçào,
s(''so coerente do no senticlo de
cial não precisou se repetir depois daquele dia tão dramático, do "r
,,,ro rk'
serf e
do mundo objetal e até
de,.unqritirn-
crianças agitadas com
colapso subsequente e da mudançâ parâ o tratameuto intensivo. hiperatividade frenética;
( l,),c,1)). Mas ver S. Miller
Greenspan (1997, p.2g2)
A partir disso, porém, aprendi que precisava fazer muito trabalho também sugere que os
()s clí_
cor-nigo mesrna para fornecer urn cuidado mais constante, tenso, 'r( r)odem criar' para pacientes pouco anirnados,',um ambiente
I'irrnc e nrenos frouxo. O trabalho no pronto-socorro da minha .o-,,t.-l^ .^para
l,r'ssr»ill tfrais convitfcenfe,, regulando -
cima' ou seja,
rr,rs Loisas, clu- entre
,oaruno,'t""te']
nrente precisava ser substituído pelo trabalho na ala de cuidado in-
tensivo. Exige-se um cuidado muito vigilante com certos pacientes
,,, r,,r,, a c,"
" "
n,p lJffi ::il
::. : lT #:il :;i,.ff
, 1"j":
I't'ss«lal' pode parecer tê,ue para
autistas se quisermos manter contato - até eles descobrirem sua
r.l;rçÕes objetais e em
pessoas versadas nas
ideias clas
própria motivação para se relacionar. Na verdade, a observação e tocra .i.u .o-pr"xicrac-re
( ()nl o fluxo
do muncro interno,
e O reflu
a pesquisa de bebês sugerem que certos bebês requerem urn puxão
mais firme na corda salva-vidas do contato do que outros (Bra-
, giro que, nessa r,;#:í:::J;:fl:f,J:XXffiffi"J.I
.sti,ulados' se é para Ievar
zelton e Nugent, 1995, pp. 65-66, 73). Evidentemente, também em
conta a existência de objetos
que também podem estar i,ter-
foi importante observar e interpretar as consequências da minha "s mortos, sem varor ou desinteressan-
It,s, exige_se mais estudo
frouxidão. Depois, ao adquirir mais linguagem, Robbie descrevett a respeito de métodos
para introdução de
rigrriÍicado e importânc
a imagem de dois barcos à deriva, aÍàstando-se cada vez mais. ia - e fazercontato emocional
l(,s llesses estados tão com pacien-
Certo dia, tambérn contou que, há muito tempo, seu tio o havia exauridos.
ajudado a sair de um congelamento profur-rdo no qual esteve pa- Há um terceiro tipo de
uso intensificado da contratransferên-
ralisado e'deixado à morte para sempre, sem olhos, orelhas, boca t i., diferente da urgência desesperad"
q;; senti com Robbie, acr
e pênis'l Demonstrou como foi lutar para sair do gelo; as pernas l,r'rceber que ele estava próximo
du ,ro.t. psicológica. Às
strrge quando há um vezes,
se movimentando muito devagar no começo. Pareceu-me uma sentimento de tédio vazio
ede farta de sentido
NIVEIS DE TRABALHO'TERAPEUTICO E NIVEIS DE PA'TOLOGIA
ANNE ALvAREZ 55

na contratransferência. Bergstein (2009) ressaltou que é impor- I frrrrlro l.l - Níveis de interpretação

tante o analista sentir o tédio e o vazio com seLl paciente, não se Illr lr Il r'Í rll ilo/ Teoria e técnica Capacidade (iramática de
lll'Ii l rlr. Estado
apressar para preencher o buraco de modo prematuro. Contudo, cognitiva i nterpretação
illllrl llr( it(k) mental (nã<r
também diferencia tipos diversos de vazio e, nesse caso, enfatizo diagnóstico)
1.1'lr
'lr,,rr, Freud, I(leiu 2 trilhos
situaçÕes em que o vazio do paciente nesses momentos não se dai 1,,',rlr
r ltr,rr , l)esejos/deÍbsas;
Por quê- Neurótico,
rl. t r'l
porquê; nonral,
por desespero nem por defesa no sentido de projetar partes vivas I I Ir r
' devolver
cltrern-você
.rlt, r rrr,tltv.ts)
projeçries bordcrlitrc
do self para dentro do objeto, mas, sim, que isso se tornou uma so- moderaclo
lrr.,,r j tsi,,r, I trilho ()
lução viciosa. Assim, é preciso ajudar o paciente a ir em frente, por rlIrilr ',tt (rlrrr Winnic0tt,
quel Bnrderlinc,
,lr,rr
I Iwhntnessl âutistâs,
assim dizer. Ou, em uma situação de um quarto tipo, pode haver ',lttll I Stern
Scr ll.srrrr.s.s]
,llliltí tr,rrlos) I

Nccessitírrlcs, psicriticos,
um sentirrento enorme de impaciência, quando não de afronta, I atraso tle
proteça)cs,
conter desenvolvintento,
com a natureza repetitiva e perversa da atividade sadomasoquista. vício, perversiio
proieçtics,
Discuto o uso desses tipos de contratransferência no Capítulo 7, Íàcilitar
sobre o trabalho com crianças psicopáticas, e o uso mais intensiÍr- introjeçoes
\ l.rlrz/.tf Tustin, Ilcicl,
cado no Capítulo 11, sobre brincar, e no Capítul<l 12, sobre desco- ll t,,t\l iir rto
0 trilho, (lhanrarLr-( )lál
Autistas,
Alvarez ou trilhos
brir o cornprimento de onda. ,tlirrrlrrr rttlo) Reclantar, gerar, clcsyiantes
psicciticos,
deserrcrlrajlr, desespero,
vício ou atraso de
perversà0 tlesenvolvi ntcn{o,
vício, pervcrsiio
Conclusão
'larnbém sLtgeri
A psicanálise passolr décadas estudando processos de projeção. que, cotx certas crianças
aLrtistÉrs, clesesperadas/
Começou-se a dar atenção tarnbém aos processos introjetivos dos 'rr)iiticas ou fragmentacras, talvez tenhamos
de descer a olltro ,ível
,lt, lrabalho, ainda nr
pacientes (Feldman, 2004; G. Williams, 1997). Tentei identificar
momentos em que foi útil o terapeuta abrandar o trabalho para
t, t. t sr.o r m a a
o i n,, n,,, )o,il l"j
ç
,,i,J::il:,: I'lll;ffi :::l;: ff
, t'lrirl.s como imprestáveis
um nível mais puramente descritivo, a fim de tentar oferecer com- ,"r, ,ulo. (r.tã<t tlesvalorizados).1\ão
ri íiicil conseguir o eqllilíbrio"
preensão clue busca 'tonservar o tempo como Lrm vaso conservtl entre ser i.,t.rru demais e,
ltlrusivo, e ser sentido como portarlt.,
a água'i remoto ou frírco dernais.
rlissc na Introdução, muito
Mas, como
antes de certos pacientes
processarer.,
't.rr
ridio e encontrarerr sua capacidade
de arnor, podem precisar
rlcscnvolver a capacidade
cre se interessar por
um objeto com certa
srrbstancialidade e vida..Algo
ou alguem p.".iro ter importância.
1,, ,rn trabalho
no próprio alicerce au porriUitiaade
da relação hu_
,tara, ou seja, ainda que tenhamos
de prestar atenção à sua falta
!16 NÍvEIS DE TRABAI-Ho rERApÊurtco E NÍvEIS DE pAToLoGrA
l'
I
i
de interesse, muitas vezes, devemos encontrar maneiras de atrair
slra atenção e, então, tentar descobrir como mantê-la. Uma vez que
i
penrE I
se consegue isso, o trabalho pode se mover para níveis superiores,
às vezes,dentro da mesma sessão. Tenho certeza, porém, de que o )ondições de nível explicativo
trabalho com crianças muito perturbadas or,r prejudicadas em ter-
mos de desenvolvimento precisa de subsídios da psicanálise e dos
estudos de desenvolvimento e de psicopatologia. Este livro é uma
tentativa de calibrar alguns pensamentos em uma hierarquia de
prioridades.
(, PAPE[- JGL]AI, I)A SÀ1'ISFAÇAO tr DA
FRUSTITAÇÀO...

de partir sempre que quiser. Ern alguns


pacientes, â textura, a slrr
sação, o som e a aparência de um objeto
gentil ou bom pocle r,sr,,, Ír. Inrperativos morais e correçÕes no
sendo introjetado pelo que vale pela prinreira
vez. Irsses flrome nlr r
I rirtrerlho com crianças atormentadas
necessitarn de tratar-rento delicirdo enl nossa
tec,ica, o Q,C rr.rrr
precisa levar a sentimentarismo, conruio
clr.r i.centivo c1e dert,s,, r' (lcsesperadas: desejos ou
nra.íacas. são ;r rnateria do c1,e Freud e
Klein deno,rinAranr
libidinal - e o que eles e nós tambem chamaríarnos 'r,r,, nccessi,Cades?
vicla amoros.,

Ittlrodução

l.1.r t )apítulo l, descrevi a menina corn deficiência física, na cadei-


r,r rlc rodas, que precisava tentar viver a experiência de ser uma
l'('\soa saudável enqLlanto observava olltrír pessoa viver o deses-
I('r'o c a amargura por ela. Ela perrecia sentir clue seu clestino era
nrlusto -
deveria ser de outra pessoa. Este capítulo desenvolve cssa

'lu('staio diferencianclo a gramática de clesejos nos estaclcls mentais


rrt'trr(lticos da gramática de necessidades imperativas ern estacltls
l,,tnlcrline paranoicos. Éi colr uln
apresentado material do trabalho
nre de l0 irncls, Richard, que esteve en-r
rrir.ro psicótico borderline
tr.ltamento intensivo contigo no final dos anos 1960. Cornecei a
rt'lcr o mirterial, em certo verão no final dos anos 1980, e hquei
rrrtrito angustiada com o qr.re li e conl a maneira como tinha tra-
l,;rlhado dr-ras decadas antes. Nesse ínterim, o impacto da amplia-
qiro do conceito de identificaçâo projetiva de Klein (1946) feita por
Itior-r (1962b) e as irnplicaçoes resultantes, para a tecnica, investi-

liutlas por Rosenfeld (1987), ]oseph (citado por Spillius e Feldmern,


IRAIS E CORREÇõES NO TRABALHO... ANNE ALvAREz 147

l9ti9) e outros tinham começado afazer enorfire diferença pirr,r,,


Pnr,qrc,sso s da teoria psicanalítica
trabalho com esses pacientes. Com Richard, eu usara uma teicrrr,.,
que não levava em consideração esses avanços, cheia de
inter.1,r, Â I'rinriPal mudança teórica a que me refiro diz respeito a ideias
tações reveladoras e explicativas e mais adequadas para
traballr,rr ltlrrl o propósito e os motivos para os processos de identificação
corn pacientes neuróticos. por um período, acredito, isso
foi tr, llul('livir. (Há algumas áreas de sobreposição com as reformula-
cididarnente prejudicial para ere. A técnica tinha erementos
ctr1,r
1í1r,r rlc l. Sandler e Anna Freud (1985), Kohut (1985) e Stolorow
finalidade era o desmascaramento desti,aclo a revelar a depress,r,,
fl I'ttlrrrrarnn (i980) sobre a diferença entre defesas comuns e es-
e a perda que sustentariam o que supunha que fossem
suas defes,r,, Irrrlrrrirções primitivas, manobras protetoras ou pre-estágios de
maníacas, onipotentes e paranoicas. Hoje, penso que essas
assrnr rlr.lt'srr.) llacker (1952, citado por ele próprio, 1968) ressaltou que a
chamadas 'uefesas" eralr, r1a verdacre, tentativas desesperadas ,r, r nrrllutrrlnsferência era expressão da identificação do analista não
i
supercrr e de se recuperar de estados cle desespero e de
terror. Islo onr o id e o ego do paciente como também com seus objetos
rr'r t
é, transmitiam o que seriam elementos das necessidades
básit,r,, Irrlcrrros e que deveria ser usada como tal. Bion (1962b) tambem
de desenvolvimento: proteção, preservação da sensação cle s..,,
Ilgotr contratransferência com identificação projetiva quando des-
agente [agencyl e potência e até de vingança e justiça.
Richarcl cs lrrtrru !u€ o psicanalista deve desempenhar o papel do self per-
tava repleto de violência, arnargura e perseguição. No entanto,
l. rlrtkr tlo paciente, não só na mente do paciente como também em
contriirio de pacientes que têm urn acompanharnento mais psico
trrrr própria mente. Ou seja, o paciente pocle projetar cle forma tão
piitic«r dos seus problemas borderline, estava repleto
de viorênci,r lrolcnte que pode não só sentir que seu analista está assustado ou
eln vez de estar dedicado a ela ou animado por ela. (Com certos
rlt'1r1imido - y-»ode fazê-lo ficar assustado ou deprimido. Mas, nos
pacientes traumatizados que testemunharam ou foram
expostos i ruros 1950 e até o início clos anos I960, Bion (1957b) e outros ain-
violência e que explodem cegamente, hoje, eu não necessarianten
ll rlir rlcscreviam o surgimento da identificação projetiva corn base
te teria vontade de dizer "você fez isso" ou "você quer
fazer isso,l ('nl causas destrutivas ou defensivas e patológicas. Então, Bion
Seria nrelhor dizer "Está em você fazer isso,l para levar ern
corr ( 1962b) foi alem: seu conceito do analista como receptáculo ou
il ta a despersonalização que pode acompanhar a interiorização
cLr r orrtinente fcontainer) dessas projeçoes passou a implicar que o
trauma.) Também, ao contrário de pacientes neuróticos, Richar<l
lcceptáculo poderia ser inadequado e, às vezes, fazer o pacien-
tinha pouco funcionamento egoico. Suas .clefesas', eram inaclequa-
lc projetar com mais intensidacle. (Grotstein (198lb) ressaltou
das para administrar seus sentimentos opressivos. por
,,]
exemplo, elc (lue essa ideia introduziu o conceito de deÍicit do objeto muito
necessitava ser capaz de projetar, cindir e, certamente,
de reprimir irrrtes de Kohut (1977).) Bion (1962b) sugeriu que algumas iden-
e de esquecer. Examino adiÍ'erença entre desejo no paciente neuró_ liÍicaçoes projetivas exprimiam a necessidade de comunicar algo a
tico de que as coisas pudessem ser ou tivessem sicro deoutrir forma
lii
dguém em nível muito profur-rdo: ele comparou a "continência"
e a necessidade desesperada de algu,s borderrine de que as coisas c a "transformação'(1965) que o analista Íàz dos sentimentos e
devessem ser ou devessem ter sido de outra forma. pensamentos do paciente às comunicações pré-verbais primitivas,
ntas poderosas, que ocorrem entre mães e bebês bem novinhos.
148 rMpERÀTrvos MoRAIS E coRREçõEs No rRABALHo... ANNE ALVAREz 149

