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DenISE G. Rauos

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t O COBAÇAO
UuA LEITURA IUAIÍTICA DE SEU SIHBOLISÍ-íO
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I
Dissertação apresentada ã Sociedade Bra
I sileira de Psieologia Analítica para oU
tenção do tÍtu1o de Analista Junguianol
I ao i6rrino do curso de formação - turma
1984.
I
I Orientadora: Dra. Molvívto tltuzho't

1
I
I
I BIBLIOTECA
I Uicüdü [ralildra ü psisoluia trnalítisa
fl4 -o ra
I
I
I SÃo Pauuo - 1989
I
I
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Ã, nvtnltn mãe, mw abnigo, conação maLott clue o mundo.


Ao meu pai, mur íncenÍivo , cou"ú,o donÍe de LeÃo aruLgo .
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AGR.AOECtMEtJT0S
I
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t Não sei guantas notas referenciais teria que acres-
t centar, nem como, para apontar a participação do Dr. Coalor A. Bqíng
I ton neste trabalho. Muitas de suas idéias tornarêLm-se minhas du-
t rante nossas discussões analÍticas, de modo gue não saberia preci
t sar com clareza guais foram suas intervenções, idêias criativas e
t acima de tudo sua ajuda no processo de descobrir meu próprio cora
T
ção. A ele, meu profundo agradecimento.
T

I
I Agradeço também ãs minhas amigas e colegas, Dra . La_

T Líana Livano Whaba, por suas valiosas observações e correções do


I manuscrito , e Dra . Lzníza C. Bttanco quer cort sua arte e sensibili
t dade, deu o togue artÍstico ao trabalho.
T

I Meus agradecimentos também aos meus pacientes, pela


I autori zaçáo de usar seu material.
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I "Razão tormn-ae ytão-rta"zãa cluand.o áLWhn -
T da do -conafi.o. Ílma vída paíclwLca vazia
de ídlai,oa uwLvetuaí-r adoece porL delnu-
t tÀiúy." (c- J. üung) *
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I.-
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t sur{ÃRt0
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t Esta dissertaçao é um estudo da relação psique-cor-
t po r usando o sÍmbolo do coração como referência central.
I
-
I O simbolismo do coração ê aqui observado na d,imen-
-
t são individual e coletiva e hipóteses são levantadas sobre a apli
I cabilidade deste material na compreensão das doenças cardÍacas.
I
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suflARy
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,
This dissertation studies the psyche-body relation-
I ship, using the heart symbol as a central reference.
I
t Heart symbolism is examined along the individual and

T
collective dimensions, and hypotheses are explored about the ap-
T
plicability of this material in comprehending cardiac disorders.
I
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I
i UNlTERMOS

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A,rqu-etípo. Sim bolo. Eíxo zgo-^Q16.
T
Petlono,. Sombtta.

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I íuotcE
wg.
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I o AgfadeCimentOS ................................... íi
I o fntrOdUçãO ....................................... I
I I. A busca do significado do coração 3 primeiras obser
I VaçõgS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

T II. Doença como representação simbólica: proposta de -u


ma abOrdaggm analítiCa ........................... t3
I
2.L O terceiro fator na relação psique-corpo . . . . . t9
T
2.2 Sincronicidade . r............................. 30
T
2-3 Doença como mecanismo de compensação uma a-
I
bordagem finalista ........................... 32
!
2.4 Conclusão o..................................o 34
I
III.O simbolismo do coração: uma amplificação ........ 40
I
3.1 A palavra coração ............................ 42
T
3-2 O coração no altar dos deuses ..o............. 44
T
3.3 Elegias para acalmar o coração ............... 50
I
3-1 O coração em julgamento ...................... 5t
T
3-5 O lugar Secrgto .............................. 60
I
3.6 O som universal ... . . .. . . . . . . . .... .. . . . . . . . . .. 64
T
3.7 O coração flgchado ........................... 67
!
3.8 O coração circuncisado ....................... 69
I
3.9 O Sagrado Coração ............................ 7l
t
Iv. o coração: uma leitura analítica ................. t6
T
V.ConClusãO ........................................ 104
I
a Notas e Referências Bibliográficas ............... ttt
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1
NTBODUÇAO
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1

I
lÍrrTR0OuçÃ0

Este trabalho tem como objetivo uma reflexão sobre a


relação psique-corpo, usando o sÍmbolo do coração e a doença car-
dl-aca
,.7
como reterencia.

Oprimeiro capÍtulo trata de minhas primeiras obser


vações sobre a alta incidência desta doença, atravês de relatos de
pacientes e amigos, leituras de jornais e alguns estudos estatis-
ticos. Com estas observações, começa a surgir a guestão: se este
f enômeÍIo r alêm das inúmeras causas mêaicas e psicológicas, teria

tambêm um significado e uma finalidade. Entretanto e pârâ se res-


ponder a esta guestão, uma outra teria antes gue ser pesguisada. O
segundo capÍtulo trata da relação psigue-corpo sob o enfoque da
psicologia analÍtica e da aplicação desta conceituação na compre-
ensão das doenças em geral. O coração 'e tomado como referência pg
ra este estudo e uma amplificação de seu simbolismo ê feita no ter
ceiro capÍtuIo. O guarto 'e um esboço inicial da aplicação do mate
rial amplificado no desenvolvimento individual. E, finalmenter rrâ
conclusão , 'e feita uma tentativa de levantar algumas hipóteses quan
to ã aplicação da conceituação levantad.a na compreensão de alguns
fatores psicológicos envolvidos nas manifestações cardíacas.

Este tema ê bastante complexo e em nenhum momento há


a pretensão de esgotá-Io. Se conseguirmos levantar com certa cla-
Íeza algumas guestõêsr o objetivo deste estudo terá sido alcança-
do.
3

Por outro lado, cabe agui ressartar que, como tese


de psicologia, o enfogue deste trabalho 'e exclusivamente psicodi-
nâmico e junguiano, o que é em si um reducionismo. Fatorescausais,
tanto m6dicos guanto psicológicos, embora deixados ã parte r err ne
nhum momento foram diminuÍdos ou esguecidos. Se aqui não estão prg
sentes é devido tanto ã complexid.ade do fenômerlo r guanto ã limita
ção do conhecimento e do fôlego da autora.
CAPITULO I

A Busca Do SteuIFIcADo Do ConaçÃo: PnrltErRAS 0ssenvnçôes


5

I A BUSCA OO S IGÍIJI FICAOO OO CORAÇÃO : ?R.IilE I RAS O BS ERUAçO ES

O coração parecia-me presente em toda a parte. Na 1ei


tura de jornais, nas notÍcias de televisão r Írâ conversa entre ami
gos e nas queixas de meus pacientes ouvia com grande freqüência: fu
lano ou ciclana "teve um atague", "infartou", e/ou "morreu do co-
ração". Queixas de taquicardiar prêssão no peito, "sensação gue o
coração ia parar" ou " explodir" , entre outras, er€Lm cada vez mais
comuns entre meus pacientes.

Juntaram-se a estas observações minhas lembranças de

inf ância catõIicâ r de colêgio de f reira e d,as imagens de Cristo,


mostrando seu coração em chamas, envolto em espinhosr ou de Nossa
Senhora, com seu coração apunhalado, tambêm em chamas, mas com ro
sas vermelhas ao seu redor.

sofrimento e redenção. Nos rostos das imagens, o re


flexo da serenidade e paz. No peito dos santos e dos pacientes r so
frimento e mistério.

Teriam ligações as mortes de conhecidos r âs estatíg


ticas espantosas (sobre o número de infartos do miocárdio), asquei
xas dos pacientes e essas imagens tão familares e tão comuns nas
casas e igrejas gue freqüentei, ê em algumas gue ainda fregüento?

No meio destas reflexões, deparei-me com a notÍcia,


manchete de primeira f olha: " Á dituação de c,Liá e ea,u6 a ' palpita-
ção e taquícartdía' e-m SannzA , diz m6.díco" . Surpreendo-me com as a
s
a
a
firmações deste médico de que Sarney, sendo submetido a um
a mesmo

a estado constante de tensão e ansiedade, precisaria por isso 't&ttmQ-n


t at o e-u eo ndícío na,m ont o dít Leo p a)La não Q-rL u)Lp,Lzendído po,L quq
a ^ ^ ^
que,L comprLomztím znto ,Le-^ uLt antz dz,s,s at exeítaçõ za do a íd Íema nQ-,1-
a
t, I *", espanto se deve não ã relação do estresse presiden-
a vo8o.

a cial com sintomas cardÍacos, mas sim ã interpretação e conselhos


I que lhe são dados, como se exercÍcio fÍsico somente pudessi resol

, ver problemas de estresse. Sem tirar o mêrito inquestionável do


bom condicionamento físico e da alimentação adeguada, sabemos ho-
,
je que uma mudança de atitude psicológica (em nenhum momento cita
t
, da) é indispensável para a solução dos problemas de saúde em ge-
t ral. O médico declara explicitamente que a causa é psiolôgica, mas
s a terapêutica proposta 'e de outra ordem -

;
l, Essa atitude fez-me lembrar do perÍodo do presiden-

; te João Figueiredo com suas inúmeras doenças. Pesquisando através


s dos jornais da êpoca, encontrei uma grande quantidade de artigos

t sobre o assunto, que talvez nos sirvam para melhor entender a im-

I portância deste símbolo tão falado ê1 ao mesmo tempo, ainda tãoin


t consciente na cultura.
t
|t Entre os anos de 1981 e L987, segundo o Banco de Da
t dos do jornal "Fo1ha de São Paulo" houve cerca de 6L4 ncticias clag
t sif icadas sob o tópico: " Endenmid,adet do St. J oão F ígueínedo", se!
2
t do a maior parte sobre seus problemas cardíacos . Numa analogia
r com a situação do paÍs, Jards Macalé, compositor e músico, díz que

! o Brasil, junto com Figueiredo, sofreu um colapso cardÍaco, çÍtre seu


2

I coração implodiu ou explodiu ' .


|I
II
I
O Brasil in-fartou-s;;
( Ou: CoraçaoioptoüOo, ou: E>:ulodecoração,ou'
@
um eolapso, ou: A abei'tura tornou-se irreversÍt,el, ou: ...)
,AnD3 r ÂCAtt

iornal
L?o:iBêlo'cit '

Jcrnal Folha de S.Pau1o. Cp.Cit.


2? /oe /te,31

BATEeoftÂÇn0
§#ÚDEJOAOI

ÂMrfl0 D(§ r.1:r.;0s 00 pÍno m pã s.f,rÍtt

Jornal Folha de S. paulo Cp . Cl-t .


27 /Oe /te1t
I
r I
t
I tretanto, nenhuma palavra 'e dita sobre seus correlatos psicolôgi-
t cos. Estes ficaram subentendidos, ou melhor, inconscientes; estão
t atê escritos r mas não revelados.
I
I guerer fazer uma análise psicológica do presi-
Sem
I dente em guestão, não podemos deixar de relacionar certos dados de
I entrevistas que deu com a evolução de sua doença. Em L9/LL/L980, an
T
tes mesmo de qualquer sintoma cardÍaco, declara aos jornalistas (ao
t comentar sobre a cirurgia cardÍaca a que o então Ministro do Exér
I cito Vüaldir Pires iria se submeter) : " Eu me-ámo e,Stou todo entup
t d.o" 10. Uma sensação psicológica que é somatizada no infarto, um
T
^- após. Ao deixar a ClÍnica de Cleve1and (EUA) , onde se tratou,
mês
T
declara textualmente gue preferia ter outros infartos e voltar (pa
T
ra os EUA) , do que enfrentar mais " tttombadaa na vída poliÍica e pL^
t Áoal" ll. Um desejo gue, conscientemente ou não, realiza-se, pois
T
para 1á volta mais duas vezes, a úItima em 1983, para a cirurgia
I j á mencionad.a.
I
I Orações, festas e missas são realizadas no seu re-
T
torno, após a cirurgia em agosto de 1983. O povo ê incentivado a
T 12. "slograns" esparham-se pelo pa-
"fteeeben o João com a eo,Laçã0"
t Ís, numa tentativa de " amolecer" o coração do povo , " pltta, moátnat
T
que Bn-atít-ia não eídade dttía". 'tBatz Conação. Saí,de Joãol"ê
6. umA
I o selo da "Associação dos Amigos do Peito do Presidente" gue se es
t palha pelo paÍs 13. o= campanhas tentam criar uma ligação afetiva
t entre o coração ferido do presidente e o calor solidário do povo.
t Parece que a "quebra" do coração duro, ililitar e entupido criou g
t ma esperança de transformação, de "amolecimento" das atitudes rí-
t
gidas e frias. Afinal, o presidente também tinha coração!
I
t
I
O Instituto do Coração do Hospital das C1Ínicas de

São Paulo (rNCoR), onde o presidente periodicamente se submetia a


exames de controle, passou a ser um lugar central no paÍs. Para 1á
começaram a se deslocar o presidente e boa parte dos personagens
politicos em busca de diagnóstico e tratamento. o poder polÍtiopa
recia doente do coração.

Mas Figueiredo não ê o primeiro entre os presiden-


tes. Em 1955, o presidente Cafê Filhor êo se internar com proble-
mas cardÍacos ê deposto no " contra-grolpe " de Teixeira Lott
14. Em
1959, é a vez d.e Juscelino Kubitschek e, rnais tarrde, João Gourar t 15 .

Recentemente, morre de ataque cardíaco o novo minis


tro argentino da Economia, Miguel Roig, exatamente no momento de
enorme tensão, quando tentava um acordo entre trabalhadores e em-
presários para tirar a Argentina d.a crise 16 .

Sarney, durante seu mandato, visita várias vezes o

INCOR para exames de rotina ou devido a crises hipertensivas. Em

janeiro de 1989, ê noticiada mais crise, desta vez motivada


uma

"por excesso de nervosismo". Sarney se aborreceu prfurcipal:rente com


dois episódios, discussão com um general e com a notícia de que seu
filho havia se envolvido numa brígal7 .

o coração estã tão presente na vida poIÍtica do pa-


Ís que ê chamado, por alguns , de " v ell,to adv endã.nío do t po Lítíco
^'t.
Para dar um exemplo: durante os trabalhos da constituinte, vários
parlamentares tiveram problemas cardÍacos, chegando um deles a fe
lecer, o Senador Antonio Faria. O funcionamento da Assemblêia so-
!r 10
al
;l
freu abalos causados pelos corações do Presidente do PMDB, UIys-
J,
ses Guimarães, do senador Mário Covas e do presidente do Senado tlrn
- berto Lucena, entre outros 18.
rl
;
EstatÍsticas alarmantes colocam hoje as doenças car
;
diovasculares como responsáveis pelo maior número de mortes no pa
! Ís. Estima-se que 30? delas sejam decorrentes de infarto, aciden-
!
tes vasculares e cerebrais e outros problemas ligados ao sistema
a circulatório. Segrundo o Ministório da Saúde, morrem no Brasil cel
2 ca de 240 mil pessoas, anualmenter êIIt decorrência de problemascer
tt dÍacos. O coração mata mais do que o câncer e mais do gue aciden-
tt tes de trãnsito 19. Nos EUA, 558 de todas as mortes são devidas a
t doenças cardiovasculares, porcentagem que aumentou de 202 r rIê dé-
B
cada de L920, até se estabilLzar em torno de 55t a partir dos arps
!t cinqüenta t .
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ã
ã
As estatísticas americanas revelam tambêm que a f"]
TI
ta de companhia humana, a morte súbita de uma pessoa amada e a sg
!t lidão crônica são fatores significativos na ocorrência destas do-
a enças. A mortalidade r Írêste caso , 'e de 2 a 5 vezes maior para di-
IT
vorciados, viúvos e solitãrios do gue para a população em geral 2l .

ã
J. Linch, após grande levantamento de pesguisas mé-
I dicas, mostra que a falta de relações sociais Íntimas pode levar
|r ao desenvolvimento de arteriosclerose e morte súbita (devido a in
It farto do miocárdio) . Sua tese ê que solidão e isolamento podem Ii
!
teralmente quebrar o coração, isto é, gue a ausência de contatohu
ã
mano amoroso signific 'tivo leva ã depressão e sensação de abando-
IT
Íror gue são, por sua vez, fatores de alto risco no desenvolvimen-
t to das doenças cardÍ u"ur22.
rI
II
T
I
I 11

I
Um dos estudos mais clássicos sobre o assunto é o re
T
I alizado por It[. Friedman e R. Rosenm€ln. Inicialmente, estes pesqur
sadores identificaram dois traços de personalidade A e B que se cor
I
T
relacionavam Gn o apa:recfurento da doença cardíaca. O tipo A teria

T
traços mais agressivos, sempre envolvido com uma luta crônica ein
cessante para vencer e superar a tudo e a todos e sofreria o que
T

I foi designado por hostilidade e pressa doentia. Descobriram tam-


I b6m que este tipo tende a desenvolver arteriosclerose prematura-
mente e que é muito mais sujeito ã morte súbita do gue aqueles que
I
têm o traço B, que seriam pessoas menos agressivas e mais coopera
T

I tivas. O tipo A tem maior dificuldade de relacionamento social e


t tende a um certo isolamento, envolvendr-'-se mais em conflitos ebri

I gas. Atualmente, estes estudos centram-se na pesquisa da correla-


I ção entre o d,esenvolvimento da doença cardÍaca e pessoas que pos-
suem uma " a,náízdade prLo dund,a e crLõníca" 23 ,
I
T

I D. Omish fala da "persona" rÍgida e defensiva gue


I tem gue ser mantida a todo custo em seus pacientes cardÍacos 21 ,
"
I R. Itilliams usa o termo "cinismo", como uma tendência a uma atitu
d,e de desconfiança indiscriminada, relacionamentos mais hostÍs e
T
25
t maior probabilidade de disfunções cardÍa .
"u=
I
I Embora estas pesguisas não tenham um enfogue psico-
Â
t dinãmico, elas nos ajudam a dar embasamento a uma reflexão mais

I profunda.

I
T
Em comum a todas as observações e estudos relatados,
I temos que as dis funções cardiacas associErm-se :

I I. ao estresse, gualquer gue seja sua fontel ê â di


I
T
I
L2
I
t ficuldade de lidar com ele;
a
2. aos sentimentos de: solidão, depressão, abandono
a e isolamento i e
a 3. a traços de personalidade, tais como: hostilida-
, de, pressa doentia, cinismo e ansiedade difusa.
,
ll Se prestarmos atenção ãs estatÍsticas, ã fala e ao
ll comportamento dos cardÍacos, iremos observar que esta doença não é
I só uma manifestação de uma disfunção orgânica, mas gue em muitos
1l casos e1a é uma disfunção no organismo como um todo. Sua manifes-
t tação surge tanto no nivel psÍguico guanto orgânico. PoderÍamos a
II qui perguntar que disfunção é esta que aparece tanto no corpo guan
I to na psique; ê como os fatores emocionais relatados podem se as-
t sociar ã doença cardÍaca.
I
I Entretanto, para responder a estas questões, outras
t a elas se antepõem: haverj-a uma relação entre as assim chamadas
I doenças orgânicas e as significações psicológicas atribuÍdas ao óL
t gão envolvido ou ao sintoma apresentado? Haveria alguma relação e3
t tre o coração da arte, da música, da poesia, da religião e o cora
t ção do corpo, do médico e da doença?
I
t Sob qual paradigma poderÍamos observar a relação da
t psique com o corpo e mais especificamente com o coração?
I
t O próximo capÍtulo é uma tentativa de desenvolver trn
I modelo de reflexão sobre a relação psigue-corpo e sobre o entendi
I mento da doença como um todo, dentro do enfoque da psicologia ana
|I rÍtica.
I
I
t
13

CAP ruLo

Doruçe como REpnrsrnreçÃo Sr,r,rsótlcA - UttA AsoRDeGEM Auar-ÍTIcA


t
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E L4

f,
tt- ?|ENçAc0$0 REPRESEÂJrAçÃ0 SIÍ'{B0| tCA - U$A AB?ROAcEil AtA[ÍrtCA,
f,
f,
f No estudo do complexo fenômeno da interrelação men-
f, te-corpo e da psicossomática, observamos gue até crto tsreo atrás,
E a pesquisa nesta ãrea tinha quase que exclusivamente se limitado
f, a seguir um modelo de psicologia redutivista, derivada de uma vi-
TT sáo de ciência cartesiana e newtoniana. Agui a busca da causa e da
f, historicidade da doença eram o enfoque principal.
E
TT Entretanto, ã medida que nos percebemos rrun no:ndo glo
t balmente interconectado, onde os fenômenos biológicos, psicológi-
E cos, sociais e ambientais são interdependentes, sentimos a neces-
a sidade de um outro ponto de vista que não o causalista.
ã
a Para isso, vem se desenvolvendo na Psicologia ClÍni
ã ca uma abord.agem holista e simbóIica, tanto da saüde quanto dosdi
a ferentes mêtodos de tratamentor êrn harmonia com pontos de vista
a mais tradicionais, mas também consistente com teorias cientÍficas
1' modernas.
a
a Neste senLido, estudos inter-culturais têm sido mui
ã to úteis, não só por servirem de mod.elo, mas também por ampliarem
ã nossa perspecti va e ajud.arem a ver as idêias correntes acerca da
a doença e tratamento sob nova luz.
a
IT Assim, temos, por exemplo, inúmeras culturas onde a
a idéia central era d.e gue gualguer distúrbio orgânico ou mental se
. rl.

ã ria consegüência de uma relação imprópria com o divino.


a
a
ã
I
T
T 15

T
T No Antigo Testamento, a primeira referência ã doen-

T ça como punição aParece no caso de Mj-riam. Miriam critica seu ir-


T
mão Moiséspela escolha da mulher com guem este se casa (uma mu-
t ther etÍope). Deus, írado com a ofensa a seu representante, volta
I -se contra ela, deixando sua pele branca e d,oente (Iepra). Somen-
t te com sete dias de isolamento e arrependimento pôde l,Íj-riam curar
I
I -Se .

l
I A medicina de certos povos primitivos como a dos Íg
I d'ios norte-americanos 2 , dos africanos e indígenas brasileiros, como
I
também a medicina praticada nos rituais afro-brasileiros enfatj-za
I
basicamente a cura simb6lica cujo objetivo é criar uma sensação

I
de harmonia interna no paciente 3. Agui a manipulação dos símbolos
I
visa levar o doente de volta a suas origens mÍticas, ligar-se ao
I
mal dentro de si e provocar uma transformação, um renascimento.

: A cura acontecia e acontece através de rituais onde


a pintura de sÍmbolos mandálicos7 â dança e o canto eram e são os
elementos principais. A apresentação dos sÍmbolos para o doente e
voca na psigue a presença do divino e da força curad.ora que esta-
va em desequilÍbrio devido a alguma ofensa feita pelo doente a um
deus.

Claude Lévi-Strauss, num clássico artigo sobre xama


nismo, dá uma descrição detalhad,a de um complexo ritual de cura na
Amêrica Central, onde o xaman cura uma jovem doente invocando os
mitos culturais desta e usando o simbolismo apropriado, para aju-
dá-Ia a integrar a dor num tod,o signif icativo. uma vez que a paci
ente compreende sua Posição num contexto mais amplo; â cura acon-
T
r
r 16

I
tece 4.
I
t
I Gregos e Romanos praticavam a incubação, do::nirdo nos
tempros dos deuses à espera da cura de seus nnales, uma prática her
I
dada dos babilônios , cald,eus, egípcios e etruscos . para estes po-
t
I vosl o propósito de uma doençal o significado de uma perturbação,
era forçar o homem a se confrontar com sua desconecção com o divi
I
Dor a sacrificar suas aquisições exageradas e a se recolocar numa
I
relação apropriad'a, religando-se através do sof rimento ao serviço
1

dos deuses 5.
!

