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PETER.

O A T
h is to ria d o re s

F R E U D
PARA

HISTORIADORES
p a m
irre n a
A psicanálise é u nia ferramenta legí tima para
ajudur na com preensão do passado? M uitos his­
toriadores tradicionais têm respondido a esta ques­
tão com uni cnlStico «Æo, saudando a mirodm,-ãt>
de l-'reud no « tu d o histórico eoni respostas que
variam desde um cet »cismo ponderado tué urna nii-
va tnanilesta. Agora Peter Cîay, ele próprio um dos
historiadores mais reuomndos dos Estudos U n i­
dos, argum enta eloquentem ente a tàvnr de um a
“história instruída pela psicanálise" t oferece unia
réplica im pressionanteásuctisavócsfritasporum
contingente num eroso de ant {freudianos.

WZKTMKít
Freud para
historiadores
P e te r G a v

F re u d p ara

h isto ria d o re s

1'íutluçãc île
Osmyr laria CJnbhi Junior

PAZ E TERRA
Copyright t<y
Oafnid University Pre's, I M i
I'rudurido ihi original cut ingle«
Frniei fiu hhloria n*
Cupii
! u M Cnrlwllo,
«obre pintura "O rapto d»s cabinas’
<lc Rubens

CupytlesA
love Watdir K. Monte«

Kerhâ»
Carmen Tereai S. da Ctrejlu
Ann Mnrin dc O. Bttrbuva
Fdson de Oliveira Rodrigue«

Dados de Catalogação no Publicação (CIP) Inlernáciotral


(Câmara Hntsileir.v do I irrto, .SI*. Brasil)
Gay, Peter, 1933-
Kreud pirn hi storiailnrcs t Peter Gay : tradução dc
Osniyr Pariu Ciabbi I tin Kir. — Rio dc Janeiro . Paz c
Terra. 1989.
Bibliografia.
1. Psico-hivtiVia J. Tirnlo.

89-0863 CDD-9019

Indices para catálogo sisteniitico


l. Psico-tmlória 901.9
Direr les adquiridos rela
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que u rcservu a propriedade devia tradução

Cornel ão Fdilurial
Anionio Candido
remando Gtwparmn
Pcrnnndo ticnrii|ile Ctrrdü«e

2.« Irime-tic dc 1989


Impresso nu B m l/M iM d in BrnsH
Piltit
Urn si Preli/tger
c para uma ouïra peseta
pur falnrem, c por eictuarcm

Alos a c*cni|)loe pcrmunccctn


William James
Abreviaturas adotadas

Int. f. ol Psycho-A titi/, r International loumal of Psycho-Analysis

/. Awcr. Psyehoanal Assn.: loumal of the American Psychoanalytic


Assoc ialton

PSC: Psychoanalytic Study of Child

Ed. stand.: edição standard {Standard Edition). As obias completas


de Freud em português estão referidas com base na Edição nan
dard brasileira das obras psicológicas conifdetijs de Sigmund
Freud. 24 v„ trad, dc |os<5 Octavio de Aguiar Abrcu, trad, c tev.
técnica dc layme Salomão. I.* cd., Rio de Janeiro* Imago, 1973. •

Ed. est.: edição para estudo (Sludienausgabe).

.1

»
índice

Prefácio ................................................................. 11
O argumento; defesas contra a psicanálise .............................. 21
1. As necessidades secretas do coração....................................... 25
1. Psicólogos sem psicologia................................................. . 25
2. Insultando F re u d .............................................. 55
5. Um# arena psmi amadores . . ............................................ 13
2. As alegações freudianas ................. . . . . . ......................... 51
1 Uma aparência de convencimento....... ......................... 51
2. Recordando ii fundador .................................................... 58
5, Uma teoria controvertida .................................................... W
5. Natureza humana na história ............... . ..................... 75
1. Contra os histoiicistfis ....................................... ................ 75
2. A» pulsòcs e suas vicissiludcs .......................................... 82
5 Anatomia do interesse privado ......................................... 89
4 Razão, real idade, psicanálise e o hislorindor......................... 101
I. Doismundos em te n sã o ....................................................... 101
2 A procura de representações ........ ............................... 105
3. Uniu cscain de adequação .................................................. 113
V 13o divã para a cultura ........................................... .............. 121
I Além clu biografia............... ............................... .............. 124
2. A partilha tooitil ................................................................. 12*1
1 O x l f obstinudo ................................................ I>*1
t» O programa em prática .......................................................... 147
1. Pensamentos acerca de registros .. ............................. . 147
2. Meilo» cmeios ., ........................................................ 151
5. A história total . 162
Notas ................................................................................................. 16*1
Bibliografia ................................................................................ .. 191
Agradecimentos ........................................................................ . . . 215
índice remissivo .......... 214
Prefacio

Este livro 6 a volume que conclui uma trilogia que cu não pre­
tendia escrever. Quando, cm IÕ74. publiquei Siyte in hislory, pensei
que havia pago meu tribulo à historiografia. Naquela expedição de
dcswbcrtp através dos recursos estilísticos de quatro mestres da retó­
rica — Gibbon. Ranke. Macauluy e llurckiiurdl — procurei sittiar a
história entre as ciências humanas. Minhu conclusão, que confio seja
menos trivial em um argumento extenso do que em um simples resu­
mo, ora a de que a velha c estrita divisão entre arte e ciência é insus­
tentável paru n história: nas formas em que prvevxoi demonstrar no
livro, a histéria c ambas,
Embora, á primeira vista, não haja nada de muito surpreendente
neste julgamento, minha formulação particular suscitou muitns ques­
tões u respeito das intenções fundnmcntnis de meu ofício a que Styie
in hislory não podia se dirigir, muito menos resolver. Propus que a
arte do historiador constitui parle da sua ciência; sua forma não é
nem a de um enfeite nem idiossincrática, mas está indissoluvelmente
ligada à sua matéria. Fm poucas palavras, o estilo ajuda a sustentar
o peso c &definir a natureza tia substância, isso naturalinents me con­
duziu do modo pelo qual o historiador expressa-se para as questões
que se inclina a considerar como as mais criticas. Escrevi dois anos
mais tarde; "Durante o seu trabalho, o historiador realiza muitos coi­
sas, mas j tarefa mais difícil e acredito que a mais interessante é a
de explicar as causas dos eventos históricos". Descobri que pensar
sobre causas c entrar cm um debate profissional ininterrupto no qual
o historiador participa eoni vonrade, e onde ns apostas são as mais
altas possíveis. E c encontrar as insistentes reivindicações da psicolo­
gia pela atençáo do historiador.

11
Como óiy/c in histay, sua sequência sobre euusação. Ari mui
cicl, estava mergulhada ruma experiência concreta: sempre me senti
mais confortável, como .1 maiuriii Ji* hisloriudorcs. com cxcniplus
específicos. Enquanto que. no primeiru livro, construí meu caso atra­
vés do exame dc quntru grandes historiadores, nu subscqücnle cun-
contrei-mo sobre (rês artistas influentes — Vianet, Gropitis c Mon-
drian para encorajar uma ntiitide pluralista mas segura cm relação
11 causaçãu histórica. Ne capitulo introdutório, disco-rri sobre n teorin
que apoiava esses exercícios em biografia cultural o dingcatnei as
relações entre três aglomerados de causas: as que se originam do do­
mínio particular, do oficio e da cultura. P na suu sutil interação, nu
cncontronniento pela supremacia, que n psiculugia reivindica pelos
seus direitos especiais.
O parentesco intelectual entre esses dois livroô esta nn superfície.
.Ambas são explorações em epistemologia histórica; ambos, enquanto
argumentam a favor da enorme variedade de modos possíveis de se
expressar ei 11 e de se atingirem as verdades históricas, são relativnmen
te otimista* sobre o alcance e u compreensão do historiador. 6 curio­
so: quando historiadores decidem refletir sobre 11 sua profissão —
uma aventum uutocoiisciente. nem sempre feliz, cm runtinaçãu filo­
sófica para n qual são frequentemente sedli/idoc após lerem atingido
os cinquenta ano» — tendem a declorar-se como acentuados subjeti-
vistas. Provavelmente insistirão que todos os demónios pessoais ou as
aspirações sociais do historiador ditum uma perspectiva cxirenwmcnie
limilanie sobre o passado, c que nunca iienhum» quantidade de nulo-
percepçSo permitirá que ele se furte ás pressões incsciipáveis do par­
tidarismo. Nessa concepção, 0 estilo do historiador c utn depósito de
vieses, c a sua percepção das causas inclina-se n ser comprometida
pelo peso <las mesmas mutilações ideológicas. Au discordar, argumen­
tei que o estilo pude ser lambém uma passagem privilegiado para u
conhecimento histórico e que a visão particular du historiador sobre
o que fer. eoni que o mundo passado se movesse, não importa quão
distorcida ela pessa ser pela sua neurose, pelas sua* deformações pro­
fissionais mi pelos seus preconceitos de classe, pode, ainda assim,
ajudá-lo a ter firmes discernimentos sobre o sou material que ele nfiu
teria obtido nu ausência deles. Por exemplo, 0 ironin imponente dc
Gibbon, unta espécie de maldade grandiosa que impregnava a seu ui-
Tóter, foi o instrumciilo perfeito parj dissecar os motivos políticos
dominante« da Roniu imperial, com suas confissões elevadas tí motivos

12
torpes; ou pura dar outro, a existência celibatária c reprimida dc
BurekhaTdi deu lugar a fantasias luxuriantes dc crueldade e de poder
altnnicntc apropriadas para apreciar a mentalidade dos extraordinários
condotlicri comandando as guerras dn Itália renascentista. Mão tenho
nenhuma inclinação para juntar-me ao campo dos historiadores que
julgam que .1 obtenção de conhecimento fidedigno sobre as causas é
uma quimera, ou àqueles que reduzem u veste brilhante c muliiculo
ridu da experiência histórica ao uniforme cinzento de um conjunto
simples e duminanle de impulsões. Os dois livros foram simultanea­
mente uma advertência contra o pessimismo fácil dos céticos c contra
as simplificações igualmcntc fáceis dos dogmáticos.
Minha justificativa para a história conto uma ciência elegante,
razoavelmente rigorosa, apoiava-se fortemente, como já sugeri, no meu
comprometimento com a psicologia, em particular com u psicanálise.1
Vi-a então, c vejo-a agora mais ainda, como uma disciplina auxiliar
e gratificante em que a profissão histórica até aqui confiou insufieien-
temente c que com certeza está longe de dominnr. Os desastres bas­
tante discutidos da psicohistórin, nos quais seus detratores encerra-
rain-na com uinu espécie dc júbilo maldoso, são motivo mais para pre­
caução do que para desespero ou pura desdém. Afinal de contas, con­
fiar nu psicanálise não precisa implicar uma teoria da hielóriu ingénua,
rcduoionistn, monccausal. Minha intenção, naqueles dois volumes, c
neste, não tem sido a dc propor que os historiadores substituam M an
por Freud nos seus rituais monoteútax, ou que celebrem qualquer tipo
de rito. O estudo da religião, da política, da cultura, da tecnologia,
da geografia, destes grande» auxiliares da explicação histórica, retém,
para mim, toda a sua validade independente, pois lodos invadem c
ajudam n modelar as mentes dos homens. Eu disse cm Ari and uct
que "toda a história c em nlguma medida psico-hislórij". mas acres­
centei imediatamente que “a psico-história nãu pode ser toda a histó­
r i a t esbocei razões pelas quais a psicologia nãc poderia gozar, em
principio, de um monopólio sobre a explicação causal. Neste livro,
desenvolvo, cm um argumento abrangente, essas afirmações concisas
c apudllicus.
freud para historiadores finaliza a tarefa deixada incompleta
pelos seus dois predecessores. Mo capitulo introdutório de Ari aitd
eet ofereci uma critica breve, um tanto inespccífica, da psico-história
como ora então praticada. Do forma atípica, não ofereci uasos con­
cretos, apenas assinalei que cnquanlu a psico-história tem dado lugar

13
a reduções injusiiticadas t » especulações extravagantes, oferecendo
alvo: fáceis pera resenhistss abaterem, tem lambem sofrido de uma
certa timidez. Disk que enquanto teus praticantes "explicam excès
sivanieiile a partir de muito pouco", «o mesmo tempo, ''reivindicam
muito pouco do que pruprinmeiile em excesso". Geralnienle se limitam
I psicobiogrufiu ou a irrupções de psicoses coletivas. Ao eontrário,
requeri umn "psico-hisfória de nmn espécie que nõo hnvin sido ainda
explorada, muito menos pralicuda* . uma história que, "sent &c com
prometer com e orientação biológica freudinnn, com explicações ge­
néticas, uu com proposições radicais sobre a sexualidade infantil e
com estratégias psicológicas", estaria ainda assim firmemente envol
vida com u realidade, regisltando com sensibilidade as pressões do
mundo externo que Ião vigorosameme atingem todos os indivíduos.
Escrevi este livro paru dirigir-mc em detalhe a problemas que sus­
citei iniciulmenle em 197+ e que esbocei como programa dois anos
mais tarde.
Diferente de Style in history e Art ttnd neJ. onde questões de
método histórico contimuuueiitc encontraram c utrairam substância
histórica, o presente volume ó um argumeino corroborado no qual
tomei as práticas contemporâneas, mais do que a: realidades passadas,
como teus principais materiais. Mos o concebi e o escrevi cm íntima
cnncxiío com um empreendimento histórico du grande uloanee com o
qual estou comprometido atualmente: um estudo da cultura burguesa
do século XIX h partir de uma perspectiva psiennalitica O primeiro
volume, que lida com a sexualidade, jii apareceu; çstSo ont elabora­
ção volume: ussociadus sobre o amor, a n&ressão. n dominoçSo c o
condito cultural. Ouero que sejam vistos como aplicações de um mé­
todo e de uma ambição que estou aqui simplesmente recomendando
c tentando justificar teoricamente.

Meu interesse na psicanálise enquanto um sistema de idéias c


uma disciplina auxiliar vem dc 1res décadas atrás, muito antes de
publicar Style in history, anterior mesmo ao inicio du minha carreira
como historiador. Por volta de 1950. qunndo era aindn estudante dc
pós-graduação e iniciava-me como docente cm ciência política, pro­
jetei um livro que se intitularia "Love, work, and politics". Muncn
escrevi o livro, aliás nem posso me lembrar do que planejava di2 er
nele. Tudo de que mc recordo c que naquele: ano: era um devoto do:

14
pontes de vista psicanalilicos revisionistas de Ericli Fromni, na sua
tentativa, como a via então, de combinar Marte e Freud. Islo foi há
muito tempo. Vim a reconhecer que qualquer esforço para unir Mnnc
c Freud fó poderiu conduzir a ura casamento forçado cora conscqüSti-
cias calamitosas para ambos. Além disso, a crítica de Fronim u Freud,
que cresceu em estridência com a passagem dos anos, tornou-se cada
vez menos convincente para mim. Ainda assim, essas controvérsias
encorajaram-me » fazer um a serie de leituras sobre Freud, cie fúrmti
aão sistemática c informul. 0 leitor alento pode encontrar Iraços da­
queles estudos em meu trabalho a partir do finai de 1951). tímidos
como ainda o eram nu iníciu. Mas naqueles dias csluvu desenvolvendo
uma outra dimensão dn história, urna que balizei de história social
dm, idéias.
A partir da perspectiva dos anos em que segui n história social
das idéias mais intensamente, principalmcnte em meus livrus sobre
Voltnire e sobre o llumtnismo. minha atual preocupação com us usos
da psicnnniisc na história pode parecer bastante longfnqua c um des­
locamento drástico de interesses- Rcalmente, não foi isso que ocorreu.
Poderia ser plausível objetar que calou somente, à maneira dos auto-
biógrafos, afastnndu os obstáculos c endireitando us desvios nas tri­
lhos que tive de tomar de modu u apresentar mu semUlo espikiu de
consistência e continuidade. Freud disse umu vez que o biógmtó está
fadado a apaixouar-sc pelo seu objeto; o autobiógrafo, suspeito, npc-
nas mamente está isento dessa paixão. Mas enquanto não posso me
colocar comu o último juiz da minha própria história intelectual,
penso que d a não registra nenhuma ruptura drástica, apenas uma
evolução vagarosa c orgânica. As duas décadas ou tanto cm que me
empenhei numa história social das idéias, dos meados dos anos 50 até
o» meados dos anus 70. foram tentativas de romper cuin u que perce­
bia como sendo uma prisão autocoustiuida pelo hisloriadur dos idéias
na qual um pensador isolado combale, sem olhar nem para a direita
nem para a esquerda, com outros pensadores igualmente isolados.
Quis descobrir, na trilha de R<inkc, como as coisas rcalmente ocorre­
ram, como os produtos nrentuis — as idéias, os ideais, as posturas
religiosas, políticas e estéticas — originaram se e puderam definir u
sua forma sob a impressão de realidades sociais. Era o meu sentido
sobre o débito que a mente deve ao mundo que me permitiu ler Vol-
tairc como um animal apaixonadamente político, c colocar os princi­
pies do lluminismo no seu meio natural: a revolução cientifica, a