Ele sugeriu que, dessa forma, os sentimentos se tornam tolerávcis a concordância em conter as projeções por tempo suficiente
e os pensamentos pensáveis. Essa psicologia bipessoal, de certu vivenciar a parte que falta do paciente ou, acrescenta, viven-
maneira mais democrática, deixa espaço para qualquer um dos seu objeto interno, antes não examinado. Um objeto parental
dois termos da equação afetar as interações. Nesse tipo de mode- dücepcionante ou frágil, digamos, cuja fraqueza sempre foi negada,
lo há mais espaço para o objeto, exÍerrro ou irterno, ter impacto pocle necessitar de revelação gradual, não de explicação - mudan-
no sistema. (Para uma discussão mais completa dos progressos do F que se poderia descrever como da gramática de explicação para
pensamento psicanalítico com crianças com problemas psicóticos I gramática de descriçáo. Steiner (1993) debate essa questão em
borderline, ver Lubbe (2000).) dctolhes em sua discussáo acerca das interpretações centradas no
ütalista versus interpretações centradas no paciente.
Bion (1962b) salientou que a necessidade de um continente
Decorrências técnicas dos progressos da teoria p0ra esse tipo de comunicação é normal, como necessidade in-
psicanalítica frntil humana muito inicial de estar na companhia de uma mente
ctenta lmindful). A implicação é que essas emoções comunicadas
As implicaçôes técnicas desse aumento de atenção para as inade- t1áo necessariamente são emoções das quais o paciente quer se li-
quaçôes do objeto foram profundas. Rosenfeld (1987) ressaltou os vrar - podem ser emoções que o paciente precisa que seu objeto
perigos de interpretaçÕes a pacientes borderline que sobrevalori- tenha em lugar dele. Podem ser emoçÕes que precisa investigar no
zassem a contribuição do analista. Ressaltou a importância das for- terapeuta e, apenas aos poucos, apropriar-se delas. Além do mais,
ças saudáveis que poderiam estar nas resistências e da não ruptura €omo destaco neste livro, não precisam ser emoções negativas.
daidealização com excessiva rapidez. Money-Kyrle O9a7) pensou Hstados mentais positivos podem ser transmitidos, ainda que de
a questão de diferenciar a identificação projetiva desesperada da forma confusa e louca, por meio desse processo de comunicação
destrutiva, questão de grande urgência técnica. loseph passou a lnconsciente com tanta intensidade quanto a dos exemplos ante-
vida inteira trabalhando nesse problema (ver Spillius e Feldman, riores de medo e desejo assassino de Bion. Bion disse que o psicó-
1989, passim). Ela ampliou a noção do uso comunicativo da iden- tico tem dor, mas não a sofre; é possível acrescentar que o psicóti-
tifrcação projetiva do ponto de vista técnico e do teórico e cha- co também tem prazer, mas não o desfruta. Como argumentei no
mou atenção para o fato de que projeçôes muito prementes podem capítulo anterior, as preconcepçoes precisam tornar-se concepçoes
incluir a necessidade de comunicar algo que exija continência e em ambas as áreas para que o desenvolvimento normal prossiga.
investigação prolongadas no íntimo do analista, não devendo ser
devolvidas para o paciente de forma muito prematura. Quase sem-
pre é melhor o analista conter e investigar a experiência dentro
de si -
por exemplo: "Sim, você sente que eu sou obtuso" (sem
acrescentar que é projeção do sentimento de obtusidade do pró-
prio paciente). ]oseph (1978) ressalta que o paciente pode precisar
150 rMpERATrvos MoRArs E coRRtsÇÕES No rRABALHo... ANNE ALVARFtz l5l

A gramática da identificação projetiya: técnica scja, em seus rlomentos psicóticos), são concretos, de trilho único,
sobrecarregados pela singularidade do seu estado mental, ern risco
com desejo versus necessidade
rlc equações simbólicas e cisão e projeçáo generalizadas. Corre-
rrros nós o risco de produzir integraçoes prematuras ao nos recusar
Agora quero investigar a ideia de que essâs comunicações proje-
rt prolongar seus estados mentais obstinados, Lrrgentes e impera-
tivas inconscientes podem ter uma gramática, como as comuni
caçÕes verbais mais comuns. Essas variaçÕes da gramática podenr
tivos? Será que, em certos estágios muito iniciais de desenvolvi-

corresponder mais ou menos ao lugar em qLre o paciente se encon- nrento emocional, há necessidade de algo semelhante à equação

tra no contínuo neurótico/psicótico - isto é, a seu nível de desen- sirnbólica, o ajuste quase perfeito? É importante acrescentar que
csses momentos não precisam ser considerados desmentalizados -
volvimento egoico e ao nível de urgência e cle desespero de suas
o equilíbrio entre opiáceos prâzerosos e dopaminas exaltantes no
necessiclades. Tanto a criança neurótica como a borderline podeni
vangloriar-se de maneira maníaca ou grandiosa ou protestar e sc córebro pode variar de momento a molnento, mas não precisam

queixar de injr.rstiça. Podemos ser pressionados a admirar ou a ter cnvolver estados clesmentalizados de sonolência.

compaixão. A contratransferência pode ser semelhante em ambos Os estudiosos do desenvolvimento têm trabalhado muito a res-
os casos, mas a motivação da criança pode ser muitíssimo diferente pcito de como se desenvolve a mente do bebê, como a intersubje-
nas duas situações. De fato, podemos ser levados a agir de maneira lividade se internaliza e se torna intrassubjetividade (Stern, l9g5;
a desmascarar ainda mais com a criança bordeiline, cuja imatu- 'lievarthen e Hubley, 1978). É um momento fascinante quando
ridade pode fazer suas ostentações soarem ridículas e tolas. No crianças autistas oll outras crianças desmentalizadas começam a
entanto, nossa resposta interpretativa precisa ser cuidadosalnente rlescobrir qlle gostam de fazer algo e, a seguir, que gostam de gos-
estruturada em termos gramaticais, levando em consicleração a di- lur de fazer (First, 2001). (Quando prosseglreln e, Íinalmente, ad-
ferença entre desejo c1e onipotência e desejo de potência (Alvarez, rluirem uma perspectiva dupla - por exemplo, que existem dois
1992). A criança normal ou neurótica pode desejar ou até exigir rnodos diferentes de olhar o mesmo brinquedo -, a linguagem e o
que as coisas sejam de outro jeito, mas pode tolerar mais ou rlenos brincar de fàz de conta podem começar.) As mães seguem "a dire-
o reconhecimento de como as coisas realmente são na realidade ção do olhar dos seus bebês muito antes de eles começarem a seguir
externa e dentro de si. Habitualrnente, pode falsiÍicar e colnparar o delas" (Collis, 1977). A observação cle bebês nos mostra repetidas
duas realidades (Stern, 1985), conseguir uma perspectiva dupla vezes a maneira pela qual as mães se anirnarn ao verelr o que atraiu
(Reid, comunicação pessoal, 1988) ou visão binocular (Bion, 1950) o olhar do bebê - "Oh, é o movimento da árvore!'i Os observado-
e "pensamento entre parênteses" cle clois trilhos (Bruner, 1968). res do desenvolvimento e os psicanalistas parecem concordar que,
Pode manter um pensamento em reserva, analisar o pensamento para a mente se desenvolver, é necessário um encontro de men-
dentro do pensamento e o pensamento além do pensamento. Pode tcs senr excesso de "erros nos passos da dança" (Stem, 1977) do
administrar processos metacognitivos (Main, 1991) e funçÕes de bebê com o cuidaclor. Mas tarnbém não muito poucos - desen-
autorreflexão (Fonagy et al., l99l) e certo grau de funcionamento contros, desilusão e condição de estar separado fsepareteness) são
simbólico (Segal, 1957). Pacientes borderline, por outro lado (ou íirndamentais para conhecer a realidade (Beebe e Lachmann ,2002;
152 lt\IpERATIv()s l\'t()ttAls E coRRIrCÕus No rRABAl.Ho... ANNIT. i\I.VAREZ 753

Hopkirrs, 1996; Tronick,2007). Assim, o equilíbrio entre compati ,rlgr como: "É difícil pirra você imaginatr que consigtr chegar ate
bilidade e incompatibilidade em nosso trabalho interpretativo prc ,,t'gunda-feira' or"r "Você sente que eu uão deveritr deixei-lo neste
cisa ser cuidadosamente afinado no nível do desenvoivimento (' rrronrento'. Isso nilo prrecisa envolver conluio nem sedução ou fal-
estado emocional - em que o paciente-criança esteja fr-rncionandt, \irs promessas (ver Kut RosenÍêld e Sprince (1965), cltl atual Cen-
em qualquer molnento clado. Mais fiicil clizer que fazerl Ilo Anna Freucl, a facilidacle corlr clllc a interpretação da ansiedade
Isso nre traz de volta à gramática e à questão de níveis de in l,rrtle fàzer a ansiecltrde allmentar en borderline). A necessidade
It'gítirna de reassegr"rranlento da criirnçir precisa ser conrpreendicltr
terpretação. Sugiro qr-re interpretaçoes que realcem a condição dc
t', ir não ser sob condiçoes cle emergênciir t.ttuito extrelras, não de
estar separado lseparetenessl e a difbrença dos objetos ideais otr
vt'riil ser necesstiricl rerrssegurar. lutelpretaçÕes de ausieclarde ou de
sef icleal * isto é, as que usam linguagem de desejos e necessidades
l)crda para utna criatrça jei clesesperacla poclem enÍitrcluecê-la. C)u
-podern ser apropriadas para pacientes com algum desenvolvi
tr as gramáticas, a granriitictr dos imperativos, podeur possibilitar o
mento egclico, algurn senso de confiança em seus objetos e algr,rnr
Iortrrlecirnento do ser.r ego.
senso de merito próprio. Por mais qlle sLlirs ansiedades, rancores c
depressÕes sejam grandes, esses pacientes têrn equipamento egoic()
suÍiciente para exirminar as lacunas no tecido clo universo. Em la
tim, o verbo que contérn clúvida (você deseja, você teme, você pen O paciente e minhas interpretações de
sa, você almeja, e assim por diante) deveria ser seguido de subjun desmascaramento
tivo or-t condicional: "'l'arlvez eu ví' e r-nais fraco que "Estou indo"
ou "Eu irei'l A linguagem em "Você qller, mas nós dois sabemos l(icharcl me fbi encanrinhtrdo no verão de 1967, aos 10 an«rs de icla-
que não pode (or-r não fez, ou não faril)" é tolerável quando a alter tlc. O psicl-riatra cluc lcz o encalnir-rlratrento consiclerou-o ntuito
nativa retrl e apenas suportável. Descobri qlle, se eu dissesse "Você kruco e conl ullr trspecto tenso e descottfiaclo, cont gestos estrirnhos
tern medo de morrer sem mim no fim de semana'l o ptrciente neu tlas nriros, colrlo st: cstivesse se protege nclo de golpes na ctrbeça. A
rótico poderia ouvir as irnplicaçôes e as possibilidades alternativas rnãe de Richard tiuha siclo diagnosticacLl com psicose nraniaccl
implícitas nessas aÍirmaçÕes (i.e., de que rnuito provavelrnente não depressivtr e o espancara, com frequência, quaudo bebê. lrla aban-
morreria). A partir clo seu ponto de vista e da sua capacidade de rlouou l{ichard, cle rcpcntc, quanclo ele tinha dezoito nreses, e selr
pensirr ern dois trilhos, ele pode pensar desses dois jeitos mais or-r irmão nrais novo, cluatro lneses. Visitou-os polrcas vezes desde
fflenos ao firesmo tempo. cntão. Qr.ranclo Richard chegor-1, não estavtt consegr,rirtdo irprencler
rnuito ern uma escola cspecial. Após o rrbanclouo da mãc, ele mo-
Aprerrdi às minhas próprias custrrs que o paciente borderline
roLl com a avó patertra por algttus rleses, clepcli5 c()rl () l.riri e ttmrr
frequenter.nente não consegue fazer isso. Seus pânicos e até suas
llabá, a qLrem era nruito apegtrdo. Qutlnckl a biibá Íiri enrbortr, tr trv<i
negaçCles maníacas podem expressar a necessidzrde de que com-
patenra cle Richard rtrr,rdou-se para iI cttsa clo pai dele prara totlar
preendemos que cleveria ter - oll seja, tem a necessidade legítima
c<lnta dtrs crianças. O pai e a ar,ó erar.t-r pessorls muito boirs e inte-
de - garantia, segrrrança, proteção e ate justiça. Ele necessita ouyir
ligentes, mas rnuito srrirves e suspeito que clevem ter achado t.nttito
A NN t, LvA R!l z 155
154 rMpFrRATrvos rlroRÀrs fi cor.r{t,(iÕEs N() TRAsAT.H()... ^