I
observamos gue todas as formas de cura simbõlica, i!
dependente da sociedade na gual existiam ou existem, tentam
I revar
I
o doente a suas origens mÍti-cas, manipurar o mar e cond.uzir o pa-
ciente ã morte e renascimento simbólicos.
;

o sÍmbolo, em geral, era e ê usado como eixo princi


pal para a cura, isto A, através dele o doente ligar-se-ia nova-
mente ã sua totalidade , a)udando com isso a restabelecer
a função
do órgão doentio- A doença era e ê vista como uma tentativa de
cor
reção ou punição do divino, para gue o homem possa novamente
en-
contrar-se consigo mesmo, com seu corpo e natureza, harmoniosamen
te.

objetivo era, portanto, não combater a doença di-


O
retamente, pois esta somente era um sinar de desarmonia, mas
sim,
restabelecer a ligação perdida com o divino, com a totalidade;
â-
travês do ritual e dos sÍmbolos.
!I
r L7
ll
t
Observamos, hoje, gue o homem e a Psicologia perde-
I
ram contato com a finalidade da doença, com a importãncia e valor
t
especiais desta 1 e com o papel central que os sÍmbolos têm de Ii-
T
gar a consciência ãs forças curadoras gue estão no indivÍduo mes-
t
mo. Nossa visão dicotomizada cinde o homem em duas metades, corpo
t
r -psigue, e tenta trabalhar com uma delas por vez como se a orrar.
não existisse. Como resultado , o homem passivo diante de seu so-
t
frimento fica no papel de vÍtima do acaso e, inconsciente dos fa-
I
tores que o levaram ao desequilíbrio, apela para soluções exter-
t
nas e artificiais.
I
t
A idéia do uso do sÍmbolo como elemento organizador
|I
e centralizador da psigue vemr ÍIâ era atual, ser retomada princi--
t
palmente com G. Groddeck e C. G. Jung.
I
I
Ambos trabalharam numa tentativa de dessrr,olver prin-
I
cipalmente uma nova percepção e compreensão da psique, onde o des
t
vio da normalidade ê visto como uma tentativa de correção, trnr par
t
te da psigue, de uma atitude unilateral da consciência.
t
r
Para Groddeck, considerado por muitos o pai da Medi
I
cina Psicossomática, o homem é função de uma força misteriosa gue
I
se expressa através dele tanto pela saúde como pela doenç u 6 .
I
I
Segundo este pesquj-sador, tanto a poesia, a a:ter co
I
mo a doença são criações, são formas de auto-expressão ( re trazem
r
para o homem a linguagem de uma força misteriosa. Para eIe, a do-
T
ença não existe como entidade. Ela existe somente como expressão
T
T
da totalidade do homem, como expressão do t'itrt (id).

I
I
II
I

T
I8
T
T
" PAtta aquele que, como zu, vA na do ença uma
I mani dz,s tação de v ida , ela não 6- maít uma *-
t nímíga. Não Lhe o co rüLe querLerL combatô.- I-a ,
t tenÍatt curLã,-La e, vou maia Longe, zlenãoa
tn-ata me-^mo . Pana mím , E zrtía tao abaundo que
, neft tnatan uma doença eomo me Q-^óotLçz.r1 em
t eonnígin algu6-m de ,se-u humott tn-an^c,Lev zndo
I to dad o,^ ,s ul-,s p Q-queno,^ maLdad ed em tanto d
-
prLo p6 d ít o a amã.v eí,s em L-he co n^ ultan . 0 eá -
I ^
de que co nL tatzí que a do znça 6. uma. cftía-
T ção do do ente , zl-a á e Ío rtno u parLa mím o m eL
, mo quz óeu andan, áeu modo de dalan, teu jo
go dítíonômíco, o,s geátod de mãot, o
I ^ua^
deaenho de que õ. auton, a, ca,,sa quecoyt^tÁúJr,
, o negõ eío que óeeho u o u o curLá o dot áe!Á p zn
IJ um aÍmbolo tígní(ícatívo daa po-
^amento^:
tô-neíaa que o ,Lzg em e que prLo cuttanzí indt-u
T
eneían, á L ! ul-gan necea dãnío . Não ned ta dí
I vída de que eôtat eníaçõed do íd, que co^-
, tumamo chaman de do ença.Á , áão , Q-gundo a,^
^ ^
eíncundtãncíaa , íneômo daa parLa o á e-u ettía
,
don e parla 06 áeuô damilíalLeô, Maá, ,Le-co-
I nhzçq,ma^, uma voz eát,Lídente ou uma Letna
I íLegív eL po dem, íguaLme-nte, E erl ínauporLtA-
v eíd parLa o á erL humo.no e á eu pn6 ximo , aá -
I 6ím como , uma. ca,á a mal- co nÁ tnuída tem tan-
T ta necedaídade de E en ,Leóotmada como um pul
I mão indl-amado , po fr exemplo . D e mo do que, dz

t dínítív a,mente , não l,Lã. nenhuma díó e,Lença eL


tne a. do znça e- a ma,neín"a de dalan, eá c,Lev zrL
T ou con,stnuiL." 7

I
I Cura seria interpretar corretamente o que essa tote
I lidade estã tentando expressar através dos sintomas e ensinã-la um
T modo menos doloroso de auto-expressão. O papel do psicôIogo e o do
I mêdico seria o de catalisador, de facilitador deste processo.
I
I

1
ã
!I 19

rt
lU com c- G- Jung
a psicorogia devolve o conceito d"
=fo
,
bo1o, aPlicando-o tanto na compreensão dos fenômenos psicológicos

t profundos :omo na prãtica psicoterápica. A doença, com este pes-

,
guisadorr pâssâ a ser vista como uma representação simbóIica no pro

t cesso de desenvolvimento e de individuação.

t
T Principalmente três conceitos fundamentam esta abor
dagem:
T
I r. A intermediação de um terceiro fator na relação
!T
psigue-corpo
!T
2. A sincronicidade
I 3- o mecanismo de compensação e a abordagem finalis
ta.
t
t 2.1 0 teteeíno {atot na nelação psique-col.po
I
A primeira referência ã relação psigue-cori,,o7 Írâ p=i
T
cologia AnalÍtica, segundo c. À. !íeier, encontra-se na teoria dos
I complexos I - sem düvida7 â conexão entre alterações fisiológic.
, s,
medidas através do polÍgrafo e estÍmulos emocionais estabelece
I u-
ma relação direta e ineguÍvoca entre psigue e corpo, tendo como ba
T
se o complexo.
t
T
Desta forma, c. G. J,'g, já em 1906, inicia uma
I a_
bordagem psicossomãtica dos comportamentos emocionais.
I
t
Embora não tenha se aprofundado nesta guestão, dei-
I
xa claro na definição de comprexo e ego gue cada emoção é acompa-
I
nhada de mudanças corporais z " compl-exo,, , cliz ele ,,õ Semp1e
I , uma co
Lzção de vã'níad íd6-íad , mantídad ! untad po,L um tom emocío
I na1 comwn

I
I)
t
t 20

t
t a. todal." 9 "... o tígni|ícado d,o'ugo 6. p^ícoLogicamente um com-
pLexo dz ímagínaçõ za mantída,s j unta,s z dixadaa po,L impttz,s tõ ea I co
I
t e.nQ.^t6.tíeaa ... 0 tom emoeíonaL dod complexod í- ba-
^ect^nd-attío,s
aeado ,sobne ímptte-,s,5õe^ eoenz^t6.8ícaa e, at-õ.m díaao, tanto o com-
t
,
plexo do zgo quanto o ,secundã,nío podem tzmpottaníamzntz ,LeprLi-
^uL
mídod ou eínd,íd.o,s." l0
t
I
Se entendermos aqui coenestésico como a totalidade
t
I
das sensações gue se originam dos órgãos corporais, através do qual

I se percebe seu próprio corpo, então, a base do complexo egóico e


I
do secundário ê o corpo,
I
I
Sem nos determos na teoria da gênese do complexo e-

I góico, observamos que Jungr êIn diferentes obras, coloca o ego co-
I
mo originário do SeI.f, da totalidade arquetÍpica:

I " 0 eg o , com o ntei.do e^ p ecí díeo da co ná -


LLm co
cíô.neía, não 6. um daÍon aímpLed ou elemen-
I
tat, ma| compLexo , e como taL , não po de E e-rL
I det cníto Q.xauátívamente. A experLiô-ncia moá -
I
tna quL ele eá tA a o bne duad b ad ed aparLente-
mente dídtínta^: a aomã,tíca e a paíquíca. A
I
bad e oml"tíea 6. ín{ ettída da to taLídade daa
^
I pe-rLcep çõ za endo L I omã"Ííc&^t' (conscientes e in

I
conscientes) . ll
I

I
A base psicológica correspondente z " de um Lado o cay
I
po ÍotaL da conácíi-neía e do outno a. Áoma. totaL doa conteídoa ín-
12
I
co ná cíent.e^" . Base esta estendida aos arguétipos em geral z " 0^

I
arLquí-tipoô e zxprLQ-,sáam de um Lado na, experLiõ-neía corLpo nal z , dz
^
o utto , zfr ímag znd arLqueÍípícaá .
t' 13
I

I
I
í."rà
I
I
SP i]
2L

Assim, guando um determinado complexo se onstelarnão


.--
hâ sÕ uma alteração no nivel fisiológico, mas tambêm em toda a es
trutura corporal, alteração que pode ou não ser percebida pelo il
divíduo. Nesta situação poder-se-ia sentir, por exemplo, um enor-
me cansaço, um sono súbito ou a sensação de ter o corpo moÍdor rnê
chucado, atê despedaçado.

A percepção destas arterações levou ã idéia de que


todo complexor inclusive o complexo egóico, Lraz consigo umpadrão
especifico de imagens corporais e tensões musculares. A imagemque
<l at

tenho de meu corpo faz parte do complexo do egor âssim como todas
as sensações coenestésicas presentes na minha consciência, forman
do neste momento uma estrutura coerente e relativamente estável.

A fo:mação desta imagem não é somente resultante de


experiências pessoais, mas baseia-se inclusive sobre a imagem de
um Corpo Divino.

A reração ego-self tem tambêm uma corporeidade. A i


magem do corpo do Self ê um sÍmbolo, uma imagem arquetÍpica sobre
a gual se forma a imagem do corpo humano. A imagem do corpo do Self
é aguela do Corpo Objetivo, representada pela imagem do corpo de
Deus 7 ê gual por sua vez varia de acordo com a consciência coleti

va de determinada época e cultura.

Assim, a relação ego-Self em d.iferentes culturas pl3»


jeta-se sobre a relação do corpo humano com o corpo de Deus. En.I
gumas doutrinas, tais como no Tantra Yogar Íro TaoÍsmor no Budismo
e no Espiritismo esta relação acontece atrav6s do que se ctrarptr de
corpo sutil.
T
I-
22
,
,
Na doutrina do Tantra Yogal o corpo sutil 'e um con-
,
junto de serpentes energéticas que fluem atravês de canais de e-
,
nergia (Clnalznad) , em forma de roda ou Iótus. Estes centros, tam-
t
bém considerados mandalas, diferenciam-se pela complexidade de sg
,
I- as formas e funções, começando o primeiro na base da pêlvis até o
14
sêtÍmo r rro topo da cabeça .
t
I
decorrência da dificuldade de objetivá-lo, outras
Em
I
doutrinas o colocam como um conjunto de meridianos passand,o pelo
T
corpo.
t
t Na medicina tibetana e na chinesa a energia passa por
t
inúmeros meridianos, formando um tipo de rede invisÍvel de luz
t e

força 15 . Tambêm chamado de corpo etérico no esoterismo, sua fun-


I
t ção ê vitali zar o corpo físico e integrá-to no sistema maior ex-
terno (côsmico) . " Ao Longo dedÍ.ad Línhar de e-nerLgía, aá óonçat e6t
t 16
míeaa dluzm , como o d\uí naá v eíat e ant6-níat" .
I ^angue-
t
todas estas doutrinas, a concepção do conceito
I Em de

corpo sutil é decorrente da concepção mitológica da gênese do mun


T
do e do homem e da percepção da manifestação da energia nos nÍveis
t
fisiológico e mental, levando ã formação da consciência.
t
T
No Tantra, cad,a um dos centros de energia tem f un-
I
t ções especÍficas e podem ser "abertos" para que mais energia seja
recebida. Segundo Aval.on, estes centros, "... quando plenamentedq
t
pela e,Lpente de óo g o I KundaLiníl , Lev am à co n^ cíô-neía óí-
t petLtoá
^
dica a cluat-ídade ínetente do eentno attnal A clual eLe corüLe.ápon-
T
d.e" 17 . Assim, por exemplo, a Kundalinir âo entrar no centro astr-aI
t
(chatzna) correspondente ã gargantâ, desperta o poder de 'ouvir",
t
t
Il
!l 23

a
"ele ouve vozeá que dazzm toda e^p-ecíe d,e luge,stõea a. e-l_e,, ,r. o*.
í
corresponderia, na linguagem analitica, provavelmenter âo desen-
T
volvimento da intuição.
a
!l
I Idéias semelhantes encontramos na descrição da for-
mação do corpo em certas crenças pré-cientificas, descritas
I 19
;nr G.
t Eaton - Eaton resume estas concepções com a idéia d,e que paraos
muçulmanos e hindus o corpo seria como um envelope (Kodha:
I uma ca
mada externa de vestimenta do
I espÍrito). Outra imagem gue usa é d.o
espÍrito como um raio verticalr Çuê atinge um plano lprizontaL (cor
T
I Po), provocando um processo de cristaLízação no ponto onde o ver-
t tical e o horizontal se interceptam. Para reali zar seu potenci-al,
T
este raio reguer instrumentos do material do plano no gual ele pe
T
netrou e seu ato de auto-expressão ê necessariamente restrito pe-

T
las limitações deste material. Nesta imagem a dicotomia corpo-ps]
gue ê ultrapassad'a: um não determina o outrol o externo
T corpo
t horizontal expressa o interno espÍrito vertical e vice-versa,
I num processo de transformação mútua.

t
l Na doutrina hindu dos Ko d, ,, o á env eLo peá que v e^
hat
tem a nudez do et pÍnít.o aão tanto ptíquíco d cluanto 20
t día ico á,, .
I
I Neste ponto os extremos se encontram. o eixo ego_
1
-se1f ê estaberecido nas intersecções entre uma guaridade univer-
I
sal e espiritual, Por exemplo a de ouvir (no rslam um dos nomes de
Deus ê "Aguele gue ouve" ) , com a capacidade psicofÍsj-ca
I do homem
de ouvir' o serf (Deus) se manifestaria no corpo, formando
I a cons
I
ciência e o egol ê ao mesmo tempo seria por eles transformado.
I

i
a 24
T
a
Cada centro desperto provocaria novas sensações e i
a
magens recebidas pela consciência gue podem ser incorporadas ao e
a
go. O desenvolvimento do ego dependeria, em parte, de sua capaci-
a
dad,e de absorver estas inf ormações, imagens e alterações f isioló-
a
gicas, coordenando-as significativamente, e formando um eixo com
a
sua totalidade. Quanto mais o ego tiver capacidade para taI, mais
a
e1e espelhará o SeI-f , isto 'e, mais conteúdos arquetÍpicos poderão
t ser integrados na consciência.
I
,
Neste sentido, o complexo secundário poderia ser vig
s
to este processo 2I . D.rrdo continuidade ã
como um tumor que desvia
s
imagem recolhida por Eaton, a energia vertical na presença de um
l,
tumor-complexo não teria passagem livre e sofreria um desrrio ou f i
s
7l caria blogueada, sem gue o ego tomasse conhecimento. Este ponto de
fixação poderia ser registrado pelo ego atravês do aparecimento de
t
um sÍmbolo fisiológico e/ou eidêtico, por exemplo, uma ansiedade
,
difusa, pressão no peito, falta de ar junto com a sensação de se
s
estar Freso.
,
s
Na Psicologia analÍtica o conceito de corpo sutil foi
e
utilízado por vários autores, entre eles: Jung, Meier, Schwartz-
e
s -Salant e lfindel.l como base da discussão da relação psique-corpo.
t
,
üungr no seu estudo sobre Psicologia e A1quimia, co

e loca que o resultado do opus alquÍmico não deve ser procurado nem

t no corpo nem na psigue, mas sim


l,
1 ". . . num campo íntenmedíãtío , entttz a mentz e
a mat6-nía, idto 6., num campo pôíquico de co,L
;
t
s
I
T
25
I
T
por Autí^ , cui a carLt.ctetí,stíea A manídettan-
! -^e tanto na (onma mental como matzníal. 0b-
I víament.e, a exíttô,ncía deatz ca.mpo íntenmedi
I ã,nío ce,sla abnupta,ment e, fro momznto que tzn-
tanmod ínvettígatt a mat6-nia nela me-^ma e po,L
I Lí metnd, ã pante de Íodas 0Á pnoizçõe,a, z perLml.
I ne-ee não - exít tent.e enquant o acrLedítanmo á quz
t d ab em o 6 cluaLcluQ-rL e o ít a co nclut Lv a entttz mat6.
ttía z p,,síc1ue. l,lal , fro mome-nt.o em quL o dídí-
t co to ea ' negíõ ea v íng ená ? ínaLeançã.v zía ' e
I cguando o páíco L6 gíco admítQ- a.o mzÁmo tempo quz
T lLã. outnat donmat de vída pdíquíea al6.m dat a
c1uít íçõ ea da co n6 cLi-ncía p z^ t o aL , Ln ouÍÁ-aÁ pa
t Lav naa , cluando a pa íco Lo g ía to ea a 8.^ cutLídão
I ímpenztnã,v eL, então o ca-mpo íntQ-,Lmedíã,nío do,s
I corLpoÁ dutíl ,Le^6utLge nova,me-nte e o {íaíco e-

o ptíquíco tão maía umt v e-z mít tunado t numa


I unídadz indít t o t-ív e-L" 22 .
!
t Jung desenvolve essas idéias baseando-se principal-
T
mente em Paracelso e usarna sua obra, corpo sutil, corpo pneumáti
I cor corpo-respiração, corpo-interno e corLpu6 glottí{ícatíut GIID sÍ
I nônimos relativos. CottpuÁ glottídíeatíua 'e aguele que sobrevive na
I ressurreição como forma de renasciment o23. Corpo ou alma-respira-
I
ção (bneath-aou.L) -e algo imaterial, sua caracterÍstica principal
I 'e animar e ser animado e representa, portanto , a princÍpio da vi-
I -24
da
I
I O corpo sutil também se confunde com o inconsciente
I somático. Nos seminários sobre Nietzsche, Jung afirma que o ilcons
I ciente só pode ser experimentado no corpo e gue este ê exclusiva-
I mente a manifestação externa do Si Mesmo 25 .
I
I
I
I
I
I 26
T
I a teori a do corpo suti I , cons idera
DíeÍer r rê tomando
gue embora não possa ser testada experimentalmenter rlo momento, é
T
nela que encontramos a solução para as dificuldades da relação ps1
I co-fÍsica. O corpo sutil seria um terceiro fator, maior que o cor
I po e maior gue a psique , e responsável pela formação de sintomas
t ,26
em amDos
I
t tÍindel-I- desenvolve a partir destes conceitos um no-
I vo termo: o corpo onÍrico (dneambodq) . Para ele , a existência do
I corpo onÍrico pode ser somente verificada através de seus efeitos
I no mundo "real". O corpo onÍrico provoca um campo de sensações, fo=
t mado de percepções de alta intensidade, limitadas pelo tempo e es
T
paço. O movimento e a dança, pof, exemplo, seriam formas de experi
t mentar este campor ou melhor, formas de experimentar o não-ego, dei
I
xando que o Si Mesmo dirija a movimentação. O corpo onirico pode
t também ser visto como " LLm eon junto de víttíeed de enettgía manti-
T 27
d,o a j unto a pela perL6 o naLídade to tal. "
r
t a relação entre o corpo sutil
Mi-ndeI.I. considera que
T
e o corpo real é dada pelo corpo onÍrico, pois tanto um como o ou
r tro são aspectos do corpo onÍrico. A percepção do corpo onÍrico,
r por sua vez, depende de seu modo de expressão; algumas vezes ele
T
pode aparecer como movimento, como sensação, como sonho, fantasia
I ou acidente, podendo o processo oscilar de uma manifestação mais
I
concreta para uma mais abstrata. O trabalho psicoterapêutico leva
T
ria a uma confluência entre o corpo real e o corpo onÍrico, pois
I
este aproximar-se-ia cada vez mais do corpo real, emergindo ambos
T
na criação da personalidade 28.
I
r
I
t
!I
r
r 27
I
I conceito semelhante desenvolve sand,ner ao descrever
T o corpo subjetivo como o arguétipo através do
qual a psi.gue inflg
T
encia o corpo objetivo (real) e vice-versa. o
corpo subjetivo se-
t ria a representação na psigue das emoções e d,a
sexualidade e sua
t j-magem seria altamente
simbólica .
29

T corpo sutil,corpo pneumático, inconsciente somáti_


cor corpo onÍrico e corpo subjetivo são todos
T conceitos que se re
ferem a trm terceiro fator gue transcend.e
t a dicotomia corpo-psique:
I o sÍmbolo.
I

I Este corpo do gual os autores falam ê expressão


d-
arquétÍpo do homem original, de seu esguema
I corporal, mnp diz Neu-
30' e ê seu
i ^^ corpo simb6lico, como d,ízc. Byington: ,,0
corLpo^4y
b6t'íco e o coniunto d'e aígnídícadod páieoL\sicoá
I
do corLpo áomã.ti-
:
co" 3l.

Para Byington o corpo participa d,a psique


atrarÉs dos
sÍmbolos estruturantes gue expressam as
suas particularidades. A
assÍmetrj_a e a polarj-dade dentro_fora,
entre outros, são aspectos
do corpo simb6lico gue estruturam a consciênci-a
dando-lhe forma e
limites ' o corPo simbólico pode ser vivido
passiva ou ativamente.
Quando é constelado passivamente temos a formação
de sintomas e o
surgimento das f antasias r por exemplo,
guando vi-vido ativamente
temos o estabelecimento de uma relação
com o sÍmbolo emergente, in
tegrando-o na consciência 32. co* esta conceituação
resgata-se o sim
bolo como o terceiro fator na poraridade
mente_corpo.

A percepção da relação psigue-corpo


é feita através
T
I 28
t
a
da percepção das alterações fisiológicas e das imagens referentes
T
a elas, que podem ou não ser sincrônicas.
I
I Na sua essência, essa relação ê representada pela i
r magem do corpo de Deus ou do corpo humano universal. Sobre ela ba
I seia-se inclusive a formação do ego, ã medida que logo ao nasce-
I rem os limites de tempo e espaço são estabelecidos pelos limites
I do corpo. O corpo limita toda e qualquer manifestação arquetÍpi-
I cêr fornecendo um quadro de referência básj-ca para a experiência
t . r
s LmDo
?r
Ir
.
ca .
T
t Aqui retomamos a idêia mÍtica do EspÍrito-erergia que
T
ao entrar no corpo the dá vida e 'e, ao mesmo tempo, por ele limi-
I tado e transformadoi ou a idéia do homem sendo criado ã imagem e
I semelhança de Deus e seu corpo sendo uma reprodução do corpo divi
I no. Neste contexto, o trabalho do homem seria o de aperfeiçoarseu
T
corpo para que possa cada vez com maior precisão ser um espelho do
I corpo total.
I
I Como cada cultura tem uma imagem de Deus, cada uma
T
vai propor isso ocorra. Se um praticante de Um
um caminho para que
t banda, durante um ritual, começa uma dança de alta rotatividade ao
I longo de um eixo vertical, até o ponto onde o movimento é feito au
T
tomaticamente, 'e porque e1e "sabe" que quando um determinado Ori-
t
xá se incorpora, a dança toma aguela forma. Quando o homem conse-
I gue deixar que um movimento impulsivo se f aça nele mesmo, isto 'e ,
T
que o instinto se manifeste sem repressão, o arguêtipo central ex
T
pressa-se corporalmente, por exemplo, re-ligando o homem ao seu
T
Centro. Toda a forma de movimento (da criança recêm-nascida até a
T
T
t
I
r
I 29

T
velhice) r que ê feita seguindo um i-mpulso, com um mÍnimo de parti
T
cipação voluntária, poderÍamos d,izer gue ê um movimento arguetÍpi
T
co e uma expressão da relação psique-corpo.
t
T
Na etapa matriarcal, onde a Grande Mãe é a figrura cen
I tral na estruturação da consciência, o corpo é basicamente fonte
t
de prazer. Em busca da Deusa-Mãe o homem entrega-se ao corpo. Na
I
dança 1 à' procura não ê pela perfeição, mas pelo prazer de soltar-
I
-se livremente e desse mod,o fundir-se com Ela. o sentimento de p1g
t
nitude é sentid'o guand,o se entra em harmonia com a natureza, guan
I
do a dança sintoníza os movimentos da Mãe. Na etapa patriarca-rr êr-
I
tretanto, a dança jã está em função d,a busca da perfej-ção. os mús
I
culos são torcidos e enrijecidos, adisciplinaé ametat ê a dor
I
reflete aquela do herói sacrificado. Deus agora ê sofrimento
I e o
encontro do homem com Ele se dá num corpo atlêtico, dj-sciplinado,
I
reprimido. Na etapa da alteridade, poderÍamos f arar de um @rpo
I su
til' como aparece na d'outrina do Tantra Yoga, orrle o prazer e a d,iscj-
plina se integram harmoniosamente, esperhados no amplexo
:
do casal
divino' Na fase cósmicâr ê dança de shiva, evocada em toda
a Ín-
di a , reproduz atravês de seus sacerdotes acluzLa que
" Et-e ( shiva )
dançou de aLzgnia cluando vídLumbnou a clíação neintegnad,a
no coá -
mo á ' sua dução ,LQ-prLeô enta 0, eáperLt. do d,ía em que to d,o o gní-
')Le-ptLo
v erl,s o tonnatt-,s e-'a uma. úniea Real-íd"ade,, 33, 31
.

o sÍmbolo emergente da reração espirito-matêria re-


veLar âssim7 ê etapa de desenvolvi-mento do indivÍduo e da
cultura
e sua interpretação depend,e d.e gue ponto de vista está sendo
ob-
servado o fenômerlo.
I
ll 30
!l
t A idêia expressa Jung ao d.izer gue " ESpírVí-to e
mesma
a
mat6.nía podem bem EerL (onma,s de um íníco e meômo Sen Ttanôcenden-
t ta!-. A ítníca nzaLídade ímediata 6- a" n-eat-ídade- pdíquíea do a co nteít
a
dor eon^cízntea, euL aã0, como o (onam, LotuLadoa como umA ottígem
t 35
edpíttítual ou matzníal dependend.o de quel ten|w ai.do ^ua, o,Ligem." o
't imagem deste Ser Transcendental varia com o local e a êpoca; IItâs
t
é sempre a expressão do arquétipo da totalidade, e portanto tam-
I
bêm 'e instintiva. À medida gue a imagem vai tomando forma, o sig-
tl
nificado do instinto que expressa também vai ficando cada vez mais
I
rt claro 36 . euanto mais formos capazes d,e clarif icar um símbolo mais
iremos compreender seu significado e mais conteüdos inconscientes
t
iremos integrar na consciência.
I
ã
2.2 SínctonLeíd'ade
T
I O ego para manter sua integridade e saúde não pode
I se identificar nem com o pôto orgânicor nem com o póIo eidético,
t abstrato, mas sim tem que esforçar-se para perceber os dois simul
|I taneamente 37. Não pode se identificar nem com o corpo scnrátio, "re
T ê1", nem com o corpo sutil, "subjetivo", pois cada um destes fenQ
t menos refere-se a um segrmento da realidade e sua captação depen-

T de, como já foi dito, da etapa de desenvolvimento do eç[o.


t
T Umafalta de vitalidade e disposição para o traba-
T tho ê um tipo de anemia gue pode ser vista tanto como uma altera-
t ção no nÍveI das hemoglobinas, como uma alteração no nÍvel da e-
t nergia vital. Enguanto o mêdico pode detectar um baixo nÍvel no n!
, mero de hemácias no sangue, o psicôlogo detecta um complexo pater
t no negativor destruidor, guê cria apatia e inibição, por exemplo.
t Entretanto , a anemia sentida pelo paciente como sensação de fra-
I queza, desinteresse pela vida e dese j o de morte ê o sÍmbolo cÍue re
t
t
t
t 31

T
vela uma disfunção em diferentes nÍveis. A anemia, neste caso, pe
I
de ser percebida por um lado como um dinamismo fisiológico pertur
T
bado e, por outro, ela entra na consciência como imagemr sêf,LSações
I
e f antasÍas 7 s j-multaneamente. Neste sentido não temos porque im-
t
por um raciocÍnio unicamente causal, pois não há obrigatoriamente
T
uma relação de causa e efeito entre estes fenômenos.
T

I
O conceito de sincronicidade está implÍcito nas i-
T
déias acima e hoje ê uti Lízado por vários analistas como Zíegl:er ,
!
l.íeier, Mindell e Iockhart no estudo das doenças psicossomáticas.
I
I
Sincronicidade refere-se ã existência de dois cu mais
I
fenõmenos ocorrendo ao mesmo tempo, sem relação de causa-efeito en
1

tre si, mas com relações de sÍgnificado.