15
inovação mediou, íi construção do Estudo, c os debutes políticos apai­
xonados do século XVIII.
Meu interesse nas recompensas ainda amplumcmc desconsidera­
das da psicanálise para o historiador simplesmente se volta para o
meu velho programa de apreender as idéias cm todos os seus contex­
tos. Um imperativo moral, uma nprecinçüo estética, umn descoberta
cientifica, um estratagema político, uma decisão militar c todos os
outros incontáveis disfarces que as idéias tomam estão, como tenho
dito, embebidos lunto nas suas vizinhanças culturais particulares u
imediatas como nus mais gerais. Mas são também respostas a pres­
sões internas, sendo, no mínimo cm parte, traduções de necessidades
inslmlunis, manobras defensivas, antecipações ansiosas. Neste sentido
abrangente, os produtos- mentais emergem eomo compromissos. Logo,
a história psicanalítica das ideins é n contrnparlc da história social
das idéias, uma completando a outra c rcciprocamcnlc. Na realidade,
como acredito se lomnrá óbvio, no curso do meu argumento, ns duas
são rcalmemc a mesma espécie de história entrevista rt punir de posi­
ções distintas, passos tomados um npós o outro nu estrada que leva
à história lotai, h c-iênc-iu da memória.
Em 1976, o ano em que publiquei Arl and «et, entrei no Wes­
tern New Englnnd Instltute for l’svclioanal>&ii coiuu uicuibio can­
didato, para submeter-me fl minha análise didática e fazer lodos os
cursos que me transformariam, esperava, de um amador informado
sobre o imliumcnuil freudiano «m unui espécie de profissional. Ela
revelou ser umn experiência fascinante, trabalhosa, dolorosa c diver­
tida em proporções quase iguais, e imensamente esclarecedora. Seria
impossível para mim fazer urna lista das lições que, enquanto histo­
riador, aprendi cm meus anos como candidato; os discernimentos psi-
canalftkoí trabalham de uma forma mais torluosii do que essa. M u
estou satisfeito que ela tenha me «nsinudu muito; maneiras novas,
mais instrutivas de ler diários c sonhos, cartas c pinturas, novdas c
textos médicos. Aguçou minha sensibilidade para fantasias inconscien­
tes compnrlillmdas que subjazem a estilos culturais, e para os fluxos
poderosos e (impiamente encobertos dos pulsões sexuais c agressivos
que dno energia á tição, invadem e distorcem u percepção objetiva, c
fnzem com que as psicologias baseadas cm interesses racionalislas apa­
reçam eomo ingênuas, como total mente desprovidas de recursos. Além
disso, descehri que técnicas ps icanuli ticos como a livre associação ou
U interpretação de sonhos, c descobertas psicanãlíticftS como O romnn

16
cc familiar ou o complexo dc Édipo, pagam dividendos inesperados
no estudo de material aparentemente familiar, como também trans­
formam. pela primeira vez. artefatos intrigantes, opacos, em material
utilizável. Não estou insinuando que o treinamento psicnnnlitico tenha
mu ado em mim como uma série de experiências luminosas de con­
versão. Não estava, quando entrei naquele treinamento, nn estrada
pata Damasco. Minha análise c meus cursos não geraram a imagina­
ção histórica que cu possa ter, cstimularuni na. Os lucros ndvindos
de Freud viernm inesperada menu:. de forma não dramálicn, construin­
do sobre o que já estava a li. Depois de um tempo, tornaram-se não
exatameute um vicio, tnas algo confortável, espontâneo c natural.
I*. bastante justo acrescentar que, durante os anos de meu trei­
namento. udquiri não apenas um respeito saudável pelos instrumen­
tos pnru diagnóstico que minha profissão podia emprestar da psica­
nálise. como também um sentido razoavelmente bem definido de suas
limitações. Algumas delas, estou persuadido, decorrem da preocupa­
ção quase exclusivanienie clínica de seus praticantes; sou tentado a
dizer, n partir dos princípios da sua forte convicção sobre a interio­
ridade. Não queru dramatizar em demasia a resistência dos psicana­
listas a pessoas qualificadas dc fora que lavram as suas idéias. Ao
contrário, devo registrar, com gratidão. minha rwrepção pelo meu pró­
prio instituto, conto convidado do New York Psychoanalytic ínstilule
ou, nn mesma direção, pela organização matriz, conhecida pela sua
abreviação como "lhe American", que foi sempre cordial c nunca
indulgente. Ainda assim, os psicanalistas provavelmente sejam tão im­
pacientes eom as renlidudes “objetivas" que encantam u historiador
quanto os historiadores desconfiam tios materiais misteriosos e inde­
finíveis. do analista. E a muior parte dos psicanalistas dificilmente con­
segue suprimir as sutis suspeitas sobre o que pensam, com um pouco
de aversão, como "análise aplicada*. O historiador psicanalftico deve
estar preparado para enfrentar quase tanto ceticismo dos seguidores
dc Freud qiinnlu de seus detratores.
O processo dc aprendizagem a que se submete o historiador en­
quanto vni duminundo o instrumental psicanalftico deveria, portanto,
sc dar em mais dc unia direção. A psicologia social, deixada por
Freud, na sua maior parte implfcita cm seus artigos, tem um poder
explicativo de longo alcance. Mas nem Freud nem seus discípulos
chegaram a desenvolvê-la eompletnmentc, c parece-me que o histo­
riador está particularmenlc bem preparado paro fazer essn psicologia

17
social trabalhar pau u estudo da cultura, dc suas origens, de seu curso,
de seus conflitos irreprimíveis, um estudo «o qunl Frjurl dedicou muitn
energia e muitas Itoras de trabalho Irei elaborai esses |x>nlos cm
alguma extensão. Mn> uniu exploração sobre o que prccisamcntc o
psiçpnnlisi;i poderia aprender do historiador, Ião fiisoinnnle quanto
possa ser, está fora tio alcance deste trabalho. Nestas páginas, quero
generalizar c redrar as implicações do observação freudiana sobre o
lolentismo: sua explicação, escreveu. deverio ser "histórica c psicoló­
gica ao mesmo tempo, para dnr informação sob que condições casa
instituição peculiur se desenvolveu, c u que necessidades humanas deu
expressão''. Histórica e psicológica uo mesmo tempo: isto expõe o
meu programa com uma economia admirável

Pensei cm encerrar o assunto aqui. Mas velhas controvérsioa gi­


rando em torno dc Freud, tão velhas quanto n própria psicunáiisc,
alcançaram uai tal grau de excitação c de injúria nos meses cm que
estava preparando este livro para publicação que não posso ignorá-
las.- A tentativa de desacreditar a psicanálise, através do questiena-
meuto dc seu.i UMia como terapia, não vi nova Nem é o esforço para
arranhar a reputação dc Ireml Mas desde o mfeio dos anos IV e,
mais nindr., no começo dos anus 80, ambos tom sido perseguidos ectii
um vigor sem precedentes c utravds dc alguns subterfúgios imagina­
tivos. A eficácia da psicanálise enquanto terapia, quando comparada
à ausência de Iraiatnenlu, chi a de outras terapias ou placebos, per­
manece uma questõu aberto a debates intensos. Obviinncntc, as curas
que a psicanálise pode nlcgar são alti-mcntc resistentes à quantifica­
ção. Mas a evidência empírica c experimental não oferece nenhuma
boa ruzão para uceilnr os veredictos devastadores dos oponentes mais
inflexíveis dc Freud, não importa quío bcni-vindos possam ser pura
«queles que estão ansteso* para erradicar as idéia.i freudianas dc
nussn cultura. Dc fato, cias aparccem-me como sendo muito mnis vul­
neráveis do que as alegações freudianos que procuram desacreditar.
Mas, mesmo que se pudesse mostrar que o tratamento psicnmititico
iiãu merece nenhum estntuto privilegiado, não sc seguiria ile nenhuma
maneira que os princípios centrais da teoria psicnnnlítica - o deter-
miiii-jnu psicológico, o inconsciente dinâmico, a sexualidade infantil,
os trabalhos dos mecanismos de defesa leriam sido assim compro­

18
metidos. muilo menos refutndos. (Tratarei dessa questão. em alguma
amplitude, no capitulo 2.)
O mesmo c importante argumento vate para ct caráter de Freud.
De certo modo. a presente onda de denúncia pode ser uma resposta
inevitável, embora desagradável, à idealização, c ate ù idolatria, cm
que incorreram os admiradores de Freud no passado tver capitulo 2).
De acordo com os adversários mais exagerados de Freud, ele era um
mentiroso, um covarde, uma fraude, um plagiador, um autoritário,
um machisln chauvinista, um pesquisador relapso, um adúltero, c (pelo
menus nn sua mente suja) uni pedófilo. embora provavelmente não
fosse um pederasta.* Não reconheço Sigmund Freud nessa caricatura,
c em vista do que sabemos fidedignnmenlc sobre ele, duvido que
algum dia ela possa vir a ser substanciada. Natumimente, os polemis­
tas mais engenhosos tentaram vincular o caráter de Freud com a sua
teoria c parecem acreditar que. se puderem arruinar o primeiro, arrui­
narão a segunda. Mas mesmo que Freud se transformasse no vilão
mais acabado e consistente, seu trabalho se manteria por si mesmo.
De qualquer modo, u programa que desenvolvo neste livro nãu de­
pendo da demonstração de que a psicanálise seja o melhor método de
cura parj as desordens neuróticas, ou de que Freud fosse uni cava­
lheiro impecável.
Ij.O
O argumento:
defesas contra a psicanálise

Historiadores gostam de rejeitar a psicanálise como uma disci­


plina a-uxiliar com uma recusa rudicnl e breve: não sc pode psicana­
lisar os mortos. Tcnló-lo seria iniroduzir técnicas inapropriatlas na
pesquisa histórica, permitir que unia especularão infundada subverta
o processo explicativo que Icrn servido tão bem durante ianlo tempo
a historiadores, c reduzir u buquê maravilhoso c mullicolorido de
pensamento e ação a uma pskopatcdogia tlepressiva e cinzenta. Os
sujeitos históricos, os grupos, as classes, as nações não são pacientes
no divã, nem mesmo cm um divã imaginário. Outras «eus tições ro­
deiam essa recusa: os estudiosos do passado orientados pela psicaná­
lise violam o bom senso, exageram na credulidade, desconsideram o
peso rins provas (ou não respeitam a sua ausência), atropelam devido
às exigências dc estilo. Alguns historiadores, ofendidos pelas alega­
ções freudianas, têm até ultrapassado a sua esfera habituni para con-
jcciurar cm voz alta sc, além. da incapacidade de psicanalisar os mor­
tos. pudc-sc realmcnte psicanalisar os vivos. Mas irrelevância, irres­
ponsabilidade e vulgaridade permanecem sendo as principais denúncias
do acusatório contra o historiador psicanalítico.
Pretendo levar u sério essas defesas agressivas contra a psicaná­
lise c organizá-las numa sequência que espero seja lógica e lúcida.
Estou imaginando as manobras defensivas do historiador como seis
anéis concêntricos dc fortificações intelectuais mobilizadas contra o
assalto freudiano. Se ele for obrigado a render-se ao inimigo na mu­
ralha mais externa, pode recuar paru um segundo conjunto dc bas­
tiões e oferecer uma uova resistência; se n segunda cair, a tetccira
permanece. « assim por diante, até o centro da fortaleza, onde o his-

21
turiador espera trêmulo pelo invasor.1 For mie, parn iniciar, o hislo
rtailor deveria se preocupar com qualquer tipo de psicologia forma!
se, por séculos, o bom senso, a erudição honesta e o experiência ama­
durecida têm sido suficientes e se, mais recente mento, algumas na­
ções psicanalíticas sc tornaram um lugar tão comum que sc pode
pilhá-las com segurança conto sc fez com um lexlu que caiu cm d>
mínia público? ütuão. se fur reconhecida a necessidade de umn psi­
cologia, e dc alguma precisão no seu uso, por que o historiador de­
veria recorrer às noções Freudianas, tecnicamente difíceis, e não sc
valer de sistemas psicológicos concorrentes que parecem ser muito
mais plausíveis c digeríveis? Em seguida, suponha que as credenciais
do pensamento psicunalílico tenham sido aceitas. Não 6 a psicaná­
lise na sua própria essência a-histórica com seus postulados sobre uma
natureza humana estável que sc opõe ao compromisso do historiador
com unta natureza humana fundnincntalmentc cm evolução c mutá­
vel: e a psicanálise não parece desprezar, infelizmente, o tinico ele­
mento aparentemente estável na experiência humana: o interesse pri­
vado? E, mesmo que Freud tivesse sido defendido tanlo no seu tra­
tamento do interesse privado como rur sua percepção sobre as ques­
tões humaneis, n sua visão da humanidade, nu melhur rins hipólctcs,
não 6 uma transcrição de um tipo punimcntc local —- o da virada
do stíeulu ent Viena?
Uuarto, pressupondo que a psicanálise não c assim cão a-histó­
rica, c que a história não 6 igualmume tão hostil á idéia de natureza
humana, coma supusemos durante tantu tempo, não permanece ver­
dadeira que ii psicanálise, subjugada pelas suas preocupações clinicas,
pode nu máximo iluminar um estreito segmenta da experiência his­
tórica, nquelc da conduta irracional ou da distorção neurótica? Ouin-
to, suponha que u psicanálise tenhu se rcvcludu comu uma psicolo­
gia geral, pouco menos instrutiva sobre a razão do que o é sobre o
irracional, a historiador não está justificndo em restringir o seu em­
prego, dado que a psicologia freudiana é de ludas a mais incuravel­
mente individualista? f apenas após o reconhecimento da historiador
pelo que a psicanálise tem de potencial para explicar o comporta­
mento grupai e a interação contínua enlTO mundo e monte, que cie
pode sentir-se pronto para incorpôrú-la ao« seus métodos de invesli-
I, .Aitutci neste livra o velho uso, genético c iwilrão, dc- empregar os.
pronomes "clc(s)" ou “sciu.s)" c o» suhsianlivoí “homem" ou ‘homem" para
Jcnolar lacln a humumeinde

22
gação c integrá-la à sua visão do passado. Mesmo assim, ainda per­
manece uma defesa, aquela da impraticabilidade: não importa quão
crível, quão instrutiva a psicanálise possa ser. cia é rcíilmenle útil
para o historiador praticante? Pode-se psicanalisat os mortos? Estas
são as questões derradeiras e difíceis a que ousarei não me esquivar
c o c|uc pretendo me dirigir no meu último capitulo.

23
1
As necessidades
secretas do coração

I . Psicólogos sem psicologia


O historiador profissional tem sido sempre um psicólogo — um
psicólogo amador. Saiba isso w nüo, clc opera com unui teoria sobre
u nnttirem humana; ntribui motivos, estuda peixões, analisa irracio­
nalidades e constrói o seu trabalho a partir da convicção tácita dc
que os sores humanos exibem algumas características estáveis c dis-
ceraiveis, alguns modos prcdmVcis, ou pelo menos decifráveis, de
lidar w m aj auus c.spcriònçia#. Descobre causas, e a nui descoberta
geraImcntc inclui os atos mentais. Mesmo construtores dc sistemas
materialistas, como Karl Mane, que sujeitam indivíduos às pressões
inevitáveis das condições históricas, admitem c declaram que enten­
dem o papel desempenhado pela mente. Entre iodas as ciências auxi­
liares do historiador, a psicologia c a sua ajudante principal, embora
não reconhecida.
Mas. cm gemi. clu permanece nno reconhecida; enquanto devo­
tos do senso comum, os historiadores tem relutado cm discutir o lugar
da psicologia na sun disciplina. Na verdade, seu desconforto aumen­
tou visivelmente nas últimas décadas, mais ainda n partir do momen­
to cm que a psicanálise insinuou-se na profissão c tomou-se u psico­
logia preferida para uuiít minoria impetuosa, isolada c censurável.
Pnm a enorme maioria dos historiadores, a emergência dc Freud
como um guia possível pare os mistérios dits mentes do passado ense­
jou a manifestação de um ceticismo ponderado, de urna ansiedade
mal disfarçada, cu de pura raiva, Uma tática característica dos velhos
freudianos, tentadora mais ilícita, seria a de interpretar os atos de
rejeição carregados dc afeto dos historiadores como resistências c feli-

25
citá-las distorcidanienie cnqunnto demonstrações nüo tencionadas das
idcins frcudiunsis. Certamente, us suns idcins precisam de argumentos
mais fort«» du quc este pura quc sc possa rccomendá-hw para o cs tu
diosu sério: forum-sc os dias cm quc os seguidores de Freud podiam
desacreditar críticas racionais através dc uma psicanálise do critico.
Mo inicio da década dc 40. Marc Bloch assinalou a obrigação du
historiador de explorar t» que chamou dc "ns necessidades secretas
do coração” dos homens. Mas a exploração que pretendia foi prevista
para permanecer nu superfície du consciência; ele escreveu no seu
livro póstumo c inacabado liistotian's crafl que, “cm úlliniu análise,
a consciência humana é o objeto da história. As intcr-relações, as con­
fusões e as contaminações da consciência humana são, p.irn a história,
a própria realidade”,1 Embora poucos historiadores pudessem preo-
cupíir-sc cm negar que o homem 6 o lema verdadeiro dc mui ilisclplinn,
sentem-se inquietos diante dessas ‘necessidades secretos do corne áo"
— mais secretas ainda du que Kloch havia imaginado. Tampouco o
guia para das, oferecido por Freud, cm o indicado pnra ressegurá-los.
Muitos historiadores que saúdnni Marc Bloch como um mestre acham
u sua proposta muito temerária. Onero mostrar que, embora ela seja
formulada admiravelmente, é per demais prudente.
O Idsioiíadur liêiuulu u que me referi c coiuinuaici o ía/.è-lu i
umn construção, embora núo suja uttt buncco de palha. C uma con­
densação dc muitos prnticanlcs ansiosos, c portanto hostis, qtio perso­
nificam o consenso do oficio histórico. A maior parle dos historiado­
res profissionais não sc compromete com <i publicação dc seus pontos
de vi sin sobre a psicologia cm geral ou sobre Freud em pnrticulnr.
Ainda assim mc sinto seguro ao supor que mesmo aqueles que, nos
listados Unidos c cm outros lugares, poderiam reconhecer que lucra
riam com uma psicologia sofisticada, rejeitariam o insti uinciiliil freu­
diano corno sendo inadequado para íorncecJa. Stephen GottsJialk,
estudante de Christian Science, uma confissão cristã, observou, ao re­
senhar negnt ivanrenle uma psicobiograíia dc Mnry Baker liddy, que
“em geral, os historiadores tendem n ser extremnnicnle céticos sobre si
aplicação dc conceito* ps icanalíticos. n história e à biografia",“ O sCu
parecer d o da minha profissão. Aqui c uli ulgum historiador desta
curió tem mostrado algum interesse c simpatia peia psiennnlisc, mus
seus elogios, em geral vagos e condescendentes. snu provavelmente
mais danosos às alegações freudianas do que a deprecinção franca e
típica de seus colegas O falecido E. II. Cnrr, no seu livro iimpla-


mente lido, embora decididamente trivial. What is hisiory?, atribuiu
a Frctid umu dupla rclevóncin para oe historiadores: cie concentran
a sua otençüu sobre os nossos preconceitos e desconsiderou a "imlig.i
ilusão" de que os motivos ostensivos dos homens sãu “adequados
pnra explicar a sim ação* Isso dificilmente parece ser umo contri­
buição heróica pura umo ciência do homem sobre n qual os historia­
dores poderiam npuiar-sc; deforma hem apropriada n sua perspectiva.
Carr avalia o trabalho freudiano como uma aquisição negativa de
alguma importância.*
Essn cspóeic de concessão relutante cvidcntcmcntc parece ser
muito generosa para a maior pane elos historiadores. Refletindo n
respeito de como estudiosos do passado lidam com a influência de
impulsos irracionais sobre os atores históricos. G. R. Elton adveniu
cm 1967 que “alguns historiadores, c principal mente os biógrafos",
passaram a acreditar "que um cunlicciinctilo de psicologia (cspcciul-
mente de psicologia patológica) é indispensável, com a consequência
de que com muita frequência se encontram iilguns fragmentes bastan­
te ruins de lugares-comuns freudianos ou pós-freudionos na análise".
Isso parece ser bastante insto; afinul de comas, citarei alguns frag­
mento* bastante ruins desse tipo nus páginns que se seguem. Entre­
tanto Elton nac> é um freudiano anstuso cm protegei um legado pre­
cioso c delicado. Ele comenta: "As vezes ainda nos pedem que recor­
ramos a Freud quando estudamos pessoas na história, no mesmo
momento em que cs psicólogos afastam-se em massa de Freud’ —
confundindo, assim, os humores mutáveis do público em geral com
as convicções sérias dos psicólogos académicos que, alem dn mais,
tem se tornado um pouco mais receptivos à psicanálise.
Na verdade, parece que quando a mente humana, especialmenlc
u suo mente inconsciente, está em questão, alguns historiadores pro­
curam refugiar-se numa hipocrisia ddihcrudnmcnte cultivada, c osten­
tar a sun ignorância conto um símbolo ele sabedoria profissional. Ken-
nellt S. Lvnn, cm 1978, recorda com aprovação que “Anhur M.
Sehlcsingcr Sr. informou-me — com considerável arrogância — que
nunca lera Freud e que não pretendia fozâ-lo”. IX* nenhuma forma ele
á o único. J. H. Ilexter contou n seus leitores que “embora anos atrás
tenha lido n maior parte das obras freudianas na velha edição du
Modem Library Giant, saltei sobre algumas e nunca voltei a elas".
Aquelas obras não identificadas nn velha Modem Library Giimt. na
versão defeituosa de A. A. Brill, há muito foram superadas por ira-