difícil enÍientar o sofiimento, o horror e a indignação clue Irrrr r,,


( lrrrrvido-os a observar minhtr interpretação: "você gostaria de
em Richard, caso tivessem se rnanifestado alguma vez quanclr , r., .t't t ttlrilzcle pintar...". Notern tambem ar desesperacla correção dele'

bebê. Sua tia, mulher cirlorosa e sensível, ttrmbern sempre delr trrr, , lrrrrrt'i isso como uma identificação onipotente, um desejcl, mas
rnão corn as crianças. Comecei a atender Ricl-rard cluas vezcs 1,,,r
rrrlo t,stitria ele reirlmente contunicttt-tdo ir uecessiclade de ser visto
semana e, então, devido a seu elevado nível de prejuízo e perturl,.r ror r)lir.n COmo algUern Capaz de Ser ()u, ao menos, de Se tOrnar ltnr
p,rr potente e repraracltlr? Penso que deve ter vivido minha interpre-
ção, logo irlrmelltamos parir quatro vezes por semirna.
Irt\;l(), e rnuitas outras Senlelhantes posteritlres, Collto Llm lernbrete
Repasso as sessa)es inicitris com detrrlhes. Pode parecer Lun c\('r
r.,,rlrrrgaclor de impotência permtrnente e talvez de hr-rrnilhação da
cício bastante masoquista e minucioso - erabern nrlr',rt.r
porque eLl
vr,lrr toda. Afinal, fbra abanclonado prtr dclis cuidadores e espan-
naquela época e, por diversas râzÕes, o trat"ralho não é bom -, nr,r', "llem, acho cltlc
r ,l(l() por um deles. suponham que eLr tivesse dito
quero examinar a grirmática e irs in-rplicaçÕes terlricas e tecnit,r',
r,rr tlcvia perceber que você tambem pode pir-rtar e de f'ortna tlãtl
por trirs da gramática; assirn, espero que o leitor perdoe a abortl.r
rrrrrito diferente dos hot.nens lá de cirnti'?
geln ponto por ponto.
l)epois, quancio jil tinltir se ircallnado ulll poLlco, irp«is otttrcls
Quanclo iniciarnos, havia pintores na minha câsrr. Na pr i

rrritlos, reconteçou ar Írcar nervoso. Itrtcrpretei quc irincla estavil


meira sessão, Richard passoll pela portrr da strla de brinquedos ,
,rsstrstrr{o, e ele clisse: "Nãg, 1ãtl estoll asstlstaclo. Dirvid Iser'r ir-
crlcontroll um dos trabalhadclres qLle gentilmente mostr«lu-lhc ,,
rrriio] fica David colno assus-
assr_rstirdo". Flntendi clue ele pr,rnha
ctrrninh«r. Richard era Llrn ntenino loiro de olhos aztris, urn pour('
lrrtlo para não ser cle o assttsttrdtl. Acrescentei qtte, afina], cra tllll
gorducho com um jeito de andar muito robótico. Cacla prirsso c'r'.r
I lrrgar estrernh() e eu era Lllnir pessotl llova para ele. Mas ltouve utner
dado com enorrrle cautela, corno se andasse de olhos venclaclos. Irl,
\ lrirnquilizrrçãrt gertrl, que eu poderia ter stlblinhadtl atl ver o tltedtr
parecitr aterrorizadr), lli.ls, irpós alguns conlentários meus e expli
ser excincliclo Para Davicl, uão como projeção e cisão, que deve-
caçÕes sobre a terapiar, olhou para a parede e disse: "F)u sei o qtrt'
r ia ser devolvida e reir-rtegrada, lrras conl() algo que precisirvrr
ser
é isso; e pinturil Pouco depois, disse: "É uma parredel'1 Depois,
l

r.cconhecido e respeitado. Ou seja, eu poderitr ter clito irlgo colllo:


quando se asslrstou conl o ruído dos pedreiros no andar de cinrrr,
"Agora, vttcê se sente um pouco nlellos assustadtl e prtlde pensar
perglrntoll: "Por que eles estão aqr,ri? A casrr estii enr pedaços?".
tpre outra pessoa e clue Íictr assustaclal Isto é, podelia ter registrado
Depois cle urn tenrpo, pareceu lnellos trssustado e conleç()u il ;r outra luetade c1a cisão - a tretacle nãrt assttstadrr' I)clderia tambetl.t
pintar em pincelaclas largas e arrebatad«;ras - bastante semelhrrutt tcr reconhecido, ate tuttes, que ele sentiu: 'Atl metlos recclnheçtl
às clos pintclres do anclar de cima. Eu clisse que elc pintava como os algo neste ntatlicôixio; isto e pinturtr e isto e parecle'i cisão e pro-
trabalhadores e tirlvez me mostrasse que gostaria de poder pintar jcção têm funçoes strtrclhveis, não só patológicas. A necessidirde e a
conto aqueles adultos. Acrescentei clue tarlvez quisesse tàzer o cluc capacidacle cle colocar o uredo a distância ttão são apelltrs clefensi-
o papai podia fazer. Ele disse (tudo se espall-rando em confusão. virs. Po{el.n pelritir o deselvolvintettttl cle utn Potlco de conÍiança
palavras e pensarnentos se atropelanclo): "Sirn, eu faço, er"r quer(), c, assirl, lrreservar e proteger um poucluiuho cle deseuvolvitnent«r
sim, nrirs eu trabarlho mesmo, é isso o que.faço, sabe!'l cgoico (ver Apênclice, Figura A3).
156 rMprlRATrvos M()RArs e coRreçôEs No rRAnALHo... ANNE ALVAREz 157

Seja como for, Richard prosseguiu explicando clue sua colrs r'[', transmiti algurna compreensão de suas necessidades, mas acho
ciência o deixava assustado e, então, do nada, nos reassegurou Llu( rlu('cr.l aindir esttrva usando o mcldelcl de desmascaramento. Tratei
ele não tinha quebrado o despertador da vovó. Ligr,rei o relógio rr,, ,r rrrsistência errr ser para sempre como c]efesa contra a tristeza, ern
sentimentcl da minha casa ent pedaços e ao pensáunento de que trrl lrr13r' de considerá-la corro necessiciade legítima de continuidade.
vez houvesse algo em pedaços dentro dele, mas ele não sabia o c1trt, Lcgtrndo, ao introduzir a realidade externa dolorosa e irreparável
era. (Eu enÍirn não estava explicando dernais.) Finalmente, ele co rro rrromento eln que Richard chegou coln esperança de uma nova
meçoLt a relaxar. Tirou a cola, examinanclo sua caixa. Disse decep rt',rliclade interntr vitr transferência, eLl o empllrrei de volta para o
cionado: "Mas não há nada para consertar!". Pergunto-lne agoril s(,
l),lrrico desesperaclo e o rejeitei. No início da interação, eu poderia
ele fàlava da sua situnção trágica em que não havia um continentt, tcr clito algo como: "Você gosta cle sentir que este tratamento du-
repartivel: a mãe louca e violenta não estirva apenas en.r peclaços, r,rrii muito tempo - r-rnr bom sentimento de que e para sempre'l A
tinha ido embora. 'Iambém eu tinha todos esses pintores no anclar l)iu'te infantil cltr persontrliclade necessita cla sensação de cluraçãcl e
de cima e, com muita probabilidade, ele não me sentia suficientc ,lt'tlurabiliclade da experiência boa antes cle poder aprender a tole-
nrente disponível p ttro ele. Nesse caso, penso que depararnos conr ( ) r,rr interrupçôes e terminos. Grotstein (1983) ressalta qr-re é preciso
deÍicit clo objeto interno, clue precisa ser abordaclo tanto quanto os r'stirr vinculado antes de pocler ser desmamaclo.
conflitos e as def-esas em relação a objetos miris desenvolvidos. Isso
Na sétima sessão, Richard me contou sclbre tr ah"rcinação de
significa deixar a trirnsferência reescrever a históriar para o pacientt,
rrrrra roda clentada terrível girando e perfurtrnclo dentro cla suar ca-
e não se apressar em Íàzê-lo recordar ar realidade dolorosa irre
lrt'ça e a visão clcl relógio com todas as suas engrenagens internas
parável. 'Ialvez eu precisasse deixá-lo sentir que poderia ser ou - r rrindo. Nclvamente, liguei isso a sua mãe e a mirn e, em sessÕes
pclderia se tornar - como os pintores clo andar de cima.
posteriores, comecei a abordar seu medo de ele ter apagado mi-
lr Richard teve medo de que a segunda sessão firsse durtrr menos nlras procluçôes e as de suer mãe. Na realidnde, fic1uei grávida cluas
e licou feliz quando lhe contei que teria A rrresrna dr-rração e qr-re tal no decorrer do seu tratamento e, cada vez mais, ele mostrotr
v('z.es
vez ele não tivesse gostado dir espera entre as sessões. Cloncordor_r runtr sexualidade intensünrente intrusiva e se envolveu cad:r vez
entusiasr-nado e disse que gostavir cle coisas sem fim, para sempre. rniris com a ideia de clesfrutar a destruição das minhas "produçÕes"
Eu - lirmento dizer - comecei a Íàlar da rnãe dele. Contei que sabia t', ao longo clos anos, cle assassinar bebês. Eu e outros considera-
que a mãe não morava com eles ntrquele momento e perguntei se, nlos esse relógio aos pedaços, ou a roda dentada perfurirnte, corncl
ele tr via. Ele disse, corn pânic«t na voz: "Sim, para sernpre'l Respon- rrrn objetcl destruído que ele sentia ter criado como resultado de
di me perguntava se ele gostaria de sentir qlle era pilra semprc
qr"re scus ataques. Llle transmitiu seu outro pesadelo ou delÍrio: "Ma-
por sentir clue seria triste demais se não Íbsse. Ele sentia necessi- rrrãe Gansa lMother Goose] morreu de tristeztr porque prodr-rziu
tlade de ter unta rnamàc parJ setnpre, assinr conlo scnliu qLle deve un1 ovo podrdl Isso foi no Íinal clos anos 1960 e início dos anos
ria ter uma senhora Alvarez p.rra sempre, não uma senhora Alva 1970, em que o pleno impacto clas ideias de Bion sobre continência
rez irpenas dois dias na semana. Assim, embora provavelmente sol-r :rinda não tinha sido investigado. Era fácil entender que o sadismo
pressão clo meu sentimentcl contratransferencial de terrível dor por (acla vez maior de Richard Íbra liberado para ficar cada vez mais
ANNti 159
l5tt IMpERAT Tv()s MoRArs u <)oRnri;oes No rt{AuAr,Ho... ^t,vARrlz

exposto. Em parte, isso era verdade, só que eu não compreen(lr ciílme, etrl vez de vingança e de sensação de terrível
rr ,,,rtlistno e o