I
I
com este conceito podemos melhor perceber que uma i.
I
magem não causa uma determinada sensação, nem gue uma d.eterminada
I
sensação leve ã formação de uma imagem. Mas que ambas são presen-
I
tes sÍmultaneamente no organismo, quer a consciência as perceba ou
I
não. Ã medida que psigue e corpo formam um par de opostos, sua re-
I

Iação não pode ser percebida somente como causa e efeito.


I

Os fenômenos da sincronicidade mostram que o nao-psi


I

quico pode se comportar como o somático, sem que haja qualguer re


I

lação causal entre eles. Este terceiro fator transcendente, que


I

de simbolo 3t
I
chamamos , guand.o na consciência revela que a ,,ptíc1ue
e a mat'ertía tão a^pectot díóe,Lentea d,e uma. 6,níca e mq.áma coito" 39.
t
I
32
a
a
2 . 3 Oo ença como llecan LôÁo d,e Compentaçã.o llma Abonda-
a gem Fínalitta
a
Jung propõe a abordagem finalista junto com o mêto-
I
do da amplificação (sintético-construtivo) para melhor compreen-
a
dermos o fenômeno on:lrico.
I
T
PoderÍamos falar gue todo sonhor âssim como todo o
I
sÍmbolo, tem não só uma causa como também uma finalidade. A fina-
T
lidade de um sonho seria a de compensar uma atitude unilateral da
I
consciência. Por exemplo, uma paciente que sofria de "conátípaçãa
I
erLõ níca" ( s ic ) me procurou por não suportar mais sonhos repetiti-
I
vos de estar limpando excrementos de sua casa e de suas roupas.
T
Quanto mais limpava, mais suja ficava. Esta senhora, depois de ter
T
tido um filho, fechou-se num mundo assáptico, onde limpeza era a
t meta, procurando excluir tudo o que poderia ser sujo, inclusive a
I
vida sexual. Não compreendia pois a razão de seus sonhos, )'a que
t sua vida era dedicada exclusivamente ao bem e procurava onde ain-
t da poderia estar pecando, já que "eáÍava aendo punída todaaoa noí
T
teá".
I
t
à tentativa de eliminação da "sujeira" (da sombra),
I
o inconsciente reagia enviando-lhe todos os excrementos que esta-
r
vam no seu Íntimo reprj-midos. O inconsciente compensavar êssim di
r
rÍamos, sua atitude unilateral.
t
I
Se usarmos o mesmo raciocÍnio no campo das doenças,
r
uma ampla perspectiva se abre. A doença poderia também ser vista
T
como uma compensação a uma atitude unilateral da consciência. EIa
I
seria uma reação do organismo, uma compensação, com a finalidade
t
I
I
T
r
I 33

I
r de levar o individuo a integrar o reprimido na consciência.

T
Para zíegler, gue desenvolveu extensamente esta te-
I s€ r a compreensão de uma doença só vai ser completa
T quando deixar
mos o chão sóliao da medicina empÍrica, pois ,, a
t moátnado que eategotLíza,rL paÍologíad de acotLd.o com
experLíã-ncia tzm
I ença não
enÍíd.adea d,e dg
penmíte uma ap,Leeiação da d.ínãmíca mítua entnz aaíd.e
I e d'oença
no
10
^
(. - . I Pod.emot dat-att d.e imagena d.e d,o
T ença,^ e não de con^
ttuetod zmpín-íco^ o nde o^ tíntomaá dão mai,s ou meno^ j untad.od
I a,L-
bítnaníamente, na- baae da 6nec1üô.ncía eatatíatiea e,se poáaíveL
t rLe.

Laeíonadot a um agQ-ntz eauaaL panticttlAtt.,, 4l


T

I
! ziegrer considera, aind.a, guê acreditar gue a noção
de causalidade seja a única abordagem possÍve1 ê uma atitude
I de-
corrente de um desejo inflado e arroganteT ê que saúde
l só podeser
rearmente obtida, tanto no nÍvel pessoal guanto no
I nÍver coleti-
vor através da integração com a sombra .42
I

i
Doença seria assim uma expressão simbólica, uma for
ma do organismo expressar uma desarmonia entre,
I
por exempro, umde
sejo e uma resistência, entre um impulso e uma negação.
I o desejo
ce amar alguêm, junto com o medo das consegüências
deste amor, po
de aparecer no inÍcio sob a forma d.e pressão no peito
e falta de
ar ' Pressão no peito e f alta d.e ar reunidas
sob as sensações de :
tt
suf oco " , tt tensão tt 2 tt estresse tt , tt apri- sionamento,,
, ou sob a imagem
de um coração dilacerado. A continuidade d,este confrito,
como es-
tj-lo da vidar Do decorrer dos anosr pode levar a uma
sintomatolo-
gia mais orgânica e tambêm mais destrutiva. A dor
no peito pode
ser o primeiro sÍmbolo a chegar ã consciência, como a
merhor ex-
T
t
34
T
I pressão deste conflito e, ao mesmo tempo, é uma tentativa de cha-
T
mar a atenção do indivÍduo para sua realidade conflitiva e para
t o
desvio do ego da sua totalidade.
T
t 2.4 Conclutão
T
A bússo1a d.o ego em direção ã totalidad.e ê dada pe-
T
1o sÍmbolo. Um desvio de rota também ê revelado pelo sÍmbolo e rg
T
presentado, com freqüência, pelo sofrimento. IvÍasr êssim como o sím
t bolo aponta, pelo sofrimento envolvido 1 o erro, pela compreensão
t
de seu signif icado r êponta a correção a ser f eita, isto 'e , o que
t deve ser sacrificado. Entretanto, simplesmente pela forma com que
t um sÍmbolo se apresenta (doença ou saúde) não podemos dizer se e-
I
le aponta ã necessidade de uma correção ou se revela uma próxima
I
etapa a ser atingida no desenvolvimento normal. Em geral r âs in-
I
tenções se mesclam e de inÍcio a consciência indiscrimina.
T
t
seja mais prováveI gue doença seja expressão
I Embora
de um desvio, enquanto saúde seja expressão de crescimento, somen
I
te o equacionamento pessoal pode responder se uma dor no peito é
T
a melhor expressão simbólica de um d,eterminado conflito amoroso
I
ou se é a expressão de um novo conteúdo, gue precisa ser intecrra-
!
do na consciência (um de-integrad.o ) 43, conteúdo esse que não esta
T
va no inconsciente pessoal, nem aprisionado na sombra ou vincula-
T
do a um complexor mas sim pertencia ao inconsciente coletivo. po-
T
demos, entretanto, dizer que em ambas as situações o sintoma leva
T

I o indivÍduo a uma maior consciência corporal e pode reposicioná-


I -1o no processo de individuação. No caso de uma repressão , a doeg
T ça poderia ser necessária para a religação da consciência com sua
I totalidade, uma vez gue esta foi perdida ou lesada por processos
I
I
I
t
I 35

I
T de desajustes emocionais, desajustes estes decorrentes, em geral,
I da atuação de um complexo e/ou de uma perturbação no eixo ego-
I -SeIf.
T
I Retomamosr deste modor os antigos conhecimentos acu

T mulados por nossos ancestrais, sem nos reduzirmos a eles.

T
T A ofensa de Miriam a Deusr âo criticar seu irmãol\bi
T sés por ter escolhido como esposa uma mulher cusita (da Etiópia)
T custa-lhe literalmente a pele. PoderÍamos interpretar gue Miriam,
T ao não aceitar uma mulher de pele mais escura, foi atingida por u
T ma doença de pele, a leprar guê revela sua inflação e a situa nu-

I ma posição de humildade, ã medida que sua pele tãúém já não ê mais

I " perfeita" .

t
T Num nÍvel poderÍamos observar a "ofensa" como umde.s
I ligamento do eu de seu arquêtipo central (Deus) e que a ,'punição,,
I (doença) viria a recolocá-Ia na direção correta.

!
I Esta "ofensa", poderiamos dizer, seria decorrente de
I uma atitude unilateral da consciência (achar-se melhor do que as

I outras). E a reação a e1a seria o símbolo que pode ocorrer €nrc so


I nho, fantasia, compulsões, arte, tendência a acidentes e doenças,
I entre outros.
T

I paciente, ao reprimir toda a suj eira saiu do


Ivlinha

I rumo da totalidade, pois o todo inclui tanto o limpo guanto o su-

I jo. Os sonhos e o sintoma orgânico seriam uma tentativa de inclu-


T ir o sujo (a sombra) e reconduzir a paciente ao processo de indi-
t
I
lt
a
36
'l
t
t viduação.

!
t seu corpo se mostrava "constipado", isto ê, consti-
pação era o símbolo que expressava sua paralisação, sua falta de
I
t criatividade, seu bloqueio e negatividade de lidar com o lado "=g
jo" da vida. Ao desejar só a pureza, o impuro foi para o inconsci
I
t ente e passou a se revelar noturna e sombriamente. No corpor osiÍr

t toma ê o sÍmbolo que expressa esta unilateralidade, causad,a [pr um


ou vãrios complexos. Neste casol urn forte complexo materno negaLi
I
I vor vindo de uma mãe altamente rejeitadora. A paciente sentia que
seu corpo cheirava mal et portanto, evitava gue ele exalasse quaf
I
t quer odorr pêrê não ser ainda mais rejeitada. O sintoma tentava

t trazer ã tona a necessidade de lidar com seus od.ores e aceitá-Ios,


I a fim de trabalhar com a rejeição ao seu próprio corpo. A pacien-
I te, com essa repressão, mantinha um corpo "purot' e "limpo" com o
I intuito de evitar mais rejeição. o sintcma revelava a repressão,
I trazia a sujeira e tentava integrá-Ia na consciência.
T
t Atravês deste exemplo, podemos verificar gue o sin-
T
toma corporal é um sÍmbolo gue expressa uma dissociação e revela

t um caminho. Depende agora do ego se ele vai ser compreendido, is-

T
to -e, se vai the ser dado um significado ou se ele vai continuar
T
send,o visto como algo que tem que ser rapidamente eliminado. Esta
I eliminação, sem a consciência do signi-ficado, Eraz gma alta probg
I bllidade do sintoma reaparecer, como atestam os inúmeros casos re
I correntes de úlceras e doenças card.íacas, entre outros.
t
I A paciente em guestão, embora tenha feito toda espÉ
I cie de tratamentos no decorrer de vários anos, só teve sua "cons-
I
I
t
T
t 37

a
tipação" resolvida quando pôde dar um significado a eIa. Ouando per
a
cebeu gue ela revelava uma atitude unilateral, que revelava que
a
seu complexo egóico tinha se desenvolvido sob a inf Iuênc j-a de um
a
complexo materno negativo r o qual r rro seu caso, tinha-a levado a
I
uma escrupulosidade excessiva com limpeza e perfeição. O @rtr)o sim
I
bótico revelava esta dissociação e só com a integração da sujei-
T
ra (que no arquêtipo do Self, do corpo total está presente tanto
I
quanto a limpeza) ê que pôde realmente curar-se.
I
I
I Embora a compreensão final do significado de uma do
t ença-sÍmbolo s6 possa ser atingida através do diálogo do paciente

t com seus símbolosr o conhecimento da dimensão do Corpo Total (Cor


po d.e Deus, do Si Mesmo) com certeza pode nos mostrar a quantas ag
I
dam nossos desvios . . . Mas, como este conhecimento equivaleria ao
I
t conhecimento do universo, temos que nos contentar sempre com pe-
guenas aproximações.
I
)
I O mêtodo da amplificação possibilita a re-dimensio-
I nalização do corpo simbólico e nos leva em direção ã totalidad,e.

I Quanto mais ampliamos o conhecimento do conjunto de significad,os

t do corpo mais nos aproximamos da imagem do Corpo Divino, Tota1 ou


do Corpo do Homem Original.
I
t
I Neste contexto, definir saúde A sempre tomar um pog

, to de vista subjetj-vo, )á gue no SeI.f , tanto saúde quanto doença


I encontram-se igualmente presentes, como parte integrante da natu-

I reza. Saüde seria pois definida do ponto de vista do ego, guê ten
I ta se equilibrar entre estes d.ois estados a fim de não ser destru
I iao. Tanto saúde quanto doença poderiam ser vistas como represen-
I
I
T
I
I 38

I
tações simbólicas corporais d.a relação do ego com sua totalidade.
I
t
t Em sintese:

I 1- um sintoma corporal (doença) pode ser visto como


r expressão do corpo simbólico, isto -e, como sÍmbo
t Io que expressa a relação psique-corpo.
T Este sÍmbolo pode ser a expressão da necessidade
T de se integrar um conteúdo na consciência, ou por
T ter estado reprimido ou por ser um de-integrado.
T

t 2. Para se compreender o significado deste sÍmboro


T não basta a busca na causa, mas a pesguisa de sua
T
finalidade é imprescindÍvel. porgue e para quê se
t complementam, ampliando nosso conhecimento.
t
I 3. A amplifieação do significad.o reva à ampriaçãoda
I consciência e maior integração de conteúdos in-
l conscientes no ego, transformando a relação do e
t go com seu todo.
I
I 4- Esta amplificação pode se dar no níver individu-
I al e/ou coletivo. No nÍvel pessoal isso ocorre a
I través de objetivação do sintoma. No nÍveI cole-
I
tivo, pelo estudo comparativo de mitos, contos,
I
forclorêr arte e rerigião. As amplificações do
1
corpo simbólico nos aproximam cada vez mais da i
magem do Corpo Divino, do SeIf.
1

I
T

T
39
I
t
5. A coincj-dência do corpo simbôlico com o Corpo Di
t
vino 'e a meta idealizada, embora, desde o inÍcio,
!
saibamos ser inatingÍvel.
t
I
Usando a conceituação acima descrita, como paradig-
I
ma para o estudo do coração, faremos a seguir um estudo do simbo-
T
lismo deste órgão, primeiro no nÍve1 coletivo e a seguir no nÍvel
I
individual,
I
I
l
l
1

I
I
T

I
I
I
1

I
Il
rl
a 40

a
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II
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It CAPITULO
t
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,
T
,
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I
I
T
l
I
I
T
I 0 Str-rsor-tsmo Do Umn AmplrrrcaçÃo
t
I
T
Arte pa1eo1ítica.Betrato mais antigo conhecido do tipo raio X\:
Um lVamoth de uma caverna em E1 Pindal, Cviedo, Espanha, 15.COC 4.C., retratado corn

J- coração ao centra pintado ern vermelho.

J. lvlarj,nger. "Art (fSSS) ,p .e? i ; flg.85


ã
!r
4L
TI
II
It ltt 0 slfl80LIst{O O0 C0RÂÇÃ0: utlá.
^tt?LtFIcAçfr,O
!t
rt O estudo do simbolo do coração, como de qualquer og
t tro sÍmbolo, implica em duas vertentes: a individual e a coletiva.
IT
IT Sê, por um lado, o desenvolvimento simbóIico derj-va
!T das experiências pessoais, especÍficas aos acontecimentos ontoge-
E néticos , d.e outro lado , ele deriva de imagens e idêias unlversais,
E resultantes da sedimentação de toda a história da humanidade.
E
E Esta última vertente, a gue chamamos de polaridade
II arquetÍpica , 'e estudada atravês do mêtodo de amplificação, desen-
I -)
volvido por C. G. Jung. A amplificação utiliza-se do estudo de pa
E ralelos históricos, mitológicos e culturais, com o objetivo de aU
E pliar a consciência, colocando-a num contexto mais universal e,
I_9
portanto, mais humano.
E
E Na tentativa de responder ã questão: guais são as re
e presentações simbólicas que melhor correspondem ao dinamismo do cg
t ração, levantamos mitos e sÍmbolos de algumas culturas, onde este
t órgão tinha e/ou tem uma representação mais acentuad.a.
t
It
Observamos que a analogia entre estrutura e funções
t corporais com imagens do micro e macrocosmo já está presente tan-
e to no Antigo Testamento, guanto nas escritas de várias crrlüras an
)!
tigas.
)!
z As funções do corpo humano r os atributos da mente e
)_t
)-
z
42

suas qualidades foram personificados pelo homem do mundo antigo e

grandes representações foram construÍdas com base nesta temática.

corporal aparecia e aparece não


O uso do simbolismo
s6 nos rituais, como tar.bém na arquitetura e em todas as formas de
manifestações artÍsticas.

cultura e em cada êpoca ê dad,a una ênfase ma!


Em cada
or a um ou outro ôrgão, como se através da expressão simbóIicaor
poral um cleterminado conteúdo devesse ser conscientizad.o.

Entretanto, o simbolismo do coração, como veremos,


é central em inúmeros mitos, sendo um dos que mais se destaca. De
certa forma r êrn todas as culturas , da prê-fristória até ho j e , ele
está presente.

Descreveremos, aquir os mitos mais significativos.

3 .l A PaLavna 'Cotaçãoo
A universalidade do significado do sÍmbolo coração
aparece claramente quando pesguisamos sua etimologia.

A raíz indo-européia httd ou hened deriva para lu.rL&1a.,


em grego r gu€ se desenvolve para cardÍaco, cardiogr;rma, endocár-
dio, pericárdio e outros termos mêaicos . Cotc, em latim, guê se de-
senvolve para cordial, acordar, concordar, discordar, recordarrre
curso, coragem, Bisericõrdia Sua terminação por um sufixo au-
mentativo traz a idêia de reforço l"Íuitas autoridades associam
credo com esta raíz latina cott, guê deriva tambêm paracredencial,
I
II
43
aa (_

í
a acreditar, crédito, credulidade , recrear etc . E f inalmente heo ttte
em anglo-saxãor gu€ se desenvolve para heart, hearten, hear§r, heart
-
a Iess etc. 3

a
II Nas linguas eslavas, no lugar do b temos á , o qtre dá

! em russo tettdtre (coração), que deriva para dneda, significando


I meio, meio-da-semana ou guarta-feira

!
i

Ir Na antiga IÍngua celta tanto centro como oração vêm

It da mesma raíz htd,

TT
ã No sânscrito a palavra para coração 'e hndaqa, iden-
IT tificada como centro essencial no yoga-vedanta
TT
IT Knatet, palavra derivada da mesma raí2, é o nome da
TT do pelos egÍpcios ao vaso divino, vaso das transformações, cheio
TT de nou6 (pneuma-espÍrito) r enviado por Deus aos homens, como uma

ã espécie de fonte batismal

f,
f, concluir, do acima exposto, gue a raíz tznd
Podemos

ã expressa principalmente a idêia de centro, reforçador êrTr trnrtugruês,

ã por seu sufixo çã0. A expressão deste centro aparece claramente em


f, caroço/coroço. Seus derivados também apontam para uma forma de ca
nhecimento como nas palavras: credo, acred.itar e crédito ou para
I

ã
uma forma de comportamento como em gentileza, cordialidade e mise
l"
i

lrr ricórdia.
I'
tt Lembrar com o coração ê decorar ou record,ar. Brigar

t com ousadia e intrepidez ê brigar junto com e1e, isto é, com cora
I
II
: 44

II
:
gem Ficar ele 'e f icar descorçoado, sem centro e sem dire-
sem

lI ção. Chegar a uma solução conjunta é unir os corações como em con


: cordar, chegar a um acordo. Ser prudente ou sensato é ser corda-
t to, assim como resolver ou recobrar os sentidos é acord,ar.
ll
t coração 'e, pois, segundo sua etimorogia, basicamen-
ll te um centro vital e essencial, um lugar para os sentimentos, de-
ll rivando para uma forma de comportamento social e de conhecimento
I não-inte1ectual. E parece gue ele está muito mais presente sn nos
t sas ações do que nossa consciência pode perceber ou imaginar.
t
T 3.2 0 Conaçã,a no Altan dot Oeutet
t Entre os povos Nahuas, Maias e Astecas, por muitos
e sécuIos, aproximad.amente de 5 0 a. C. atê o f im d.o impêrio Asteca
O

T em L697, o coração foi um dos sÍmbolos centrais, se não o princi-


I pal r êrn diferentes mitos e rituais religiosos.
t
T mito de criação encontrado no livro sagrado Fqnl
No
; Vuh, do povo Maia, o nome de Huracán (Deus) ê o ,,CoLAção d.o C6-u,,:
I "Ap6t tet dado tnã.d aínaíd, un nel-ãmpago, um nelã,mpago cunto e um
, teLãmpago Longo, Hunaeãn deu Luz ã. eácu,Lid,ão e- e,tíouo homem e a
s tetttta, " I É da " iluminação" do coração d.ivino que se f az a cons-
, ciência e se inicia a di scriminação. A escuridão r Íro estado prê-
, egóico ê predominante. Tudo está em potencial, mrrtldo rp SeIf . f,las
s são necessários sua ruptura e seu desmembramento, uma de-integra-
) çãor Dâ linguagem analÍticar pêrâ que a consciência possa existj-r.
,
s outro mitor rt... nadava pelal ã,guaa Áe-m óim, A grLan
) de dômea, o I'londtno da Tenna, devonando Íudo o que vía, at6. que
,
s
I
t
lI 45

Il
doí,s Deutea Quztzol-eoatL e Tezecatlípoca , tnan^ 6onmado^ em
t pzntz,
^"n
eu co)Lpo .
t ,Lampetlam
^
O e ô eu deamembnamento donam dotmadoa a

enna e o Cõ-u. Entttetanto , 0- Tentta-t'lontttto vinou


t T uma. leuda cluer ãd

r , cl'tonava ã noite, dede! ando comQ-tL con-açõed humanot e )Locu^a


v e-zeó

va-^e a, (ican em ,sil-ô-ncío ou


t ^e
tottnatt {d-n-tíI- encluanto não dot,se
l0 Este mito d.o povo Nahua fala da clrig
banhada com Ítumano ."
I ^o.ngae-
T ção do mundo não pela súbita iluminação, mas pelo d.esmembramento
do corpo da Grande Mãe, feito por dois Deuses-Serpente. O elemen-
t
to fálico invade as águas amnióticas, rompe a totalidade urobóri-
|I
ca devoradora e cria consciência. Entretanto, agui, morta a Gran-
T
de Mãe, eIa vai para a sombra e negativamente atua, Elmeaçand,o d""
t
truir o que foi criado. Para gue a vida pud,esse, então, continuar,
t
t agora seria necessário o sacrif Ício d.e corações.