27
duções melhores, mus Hexter decididamente recusou-se a retomai ,1
elas parque achou o próprio Frcud deficiente e nào as traduções de
Urill. Ainda assim, sc a história, como Hllun colocou com justeza,
"cala preocupada com todos us ditados, os pensamentos, os atos e os
sortimentos humanos que ocorreram no passado e deixaram depósitos
no presente".1 o historiador 6 chamado, de fato obrigado, a pesquisar
como esses ditados, pensamentos, atos c sofrimentos podem ser inves­
tigados mais cfclivamcntc c compreendidos com maior sensibilidade.
Mestres consagrados como Schlesingcr c Hexicr npnrcnicmcntc se or­
gulham cm desconhecer Frcud. uma vez que se persuadiram de que ele
não tem nada para ensinar-lhes.
Talvez devêssem os agradecer b esso inocência obstinada; outros
historiadores, opôs umn rápida incursão pelo país dc frcud, genil-
mente sem timu bússula c ignorando o idioma. tOm sido os mais dele­
térios Alguns alcançaram o que consideram, no mínimo, como sendo
us refutações definitivas de qualquer mzão pela qual us historiadores,
deveriam aprender psicanálise. Nos seus artigos presunçosos sobre
ciência histórica c ptico-história, o historiador social alemão Hnns-
Llrich Wchler, em geral receptivo a inovações metodológicas, rejeita
a história psicanalítiea como sendo "mais um beco sem snfda do que
unta trillm promissora-'.* A incursão dc Duvid lltickcit fischcL' pelos
faláeias dos historiadores arrola "cinco fracassos subslimeinis" da Ico-
rin freudiana, c julga que "os fracassos da Itisloriogrnfia freudiana"
provavelmente "decorrem, em alguma medida, dns limitnçôcs do mé­
todo psicunalítico". B, no mínimo, dois historiadores tentaram enver­
gonhar a psicanálise Ião ccimplctumente pnrn que cIh nunca mais mos­
trasse a sua face diante des historiadores. | aeques Rarzun, em um
ensaio divertido c vigoroso, Ciic utiil (lie dactanI, procura rcsgalnr
Clio, sua musa, de charlatães dc toda cspccit; c, entre os grupos de
ncwidadciros c tecnocratas. o "doutor cm psicologia", ao prescrever
para a sua "paciente, u História", c umn figura ameaçadora quando
não eslá sendo ridícula. Por sun vez, David li. Staunard, cm Shrinkirtx
klstcry, passa, com unta espécie dc raiva imponente, dos fracassos
da psicanálise tm historiografia para os seus fracassos nu terapia, cm
lógica, cm construção teórica e em percepção cultural, para concluir
que não há nada que recomende a psico-liistórin porque não há nada
que recomende a psicanálise. Slunnard convida o historiador a pro­
curar em outro local: "Chegou a hora de mudar"."

28
Einhorn os lestos citados datem do final dos anos 60 para a
frente, minha própria experiência, de nenhuma maneira atípica, sugere
que H injeção da psicanálise na história suscitou uma oposição maciça
praticamente desde o seu inicio na década anterior ou pouco antes.
As palavras de abertura deste capitulo, em que chamei o historiador
de psicólugo amador, são unta paráfrase muito próxima das senten­
ças iniciais de um artigo que apresentei diante da Society uf Pranch
Historical Studios em 1960. Disse que o historiador, diante de “um
desfile de personagens históricos, pede ver os atos deles mas deve
inferir os seus motivos". Ilnlão passei n examinar cumo os historia­
dores da Revolução Francesa traiunun os discursos de Robespierre, de
Danton c de seu contemporâneos de tribuna etn urna época oratória,
e analisei brevemente as próprias falas. Meu artigo era uma tentativa
modesiíi de fundamentar as atividades expressivos dos jacobinos e de
seus rivais na realidade, na tradição retórica c na pressão dos evento;
mais do que nas convicções, nas idiossincrasias ou nas necessidades
inconscientes deles. A maior parle das rninhns observações guiava-se
pela experiência manifesta, peia conduta verbal dos oradores c de sua
tradição retórica, pelas suas metáforas religiosas, pelas alusões clássi­
cas ç pelas citações de Plutarco e de Rousseau, pela sua sinceridade
c pelo seu modo de íalar bombástico. Somente ao final, aventurei-me
a ’‘brincar” nas águas profundas dn psicologia. Especulei que o notó­
ria ansiedade e suspeiçáo, apresentada por Robespierre tia primavera
de 1794, poderio ter sido uma forma de atuação de uma sequência
mortal na qual a frustração traduz-se em raiva e é mitigada pela vin­
gança. E sugeri, rotulando-a de “mais especulativa ainda", que pode­
ríamos ver a sucessão de eventos que levam da fugn do rei para Va-
rennes à sua execução como tendo os contornos c produzindo os sen­
timentos de culpa do parricídio. Para evitar equívocos, nssinnlei que
"respostas a questões psicológicas como estas não podem ser encon­
tradas apenas através da psicologia'*, mas tnmbcm devem ser procura
das "na política, nos eventos cotidianos"/
Minhas advertências não foram ouvidas e minhas precauções fo­
ram vBí. l.'m quarto <k século mais tarde, o artigo parece-me coniplem­
inente convencional nc seu método c nos seus pressupostos. Ilá muito
pouca psicanálise nele. Ou pretendia que a minha frase concludente
suavizasse mais do que alarmasse: como Sigmund Freud disse certa
vez, falei paru os meus ouvintes, “há época» em que um homem
anseia por um chnruto simplesmente porque desejo fumar".'' Ainda

29
assim, a minlin apresentação causou o que se pode nu somente qunli
ficar de utn "motim bc-m-comporludo1'. Um hisluriudor eminente. le­
vantou-se para denunciar os hisluriadores cumo seres volúveis, sujei-
los aos modismos, entre os quais, secundo ele. a psicanálise era upe­
nas o tnais recente. Disse: "Eu os vi vir o ir. Km a antropologia.
Ucput.s foi j »uciolu&in. Agora é D psicanálise. Mus isso também irá
passar*. Outro, dc forma indignada, queria saber se os historiadores
(Hi futuro lerisin que estudar psicolugin como seu domínio conexo —
aparentemente uma iienpectiva agourenta. O debato que provoquei
involuntariamente não foi sobre a substância dc minha apresentação,
mas sobre a amença que nina disciplino alienígena e esotérien colo
enva pnra os estudos históricos. Senii-inc como um btu\u que, pot
alguma gafe social terrível, tivesse sido convidado pnra apresentai
unm comunicação em um encuntru dc- unta sociedade médica.
Dois unos antes, em 1958, n psicanálise acabara dc irromper na
profissão ti partir dc uma conjunção espetacular de evento«: u coin­
cidência entre o discurso presidencial, amplanicntc citado, dc Williiim
Langer para .1 American Historical Asscciatkm, c o livro Young Man
iMther, dc Erik Erikson, que deu a I-revid tuna notoriedade gmndc
c inslHiiUiuca entre os hisloriúdores.’ O discurso do l.nnger, que pedin
aos seus colegas que empregassem a» idéias pMCanolílicat nn pesquisa
histórica, eia ainda mais perturbador porque 0 sou autor fizera a sua
reputação atrnvéí de obras sobre a história da diplomacia, impecáveis
pelo jua documentação c conservadoras pela siiu técnica. O livro de
Erikson, que se apresentava como um “Estudo em Psicanálise c His­
tó ria g e ro u alguns debrues apaixonados. Itintos resultaram cm con­
gressos regiamciile financiados e em um clã fcrvoTuso dc Imitadores
Atualmente, como se sabe, a psico-história assegurou-se dc todos os
estigmus de púrnttnSncifi na ptofissâo histórica: participação no pro­
grama anual da American Historical Association 0 nns páginas da
sua revista oficial, nu mínimo cm duas outras trimestrais e, certn-
mcnle, 0 seu nome questionável. Em 1971, Frcd Wcinstcln e Ccrnld
M. Plutt, tlois otimistas entre os estudiosos que deram hoas-vindas ao
iustrumentfll freudiana, consideraram como evidente que “tanto histo­
riadores como sociólogos pretendem fazer um uso sistemático du teo­
ria psicanalillca*.1*' Nn verdade, a julgar pclu feri cidade dc Ikinrun
e a de Stannard. muitos historiadores competentes temem que o "uso
sistemático da teoria p sican alilicn ’ torne-se dcninsiiiJiinicntc familiar
no trabalho du hisloriadoi.

>0
Acredito que, na realidade, muito pouco tenha ocorrido. Inevi­
tavelmente, os mais hostis à psicanálise tem sido os que se sentem
mais alarmados tom a piseu-liistória. l'ara eles, i no mínimo algo
que desfigura. talvez: uma epidemia incurável que invadiu o seu oficio.
O "psiculogizar descuidado* tle "homens e mulheres confusos que se
autodenominam p»ict>-historiadores". escreveu Kenneth S. Lynn ent
1978, orcsccu como "um câncer que está cm meliisUise por todo O
corpo da profissão histórica".11 Contudo, Irè-s anos mais tarde, Marcus
Cunliffc avaliou, dc umu romia mais cordial e muito mais porccptiva,
a situação. Ao resenhar duas biografias psicanalíticas, ele arrolou no­
mes previsíveis desde lirik hrikson até Christopher Laseh. ccmo
exemplos du atividade psico-histórica, só paia acrescentar que via um
recuo acentuado na “arrogância sigmundiana". Os psico-historindorcs
estavam começando a aceitar que o complexo dc £dipo c, cm ampla
medida, datado, que a reputação de Krikson estava cm declínio, e
crentes proeminentes estavam publicamente se torrando upóstatns, e, o
mais esclarecedor de tudo, “historiadores respeitáveis", como laeques
Bnrzun e Oeofftcy Stonc. haviam expressado um "ceticismo acen­
tuado”. enquanto Lawrence Stonc chamara a psico-hisiória dc “área
de calamidade pública". A partir dessa perspectiva, Cunliffc concluiu,
soando irm pouco, mus apenas um pouco, como David Stannard, que
n “psicc-história começa a aparecer ccmo uma idéia que teve a sua
época e acabou".'*
Isso defino por.» mim, com bastante adequação, o humor domi­
nante c permanente da profissão histórica. As publicuçôcs competen­
tes. c às vestes impressionantes, de historiadores que reconhecem aber-
tajucatc o seu débito para com a psicanálise têm causado pouco dano
ii nrinadum dc seus colegas. IX- falo. todos esses endossos ardoroso»
e repúdios furiosos não conseguem esconder 11 inacessibilidade essen­
cial do ofício ri psicologia freudiana, uma inacessibilidade ainda mais
marcante fora dos Listados Unidos entre oe historiadores du Inglaterra,
França, Alemanha ou Itália. Ent 1967. G. Kitson Clark já havia pre­
venido os seus colegas historiadores ávido» em emprestar as idéias ou
os métodos de outras disciplinas que, enquanto cin tempos passados
n zoologia e a antropologia haviam fornecido alguns “exemplos um
tanto desagradáveis” dc “ absurdos inqualificáveis", agora "a psieolo
gin, provavelmente, ocupara o seu lugar dc ciência mais ilvrta u abu­
sos‘ .u Sem dúvida, ele estava pensundu nos psieo-historíadores.

ÎI
A resposta Bo livro «Je John Demos sobre bruxaria cm Massa­
chusetts no século XVII serve uumu uni uvcmplo instrutivo de todn
essxi defensivn triunfante. L'nienafning Satan: wUdtcraft and thé cul•
mrc oj eurly New England, um estudo nmbicioso e bem-feito, que
procura apreender a scti fascinante remn recorrendo às foule» da bio­
grafia tradicional, du sociologia. du liistôriu social c du psicanálise,
leve uma acolhida muito favorável — cxceto cm relaçfio à pane psi-
cannlitica. um elemento constitutivo c indispensável du argumento de
Demos, que os resenhistas acharam confusa nu infeliz.w Km poucas
palavras, a psico-história 6 bastante visível, mas principulmcnte como
alvo. Sem dúvida, algo dc sua notoriedade c o resultado indesejado
dos defeitos que comprometem u maior parte do seu trabalho — a
sua tendência paru um redueionismo, sua linguagem freqücnicmenlc
bárbara, tuu maneira descuidada em relação às provas. Crftieos do
que ocorre na fomm freudinnn dc historiografia podem encontrar bus-
Ittutc material no modo eomo tem sido escrita. Mas quaisquer que
sejam o seu desempenho ou as suas possibilidades, n psicanálise per­
manece, na companhia dos historiadores, uma estranha, cercitdn de
desconfiança, como uma recém-chegndn exétien e provavelmente con-
Iagiota. A penetração freudiana nas fortificações defensivas do histo­
riador permanece marginal: portanto, o ardor incansável dos contra-
ataques é mais um sintoma do que uma resposta necessária. A invasão
freudiana foi contida.
Nào compromete de nenhuma forma o meu argumento que o
vocabulário freudiano tenha se tornado uma mueda corrente em nossa
época, mesmo entre os historiadores que se sentiriam chocados ao
descobrirem que dc algum» forma devem algo a Freud. 1'ots a moeda
está adulterada Os termos menos técnicos do vocabulário psicanntf-
tico — conflito, proieçüo. recalque, e mesmo ambivalência — lomo-
ram-se quase lugares-comuns. Com isso. os entendimentos radicais, os
significados precisos, penetrantes que eles incorporavam foram aplai­
nados ou eonveniontemente esquecidos. Ninguém pode questionar a
observação de Keith Thomas de que conceitos psicunulfticos "torna­
ram-se paru* do discurso culto atual", c dc que as idéias freudianas,'
“frequentemente vulgarizadas a ponto dc não serem reconhecidas, en­
traram, sem duvida, na consciência coletiva e tomaram-se pnrte do
que a maioria dc nós vê como senso comum' Mesmo um historia­
dor Ião impaciente com qualquer tipo dc teoria como Richard Cobb
pede falar du "desejo de morte" de Robespierre sem sentir n neccssi-

32
dado do explicar o tenno; mesrtio G. K. Fllon refcre-se com candura
às dúvidas, us uiitudc?, c uus pressupostos " inconscientes'' do historia-
dor.15 Cert amonte Frond não foi o primeiro n descobrir, nem possui
o monopólio das categorias psicológicas como a de desejo de morto
ou a de inconsciente dinâmico, mas o modo fácil, descuidado, com
que historiadores como Cobb e liltcm utilizam u terminologia psicunu-
lítica sugere quão segure d o lugar deles no universo freudiano que
todo» nós. com maior ou menor relutância, habitamos atualmente.
Essa conquista do discurso culto tem sidu um ganho problemá­
tico jima a psicanálise. A posiçãu freudiana no final do século XX
lembra de algum modo, embora náo seja cerlanicnle idcnlicu, a de
Newton nos meados do século XVIII. Naquela época, d’Alembert,
provavelmente o ncwioniano mais conceituado da França, queixava-se
da obtusidude de setts contemporâneos em relação a° maior cientista
que já existiu, Kle disse que quundo New ton formulou a» leis natu­
rais sobre n gravitação nos seus Principia, os sábios franceses iiiicml-
mente zombaram dclc porque recorria às qualidades ocultas, medie­
vais, bâ muito ultrapassadas; meio século mais tarde, quando incorpo­
raram as leis de Newton ao seu trabalho cientifico, it maioria achou
que elas eram tão óbvias e há tanto tempo estabelecidas que agora SC
inclinavam a questionar a originalidade newtomnna. Newton, certa
mente, teve mais sorte do que Freud: não havia nenhum modo dc
enfraquecer as suas descobertos formidáveis. Aceitá-las significa adotá-
Ins eompletamente. A recepção — ou, melhor, a difusão — dn psica­
nálise leni sido menos inflexível. Frcud profetizou uma vez que os
americanos tomariam conta da psicanálise c iriam arruiná-la. Nenhu­
ma dessas predições realizou-se completamcnie. Mas sua profecia per­
manece como um alerta. Se Freud nos obriga a todos, historiadores
ou não, n viver cm seu mundo, a ver a mente c o seu funcionamento
a par li r dc uma tiovn visão, a descobrir cobris sobre nós mesmos que
provavelmente gostaríamos dc ignorar, u pagamento recebido por d c
é o silêncio, a hostilidade, n apreensão errónea. Pode-se argumentar
que a última tem sido a mais prejudicial.