em que proporção era ir-rduzido por desespero diante do obi, t,, Ir,rrlrro. Afinal, eu tive dois bebês nos primeiros quatro anos de
irreparár,el, desespero clue minhas interpretaçoes faziam aunr('n Ir,rlirntcnto e a mãe verdtrdeira dele realmerlte traíra SLIa Confranç1.
tar porque pareciam acusá-lo de ser totalmente responsável 1,,,r lrlc se queixou cle que ell não sabia cl qLle era estar perto de uma
esse estâclo de coisas. Penso que havia uma ideia vigente, qLle ('r.r l,\rrrlracla prestes a explociir. Ele tinha razâo - eLl não estava rece-
uma paródia de Klein, clue as pessoas tinhalr os objetos malls (lu, lrr,rrrlo a mensagell. Mas comecei a observar que algumas inter-
rnerecialn; isto é, que o objeto interno mau, violento, ficara assirrr rnais perturbado. Finalmente,
Irt,tações parecitrm deixá-lo ainda
devido às projeções de fàntasias violentars que elnanavam do -sef tl,, ,rIris tluatro anOS, na interruprção <1o tratarnento, levei esse material
paciente. Richard Íicou menos assustado e nrenos psictitico (srr.r' ,r sytlr.rey Klein, qLre erir muito inÍluenciado por Bion. Dr.
Klein dis-
trlucinações desapareceram), rnas também Írcou violento e cheio tl, \(' (lue ell estava perseguinclo Richard com minhas interpretações
firntasias sádicas. Penso clue er-r poderia tê-lo ajudado a desenvolvt r ,,olrrc o sadismo clele. O sadismo c1e Richard em relação a bebês
contenção rnuito antes, caso tivesse transnritido tr compreensão ,1, ( onlcÇou a climinuir. Em três meses, ele conseguiu falar dar inter-
cllle seu objeto tinha responsabilidade por estar er-n pedarços. (N,,,, rrrPção vinclolrra de nroclo rnuito diferente. Ele cantou: "fesus me
acho que isso ajLrdaria se o elemento psicopático aparente f'osse g,, ,rrrrir" demodo muito doce (não meloso) e firlou de um honrel.n
uuítro.) Se tivesse ajr"rdado a investigar seu objeto interno loueo rluc tltravessaval its Cataratas do Niaigara p.rra o Canacli'i et.n cima
irreparrável e violento, poderia ter reduzido sua culpir em lugilr (i, ,lt' uma corcla. (Ele sabia qLIe solt canadeuse') Não há espaço para
aumentti-la. Caso tivesse investigado o objeto em que nadzr havi.r cxirminar sua voz cle santinho - que no início tornei cotno negirção
para consertar, poderia ter pennitido o desenvolvimento cla stl rkr seu ódio, mirs cllle, Cotno linalmetlte parssei a contpreender, tam-
preconcepçãcl de um objeto reparável (que esttrvar evidentemerrl, l,cnt encobria amor verdadeircl. Nos últirnos clois atros de setts seis
preserlte pela sua referência ri falta) e termbenr cle sua capaciclarl, .rn0s cle tratamento interrompido, ele ficott muito mais controlado,
l de se identifrcílr corn um piri reparadclr. integrado e civilizado. Não obstitt-tte, para mim, aiuda é cloltlrostl
l

l Houve períoclos eln qLle seu desespero e tlclio não tinham li It'r as anottrções iniciaris.
rnites, cclmo cluando ele cantava íur-Iargalnente: "'lenho de manclrrr
Llma nreusirgem para você"; a seguir, pegava suirs tezes e levarva atr , ,

nariz. E,r.n or.rtra ocirsião, clisse: "E,u sir tenho de frrzer você derrirrrrrr, Discussão : quatro consideraçõ es
liigrirnas, aí eu pardl Ilu não via isso corno necessidade iegítima rí,

projetar e con-runictrr seus horrores * corltinlrava compreendenrl,, [)iscuto qLlirtro consicleraçôes que atualmente consiclero impor-
cclmo sadismo , mas às vezes ficava inundada de piedade e desct tantes n9 tratamento cle certos pacientes ptrralloicos borderline en't
pero e, dessa fbrmar, talvez compartilhasse e contivesse algo. 11!, (luem o eletnenttl psicopático não é acentuado' São apenits coll-
conleçou a aprencler na escola, rnas ficou obcecado por fantasias siderações, pois a complexidtlde cla mente hulnana, até mesmo
tla mente psicóticir da criança, alssegllra llLle I1ã() é possível haver
de rnatar peqllenos animais; de fato, matou Lurl ou dois. Interpretcr
160 rMpriRATlvos MoRArs l c()RREÇa)lis No,r,RAB^t.Fro... T ANNIT, ALVARtTZ 161
E
ít

t
§
lnanllal: o paciente pode se nrovimenttlr em ambas as direçÕes t.rr i
l ll;r11r1g51;s de introjeção clo objeto ideal e a construção do senso
tre níveis neurirticos e psicr'rtic«rs de funcionalrento - olr clc trr,, II
rlr' ,,'// rtrttoroso e que pode ser atrrado é longa e lentir e, ainda trssim,
i
bebê de três dias pirra um bebê de seis meses para a criança cle rrr lll,rl prrra a saúde mental. Cisão e identificação projetiva podern
arlos - r-ro clecclrrer de poucos segundos, e o nível de trabalho pr, qlr . ortsideradas ir serviço do desenvolvimento mais rque cclmo
cisa mudar de acorc'lo com isso. Assim, emborir er.r digir
QLle Cer l. rlr'lcsir, pois podenr possibilitar a ocorrência de novas introjeçoes
tipo de ptrr.noico ltorderline fb,na ,ur grupo, fica evide,te 11rr,, , lrrr toncliçÕes que cleverialr ser clescrittrs como protetoras, e não
uma sinrplificação enorme. 'lhr.r-rbem a ênlirse ua graruáticir r, Lrrr ,r def-ensivas. Lanrento dizer que, clurtrnte t-nttitos anos, acredi-
'rrro
modo de penstrr (cle estruturar minha cclr-npreensã.) sobre cs.,., t, (luc meu trabtrlho com Richarcl pclcle ter intertêrido rlesse pro-
pacientes- certamente, r.rão hei rnágica nas pirlavras em si. se r.rr , r'rso introjetivo. Corlo mostrei, muitirs vezes interpretei fr-ágeis
tendernos a conrprcerlsão emocional de tbrma correta, nossos trr lr'nrcntos de crença no se//'icleal (ele c<lmo pitrtor) ou no objeto
l),r
cientes nos perdoatnt a grarnritica. trL'.rl (rrtrmãe para sempre), ou tentativiis cle excinclir ou projetar a
rrr,rltlircie partr dentro de outra pessoa (David, qlte estava asstrstado,
,u ('r.r, qLle deveria chclrar) como defêsas contra perseguição e de-
Atraso de desenvolvimento
',{'\l)cro. Hoje, acreclito qlle proderiam ter sido considerados colrro
lr,rlicis rnovimentos cle desenvolvimento, isto e, conto tentativas
o primeiro pontcl e clue a docr.rç^ psictiticrr e,r cria.çirs p()r ,ri, ,
,ll srrperar a perseguiçãcl e o clesespenr, nrnis cLl que se defencler
que seja teurporiirir olr por nrais que sc'ja trpenas unra iurreaça lorr
,|.'lt's. Ur.na onda cle esperançir or-r de orgulho ou r-rn.r sentintento
gínqua - quase seurpre interfi:re no clesenvolvil.rert' psic.ltigi.,,
rr'l)cntino de alívio e cliferente cle um estrrdo maníaco usado corno
uonnal e produz parada or-r cleficit de clcsenvolvimento. l)crturbrr
,lt'lt'sa. Recuperação não é negação, ernbora, conr certezir) possa
ção e transtorno poclern ser acompanhaclos de atraso e cleÍrcit e rrr ,,('r' acomp.lnhada cle negação. Irrn certirs criançats proÍirnclantente
qr-ralquer Llnr ou enr todos os aspectos ila personaliclade: na funçi,,
, lt'primidas, ostentaçóes apirrentemente grandiosas, onipotcntcs,
clo ego; n. sefi'e err sell ser.rso cle identiclacle, capacidadc c1c aur.r,
rllrc se ASSeI-nelharn n afirmarç(res marníacits, na verclade ccunur.rictrr.rr
usufruir e se,tir rcspeito próprio; no sLlperego e <ibjetos iuterr<rr
rtrt questiotttunentrt rrtuito vaciln ruÍe se o objeto pclcle consider/r-los
o lado positivo da persor.liclacle d. pacie.te p<lcle ser tã. .srr1r
p()tcrltes. Ncn.r toclos os saptrtos que t-rão se ajustanr bern lirrall to-
desenvolvido q.arto o lardo persecut(rrio é .supercrcsenvolviclu (vt.r
rrrrrdos cle or-rtra pessoat: algturs são apenrrs novos, precisanr c.le uso
Apêndice, Figura A3). sernpre hou'e iurplicaçircs cle cleserv.lr
l,,rrir amaciar. Mas, infelizmeute, é er.idente que no final clcls irnos
i

Irento evic'lentes na irfirmação de Klein (1952) e Segal (1964) ri,


l()60 - antes do imPacto técnico cla obra cle Bion e ru-rtes da iriucla
qr"re a,forç:rr clo objeto ideal e dos impulsos iibicrinais clo inclivíclir,,
,lt'Sydnev I(lein - eu sofria cla mentalic.lade ou-olr, em qllc oLl os
possibilitam a. intcgrirção das relaçÕes persecut(rrias cle ol-rjeto ,, ,..rpirtos são seus oLr são meus.
erssim, ii da posição esquizopirranoicle pirra a posiçirn
passergent
clepressiva. Em nruitirs criirnçirs borderline, corrtudo, é exirtanrcn
te essa Íàrça qr-re não pode ser tomadtr como fato consLrnrrlcl,.
162 IMpF-RATrvos MorrArs r-r coRRrrÇôns No I RABr\r-HO...
T-
I
i
ANNE ALVAT{u't. 163

A diferença de defesa e superação na posição paranoide I lrrterpretaçÕes do seu ódio e rancor parecialn aumentá-los. Inter-
I lnerecia morreT devido
I'rctirções do fàto de que ele sentia qve ela
Klein (193,5) introduziu a ditêrenciação metateórica fundamerrt,rI tttt vtodo como o tratava, no entanto, pareciam acalmá-lo em lugar
entre defesas e superaçoes em relação aos processos de repâr'aq,r. rlt, lransformá-lo em tnaníaco homicida. Isso envolve questÕes im-
na posição depressiva. Como já mencionei, ela insistiu que rl \,('r porti.rntes e, col-lt frequência, perigosas, se empurramos tudo para
cladeira reparação, diferenternente da reparação rnaníacir, flão t.r.r o pirciente colr Llma interpretação "você" oLl se deixamos que seja
urna fonlaçãcl reativa contr.l a culpa, mas, sim, superação da e rrl rorrliclo em outro lugar, em nós ou lrresmo em outro objeto. O efei-
pa. Eu acrescentaria clue podemos tambem necessitar clesse ntt'l,r lo cirlmante e de irlívio parece ter a ver com a compreensão de que
conceito de "sr-rperação" para clesenvolvintentos dentro da posi,,,,, ,r nraldade precisa Jrcar la/àra. Caso contrário, a humilhação, tl
esquizoparanolde. Nessa posição, está em cluestão a superação tl,, rlt'scspero, a vergonha e a vingança poclern levar a erupções explo-
medo e mágoa. Se o amor i'r,
do desespero, mais que da cr-rlpa e dar rivrrs e perigosas ern pacientes que receberam projeçoes excessivas.
cisa ser mais fbrte que o ódio para o ódio ser supertrdo na posiçir,, lrtrndera, em seLl ronlance 'Ihe lA brincadeira] (1982), ressâl-
ioke
depressiva, o clue precisa ser rnais fbrte quc o medo para superii l, ' lou que há dois tipos de relihcaçiio: perdào c viltgattça. O ilttt()r
mais que se defênder das ansiedacles persecutórias? O que possr .lcscreve que todo o equilíbrio interuo de ttma pessoa ptlde ficirr
bilita qr-re o meclo e o desespero se reduzaur de modo que os sen t r pcrturbaclo, caso um objeto de todar a vida, que nlereceu ser odia-
Inentos bons possarn começar a surgir? O alívio da pressão esnrrr rlo, inoceltemeltte evita seu prlalo de vingirnça e decide Íicar de
gtrdora cla ansiedade pode iniciar esses processos de cura, e noçirr'.. hcrn e deixa de ser abominável. (Ele se ref-eria a Llm alnigo que o
como o conceito de tsion (1962b) sobre as ÍunçÕes continentes rl,, lr.iriu e provocoll seu envio para uln calnPo de trabalho çtor quinze
objeto materno, o"bockgrouird de segurança" de f. Sancller (196()t ,rnos.) Ele pergunta: "Corno eu poderia explicar que não poderial
a "base segura'de Bowlby (1988) e muitos outros delineiam unr.r lazer as pâzes cot1l ele? .. . como eu pocleria explicar que usei rr. eu
forma importirnte de se obter alívio clar pressão intolerável. riclio para equilibrirr o peso clo mal que aguentei cluando joven"r? ' ' '
( lomo eu poderitr explicar que eu precisavct odiá-lo?" (p. 229)' ScrLi

rrccessário diferenciar cuidadosamellte esse tipo de ódio desespe-


Retificação: fantasias imperativas de vingança r.aclo e arnerrgurarclcl dir irgressividade do psicop.rtn, mais despreo-
(.upadamente brutal ou mais friameute assassitro qtle, col'n certeza,
L,ssa ideiu envolve a elaboração da cluestão de loseph (1978) sotr, p«lderia experitlentar essas interpretaçÕes como conluio (ver o
sustentar e investigar as identificaçÕes projetivas c.lentro de nós e rrr ( )âpítulo 7 sobre essa questão). Cornpreencler o odio desesperaclo
vez cle devolvê-las de forma prematllra. Nesse caso, refiro-me iro,, c o desejo de vingeurça evidentetneute não iurplicaria fazer conluio
momentos em que o paciente pode estar projetando - ou rnelhor, Com a atuaçãO desSaS fantaSiaS, mils, Sillt, lnostrar COnrpreeustitl
exteriorizarndo - não uura parte d<s self, rnas Llln objeto intern,, ircerca da necessidade legítima de ter esses sentimentos.
extremar.nente mau. Um adolescente psicótico qr.reritr cstrantu
lrrr umtr rnulher da sua fàrnília, sedutora, mas condescendentr'.
ANNE ALVAREz 165
164 rMpERATrvos M()RAIS E coRREçÕEs No rRABALrIo...