I
t o conflito entre o masculino e o feminiDO r entre o
patriarcad,o e o matriarcado ê expresso com a Grande Mãe, rejeita-
T
da e ferida, devorando corações como vingança.
I
t
T revive neste mito a vivência com a mãe má e
O homem
castrad,ora. Para vencê-la, cria um ritual sacrificial, com a fina
I
lidade de assegrurar a continuid,ade e fortalecj-mento da consc j-ên-
T
t ci a.

I
Para os Astecas, a criação do mundo advêm tambêm da
I
r cri-ação da Iuz e do sol, através do sacrifÍcio. No mito ,,O euinto

t So1", os deuses se reúnem e discutem gual entre eles teria a tare

T fa de fazer surgir o sol para a nova era. Dois Deuses se oferecen,


r Tecciztecotl e Nanantzim. Após vários dias de penitência e sacri-
T fÍcio ambos são chamad.os para que pulem numa fogueira. Nanantzím,
T
o mais humilde, pulou primeiro, seguido de seu companheiro, e o sol
r
1,,
L
3
I
46

-t
I

ll
E
I

surgiu em consegüência.

i
a Provavelmente, destes mitos surgiu a idêia de que a
vida humana devia ser sacrificada concretamente, a fim de que ahu
2
;r manidade pudesse existir. Os deuses tinham que receber estes sa-

E .-e
crr-rr-cl-os como forma de alimento; o coração humano alimentava o c9

E ração dj-vino e o ego mantinha, com isso, uma relação viva e emo-

a cionante com seu Se1f.


a
a Os Nahuas ritual de renasci-
e Astecas mantinham um

a mento a cada 52 anos, quando apagavam todos os fogos, limpavam tu


E do o que era velho e esperavam o nascimento de um novo soI. Para
-T isso, acendiam uma fogueira sobre o peito de um prisioneiro ãmeia
E -noite. O coração deste alimentava o fogo. Se não houvesse fogo su
a ficiente, supunham que o sol se extinguiriar ou que estes setrans
-t formariam em animais. A felicidade seria alcançada guando o homem
a chegasse na Casa do So1, onde se tornaria imortal.lz

a
t A tradição do sacrifÍcio do coração tornou-se comum
a entre os habitantes do Mêxico e Amêrica Central e visava sempre ho
a menagear um determinado deus.

EI
a A maioria dos rituais ocorria durante as principais
E atividades do calendário e o sacrificado era alguém que preenchia
a a imagem do deus que estava sendo homenageado no momento. Assim,
z, para que o Deus patrono Quetzolcoatl, mals tarde ttuitzoloatL, Deus-
a -SoI, pudesse vencer sua batalha diária contra a lua e as 400 es-
a trelas, sobrepujando a escuridão, e1e tinha gue ser nutrido conti
EI nuamente com a comida mais sagrada: sangrue humano. A elevação do

a
a
!
t-
,
t
)
I
t
,
t)
I-
I-
t-
Cena itlaia de sacrifÍcio humano em Chichén ftza
I) (vucatan)
I- Joseph Campell.Cp. Cit . p.422

I
t)
t
L

I) !

Ia ---=--

Coração oferecido ao Deus-SoL


Ia Joseph Campe11.0p.Cit.p.158
IJ
ta
ta
Ia
Ia
Ia

I
I
T

t
I
I Cena de sacrifÍcio humano asteca.
PatrÍcia Anawalt. 0p.Cit.p.38
!
I
I
I
a 47
a
a coração era o ponto culminante, onde o coração pulsante unia-se ao
a so1 t têforçando a energia e a vitalidade do povo . 13
a
a
Interessante relato, embora bastante etnocêntrico, ê
a
o de um soldado espanhol, observador de uma festa dedicada a Pan-
,
quetzalizl.1:- (divindade solar) :
I
t 0t tínham uml, pedna Longa, com uma
t ^a"cerLdotet
bttaça de compftímento , qua.te palmo e meío de Latt
t gurLl, e um bom paLmo de eápeááurLa ou c1uína. Á me
t tade deaÍa pedna etÍava díncada na tetna, fro aL
t o da et cadanía , díante do al-tatt do d ído Lo . N e,s
t ta pedna e6tendiam-^e oá deaventunado,s parLa, o^
^

T Ea,crLi{ícíoa, deítadoa de. coátaa e com o pütto muí


t to etticado, porlque e-rLa.m atadod pelot põ-t e pe-
Laa mão a ; o prLíncípaL E a.eerLdo te dod idoLoa ou á eu
t Luga,L- tenente , erLtm o Á quz maía eomumente z{ etu
t d.vam oA |acrlídícío,s ..o com aquelz enueL nava-
I Lhão de pedna de pQ-derLneína, e como o peíto do
ac,Lí óíeado dícav a muito te,s o , o t acní dícado n ,
t ^
com muíta donça, abnía ao mzío o dztventunado e
t tínav a- Lhe n-apído o co nação ; e o aut.o n dea ta uut
t eLdade batía com o co rLa-ção no altan , do l_ado de
do na . 0 epo íá , caíndo ao ehão , díeav a o co rLação
I a pal-pítan, po,L índ Íantea , na. tenna. Lo go a á e-
t guín o co Lo ca.v am numt Q.á cudzl-a , díante do a,(.tarL.
t )utnad v eze,s , tomAv am o corLação e o ettguíam zm
díneção ao aoL; e pot ve.ze^ untavam com o Áan-
t gue o^ L'abíoa dor ídol-ot. 0ô corLaçõed erlam ãÁ ve
t zeá comídod peLod mínidtnod maíd veLhoa...,, l{
T
t Relata um outro espanhol, gue observara um ritual
r Maia:
t 0 áumo Sac endo te t ubía , parLa"mentado , com u-
I MA |Leeha ... dazía cettÍo aínaL aoó baiLanínoa
I
t
ã
T
ü
-
a
a
a
a
a
a
I
1,
s Cena irhia de sacrifÍ cio humano em Chichén Ítzâ (Vucatan)
s Joseph CampbeJ-I.Cp.Ci-t . p.422
t
t
lt
t
t
I
,
,
t
t
t
!t
t
t
t A arvore da vida crescendo do corpo aberto da vítima
t a Joseph Campe11. Cp. Cit . p.423
t r@
@
t @
t
t
t
a
48
I
a
Q. e^te^ óLecl'tatt a vítíma . . . atína-
começava.m a
a vam óLeeLtaa no co,Lação que eatava a^áínaLado com
a um aínal bnanco , e deata ma,neína punham- I-l,Le no p4

t Ío um pont.o, como que eníçado de [Lechat. Se tí-


nham dz t hz tínat o co,Lagão , a vítíma e.rLa tnazí-
I da a,o pãtio com grLande apan-ato . . . e Lev ada A p e-
t dna nedonda, onde aacníóícava, ..."15
^e
I
I provãvel que as descrições destes soldados espa-
É,

I nhôis se refiram ao perÍodo decadente do império asteca, pois no


t inicio o sacrificio era sempre de um voluntário, dentro de um ri-
. .O . o pQ a - - r ---- r ? ! - 1 - -- r --
-
1 -

I tual sagrado e tinha por finalidade a salvação do mundo. Não era


I uma punição ou vingança contra povos inimigos. O sacerdote r âo se

r alimentar do coração da vÍtimar âssimilava sua força e coragem, da


T mesma forma gue os íaolos untados com seu sangue adquiriam vid,a e
t poder.
t
r início, acreditava que o homem nas
O povo Nahua, de
I cia com um coração e uma face corporais, mas gue com o tempo, ele
t teria que criar um "coração deificado" e uma "face verdadeira". A
t palavra comum para coração era "qoLlotl", palavra derivada de "oL
T Lin", movimento. Mas, o coração que podia se tornar divino, [Dr es
t f orços pessoais , era chamado de " q o Lt6-o tL" . Para os Nahuas , "o brl

t Iho do coração" deveria aparecer na face, fazendo com gue os tra-


I ços do homem se tornassem um reflexo d.o Si M""*o
16. Assim, para e

T Ies , " fazer coração" e " fazer faces" significava o crescimento da


t força espiritual. A face e o coração erErm dois aspectos de um só
t processo, cujo objetivo era o de criar um centro firme e duradou-
T ror de onde seria possível agir como ser humano. Sem o segundo co
t ração e a segunda face o homem seria um ser errante, sem centro e
r sem objetivo. No ritual iniciâI, um jovem selecionado era prepara
t
I
I
I 49
t
a
do por cerca de um ano, recebendo a melhor educação e tratamento
a
possÍveis . Após este período, era Ievad.o, com seu consentimento,
t para o alto de uma pirâmide onde o sacerCote rompia com uma faca
T
seu peito e oferecia o coração pulsante ao deus soI. O ritual era
t o modelo simbólico do gue todos os homens deveriam fazer: dar ome
I thor de si ao SeIf. O sacrifÍcio do coração era o caminho, um ti-
I po de artel pâra se criar um coração deifj-cado.
I
I Aqui o coração do homem e o coração solar divino mig
I turavam-se, mesclavam-se num ato simbôlico sacrificial. Um cora-
t ção purificador Írâ entrega, tornava-se uno com o Coração Totâl. Es
T
tava assegurada a permanência da Grande Estrela e da vida sobre a
T
terra. Na linguagem analítica, dirÍamos gue estava assegurada a re
T
lação do ego com o SeI.f. O mistêrio era mais uma vez vivido e in-
r tegrado na vida da comunidade.
I
I O sacrifÍcio era a renovação da vida e da imortali-
I dade. O ego se entregava projetivamente, sacrificando o que the e
I ra mais caro. Mas, com este ato, afastava'as forças devoradoras e
I urobóricas do inconsciente coletivo. A sombra, mais uma vez venci
t da, permitia que o homem retornasse ã Casa d.o So1.
t
t O processo de individuação estava assim representa-
t do. velho, o mal e o passado eram coletivamente purgados atra-
O
I vés do sacrifÍcio e do sofrimento. o homem-herói ia ao enontrc de
t seu SeIf , de seu Deus . Humilde, mas consciente e conhecedor r êrr-
I tregava-se ã sua origem e assim re-nascia.
T

I O coração sacrificado tornava-se deste modo o cora-


I
ção deificado, o coração gloti[íeatíut. "Fazia-se o coração" gue
t
I
I
T 50
T
I brilhava. A luz voltava a nascer, reassegurando o lugar da consci
T ência na totalidade cósmica.
I
I 3.3 ÉLegíat patla, Aea/;man o Cottaçã,o
I
A idéia de doença como conseqüência da ira divina e
I
o pedido para que um deus ou uma deusa abra seu coração, conceden
T
do seu perdão, aparece já entre os Hititas no sêculo xIV a.C.
T
T
Aqui o suplicante, após ter feito um exame de cons-
r
ciêncÍa, pede ajuda, centralízando seu desejo no coração da divin
r
dade z " E agoL&, que me-u Deut me- abna corlação , áua. al-ma aínce-
T ^e-u
,Lamente! Que me díga mínlta {al-ta, e eu a ,Leconheee-tteí. Que me da-
I
Le e-m á o nlto , que meu 0 eud me o,bna 8 eu co,La,ção , euL elz me díga mí
r 17
nL a da}ta, z eu a" ,Le.co nlte-cerL>í. "
T
I
t Inúmeras preces redigidas em acádio e sumério, en-
contradas )â no sêculo II a.C. ê desenvolvidas tambêm pelos Babi-
T
lônios visavam o mesmo objetivo. Estas preces chamavam-se "ELegío,s
T
o corLação de um Oeut zl,ngado" e geralmente fei-
t parLa acalman erêrm

tas quando desgraças, especialmente doenças, atingiam um indiví-


I
duo. Na primeira parter êtâ pedido gue " o eottação enduttecído do
I
m e-u S enl,to tt e aplaclue . " Na segunda, o suplicante onfessava s:Lla cul
T ^
pâ. Na tercei td t expressava sua af Iição, ao perceber que "0QJtÁ , Lfr
t
óeu conação encolenizado, óez com que eu dotde atíngído" e, na úf
t
timaT suplicava perdãoz "Quando Áe apLaean-ã,, oh! meu Oeud, ohl mí
t
nl'ta Oeu6a, teu corlação hodÍíL? Que o Íeu corLaçã0, como o co,Ll,ção
I
d,e uma mãe cannal, de um peí eaftnal, QuL elz áe aplaque." l8
I
I
t Fica cIaro, aqui, guê os sentimentos de raiva e a-
I
t
I
I
51
I
a
mor, assim como a possibilidade de perdoar, são centraltzados no
t coração. Ao coração da divindade eram dirigidas as preces e os pg
I
didos de socorro, como se neste órgão ficasse centraLtzado o sen-
I
timento de raiva e amor tanto dos deuses quanto dos homens.
I
I
3.4 0 Cotagã.o em Tulgamento
I
I "Se oá olhod vi,em, áL 0,á onel-haa entendem e áQ, o na
I ttLz ,Le6 pína , zlet co nduz em a.o co,La,ção acluiLo que ,Leco Lhe-rLa.m e- ele
I onganíza 0.á dzcítõzt. A Língua, entã0, &á anuncía." 19

I
r O coração 6 um sÍmbolo fundamental na cultura e re-
T 'pcias . Está presente nas orações,
ligião egípcias. '.tos de criação
oraçõ nos mitos cr

I e nos rituais funerários como centro da vida, lugar da inteligên-


r cia, vontade e consciência moral.
I
r a teologia de llenphis (cerca de 2700 a.C.),
Segundo

I Ptha, Deus da Criação, a fim de d,ar materialidade ã força do ver-


I bo criador, pensou o universo com o coração.Zo
I
t O coração de Ptha ê o lugar da atividade criativa e
2l
início, Ptha se manifestou como
T o centro de sua imaginação . De

I Logos (verbo) , mas somente com o coração ê que a criação se tor-


t nou realidade.
T
T Egito, antes governado por vários deuses, 6n o tsn
O
T por passa por um processo de "solarização" ê2 a partir da xII di-
T nastia, Amon-Rê, divindade so1ar, alcança a categoria suprema. O
I so1 passa a ser o único Deus universal, impondo a supremacia de um
T único e mesmo principio em toda a cultura egÍpci o Deus-Sol
^.22
T
T
|l
a 52
I
a
habita o coração, cria o universo e nele são depositadas as'espe-
a
ranças de cura e salvação.
a
a prece escrita num túmulo na XVIII dinastia (cerca de
a
1400 a.C.), de um cego pedindo que Amon, Deus todo poderoso, res-
a
taurasse sua visão:
I
a
"[u{el cofiafi,o dersela vuL-te., ,sznl+on du peÁÁzoul,
I cluando tua gottganta A poniod.ona. do venÍo do NonÍl,
) Tu daze,s com que óe eltzja racitdo áern necQÁ^ídade ;iz comü1,
I tu dazers com que ersteja 6-bn Lo, áem quQ. áz tenha necesôída-
^e de de bebüt.
t Meu eottafi,o deleja vüL-te-,
t tízu conas,o QÁti. na olegtuLa, Amon, pnoÍúon do pobne,

t Podaas tu expu,Uan o temort,


I poál,aÁ tu eoloeon a a.Legn La no conaso doa IT omen,s."
22

I
I Em outro hino de glorificação a Amon-Rê temos:
t
t t'
Louvort a ti, Amon-Rõ.-Ho"nnhhÍe;,

t
t Tu -eÁ volenÍe como wn poátorL que gwttd.a o^ (hcrrens) eÍucvwnen
te.
I 0t paüoa ettÃo chúoa de tutn, pu6úú,0,
I e- aá olhot võ.en pon ti.
Tut temon QÁtA em Íodot 06 homerÁ,
I e áeilÁ conaçõel estão voltndod pana LL,
I ponque tu -QÁ púóaíÍ.0 em todo tempo.

t 0a eottaçõel e 06 püt tot dependen dele (Anpn) .


t Não hã" pnazuL áem ele; a elzpettÍence a ole4tuín;
T a exa!-tação do cofi-a.ú"o d. dacauetn quz eÁti. em óuoÁ boaa gu.W
21
T ..."
(XIX Dinastia, cerca de 1200 a.C.)
t
I
I
í
a
a 53

a O curso do so1 representa o modelo do destino do hg


a mem: descida ã escuridão, morte e ressurreição. A evolução e as-
a
censão dt alma e sua transformação pela purif icação consiste ntnn sS)
a gundo nascimentos nascimento para a eternidade única e imutáveI.
a
a
Para os egÍpcios há uma convicção precisa: morte
t e

vida são um processo contÍnuo e complementar. A morte só 'e uma re


t
alidade para aqueles que falharam no processo de julgamento. Este
t julgamento era conhecido como o processo de "pesagem do coração".
t
|l
Para os egÍpcios o coração (ou ab) estava intimamen
t te associado ã alma. Era fonte de vida e criação. Do coração da mãe
I descj-a o sangue para o útero onde a criança era geradar por isso
os f ilhos era.m chamados de " sangue do coração" . Era tido também cg
t mo lugar do poder de vida e origem de bons e maus pensamentos. Con
I
seqüentemente sua preservação era tão importante r euê era o único
I
órgão deixado no corpo durante a mumifi"uçáo.25
t
|'
com o objetivo de ajud.ar a arma do morto (seu duplo
e
ou ha) na viagem pelo desconhecido, vários textos, €m o passar das
a
várias dinastias, formaram o que ficou conhecido como o "Livrodos
l,
l"lortos " . Este era colocado junto ao corpo do f alecido e recitado
I'
pelos sacerdotes durante o processo de mumif icação. Neste lirno são
T
descritas várias cerimônias para que o falecido trnssa re-encontrar
t
sua alma e usar de seu corpo novamente. Entre elas, temos a ceri-
t
mõnia onde era colocado sobre o coração do morto um coração feito
t
de pedra ou metal, sob a forma de escaravelho, inscrito com fórmu
ã
las mágicas. A necessidade de preservar o coração era tão grande
I
que alguns capÍtulos do Lj-vro dos Mortos foram compostos para im-
t
ã
a
I
I
51
T
T
pedir que fosse arrebatado e levado para o mund,o inferior. 26
T
T
No papiro de Ani (nome do falecido) , o capÍtulo )oslr
T
ensina como se deve dar o coração a OsÍris, deus d,os mortos r
I rro
mundo inferior. Díz Ani:
T

I
Po^áa meu corLação e,starl eomLgo na Caaa do Conação .
I "
?odda meu corLação eátarL eomigo e dedca.náarl comigo,
T ou não comenzi dod boLoa de )aÍnía no Lado otuLznÍal
t do Lag o dar F Lo rLeA , nem tetteí um banco pa.tLa dz,s cerL
t o NíLo , nem outtr-o Lugan pa,La íL, nem po deneí aegwíst
na banco contígo. Poata mínha boea me 6erL dada pa,-
t ,La que eu poÁáa com ela daLatt, e meuÁ doíd pô-t pa.-
t ,La qut Lu poÁ6a andan, e mínhad duaa mãoa e bnaçod
parLa eu ve-ncerL o inímíTo... Podaa a Deuaa setzhut óL
t
ze,L com quQ- eu me e.,Lga pa,rLa aubín a.oô e6-ua, e quz
t Lã. azja óeíto o que eu comandatt na, cada d.e Ka (du-
I plo I de ? tah . c o nheço me.u co,Lação , tenho domínío ,,so
I bne meu co)Lação , t enho domínío d obne me-u^ p6-a , z ge
nÍtei poden dobrte o que agnadan ao meu Íza lduplol .lrlí
I nha aLma não dev enã Á erL a epanada de meu co rLpo no
I po rLtõ ed da ; mat , entftaneí em paz , e delz^
aubmundo

I
aaíneí em paz." (1500 1400 a.C.)27
I

I
segue-se o capÍtulo xxvrr onde Ani suplica ao Deus

I
para gue seu coração não the seja arrebatad.o e figue para sempre

I
no submundo. No papiro de Amen-Hetep, referente ao mesmo capÍtu1o,
temos:
I

I
estã, eomígo , e nunea devenã aeonteeen
" I'le-tt corla.ção
deLe Lzvado emborla. Eu áou o aznhon dod corLa,-
^erL
çõea, o matadon do co,Laçã0. Eu vívo na juatíça ena
I

v endade e e neL-at que meu co rL.ação habít.a. sou H o Luá


I
I

,
I
um corlação purLo dzntno de um corlpo purLo . v iv o pela
I
T
55
T
T
minha paLavrLa z mQ.u eonação ad,sím víve. Não pzÍL
T ^z
míta que meu cotLação deja Levado ou quz deja óení
I do ou contado po,L me ten tído a,LrLancado. Seia-mz pL,L
T mítído exídÍ.ín no cotLpo de me-u paí Seb e- no co,Lpo
dz minha mãe Nut. Não 6íz mal contna o^ deutzd; nem
t pzqueí porL o,Lgu|ho . " 28
T
T
Em alguns papiros como o papiro de Nefer-Oben-f, o
I falecido segura o coração de encontro ao peito com a mão esquerda
t e ajoelha-se d.iante de um monstro em forma humana que empunha uma
t f^"u.29 No papiro de Ani, o falecido adora seu coração, colocado
t em um pedestal diante d.e guatro divindades sentadas.
30

T
I Um escaravelho de pedra foi encontrado pendurado nu
t ma corrente sobre o peito da múmia de Hatnufer com a seguinte ins
T
crição:
t
I " 01,1 meu co,Lação de min[+a mãe! 0h me-u corLação de mí-
T nha mãe'. )l,L meu eorLl.ção de mínhad üdenenÍot idaded!
I Não Q- Q-rLg a, co nt na mím eomo te-,s temunha . Nã,o crLíQ- o
^
po^íção contna mím como teatemunha. Não crLíe opo^i
I ção contna mim entne o^ aáEe-l Não peáQ- coytÍsto.
t ^orLeá.
mím na prLe-^ ençt. do mant znedo tt dat b aLança^ . V o eO A
I minha alma qu> edtã em meu co,Lpo, a Kl,tnum quz óaz
meu' me-mbLo^ . " (Novo Reino XVIII
t prLo^pz,LarL
tia. Khnum deus da fecundidade ) .31
Dinas-

t
I Estas balanças referem-se presumivelmente ã cena do
I julgamento do coração, presente em todos os papiros funerários, on
I de o coração do morto é pesado na sua presença contra a pena da
I Deusa Maat. Quarenta e dois juízes também estavam presentes, cada
T
um de uma provÍncia do Egitor cort o dever de examinar diferentes
I aspectos da consciência do morto. O lugar onde isso ocorria chama
I
I
!t
r|
t 56

T
va-se a "Sala da Dupla Justiça". No fim desta, sentava-se OsÍris,
,
juiz e redentorr ã espera de seu filho que veio da terra, isto 'e ,
a 32
o farecido.
a
I
a confissão purificatôria cu
O processo começava com
I
negativâr onde o morto se justificava d.e não ter cometido pecado
t algum contra os homens:
I
I
" Nãocometí iníc1üídade co ntna o hom zná .
f, Não bl"ad (emzí co ntna 0 e-u^ .
^
I Não empobnecí um pobne ...
I Nãomateí . . .
Não eaua ei do n a níngu6.m.
I
I Soa purlo. Sou purLo. Sou ptttLo." 33

I
I Depois desta confj,ssão, pronunciava seu próprio ele
I -
gio funerário e era submetido a um interrogatório de ordem iniciá
I Lica pelos juÍzes.
T
I O julgamento tinha um carãter irrevogável e refletia