2 . Insultando Freud

ü fracasso dn psicanálise cm atrair a imaginação dos historiado­


res é suficientemenic evidente, uno apenas devido no grande volume

55
de historiografia feita sem o seu auxilio uu contra as tendências freu­
dianos. F dramatizada, um pouco paradoxal mente, no trahallio de his­
toriadores, alguns deles proeminentes c destacados, que parecem co­
nhecer algo sobre o instrumental freudiano, a confissão de achá-lo
cm parte relevante, embora o modelem vohmtiirúimcme dc ucoido
com os seus próprios objetivos. Considerem o estudo allnmcntc apre­
ciado c interessante de Randolph Trurnbaclt sobre as relnções de pa-
ruiilcsco c domésticas dentro da aristocracia inglesa do século XVIII
Trumbach. uo pretender decodificar os materiais mais intimes, sentiu-
se compelido a discutir o tipo dc psicologia sobre o qual iria basear-sc.
e decidiu que "sempre que senti n necessidade de uma teoria psico­
lógica, conscientemente ignorei os modelos freudiano e psicun alílicu".
Trumbach aceita que Freud lenha produzido “algumas informações
úteis sobre a história du infância, nina”, acrcsccnlu. “penso que, cm
geral, não devemos nos comprometer com uma estrela cadente". A
teoria freudiana aparece a Trumbach como "especialmente tnapropria-
da" para estudar n educação infantil “desde que é profundmncnlc
indulgente na sua atitude em relação às crianças". Conclui que pars
Freud u infância “6, pela sun própiia natureza, uma doença"- Em
vez dela, Trumbach prefere a "teoria do vínculo1' dc John Bowlby,
que recorre à teoria das relações objetais e não se utilize dn noção
Ireudínna de que n intimidade com os ouiros seres humanos surge
“como uma consequência secundaria da satisfação das pulsócs oral.
anal c sexual“. Melhor ainda, Bowlby "nunca pressupõe que o estado
desordenado de um adulto é o refleto dc um estudo anterior”. Final-
mente, as idéias dc Bowlby gozam, pura o historiador, "dc certas van­
tagens técnicas' . Antes de mats undo. Freud “interessava-se por pui-
sões instintuais internas c não observáveis", enquanto, no contrário,
Rowlhy "observa comportamento externo, aquilo que o historiador
cnconlrnrá descrito cm suas fontes ’. Sem dúvida: "Para Freud o fun­
damental era a fisiologia, para Bowlby é o comportamento social", c,
acima dc tudo. "o historiador d um sociólogo c não um biólogo“,1*
Tudo isso, pnra ser conciso, è puro absurdo. Deixando de lado
o floreio retórico de Trumbach de que Freud viu n infância como
uma doença, o que afronta unia argumentação séria, Freud, longe dc
scr indulgente com o jovem, descobriu c celebrou u riqueza, a exci­
tação c a diversidade frequentemente dolorosa dc sua vida interior.
Mais do que qualquer outro psicólogo uu história, forneceu provas
científicas para o diladn poético excessivamenle citado de Words

54
worllt, de que a Crinitysi é o pai do Adulto. Vias não é tudo. Tratar
Frcud como um fisiulogo <5 desconsiderar o esforço que durou toda n
sua vida cm encontrar explicações psicológicas poro fenômenos psico­
lógicos: c argumentar que l'ruud se interessou por ptilsòes inobservá­
veis sem acrescentar que passou unos descobrindo meios pnrn tomá-
las observáveis é recorrer a um enunciadu verdadeiro com o objetivo
de distorcê-lo.
A compreensão de Trimibneh n respeito de Bowlby não i melhor
do que a que tem sobre Frcud. Ela violenta Bowlby ao deslocá-lo do
seu contexto natural dentro do espectro do pensamento psicanalitico.
vendo-o pratica mente como um cumpunamcncalistu. Ninguém poderia
ser mais preciso do que john Bowlby ao especificar os seus acordos
c desacordos com o frciidismo ortodoxo; cie rejeita principalmente o
modelo freudiano de energia psíquica e n sua teorin dos instintos,
mas insiste numerosas vezes, nas suas virias obras sobre privação
materna, que "meti referencial ao longo desln pesquisa tem sido o
da psicanálise".11 De fato, o referencial freudiano está patente cm
todos os capítulos do seu trabalho. Além disso, Bowlby pressupõe ex-
plicitamentc que um estado adulto de desordem é um reflexo de esta­
dos anteriores.1* |ú é suficiememcnle tuim ngredir Frcud com frag­
mentos mal compreendidos de seus próprios escritos., mas C talvez
pior faze-lo a partir dos escritos daqueles que, não impor In que idéias
“não ortodoxas’ possam ter. aromam de forma infatigável, sincera c
precisa o seu débito em relação a Sigmund Frcud.
Esses erros são rclcvnntcs. Podem defender u historiador contra
as iknnnnns desagradáveis da psicanálise, mas não contra a crítica
motivado pela sua fulta do precisão. Frcud c suas concepções torna­
ram-se propriedade da Imtótia moderna dus ídéíus; o historiador que
ns trata sem rigor suscilu questões embaraçosas a respeito cUi sua
capacidade de obter outras ccrretamcrue. Quando lemos, na história
da pcrcepçãu burguesa de Donald Lowe, que "Frcud insistiu em que
não havia nada inconsciente itlóra do id dentro da pessoa", esse erro
crasso, indubitável — a maior parte do ego c do superego são tam­
bém inconscientes pnrn Frcud — faz com que o leitor imagine se
Lowe era real mente o homem talhado pare lidar com utn tópico Ião
difícil assim.10
Às vez.es n adulteração de Freud C visível, quase deliberada. En­
tre as instâncias muis reveladoras na literatura moderna, o estudo

13
munumcnird de Lawrence Stonc sobre a vida familial inglesa do sc-
üiilo XVI ce XIX parece ser o enso niais ilustrativo paru se explorar
O livro é particularmcnie pertinente, porque Slune é uni liistoriadot
social respeitável e profícuo cm omn area cm que a psicanálise pre­
sumivelmente poderia reivindicai um lugar, se c que o pode na lite­
ratura histórica, l’ara tomar u caso mais esclarecedor; não se trata
de um trabalho sobre o método histórico, mus sobro história social c
cultural, justaractue sobre o mundo das práticas coin o qual os histo­
riadores sentem-se mais confortáveis.
Ao lidar, como o faz. com a conduta social, a autoridade paterno
c a educação infantil, Stonc descobre a impossibilidade de deixar
Freud de lado. li utiliza-se de proposições psjcanaittieas em alguns
de seus argumentos. Stunc. ao considerar os casamentos tardios c o
baixa taxo de uniões ilegítimas no século XVI tia Inglaterra, observa
ii titulo de tentativa que, "se alguém segue as teorias freudianas", po­
deria argumentar que esses fenômenos " poder iam levar às neuroses
que tão frequentemente se abateram sobre as tranquilas miívcrsidndci
de Oxford c de Cambridge naquele período: poderia ajudur n explicai
o alio gruu de agressão grupai existente por baixo da violência extra-
ordinurinmenle expnnsionislti dos Hitodosnaçóes ocidentais daquela
época”. Aqui Stone recruta Prend para servir como psicólogo social j
nas suas páginas sobre lames Boswell, usa Freud para escrever psieo-
biugrafia. Stonc, ao reunir os artigos de Roswcll em uma mitologia
patética e imunda de pecadilhos sexuais cometidus por ele e ao con­
tar o número de vezes que Boswell ficou fora de ação devido á go-
notréia. eaíorça-se hnivanionlc para chegar n um esboço de diagnós­
tico. O pobre Boswell é transformado em um narcisista c em uni
melancólico, oprimido poi uma "psicose maníaco-depressiva hereditá­
ria* e por sentimentos de culpa adquiridos, que duram treze anos.
entre os 16 e os 2«3 anos, ao lutar contrn uma "crise de identidade
complexa”, contra o jogo c a bebida.*1’
Poderiamos esperar que uru historiador tão predigo — para não
dizer impreciso — com o vocabulário técnico fosse grato a Freud.
Mns nãa é o que ocorre. Stunc trata a psicanálise com desdém. Cita,
na sua introdução, quatro teorias emprestadas das ciências sociais,
pareinlitiente errôneas ou aplicadas inadeqiindamcnte, que tem "pa­
ralisada'- o "estudo histórico sério da família". Duas delas, o funcio­
nalismo de Parsons e as extrapolações da biologia, não sào relevantes
aqui. Mas. as outra» duas são — pelo menos para Stonc — teorias

36
inconfundivelmente psicairalitic»». Uma dela» c "u pressuixasto freu­
diano dc que as experiências orais, anais c sexuais da infunda são
decisivas para modelar o caráter, que uniu vez estabelecido só pode
com grande dificuldade ser mais tarde m o d ificad o H esse pressu­
posto, Slono argumenta, "bloqueia qualquer estudo sobre o crescimen­
to da personalidade c do evolução «trove» do vida cm resposta às
influenciei contínuas da cultura, de família e da sociedade”,51
Ú segundo pressuposto freudiano que obstrui uma historia seria
da família, prossegue Storie, seria o de que “sexo — o til — é a
mais poderosa de loda3 as pulsões e que nêu se eltera no tempo . . .
O drama freudiana, eterna mente repetido, do conflito entre id, ego e
superego permanece fora da história e não c nfclndo por ela”. Stonc
aclin fácil explorar essas noções a históricas: “ Mas de fato a pulsfto
sexual não ó cm si mesma uniforme’ , uma vez que depende cm gran­
de parte do "uma dieta adequada de proteínas e do grau de exaustão
física c de tensão psíquica. Ela também varia enormemente dc indi­
víduo paia indivíduo*. Além do inais, "sabemos que o superego às
vezes recalca, as vezes libera essa pulsão de acordo com os ditame»
das convenções culturais, cspecialiiieulc das convenções religiosas".85
Isso c uma leitura errônea e problemática, fi, certa mente, um
iruismo que Freud tasireava o caráter e a neurose do adulto alé os
estágios sexuais do desenvolvimento mental e as constelações emocio­
nais da infância. A sexualidade infantil é antes dc tudo, apesar da»
antecipações «»sistemáticas de outros pesquisadores, uma descoberta
decisiva da psicologia psicnnaliiica. Mas Freud não pretendia, ao en­
fatizar « experiência inicial, desconsiderar, de um Indo, a constituição
biológica, e dc outro, u experiência do adulto. Disse-o de forma arti­
culada c com frequência Insistiu na constituição hereditária c no
acuso que entendia como sendo pratkemente lento o mundo adulto
como o infantil: "O acaso determina o destino do homem”.13 Freud
sempre esteve comprometido com uma espécie dc compensação: para
ele, os teorias psicológicas c anlrcipológicus existentes entitizavnm ex-
cessivumente o poder modelador do que é inato no homem, da sua
constituição hereditária, c, contra tais visões que estavam na muda,
explorou as influências ambientais que atuavam »obre a criençn. Pela
mesma razão, recorreu u essas mesmas influências, muito precoces,
para oonliabalançar o que via como senJú a paixão intensa dos Irau-
nisis de adolescentes ou adulto». Nunca abandonou a sua orientação
biológica a sua ênfase »obre as principai» pulsões — sexualidade c
ngrcssno — ntestom isso do forma sufi dente. Mns. diante de teorias
dogmáticas sobre características "raciais” inalteráveis ou sobre as dc-
sordens preestabelecidas du udcliscêiiciu. passou da nnturczn para a
formação.
Isso, repilo, não significa que ele concebeu o desenvolvimento
sexual infantil como uma cnmisa-de-torçn da qual só os adultos po-
derimn CScapar, se é que alguém pediu, através dc uinn análise longa
e sem dúvida dolorosa. Tão cedo quanto 1905, nos TUrev esstiys an
sexiuiliiy, que marcatam época. destreveu as novidades radicais que
u puberdade truz para a vida sexual, assinalando que. enquanto o
prazer preliminar na relação sexual é uma elaboração de impulsos
sexuais infantis, "o prazer terminal 6 algo novo". provavelmente ' li­
gado a circunstancias que não surgem até u puberdade". Nunca duvi­
dou. ele fato insistiu firmemente, que atividades mentais conto o cál­
culo racional ou as angústias dn consciência — o trabalho do ego c
do supcie&ú — estão sob n pressào continua do que clianin simples­
mente dc ‘ exigências da realidade". Mesmo o recalque do complexo
de Cdipo, ele coloca, o mais pessoal dos esforços, funciunn, sub a
'’influência do autoridade, do ensinamento religioso, dn educação, dos
leitura* realizados”.54 A criança csté aberta, enquanto craca, & adap
loção. Portanto, os pontos de vista freudianos, longe de inibirem,
estimulam intensamente "o estudo sobro O crescimento da personali­
dade”. Dio ao adulto tanto n história cunvo u abertura psicológica de
que precisa.'''1 O que falta na descrição dc Stonc é a da psicanálise
como urna psicologia dinâmica do desenvolvimento.
A leitura de Stonc sobre as teorias freudianas das pulsõc» sexuais
não é menos imprecisa. 1'ma tumeçar. "sexo", na formu restrita, tira­
da do senso comum, utilizada por Sfone. não é sinônimo dc energia
erótica, i» infeio bastante difusa, que Preiid apreendeu sob o nome
dc libido. À libido tnmbém não i, na definição psicannlítka abran­
gente. sinônimo dc Ld, como Stonc parece acreditar; enquanto oigu-
nizaçõo mental mais primitiva da erinnça. o id abriga todas as pul-
sões. cuja família de impulsos, coniruriumeiite do que Stonc pensa,
I reiKl considera como sendo ta» potente quanto d sexualidade. Freud
nunca foi um punsesualista. Além do méis, viu as interações, frequen­
temente não resolvidas, entre bs pulsões ou entre das c as defesas,
como não sendo de ncnhnma maneira unilaterais: o seu resultado não
está dc nenhuma forma predeterminado. Isso é o que torna o grande
psicodramu freudiano que c u civilizaçRo tão tenso, cão fascinante c
tão imprcdizível.
Cerlarnente Freud pensou que algumas das pulsôcs, como a fome.
são muilu mais imperiosas do que o anseio sexual, exigindo uma satis­
fação muito mais rápido c direta do que as necessidades eróticas. Era
apenas, por razões que acreditou que poderia explicar, u impulso
mais negligenciado pur estudiosos da mente. Mas então, Slune vèse
cm dificuldades com n definição freudiana de sexo; pode falar, como
vimos, de *experiências orais, anais c sexuais", equiparando inndvcr-
tidumente "fálico1' ou "genital" wm 'sexual", como se Fieud não
tivesse incorporado firmemente a sexualidade pré-gcnitnl ao seu es­
quema dcscnvolviinenlista. Antes de mais nadn, u narcisismo de Bos-
vvell, que Slone piem tatuo, é uma desordem que se origina de uma
fase muito precoce, nitidamente, pré-genital da scxmilidade.
Não estou assimilando esses pontes apenas paia mostrar os seus
erros. Sc Stoue estivesse certo ao afirmar que Preud trutuu o instinto
sexual como imutável entre os diferentes indivíduos, classes c épocas,
então as teorias psicanalfticas não teriam nenhuma relevância para o
historiador; qualquer teatdliv* de especificar o possível contribuição
freudiana pnrn a profissão histórica serin. muilu simplesmente, um
absurdo. Mas Slune csiá citada. Cnqumilu medico que Itntou, na
suu prática clínkn, de uma grande variedade de pacientes — homens
o mulheres, russos o americanos, princesas e donas-de-ensa — não é
preciso contar para ele que as pulsòes sexuais variam aniplamente
entre os diversos indivíduos. Seus casos clínicos, clássicos, escritos
com vistas n detalhar o repertório das neuroses, documentam o reco­
nhecimento freudiano, a própria celebração, da diversidade dos im-
pulsos c comportamentos sexuais.
Essa sensibilidade receptiva u variedade humana também revê)«
o tratamento freudiano paia com u arsenal das defesos psicológicas
que o homem utiliza pura repelir os desejos irresistíveis ou as ansie­
dades intoleráveis: os mecanismos de defesa são, dentro do instru­
mental psieanalítico, flexíveis, maleáveis, tudo menos imutáveis. Fieud
não era um historiador, mnx sabia que as mentes humanas, mesmo us
suas mentes inconscientes, modificavam-se ao longo do tempo c dife­
rem de acordo com <i classe.50 A preocupação com a individualida­
de, que distingue o historiador, domina todos os escritos freudianos,
tanto us seus artigos metodológicos como os seus casos clínicos. "Re­
calque", nos conta, "alua cte m m jo/trui nlwmcme incJivisualizada".
Assim também n fazem bs outras defesos; assim agem as pulsões con­
tra as quais x defendem. Assim, tainhém. a ambivalência, que está
no fundo da maior parti; iln atividade mentnl: "A experiência mostra
que a ambivalência exibidu varia encrmemcnle entre os indivíduos,
ns grupos ou as raças“. A linha de desenvolvimento de uma pesson
equiptira-se d Iodas ns uutrjs npenas naquilo que onda uma delos par
tilliu du tonstituiçüu gerr.l que chamamos dc natureza humana. Cada
indivíduo permanece, cm todas as semelhanças inevitáveis de família,
pnrn com os sem pares, txatamente isto: individual, único, impossí­
vel dc scr duplicado, c assim, nesta forma particular, interessante
Freud pretendeu ter descoberto os determinantes psicológicos gerais:
enquanto cientista da mente não pydin aspirar n menos. Mus, como
nos advertiu cm Civilisation amt irs dUcontetits, qualquer generaliza­
ção eoluen o pesquisador "em perigo de esquecer a coloração multi-
vartada — Buntheii — do mundo humano o dc suu vida mental’'.11
Um historintlor não poderia ter dito mcllior.
A forma com que Lawrence Stonc lida com as idéias psicsuudí-
ticas no seu Family, tex -aml »larritige in Englan4 uáu resultou de
nlgumii intipvtki repentino, invulgar, dc um Animo anlificudiano.
Numa coleção dc artigos que ramin quase duas décadas dc rcscnluis.
retomou no ataque: "Nuda nu registro histórico infirma a teoria freu-
diuna & respeito de como os diferentes estágios do desenvolvimento
infantil das diferentes zonas erógenos iornam-tc focos da estimulação
sexual ", nem ha* qualquer tipo dc registro que ‘diminua n importân­
cia da sublimação, ou do funcionamento inconsciente através da dinâ­
mica secreta que lhe é própria*'. Pode-sc 1er issu comu um esforço
significativo e sincero em aproximar a história Ju psicanálise. Mas
Stonc enfraquece, quase que anula complet 8mente tal possibilidade.
F.lc acredito que Freud era e-histórico porque alegou que quatre Irmi-
nins — o desmame, o treino dc toalete, a masturbação e u conflito dc
gerações na adolescência eram decisivos para toda a humanidade,
e quo sempre o foram. Procurou esses traumas c os descobriu ’ entre
os seus pacientes, c daí pressupôs que eram universais". Ainda assim,
nu realidade, "dependem dc experiências particulares que não ocorrem
na grande maioria das pessoas na maior parte do que registramos
sobre o passado, mas foram peculiares ã classe média urbana e culta
da Europa no final da ópuen vitoriana" Os traumas freudianos sco,