resgatá-ld' ou "Você
Mais retificações: justiça e outros imperativos morais rcsliath-Io", "Você seute que alguérn deveria
fortirlecer
ht'nte que sua mãe não deveria tê-lo abanclonado'podern
Sugeri que os tipos diversos de pressão que os pacientes coloc,rr,, ,r t Iiança contallto clue sejam ditas sem
que contenha promessas cle
não está
sobre nós transmitem lbnnas gramaticais subjacentes diferent,", rlsgitte real. Zbigniew Herbert (1977,p' 79) escreveu que
e exigem uma gramática diÍêrente de interpretação. As fantasi,r', nl nosso poder perdoar eln nome dos que foram traídos'
podem não ser apenas desejos e demandas imperativos, mas sobr,
o que talvez seja, sobre o que poderia ou pode ser (esperançir ,'

possibilidade), sobre o que será (conÍiança e convicção, não nect's ()onclusão


sariamente onisciência) e sobre o que deveria ser (justiça) (ver,,
tem sua Ió-
importante artigo de Fitzgerald (2009)). O senso de justiça envolvr () irrgumento deste capítulo é que a posição paranoicle
um tipo diferente do imperativo da intimidação lbullyingl psic,' própria e suas sanidades próprias' Se
lliea própria, sua gramática
"rnaduros", o cLlsto
pática, mas, apesar disso, é um imperativo. Onde há pouco eu, ' lct)tamos apressar sua jornada para níveis mais
para começar e talvez um superego cruel e despojador, a gramáti. ir tl nrnito alto para nossos pacientes desprovidos
de ego'

interpretativa dos desejos pode ter implicaçÕes muitíssimo crueis,


em lugar de ajudar a criança a pensar em privação, faz a crianç,r
sentir-se ainda mais desprovida. Em lugar de favorecer que a crian
ça se identifique com objetos ideais, podemos estar perpetuanclrr
"desidentificaçoes" (]. Sandler, 1 988).

Portanto, podemos necessitar cle uma grarnática diferente, um,r


gramática de necessidade legítima, que penlita o desenvolvirnent( )

do objeto bom e do sefbom. Ouvi um menino borderline derneu


,il
te e feroz de uma família perigosamente violenta insistiç após urrr
período em que estava urn pollco rnais calmo qlre, com certeza, rr
i

I terapeuta não ficaria zangada se ele levasse comida para a sessã«r

A seguir, corrigiu-se e disse: "Bem, ela não deveriat". Ele passa


ra da negação maníaca do seu medo para um imperativo moral.
A sensação de como as coisas deveriam ser liga-se, penso, a Llnrir
profunda sensação de ordem, justiça, correção e, quando a criançir
abusada ou que sofreu grande privação demonstra a ânsia de qr.rt'
a aclotemos ou resgatemos, a interpretação no sentido de "Vocc
gostaria, rnas nós dois sabemos que você não consegue" aumenta
ria o desespero e enfraqueceria o ego. "Você sente que eu deveril

I la
Malignidade sem motivo:
blemas da psicoterapia
pacientes com características
icopáticas

capítulo investiga a difícil questão de compreender - e enfren-


- muito particular da destrutiúdade da criança psi-
a natureza

popata. Chamo a atenção para a diferença entre o estado mental e


O mundo interno de pacientes neuróticos, borderline e psicopatas,

po que diz respeito a diferentes tipos de destrutividade: raiva no


pociente neurótico, ódio desesperado e vingativo no borderline pa-
f0noico e o vício frio em relação à violência no psicopata. Discuto
questões técnicas e a necessidade deir ao encontro do paciente psi-
copático onde realmente está - no gélido cemitério íntimo emo-
çional em que provavelmente habita. A descrição honesta e cora-
Josa do que vemos, por mais onerosa que seja ao zelo terapêutico,
pârece muito mais eficaz do que tentativas de explicar (e, assim,
parecem afastar por meio da explicação) o comportamento destru-
tivo. Desnecessário dizer que pacientes recusam-se a permanecer
nas categorias esquemáticas estanques que descrevi, mas de fato
ANNE Al,vAR!lz' 169
l(rB MAt,lGNu)ADt, sErvr rvrorrvc)

a tàlta de cclnsciência
parecem valorizar nosso reconhecirnento sobre ir euerlidade cs;r, l)sicanalistas e psiquiatras descreveram
remorso por sllas açóes'
ciÍrca desses estados mentais uruitíssimo dif-erentes. rlos psicopatars, a ausêucia de culpa e de
,,rr,r indiferença pedidos de rnisericórdia clas vítimas' A clas-
aros
O filme Assalto ao 13Q DP (1976) começa corr uma sequên, r,, buscado evitar o qtte'
rrlreirção psiquiátrica ll-I.ris modern'l telrl
de tiros de uma gangue cle jovens percorrendo cle carrcl unr birir c1o tertno "psi-
lrrr parte, tornou-se uso pejorativo e generalizado
ro cle Los Angeles (Esterdos Unidos), o distrito Watts, apontan(1,,
, terlnos nlais l-noclernos - "transtorncl de conduttr"
opata'. Mas cls
sllas arnlels, prirneiro, par.l Lunil negrir idosar, depois, pttrit Lur lr,, ,,ll.illtstornoclepersorrtrliclaclearrtissocial,,eaté..st-lciopatii,-torna-
mertr branccl e, eur seguida, pLrra unr honrem negro. A dive ls,r,, descritivo do sig-
r,un-se inadequados, 1-rois o nível simplesmente
A mirn parece irleattiria, st'rrr
cleles ao nrell()s nãcl cliscrimina rirça. nrotivada por rtriva, (ldio
rrilicado não diferencitr a clestrutiviclacle
proptlsito, qurrse capr:iclrosa. A cada vez, vcnros ir presa alil]ha(l,r casual'
rllIcrlso, indignaçãcl, sadismtl tlr'r brutalidacle
ntr nrira cla arrna, mas ninguenr pllxrl o gatilho. C)s rnembros ..l,'
da psiquia-
gangLre pilrecenr se divertir. (Ohatwin (1987) observolr QUe, rr,, Algo tem siclo triuda mais verdacleiro no canlpo
qr-re
ao mellos na pesquistt
idiorna cle r-urtitos pcrvos nônracles, usa-se er palavrn "carne" l-,,rr,, lri.r <la infância, porem, colreçtl a muderr'
Viding (2004) sugerilr que se cleveria con-
hirbitante c1a ciclacle.) A seguir, a cena nruda para urna rncr.rininlr,, l,siquiátrica clar intância.
e F'rick e
compranclcl sorvete cle unr vendedor irnrbnlante en(lLliurt() o pai t, ritlcrar a psicoptrtitr como dist(trbio do clesenvolvimento
sobre tl importânciil
lelona eln Llm.l cabinc. Illa csth voltirnckl enr clireção ao prri, cluan White (2008) Íizerarn a revisão da pescluisa
de persontrlidade em ltn.t
clo, c-le repellte, olha o sorvete clesaninraclir e retoma iro ctrrrinho tl,' rkrs traços de inseusibilictade emocioual
srrlrgrupo específico de jovens antissclciais
e agressivos' Ao con-
sorvete. Eltr não pcrcebe clue o bando jii rntrtarir o sorveteiro c clu(' (,
tr.ririo de lnílnuâis anteriores, a pesquisa
mostra qLIe os próprios
homeu-r no carrinho e o asstrssino. E,ltr diz: "I)escr,rlpe, eu pecli ch,,
colate e vclcê mc cleu tnorango!'l O asstrssino se vira c, dir rnesrrr.r ,ovens sabeln que não se
trata de uma simples questão de raiva' Na
(Friclt
vcr«lade, pareceln muito à voutade em sLla 1àlta de empatia
rlrureira ctrsutrl corlr quc [rnlil nl()sca, atira na boc;r ainti,r
nr;.rtarria
o trartameuto' e inlpor-
aberta da rlenina. O clue é especialmente horriprilantc é o cariitcr t' White, 200u). A revisão sugere clue' para
hca claro qr-re tipo cie
casuirl. O assassino não parece enraivecich ncm clá clualcluer sinrrl lirtrte fazer essas cliteretlciaçÕes' tnas uàtl
paril abordar esses
cle prtrzer sáclico. No nriixir-uo) parece Lrnr pouco irritado. tratâmento os revisores cotrsideram adequardo
paranoici"r vingrttivir coln lllotiva-
iovens. Com certeza, violência
Flrrr outr«r filme, /rtgo de emctçõcs (1987), unr honrem eng.lnil
çiro é diferente c1e
violência hrrbitual que vicia' A violênciar viciante
e ciesÍalca toclars as econort.tiits dar sua psiquiatra. A prrincípio, cl,, de-
pocle ter começac1o como defesa contra atlgurn tipo de pavor;
- c nós - solnos levados a pcnsar clue elc está trpaixor.rirclo por elrr
pois, aos poLlcos, adquiriu matizes sádicos
e excitantes; finalmen-
Na verdade, ele e nrernbro dc urn gnrp() cle vigirristas. A«r perceb.', aro longo cla vidar'
tc, sob cleterminadas condiçOes de crouiciclade
a sedução e a traição, elar pergunta, inclignadtr, incréclular e machlr casr'tal' A atroci-
tornotl-se quase sem motivos e decididirmente
cada: "Con.to você pôde -fàzer isso cornigo?'l l)le respondc calnrri, relaçãcl com a magnitude
tlacle do ato pocle não ter mais qualquer
encolhendo os ombros conl pollco-caso: "Mirs isso é o que eu faço' e diferente de defesa'
rle sentimentos cleixada no agressor' Vício
cla
() endurecitnento deÍênsivtl terlrporário do coração e cliÍ-erente
ANNE ALVAREz 17l
170 MALÍGNIDAoE sEM À,ro'rlvo

de derrotar a si pró-
arteriosclerose pennarlente das emoções. O congelarrento e nol.r)rr rrrinlra paciente, todtr a sua vida nessa prática
ditêre do arrepio transitório. llt lir c aos outros
pocleria aguentar esse tipo de pessoa' Apesar de
base
t'I considerar importante monitorar nossas interaçÔes nessa
Íicar atenta nes-
rlc irtstante a instante, não tinha certeza de querer
Uma criança com características psicopáticas ,,cs tcrntos nicroanalíticos, de segundo a segundo'

fbram írteis
Os escritos de )oseph (Spillius e l-elclman' 1989)
Meu trprendizado de duros golpes começoll coln urna menina 1,, superÍicial de interpretaçÕes explicativas
Iiu'ir desencorajar o uso
quena chamada Sarah. Era uma criança destrutiva e violentir 11rr, escritos sobre pro-
,,,rrr pacient es borderline. Seus ensinamentos e
de fbrma l-rabitual, costumava me argredir fisicamente. Quancfu e l.r 1982)' Rosenfeld
tcssos viciantes foram indisper-rsáveis ()oseph,
jogava cerdeiras enr miln nas sessões c1e sexta-feira, eu diziar: "Hoi, trbster c1e tne-
sttgcriu-me tambem que a maixima de Bion de se
.

você está me btrtendo porque e o Íirn da semana; vtlmos ncls desp, (co-
desejo não era irdequa<la Partr esse tipo de paciente
rnt'rria e
dir e você não gosta de ser abanclonadil Ela concordrlva dizen,l', c<lnsiderava necessário
rrrrrnicaçáo pessoal, 1983)' Ao contrário'
"Sim" e nte chuttrva outra vez. Eu interprettrva de fbrrna senrelhatrl, senão seria
scr muito vigilirnte e estar sempre utrl pilsso à fiente'
na segunda-fêira: "Vlcê está lre chutando porque eu a nbancitlrr, se nlostrou nrtti-
tlcsprezadir' (Nirtttralrltcrlte' ssse tipo de l)acicnte
,

no fint de semtura'l Aos lrouct'rs, cornecei ir pensar: "Mas ela rrr,' no qr're diz
líssimo atento à hipocrisia.) Concorclo com Rosenf-eld
chutar na terça, na quarrtir e nir quinta tarnbeml'l Ela siurplesmcnt,
rcspeito ao asPecto psictlpiitico dos pacientes e
sugiro que' muitcl
gctstava de chutar as pessoers. Corncl aprendi tarcliarnente, a nrenin,r ptrcientes nos avaliam
,rtttes, cle a bondade estar eln cluestão' esses
tiuhir urn elemento s;rdorlasoquista potente em suel persontrliclaclt' e inipossibilidade de sertnos enganaclos'
l)or nossa coragem, tbrçir
\,t,l Após vários anos de violência fisica, Sarah rnodificor-r par',r (NÍo obstante, seus lrspectos perseguidos e desesperados poden-t
il
,I crueldade mental. Ela sabia corno interromper - com timingimpt' exigirdenóstrutrasselrsibiliclaclesternas_enrlugtrrclasrealistas.)
cável, quase musical - no exirto momento ern qLle ell estava pres extrelno esqtrizoiclc
Esses pacientes, provavelmente' estão no
Í