'I duas vertentes da tradição egÍpcia: o sentido moral, güê avida do


I homem deve corresponder no caráter aos princÍpios que governarm o
I universo e a convicção de que isto podia ser alcançado por neio de
T rituais sagrados e conhecimentor êssim como por bondad,e. 34
I
I Nas descrições d.e diferentes papiros, o coração do
e morto era colocado sobre o prato de uma balança e pesado contra a
T pena de l*1aat, emblema da justiça e da verdade.
I
E
T
ã
I
I
I
I
a yA:#.;i;
fi &r;*.1,7, .i.l
I
I
a
I :D ll /\tr)
I =4S:
T
T
T
I
t Hàlfil
t
I
t
t
t
t
T
t
I
I A pesagem do coraÇao. Do papiro de Anhai.
I E.
e.
A. itJall"is BuCge .0 livro egipicio dos mortos.Cp,Cit.p.135
T
t
I
T
r
T
r
T
T
I
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a
I
I
t
t
|t
t
t
t
t Anubis e o Julgamento do Coração. Do papiro de Hunifer. Egito , Thêbes . Cercâ de 1310 B(

e 0 Deus Anubis, com cabeça de jacal e corpo de homem, conduz o falecido Hunifer
t à balança dos deuses.lb centlo da balança está a cabeça da Deusa !\Iaat, enquanto
t Anubis faz a pesagem.AÍFmit, o demônio devorador dos mortos, esperÉ o veredicto,

t fbis -Thoth, o escrivão divino, negistra o veredicto,

t Albert Champdor.Le livre des morts,0p.Cit. p.154

t
|l
t
t
t
t
t
a
t
t,
t
a
57
a
a
Vários deuses estavam presentes: Anúbis, com a cabe
a
a ça de chacal, experimenta a lingüeta da balança. Ao ládo dele, Thot,
escriba d,os deuses, registra o resultado do julgamento. [6n:s o pro
a
nuncia. Atrás de Thot, ã espera, fica a monstruosa Am-rit, a devo
I
radora ou comedora dos corações 35 . o= detalhes d.a cena de julga-
I
mento variam conf orme os papiros de d.iferentes épocas, mas o co-
I
mum ê que o coração tinha que ter o mesmo peso que a pena deMaat,
t
nem mais, nem menos.
T
I
Am-rit, com cabeça de crocodilo, corpo de leão e tra
t
seiro de hipopótamo, estava pronta para devorar o coração que não
t
passasse no testê, cond.enando ã morte seu portador.
t
t
Masr sê os dois pratos se equilibrassem, dizía OsÍ-
I
t ris:
t
I "Foí deíto o ecluiLíbnío na. baLança. Seu eotrn"ção -z jut
to p o ía não 6- maít peá ad.o d,o quz uma plumu . t' 36
I
I Então o morto estava justificado. Seu coração, "oco
t ração de sua mãe", "o coração de seu segundo nascimento", não teg
I contra si mesmo. E merece contemplar a f ace dos d.euses ,
r temunhou
continuando seu trajeto em busca da Luz Maior. Levado por Horus,
I ante OsÍris, a natureza oculta do universo the é revelada. ELe pas
I sa a ser imortal. Sua alma se eleva para o SoI e será reunida no
t seio de Ísis (Deusa-I',Iãe) . É o segundo nascimento. O homem re-nas-
t ce no espaço celeste (que é sua mãe) e sua alma será admitida em
t He1iópolis (cidade do So1) : "Toftnarl-Le-ã eaLon e l-uz, Áe-,LA víbtta
T
ção na vibtação etenna d,o coámoó."37
t
t
t
I
a
58
I
I O homem teve sua existência justificada porque seu
,
coração não testemunhou contra ele. Seu coração estava tão leve,
I poderiamos dizer tão sem culpar guê pode se unir ao Deus-Solrop{,
I prio SeIf. O processo de individuação aqui ê descrito na relação
T
ego-coração com o Deus-Sol-Se1f. Os feitos do ego ficaram grava-
I dos no coração, sede, como )á dissemos, principalmente da consci-
I ência moral. Se e1e for justificado, êgo e Self reunir-se-ão num
T
SeIf únicor coletivo.
r
I
No mito da criação , 'e o coração de Ptha que dá mov!
t mento ã sua obra. Nas preces , 'e o coração do homem que fala ao co
t ração divino, pedindo ajuda e iluminação. A vida moral e religio-
r sa centra-se simbolicamente no coração que precisa ser redirnido pg
T
ra poder voltar ao seu criador. Para os egÍpciosr os Deuses Ptha,
I
Amon, Aton e Horus, entre outros, representam o Centro lv1aior, o ar
T
quétipo central, na linguagem analÍtica, centro gue transforma e
r dirige o destino. Estes Deuses são o ponto de partida, são a gêne
r sêr para onde se deseja voltar, atravês do segundo nascimento. A
I
completude do processo de individuação tem seu clÍmax após o jul-
T
gamento, apôs o confronto dralma com os deuses. Cada um deles re-
T
presentava uma provÍncia, poderÍamos dizer que cada um deles re-
r presentava um aspecto arquetipico ao qual o ego se submetia. A in
I
t tegração destes na consciência significava sua ampliação e inte-
gração na totalidade.
T
I
A pena da justiça da Deusa lt{aat ê a pena de um pás-
r
saro e expressa a capacidade do homem de se libertar das tentações
T
terrestres e de voar. PoderÍamos aqui lembrar do pássaro ou dos an
I
jos como criaturas capazes de se movimentarem entre o cêu e a terra,
t
T
T
ll
a 59

a detensnuma visão mais objetiva e de estarem menos envolvidos com


a conflitos humanos. Nesta associação, temos tambêm a pomba do Es-
a pirito Santo no cristiani smo e o menino-an j o, Eros r rrâ mitologia
a romana.

,
Para os egípcios r a idêia de individuação referia-
T
-se a idêias de ascensão espiritual: quanto mais leve o coração,
. aJ. r -

;l maior a consciência e o conhecimento. Mais próximo estaria o ego


t de sua completude.
s
t A morte, sob a figura de Am-rit, A a Grande Mãe d"g
I
truidora, a sombra que engole o homem assoberbado de culpasr gu€
I
destrói seu coração pesado e torturado (infarto?) . o ego destruÍ-
do jamais verá o sol, jamais re-nascerá. o medo de ter o coração
!!
destruÍao expressa o medo das forças inconscientes que destroem o
|I
e9o quando este se afasta de seu centro. Horus, OsÍris ou Anpn dão
!I
as diretrizes para o caminho gue o ego deve seguir na sua jornada
t diurna e noturna, assim como o faz o arguêtipo ientral.
t
T
Luz e escuridão se revezam como o movimento do Deus
T
Sol-Ra. Qualguer desvio do ego deixa marcas no coração. Ir{arcasque
T
o tornam pesado e acabam por destruÍ-Io.
T
T
o coração destruÍao A o sor vencido. É o ego doen-
t te, rompido de seu centro. Mas, guando é tão leve quanto a penada
t verdade e da justiça, e1e renasce para o calor e para a luz. Vol-
t ta para Amon. Volta para o seu Si Mesmo e tem um novo nome.
t Nome
não pessoal, mas divino, arquetÍpico.
T
t
t
t
I
t
t 60

I
"Seu conação p0,á^0, a. áe,L o eorLação de Ra, poíd no eo
T nação d,o ltomem ,LQ-z, Ld,e o deua qul nele- v ív z . " 3t
I
t Para os egÍpciosr ê no coração humano gue o tungn po
I de encontrar o divino, tanto na vida guanto na morte. E, finalmen
t te, pode se iluminar e voltar para a Casa do So1.
t
t 3 .5 0 Lugat Secrteto
I
No hinduismo o coração tem um lugar central em dife
I
r rentes textos sagrados r assim como em várias práticas de medita-
çao
39
I .

r A partir da observação, entre outras , de que ,, tlm ÁA


T
bio apo nta patLa a- ,LQ-gião do ca,Ll.ção cquando ne-Lata
t ^ua
expQ-rlíô-ncía
d.z Co nd cíõ.ncía pu)tAtt 1o , este órgão passou a ser considerado como
I
o lugar da Consciência e idêntico ao Self , entendj-do aqui GtrD Shi
I
r vêr Brahman, Krisna, Deus Absoluto ou como o "não-Eu".

t Para o hindu, o coração como consciência pura está


I
r aIém do tempo e do espaço. Entretanto , é. possÍve1 posicionã-Io, a

r través do conhecimento, ora no coração fÍsico ora


direita do 4I
um pouco mais ã

I ""rrtro
.

I
Para os sábios hindus a Consciência é o Coração
I do

t hndaAam (t'tnd = coração + = eu sou) , isto é, o centro daquilo


aAam
que o homem realmente '. 42. Ora é o centro, ora é a totalidade, s9
r gui-ndo agui o mesmo paradoxo da def inição analÍtica do Self . para
t
Jung, SzLd ãs vezes é definido como a somatória de todos os conte
T
r údos psÍquicos e, em outros lugares, ê definido como o arguêtipo

T
T
I
I
6I
I
I
central no desenvolvimento da personalidad " 43 .
I
I
Nos textos sagrados o coração aparece principalmen-
I
te como lugar da habitação da divindade, do Brahman: "ELe (Brah-
I
man) 6. eu me^mo dentno do corLl.Ção, mz-no,L do quL um gnão de A,L,Loz,
I
do quL um gnão de cevada, do quL um gnão de mo^t.attda,
t me-norl

do quy LLrA
me-norL

de aLpídte ou do que um gz,Lma- de uma Le-


me-no,L
T ^e-mznte
mente de a!-pídte. Et-e tamb6.m d. zu me-^mo (meu SeIf) dentno do co,La
I
I ção, maí0ft do quz a te-nna, maíoL do qur o e6-u, maíott do quz todo,s
44
r Q-^áeL mund,o^."

I
Para o mestre Swami Prabhupada "um qogui conáeienÍe
T
dz Knít na Q- o v íde-nte perL|eíto po rLque võ- Knít na , o Supnemo , áítua
t 45.
do no de Íodo
t corLa,ção mund.o como
^upettalma"
I
das práticas mais recomendadas por eler rrâ in-
t Uma

terpretação do texto sagrado Bhagavad-Gita (sêculo fV a.C. ) ,


t d.tz
o seguinte: "A pe6áoa dzve- manten áe-u co,Lpo, pL^coço e cabeça
t erLe-

taa numo, Línha neta e olhat óíxamenÍe parLa a ponta do nattí2.


t O e,s

Ee modo, com uma, mente dubjusada, não agítada, detp,Lovída dz


t mQ.-

T
do , completamente Lívne da vída te-xual-, A pe^^oa. dev e mzdítan zm
46
t,lím , dentno do co rLação e dazzn d,e Mím a mzta i,Ltíma da v ída . "
t
t
A meta no processo de conhecimento ê descobrir Kris
I
rlâr que está situado no coração de todo ser vivo, agui representa
T
do por Visnu com guatro mãos.
T
T
t "Caverna do Coração" é outra expressão gue aparece

t em vários textos, com o sentido de lugar oculto, ponto mais inter


t
t
I
t
a
a
a
a
I
a
I
I
)
t
t
I
I
t
|I
t lll\lll\t.\0\l\11.. l.. ltl- 1,.,,.,t,r.,r,,,,,\,,!,,.r1r...,,.r,l,,r,.rr.rrrilr i,r,.rr,.,,1.,,i,,,,,t
-,'i,,rr.,l',,..r,r,,,1.r,,,rrr.r,,,,,1rr l,r,,,rrlrrrr.r1,l,,l,r,.r,l,,r.rrrrrr,r,rI,rrr.r,r,,í).r..r.rrro
' r, l, ,, r , nr -,, ,l,rr,, rir , rr, rrr rrlr r,, l,,rrr,,, ,lr i, ,.-r.rr -rrrr,rrl,, rrrrrrr lrr1.r, -.rgr.r,l,, t),,,gr

I
l'.' .rr.,,-,r Lr lr lr,,lrrrr,.rl,.rr, , l,r,rtr.r' \,'!.r,,,rrrr,,irrr,l,,.rlr,.lr,,,,--.rrrrl,,.
l,rrrrlr

I
t
I
I
I
t Yogue com a representação de Paramàtmã no peito.
t A. C.Shaktivedanta Swami Prabhupada. Cp . Cit .

T
|I
t
t
t
T
T
T
t
t
I 62
I
t no. O desenvolvimento espiritual acontece a partir deste ponto mals
t Íntimo e secreto, considerado como o local do " segrundo nascimen-
t to" 47 .
I
t
"0 SeL[, mQ-norL do que o menorl, maíot do quQ- omaíott,
I ea t-a o culto no co ,La.ção dat eníat urLa.^ . Llm hom em que

I deíxou to daa aá ama.,Lgu,La^ pa.,La tnã.d , vô a lrla-


^ua^
j ettade, o Senl,ton, o Impatdív zL, pzla Gnaça do Cni
t 4t
Ad.o rt. "

I
t
Para os hindus todo simbolismo para ser verdadeiro
I
é resultante de uma experiência sentida corporalmente. Deste modo
I
a relação entre o órgão cardÍaco e seu sentido superior é decor-
t
rente de anos e anos de prática de meditação. O resultado d,a bus-
t
ca do divino é chamado do "conhecimento do coração" ou "conheci-
I
mento da caverna" porque assim foi descoberto, como é deseito nes
t
te texto: "Hã záta eídade de Bna|Lman (o corpo) e nela o palãcío,
t
o pequeno L6tua do corLa,ção, e nele o peque-no -zten. O quz ex,ilte den
1
Í.no deate pequeno 6-ten e o que prLeeída áerL prLoeunado, A o que p,LZ
l cíta EerL comprLeendído. E Lhe petlguntaLem: 'Bem, Ln tteLação A-
I ^e
cluela cídade de Bnaltman, e o pal-ã"cío ne.La , ít to A, o pzqueno 6.ten
1
denttto do corLação, o que hA Lã, que mq-rLece. óerl prLocunado ou comprLe
I
zndído?' Então ele deve ,Le^ponden: 'Tão gtande quanto o 6.ten 6. a!
I
t ím Íamb6,m a õ-ten dzntno do conação . T anto o cd-u quento a tzttrta ,
I
tanto o óogo quanto o &L, tanto o dol- quanto a Lua, tento o nelãm
I
pago quanto aE eátneLaa ettão contídod dentno deLz, L o quz querL
t
que eáteja nzle- acluí no mundo e o que querL quz não e^teja, tudo e.á
1
tA eo ntído dent.no det-z' . " 49
I
t
O coração, vemos assim, ê o ponto de origem e de re
1

I
I
63

torno. É anterior a todas as dicotomias. É o lugar da psique to-


tal, urobórica, de inÍcio indiferenciad,a, como uma seÍrente, mÊrs com
todo o potencial do seu vir-a-ser. É tambêm a meta , o paraíso al-
mejado, o lugar de encontro com o SeIf, conquistado após anos de
muito trabalho.

o éter na Índia é a substância que tudo produz e pg


netra. É um sÍmbolo de Brahma , o EspÍrito Divino. Sua expansão e
retração, este movimento alternado de diástole e sÍstole, consti-
tuem as fases complementares de todo o processo de vida. Guenón faz
agui interessante analogia com a concepção cosmológica ocidental,
onde os alquimistas representavam os quatro elementos dispostos nas
extremidades dos quatro braços de uma cruz: fogo e água, terra e
êtr com o 59 elemento, o êterr Do centro sob a forma d.e uma rosa
de cinco pétalas; o centro da cruz corresponderia ã caverna do co
50
raçao.

diferentes passagens dos Upanishads ê afi-r:nado gue


Em

somente o conhecimento que vem do coração é realmente o verd,adei-


ror pois só ele capacita o homem a passar do mundo ilusório para
o real. É necessário clarear este coração atravês de renúncia e sa
crifÍcio para ele se tornar um espelho mais acurado do Self , ,,*
do todod o^ deae j od que uma" vez entnanam neôte corLação tívetLem i-
da emborLa, e-ntão o motttal tonnatt-de-ã" ímontal, e ele obterLã. Bn-ah-
5l
ma,n . "

o sol e o fogo divino, Agni, tambêm podem ser alcan


çados no coração. Agni, a força solar transformadorâ r é a prc\ra de
fogo, purificadora. Lembra os sacrifÍcios necessários para o se-
gundo nascimento, para o homem se tornar em si mesmo o Atman, aen
I
a
64
a
a
a tidade permanente e imutável. A iluminação origina-se no coração
I e depois vai para o cérebro, que 'e o lugar da mente. A lua brilha
como a mente t têfletindo a Luz do sol, coração. A Iua-mente só é
I
I útit para mostrar os objetos, d.evido ã sua Luz refletida. E ela só
I está consciente do mundo quando está iluminada: "Sna donma (divi-
I na) não podz á e,L ví,sta, níngu6-m a perLeebe com o^ o Lho,s . Acluúers cluz
t atnav6-,s do co rlaçao e da mentz a, co nheeQ-,Lem habítando o conação , tott
52
I narL- e-ão ímo ttaí^ . "
^
I
r O caminho do coração ê aqui proposto como um cami-
nho de renúncia, sacrificio e meditação. o desejo de união com o
T
I SeI.f é a meta, levando ã imortalidade. O corpo carnal e espiritu-

T aI fundem-se num só corpo na caverna do coração.


I
t 3.6 0 Lugan do Son UruLvental
t Emcontrapartida ã ênfase patriarcal da tradição vê
I dica, foi desenvolvido na Índia um sistema onde o femininor na fi
t gura da Deusa Sakti, tem tanta importância quanto os deuses mascu
T linos. Supõe-se que este sistema, chamado de Tantra Yogae r€pre-
t sente conversas secretas mantidas entre Shiva, Deus Supremorê sua
I esposa Sakti , a Deusa Suprema. Agui, ambos são manifestações pola
t res de um único princÍpio transcendente. O masculino é identifica
T do com a eternidade e o feminino com o tempo. Seu amplexo é o mis
I têrio da criação . 53
T
t o objetivo da Tantra Yoga ê trabarhar com as ener-
I gias masculinas e femininas, despertando-as através de vários e-
T xercícios. o corpo humano ê dividido aqui em sete ehatznaa ou cen-
t tros de energia, dispostos ao longo da coluna. Na base destar €s-
T
T
Il
65
Il
It
taria a lzundal-íní, energia representada por uma serpente adormeci
II
da. Através de práticas exaustivas, o discÍpulo acorda esta ener-
II
gia, güê num movimento ascendente vai despertando a consciência em
)
d.if erentes niveis atê a total ilumin"ção. 54
1l
t o coração seria o quarto centro ou chaÍzna. Ao des-
t pertá-1o, o indivÍduo tornar-se-ia consciente dos sentimentos dos
ll
outros, chegando até a sentir as dores dos outros. Este centro é
Il
chamado de Anãl,tata r guê guer dizer " o Á om prLo duzido á Q-m o baÍut de
tr
duat eoíaat juntat" ou o som do Sabda(som)-bnaltman, que é o som
a
do "Pulso da Vida" .55
a
ã
Este som 'e tambêm o som da energia criativa do Uni-
ã
verso , o ttum, o vazio . Díz-se que este som é ouvido internamente
!
e ao mesmo tempo no espaço. É o som-semente da criação, qnrido quan
ã
do a hundaLíní emergente alcança o nÍve1 do coração, pois 1á ó di
ã
56
to que o Grande SeI.f .
a mora

ã
Anãl,tata 6- co ná ídenado o gtande ehdbta no co ,Lo.ção de
a "
tadod oÁ EerLeá humanoá. É o ponto de LíSação entne
I o^ el,tatznat ínóe,Líorlet, gznenativoá, e o^
,Leá , maí,s ed pitítuaít.
^upeLío-
ã N o á eu cenÍno v erLmeLha l,Lã,

d,o ía tníãnguLo a intenLig ad,o a de co rL zá dumaçad,a , um


ã
ma^euLíno e outtto demínino, dígníóicando união; con
I tôm t amb6.m a, aít-ab a Aam acíma d.e um antíLo pQ- . " 5f
T
a o antilope agui carrega vãqu, o deus védico do ven-
E to, e associa-se principalmente ã velocidade. C. G. Jung conside-
ã ra este animal como sÍmbolo de problemas psicossomáticos devido ã
a sua leveza e rapidez. AssiJn, o coração pode pularr pârâr, excitar
a
r!
a
Anahata

Joseph Campbell.The mythic image, Cp , Cit . p .359


t
)
t 66

a
-se tão rapidamente quanto um antilope .58
a
a
Dentro do triângulo feminino (vértice para baixo) , há
a
um lingam dourado lpltaTu,Sl , que aqui é sinônimo de consciência mg
I
I ral. Este lingam pode ser o guia, a cada passo aconselhando o as-
pirante, ao longo do caminho, a observar o batimento cardiarc. Quaf
I
I quer aumento ou decrêscimo no ritmo do coração serve ccnrc sj:ra-I que

I há um erro na prática. 59

I
I Shiva e Sakti , o casal sagrad.o, encontram-se pre-

I sentes. Shiva como representante do Logos eterno e Sakti como A-


I mor, inspiradora da música, poesia e arte. Sakti, como ârr pene-
I tra todos os lugares e dá energia ao corpo, através das práti-
em

t cas emocionais do devoto. A arte que nela se baseia ê eterna por-


que está sincronízada com o ritmo do coração e, portanto, com o
T
I ritmo do cosmos.
t
T Logo abaixo do Iótus do coração há, num quadro me-

T nor, um Iótusr êo nÍvel do plexo soIar, suportando um altar enfei


t tado com a imagem da "Ãrvore-preenchedora-dos-Desejos" . É aqui que
t'A^ puímeínat íntímaçõed dão ouvída^. Uma vez ouvída,s podemoá ded
t
T cobtín o bem em todot oL Luga"tLe6." 60
T
T Em volta de todo o cttalzna há filamentos gue o ador-
T nam, iluminad.os pela região do plexo solar. Neste ponto, dizem os

t textos sagradoss " o qoguí tem 6euá dentimentot completamente dob


eo ntno l-e. Sua mente, em íntLnÁ a co ncentnagão , e^ tA plena do p Q.ná g
T
I mznto do Bnaltman lO eut Suptemo | . Sua dala, ínápínada , {Luí como um

T nio d,e ãguad cLALaÁ . " 6l


I
T
Il
a
67
)
)
pois, concruir que no sistema do Tantra yo
Podemos,
a ga o coração ê o lugar de união entre o masculino e o feminino e,
a portanto, o lugar da criação da força âfiorosâ; O despertar deste
a centro sensibiLíza o discipulo para o seu sofrimentor âssim como
)
para o sofrimento dos outros. Aumenta sua sensibilidade artística
I e sincroníza-o com os ritmos da natureza. PoderÍamos dizer ç[re, nqg
I te pontoT ê anima integrar-se-ia no desenvolvimento da personali-
I dader âo mesmo tempo que o animus, enquanto palavra, tornar-se-ia
I mais preciso e mais c1aro. O ritmo aqui é fundamental. EIe contro
I
laedirigeoprocesso.
I
I
AnãhaÍ.a, o som individ.uar e universar, une o ego
I e
o SeIf numa totalidade única e unÍssona. Quando o ego "bate,' no
T
seu ritmo cardÍaco, está garantida sua harmonia e seu desenvolvi-
I
mento.
I
I
.7 0 Cotação
I 3 F Leehad.o

T Madana, uma das personificações de Kama, Deus do A-

I mor, nos textos sagrados do Rig-Veda, é ligado ã realização dos de

I sejos e ao desejo de felicidade . 62


t
t A pedido do Deus rndra, rei dos deuses, Itladanar rê-
T tratado como jovem vigoroso, com arco e flechas, vai atê Shiva,
t que se encontrava há muito tempo absorto em suas meditações no aI

t to do Himalaia.
I
I Nesta época todo o Universo sofria porque Shiva, Der:s
I da l"lisericórdia, estava esguecido de sua missão de liberar os ho-
I mens do sofrimento. EIe precisava unir-se ã Sakti, Deusa da Exis-
t
T
|I
a
a 58

a
T tência, para cumprir sua missão.
a
Madana, então, é convocado para que com suas fleclras
a
T feitas de cinco rosas celestiais despertasse o coração de Shiva.
T
No momento em que as rosasatingiram seu rcração, reus
I
I olhos se abriram e Ele viu sua esposa Sakt,i. Entretanto, fulminou
Madana, reduzindo-o a cinzas. Em resposta aos pedidos de Rati (de
T
sejo) r viúva de Madana, seu marido the é devolvido, mas agora só
I
t como imagem, sem corpo. De modo güêr desde então, Rati (deseio) pI9

t cura o Amor por todo o Universo, sem nunca conseguir encontrá-Io.


|r
Mas, ainda segundo a lenda1 d essência de Kama ouMg
T
T dana (Amor) ficou com Shiva e Sakti para reconquistar o oraçãodos
63
T homens e cond,uzi-Ios ao Deus Desconhecido .
T
t Kama tambêmé uma forma de Agni, Deus do Fogo, nas-
t cido das águas, fonte da vida, e daÍ liga-se ã união e ã criação.
Como Eros, é o primeiro dos deuses a nascer, transformando toda a
T
t criação num tom primaveri L.64
t
I Ivladana (ou Kama)
, além do arco e das f lechas, carre
T ga um laço com o gual prende de longe a vÍtima e um gancho [Era tr -]

T xã-la para perto. No plano corporal, opera através do mistério dc


t sexoi no plano superi ot t é a vontade do Criador. 65
t
t Para os hindus, entretanto, agueles pegos pelo laço

t de Kama tornam-se seres esquecidos do Si Iulesmor pêrmanecem fixa-


ã dos na roda universal do tempo, levados a nascer novamente. O de-
t
t
)
a
69
)
a
sejo aprisiona o homem ê 1 assim, aguele que não conseguir livrar
a
seu coração das flechas de Madana ficarão presos, indefinidamente,
a
a sucessivas reencarnaçoes. 66
a
I
Masr âo mesmo tempo, sem seu despertar, Shivêro
t Deus

da Criaçãor €staria ainda perdido em seus devaneios, sem ligar-se


T
ã natureza. Somente as flechas no seu coração fizeram com que se
I
unisse ã ExrsEencl-a, dand.o forma e matéria a seus pensamentos.
t
.t.!-?