40
por tunic, “ irnprapriados historicamente V* O anseio cm ensinar a
Freud o quo etc já sabe parece ser algo difícil de ser conlidu.
Quando o livro de Stone sobre a família inglesa apareceu cm
1977, foi rapidamente alvo tie controvérsias, embora cu não lenltn
visto nenhuma resenha t|iie leniu optada por criticar esse aspecto
particular do seu método. Nem mesmo Almt Macfarlutte, que em uma
resenha extensa, cetea de trinta páginns, procurou demoli-lo, usou
qualquer uma das inúmeras págin its de que dispunha para comentar
a forma pela qual Stone t ralou Freud. Um ulhar sobre o próprio
estudo, fascinante e meticuloso, de Macfarljne. sohre o mundo exter­
no o interno du clérigo inglês do século XVII revela que essa omissão
ütn tanto marcante deve ter resul tudo d; sua perplexidade era relação
u Freud. Ao analisar o 'mundo mental ’ du seu homem. Mncfarlnnc
tenta apreender o sentido de seus sonhos, anotados ficlmcntc pelo
reverendo Rnlpli Josselin no seu diário. Sonhos, Macíarlanc observa,
com bastante ousadia, ‘‘apontam pnrn ns preocupações du mente, c
um» discussão sobre eles parece ser válida". Vias qual a teoria ouíika
que se deveria adular? Macíarlanc c agnóstico cobre o assunto. "O;,
estudos modernos sobre o tema dos sonhos sugerem que não são.
como Freud sustentava, sinionuis de estados ansiosos sub conscientes
ou desejos subliminares, mas o resultado de um tipo de computador
que ‘processa’ as atividades mentais de modo a descarregar o supér
fluo.“ * É verdade que, em anos recentes, psicólogos formularam al­
gumas alternativos possíveis ò teoria freudiana sobre os sonhos, mas
a descrição de Vlacfarlano delo está crratlu um todos os seus pontos.
Os sonhos, segundo Freud, não são sintomas, mas um esforço men­
tal para sc mauler dormindo. Não são a expressão de estados de
ansiedade, uma vez que mesmo esses sonhos confominm-sc it regro
fundamental freudiana de que os sonhos são condensações disfarça­
das e distorcidas de desejos e experiências recentes. Além do mais,
eles não têm nnda a ver com a sublimação. Evidcuicuienie, longe de
experimentar a teoria freudiana u achá-la deficiente, Macfsirliuie des­
cobriu que Frctid era um tratante c decidiu evitá-lo.
Todos estes exemples — c cu poder In multiplicá-los facilmente
— resultam numa enorme recusa. Uma coisa é rejeitar um instrumen­
tal metodológico porque não se tem n oportunidade de conhceê-lo.
Uma outra, bastante diferente, é tcjcini-lc depois do distorcí-lo. Esses
liistorindurcs lorurun as coisas facets para eles; ao truntíormarvni
Freud em algo absurdo, tutu têm ncnliumu dificuldade para demons-
trttr que Prctid est.i dizendo coisas abàurdus. Estou longe de pedir
que todas as histórias sejam psitnnalflicas. A historiografia 6 uma ati­
vidade social, coletiva, frequentemente ahcria a discussões e uind»
»«sim a coopera^õe». Um mero olhar para uma estante de trabalhos
histórico» revela uma lista exaustiva de lemas e tratamentos, k. lodos
nós udtniramos alguns hUluriudorcs — l£lie llulévy, Mure llluch, c
mais uns poucos — para os qunis poderia parecer impertinente, ikj
mínimo absurdo, inugiiiar que leriam realizada mais ttn xua profis­
são sc tivc&scm tido a hoa sorte de se submeter a uma análise ou
n um Ircinumeiito psicanplítico.
Por consegninte. não esluu questionando ou dc ulgunin maneira
minimizando a capacidade de uni historiador ccimpelentc, não anali­
sado, mi apreendei- a ambiguidade e as complexidades das situações
históricos eu os motivos mistos c misteriosos dos atores históricos. O
trabalho deles possui luz própria; seus escritos permanecem mais como
modelos a serem imitado» du que como esforços u serem vistos cora
condescendência. Vias ns percepções dc tais historiadores são. por
assim dizer, intransitivas: dependem mais do acaso da talento indi-
vidunl cio que do auxílio dc uma psicologia fidedigna k. frequente-
mente, mais du um historiador consagrado encolhe os ombros, cm
resignação, quando um mapa psicannlíiico poderia ter permitida que
prosseguissem. Au procurar solucionar as controvérsins malévolos que
embaraçavam Woodrow Wilson, quando era presidente da Princeton
Univcrsily, com Dean West n respeite da Princeton ürudualc School,
Arthur Link. provavelmente o estudioso que mnis sahc n respeito de
Wilson no innndu. admito a sun derruiu: "As divagações du sua men­
te . . são impenetráveis" Mas Alexandcr e Juliclic Gcorge. que cita­
ram essa observação no seu "estudo da personalidade'' dc Woodrow
VYiUon c o Coronel Home, prosseguem e perguntam: "A batalha
frenética dc Wilson com Una West nno se lomn mais penclrável sc
cia é considerada em lermos dc tuna busca pelo poder e pela liber­
dade em rclnção ã dominação posta cm funcionamento na sua infân­
cia? Poderia parecer que Wilson tomou a insistência de West sobre
a validade dc seu próprio ponto dc vista como um desafio irritante
à sua autoridade; cm ulgum nível West evocou em Wilson a imagem
pntorna; cie cxpcricnciou as atividades dc West comu uma tenta­
tiva dc dominá-lo, e resistiu a cias com todn n violência que havia
sentido uma vez, mas que nunca luivin se aventurado a expressar cm
respostn ã dominação inassacranlc do seu |>j i*’.*'J Essas sentenças con-
Juzem o leitor de volta aos capitulus iniciais du estudo deles, c evo­
cam mnis uma vez a raiva itnpolcntc da criança edípica. carregada
de culpa pelo teu ódio, c repelindo sempru.lnconseíen temente. velhas
batalhas e traumas não resolvidos. Aqui, e em seções posteriores e
analíticas do livru dos Gcorgc, as divagações de Wilson lornum-se
penetráveis. A psicanálise, nunca c demais enfatizar, não 6 uni remé­
dio milngroso ou uma senha mágica; é um estilo instruído de pes­
quisa, que fornece respostas que antes se pensava que não eram dis­
poníveis ou — o que c mnis importante ainda —, sugere questões,
que ninguém havia pensado cm formular.

3. Uma arena pani amadores


f: interessante, embora um pouco dcsalcntador, ver como poucos
historiadores têm se ocupado com i-'rcud. £ igualmcnte interessante,
embora um pouco mais consolador, ver o quanto conseguem sem sc
coupnr com ele. Pois, repito, ono estou dizendo que os historiadores
fracassem cm formular questões pertinentes ou profundas untes, ou
na ausência, du psicanálise. Y1us a forma dc lidar com motivações ou
causas psicológicas em geral lem sido írcqücmc c notavelmente des­
cuidada. t-Ixplicoçõct psicológicas cruciais surgem cutno uma espécie
do último recurso, depois que todas as outras te revelaram desaponta-
deras. Ao refletir sobre os triunfos da marinha ingleso sobre Nnpo-
icáo, Elic llalévy rejeiu, em sucessão, uma série de explicações dis­
poníveis: o projeto melhor dos navios ingleses, uma disciplina mais
estrita entre os marinheiros ingleses, a superioridade numérica da fro­
ta inglesa. L)c fato, nenhuma delas lem nada a ver com Trafalgar c
com as batalhas gloriosas que a antecederam. Pois. conclui lliilévy,
após a sua pesquisa, que foi uma coisa intangível, a moral, apenas n
moral, que deu nus ingleses as suas vitórias. Os oficinis dn mariuhn
e ns suas tripulações desfrutavam de uma "popularidade universal'1
no seu pais. Protegiam a segurança de todos, c não ameaçavam a
liberdade de ninguém. Apesar dc toda u incompetência doe oficiais,
da brutalidade do recrutamento forçado c da espantosa frequência dos
motins, "na hora da batalha, almirantes, oficinis, e homens reconci-
liavnm-íc e cniam sobre os navios inimigos ‘como um falcão sobre a
sua presa’. Por que era assim? Quul era u segredo dc sim força?
Ern que tinham o país atrás dc si e sabiam disso".1" Elic llalévy,
esse francês conhecedor consumado da Inglaterra do século XIX, atri-

15
bui dcsst» forma um resulmdo material sólido — a vitória no mar —
a um par de sentimentos c A sua interação: confiança por parte do
população ingleso, orgulho por pinte da sua marinha. Ilalévy não se
detém cm analisar ns urigens desses sentimentos. Registra-os c prosse­
gue. Mas eles constituem a sua explicação.
De novo. ao falar das ntiluJes públicas rai relação à pobreza
dos camponeses franceses no final do século XIX, Eugen Weber
assinala: 'A sensibilidade pública aumentou junto com o crescimen­
to do nível de vida. Em um mundo onde ricos e pobres parecem
prescritos por uma ordem predeterminada e inalterável, a principal
questão para a maioria tem sido a da sobrevivência, e a injustiça
econômica no sentido moderno não afeta u consciência coletiva. Uma
vez que as necessidades elementares começam a ser satisfeitas, surge
o tempo de reivindicar-se mais: melhores condições em geral c de
trabalho Tempo, sobretudo, para cunsidernr possibilidades ate enlãu
insuspciliidos. que cutneçnm n ser sugeridas pela cidade, pela escola
ridade c, certumente, pelos partidos políticos'. '* léssus generalizações
parecem ser nifíclcntemente plausíveis, mas os processos psicológicos
implícitos na descrição de Weber não são de nenhum« maneira
evidentes por si sós. Ele parece pressupor que híí uma certa quanti­
dade de energin que um ser humano pode invctlir ctu suar fanloaias,
desde que as circunstâncias os tornem disponíveis. Uniu yíüu de Iraba
lho penoso, sem descanso, rarnmcntc dú lugat scjti n um radicalismo
realista, seja a esquemas utópicos. Sonhos de melhorar a própria surte
não surgem automaticamente, vindos do nadit. Requerem um funda­
mento otimista, uni sentido de nbertura, ou peto menos de uma aber­
tura futura, e nlgumn corporificnção verbal conetem — uma cspócic
de divisa ou programa cm torno elo qual as fnmasias «.lesejantes
possam ser aglomerados- — antes que timn mudança dr&licu para
melhor possa ser nté acolhida. Não estou sugerindo que Weber esteja
errado, ao contrário, acredito que esteja, no gemi. certo. O século
sobre o qtinl Weber escreve viu um aumento crescente no exercício
público dos sentimentos de culpo, naquilo que veio a ser conhecido
como consciência social, tnnro na sua formulação religiosa como
secular, um superego cultural traduzido em eriticisnio cultural, pes­
quisa sociológica e legislação reformadora 1 A mobilização da espe­
rança, descrita por Weber. foi parte de um fenômeno mais amplu.
uma mistura de uma responsabilidade recentemente sentida e de ex­
pectativas solidamente fundamenindns. Dm ponto de vista influen

44
ciado pela psicanálise, sobre esse fenômeno provavelmente não Jeria
> alterado as conclusões de Weber, mus poderia ter aguçado as suas
percepções e tornado seu argumento devidamente mais eotnplexo. A
maior parte do que chamei de mobilização dn esperança funcionou
fora do domínio da consciência.
Natural mente, nem todos os historiadores são completameiue
inconscientes sobre os motivos e sentimentos dos açores históricos;
pelo menos, algumas das suas formas de psicologizar exibem um grau
de análise informal. Um exemplo instrutivo e o livro dc Malcolra I.
Thomis sobre as respostas à Revolução Industrial. Ele cscrcvc, ao
discutir a convicção presente entre os manufntuneiros ingleses dc que
os problemas gerados pela sistema industrial poderiam ser resolvidos
atmvés dc urn humanismo paternalista; "Isto foi uma idéia ou idenl
que continuou a perseguir a imaginação c a sugerir uni modo pcssÍYel
de sair do dilema da disputo irnbnlho-capilal. Os empregadores po­
deriam ter gestos mais gentis em relação aos seus trabalhadores e de
um modo ou dc outro estabelecerem com sucesso utnn relação de
trabalho fnc harmoniosa que todos us problemas poderiam ser solu­
cionados no local, informalmcntc, c o Estado nunca precisaria intervir.
Foi uma noção" — aqui Thomis insere sua análise — “que se apoiou
firmemente para a sun renlizaçno em uma visão otnmsta sobre n natu­
reza humana c na bua vontade e no altruísmo des indivíduos pura
agirem generusamciite sem coerção legal. Tal visão'* — e aqui está
o veredicto de Thomis — “não era justificada'.11
Supondo por um momento que essa generalização seja adequada,
o que cia exibe c a psicologia dc sensu comum funcionando na his­
tória; a análise bascia-sc cm pressupostos não testados. O otimismo
resoluto, infundado, detectado por Thomis, parece-me ter sido um
composto formado por desejos e ansiedndes parcialmente inconscien­
tes: por noções auto-indulgentes que desfilam como expectativas com­
placentes, ligadas ,1 uma boa porção dc denegação — ambas são de­
fesas contra os realidades dia rfhmente presentes diante dos próprios
olhos dos industriais, defesas mobilizadas não apenas para engordar
as suas bolsns trms também para aliviar as suas consciências.
Sem dúvida, a psicologia c uru instrumento inseguro, Ião peri­
goso para o historiador que o manipula quanto o 6 para o desaven-
tumdo tema histórico sobre o qual é testado. Esta dupla foce aparece
na descrição de Donald I. Olsen sobre os subúrbios de Londres, no

45
século XIX. "O que os vitorianos desejavam era privacidade pata o
classe médio, publicidade puni «s dusses Iruhulhcidorns c segregoçno
entre ambas O meio idea) paru n privacidade individual c fiimiliiiT
ern a vila suburbana nuipjda pur uma íinicu daste. Ali o respeitabi­
lidade burguesa podia florescer au máximo.'' hru a csitécic costumei­
ra de respeitabilidade: um espetáculo desnlentadur. "Os subúrbios que
tiveram maior sucesso forum uqucles que eram mais suburbanos, isto
é, mais insípidos, mais uniformes, cora o menor número de institui­
ções culturais ou sociais, uma vez que assim ofereciam ns menores
oposições para aqueles ligados no lar." A condusàu de Olscn c difi­
cilmente inesperada: "Tédio era o preço qtie se pagava de bon von­
tade por uma suspensão das tensões urbanas. A segregação soci.il sim­
plificava os problemas de comportamento, gasto c crenças: fnzis-se
siniplesnieiite o que os vizinhos eslnvom fazendo’.“
Isso d psicologia como sátira: espirituoso c, corno u resto do
livro de Olscn, instrutiva. Mas n inler-relnçüu ema' a análise histórica
c as miplkaçve» polêmicos toma-se um duelo nu qual u polêmica deixa
de lado a análise. Olscn dá-se coma de um contraste entre o alvoroço
da cidade c a quietude do subúrbio, uni conflito entre as exigências
culturais e o relaxamento doméstico, que gera uma disposição para
pa£ur <<preço do coníortiiiâtno n fim de vn 1er a recompensa da segu­
rança. Ccrlamente, esle retrato c esclarecedor c pelo menos cm parte
verdodeiru. Mas unta psicologia mui» penetrante poderia 1er mode­
rado. de fato suprimido, cm grande parle ris suas características satí­
ricas. Pois poderia 1er levado Oison a preocupar-se com a rlcsordcm
subterrânea dessus pessons medianas, medíocres poderia ter sido o
alto preço a ser pago pelo lunvion union to de sua rotinu, o patético,
•impiamente oculto deles próprios, de procurarem segurança entre os
que pensavam de funna igual, a concentração quase fanática sobre os
prazeres familiares em relação aos quais o entretenimento público
cu a vinculaçáu de qualquer espécie eram apenas timn distração se
não fossem um perigo — cm poucas palavras, a ansiedade que es­
preitava por trás dessus escolhas íilistéias aparentemente livres. Tal­
vez seja uma pena para n sátira. Ainda assim: enquanto visão ps-ien-
nulilics desses burgueses, deiesper&dametile respeitáveis, poderia ter
tornado a descrição de Olscn meros divertida, mus poderia lê-la feito
li lera Intente mais humana.
Isso nãu significa que Iodes os historiadores tenham sidti ingé­
nuas ou inconscientes sobre a sun psicologia Georges l.efêbvro, um