tes a formular conr clareza algo irnportante. Ela sabia como crirrr
i tl«rqueKlein(1935)clenominoucontítrutlesquizoparar-roide-c1e-
esperanÇas partr Íir"rstrei-las a seguir. Era arte reÍinada ern cluc s(' tornar-se pâ-
pressivo; parir os mais enclurecidos ott grandiosos'
I
concentrava com dedicação, precisão e persistência. tentasse fir espécie de desen-
,'.,-rui.o e perseguido i\s vezes e reirltnente umir
I
Se
zer voalr uma borboleta de ptrpel e a borboleta cilísse, no prtiprio consigtl
volvimento. Quanclo, em vez cle se sentirelrl preocup'ldos
instante do fracasso, ela se virava e zonrbava: "Você achou lllrc v() pode
próprios, conleç.rtn tr temer represálias' isstl estranhamente
nria, não e?'l Na yerclade, ela tambern pensara (por unr momento o derretimento
)
.inutiru.a reduçãcl da grancliosidacle ou' ao lrellos'
clue voariir, mAS ir esperança era projetacla e destruída de forur.r a assu-
tkr gelo etnocional. O objeto interno pode ter começaclo
tão instantânea que exigia da minha parte não apenas monitora que apenas de
nrir um poLtco de substancialidade e cle vida' aincla
nrento cuidadoso, rninuto a minuto, conlo segalldo o segundo.l.rt
trrn tipo perigoso. E,m algr-rm lugar, url objeto
tornoll-se capaz de
tcstemllhar e de levar a sério o risco para o sel.f' Ao tnenos'
me queixava, corn Íiequência, a qualquer colega qlre se dispusessc algo
a rne ouvir que qualquer pessoa que não tivesse passado, conto it
ANNE ALvARl,z 173
T
I
I
i
algumas crianças conl Llu-
tem irnportância. (Evidenternente, isso não está prrlximo da posr Il orr tle transtorno de personalidacle em
de discr-rssão (Alvarez' 1999'
ção depressiva), em termos de preocupação com os outros; lnesnr,r Ir.,rrto, questão clue exige maior espaço
assin-r, progressos dentro da posição paranoide siro desenvolr r .,( x ),1 ).
rnentos e não clevem ser desconsiderados simplesrlente por nrr,,
envolverem a preocupação ou ir culpa da posição depressiva.
I
rirc ientes neuróticos
E curioso que, no final, quiurdo o assassino psicopata do fllrrr,
com uma paciente
Onde osJi'acos nao têm vez (2007) apirrece par:r mirtar a mulher r;rr, N.r introduçãcl, clei ttnl exelnpl<l de trabalho
miris corriqtteiras
é esposti efilha de suirs duas vítinrtrs anteriores, surprreencle-sc p,,, rrt'rtrt'ltica eln qLre f«lram possíveis interpretaçÕes
relil-
ela recusar-se a dar a ele pernrissão de lançar;r nroecla que podcrr,r ,,,rtrrc rtriva, em rirzãcl cia perda tlu clo ci(rtne' Ela Íuncionava
que pode ser pt'tsitivatnen-
salvar sua vida, cascl caÍsse do lado certo. Ela e clifbrente de totlrr,, lrvirnlente tletrr eln nível neurótico' em
Isscl ocorre
irs vítimas anteriores, que implo
se c1efenderan'r de Íbrnra patética, tt'útil clizer arlgo conlo: "Você está zangacla Porqtte"'"'
tentaralr negociar por su.rs vidas. Em contraposição, cl.r de sentir culpa' rrlguma
rerram ou or pircieutes eln que há certa cirpacidacle
simplesmente o olha com finneza enquanto esper.r que ele a rnal( , .rpacidacle clc sentir alnor, Llnl
cgo quc possa proccssar lnstglzÍ scl-
já teuha esttrbeleciclcr
l,tc sua própria agressiviclacle e também
Somos poupados do seu ass;rssinato, lnas, lla cenir seguinte, ele , qLre

visto dirigindo pela estrtrda, olhando pelo espelho retrovisor doi., r('speito PrtiPrio.
nreninos que fàzem palhaçadas em sLlas tricicletas atrás clele. Ele s,'

perturba coln os rneninos e, no únic-o rrolnento do fih-r-re eln qu('


perde o controle, bate o ctrrro e se marchuca muito. Acho qr-re a Ír'irr l'acientes borderline
\, coragem da sua vítirna o perturbou.
pequeuo chir-
rl
Strrgiu r'rma situação diferente coln um tnenino
clirricar dentro cle um trrês'
ntuclo Peter, cuja terapeutir deixaria a
1.$

desespero"tgititçiio e
I
Diferenciaçao clínica de estados mentais lrle chegou t\ sessão etn collcliçáo cle muito
estavir abclrrecida coÍr] o
neuróticos, borderline e psícopáticos lragmentação. Sua tlãe - qLIe' colrlo ele'
o Íàto - passara a
cl.tcerranlento e sem cor"rdiçÕes de reconhecer
it

I
E'le soÍiera privação excessiva uo
primeiro aucl
Gostariir de difêrenciar raiva no paciente neur(rtico; desespero, in tritzê-lo com atraso.
rle vida, eln qlle sutr urãe (cle qualcluer
forrna) um tanttl disttrnte'
dignação e vingança em dois pacientes borderline; e crueldade ge
cstivera profinclarneute cleprimicla' Apos arlguns mintttos' ele pe-
lida e calculista enr um pirciente psicopata rnuito jclverr. A segr-rir,
quando partrriatn e qual
examino quatro questÕes técnicas do tratarnento de pacientes psi gr.ru o .ul.rr.lário clas sessÕes, pergutttando
para assitrlrlar os
copáticos. Com certeza, conro já disse .lntes, seres humanos vivos o ,"rrãn daquele clia' A terapeLlta of'ereceu-se
"r,, tinham paradcl de firzer'
se recusam a se enquadrar em classifrcaçÕes est.rnqries, portanto, tlias já passardos, trlgo que recentetnente
lrle excltunou: "Nãol'1 começando a
rilsgar o calendário' A terapeu-
uso essas classiÍrcaçoes cliagnósticas apenas para fins de discussão.
disse que Peter estava zangado cotn
ela porque selis encoiltros
Recentemente, tambern me interessei pelo elernento de psicopirtia ta

I
t /4 ,vIALICiNII)i\Dl.t StiM À,IOTI
ANNE ALVARr.tz 175

iriam terrninar (i.e., "raivoso porque,, _ uma interpretação


expli Em pacientes rlais paranoicos, fàntasias (não atos) de outrers
cativa de deÍ-esa). Peter ficou .inda maris .gitaclo e derrubou
u,rrr l)essoas recebendo a pr"rnição nrerecida - isto é, fantasias de justiça
cacleira; ;r terapeuta tentoll impeclir e, .ovamente, disse
que ele es c tle vingançtr - podem perrnitir que ocorram e sejarn contidas
tava com raiva p.rqr-re iam parar de se encontrar. E,re
ficou urar, pnrjeçoes desesperadas e necessárias. Joseph (1978) discute os ris-
agitado ainda, batendo a cabeça contrir a parede, algo
qr-re senlpr(. tos da devolução prelnirtura de projeçÕes a pacientes bordeiline .
fizera quando bebê. () efeito calmante e de alívio parece ter a ver com a compreensào
Nesse caso, penso que não e suficiente interprettrr
a raiva. Hrr rlc que a maldac'le precisaf car lá fora. Caso contrário, corlcl tentei
desespero; e a i,rpotê.cia desespertrda e o desarnpirro
da cria, rrtostrar no Capítulo 6, hurnilhação, clesespero, vergonha e vin-
ça podem aurnentar e se agravar inutihnente nesses morlentos. l, girnça podem levar a erupçoes explosivas e perigosas eln pacientes
i.cirpaz de ouvir a interpretação da sua ririva, porque niio (lue sofieranr projeçÕes rnuito intensas. Esse tipo de óclio deses-
está e,t
condiçôes de pensar e de processar a raiva. Faltar-n o fuuciclnamen - pcrado e ressenticlo precisa ser cr"ridadoselmente cliferenciado da
to necessário do ego e a necessária esperança. No enttrnto,
se a te.
irgressividade casual rnais brutal - ou assassina mais gelida - do
rapeuta se dispõe a tonrar para si unr poLlco cla malclade, lrsicopata que, com certeza, pode sentir as interpretaçiles mencio-
tr cria.çir
pode começar a se.tir q,e as coisirs sãcl u,, porco rnais nadas ctxro conluio.
toleráveis
e a processar a experiência. Assim, e possível dizer (a
propósito,
ccrm certo sentimento) algo como: "Reahnente,
e terrível para voct,
qLie eu estejtr indo enrbora. vcrcê se,te que deveria poder trnur.r. l)acientes com características psicopáticas
toda essa experiência. Isso ruao det,eriq acontecer. b,u nao
deveritt
\, abando,ar você'l Essas aÍir,raçôes envorveriarn o reco.heci*eut. A. H. Willian"rs (1960, 1998) realçolr qlre, se trabalharnos cuidir-
ll
dcl desespero da criança, trmpliariant e transportarianr, rklsamente com assassil-ros, com uura teoria adequac.la de cisão,
ril
por ela, o
senso de injustiça ainda não nomead«r, nâo verbalizado, tlesloctrr.nento e p«rjeção, e possível descolrrir que não há falta clc
mas 1_rossi
I
velmente ao rrenos "pré-concebido" (tsion, rg62b) (ver eonsciência; eles têrn consciência, rnns apenas em relação a objetos
i capítulo 6
para ,rra discussão mais a.rpln sobre a questão cle resp.sta ails cspecíficos excindidos. Por exernplo, urn hornenr qLre assassinou
lr

lI imperativos morais). I)evrl rne,ci.nar també,r a irnportância Lrnramulher pode não sentir cr"rlpa em relação a ela, rnas, cle re-
clc
se rectllrlrecer q.e algumas crianças traLrnratizrtlas agem pcnte, pode sentir pena e remorso ao ver urr pombo fericlo. N.
ir,prrl
siva,rente em estad.s cle tra,storno cle estresse pós-traurliitico Symington (l9tt0) defêncle iclei:r senrelhtrnte cle qLre, se exarnina-
e
precisam que nós mostremos a elas nosso reconhecimentr nlos corn cuiclaclo o munclo interno dessas pessoas, em algurn lu-
de qu.
está "nelas Íàzer isso'] o que diÍêre da suposição de que gar, tên-r um objeto bom e amor por ele c1ue, com frequência, e
se apro
priam do que estão Íàzendo. A violência pocle irromper como invisível e está oculto. Não são pessoirs totahnente sem consciênciar
re
sultado de sofrer abuso ou de testernunhar violê,cizr, e a ncm totah-nente ser.n arnor. 'lêm excesso de culptr. Ele cita o amor
crirrnçrr
pode ser-rtir, de forma justificada, que não tinha i'tenção sirnbiótico cle Heathcliff por Catl-rerine, no rorrri.rnce O morro dos
de Ítrzcr.
isso, outra pessoa fez. vtntos uivttnles, de Emily Brontê ( 1965). L,u realçtrria que o que fêz
ANNt: ALVAREZ 177

HeathcliÍl prosseguir Íbi a crença de que ela o trmava. Em algtrrr,, l'roblemas técnicos com pacientes com
psicopatas mais frios, no entarlto, seria difícil encontrar até mesnt,, ( 0 racterística s P sicoP áticas
esse pontinho de luz na escuridão. Meloy (1996), psicólogo c1r,
teve longa e intensiva experiência corn presidiários violentos nu,. importante do
Àg«rra gostaria cle chamar ir atenção para Llln tema
prisoes da área de Strn Diego, nil Califórnia (Estados Unidos), lc,, das três
,rrtrgo de N. Syn-rington (1980): sua brilhante descrição
urnar diferenciação muito úrtil do que charna "agressivicltrde evt,
rcspostas que o psicopalttl evoca. Ele ressalta qlle umâ
das respos-
ctrda por afetividade" *agressividade evocada pela percepção rl,. deixtrm os
lirs rnais cottttlns é o conluio. As pessoas simplesmente
ameaça - e "agressividade predatória' - dirigida r\ destn-rição rl.r algo a ver
virlentões obterem o que querem' Sugere que isso tem
vítirna, geralmente na busca de alimentos, em especies sub-hurrra (onr a gratiÍicaÇão de alguns aspectos psicopáticos de n(ls mes-
nas. Esta última envolve estimulação e vocalizirção autonômicas e negação'
rrr«ls. Diz que a segllncler resposta colntlm são descrença
mínir-nas. explicaçÔes
l'cnso que e possível, porem, inÍltil e irte perigoso usar
justamente desse jeito
psicanalíticas plrra o paciente e para nós,
Quando um gato donústico está encurrolado e ameu ncgador, uo intuitcl de fugir dos fatos perturbadores a
respeito
çado, tt sistemo neuroquírnico produz uma demonstro esses pacientes
t[«ls nOssos sentimentos n.] Contratransf-erência. E
supor-
çao de ttgressividade aJ'etivtt: sibilos, pelos arrepiados, sirbem cluando estamos senclo evirsivos, ttão conseguindo
a respeito do
clilataçao das pupilas, garras em riste e costas artlut' tilr o que clifunclem. Syrnington é btlstante clemente
oLl
adas. Quando o rnestno gato persegue um ptissartt tro rncdo que essas pessoas evocam em seus analistas' teraPeutas
I