T
3.E 0 Cotação Cítcuncitado
t
t Antigo Testamento 1 â. palavra l-ev (coração) ocor-
No

T re cerca de LO24 vezes 67 , principalmente em três contextos: como


t lugar da mente e da vida intelectual, como sede dos sentimentos e
t como centro de vida moral e religiosa.

t
t Comolugar do intelector o coraçáo permite recordar
t ensinamentos divinos e a bondad.e de Jeová z " )ln Sznhon 0 eua de Abtu,
t ham, láaa,c z ldnazl-, noá^oó paíd , mantznha óe-u prLopíaíto no penál.
t mento do pov o e d,íní j a o corlação d,eled po.rla óí me.ámoá .'r 68

t
t Pureza do coração 'e a meta, enquanto sede dos senti
,.
t mentosz "Cftie e-m mím um conação purLo, oh Oeua; L ,Lenove um edpíni
to conneto d,entn-o d,e mím." 69 tubít a
T "Quem pod,e montanha d,o Se-

T nhoft. E quzm pode dícan no ôe.u Lugat áagnado? AqueLe cluz LLvut mãot

t z eo nação purLo I . t' 70


t
t o coração sofre na ausência e se alegra na presença
t . 7l
divina ". É consumido na ausência e abandono: "llínha donça óoge
T como ã,gua e meuá 0ó606 todot 6e deaeonjuntam. lÁeu corLa"ção eátA eo

t
t
!'

lI
I 70

ll 72
mo ce,La, d.Q.,LrLetend.o - á z denÍno d,e mím,' ,
ll
I
I'Ias, talvêz r o sÍmbolo do coração apareça com maior
I
intensidade quando 'e proposta uma nova aliança entre Deus e seu
povo. Através do profeta Jeremias, assim Deus a anuncia: t, Eí,s que
t vinão o^ día,s em que concluínei com o povo de lanael- l,e Jud.ahl u-
t mA a at-iança. Impnímineí a mínha I-eí na^ á uaá entnanhaa e- a^ e^
I no v

co,Laçõed. Entã0, eu aeneí o


t ctLQ-veneí em
^euá
o mg-u povo." 73
^Q-u
|zut e eLed aelÃ,g
I
t
A conscienti zaçáo da presença divina no coração sr:bs
T
titui a lei externa. O que foi gravado na pedra agora está no cor
T
T Po. " 0 Senhon, parLa quz Eeu povo poáÁa ,Legene-rLa.rL e voltan ao^
^e
áeuá díad de gl6rtía, prLomete: 'Datt-Lhea-ei outno cotLação e outta
t
r maneíta de agin-, de áorlte que EQ-mp,Le me- temam... E ajuatateí com
ele-r uma a!-íança etenna, . t' 74
T
T
A mesma Ídêia encontramos em Ezeguiel: Atütnncostú de
T "

euá áo edta e Llqea


t á co rlp o co ,Lação de p d,an-eí um co ,10,ção d,e caftne .

ELet tottnan-ão meu povo e Eu deteí


I ,sQ- áe-u ozud.,,75

t Para que esta aliança se eoncreti ze, entretanto r ürn


I
sacrif Ício é necessário: o coração deve ser circuncisado. Em lr,Ioi-
I
sés já aparece essa mesma idéia z "Vocôl devem eíneuncítan o VLep-L
I
cio de cotação e não maíd áe.nem teimo^oá.t,76 Um coração fe-
T ^eu
chado, rÍgido, impede a transformação. o novo acordo só ê possÍ-
T
vel com uma nova atitude . 77
T
t
I A " circuncisão do coração" ê o ato simbórico de en-
T
I
II
T 7L

a trega total do homem ao seu centro (Deus) . O sacrifÍcio ê o ato ri


a tualÍstico introvertido que impede o retorno a uma situação prim!
a tiva, animalesca, pois t'acgueleô que movídoa pela ambição neJ,ía-anen
T a prLo{eeía de corlaçõea víveLã"o como anímaía damíntoa, vutda-
I ^Q-uá
dzíno,s iaca-i^." 7E É tambêm o ato simbólico que une o ego ao ar-
T
quétipo central, humanizando o homem e orientando-o no processo de
I individuação. A união do coração humano com o coração d,ivino com-
pleta-se na A1iança eternamente almejadaz "V6t quQ- butcaia a1etÁ,
t
r que o vo^áo corLação víva!" 79

I segundo lÍestmanr Írâ Aliança, o serf age na psique,


T
enraizando-a e estabelecendo um novo impulso no desenvolvimento do
T
vir-a-ser da personalidade. t0 Esta Aliança ê também um processo
T
de equilÍbrio entre o ego e o inconsciente, ã medid.a gue ê estabe
I Iecido um compromisso de trabalho conjunto entre os homens e Deus.
T
Em outras palavrês r o ego compromete-se a se desenvolver ligado ao
T
e guiado pelo arquétipo central e sempre voltado para suas raÍzes.
T
t 3.9 0 Sagnad.o Cotagã.o
T
I Na era moderna ê no Cristianismo que encontramos o

r sÍmbolo do coração na sua maior pujança. Descrito nos evangrelhos


T e nos escritos de santos e mÍstÍcos, tornou-se um cultor eu€ per-
T manece vivo e atuante entre nôs até hoje.

I
T rnúmeras passagrens bÍblicas ilustram sua presença. Em

I uma das mais significativas, ele ê o lugar onde a vida espiritual


t nasce, desenvolve-se e une os homens. Esta passagem refere-se ã
t formação das primeiras eomunidades cristãs z " 0 co7,po tst1t d.ot cnen-

T tet eá tav a uníd o num ô6 co ,La.ção e ALnA ,, tl


I
I
Il
a
a 72

)
o coração é o rugar central, o ponto de partida que
)
a todos une num só i-deal.
I
a Na carta de paulo aos Romanos, a idéia de aliança é
t mais uma vez reforçada z " 0 v endadeíno j udeu A aquzle- que- 'e aaaím
t íntzn-nament e e a' v endadeína cincuneiaão õ. a do cozação
I , dínígída
não peL-od prLeeeítod eten-ítod, mal aim pelo Eapínít0.,,82 segue a_
)
inda: t'... voei- A uma can-ta que veío d,e Ctíato ..., e-ác1íta ytno em
I tabua,^ de pedna, mA^ na.^ pãsína,,s do eo ttação ,, 83
humano .
)
t o coração é o rugar onde Deus-cristo marca os ho-
T
mens. É nele gue os mandamentos são imprimidos, isto 'e, o caráter
T
do homem se estrutura. o coração do apósto1o se abre sem restri-
T
çõesr rIâ busca d'e uma troca e uma integração comunitária: ,,Numa
t tnoea iudta, Abnam ampLamente leuá corLaçõed a n6á.,, 84 o coração
t deve se abrir e se entregêrr refletind.o o próprio coração da
I vindade. Díz cristo: "Ábaíxem a cabeça dnente ao meu
di-
t u g entíL e humít-d.e de co rlação . ,, 85
lugo, poíd
I So

I
ser gentil e humilde de coração revela
t pureza e nobreza. Agueles gue assim forem serão esolhidos por
um caráter d.e

T Deus
para participar de sua rgreja e para a vida eterna. Apregoa
T tam-
bém Timão (apóstoIo) , na formação d,a rgreja: ,,0 alvo e objeÍ.Lvo
I ta p'Legação 6- o amo,L que dLui d,e um conação Límpo .,, 86 qranto
d*L

I malor
a capacidade amorosa deste coração maior o ágape, isto é, maiorse
I
rá a possibilidade de reunião amorosa entre tod.os os novos cris-
l
tãos: "Não tentíamo| n'od oá col'açõed em óogo quand.o ELe
t tl
daLava co
no 6 co ?'t
I
I
I
I
I
a
a 73
a
a As pregações vão diretamênte ao cêntro cardÍaco. É
um conhecimento dê ordem não-lnterectual, nas direto
T e emocl0na1.
O fogo ê a sensação do sangue corendo rapidamente pelo
I corpo, jun
T
to com a forte emoção sentida quando sê ouve a palavra criativa e
transformadora. É uma forma de entendimento objetivo, direto,
I co_
mo fala Origenes (sêculo fIf), e mais tarde Gregório
I de Nyssa (sé
t culo IV), ao explLcar a famosa passagem do Cântico dos Cânticos:
t "Eu duttmo maà neu eottagã,o eáÍ.A deÁperLlo.n t8, t9 o conhecimento i,1

I telectual ê posterior ã vivência direta, não_reflexiva.


I
I culto ao Sagrado Coração dê Jesus tem como uma de
O
suas bases a devoção ao ,,Lad.o tnetpataado de Crlíátot.
I De inÍcio,
I os padres da fgreja e os cristãos de Roma (séculos fI e
IfI) cos_
tumavam meditar sobre a ferida, mas sem expressar
I diretamente apa
lavra coração. É santo Agostinho que vem afirmar o Coração dê
1 Cris
to como o lugar onde a Igreja nasce: t,CrLi|to ô atttavedlado con
I a t

Langa d.epoíÁ dd norlÍe, pa.no. que bnoten oÁ Áacl"amentol


1 que [unda_
menÍam a Tgtteja,t 90.
Em outra passagem, defLne o coração como
I o ru
gar da experiência religiosa e da individualldade : ,,lleu
I coà.afi.o et _

I
Íô. onde eu eÁÍou, Íal cono eu 60u,, 9l .
I

I
I
Na rdade ttédia, entre os anos rr00 e 1250 iniciou_
i -se o curto ao coração propriamente dito, com a passagem da med,i-
tação sobre o coração 92 - são vários os santos e santas gue
se de-
dicaram a esta devoção. Entre eles: são Bernardo de
clarval, san-
ta Lutgarda de st - Trond, são Boaventura e santa Gertrude 93
. É de
são Boaventura o texto z 't o conação d.o senhon
6oi
atrLav e.á,6ad,o com
a Lança pana que, PeLa ehaga vídível-, tLeconhecãaáemoá
o amo,L invi
tíveL- Á denída do co,Lação moôtna a deníd.a d.a ar-m,,.,, 94
\l
í
a 74

a
a Vários religiosos nesta época descreveram suas afli
a ções como afastamento do coração, isto é, afastamento do lugar de
regeneração. O religioso cansado ou em pecado via um manancial de
a
a energia salvadora na ferida-fonte e "bebia" deste sangue para se
recuperar z " Atttev í-me a to can com meu^ Lã"bíoa teu corLa.ção , tão a.-
a 95
mãv eL amr.nÍe , e apag arL neLe mínlta a ed,e . "
a
I
O coração em diferentes textos é vj-sto como fonte de
,
onde jorram as águas da salvação, do re-nascimento. A idéia de fog
s
te como restauração já aparece no Antigo Testamentor rro ato deMoi
1'
s sés de fazer jorrar água das rochas 96 e com a exortação do profe

t ta rsaÍas z " Com aLegttía tínaneít ã"gua dad do ntza d.a SaI-v ação . ,, 97
à A Igreja considera essa profecia concretízada nas palavras de Cris
e to: "Se algu-zm tem a ede- que v enha a" mím z beba; aquele clue cnô. Lm
mím co ndo nme a.^ Ed enítutLa,á dizem : ' de e-u d eío j o nnanão níod de í
4' ^
9t
t gua v ív a' . " Assim, na descrição de São João z, lrla6 um a o Ld,ad,o a
"
s punl'taLou com a Lança, e d.e Lã, daiu o (t-uxo de áangue z de ãgua.,,99

,
1t o coração de cristo passou a ser consid.erado pela I
s greja Cristã como fonte de onde jorra a água sagrada, a água do ba
s tismo e o sangrue r guê ê o próprio sacramento da Eucaristia. 100
t
I À medida que o simbolismo de água e de fonte está

l, sempre associad.o ã figura da Grande Mãe l0l , podemos interpretar a

a gui o Coração de Cristo como o vaso ou útero do renascimento, is-


a to é, o lugar para onde o ego pod,e regressar e se fortif icar para
à dar continuidade ã sua jornada. Beber desta água ê encontrar o di
t vino e se redimir dos pecados, voltando ao estad.o original .
t
t
)
'tI
I 75

I
com o passar do tempo, espalha-se
I o curto onde a v!
vência da entrega e união do coração do inici-ado com o coração fe
a
- o eixor rtê busca da
rido e
I compreensão do mistério da vid,a e da
morte.
I
I
t No mosteiro de Helf tar rrâ saxônia, sécuro xrrr, te-
ve lugar uma verdadeira eclosão mÍstica. santa t'Iatilde de Hacke-
I
born descreve em detalhes como " 0 euá co Lo cou eu co rLação g.)Ld,ente
I ^
t 'de amo'L dzntno do eonação oel-e, o^ d,oía tonnand.o-ae um d6
loz
corla,-

T ção."
I
t Multiplicam-se experiências mÍsticâs r na época reve
lando a força deste símbolo.
I
I
I Santa Tereza D.Ávi1a (I5I5-1582) , jovem freira espa

! nhola, tem a segui-nte visão, ao rezar frente ao crucif ixo: ,,R


eprLe

l 'sentava de modo tão ímpneddíonanÍe um cníato eobeftto d.e chagat, QUZ


Lo go a'o pn-ímzíno o L-l'tan me d entí penturLbada
I cam a, Lembnança d,o quz
po'L n6a so 6'Leu. o corLa,ção deapedaçou-^e-me d.e ,LemorL7.oá
I ao p'-n^arL
na ingnatidão pa.'La com aqueLaa chagaa ... sznti que a panÍin
1 d.aí
I
Jedut dínal-me-ntz pzne-tnou no me.u eonação d.uno e araím dedcobttí cluz
seu amo'L ettã' acima de Íodoa o^ gozo,s d,a Íenn-a, aeima d,e
I Í.odad a^
d'et'ícíaó . " 103 Em trma outra importante visão diz: ,,
I . . . ví lunÍo de
mím, i' mínha eáqueLda, um anio em donma corlpottal-, o que
I d6 med.da
do muíto exczpcíonalmente . . . Tíntta naá mãoa um d,atd,o de
1 ourLo, e

I i uLgueí na po nÍa do [enno uma elrama. paneceu..me que mo a.,Lna.n-


v Q-'L

cav a deixando -me abnad ada e.m gnand.e d,mo tL


I de D eua. A d,o tt erLa, Íão
1
viole'nta que- me-
dazía geme.rL e a tat- ponto exeeaaíva efta a. Áuavid,g
de dedta dot vivíttíma, Quz não e)La" poátÍveL d.edejan vô.-I-a
I
tetmi-
Um anjo transpassa o coração de Tere sa corn o Cardo arCente.
=etábulo [roas) de Lor^enzo 3ernini, Homa, Santa il,iaria della Vittoria.
,',a1ter Nigg. Cp .Oit .

Belicário com o ccração de Santa Teresa na lgreja do convento


de Alba de Tormes.
fJalter NlgS. Cp . Cit .
T
I 76
a
a
na"da. e- a alma jA não eontentava aenão em Dzud. OoL eapíttitual,
a ^e
não corLponal, Ez bem que o cotLpo não deíxaá^e de ten nela alguma.
I paftte. É uml, tnoca de amabíLídadet tãa
L me.^mo g,Lande e- entne
a ^uav
0 eut e alma qul peço a, D eut 6aça expettímzntan a que-m pen^ z gue Lu
a 104
mínto . "
I
I Para Terezar êsses encontros significavam que Cris-
I
to achava-se ao seu Iado. No êxtase encontrava o SeIf e era toma-
I
da por uma força enorme, junto com muita coragem, que a levavam ã
)
realização de árduas e importantes tarefas. A sensação de flechas
I
e fogo ferindo-a aparece em outros de seus escritos, sempre cm um
T
misto de prazer e d,or. O sofrimento ê "penoôo L dete-íto^o". 105
T
t
1610, São Francisco de Sales tomou como bra-são pa
t Em
ra sua Ordem de Visitação um coração atravessado por duas flectras,
I
rodeado de espinhosr gue serve de base para uma crvz orde estfo grg
T
vados os nomes de Jesus e l"laria 106. Desta maneirâr o culto ê ain-
t
da mais difundido e a partir de 1673. Uma jovem desta mesma con-
T
gregação inicia um processo de meditação e êxtase de grande influ
t encia no desenvolvimento da Igreja. Esta religiosa francesa, ,""-
T
ta Margarida lvlaria Alacoque (L6 47 -L6 9 0 ) , durante suas vi sõe s , re-
T
cebeu uma série de preceitos que se tornaram populares e interna-
t cionalmente conhecidos. Entretanto, não foi sem conflitos que en-
I
trou para a vida religiosa. Durante um baile, na adolescência, te
T
ve a primeira visão z " Et-e atínou-me- |Lzchaa tã"o ande-ntza que perL-
T
107
dunanam e clueímarLu,m me-u co rLa"ção e- a do n que a entí EuperLou-me. . ."
t Toda vez gue procurava o caminho mudano, a visão e sensação das se
.

T
tas no coração a perturbavam tanto que "tínha que entnzgan a
t ^Q-
Cnídto totalme-nte" (sic): "Tudo íado me impneááíonou tão dontQ.men
I
t
I
T
T
T 77

T
te e ózz dznídad tão do Lo tLo aL no meu co rLação qul Q.u cho neí a,ma,L-
T ^
l ot
game-nte.. "
T
I A partir dos 24 r pâssava de 10 a L2 horas em êI
anos
t
tase no convento. O sofrimento era a via de união com o divino, e
t
ra o caminho para Deus z " Quanto maít eu ,s o f,no , maid Lu ag nado Q-^ -
T
te amon quz acende tnô-t dztzjot zm mQ-u corLl,ção
I ^agnado
109
^oórLo-rL,a
mat e comunícan L m o )LrLQ-rL pa"7.1, me- unin a. ELe . "
I
I
A sensação de calor e fogo está presente em vários
I
relatos: " ELe me. pedíu me.u eo nação z zu implo nzí que ELe o Lev aá -
I
z ítdo ELe 6ez eoloeando-o junÍo ao Seu e- depoír mo^tnotl-me,co
I ^L
mo áe ele {otdz umt pLguenx, eentelha con^umída no áe-u {ortno atde-n
I
tQ-. Entã0, ftztínando-o, ELe a moLdou como um cotLação z o ,La-co!-o-
t
cou no Lugan do clual havia tínad.o." Il0
I
I
Santa Ivlargarida sofria de intensas dores do lado es
!
querdo do peito, provavelmente dores precordiais, que eram "miti-
I
gadas" atravês d.e sangrias e praticad,as, segund.o ela, por ordgn de
t
Jesus CrÍsto. A idéia de sacrifício e dor acompanha todo o seu pro
I
cesso.
I
T
seu confessor, o pad.re craude de la colombiêrer êo
t
celebrar a missar rrâ sua presença, sentiu tamb6m intsrso calor, "co-
I
t mo me.u cotLa,ção doaae áQ. clueiman com amorL d,ívínl." lll Nesta mes
^e
ma missa, ao comunga't r Santa Margarida viu o Coração Divino sob o
T
sÍmbolo de um forno ard.ente com dois outros corações (o seu e o do
I
padre) unidos e se consumindo e ouviu: "Aó Áím meu putLo &morL une pa
I
)La. 6 emprLe- eá te6 tnõ.a co rlaçõ eá . " ll2 o f ogo destrói , transf orma e
t
t une. Não há distinção aqui entre o coração corporal e o simbóli-

! co. Para Santa l"largarida eles eram um só na união mÍsticaccm Deus.


T
,
a
i
ü
a
t
ll
I
,
I
,
;
t
§I
Is ffi
t
t
,
,
t
t
t
t bu,v;" 3^.ô
T
t *rÊ'
t
t Sacrado Coraçao de Jesus por Santa l\,trargarida Ív1aria.1683 D,Ç.
Preservado no [l,lonsteiro da Visitação, Turin, Itá1ia
T Joseph Campbell, Cp . Cit , p.3il
t
t
I
t
I
T
t
I
t
I
78
ü
a
o caminho proposto por estes santos é de amor pelo
)
mundo e sofrimento. O culto ao Sagrado Coração leva ao desejo de
a
sofrer como Cristo na cruz, para a partir deste sofrimento poder
I
encontrá-Io, significando o encontro do eçro com o Self .
a
I
Na sua segunda visão , santa Margarida vê Je-
(L67 4)
I
sus Cristo com as cinco chagas brilhando como cinco s6is e seu pei
I
to como um forno onde o coração era a chama gue alimentava todo o
I
calor. Neste momento, Santa Margarida sentiu também uma chama tão
I
forte queimando seu coração que assustoü-sê. Propôs , a partir daÍ,
I
que o culto ao Sagrado Coração de Jesus deveria ocorrer na primei
T
ra sexta-feira de cad,a mês, pois foi guando ocorreu esta visão ll3 ,
T
data mais tarde confirmada pela rgreja, e até hoje preservada ll1.
I
t
T
Emtodas essas visões alguns aspectos são comuns e
se destacam: o coração de Cristo substitui o coração do mÍstico,
I o
desejo ê de união e fusão dos dois corações, e o objetivo desta u
I
I nião é o estado de graça 1 o estado de êxtase. O ego é dissolvido
no Amor Universal e perde-se no Se1f coletivoi uma regressão a um
T
estado primordial. Desaparece a sombra. O culto é essencialmente
!
devocional, não-intelectual. Ao sentir a mesma dor que Cristor âs
t
T
misticas tornar-se-iam igual a EIe (Self-Cristo), sem d.icotomias
ou contradições. Segundo C. G. Jung r ês estigirnatizações seriam tag
t
t b6m uma forma de incubação com o divino e de retorno ao paraÍ*.115
t
T
As projeções revezam-se: o coração sorar ê a sombra

I do coração ferido e vice-versa, reveland.o que o herói cardiacot;nr


bêm tem um lado oculto e sofre por sua doação amorosa. As mÍsti-
!
cas se transcendem na entrega de seu centro a um centro maior, tor
I
t
I
I
I
I 79

I
nando o coração o lugar do desejo e do conhecimento sagrad.o.
I
I
C. G. Jungr âo tecer comentários sobre a biografia
I
de Anna Catherina Emmerich (L77 4-L824) , f reira que tambêm Uirtha prg
a
blemas cardÍacos t têlaciona as setas das visões com as intrigas e
T
fofocas das freiras contra Anna Catherina 116 , fato igualmente o-
T
corrido com Santa Tereza e Santa Margarida. Mais profundamente, eI
T
tretanto, pod.emos ver as setas.como tendo um significad.o masculi-
I
rlo r libidinal t Íêlacionado com dese j os sexuai s reprimid.os que " 6 e
I
,Le-m e daz em o eo ,Lp o arLde)L . 't (sic)
r
T
observar que os aspectos sensuais e sexuais
I Podemos
estão implÍcitos em guase todas as visões e êxtases destas frei-
T
ras.
t
T
Tanto Santa Tereza quanto Santa Ivlargarida eram jo-
T
vens, guê já na infância sofreram doenças inexplicáveis, provavel
T
r mente de origem emoclonal. Ambas perderam a mãe na primeira infâ!
cia e se ligaram fortemente ao pai, o qua1, por sua vez, princi-
I
palmente no caso de Santa Margarida, tambêm não pôae dispender os
t
cuidados necessários ã filha. Embora não caiba aqui uma anáIise
T
mais profunda da psi-que destas duas místicas, podemos, entretan-
D
to, ressaltar a bipolaridade com gue o sÍmbolo do coração aparece
I
nas suas visões. O sofrimento é "doce" e "doloroso". percebe-se,
T
em vários relatos, o prazer do sofrimento. A dor aplacando a cul-
I
t pa do pecado, provavelmente decorrente de fantasias e sensações se

t xuais proibidas (incestuosas?) . As flechas que penetram seu corpo


têm uma óbvia conotação fálica, reforçada na presença do jovem a!
T
I )o, meio puer, meio adolescente, figura de anímud em forma de es-
I
I
80

pírito. ele que penetra, causa êxtase (orgasmo?) e dor. A dor a


É,

companhante aplaca a culpa do prazer proibido. O prazer genital es


taria aguÍ d.eslocado para o "prazer cardÍaco" , numa clara analo-
gia entre o órgão genital feminillor útero, e o coração.