46
ilas autodidatas mais notáveis entre os historiadores c um dos mais
desfocados estudiosos sobre u Revolução Francesa, elo bera a sua per­
cepção dos motivos L- das condutas humanas a partir de sociólogos
cu mo Fmile Durkhcim c Maurice Halbwachs, e Jc uma leitura dili­
gente, imrospectiva. das massas de testemunhos que deixaram campo­
neses. multidões e líderes da França revolucionária, testemunhos que
Lefèbvre conhecia tão intimsunente como ninguém o fizera antes. Sim­
patizante da esquerda, relutante em denegrir os atores mais debocha­
dos e excêntricos do estágio revolucionário, mergulhado nas riquezas
empoeiradas e escondidos dos arquivos das províncias, Lefèbvre cons­
truiu uma sequência invariante dc incentivos para a ação, que se
assemelha cm muito com o conhecido esquema frustração-ódio. Inse­
riu o adequadiimcnle nas suas análises sobre os motivos que impulsio­
naram os parisienses u tomarem a Bastilha, os camponeses a saquea­
rem os castelos, os provincianos cxallndos u difundirem boatos sobre
uma invasão ameaçadora de salteadores. Lefèbvre eenamente viu esses
«tores mais viva e perlei iam ente do que qualquer um dos seus precur­
sores, cujo trabalho muito frequentemente replicou as supereimplifi-
caçõc* e us caricaturas que o período revolucionário tão facilmente
provoca. Ftnbora a sua visão não fosse complclamcnlc imparcial, duda
ii ma posição política c os votos concedidos à Terceira República
deixarem traços nu sua forma de lidar com os construtores da Pri­
meira, o ganho inerente para a psicologia histórico foi mureanie na
sua visão empática e esclarecida.
Mas foi incompleta. Aquela sucessão de impulsos que Lefèbvre
descobriu ero uma progressão simples, predestinada, dc atitudes men­
tais. Ela começou com o medo, que gerou uma reação defensiva, que
por suu vez despertou uma necessidade irresistível dc se vingar nos
“outros”. Foi apenas em um artigo famoso sobre as multidões revo­
lucionárias que Lefèbvre refinou essa seqíiência c introduziu algumas
mianccs observadas ugudmncnle: aqui c ali, no artigo, reverberam
ecos fracos tpic poderiam ler-se originado do instrumental freudiano.
Na procura da ‘'mentalidade rcvolucionáriu coletiva” Lefèbvre notou
que cia cra formada inicialmctilc por aios mentais dc generalização,
de abstração ou — o que é equivalente — dc simplificação da expe­
riência. O produto necessário foi o "tipo humano", utnn figura pálida
c esquemática que, espccialmcnle, em épocas de ebulição emocional,
serve como um substituto para a própria percepção. Os revolucioná­
rios construíram heróis e vilões, idealizaram uns e os dotaram de

4-7
luJas ai virtudes, vilipemliaram outros c os transformaram cm cxplo-
radotes desavergonhadas. Os psicanalistas chamara cssa modificação
tno drástica c conveniente de "cisão'* c a vccm como uin ufastcmcnlo
de modo* mois tidulius de se perceber u inundo. Era u que ocorrift
aqui; o humor que Lefebvre dclcciuu é uni cuniposiu de esperança,
de idealismo c de uina grande dose do unsiednde — inquiétude, dá
origem a comportamentos que parecem inconsistentes nuis que obe­
decem u sua lógica interna. própria c rígida. Grandes expectatives
sdo inseparáveis do jugu de convicções apaixonadas que. se chegarem
a traduzir os seus desejei em realidades, cntào o inimigo deve ser
destruído: 'l'a ra alcançar o bem-estar social e assegurar a felicidade
da humanidade, precisa-se apenas suprimir a classe opositora'. Longe
de sertimciualizar » mcntalidndc d«i multidão, Lefebvre reconheceu
que um otimismo c um idealismo ião impetuosos produzem u "desejo
de punir, onde se amalgamam o ódio c a fome ile vingança*'.*- Os
guipes, não importa quão justa seja a sua causa, são vitimas de suas
paixões.
Essas, proposições contiávcis sugerem uma explicação psicológica
abrangente. Mus, no final, Iarfblivrc confessou que ele mesmo estava
perplexo com o fenômeno da mentalité cotleciii*. Não 6, perguntou
um pouco daxampnrnrtn. pi*l«i menos puraial menta, um produto "de
uma espécie de magnetismo fisiológico"? Não i de se admirar que
os leitores de Lefebvre também tenham ficado perplexos. Na margem
do scu ensaio sobre “Poules révolutionnaires“ nn Yale Librar?, al­
guém escreveu uma pergunta queixosa e impaciente: "Mais, quesi-ce
(fite c’en la 'mentalité collective révolu/tonnairc'?*. Parece ser uma
pergunu viiltdii, se não for também generosa, pois embor» Lefebvre
nau consiga rustTcar o comportamento da multidão revolucionária até
as raízes inconscientes, c cmhorn ímeasse etn explicar u ligação que
converte indivíduos em famílias cm celebração c cm estado de ino­
cência coletivo, no meio de uma agressividade assassina, pelo menos
ofereceu observações que servem como preliminares indispensáveis
para tal explicação.

Como já sugeri, há proyas. dispersas mas encornjadoi as — pelo


menos puni aqueles historiadores que dão boas-vindas c abraçam a
psicanálise — . de que ugorti se tornou possível ir além dessas pi eli­
minaras. Estudiosos que se utili/om de hrcud não produzem sempre

•lit
grande* desnstccs. E um deles. E. K. Dodds, prodiuriii ume obra-prima.
The grceks and lhe irro:íonel, um modelo dc como pode ser uniu his­
tória pstcanalílica; puhlicado inicialmentc em 1951, mnnlevc u sua
autoridade durante décndns. A emergência dc Fruud conto um guia
possível do passado gerou diversos tipos de pesquisa histórica: p.sicu-
biografias altamente densas, análises dc situações c de personagens
excepcionais — as devastações produzidas por revoltas, pragas, c psi­
cóticos cm escala mundial. Mas. como Uudds demonstrou adequada
mente, h psicanálise pode instruir sobre o estudo dos imperativos
morais dominantes, das convicções religiosas diiundidus. dos estilos
culturais mutáveis, em poucas palavras, sobre o passado "normal".
Assim convidou os historiadores u continuarem a escrever a história,
mus de uma perspectiva mais ampla e recompensadora do que a
anterior.
O uso por Dodds de Freud totaliiicntc bcmdnfumimhi c astuta-
mente simpático é também, de forma previsível, completamemc adrnr-
rrinário. A partir dn sua análise sugestiva dc como a cultura grega
moveu-se dr> vergonha para n culpa, Dodds enfaticamente declara
sua independência em relação à psicanálise. "Nàu espero que essa
chave particular. <u qualquer outra, abrn todns as portas. A evolução
de uma cultura é uma coisa muito complexa parn ser explicada sem
resíduos em termos de qunlquer fórmula simples, seja econômica ©u
psicológica, guiadn por Mnnc ou por Freud. Devemos resistir à ten­
tação de simplificar o que não é simples."s? Ainda assim, esso com­
prometimento com um pluralismo tanta metodológico quanto explica­
tivo não impede Dodds dc adotar, ousadametue. as ideias do psicó­
logo, que a maioria dos outros historiadores considera intragáveis,
irrelevantes, assustadoras. Mão muito nntes do sua morle em 1979,
escrevi-lhe perguntando no ele prclcmliu redigir algo a respeito du
influência que Freud tivera sobre o seu trabalho, c Dodds respondeu
que nàu tinha u intenção de fpzè-lo. ntns acrescentou: "Ele ajudou-me
muito a compreender n mim mesmo c um pouco mais ns outras pes­
soas, tuas isto ó um benefício que partilho com milhões de outras pes­
soas". G um benefício que os historiadores cm geral preferirnm rejei­
tar; pelo menos, até agora.

49
2
As alegações freudianas

1 . Uma aparência de convencimento

Admitindo-:*: que a historio possa liriir proveito dn psicologia,


por que se deveria accilnr Frciid como guia? A resposta para « tu
questão inconveniente c muito mais problemática do que os devotos
du psicanálise estão dispostos a reconhecer. O trabalho de E. R. Dodds
e de alguns outros tem u força persuasivo do exemplo, mas a alega­
ção sobre o que ;■ psicanálise pode fazer pelo historiador merece tanto
uniu cxplcneçõo teórico quanto exemplos concretos. Paru o paieann
lista, mergulhado no seu treino, na apresentação de seus casos, na
sutt prático, nas suas leitums e releiluras de eusos canónicos, o instru­
mental freudiano 6 tolnlmcnlc convincente. ltle descobrirá provas cor
roborativas por lodos os lados, mesmo no lugar c no momento em
que não estiver procurando por elas: nos seus filhos, na conduta dos
políticos, mas acima de tudo nos seus nnnlisandos n partir de seus
sonhos, e associações, silêncios e atos falhos. Ao uuvir os seus pacien­
tes com a menção livremente flutuante, esse modo cuidadosamente
refinado de absorvei mensagens c de combiná-las, o psicanalista tem
acesso a experiências que. uma após outra, ressaltam o conheci mento
prdviu e documentam o gênio du fundador Pode corrigir detalhes
marginais na teoria psicanalítiea, elaborar ns suas próprias descober­
tas, cujo prenúncio está certo de detectar nos nrtigos freudianos, ou
completar um ponlu ou outro na agenda que o mestre propõe mas
deixou somente assinalado. Pede voltar-se par» problemas, como o
dos relações objetais primitivas, que Kreud só sugeriu. Afinal de cun-
tas. a sim ciência, como gosta de dizer, c ainda muito jovem. Mas nos
seus contornos essenciais, o impa mental dado pelo psicanalista per-

51
manece muito semelhante su que Freud desenhou c redesenhou. Vi o»
termos da sua ocupnção, como regressão, recalque, projeção, recusa,
ambivalência c transferência c o resto do seu vocabulário profissional,
enquanto descrições precisas dos próprios atos mentais reais. Assim
é tentado a tratar os céticos corno ignorantes ou obtusos, certoincnlc
como pessoas que se defendem. As exigências por mais provas do que
aquelas- que têm sido tão frequentemente dadus utingem-no conto per­
versões, como unia forma dc obsessão e angústia. Não está tudo na
Standard cai tio n o) lho complete psychologicat warks oj Sigmund
Preud com ligeiras emendas feilas aqui e nli por comentadores?
O historiador, de algum modo, para espanto c desalento do psi­
canalista, raramente está preparado para aceitar essas alegações dc
grande alcance. Provavelmente achará bs práticas psicanalilicas eso­
téricas, a sua linguagem deplorável, c suas preposições, parn colocar
numj forma caridosa, afastadas dc suas pesquisas sobre O passado.
No máximo, pureeent ser codificações do óbvio; em geral, nlingcm-iio
cento uma sequência biziimi dc especulações anifkinis e profecias
autojustificadotiis. Lê a literatura psieanulítiea, se chegar n fazê-lo,
com n suspeiln crescente de que os freudianos não são melhores do
que religiosos fanáticos, uma tribo dc Ycrdiideirus crentes.1
A irrupção tln psicanálise no cmnpo de »isno <Ju historiador fc*
com que o seu embaraço diante da psicologia sc lormissc mais agudo.
Iarques Burzun obseivuu que "a questão ‘Sim, nuis que psicologia?' c
importante" — mas, segundo dc, irrespondível." Mesmo que o histo­
riador admita pjra u psicologia um lugar proeminente entre as suas
vias de acesso à compreensão, ele não está preparado p.ir.i optar pela
psiennulise eomo sua psicologia favorita. Por que Frcud? Por que não
lung, que sc propõe a explicar ns fumados colotivns c os mitos uni­
versais? l*oi que não u balai lião dc revisionistas — Knren ilumey.
Erich Fromm, llnrrv Stack. Sullivan — que, com suus psiquiatrias
sociais, estão nuuu púsiçõo conveniente, numa proximidade quase
tranquilizador» com o mundo que os historiadores gostam dc pensar
que cies habitam? Por que não os romportamemalistas ou os teóri­
cos da aprendizagem, cujas psicologias sc alimentam dc experimenta­
ção e geram a espécie de informação quantificada que os historiado-
res passaram a apreciar ou com a qual pelo menos aprenderam a
conviver?
Essas não sãu questões neutras ou inocentes. Todas as discipli­
nas a que os historiadores modernos recorrem — antropologia, socío-

52
logia, economia — estão atoladas em controvérsias: iodas levam o
historiador * escolher uma escola cm detrimento de entras. O histo­
riador que estuda industrialização no século XIX compromete-se com
um tipo de explicação cm voga na economia c rejeita as alternativas:
seu colega que investiga a ascensão do protestantismo posiciona-se
em relação fi sociologia da religião de Max Weber. Mas u hesitação
do historiador cm relação à psicologia é muito tnnis tensa do que a
indecisão normal do estudioso que enfrenta uma disciplinii que niío
lhe é familiar; a sua escolha c fortentcule carregada de emoção. Ele
exige da psicologia um consenso e umn precisão que nenhuma oulra
ciência do homem pode dar, c exige proves que os psicanalistas relu­
tam cm fotneccr.
A relutância deles, não importa quão bem fundamentada, redu­
ziu accnlu&dttmcnie a escolha do psicanálise pelo historiador. Eles
podem imo estar lutalmcnlc conscientes disso, mas frequentemente os
psicanalistas aparecem como sendo cspecialmeme não cooperativos, ou
pelu menos ambivalentes a respeito do uso da psicanálise por não
iniciados que se aventuram n desvendá-la ou adptá-Ja. O historiador
que impõe Freud y seus colegas deve concordar desde o início que as
apresentações psicunalhicus são tudo menos acessíveis, mesmo pare o
amador mais bciienileuK, As piúvas empíricas c experimentais que
upóiani js proposições psieanolfticas são impressionantes, mas não
alcançam, muito menos persuadem, o historiador profissional, pois
normal mente aparecem cm periódicos técnicos altamente especializa­
dos, e raramente fazem concessões ao discurso culto cm geral. Algo
mais problemático ainda, que se inicie com o próprio Freud. 6 que 06
psicanalistas têm sido qualquer coisa menos receptivos à espécie de
comprovação pública que as outras disciplinas admitem como algo
pacífico. Ao escrever par» o psicólogo americano Soul Rosenzwcig
cm 1934, Freud reconheceu, com polidez, algum interesse nos lestes
experimentais das asserções psicanalilica.v, mus então bruscamcnlc
ubundonoii n sua cortesia ao acrescentar que via pouco valor neles»
desde que “n riqueza de observações sobre as quais se baseavam <?sas
asserções tornav#-« independentes de comprovação experimental. i les­
mo Bssim, cies não podiam prcjudieá-las".1 Essas milhares de incontá­
veis horas que Freud passou ouvindo os registros de annlisnndos, esses
brilhantes casos clínicos e us vinhetas iluminadoras que comuni­
cava cm seus artigos, os inúmeros discernimentos que seus partidá­
rios publicaram em periódicos analíticos soaram-lhe como dcmonslra-

53
ções satisfatórias Jus princípios psicaiuilií ieos. Na sua guindo maioria,
os analistas posteriores coucurduram com ele; ueharam que a cotlfir
mação experimental era simultaneamente grjiiíicanlc c desnecessária.
Com o passar dos anos, o material clínico empilhou-se nas registas,
monografias e conferências psicanalflicas que enriqueceram ainda
mais a cslruturn do npoio empírico. Assim, a maior parte das analis­
tas permaneceu con foi lavei mente satisfeita com a sessão umihiicj en­
quanto R situaçnu mais apropriada, e lotalmente udcqiiadu, paro testar
as proposições freudianas que eles aplicam diariamente.
1'reud tinha algumas razões pnra o seu ceticismo; mais de um
experimentador, um pouco ingénuo em relação ii psicanálise, realizou
investigações, eliciou respostas e ofereceu interpretações que tinham,
não importa o que pudesse concluir, apenas uma reler Anciã muito
tênue com respeito às proposições psicaimlíticas.4 Mesmo assim, a
carta de >:reutl paia Rosenzweig, freqüenlcnKntc citada, prejudicou
cm muito a causa freudiana. Mas Freud não era consistente cm suas
reservas. Nns últimos edições da sua Trutmtifeulunf,. dó boas-vindas a
“observações feita* com sensibilidade” c ucs "exemplos felizes’, em
poucas palavras, tis “contribuições importantes" que u misterioso es­
portista. balonisla. místico, o psicólogo niislríaco Herbert Silberer,
havia feito para uma interpretação eientifieti dos senhos. Silberer,
impressionado peias descobertas freudianas ntcniorávcis, treinou sis-
Icmalicaincmc u si mesma em autoobscrvuçQo c poslcrioriuctite su
jeituu outros à hipnose de modu u estimnr — c efimuir - a validade
da teorin freudiana sobre os sonhos, isso foi antes da Primeira Guerra
Mundial, bem antes de Freud ter atingido uma noloricdndc geral.
Dm puuco mais Inrdc, em 1919, Freud cito» com aprovação um arti­
go, agora clássico, publicado deis onus untes, de Otto I’ot/.l, um des­
tacado psicólogo ncadcmico de Vienn. ao observar que n “nuvn ma­
neira de estudnr experimeninlmente a formação dos sonhos" de Põrzl
diferia dccisivamenie da "técnica anterior, que era grosseira".8 Sun
desconfiança etn relação po laboratório era certa men te a posição freu­
diana et racterística, mas as passagens que ucabei de citar, ainda que
pouco r encionadas. são significativas e mostram que ele eslava longe
de ser ntipálico a psicólogos experimentais arrojados, bem-informa-
dos c iiiletessodos nas suas descobertas.
Agotfl, por diversas décadas, um número considerável desses ex­
perimentadores, junto com alguns psicanalistas, decidiram seguir esse
Freud, um Freud relalivamcnte disposto e abertu aos procedimentos