( irrcereiros, com a rltrturaliclaile da nossar negação covarde'


Ele res-
quintal, predomina a agressivídade predatoria: persL.
I
sirlta que e saudável desejar seglrrança e p;rz' A terceira
resposta
\r guiçao silenciosct da presa, ausência de exiltiçao rituolís
,l
(.a condenação. Esses pacientes realmente provocíu-ll seutimeuttls
tica, atençao concentrada no alyo. (Meloy, 1996, p. 25)
rl Iu-
I
ruuito intensos de horror, indignação, condenação e represália'
lclizmente, essas respostas servem apenas para excitar o
paciente
i O arutor arfirmir que agressiviclade predatória e rrrarcir registracla
a derro-
0u fortalecer sua armaclura e cleixá-lo trinda mais decidido
I

I do psicopata. (F,le é cuidadoso na diferenciação dos extremos gra-


tirr o terapettttr. O tnais difícil e olhar o mal nos olhos' de
modo co-
ves e brandos de um contínuo de psicopatia e considera qLle pes-
\ Íuralmen-
1

soirs do ponto mais moderado clo contínuo tendem a ser tratáveis.) rajoso, porém não vingativo l1em conclellatório' Quando
e torcê-la, a
Meloy (1996, p.74) sugere que as descriçoes anedotais de pessoas tc percebi o enorÍre prazer cle Sarah em enflerr a facal
"Realmente, você
que trabalham coln pacientes em tratamento forense e sob custó princípio Írquei chocacla e l-rorrorizada. Ett disse:
partir meu coração, não é?'1 Suspeito que o fato de eu
dia de que os olhos de algr"rns são "tiios, fixos, duros, vagos, ynzios (lLter
nlesmo
e desprovidos de sentimento'e o consequente sentimento assusta- tusar a palavra "realmente" ainda continha certo totn de descrença
se inclinava
dor de rnedo deveriam ser levados muito a serio. Ele ressalta que c ir vã esperança de que elar llegasse' Em vez disso' ela
a frente e sussLtrrava - colrl fervor -
"Sirnl'l Penso que
essa vivência de medo arrepiante não costuma surgir nem lnesll() iltenta para
trilbalhar algum tempo cotn esses pacientes uos clbriga a crescer
e
com pacientes combativos e explosivos muito perigosos.

itl,ri
ANNtI ALvAREz 179
178 MALtcNir)Ar)E sEM Mo'r'rvc)

"incapa-
a rnudar, pois eles nos nrodificam. É preciso ultrapassar o estágio Docker-Drysdale (1990) considera essas crianças
zcs de se relacionar coll1 quirisquer objetos
reais olt de sentir ne-
de negação, depois o de indignação para um estado mental quc
"Esse tipo de criança não
exige coragem e Írrrneza e, tarnbém, em cert() sentido, respeito pela t cssidade dclcs". E, signiÍicativatncnte:
(p' 179)' i)tr
coragem de o paciente sobreviver no seu mundo vazio. eorlsegue simbolizar o que jarnais sentill nem viveli'
lllcsmonroclo,sugiroSerimportanteencclntrarurnalingr.rageflISu-
Quero dizer trlgo sobre um livro de Docker-Drysdale (1990), nlenos tentttmos
licientenrente l'ria para o psictrpata sentir que ao
seguidora de Winnicott, qr"re administrava unla unidade residen- onde acha-
ir seu encontro, onde ele reâllnente está, mais que
ato
cial para crianças extrernamente prerturbadas. F.la escreveu sobre ser' ele pode residir
nros qlre cleveria estar' Et-u grande parte do sell
criançtrs "congeladas" que, penso, podem ser ainda rrrais doentes exortá-lo nent
cnl Llm cemitério emocional' Não podemos tentar
do que Heathcliff e as pessoas discr-rtidas por Symington. Penso ao restante da
o persuaclir a entrerr na posição clepressiva e unir-se
que prrecisar.nos deixar espaço eln rlossas lnentes pirra o fàto de al- desorientaclos
hurnaniclacle. EIe vai pellsar apenas qLle somos tolos
gluxrrs criançtrs ftcaretn congeladas tão cedo na vida que não hh ele está rnuito dis-
sc lhe falamos da ririvir, cla percla ou da dor que
rnuito amor nem nresmo escondido. Docker-Drysdale esclarece ele se
tlrnte de sentir. Nem clevemos irnaginar qLle necesstlriamente
qlle sernpre procurava algum larmpejo cle sentimento ao avalitrr
tlcfendecladeperrdênciaetrrrelaçãoattrósclttSerecustlaVerllossal
uma criançil para adnrissão na escola. Elir escreve de modo mui- pois seu ob-
trondade. Ele pode nos cousiderar realmertte inítteis'
to atraente sobre a diÍiculdacle cle sirnbolização clessas criarnças e
jeto interno e imprestável. Sua violêrlcia pode ter começtrdo colllo
i
dá corno exemplo nma crinnça, n()vil nil escola, clue «luba trlgo cla
«lefesa contra a clor, mas acabou trausÍilrmtrda em estilo de vidtr'
geladeira, não porque a comida tenha qualquer significaclo sirrbri-
importante
Docker-Drysdale (1990) faz umtr diferenciação
I

l
lico, mns sir-nplesrnente por estar corn fbme. Alguns anos depois,
I
tle experiênciar, realiztrçáo e simbolização: ressalta
qlle' ptlra essas
\ na epoca em que já estiver bem apegada à sua principal cuidad«r
precisalrr
crianças, não btrsta thes proporcionar boirs experiências'
I

ra, poderti roubar da geladeira por estar aborrecida com o Íatcr


E'sse pouto de
t
cle a cuidadorar sirir cle Íérias: o roubo pode ter pleno significackr pcrceber que estão viveuclo essas boirs experiências'
vista se assemelha aos tneus, oriundos clo trabalho com
crianças
l
simbólico. A autora consiclera irnport:rnte não confundir ars cLias
'làlvez seja ne-
I
coisirs. Nesse casn, é relevante a dif-erenciação de Segal (1957) cte tlue sofreratn tluitas privirçÕes ou tluitos abusos'
qlre hoie eu gosto
cessário interpret:rr, por exempltl, "Você sente
il
Ír equação simbólica e símbolo verdadeiro, assinl colno o conceito
ri
«le você" or'r "Hoje, você gosta de miml
m:rs é necessário mostrar
de firse transicional de Winnicott (1953). E, ltrscinaute observar
essas crianças párssrtrerl da atuação [acting orrÍ] rnaldosa []ara a tambemque elas gostam cle ser gostadas' quLe gostart de ter senti-
"Você gosta quauclo
cliversão rraldosa, digamos, parir uma brincadeira verbal cruel e, rurentos amorosos: "Você gosta de me agradar"
estão enredadas em
depois, perra ul1la brincacleira mais amena - processo progressiv(, ct-t gosto de você'l Muitas vezes, essas critlnças

clue pode levar meses ou anos, mas que firesrno assim é urn desen rum círculo vicitlso em que fazem algo provoctrtivo' o objeto castiga
conse-
volvirnento irnportante porque irnplica polrpar o objeto. c, então, fazem algo ainda tlais provocativo e' rarall)el1te'
guem notar os outros Inomentos (provavelmente
muito fugazes)
I80 tvri\t.tcNrDADE sEÀ,1 i\tortvo

de bo,t contato. (possivehnente, essils i,terpretaçÕes precisam st.r tlc 4 anos que chamo Billy, encaminhado por causa de sua frieza
ainda ,raris Írias e prosaicas co,r pacientes em estadr psicoptitic,
t t'rn relação à mãe. (A mãe :rcreditava que tlilly, desde o nascimento,
o c.,ceitode realização cle Docker-I)rys«1are é se.relha,te rr,, r)unca a olhara. Na reirlidade, a mãe rarar-nente estava eln casa, e
conceit. cle Bion (r962b) sobre a necessidacle cle fazer a "funç.,, ir criança se apegou profundarnente ai sua primeira babá, que foi
alfa" se apr.ximar cle um pensamento para torná-ro pcr.rsrivel
e r\:-
cnrbora, tendo sido sr"rbstituída por uma série de outras.) Ilm de-
teorias cl. desenv.lvir,e.tcl cre como a experiência tcrminado momento, tlilly frcou mr.rito retraído, mas ar-ltes e depois
aclquire sigur
ficado' stern (r98-5) descreveu um c.r.rjur.rto rnuit, nrais rlesse períoclo endureceu com frieza. E,le era uma criançtr atraente
agracli
vel de sig,iÍicados que Bior-r, encluanto, ,esse caso) a experiêr_rciir que encântava os estranhos por sua inteligência, vivarcidade e seu
a cllre sorlos conviclaclos -
ou r,elhor, Íbrçacl0s -. c.mpartilhrrr scnticlo bastante excitante cle clramaticiclade, r.nas desenvolveu um
or-r contcr e perturbad.ril e, muitas vezes, tão brilho gelado e unr jeit«r mirnipulador que preocLrpirvtr ate rlreslno
apav.ra.te que r.
m,ito fricil deixar passar recruções minúrscr.rlns do .íver cre crr-rer scu pai, que não se sentitr rejeitaclo por ele. Billy tinha extrerno
dade, por exe,rplo, o, uro'rentos fugazes cle aÍêtuosidade. ciírme e era muito cruel com a irn.rã de 2 anos, que era a predileta;
Mars a,,
ocorrererll esses nlome,tas, podernos aprerder a nãa os ('u1 slras sessÕes, entregirva-se a tortllrils lentas e delibcraclas qr,re
recebcr
com,uita ânsia,ern exagcràr,as i,terprct.çÕes explicativars sirr Lrm "duutur" (ele pr(rprio) realizava enl Llrl bebê-ursinho cle brin-
bólicas. Parece m.is irdeclr.r.cro si,rplesnre,te ficar cor.l rluedo. Fr.ri instruída a frtlar pelo ursinlro e, obvitrmente perdendo
o p.cie,
te pensa.do na sua experiência, um u-ronrento de cacla nrinha caparcidade cle tolerar, um cliir conreti o erro de perguntar,
vez. co,r
psicopatas, o conceito cle Strachev (r934) cle "doses
nrir.riu.rrrs,, nrr na voz clo ursinho, por que eu estava recebendo tal castigo, por
transÍêrêncitr provavelmerte necessita cle redução para 'cl.ses tlue o clrutor tazia isso cornigo. Billy nre olhou como se eu fosse
.ri
\l nimalistas'l ,ruitas vezes oclei.m qualquer c.rne,tii
Essas pessotrs totalnrente obtusa e respondeu: "Por quô? Porque eu gostol'1 Um
l,l rio muit. carregado de signiÍicado, pois, por consequência, te.clt, ou dois dias antes, en o vira enfiar o alfmete do seu distintivo nos
a ser se,tido como muito carregado de e,roção, olhos do ursinho, muito lentamente e col.n L)razer qlrase ilrnoroso,
e ulna ,icltr inteirrr
de dissociação levou a cor-rsicierilr a emoção como
algo repugnantc. portanto, jii deveria sirber. Termos con.ro 'distúrbio de condutir"
I
desprezível ou irrelevante. não ctrptarn o sabor desses momentos. lrsse tipo cle destrutividade
c de umir espécie diferente de raivir ou fúria impr"rlsiva: pârece para
toda a vida, permanente, duradourtr. Até mesrno ern alguérn de,1
Segundo exemplo de criança com características anos de idade "para tocla tr vicia" signiÍrca exatamente isso - a vida

psicopáticas: Billy c-le anrarga decepção de Ililly tinha siclo excessivamente longar.