O jovem anjo pode ser uma das personificações seme-


lhantes ã do Deus grego Eros. Eros, apresentado como " tlm go'ttoto LoL
Lo , no tLmalmentz de a,s a^ , e.^ Í-A Q-mprLe p,Lo nto parLa tnan^ pa^ arL com
^ ^
Lua.^ óLeehat enve-nenada,s de a,mo,L e paíxã0, o dÍgado e. o corLaçã,ode
vítímaát' ll7 . As flechas têm um aspecto torturador e doloroso,
^ua.Á
mas podem levar ã amplificação do ego, obrigando a superar o vene
no gue injetam. Segundo J. Brandão, o " amott dette e índLama o corLa
ção . l,la^ tamb6-m 6- a. butea de um eenÍno uníÇicadon que penmítz a ,Lg
tlízaçã,0 da dínte-áe- dínãmíea de- potzncLal-íd,ad,eá . " llt As f re
^uaz
chas despertam a consciência adormecida das jovens med.ievais, a-
cordando-as para uma realidade frente ãs expectativas de sua épo-
ca. Suas visões e relatos são conhecidos; ambas tornam-se impor-
tantes e suas contribuições são lidas ainda hoje.

Nos seus relatos, percebe-se também uma dualidade en


tre a adoração a um coração ferido, sangrando, desmembrad,o e a um
coração reluzente, güê "bníLha como o o coração ferido do
^oL".
mÍstico projeta-se no coração ferido de Cristo. Ã medida, porém,
que o processo se desenvolve, o coração reluzente se forta-Iecer tê-
velando a cura e o paraíso.

o coração divino, solar, passa a ser o refúgio, o


SeI.f ao qual liga-se o ego, completando um ciclo no processo de in
(1r-vr-ouaçao.
l

Ir
a 81

a
Na polaridade redutivâr a interpretação nos leva
a a

reduzir este fenômeno a um comportamento histérico, fruto de uma


)
libido reprimida, guê volta-se contra si mesmo, provocando sinto
a
mas cardiacos. Na polaridade construtiva, estes mesmos sintomas re
a
q.l

velam a busca do Se1f, a trajetória do herói e a busca do signifi


a
cado da vida. Ambas as interpretações são igualmente válidas e só
a
uma solução no nÍveI individual poderá contrabalançar entre osd.ois
a
1l fatores, levando a uma solução criativa e saudáveI.
,
t os dominicanos r rrâ Alta Idade Uédia, guê a dg
É, com

t voção ao Coração de Jesus recebe maior impulso: " 0 Senl,to n Lego u o

ã Jattdím de lgneja com o de Lado e dz áeu co;10,çã0."


^ua ^anguQ- ^e-u
!I d,íz Santo Alberto Magno . ll9

fl
4t Agui o coração d.e Cristo é visto como a moradia on-
q de devemos permanecer até a completa transformação, para então "po
1' den, com o cotLa.ção á e-mel-hante 0,o do Paí, á uLmoá co nduzídoa at6- o
I \ívíno Con-ação." I20
t
qt O coração é, assim, o lugar das transformações, do

I mistério e da purificação. O iniciado, através dele, tem acesso ao


I caminho para a vid,a eterna. O fiel med.ita sobre o coração ferido e

I deseja penetrã-to, perder-se dentro deIe.

|I
t o culto ao sagrado coração, como lugar de veneração,
t desejo de Deus e órgão de conhecimento difundiu-se pelo mundo crris
I tão e acha-se atuante até o presente momento.

'r
Il o coração de Maria, mãe de cristo, começou a ser ve

t
t
t
T
I 82

I
nerado através de São João Eudes, no século XVII, fundador da CoI
t
gregação de Jesus e de Maria. Eudes enfatizava que o caminho mais
t
efLcaz para se aproximar de Deus era através do Coração de Maria,
I
I clevido a sua capacidade de interceder junto ao Filho .l2l
rt

I
No século XVII, tambêm, Pascal, filósofo e matemáti
I
I co francês, dá uma nova força ã questão ao afirmar que o coração
I ê o lugar da resolução e vontade. A vontade que parte do coração
t define o individuo e é sua expressão. Para ele, Deus é sentido no
I coração e não pela razáo. "É o conação que aente Oe-ud z não a ,La-

t zão: íato 6. o que a óQ- 6., Dzua A óu^cetível- ao corLação , maá não A
,La,zão . " 122 A razáo é necessária, mas não é suf iciente para o co-
I
I nhecimento da natureza, pois " o corLa"ção tem nazõ ea que a. pníptía

I nazão d,e,,sconl,tl-ce" frase popular até os d,ias de ho je 123 . A verdade

I e a divindade só podem ser descobertas atravês do conhecimento di


I reto que parte do coração.
I
t Esta conceituação é importantÍssima quando analisa-
I mos as imagens atuais do Sagrado Coração de IvÍaria e do Sagrado Co

I ração de Jesus.

t
I Em ambasas representaçõês r nas mais diferentes fot
t mas, observamos dois tipos de fogo saindo do coração: um com raios

I retilÍneos 1 clarosr guê seriam o aspecto luminoso e cutro on raios


I flamejantes, saindo da parte superior do coração, e que correspon
I deria ao aspecto de calor propriamente dito. Usaremos a partir dg

I qui a terminologia proposta por R. Guênon: "coração irrad,iante" pa

I ra o primeiror e "coração ardente" para o segrundo. 124


T

I
J
a
83
I
I
R. a luz é o sÍmbolo mais habi-
Guênon observa que
I
tual do conhecimento e o sol r pot conseqüência, representa o co-
I
nhecimento direto e intuitivo. Enguanto a luz lunar Lraz senlpre um
I
conhecimento refletido, próprio da razáo , a luz solar Lraz um co-
I
nhecimento imediato. A percepção direta de uma experiência, como
I
um tipo de intuição, 'e chamada de "conhecimento do coração", como
T
encontramos no hinduÍsmo. Assim, enquanto a razáo está ligada ã
I
menter âo cérebro e ao simbolismo da lua, o conhecimento direto,
t objetivo tem como sede simbólica o so1 e o coração.
I
r As representações do coração irradiante são mais fre
I
qüentes na Antigüidader Írâ êpoca onde a inteligência era aiJda tra
T
dicionalmente referida ao coração, enquanto as representações do
T
coração ardente difundiram-se mais depois do sêculo XVII,
t guando
o racionalismo reduziu o coração aos sentimentos e a inteligência
t
ã razão.
I
t
Ho e encontramos os doj-s aspectos r calor e luz , prê
j
T
sentes na maioria das representações. Na prática há, entretanto,
T
em geral , o predomÍnio de um ou outro aspecto. Se da FÍsica sabe-
I
mos gue uma chama é tanto mais ardente quanto menos ilumina; ana-
t
t Iogamente, podemos dizer que se no coração ardente houver muita e
moção 1 ê. capaci-dade de conhecimento intelectual irá f icar diminuí
I
da ("a paixão cegra"). Inversamenter rro coração irradiante ê maior
T
a capacidade de um conhecimento objetivo, mas menor a
I "*oção'25.
o
fogo que aparece no centro das representações poderia portanto ser
I
I interpretado como amor (caIor) guando ardente, e inteligência in-
t Lelectual (Iuz) guando irradiante.
I
T
T
T
a
84
)
)
) O caminho dos mÍsticos cri-stãos ê o caminho do cora
) ção ardente, como vimos nas inúmeras referências a forno, chamas,
) sensação de queimação etc. Seria o caminho da devoção, semelhante

a ao encontrado na tradição Bhakti hindu, onde o coração 'e o lugar


a da aspiração e do encontro com os deuses. Já para os sacerdotes brâ
a manes , o caminho mais apropriado ê aguele do coração irradiante,

t isto é, do conhecimento real e verdadeiro ldatUal, pois somente e


I Ie possibilita a passagem do mundo ilusório para o real .126
I
e Entretanto, essa distinção ãs vezes é forçada e ar-
s tificial, pois a busca da união com deus , a busca da relação ego-
T SeIf pode se iniciar através do coração ardente e se transfornar no
!l coração irradiante e vice-versar âo ponto de os dois se mesclarem
e numa só luz. Santa Tereza, hoje, ê considerada uma iluminada, não

t só por seu aspecto devocional, mas também pelas suas inúmeras o-


I bras sobre o processo de conhecimento divino.
t
t O coração, como soI, ilumina e aguece. A1cançar o e
t quilÍbrio entre estas duas formas de libidor ou entre o sentimen-
I to e o pensamento, é um dos desejos do homem moderno.
I
T Outro aspecto signi-ficativo do culto é a representa
I ção do Coração d,e Maria rodeado por rosas; ê o de Cristo por
T de espinhos. A rosa na cultura cristã medieval associa-se ã ben-
I ção celestial i 'e sÍmbolo de perfeição e conseguimento. Lembra Vê-
t nus, amor ressurreição e paraÍso 127 . Enguanto a coroa de espinhos
t lembra a humilhação, martírio e crucificação de Cristo.
r
I Deste modo , o coração de lvlaria mostra o sofrimento
I
r
85

da pela morte de seu Filho masr âo mesmo tempo, redime e per-


tvtãe

doa através das rosas que oferece a quem a invoca. Seu coração i-
maculado é apunhalado em algumas representações, mas 1'ín-nadía paz
z abne eomo ,L?-óí,gío prJLa equelzd quz A prLocutta,m,, lLt. Maria, co
^e-
mo representante do arquêtipo da Grande Mãe , traz nesta imagem as
qualidades de segrurança, calor e proteção para que o ego possa se
desenvolver adequadamente, como vemos na imagem de Nossa Senhora
de rátÍma e os três pastores.

O Coração deCristo com a coroa de espinhos retrata


o mito do herói sacrificado, mas gue atravês de seu centro arden-
te e irrad,iante revela o "Caminho do Coração", como meio para o A
mor e o conhecimento d,e Si Mesmo.
86

I
t
t
I
t
t
t
I
I
I
I CAP TULO
!
I
I
I

0 ConeçÃo: Unn Lrrruna AnnuÍucA


T
T
87
I
I
tv 0 c0RAÇÃ0: uilA LEtruRA A^JA LrTTCA
I
l
I O coração é o primeiro órgão que nasce e o úlUno que
I morre. Entretanto, pouca importância the tem sido dada quanto ao
T seu papel na estruturação da consciência e nas teorias de desen-
t volvimento psicológico, em geral. Embora estejamos longe de uma e
t Iaboração teórica a respeito, algumas observações e hipóteses po-
T dem ser levantadas.
I
I Sabemos que as pulsações cardÍacas do embrião são a
t primeira função que o ser humano realiza independente de sua mãe.
T Gaiarsa observa que . " a. pLímeíta molLca da índív íduaLídade quz po -
T de de aL-gum modo EerL de-ntída peLo deto 6. o ínícío da 6unção catL-
I d,Íaca" I. EI" chega at.ê a considerar gue o rtelrrr profundo começa na
I primeira pulsação cardÍaca. O funcionamento do coração dá ao ser
I humano o prÍ,meiro sinal de autonomia, ã med.ida que aqui começa a
t existir um limite funcional entre o feto e a mãe. Gaiarsa lembra
I também que a sensação cardÍaca deve ser facilmente perceptível a-
t té para um pequeno ser , )'a que ê uma contração muito' forte e vio-
I lenta, durante três décimos de segundo2.
I
I Qualguer parada neste ritmo é uma ameaça de morte rá
I pida. Se ao nascer a criança pode ficar alguns minutos sem respi-
I rar , a parada dos batimentos por uma fração de segundo pode the ser
I 2
mortal t -
I
I A vida é pulsação, movimento, sentidos primeiramen-
I te no coração e depois na respiração. O coração, assim, desde o i
I
t
I
88

nicio da vida tem uma posição única no d.esenvolvimento da conscj--


ência; provavelmente nele centram-se as primeiras sensaçoes corpo
â . ! r I -- a

rais.

Antes d,e ser tocada , a criança possivelmente já "=ql


te" sua pulsação e talvez também a da mãe. O som do batimento car
dÍaco talvez sej a um dos primeiros que a criança em gestação ou-
ve. Podemos supor que esta vivência deva ser gravada na psiqrre, jun
to com tod.as as vivências primais do ser humano.

Groddeck considera o som do batimento dos dois cora


ções (mãe e filho) como uma das impressões sensoriais mais fortes
do perÍodo gestacional, estabelecendo um ritmo que é a condição de
4.
toda a cri.ção

aqui o Anãhata, o som do "Pulso da Vida",


Lembramos
da Tantra Yoga, o som-semente, som da energia criativa e unj-ver-
sal. Se o coração estabelece a primeira individualidader êo mesmo
tempo, confere ao homem sua universalidade, já que este som ê co-
mum a todo o rei-no animal.

É comum tambêm a todos os seres vivos dois tipos de


comportamento, indispensáveis para a sua sobrevivência: o compor-
tamento de ataque e o de fuga. Ambos intrinsecamente ligados ãs e

moções de raiva e medo, assim como aos sistemas cardiaco e respi-


.-
raEorl,o 5

Ern gualquer situação ameaçadora, o organismo prepa-


ra-se para reagir através de uma série de alterações fisiológicas
F
T
T 89

T
a e psicológicas. Se no plano fisiológico houver uma alteração no
) ritmo circulatório e pulmonar, entre outrosr rrct psique pode haver
) a sensação de medo e/ou raiva. Sensações essas sincronicamente seg
a tidas . " o medo e-)La, tant.o quL o carLa"ção parLeeía aaltan-me pela bo -
t ca," . Ou r Ílâ expectativa de algo desagradáveI : " a,ndr"v a de cnedo na

a b o ca e co rLo.ção na mã0 " .


6

a
I A emoção, qualguer que seja elar provoca sempre um
I movimento (e-moção) no organismo como um todo . "Como q. 6unção ca.rl

; dío ruLe-^ pínat6 nía 6- muíto nãpída Lm ua^ v aníaçõ ed duncío naít" , díz
^
t Gaiarsa, " o pftímeino dínal de e-mo ção vaí ÁerL
^Q-mprLe
pe,Lcebído coL

I j untamente com uml v aníação no nitmo cand.íaco e tel pínat| ftío , " 7

I
lt A maioria das pesquisas sobre psicossomática das do

1t enças cardÍacas aponta a raiva, a ansiedad.e e o nnedo como f atores


qt psicológicos predominantes na etiologia destas disfunções,
, q2
como vi
lt mos.

I
e Frente a situações atemorizantes, o organismo prepa
4t ra-se para lutar ou fugir. Sincronicamente, o coração se acelera
lI e aumenta de volume para sustentar um ou outro tipo de resposta.
I
|I Numa explicação bastante simplificada, sem maiores
|I detalhes fisiológicos, percebemos gue se houver uma relação de fg
t ga ou lutar ês reações desencadeadas terão um ciclo normal de rea
t Lízação ê 1 após certo tempo 1 o organismo voltará a um estado de e

t quilÍbrio. Se, entretantoT o medo ou outro fator impedir a ação,


T todas as alterações, inclusive a cardiológica, serão reprimidas e
t passarão a subexistir por certo tempo, causando estresse para o or
a
a
90

ganismo.

Gaiarsa lembra que as emoções medo e raiva, medo e


coragem ou medo e idealismo, entre outras, estão no peito, €np re
velam as expressões: "peito aberto", "entrar de peito" e "peitar
uma causa ou partido". I

O medo de enfrentar um perigo ou de se comprometer,


por outro lado, pode repri-mir a excitação, provocando uma ansieda
de difusa e constante. O medor gu€ é uma reação normal de defesa,
pode r €rn certos indivÍduos, como sabemos, tornar-se uma reação pa

tológica. Podemos supor quer Íro desenvolvimento normal da persona


lidade, o medo seja uma reação saudável a uma situação de perigo
real mas quer rro desenvolvimento anormal, o medo seria uma reação
inadequada a uma situação de perigo real ou imaginário, provavel-
mente decorrente de um sentimento de insegurança básico.

a sensação de segurança ê dada, entre ou


Sabemos que
tras, pela relação primal mãe-criança, güê vai estruturar a cons-
ciência dentro do eixo ego-Self. A possibilidade do ego referir-
-se sempre ã sua origem em situações ameaçadoras d,iminui sua ansi
edade e medo de destruição.

A criança gue chora por medo, mas ê apaziguada por


um adulto, provavelmenter âo encostar sua orelha no peito Ceste vai
ouvir seus batimentos cardiacosr guê podemrdesta formar êssociar-
-se a uma situação de trangüilidade, amor e segurança. Inúmeras pes
quisas mostram que o batimento do coração da mãe ê um calmante,
tanto para animais como para o ser humano.
t
I
I 9I

a
a O batimento cardÍaco da criança, quando atendida, vol-
ta ao ritmo normal. Segrurança, arnor e carinho começam, tambêm des-
I
I te modo, a associar-se com o ritmo cardÍaco, que se acelera quando
I se -e ameaçado (aqui'entra também o sentimento de abandono e soli-

t dão) e que volta ao normal quando se sente segruro.

I
O coração passa a ser a representação do pnóprio self
T
r maternal ã medid.a que a ele se associam: amor e segurança, guando
seu ritmo 'e normal e abandorror medo, raiva e solidão, quando este
I
T
ritmo está alterado. Com o aumento do sentimento de abandono e me

T
do, mais o ritmo do coração se altera.
T
T
Estar com a mãe 'e, de inÍcio, estar junto ao seu ca
I ração. Separar-se é afastar-se de1e. DaÍ, provavelmenter ês inúme
T
ras associações do coração com o útero ou vaso contenedor. No Egi
t to, como vimos, "A crLía,nça na,áce tob o corlação da mãL", o firho é
t o " Á a,ngue- do co rLaçãl" . No cristianismo, temos a descrição da an-
t gústia e sofrimento dos mÍsticos ao se " áepattarlQ-m de E eu !-ugatt dz
t nateímz.nton. Vimos também que a pr6pria etimologia da palavra re-

I fere-se a vaso, vaso das transformações e fonte central.


I
I A palavra coração para a criança substitui com fre-
I qüência a paravra ventrez "mamãe, q.u morLo no áeu coLaçã0,,.

t
I o coração de Nossa senhora ê o rugar de proteção e
I refúgio: " o amotL que det-e ema.na dã áegurLança e dontal-e.ce o e-gl,, .
I
t Essa associação é também bastante freqüente na músi

T
ca e na poesia, como vemos em "CoLação Vagabundo", de Caetano Ve-
I
I
i,
T
92
T
T
I loso:

t " lrl eu co ,Lação não á e ca,n^ a.

O e ten e^ p zrLança
I O e um día tett Íudo o que quQ-,1

I M eu co tLa.ção de eníança

T
É dõ a .Lembttança
D e um v ult.o 6 eliz de mulhet
!
T ll[eu co tlação v agabundo
t Quzn guattdan o mundo em mím. "

t
t Ou na expressão popular "coração de mãe", que deno-

I ta acima de tudo e de grande ca-


uma pessoa extremamente generosa

t pacidade amorosa. DifÍcil encontrar melhor exemplo do que a müsi-

T
ca " C o ttação Mate-ttnott , de Vicente Celestino :
T

t "Díate o campônio ã" áua amada


l"línha ído l-atttada, diT a.-me o que que,L
t ?on tí vou matan, voÍt ,Loubatt.
I Emb o rLa" tttía teza{ me cauÁ eá , muLhen

? n-o v a,L que q-u quL tz quetLo


I
V enzrLo teua o Lho I , teu co rLp o , tzu á Q.rL
I l'Áat díg a , tua o nd em e^ p erLo
t ?on tí não me í^ponta matatt ou morlrLe-,1,
I E ela did a e ao campô nío , a bníncan
Se 6. v en-dade áua Louea paíxão
I C o nne j A a- prLA mím v aí bua ean

I 0a mãe íntzino o conação


^ua
I E a" co rLrLerL , o campõ nío patttíu
C om o um naío na ea tnad.a tumíu
I Sua amada qual I-o uca díco u
I A cho ,LatL na. ea tnada tom b o u
I Chega ã, choupana o campõnio
Encontna a mãezínha ajoeLhada a.rleza,L
I
I

I
tI
lY

93
a
a T omb ando 0, v elhínl,ta pí-t do aLt an
I Toma do pzíto
a.o
^
da velha mãezinha o pobtTe
^a,ngtando,
a co rLl.çao
E a aí a" g ttít an p rLo clam ando
V ít6 n"ía , v ít6 nía ,

t T ena mínl,ta paíxão

I l',laa , fro meío da ea tnada eaLu


E no. cqueda uma. pe-rLna pantíu
t E A dítÍãncia aaLtou-Lhe da mã0,
T So bn-z a, ped,Lo, o po bnz co rLação

I Ne-dtz ínatante uma" voz e-coou


tÁag o ou- á e o po bte 6íLho meu
t V zm bud can-me {í!-ho , aclui eátou

I V em but ean-mz quQ- aínda ou teu! "


^
t
t Na êpoca esta música fez enorme sucesso. Em 1969rCae

T tano Veloso a regravou no disco Tropicália, mas na noite do lança


I mento deste disco, quando seria prestada uma grande homenagem ao
I seu autor, Vicente, emocionado, f aleceu de j-nf arto do miocárr1io en-
I quanto era esperado na festa. 9

I
t Um paciente, com a hÍstória de vários suicÍdios na
I famÍlia e com uma irmã esquizofrênica, contou-me que conseguiu men
, ter-se relativamente são, 9raÇas ã sua devoção ao Coração de IvIa-
t ria. Como Mariano passava horas olhando a imagem de Nossa Senhora
t e sentia-se reconfortado ao ver um coração " quz, meÁmo Á o óttendo ,
r apunhaLado , tínlna don-ça e e&Lott" . Com essa imagem em mente, sen-
t tiu gue poderia sobreviver ao caos f amiliar , " á ?- ELa coná eguíu, eu
t tambd.m con^ígo" . Aqui 1 d. mãe pessoal, bastante alheia e inadequa-
t da, foi substituÍda pela imagem positiva da Grande Mãe , fortale-
t cendo o ego e mantendo o eixo com o arquétipo central.
I
t
t
t
94

Entretantor sê a Grande Mãe revelar-se na polarida-


de negativêr ela pode se tornar uma ameaça ao coração, como vimos
no mito Maia, onde a Deusa-Terra exige o sacrifÍcio do coração hg
mano como vinganÇâ.

Um paciente, gue sofria de angina cardÍacâr acordou


ã noite com o seguinte sonho . " eu eo rLrLía porL ,Lua.A eá curLa| z ?Át)r%
tad . Quant.o maía co rLrLía, maít a^ ,Lua"Á á e- e^trLeítav am , atô- chzgan
num beeo daída. Havía 6o9o. Srnto que po^^o morLrLerL cgueímado.
^e-m
Aco ndo a^áu,stado , com taquieandía. " Este paciente, um empresário
de sucesso, havia levado atê recentemente uma vida dedicada exclu
sivamente a atividades profissionais, onde as relações afetivas e
ram um "mal necessário". Orgulhava-se de sua frieza e objetivid.a-
d,e (" tínha nealm ente um c o rLl.ção dutto , de aç0 " ) e não podia enten-
der porque, aç[ora, estes sÍntomas . Ao trabalhar o sonho, percebeu
gue fugia de uma mulher desdenhada, vulgdÍ r que queria ter rela-
ções sexuais com ele. Esta mulher dizia que estava pobre eteve que
se prostituir porgue fora por ele abandonada e agora queria sua par
te, queria seu amor, seu coração, mesmo que tivesse que arrancá-
-1o. AngiÍIâr estreitamento de ruas (artêrias ) e fogo são sÍmbolos
que expressam uma disfunção amorosa em vários nÍveis. O paciente
tinha que se confrontar agora com sua função sentimento reprimida
por muitos anos. O sintoma cardiaco era a expressão desta necessi
dade.

Na passagrem da vida infantil


para a adulta 1 o cora-
ção confirma-se na nossa cultura, principalmente como sÍmbolo do
amor. São abundantes as representações na arte, música, literatu-
ra e expressões populares que demonstram este fenômeno. Um exem-
Cartão EPAG. Amor 8101

Ê-r{.oa fÕ^a Âmar A1 n't


I
I 95
I
I p10:
I
I no
Semptle me-u corLação
I "
P e-nto o u Lo ng e e-,s t anã,s
I E ao ouvín eÁta canção
T Seí qul jamaíd mz e^quecznãa
S enr prlz no meu co nação
I Na alegnía ou no" don
T Lembnane-í com emo ção
t Que um
S emprLL
día tíve áeu emorL
no me-u co )Lação
T
t Guandanei teu vuLto então
I Szmpne no meu corLo,çãl."
(Always in my heart de Ernesto Lecuona,
T versão de Mário Mendes)
t
t Uma paciente, jovem de 27 anosr guê apresentava co-
T mo gueixa depressão, fantasias suicidas e disritmia cardÍaca, si4
t tomas desenvolvidos após doloroso rompimento de um noivado, escre
T ve:
T
t "Pendída entne o pa^aado L o (utuno ínconcebível,
T zla v ag 0,v a. com o Lho a a emí- ce-,LrLa,do 6 ,

ouvidot dzmí-díLencíadoÁ .
t eom
E, noá áeuá bnaÇoô, ela dançava, beija.va e
t E Lo ng e deLed , á eu co rLl.ção batía com pat o
^
^onhava

T de6eompa,ôáa,do
T to da al-hzía A día tníbuíção no nmal
I que níd eav 0, o cluadno na^ aulat da neaLidAdQ- . "
T
I Ziegl.er observa, como está claramente expresso nes-
T ta poesia e no estado d,a paciente, que a disritmia cardÍaca pode
I ser compreendida como uma forma de estar " doLa de ai me6mo". E gue
T
I
-l
)
96
)
)
a o corpo desta maneira estaria expressando uma emoção que não pode
a ser manifestada abertamente . l0
I
a r através da anáIisê r que esta paciente,
Descobrimos

I pela gravidade de seus sintomas, expressava, através deles, não só


uma perda presente (noivo) , mas tambêm uma dificuldade mais pro-
a
a funda de superar a ambigüidade amor-ódio na relação parental. Na

I perda atual , a paciente revivia a perda da harmonia do ritmo de

a seu coração com o ritmo do coração materno.