54
da psicologia acadêmica. Ho« têm realizado nlguns experimentos fas-
cinunlcs c dcsvubriruui quv o trabalho c recompensador, em hora seja
muito diricil. As pru posições que se aventuram » examinar lidam
com fenômenos mentais tão interno», tão distantes de uma manipula­
ção grosseira de medições quantitativas c momo de observação di
reta, que suas comprovações ou intimações — têm permanecido
necessariamente como tentativas c têm feito com que os seus veredic­
tos mio sejam complclumcnlc unânimes. Os experimentos pioneiros
de Silberer e dc outros não foram, certamenlc, muiiu esotéricos. Fixa-
ram-sc sobre a manifestação mental mais espetacular pura u qual
I reud ha viu ibuniado n atenção: a aparição de sfmbolce sexuais nos
sonhos. Na sua rruimidcutuiiR. Frcud linha niribuido nos símbolos um
lugar secundário no trubullio dc interpretação, mas os primeiros ex­
perimentadores acharam que eles seriam mais acessíveis n leste du
que algumas das teorias freudiana» nu is intrincadas sobre i mente.
Consequentemente, planejaram sessões de hipnose na qual uma mu­
lher eta instruída u sonhai que o seu empregador tinha ido vò-lu e u
violara, após o que elu relatou, depois de ter despertado, que sonhara
tom urna visita inesperada dc seu patrão, que abrira uraa malu que
estava carregando para retirar uma banana — ou, numn versão um
pouco difctsnie, saíra du nitdu iimu ctihra cerpmnle. Hxpcriniciltus pos­
teriores foram muito menos primitivos do que esse, mas aqueles que
mostravam o trabalho do sonho que torna idéias inaceitáveis cm acei­
táveis ofereceram, no mínimo. demonstrações anedóticas dc que hnvia
algo, afinal dc cunlas. nas idéias estranhas c subversivas dc Frcud.
Algo, tuas o quÉ? O carpim freudiano não é urna teoria abra»
geme, solidamente ligada, mi qual leis geruis podem ser deduzidas u
partir de proposições empíricas, c onde um experimento essencial
possa testá-la dc forma conclusiva." E. mais, uui.i família dc alegações
intirnumenie coneatcnadiis que frequentemente se upóiam entre si e
variam desde enunciados empíricos ulé teorias globais sobre u mente,
passando por generalizações limitadas. O lodo dn teoria psicaiialmea
i algu coino um castelo imponente, esparramado, projetado por uni
arquiteto dc tamanha c.Muturu que os seus sucessores, ao acrcscenta-
ivm alas ou ao escorarem paredes inseguras, adaptaram reflclidnmcnlc
suas inovações ao estilo tuiterior. Esse respeito excessivo pela auto­
ridade obscureceu o falo do que algumas alas e anexos gozam de uma
certa independência cm relação ao resto, de modo que um incêndio
que causasac danos em uma seção desse complexo poderia deixar o
resto incólume. Em tumu, o icsic experimental da-, proposições freu­
dianas nunca 6 definitivo píim nenhum des lados. Ainda assim, upós
Ihcralmenio centenas ele experimentos engenhosos, de sofisticação
crescente, que empregam sugestão pás-hipnótica, tostes projetivos, en­
trevistas contrulndss e instrumentas >lc precisão, somo» levndüs u algu­
mas conclusões de gnu ide uicancc, embora provisórios. O edifício que
•Voud construiu aindn está de pó.
Ê provável que algumas das especulações me tops teológicas mai*
radicais, corno a suu teoria sombria c posterior dns pulsões, nào im­
porta quão sugestivas. irão sempre se furtar ao escrutínio experimen­
tal. E ií certo que grandes áreas da teoria psicanslíiica requerem uma
menção maior e melhor por parte dos experimentadores do que a que
tem recebido ulê agora. V1as os fundamentos da suu estrutura teórica
— o determinismo psicológico, u ubiquidade dos desejos, o incons­
ciente dlu/unico — receberam uni apoio experimental ItHStaiUe im­
pressionante IX- modo similar, ns provns exporimentnis têm susten­
tado a descoberta treudicm.i da sexualidade infantil, na õpocn alto-
mente escandalosa c aindn hoje idgo controvertida, nssim como in>
mecanismos do defesa inconscientes, especial mente u trabalho do recal­
que. É «te fato no domínio das defesas inconscientes que os psicólo­
gos experimentais realizam algumas mvesliguções elegantes c conhe­
cidas, desde que Icionic liruncr e Leu Poslman a hatiziiruiu cm 1947,
como estudos cm defesa perecpiu.il. O experimentador (Irnbalhumiu
com um Uquiãtcscópiu, que pude expor palavras c medir o tempo de
exposição atí unta fração d« segundo) mestra aos sujeitos um con­
junto de palavras escolhidas, tão cuidadosnmcntc quanto íor possível,
com igual comprimento c com u mesma familiaridade. Algumas delas,
como "pente" ou "garfo', provavelmente estão livres de conotações
emocionais, enquanto outras, como ‘ veado1’ cu "corno". estão carre­
gadas de afeto, possivelmente incitam ou provocam ansiedade, ou
ambos. Lirta variante desse procedimento parte de unto palavra mnbi-
gua como “boneca" c u coloca em dois contextos linguísticos bastante
distintos, um sugerindo homossexualidade c o ouno os irmãos Grimiii.
De iicordo com u tcoriir do recalque, o sujeito deveria ser capar: de
ler as palavras inócuas mais rapidamente, exigindo unm menor expo­
sição pelo taquisloseópio do que aquelas que evocam sentimentos eró­
ticos. agressivos ou de culpn. Frequentemente, esses experimentos tem
sido, n partir da perspectiva psicaiialfdea, um sucesso, embora, dada
a ousadia dos pressupostas subjacentes, os seus resultados não pos-

56
saTii reivindicar um estatuto de dogma.7 Estn poderia ser n natureza
du taciocfnio 11 punir du leste experimental cias proposições psiennn-
litieas: antplaiilcnle indireto, fnrtcmciite infcrctieial, c íilgiunas VC35CS
questionável.
Ouuuí aspectos do cormm freudiano — o trabalho da fantasin.
o transferência c a ansiedade — mi têm sido heneiicittdo» com o teste
experimental ou têm gozado de uma certa plausibilidade enquanto
subprodutos de experinvcnl&s que testam outras coisas. Os psicólogos
até descobriram traços do excessiva mente rncneionadi» complexo de
Rdipo cm ulguns experimentos elegam es que delinearam o seu con­
te r nu tão ampliiincntc quanto a teoria de Frcucl poderia prever. * Um
historiador seria ingênuo e crédulo sc alegasse que todn essa ativiJadc
intensa e ainda fragmentária constitui urna prova segura da psicanálise
como sistema. Mas seria. pjr.i o liistorindur, algo munifestamente atili
científico minimizti-lu uu igimnVI.i.
Ora, como jú sugeri, o» psicanalistas lambem a ignoram. A sua
crença joviBl, aparentemente tão convencida, de que u seu divã é o
sou laboratório, tem irritado os observadores d» psicanálise, inclumdu
aí muitos historiadores Modéstia, eles sugerem, serio uma posição
mais conveniente do que a de «uto salisfação. ‘ Em vários cultos da
psicologia profundo, comcçondo com Fictul". csucvcu u historiador
1’aitl K. Conkin, "os homens tentaram isolar u estrutura geral da psi­
que, importandu ptirsi essas águas escuras pelo menus a forma dos con­
ceitos físicos. Mas os seus termos são indefinidos, as estruturai que
afirmam muito imprecisas e muito especulativa» para um leste sem
ambiguidades, e os seus conceitos muito mclnfóricos. muito literários
c muito fcnomcnológicos para outros usos tdém dos vagamente clí­
nicos cm especulativaincnle sugestivos". Paru esse historiador, pelo
menos, os sentimentos dc dúvida rcsiillniri cm conselho» dc desespe­
rança: ao lastimar o que chama de apeio aos "freudiamos metafóri­
cos", ele sugere firmemetite que "mais du que oferecer ingenuidade
anunciada como sofisticação, o historiador estaríí melhor servido se
permanecer leal :i sabedoria du senso comum, por pnroquial e ambí­
gua que cia seja".1 Conkin parece achar preferível explorar «s
cavernas do passado com a luz treniulante dc timo vela, cm lugar du
ofuscante lanterna de uma psicologia profissional que alega possuir
uma iluminação que realmcntc não possui. Na sua bnpacièiunu. que
Marcus Cnnliffe chamou dc "arrogância sigmuntliana ’. Conkin tem o
apoio da maiori» dc seus colegas.
2. R ecordando o fundador

Os descrentes nchum que o estilo du argumentação psicnimlíiica


não i menos suspeito do que a sua substância. A maior parle das
pessoas cultos que não furam analisado* {o que inclui a quase tululi-
dade does historiadores) v6 a psicanálise como n guardiã de mistérios
enigmáticos presidida por um sumo sacerdote autoritário, o Fundador
Freud, ou pelos seus ucólilos escolhidos que Falam em seu nome. O
acesso nos seus ritos ú dosumente restrito: 0 « psicnnnlistns tem a
posluia autoprotcluni e abusiva de que o único caminho possível pota
a compreensão do seu sistema â a própria experiência psicnnnlític«.
Airsvês da sua carreira profissional. Freud sugeriu que. de fala, não
havia ouItu possibilidade. Ë ''difícil", escreveu em 1932. "dnr a al­
guém que não seja psicanalista um discernimento a respeito da psi­
canálise. Voei pode acreditar cm mim ’, acrescentou, quase mus ntio
de forma cumplctamcmc apologética. *nó> nàu gostamos de dar a
impressão de que somos uma sociedade secreta, praticando uniu ciência
oculta". Mas continuou impenitente. “ Ninguém tem o dit cito do se
intrometer com a psicanálise se não tiver passado por cenas experiên­
cias", c ele queria di/et experiências no divã.10 Sc mio se podia ser
um analista, pelo menus se deveria ser analisado pmn poder fulor com
alguma autoridade.
Ê total mente consistente com essa postura de exclusividade, o
estigmn de pedantismo profissional invencível, o fato de os artigos c
monografias psicunalilicos invoe ruem. quase invariavelmente, ns pnla-
vras do fundador — mio para embelezar um argumento ou para
acrescentar uma dimensão histórica, tuas pota servir conto um apeio
poderoso, se não for comu uma prova conclusiva " Como um his­
toriador clns idéias, Gerhard Mtisnr uma vez disse, ao denunciai o
egotismo intelectual de Freud: ‘ Quando em 1914 ele escreveu u Itis-
tórin do movimento psicnnalítico, afirmou laxativomentc que tinlui
mais direito do qii; qualquer um pnrn .saber o que era a psicanálise.
"La psychoanalyse (jsíc) c’est moi' ‘,‘8 E os discípulos servi» de Freud
não ctiiilirrn.imm u sua rncgulotnnnin para ele?
A ulusão de M.tsur a l.uís XIV é tão inapropriada quanto u sua
caracterização dn presumível ascendência de Freud sobre as seus dis­
cípulos 6 incendiário. Mas perrrumeoe plausível, em grande parle
porque us estrutégius públicos dos psicanalistas têm feito pouco paru
revertê-las. A suu aparente certeza de que u conhecimento pode ser

58
encontrado apenas na situação psicanalílica hermética, c de que cs pro-
nunciumentos de Freud g02 ani de uma autoridade privilegiada, trans­
gridem u' convicções mais cjr.is da profissão histórica. A primeira é
lida como uma reminiscência dnqucln máxima tendenciosa c infeliz
de que ‘ 6 preciso ser um, paru reconhecei oulro'', que, se .iplieadu,
ncnbaria com j atividade do historiador; siiinul de contas. v» histo­
riadores wmpronieiem-se com o mundo tio outro, não importa quão
distante nu tempo, no espaço ou nos hábitos culturais, e com Iralá-Io
no* termos do próprio indivíduo, seja ele ou ela. K cnqunmo a depen­
dência servil dos psicanalistas em relação hs cilavws do mestre possam
ser aceitáveis ntann disputa escolástica ou talimíditu, cm um raciiK-Inio
teológica, csln lotol mente deslocada cm tiniu disciplina dedieadu u
procura científica dn verdade. Pude recordar aos historiadores
o célebre aforismo de Alíred Nurth Whitchead, "tJtim ciência que
hesita cm esquecer os scua fundadores está perdida”, ao levar ú
conclusão de que a psicanálise perdeu-te enquanto ciência quase que
desde o seu princípio, unta vez que a partir dos primeiros discípulos
de Freud eriúu-se o linhito de decidir debutes peln recilacão tlc uma
passngcm relevante de seus lextos
Nn rciilidadc, u instrumental psiconalítieo não tem sido nem lãc
inacessível nem tãu autoritário, como essas afirmações c cases hábitos
retóricos poderiam implicar. Há. ufinul de contas, uma literatura ma
ciça tlc popularização da psicanálise, para a qual u próprio Freud
contribuiu diiigcntcmcntc durante toda j sua vida. Ele proferiu con­
ferências acessíveis, animudas com descrições viv» e instâncias
revelndums, sensível ás questões c ás dúvidas que os seus ouvintes
poderiam fomtulur; das sno convites para refletir sobre problemas e
proposições dn psicanálise na companhia genial, e nunca indulgente,
dc seu descobridor Como um sedutor benigno, ele podia iniciar ns
suas exposições a partir dc experiências comuns como lapsos da falu
ou esquecimento de nomes puni estabelecer que a mente c governada
por leis e que o inconsciente exerce uma grande influência sobre a
atividade mental, antes de partir pora n sua teoria das neuroses, inais
difícil. Não é por ocaso que deu ns suas apresentações mm» popiriaies
u íonnu do diálogo. Ele sabia melhor tio que qualquer um, pois havia
expcricnci&dú todas esus dúvidas em si mesmo, o que nas suas idéias
eru ofensivo, improvável, c mestnú inacreditável. Ao mobilizar lodos
os íctis extensos recursos literários puni ilustrar o funcionamento da
mente sem trair a vaa complexidade i- ao apresentar j Indo ilv.suzrj

cn
dávcl da natureza humano icm perder <i sua audiência, Freiul cncun-
trou tempo nos seus dias atarefados para escrever artigos lúcidos pnra
enciclopédias, pequenos livros de texto e apresentações abrangentes pn­
ra uni público maior. Seu último livro, que ele não viveu para termi­
nar, era um esboço da pskauúHsc — uma coda adequada para os
trabalhos de uma vida. F.lc nfie teria devotado tanto esforça a lais
exposições se tivesse pensado que a autoridade cientifica da situação
psicanalíticu era tão exclusiva e conclusiva como algumas vezes ele
alegou que eis era.
For outro lado, é grande o frequência c u seriedade com que Freud
marcou seus artigos metapsicològicos e clínicus com infirmaçôcs,
chamando a atenção pnrn as áreus de incerteza c de pum ignorância,
hreud foi um argumcnlador notável; nv suas estratégias de persuasão
lerintn dado feina ao advogada criminalista nuns completo. Sem
dúvida, ele ern um advogado de gênio, e dificilmente deixaria de notar
que n sua mistura aitamemv pessoal de sabedoria, eficiência c pru­
dência cientifica era uma instünciu de recurso que não poderia
prejudicar a sua causa, não importando quão desagradável ou itn-
pinusível as suas iJeins pudessem pnrecer à primeira vistn. Ainda
assim, enquanto as hesitações públicas c os pedidos de paciência freu­
dianos tivessem seus uses nu propagação de sua mensagem, eram niuie
do que meros recursos táticos de tiiunipulação; registravam fiel meu te,
em cada instância, o estado da disciplina que ele passnria décadas
refinando e transformando.
A psicanálise tem sido submetida òs críticas mais severos, entre
as quais a do dogmatismo e a dn incoerência são as mais persistentes.
Mas a primeira delas é injusta c a segunda exagerada. A obra a que
Freud consagrou sua vida, lida cronologicamente, revela n psicanálise
como uma ciêncin jovem etn fluxo, como um mapeamento feito c
refeito de um terreno pouco familiar. Tonto para o público culto,
homens c mulheres, que l-rcud subiu que permaneceriam afastados
do diva analítico, como para os seus colegas psicanalistas, ele drama­
tizou o espetáculo de uma procura, de uma pesquisa continua c
sedenta por novas descobertos e receptiva a uma revisão drástico. A
literatura didática psicannlíticn, que Freud iniciou de uma forma po­
derosa, nunca poderia servir como um substituto completo da
experiência iminui e distinta de se submeter a uma psicanálise, mas
poderia colocar o historiador dentro dos limites de reconhecimento tio
que Freud e seus seguidores pensaram sobre o funcionamento da

60
irrcntc humana. A sugcstáe çativante de II. Siuurt. Hughes de que
pele* menus alguns Jovens historiadores se submetam a uniu análise
ou realizem algum trabalho cm um instituto psicanalítico não tem,
como se poderia esperar, encontrado pniticnmente nenhuma ressonân­
cia rta profissão. Mas, étnborai .seja uma idéia imagirintiva e muito
exigente, requerendo um investimento ern tempo, dinheiro c energia
a que poucos historiadores estariam dispostos n se aventurar, é per-
feitamente racional. :
No entanto, mesmo o historiador que nprende sobre a psicanálise
apenns o punir da literatura não pode deixar de constatar o espantoso
alcance da percepção freudiana, o seu dom sem paralelos para encon­
trar provas, fazer combinações e antecipar objeções. Portanto, d
obrigado a reconhecer que a posição ocupada por Freud na disciplina
que fundou c excepcional, como o são as técnicas que ela utiliza.
As condições soh ns quais Freud fez os suas descobertas memoráveis
são compietamente diferentes e bastante inauspiciosis: um neurologista
ambicioso que fulbou mais de uma vez cm licur fumoso, um medico
respeitável que tinha diversa: curas patn recomendá-lo afastou-se. com
relutância, nn verdade, com dor. pum Icngc das suco perspectivas me­
dicas de partida. Freud poderia ler tesliidu u estratagema tía resistência,
sobre o qtinl faloria lume inuis tardo nos seus artigos elinieos, em
si mesmo. Forterr.cnte contra u sua vontade, desconsiderou «s inter­
pretações fisiológicas dominantes sobre os eventos mental», o as
hipóteses aceitas sobre a doença mental cm favor das suas proposições
escandalosos. Hn hotis provns de que não se sentiu hem nem coto u
citologia sexual das neuroses nem com u disposição sexual das
crianças. Encontrou o seu caminha pela observação intensa de seus
pacientes, que lhe ensinaram muito.14 E atravessou u cortina de
fumaça das boas razões para olhar ele relance para as razões reais
através de uma auto-aiiãlise sem precedentes. Não dispunha de ne­
nhum modelo paru a exploração corajosa dos seus estados internos,
sonhos, associações, desejos c medos, mas linha de Inventá-los c
prosseguir, e ao assimilar cs seus resultados fez uma descoberta ater­
radora após outra.
E difícil para o mais frio dos historiadores defrontar-se com es­
ses anos heróicos dn vida de Freud sem cair em hipérboles. Ele retirou
muito dos outros, de poeiits, romancistas, até de psicólogos. Mas n
arquitetura de sun teoria, e ti maior parte dos materiais com que a
construiu, eram ampla c espantosamente dele mesmo. Os historiado-