Geralmente, eu não r-ne referiir ao ursinho corno representante


Sarah, que rnencio,ei.ntes, tinha apeners l0.,os e, cla parte-bebê de Billy orr de sentimentos de dependência infantil
a princípio, foi
difícil .creditar que uma criarça tào peqr-re,a pudesse ser sendo polrpados. As vczes, o ursinho estavrr repleto cle alteridade
cirpaz crc
tarlarha dedicação à crueldade. posteri.r,re,te, tratei ur.r lre,in. e represelltava, creicl, sua odiada irnrã. Acredito qtre o clesejo e,
cle certar rnaneira, como sugere Kunderir (1982), a necessiclade - de
Itl2 MALTcNTDAT)Ít sEM MoT'rvo
t ANNF, Ar.vARr-rz 1U3

fantasias corretivas de vingança (não açoes) precisa ser aborclatl. l)r'illreiro examinou o corcleiriuho, colocot-t-o cr-ridadosamente
dr,rrante um bonr tempo. O clínico precisa decidir qLlando o pir r['rrtro de urn fantoche e colocolr um potrinho brnnco e mrlrrorrt
ciente e capaz- de irceitar o retorno da parte excindicla otr prrojetirrlrr rrir l'rente, corno se rnontasse guarcla. Eies tinham sido frguras boas,
Isso pode ocorrer pollcos segundos depois ou alguns anos r.nai., rrr«rntando guarcla ao cordeirinho na selnaua anterior, e a sobre-
ttrrde. C) clínico tirrnbern precisa tentar perceber cluando a violêrr vivôncia deles me surpreencleu. Ililly prosseguiu com deliberação
citr se tornou uln pouco assistemática e já não é mais necessiirirr It'rrível e derradeira, joganclo todos os outros aninrais parir fbrir,
Billy tinha características borelerline partrnoicas genuínas, mas cpr(, rro chão, cor.n total desprezo e pisoteanclo lenta e iuteirarnente o
corneçavam a se solidificar em algo rnais psicopático. lrebê-coelho. Ele parecia tenso e gelaclo denrais, irte mesmo parir
sc envolver em ulna tlas sutrs "brincacleiras" sádicas comigo, em
Naquela ocasião, os pais de Billy jamais tiverar-r-r convicção tlt.
(lue os anirnais seriarn mortos e devorados. Seu desprezo (e, pen-
clue fosse psicoterapia o qr-re cluerialn para ele e, na medicla eut qu(,
s(), seu desespero) era excessivo ate para brincar. Reconheci isso,
Íicou nrais tratável, evidenciou-se qlre o trati.unento deveria se en
rrrirs comentei a preservação do cordeiro. Falei qr.re ele cleixava unr
cerrar. Ele estavtr r.Ilenos retraído, o que parrr eles parecia suficien
te. Aprrls o firn cle scmana elr que telefbnararn para confirnritr rr
l)ouco de espaço efil suzr nlente pr:rra sentimentos atnistosos e boas
lcnrbrançtrs c1o ternpo clue passirra aqui. Mantive rt-tinha Íàla ccln-
decisão de que ele deveria paratr o tratallento no prirzo de um rnês.
trolada e rnininralista pclr acreditrrr que seria o rnais c()rreto para
ntr segunda-tbira, ele elltroLl na sessão en1 uut estaclo ameaçaclor ,

cle. lsso strlvava sua dignidacle e, de certa maneira, reconhecia suil


enfurecido c louco. Primeiro, bloclueou rneLl acesso nas escirdas
(oragenl diante cla enclrmidade da taret:r, que erlvolvia atlministrar
p.rra a sirla cle trtendinrento. Eu disse c1r:e parecia minhir vez dc
scu imenso tidio e o (lclio que elc acha que os outros senteur en.r
ser excluícla. Então, de Lrm jeito qr-Le, frara ele, erir ntuito confust,
rclação a ele. Porttrnto, r.rão nte refêri tl Llma parte bebê nem a 1lou-
claro e coerente), clisse: "Eles dis
(en-r geral, ele era geliclarnente
seram que eLi não venho mtris - eles me perÍlLlnt.lriiln o que eu... l)ar sentirlrentos ir"rfàntis de clependência. Pouco dcpois, ele gritou:
"Você vai se arrependcrl'l Sentinclo-me muito rnal, nesse rnonren-
Não quero rrrais vir aqr-ri. Não. . . eles nao querelr. . . Não. . . Eu não
t«r, falei que, de rrcordo com o que ele sentia, eu deveria ser a Írni-
cluero'l Eu disse que ele estava confnso por nilo ter certeza cle quent
i ca a sentir tristez.a por sua ltarticla. E clue talvez ele sclr,rbesse que
I não queria que ele viesse. EIe continuou repetindo, enquanto abriu
I t'u estava nruito triste e não queritr perclê-lo. Ap<'ls certo ternpo,
l1
sua caixar: "Não cluero rrrais vir ac1ui... Você e untrl... bruxer ntri'l
ircrescentei clue ele devia sentir que eLl deveria estar arrependida
Contudo, enrbora eln certos rnontentos ele me encrlrasse e, ent ge
tle não ter siclo sr.rficienternente fbrte pilra persuadir seus pais a o
ral, seu olhilr fosse atrevido e nem um poLrco infantil, dessa vcz
rlcixarcm continuar. Ele começotr a rne «rlhar unr polrco e, depois,
ele não me olhou no rosto. Ao contrário, olhou para brrixo, prrrra
tle fornra rnuito clespótica, pirSSolr l exigir que ell pegasse os brin-
algum ponto na altura da minha cintura. Er-r disse que ele estttva
rluedos jogaclos. Senti que a situirção estava confirsa, pois ele era
com dificuldade de me olhar e talvez fcrsse prlr nãcl ter certeza clir
trma criernça muito tirânica c, desstr mirneira, a ajuda que ele peclia
que queria, e se de fato eu erir tão rná. Ele cotneÇou a atirirr todos
para as pessoas executrlrelx quase sempre era realizada cle má von-
os brinquedos para fora da cirixa, no chão, r1tas, cluando chegou
tade, se não com ódio. Mas eu tarlbénr sentia que ele estava cada
à parte inf-erior, que continha a fazendrr e os anirnais selvagens.
184 r,rAr-t(; Nrr)At)r-r sENl rvr()T'r\'() ANNI.] At,\'ARI-]Z 185

vez mais clesesperado e precisava que eu pegasse os brinquedos (lu(' dcviâ permitir que ele sor.lbesse qLle eu achava que estava cor-
pâra mostrar qlle elr queria fazer isso por gostar clele, não por- s( l r('lo, porqlle, clessa vez, parecia r'rma identifrcação projetiva de-
forçada ar fazer, por temor a seLls acessos de raiva.'lambem, afinll. ,,r'sPcp16ln, nãO cruel. Na verclade, repensandcl, ilchtl que llem ao
ele me envolvia em uma atividade conjunta, ainda que sob forrn,r ilt(.nos era Llt-na identiÍrcação projetiva - era uluito mais o reco-
de intimiclação. Portanto, cor.necei a recolher os brinqr"redos, mal illrr,cirnento do fracasso clit suir projeção, da sua incapaciclade de
tendo nreus olhos nele, o qr-re fbi bern difícil de executar sob st rr r.,(otltrar e de manter un objeto que pudesse receber suas proje-
olhar tão desagradável e liio. Penso que, como todos os tiranos, e l,' ,,ocs. Nessrl epoca, ele rarattrctrte vitr sua;rnacla babá do passado'
tinha certezar de que seLls escravos o odiavam. Ouviu-se um barrLr ,. ire lto qr-re cle clescrevia seu pr<iprio destinrt corllo receptáculo clas
lho vinclo do irndar de cima dtr casa, e ele teve um sobressalto. I'.rr lltcltsas projeçoes de sutl trlãe. Mas o elemetlttl acliciottal em slltt
mês qlle tloS restava autes cltl
disse que talvez ele temesse que alguem lá em cirtra não gostass( l)t't'gLlttttl, qtte não pucle rrborclar tlo
de vê-lo me arneaçando assim e qlle seu sentimento era de qlre cl l(.t rlrillo clo trirtatrrento era: "VOcê reirlmeute Se itl.ll.rtlrtir meStno c1e
nãcl gostirva dele de vercltrde cluanclo me dirva ordens desse jeit,, .,,rtrcr ct'nro e ser eu?". Suspeittl clue Billy sottbesse qlle Llma parte
(Meus irnos cle incompreensão e de negação com Sarah devern tt'r rrrinha uão clueritr.
me ensintrdo algo, pois disse isso com rluita seriedade, nlas noterrr
ar dizer "Eu não quero vir aqui", mars ,
o "de verdtlde'l) Ele começou
que acabou dizendo foi "Você não quer vir aqui"; finalmente, obrr l)iscussão e conclusão: quatro questões técnicas
gando-nre a olhar para ele, dirnclo-me conta cle que havia certrr
verclacle nisso, eu disse: 'Acho que você sente qlle estor,r fêliz por ( iostaria concluir discr-rtinclo quatro questÕes clLle sttrgem ao tril-
c1e

\ você ir embordl Ele me olhou de forma direta. hrrlhar conl esses pacientes. A Íirn de evitarr rr tríacle cle Symingtotl,
( ()nlLlio, negarção e conclentrção, ern primeiro lugar é ir.nportirtrtc
Note-se qLle eu não disse: "Você receia que eu esteja feliz por
"recei;r c1ue" - pod,' t,vitar a últirna, isto e, ent lugtrr cle condenar, c tlecessiiritl olhar
você ir embora', pois o verbo contendo dirvida -
rr tral clir.ctamente nos olltos, o que irnplica rlão cvitar a total c'lc-
servir parir negar o que retrlr.nente acontece entre o se/f do pacientt
solação e o horror clos iurpr.tlsos do pacier-rte llelll ir itltrdeqttirçãtl
e seu objeto. E importante conter a realidade dir suir experiêncil
r, ir ilselsltez dos seus objetos itlterncls, betl ctluro a nosstl, iltl
emocional, e a palavra "sente" traz menos negação (ver Winniccltt
t lansÍ'erêucia. Cttmo me resptlndett o clcltttot- ttlrtltraclor-cl iançir:
(1949) solrre o ódio nir contratrirnsferência). Olhar corajosament('
"lir,r gosttil'i lsso implica tat11l>(:m não evitar acltrilo cltte eles srrbet'lt
o paciente nos olhos tambér-n significa ter corirgern de olhar pirrn sr
scr nossrr rrversão, clesgosLo e irté ódio por seLt tratirlllcDto impla-
de Íbrma honesta.
.ilvel, crue'l e, muitas Yezes, brutal a nós, a setls otrjetos e a si pr(l-
Quando chegou a hora de ir, ele gritou ern direção à escacia: lrrios. Não sei se consegui transrnitir eltl
qlre gratt a bri|rcadeira cle
"Cclrno vocá se sentiria se prsç[5n.." ser colocada clentro de unrrr
Itilly conr o ursinho nã<t erir simplesmentc brit-rcacleira tàntasia-
caixa?'1 Só tive tempo suficiente de dizer que ele sentia realmentc tlir, agressiva, corriqttciri-r, ()tl l')or tluc senti cluc ele seria o tipo cie
que cieveria ser comigo, e não com ele, que isso acontecia. Pensci criirnçar clue realmente poderia provocar ttÍl't ilciclente com n irnrrt
186 MAt.t(;Nrr)ADl.t sEM Mor.rv() ANNE ALVÀREz. 187

com urrr cuidaclo tal que llinguem jamais desconfiaria não se trrrtar paciente cle que ele "arpenas gosta" do que fàz ou que está "âpenas
de arcidente. irritado', não ztrngado, hoje e cpte isstl não tem significado. L,ntão,
Contudo, ttrmbém hirvia urn elernento paranclico desespera tlcvagar - talvez - o signiflcado possa desenvolver-se.

do, e era i,.rport.,te alguem receber as projeções clue ni.gue,t Finalmente, interpretaçÕes duplas dirigidas à busca e à revela-
conseguira conter e ser honesto sobre o que ele conhecia c«rnr. ção da vulnerabiliclade clo paciente em geral são perigosas ou inú-
ódio e exalrstã. do seu objeto. Espertrva-se clue isso fbsse possír,el teis. Esses pttcientes não fut.tcionaln eln nível cle posição depressi-
sem represália. lnfelizrnente, havia or.rtro probler-nir, o fato de c1ut, va. Estão vivenclo ent Llnt ntundo pariruoico en-l que o qtte está em
sua cruelclade estava se transformanclo na possível base de unrrr tluestão é a sobrevivência, não o arlor. Os vaiores de inteligêr-rcia,
perversão strdomasoquista. Ele "trernia' de excitação em alguntas ousadia, coragem, destrezar e triunfo - os valores do campo de ba-
de suns cenils. Algo q*e certamcnte necessitava ser aborclado err talha - são supremos. ItrterpretirçÕes pretnaturas a respeito da vul-
trabalho intensivo posterior cour ele, o que enfim se realizou conr nerabilidarde ou da dependência ocultirs, dtrs cluiris o paciente ainda
considertivel sucesso. não se apropriou, podem prclduzir explosões perigostrs ou, uo tní-
rr irno, provocar seu desprrezcl justificado. Ao contrtirio, c irlportar.r-
Segundo, precisanros nos ernprenhar para não firzer conluio
tc poupar sua clignidacle e respeitar sua corâgeltr de prosseguir ucr
nelrl negar, mas para eltcontrar, sem sentirnentalismo, os sentirnen
tos amistosos do paciente e qualquer débil despontar de c.,fiarçrr
nrundo rlorto elr que habita.

e de fé. Não clevemos apelar a urn sef ou objeto bonr que não estejir
presente, rnas precisarnos estarr atentos aos diminutos lanrpejos cL'
fe e de esperanç. que estejam presentes. É perigoso pro.rovê-los .rr
arnpliÍicti-los: é r.nuito melhor subestimá-los. o pacieute pocle scr
capaz cle concordar que está um pouco irritaclo conl a interrupção
ri recente dir sua rotina, mas está muitcl longe de tomar contato conr
sentirnentcls clokrrosos de perda em rtrzãcl da falta. Alérn disso, i\s
I

vezes, poclenros precisar reconhecer senr sentirnentalismo o cltrt'


I

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ele observir ir respeito cia nossa clor, da nossa derrota ou cl«r r.rosst,
afeto, quando o çraciente não pode firzê-1o.

Terceiro, geralmente e importante evitirr interpretaçÕes simbrj


licas de sentinrentos positivos ou negativos. por exernplo, interpre
tarçoes como "você mim como se senti.
se sente abanclonado pclr
por sua rnãe" podern conter significado excessivo que pode niro
estar disponível para pacientes nesses estados de enclurecinren
to e congelamento. Podemos precisar respeitar a insistência d.

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