T
t Diferente da situação harmoniosa onde:
!I " luleu corLação
t Não aei porLque-
Bate 6zlíz
!l Quando te v ã-

tt
t Vem matan etta paíxão
Que me dev o rla o ca rLação
t E aáÁím, entao,
I ^o
Senzí 6zl-í2, bem óe{-í2."
II (Carinhoso de Pixingnrinha e João de Barro)
|I
|l As expressões populares z " âínto meu corlação deapeda
It çado , patttído . F uí apunhalado no corlaÇãl" , t'tenl,to o corLação Í.onÍu

|I íAdo" , " petado" revelam dinamismos semelhantes.

|I
|I Sonho de um aluno de 22 anos z " V ia m eu co tLa,ção j un-

r tamente com alguma"á pe^aoe^ que parleeíam do áe-xo |emíníno e. con!


|I tatãvamoá que nealmente dalÍava uma pa",Lte do meu cotLaçã0. Lembno-

r -me que vía meu corLação de um ãnguLo


^uperlíorL
a.o quz ele,se encon

|I tnav a e que a pa)Lte que daltava etLa a tupetíon eá quznda. Quando a


I
T
a
)
97
)
)
cottdzí, tíve o pe.n^amQ-nÍo de quL LtLa íneapaz dz ama,L umt pe^,saadz
)
a 6ato . "

a
Na segunda metade d.a vida, durante o processo de il
a
dividuação , o coração pode se associar ao arquétipo da Grande
a Mãe

lugar de re-nascimento.
a como

a
1l religiosos egÍpcios r o coração da mãe e
Nos rituais

I ra o lugar de renascimento: " mzu eo tLação , mínlta mãe! meu co rlação


1l dat tttant donmaçõ e^ !')
tt
Nesta etapa ele pode se tornar a fonte nutridora
t do
j-ntelectual ,
rt sentimento espiritual e do conhecimento direto, não-

rt como vi-mos no hinduismo e no cristianismo.

,
qt No hinduÍsmo, o conhecimento vem da "caverna do co-

!I ração". É direto, sem intermediaçõêsr não-reflexivo. No cristia-


t nismo , é fonte do Amor e se associa inúmeras vezes ao alimento di

I vino. Segundo Neumannr êssim como na fase alimentar, a fonte nu-


|l tridora da terra flui para a criança recebedora, também no nÍve1
|I da transformação espiritual, o adulto recebe o "Ieite da Virgan de

|t Sofia" . O coração exterioriza a sabedoria espiritual, nutridora


It " central " do sentim"rrto . I I

|t
Beber do sangrue e da água gue jorram do peito trans
II
passado de Cristo ê a possibilidade de se purificar e renascer p3
|r
|I ra o espÍrito. O ego tem no coração de Cristo a imagem da fonte,
|l do centro da vida.
I
|t
r
)
a 98
)
)
O conhecj-mento queflui do coração da Grande Mãe é
)
o conhecimento através do amor. Eros é seu companheiro na mitolo-
)
gia grega e Madana seu ajudante entre os hindus, despertando o ho
)
mem para a existência e criação. Despertar gue pode ser bastante
)
d.oloroso, com sensação de pontadas ou agulhadas no coração.
T
a
Sakti, a Grande Deusa hindu do Ermor, inspira a músi
a
câr arte e poesia, sincronízando o movimento artÍstico com o movi
,
mento cardÍaco . Diz o samba:
I
t
|l " Impd-n.Lo ,
quendo Íe v e j o na. av enída ,
t me-u eo naçã"0 baÍz na v ída ,
t como áe doaaz o. tua batucada... "
(Império Samba de Roberto Ribeiro, dedicada
ll ã Escola de Samba Impêrio Serrano) .
t
t O músico e compositor argentino, Astor Piazzola d,tz
|l em uma entrevista z "T enho um a.no de ídade, na,,s eí novamente ap6a u
ma. cinungía eattdíaea. Meu tnabal-ho tambô-m a-ÁtA com um co,Lação no-
ll vo. É uma nova, mi.tíca que vem d.e um novo cono,çãl." l2
|l
I O despertar do cl+alzna card.iaco para os hindus leva
|t ao despertar da sensibilidade, não só artÍsticâr mas também amoro
I sa. Lembra também dos perigos de se ficar aprisionado no sentimen
't talismo ou na paixão, guê seriam aspectos inferiores do sentimen-
'Itr to.

|I A paixão pode ser sentida como fogo no coração:


!r
I
t
r
\_
-lS.- I
-->\
---l s:
lsj=:
-__-:_
\---
I
:d

a
YE
i'a

N :§'\tr;
r.É1l
-'.v
-r'§
-

:8. -

- -S'

Cupido e os coraçães ardentes.


Capa do 11vro o Almanaque do Pellegrini
Amor de 3ernardo e

[,!aria Angé1ica Abramo . Ed. Busca Vida . São Paulo . 19gg


a
t
Il.
I "tuleu eonação amanheeeu pzgando 6o'go, óogo, óogo
99

Foí uma mo,Lena" que pa^áou pento de mím


F E que mz deíxou a,s,sím ... "
l.T
h
i

rdêia semerhante encontramos no sagrado coração, ca


:r mo )á foi descrito, com seus dois tipos de fogo: ardente e irra-
Il diante e na necessidade de se achar um equilibrio entre os d.ois.
,l
rl o símbolo do coração ê também uma expressão do Ar-
J quétipo Central, tanto na sua etimologia quanto nasrepresentações
tt mitológicas de várias culturas, como vimos.
t
IT Para os maias, astecas, egípcios e hind.us, entre ou-
t tros, é o centro da vida e da renovação. No hinduÍsmo é o lugar da
!T morad,ia de Brahman e Krisna. Dentro dele, oculta-se o Self , a se-
t mente I € nele tudo está contid,o. Ou ele liga-se ao arguétipo do
t Pai, enquanto sol, entre os astecas, maias e egÍpciosr centro de
t nosso sistema solar, de onde o calor e a vida fluem.
IT
t No processo de tornar-se um com a totaridade, isto
t -e, no processo d.e individuação, êste coração sofre inúmeras trans
t formações.
t
|r O sacrificio entre os maias e astecas levava ã reno
|r vação da vida e ã imortalidade. O coração pulsante elevado ao sol
! representava a busca do homem para retornar ao seu criador. O co-
t ração alimentava os deuses e em troca revitalízava os Lsrens. O prg
t cesso de individuação corresponderia ao desenvolvimento de um co-
t ração deificado e de uma face verd,adeira. No brilho d.o coração en
t
I
a
)
100
)
)
a contrava-se o reflexo de Si Mesmo.

)
a Os egÍpcios só podiam renascer para a vida etenn se

a tivessem um coração puro e leve I Lsto 'e, o ego não podia carregar

a complexos, caso contrário seria destruÍao e a individuação não se

a completaria. O ego sem complexos pode voar, pode ser dissolvido em

a calor e Luz, isto 'e, pod,e voltar ao SeI-f .


Jl
a Para os hj-ndus o " conhecimento do coração " é o úni-

I co caminho para se passar do mundo ilusório para o real. Agui se


propõe o sacrifÍcio dos desejosr através da purificação (fogo), pe
;
al ra libertar o ego das situações mundanas e poder se tornar o Iu-
lt gar da "Consciência Pura", isto 'e, do SeIf .
rt
t Entre os hebreus, a transformação está na circunci-
t são do coração, como uma libertação e um sacrifÍcio do ego, sinal
de submissão ã direção do arquêtipo central. Esta circuncisão traz
t uma analogia do órgão sexual masculino como lugar de aliança do h9
t mem com Deus. A exortação para transformar "o coração rÍgido e de

t pedra" num "coração de carne" poderia representar uma aberturados


It sentimentos, e a circuncisão I o estabelecimento de um fluxo entre
!l o ego e o arquêtipo central. Como cantam João Bosco e Aldir Blanc
!t no d,isco "Galos de Briga": " 0 a.morL A a auáõ-neía de e-ng0,rLrla.damen-
! to" .
t
t No cristianismo, o coração, como lugar do ágape, do

t encontro Elmoroso, propõe um caminho do conhecimento direto, não-

t -reflexivo, através do sentimento. O coração de Cristo ê o vaso


t das transformações de onde se bebe para re-nascer. A possibilida-
t
;t
;
)
10r
)
a
de da individuação está no encontro do a divindade atra
homem com
a
vés do Amor que flui de Cristo. O coração ferido mostra a presen-
i
t ça da sombra e do sofrimento, como companheiros no processo de se
tornar in-divid.uado.
a
I
C. G. Jung, aos 69 anos, recuperando-se de um ata-
I
que cardiacor descreve as inúmeras visões e delÍrios que teve du-
t
rante sua convalescença. Consi-dera que depois desta doença come-
t
I çou um perÍodo muito produtivo, onde algumas de suas principais g
bras surgiram. Para ele esta doença foi uma imersão no mundo mater
I
nal do inconsciente coletivor onde experimentou um "Áentímento de
I
beleza inten^íd,ad,e que nunca l'tavía zxpzttímentado at6- entã0". 13
I e-

Jung considerou tambêm que sua atitude anterior ã doença havia si


I
do " um etttto't e que era portanto por ela responsáve1 14 . l1as a doen
I
I ça o levou, atravês das visões, "a.o deae-nvolvímento da objztívLda
de z ao deaprLe-ndímznto dat Liamer a(etívoá", pois " L^te^ encerLnam
I
e-t que 'e p,Lecít o ne-tittan e
t ^
e-mprLz prLo ! zçõ ,LecuperLarL parLa chegan ao

t si Mzdmo zã ob j ztív ídade- . Aa teLaçõ zd adetív at tã,o nzl-açõ et de dz


dz j o , d,z con,stnangímento e- aenvíd.ão ,
I cl.rLrLegadaa
^empne
eáperLa.-^e
a!-go do outno . . . " 15 Para Jung , o verdad.eiro conúncio só pode o-
I
t correr pelo conhecimento objetivo, estando alêm das relações afe-
I tivas . Exatamente , " o caminho do coração " dos hind.us .

T
r Finalmente, o coração está presente nas questões mais

r essenciais da vida humana, como fala Hamlet:


T
T "To be, arL not to be: that ía the quQ-átíon
Whetltent tíd noblen in Íhe mind to Áu6óen
I The dlínga and o,,LrLowá o{ outnageouá dontune,
t 0 n to t.alze o.rLmt ag aína t a, ô ea o ( tno ub l_ea ,

t
T
|r
a
) LO2

a
a And by oppoaíng end thzm? To díz: to ,slezp:
No morLe; and b q a rLeep to we e-nd
a ^aA
T hz heantacl,te and tl,te ttto u,s and natunaL t ho ehd

t T hat óI-za tt ía heítt to , ' ti,s a. eo n^ ummaÍío n . ,, I 6

I
I ,, Sen ou não
^erL
oíd a queEtão.
I S etã maía no bne 6 o ó)Le.rL no, aLma

Pedn-adaa e 6lec[+adat do dettíno deno z


I 0u pQ-g aJL em arLml.á eo ntna o man de angíÁ Ííad
t E, combaÍ.endo-0, dan-Lhe dím? I'llonnen; donmín;
T Sá í^^0. E com o d.Lze-m extinguín
^ono
D o ne,s do co rLação e a.^ míL ma.z el_at natunaid
T A quz a ca,rLne- A eita; zít uma, co n^umo,ção. . . ,, 17
I ^u!

I concluindo: em cada êpoca e em cada cultura, do co-


I ração do d,inossauro ao coração do Incor, o homem interpreta, com-
I preende ou percebe seu coração e a relação deste com sua psique e
I com a natureza d.e modos especÍf icos. Através da comparação inter-
I -cultural, observamos que o coração liga-se a vários arguêtipos,
I associando-se, na cultura ocidental, principalmenter êo arquétipo
t central -e ao da Grande I{ãe .
r
I o simbolismo do coração, através d,as eras, tem esta
t do presente na vida do homem das mais diversas formas: em
r =itr.i=,
sacrif icios , preces e meditação, nas atividades artÍsticas r rrêr ex
. -.1

T
pressão elmorosa, na saúde e na doença, como expressão de mistêrio
T
da vida.
T
I Cada batimento cardÍaco lembra nossa fragilidade
I sensibilidade e nos liga a padrões básicos da condição humana. Na
e

t nossa era e na nossa cultura, talvez este sÍmbolo expresse a ne-


I cessidade de retomarmos a ligação com a Grande Mãe, com nosso mun
t
t
T
I
103
,
,
I do afetivo, com o Amor e com o conhecj-mento direto, não-intelectu
I al. Talvez sua manifestação dolorosa e doentia seja a expressão
I de uma dissociação entre o desenvolvimento cientifico, politico e

I tecnológico e nosso centro Etmoroso: o coração.


t
T
T
I
T
r
I
t
I
I
I
I
r
T
I
t
r
I
I
t
t
I
t
I
I
t
t
104

CONCLUSAO
T
I
a 105

I
I v c0tJcr.usÃ0
I
t o coração ê um simbolo queestá impregnado na nossa
I psique, quer estejamos ou não conscientes dele. Há mi1êniosr ele
I vem se manifestando das mais diferentes formas.
T

I o homem sente seu coração do momento gue nasce (ou


I mesmo antes) até sua morte. Nele estão registradas não só
as expe
1
riências pessoais, mas tambêm as associações de todo o desenvolvi
I mento cultural.
I

I
Neste sentido, para a compreensão tanto de seu fun-
I
cionamento quanto de suas disfunções, não basta somente fixarmos
I
nossa atenção na polaridade orgânica, pois ela ê somente uma
de
I
suas dimensões - se nesta poraridade sentimos sua presença, atra-
I
vês principarmente da pulsação e das alterações de seu ritmo
r ,â
polaridade psÍquicêr como vimos, sua manifestação é de grande fre
:

qüência e exuberância.

o coração ê sentido e imaginado com tanta constân-


cia que por vezes nem mesmo percebemos seu significado.

somente nossa dissociação curtural, que cinde doen_


tiamente o corpo da psigue, pode estudar o coração orgânico sepa-
rado do seu contexto psicológico e curturar. sem negar a necessi-
dade desta d'iferenciaçãor Ítê evolução humana e cientÍfical
ê co*
seqüência tem sid'o a alienação do homem de seu corpo e natureza
e
a alienação do ego de seu SeIf.
I
T
106
I
I
A cisão psique-corpo tira a vida do corpo, reduzin-
I
do-o a um mero mecanismo.
I
I
O processo de individuação só é possÍvel guando a u
I
nião do ego com o Self for tambêm procurada na união do ego com o
T
Corpo Total (Self) . O desenvolvimento do ego na direção da totali
T
dade só vai ser conseguido com a integração do corpo neste proces
I
so.
t
t
Um sintoma, qualquer gue seja, quando visto como sÍm
t
bolo, expressa a necessidade de integrar um elemento novo ou re-
T
primido na consciência. No corpo, o sintoma é o sÍmbolo que pode
t
expressar um desenvolvimento unilateral e que, por sua vez, pode
t
levar a maior consciência corporal.
I
T
O aparecimento de uma determinada doença ou seu au-
T
mentor êIn uma êpoca, pode ser a expressão de um d,esvio não só in-
t
dividual, mas de toda a cultura, isto é, pode ser uma tentativa de
I
transformar a consciência cultural e romper com o unilateral e re
t
primido.
t
I
Assim, como vimos , o sintoma pod.e ser um sÍmbolo que
T
expressa uma dissociação e revela um caminho.
t
I
Quanto ao coração, observamos que ê uno e expressa-
t
-se polaridade orgânica-corporal e numa polaridade psÍquica-
numa
t
-comportamental. Ambas funcionando sincronicamente, embora una pos
T
sa estar mais presente na consciência do que a outra.
T

I
t
t
107

No Coração Total r rro Coração-SÍmbolo estão presen-


tes o coração da arte, da religião e do corpo, entre outros.

Dentro desta abordagem, uma taquicardia, mesmo se re


sultante da ingestão de uma substância guÍmica, provoca alterações
também no nÍve1 psíguico. A sensação de pontadas no coração pode
estar intimamente associada tanto a uma manifestação êrmorosa quan
to a um infarto. Ambos podem aparecer, inclusiveT sincronicamente
no organismo, como ilustram as estatÍsticas e inúmeros casos cli-
nicos. Isto 'e, uma taquicardia pode corresponder a uma aceleração
de emoção e vice-versa. A manifestação orgânica ê sincrônica com
a psÍquJ-ca. Mesmo que a causa d,e um infarto seja de fundo clara-
mente orgânico ou externo, este infarto irá se manifestar também
na psique como sensação de perda ou sofrimento amoroso, por exem-
pIo, dependendo da cultura em gue o indivÍduo esteja inserido.

Para Eillman, fatores como sentimentalismo da perso


nalidade, brutalidade de eficiência, engrandecimento do poder e
simples efusion'ismos religiosos são fatores atuais que podem le-
var a doenças card.Íacas. Para e1e , o j-nfarto (|ilLetut = estufado,
cheio) la gue o coração do homem moderno está olgrestionado por
reve
suas riquezas gue não entraram em circulação r ou gue foram cons-
trangidas por estreitamentosr não tendo permissão para passar, ri
quezas estas que vêm do mundo da fantasia e d.a imaginação

PoderÍamos dizer que o egor âo não d,ar passagem aos


conteúdos inconscientes, aumenta a tensão interna, gerando angús-
tia e ansiedades. Quando estes conteúdos estão associados a con-
flitos amorososr por exemplo, o resultado pode ser uma selsação de
I
r

T
108
I
a
disritmia e desarmonia arnorosa. O coração doente expressa tanto a
a
d-:.ssociação do ego com seu centro amoroso quanto a necessidade de
a
religá-Io ao Self, para que a harmonia possa retornar.
I
I
outras palavras, a doença cardÍaca pod.e ser uma
t Em

expressão da repressão do Eros na cultura, já que o que ê reprimi


I
d.o revela-se patologicamente. A emergência do Eros pode ser, para
I
muitos, Ermeaçadorai excluido, ele transforma-se, sombriamente. Do
t
res no peito, flechadas e pontadas podem ser tentativas para se fg
T
zer presente e ser integrado na consciência. Qualquer situação es
t
tressante, solidão involuntária, perda de um ente querido ou difi
I
culdades financeiras podem agravar os sintomas.
r
T
Assim, a expressividade do coração,
t mesmo quando do

t entia, pode ser uma tentativa de conduzir o ego ao seu centro, cor
t rigi-ndo ou compensando uma atitude unilateral.

T
Não ê mais possÍvel dissociarmos psique e corpo.
t AIn

t bos formam uma unidade funcional que pode se manifestar simbolica

t mente tanto na saúde quanto na doença.

T
No seu trabalho clinico r o terapeuta r âo levar
t em

I conta o aspecto simbólico da doença orgânica, faz com que seu pa-

T
ciente entre em contato com imagens gue emergem de seu inconscien
I te coletivo e pessoal, criando, deste modo, condições para umacom
t preensão mais prof unda do dinamismo que se encontra alterad.o.

t
t Por exemplo, um paciente d.e 59 anos queixava-se de

T dores de cabeça e pressão no peito. Estes sintomas oonian on cer


I
I
r-
T
I
I 109

I
I ta regularidade e pioravam quando saía de f6rias ou dr:rante os fins
T -de-semana. Durante o trabalho psicoterápico sua dor peitoral trans
I formou-se num homem severo e idoso que o pressionava a trabalhar,

T criticando suas horas de Lazet e sua incapacidade de obter mais su


T cesso.

t
T A cura por métodos ond,e o paciente é totalmente pas
I sivo pode ser uma atitude potencialmente destrutiva, poj-s, ao não
T ouvirmos os sintomês r pod.emos f orçá-los a ter que se ampliar para

I serem percebidos.

I
I o ponto de vista simbólico nos lembra, por exemplo,
r a necessidade de uma intensa e profunda psicoprofilaxia dos paci-
t entes que se submeterão a um transplante. Dependendo de suas cren
t ças culturais e dos sÍmbolos envolvidos , o processo de rejeição pos
t sivelmente poderá sofrer alterações. Seria possivel para um homem
I do antigo Egito trocar seu coração? ou para um homem de hoje, com

I a mesma crença?
t
t A relação do paciente com sua doença e recuperação
t está intimamente ligada ao seu processo simbólico.
T
T O estudo do coração na cultura, entretanto, não nos
I exime de ter que fazer com cada paciente uma busca de seus pró-

I prios significados. Pois, em cada um de nós, estes sÍmbolos adqui


I rem um colorido e conotação pessoais e intransferÍveis. Por outro

t lado, não podemos aqui deixar de i-ndagar se o crescente aunento das


t doenças cardíacas e mortes delas decorrentesr êrn nossa sociedade,

T não estariam expressando nossa dissociação cultural.


I
T
tI
110
)
)
A inconsciência do significado simbólico desta dis-
)
função mostra nossa resistência em Iidar com o dinamismo amoroso,
a
como se este fosse anti-cientÍfico ou como se fosse possivel me-
a
xer no corpo sem influenciar ou sofrer a influência da psique.
a
a
Sem a introdução do ponto de vista simbólico na com
a
preensão d,e nossas doenças, continuaremos cindidos de nossa essên
tl
cia e os sintomas continuarão a aumentar.
t
t
r o coração simbóIico, como vimos, A por excelência,
em nossa cultura, o órgão de ligação, sede da emoção amorosa e eI
I
pressão da totalidade. Quando esquecido, manifesta-se sintomaticg
I
mente, doentiamente; quand.o lembrado, mostra nosso destino. Reve-
I
t la ã humanidade que ciêncla e l.ogos não podem sobreviver sem cons
|I ciência e eros, e ai talvez esteja a essência de seu mistério.
t
I
!r
t
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T 1r1
T
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I
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I
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I NOIAS E BEFEBENC AS
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t BIBLIOGBAF CAS
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(20) Ibid. , p. 45 .
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uma qual idade af et iva, ao redor de um núcl.eo, Secundário,
aqui, refere-se ao fato de não ser o complexo central, e-
góico.
(22) Carl-. G. Jung. Op. cit., voJ.. 12r pârâgrafo 394.
(23) CarI- G. Jung. Op. cit., voL. 5, parágrafo 513 e vol, 8n pa
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(24) Car1. G. Jung. Op. cit., voL. 12r pâEág.afo 262.
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I (37) Ibid. , vo1. 8, parágrafo 425.
I (33) SÍmboI-o aqui compreendido como a meLhor descrição possíveL
I de um fato relativamente desconhecido. (CarL G. Jung, voL.
6, parãgrafo 814).
I (39) Carl G. Jung, voL. 8, parâgrafo 418.
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I
(41) rbid., p. 24.
I
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-
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t . da"dz , com quanta auav ídadz , com quanto deX-zíte, com quan-
to cuídado L gnande mottna de a"mo,L eunaíd Q-Etaó chagad, a^
t quaía com a^ á eteá do me^mo &mon hav eíá {zíto ! Como ô z po
àe apLaean tão penoôo e- deleítoao totmenta?", Excl-amaciã
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T (t tS) sanra Díargarida z " Jzôuô -Cníato, meu d,oee Se.n hon, frodtnou-
ôz,Le6p.Í-aidegente na Gtõnía. Suaá cíne.o $enidad bníLhando
t como cineo t o it , L chamaa d aidm dz t.o dat- aa pa.rLÍe.á dz 6 ua,
I
T 120

T
T \agnada l,tumanídade , a, maLo nía a aia dz 8-u p eíto , QUZ e-'La
*guoi-- à u^ {o ttio . E aô,,5 ím , mo l*no *- me 6^ Q-u amado co rLl.ção ,
T quz LtLa.0. dóntz víva dettaa 6LãmuLat", Ibid., p. 245.
T (ttt+) v.v.A.A. Documentos da Igreja. Op. cit.
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