61
res. treinados para reconhecer e respeitar o que é disiintu cm cudn
indivíduo, finnlnientc sc deram conta de que a etlntura de Freud
difere daquela de outros gênios científicos. Freud unta vez disse a
Marie Bonuparle. não sem uma ponta de inveja, que Einstein era
afortunudo: ufinnl de contos, Einstein hnviu feito o seu trabalho na
companhia ele gigantes cicnliïicos que vinham desde Newton, en
qunnto ele fora obrigado n trabalhar nas Ircvus, solitariamente." Conto
sabemos ngora, Sigmund Freud superestimou um pouco u seu isul.i-
meuto, tanto cm relação nos seus colegas psicólogos como aos seus
precursores; o inconsciente, o recalque c mesmo n sexualidade infantil
haviam sido vislumbradas, mesmo que de iinui fu mia rudimcntnr, por
alguns contemporâneos, tanto filósofos como psicólogos. Os ávidos eni
encontrar antecessores podem consultar o dr. Adolf Palzc, um obs­
curo Wujuiiirzt de primeira linha, de Gnibow, perto de Stcllin, que em
1845, em um panfleto u respeite dos bordéis, observou cm uma nota
de rodapé que “a pulsâo sexual já se manifesta entre as crianças de
menos de seis, quatio e ale de très anos de idade" .,tt Além disto, o
debito freudiano para com médicos luminares como lirnst llrtickc
cu lean-Mortin Charcot foi sempre óbvio — e sempre reconhecido.
Vias a atnKKifcni médica e psieotégicu da época, talvez mais caridosa-
mente descrito como não inospitulcini ú germinação do psicanálise, não
altera em nada a posição de Freud como fundador solitário de uma
ciência eminentemente subversivo.
Os biógrafas ansiosa« em pôr fim às alegações freudianas têm
documentado n sua dependência ent relação nos sexólogot de sua
época e ao seu ntnigu Fliess, mas têm sido incapazes de erradicar, ou
mesmo de comprometer, o ‘mito” de Freud como o fundudor.1T Na
verdade, Freud, mesmo que tenha sc permitido alguns exageros ques­
tionáveis, antecipou-se n eles. Foi um leitor insuperável da literatura
cientifica: o capítulo de abertura da Interprétation of dreams ú uma
revisão bibliográfica abrangente, cm lodos us aspectos generosa, tanto
da antiga quanto du recente; o seu Three cssays on soxualiiy arrola,
na primeira página, não menos do que nove estudiosos contemporâ­
neos da sexualidade cujos escritos estudou; o seu livro sobre chistes
assinalo quatro escritores sobre humor cujas publicações fornm im­
portantes para a sua próprio, em particular o filósofo Theodor L.ipps.
cujo estudo ruecnlc sobre o chisic lltc havia dado, ele reconhecia
generusamenic. *a enragent c a possibilidade de comprumclcr-sc coin
este ensaio" w Nos seus artigos retrospectivos, nos próprios nomes
que deu aos seus filhos. Hiuud com gratidão imortalizou case* débi
tos. '* IV tolo, cslnva preparado pura quidificnr a suo reivindicação
de se intitular fundndor dn psicanálise; o crédito pot té-ln concebido,
escreveu mnis de umn vez, deveria ir puro |t>scf llrcuer. l-rcud cru
um gigante apoiundoxe sobre tis ombros dc homens alias. Suu ori
ginulidutlc foi, como sempre ocurrc. um composto: incluiu reconhecer
as implicações do trabalho de seus predecessores e segui-los até o
íim — teve o coragem dc suas descobertas Colocou juntas, cm limo
juMiiposiçãu fértil, ideias que exploradores anteriores llnliain vislum­
brado apenas dc forma vacilnme c scporndnnientc. E fez algumas
descobertas originais próprias.
A sua atitude também não foi a de tnn profeta religioso ou a dc
um líder carismático, apesar daquilo em que alguns dos seus epígonos
Icnlnrnm Iransfunnd-lo. Como ouvia os seus pacientes, ns-sim ouviu a
sufi própria experiência c. a de seus seguidores: a histórin da psicanálise
d, nas suas quatro primeiras décadas, em grande medida, r história dc
1'retul mcdificando os seus pomos de vista sobre a estrutura da mente,
sobre a ação terapêutica, sobre h natureza dos instintos, sobre a se­
xualidade feminina c sobre u ansiedade — o próprio catálogo ela suei
suscetibilidade a materiais e u meios novos dc ver materiais familiares
O tema amplo, imensamente importante, das relações objetais, essas
experiências primitivas anteriores ao advento da fase edipiamt, flores­
ceram, sem objeções por pane dos “ortodoxos", desde n morte dc
Fremi cm I9J9. Alguns dos psicanalistas revirutn os pontos de vista
freudianos sobre a sexualidade feminina, outros questionaram u uti­
lidade de se tratar a agressão como umn pulsãu fundamental, mesmo
assim niío furam excluídos dn clube psicanalílico.54 Ê cm amplu
medida a pnrtir de uma visão exremu e através do tom defensivo que
algun» psicanalista* adoram — uma defesa que condiz cum a Atitude
dos seus adversários mais renitentes que n psicanálise ganhou u
reputação imerecida de uni culto monolítico.
Também é verdade que uo mesmo letnpo ela exibe uma eunti
nuidndc inflexível. Isto não se.deve apenas aa fato da persistência de
Frcutl em manter as mesmas idéias íundnmenlais dn psicanálise durnnte
todn u sua vida; no cerf/us de seus escritos ele nnteeipou dificuldades
c sugeriu soluções que continuam u interessar psicunulistas cuidndusOs
até hoje. Dou como exemplo os maravilhosos artigos sobre n tccnieu
que datam dc antes da Primeira Guerra Mundial Kctornnr c explorar
o trabalho ele* Freud 6 umn experiência memorável. Isso nau justifica
o liãbilu dot psicanalistas dc cilarcm Freud como a nutoridude defi­
nitiva. Mus coloca o hábito dentre do seu contexto. O que eles devem
ia/er com um psi assim, o gênio que parece 1er inventado tudo? £
impossível esquecê-lo ou negá-lo como seria impossível niauí-lo. Qual­
quer um desses ritos, crnborn seju psicologicamente compreensível, serin
um sinal dc ingratidão c uma pura estupidez do puniu de vista cien­
tifico. A única solução possível foi entrar em acordo com elo e
reconhecer si sua importância, ü historiador que observa esse espe­
táculo comovente c repensa u posição freudiana deve rcconlieccr com
candura que nu lústóiia da mente moderna, por improvável que possa
parecer, ela è virtualmcntc única.
3. Uma teoria controvertida
A estatura monumental de Freud não <5 uma garantia da validnde
do seu sistema. As acusações de arrogância contra o fundador c de
subserviência contra os seus discípulos (os dois lados, diriam, de uma
mesma moeda viciada) são suficieiucmcntc graves. E. por outro lado.
poienciaüncntc muito mais prejudiciais slu as críticas que pairam nu
ar, prontas para cntr&r cm ação. Por mais de meiu século, tem-se
negado ao sistema freudiano de idéias o estatuto d« científico. A
teorin psicanalítka, insistem seus detratores, c merumeme um conglo­
merado elegante de noções que se reforçam muluimicntc. Ião oorruplns
c automáticas quanto u d umo mnquinn política crivada dc nepotismo:
é equivalente :i proposições uutovalidadas c imunes a teste, c proclama
as sutis ‘'descobertas numa linguagem tão vaga, tão imprecisa
e nebulosa, que qualquer cxpcriêncin humana se ajusta a ela. F, dar
conta ela tttdo com facilidndc «$ tine dar conta dc nadti. É nesse sentido
depreciativo du termo que a psicanálise tem sido chamada de religião,
dc um compendio de mite» grandiosos e poéticos.
A julgue pelos pronunciamentos das décadas de 70 c DO, esse
argumento, embora esteja longe dc sor nova, não perdeu nada do
seu apelo. I\>r exemplo. David Standard aviiliou “partes importantes"
dn teoria psicannlitica coma scmlo "quase-m íticasD e forma signi­
ficativa. nus não surpreendente, quando esses críticos desembaraçam-
se de Freud, retiram as suas metáforas mortíferas de religião. “A
história da psicanálise freudiana“, escreve lucques llarzun, com uma
es peei Fieidade tdãvcl mas deslocada, “passou pelo menus por três fases
em ciieniu anos, tinalmcntc pura ramificar-se cm tantas seitas quantos
são os stiis teóricos t* praticantes”. *' Essas ecneiirns e recusas Tetro-

64
ectfcm ate os dias um pouco posteriores ã Primeira Guerra Mundial,
quíindu o jovem filósofo austríaco Kurl Poppcr cie linha entãu
dezessete anos. — colocou a psicanálise entre as "pseudociêncins' paru
chamar a atenção cia Vicnu revolucionária, O colnpso do Império Aus-
tro-Hünguru c os IcyjiiIcs que convulsionuYuii a suu cupilal gcruroin
uttut atmosfera de inovação intelectual. "O ar", recordaria Poppcr mais
tarde, "estava cheio de slogans revolucionários, de idéias c de teorias
novas c frequentemente extravagantes"; rui efervescência da!|itcle
turbilhão, uma mente frio, critica, exigindo provas Recitáveis uma
merte como o de Poppcr — era tão necessária qunnto mro. A cons­
trução intelectual mnit> impressionante sub discussão ncaltirudu cru
a da teoria da relatividade de Einstein, mas três outras teorias, nulas
no campo das ciências humanas, também provocavam um (trnnrlc en­
tusiasmo: o marxismo, » "psicologia individual" de Adlcr c a psica­
nálise. Ora. essas tris. assinalava Poppcr. não tinham qunlquct
carCndu de pruvux. Ao contrário, para o iniciado, tinham um “poder
explicativo" notável; a psicanálise, juntu com as outras, parecin "ser
capaz de explicar qualquer coisa ocorrida". Uma vez que alguém hit-
via se convertido, "via instância* oonfirmadorés em todos os Itigotes: o
mundo estava cheio dc coinprvittçwa da teoria". Mas essa condição
afortunada desqualificuvu deeisivamente as Mias pretensões cientificas.
"Confirmações deveriam contar apenas quando resultam dc predições
arriscadas. Uma teoria que nflo é refutável por quulqucr evento cun-
eeblvcl não é cientifica A irrcfutnbiiidudc não c umn virtude díi
teoria (como as pessoas geralmente pensam) tnas um vicio." Etn
poucas palavras, a psicanálise violnvu n principio cientifico funda
mental da falscabilidadc. Poppcr concordava com prazer — alguns
dos seus admiradores nio líni sido Ião generosos — que Ercud t irrita
visto cortctamcnlc algumas questões importantes; além disso, elo
acreditava que ns ciências verdadeiros originuiii-se precisa mente dc
mitos como os freudianas. Mus. entretanto, insistiu <lc forma hastnmc
severa que "as 'observações clinica»’ que us analista» ingenuamente
totiiain como confirmações da sua teoria nãu são melhores do que as
confirmações diárias que os astrólogos encontram na sua prática '. Nu
mesmo uno. 1919. cm que Poppcr chegou a ewn conclusão fatnl,
Sidney llook leu Fraid c formulou o seti próprio princípio dc fui
seaiul idade. 1:1c se dirigiu nos psicanalistas e perguntou-lhes sobre as
piovns que tinham pais» isentar mu» criança dc lei um complexo dc
Édipo. As respostas evasivas c Indignadas que recebeu convenceram-
no de que n psicanálise <i um "dogma ruonista”. e dc que Freud está
entte cs ' mitólogos poéticos".:j
Considerando o ceticismo que o critério de Popper para conheci­
mento fidedigno tem suscitado crescentemente entre os filósofos da
ciência, qualquer consideração sobre eles jpederiu pnrcccr desnecessá­
rio. O seu teste de falseubilidade, pela manas na forma exigente que
Popper lhe deu, apareço agoru conto sendo logicamente questionável
e psicologicamente não convincente.a:* As ciências e os cientistas nüo
trabalham desta maneira. Uniu provu positiva e sólida. se obtida atre­
ves de observação confiável ou de experimentos controlados, Continua
sendo o apoio mais qualificado que eu alegações científicos podem ler.
Se acabo por me roferit a Popper nut páginas que se seguem, na
companhia de outras acusações cotura ns alegações dos psicanalistas
de que procuram fazei uma ciência humana, faço o porque os histo­
riadores que procuram argumentos contra Freud continuam n dar
muito valor à argumentação popperiunn que eles supõem devastadora.
Stannnrd recorre a ela com vontade e sem hesitação. E cin 1934. ao
resenhar um estudo psicanalfiico sobre Kunuld Rcagan feito pelo
historiadoi americano Kcberl Dullek. o jornalista político Rubert
Sherril usou-a de novo: ‘ O que cslti errado na teorin de Dallek de
que a infância de Reaynu modelou n presente administração? Talvez
nndsi. Ue qualquer maneira, não 6 uniu teoriii que se possa mostrar
que está errada', ** 1’eio seu prúprio valor, nlgunuis tlus outras criticas
feitas aos procedimentos psicanalíticos — aproveitar-se da sugestiona
bilidude do paciente, recusar-se a submeter as conclusões analiticu* a
um exame independente — são suíieientcinent-e sérias. Ao serem com­
binados com as restrições popperianas, tem satisfeito a muitos críticos
de Freud como sendo definitivus.
£ verdade que as asserções dos psicanalistas — leis da mente,
leituras em profundidade de novelas ou pinturas, interpretações ofe­
recidas duTanle 11 sessão analítica — devem estar abertas ii critica
racional, n rntificação c à revisão através de mais pesquisa experi­
mental, experiência clínica c rcllcxiu lógica. Por outro lado. se se
adequam sem dificuldades a todas ns situações concebíveis e explicam
todas as condutas concebíveis, então deveriam elevar — ou degradar
— a psicanálise à posição de umn profetisa inspir&du. Popper então
poderia -estar certo: o nnnlisUi não seria melhor do que o astrólogo,
que se «nte, de fomi.i totalmente previsível, reforçado nas suas cren­
ças pseuducicnlíficas cm cada horóscopo que faz A via renl para o


conhecimento psicanulitico se transformaria em uma trilha traiçoeira
pura superstiçõe» complacentes. 1’elizmciile. não precisamos escolher
entre esses pontos em disputa através de puta adivinhação: o eorpr/.v
dos arlif.es freudianos, o registro du prática uruilitien posterior e os
experimentos das últimos décadas oferecem oportunidades sem
igual para avaliar a caracterização de psicanálise como ct papado da
psicologia.
A prova experimental que citei nntenormente serve para colocar
em dúvida essas apreciações que a desconsideram irrefletidamente.
Além disso, a sessão psicanalftica. como foi registrada nos cases
clínicos e em pequenas vinhetas, oferece um material adicional pant
refutá-las. Na verdade, n escuta de Freud das comunicações dc seus
analisandos, longe dc exemplificar ou dc deixar de lado o problema
lógico da comprovação na psicanálise, acaba por expô-lo explicita-
mente e oferece sugestões preciosas para n sua resolução. Aos olliu» dc
Popper ou de Stnnnard. as respostas do paciente só podem confirmar
ns conjecturas do analista. O seu sim. para eles. significa sim. mas o
mesmo ocorre com o seu não uma forma conveniente de testemu­
nhar o que Preud uma vez. resumiu, dentru da sua precaução costu­
meira contra objeções, através dc um ditado inglês mordaz: "Cara eu
ganho, coroa você perde" A maneira pela qual " nossos pacicniua
expõem suas idéias durante u irahnlho analítico", assim Freud des­
creve esse procedimento suspeito, "nos dá a oportunidade de fnxer
algumas observações intéressâmes. Ag«>r.i você irn pensar que eu que­
ro insultá-lo. mas não lenho essa intenção’. Reconhecemos que isso
i ti rejeição, através de uma projeção, dc uinn idéia que ncjbou dc
emergir à superficie. Ou: Você vai perguntar quem pode ser essa
pessoa no sonho. N&o é j minha máe‘. Nós corrigimos: ' F a sua
mãe' Na interpretação tomamos a liberdade de desconsiderar a
denegação e de selecionar o cometido puro da própria idéia’. ïS
Essa insensibilidade arrogante a respostas negativas, insistiram os
en ticos de Freud, estende-se a toda a atividade interprétative do psi
canalistn. assegurando aos seus pronunciamentos a dimensão invejável
da irrcfutabilidade absoluta. Se o analisando aceita a interpretação do
analista, isso garante n sua exatidão; ma> se a rejeita, ksn também é
umn garantia dela. Freud enfreiilii essa acusação com honestidade.
"Se o paciente concorda conosco1", escreveu em um artigo nudio sobre
interpretações, parafraseando algum célico anônimo, "então cia está
corrclu; mas se ele nos contradiz então isso c apenas um sinal da

67
>uu rvsistcntiu, o que fuz com que acertemos de novo. Dessa forma,
estamos sempre certos contra um pobre indivíduo indefeso que esta­
mos analisando, não importando a atitude que ele possa ler em
relação às nossas colocações“. '* Isso coloca a questão de Popper com
a Incide/ costumeira de l-reud. Profunda mente educado nos métodos
e pressupostos da ciénciu positivista, dificiliitcntc se precisaria contar
o Freud que as preterições dos analisando* oferecem obstáculos tanto
empíricos quanto lógicos para sua comprovação.
Contudo, ciam obstáculos que Freud acreditava que a psicanálise
poderia superar. Suo refutação às objeções que ele prõpriu havin
colocado é bastante marcante tanto peia fcuit maneira pacifica corno
pela apreensão aguda das preocupações do seu crítico. A rmisn
frcudiuiui em entregar-se a contra-argumentos prolixos ou à pum irri­
tação é uma medida dn sua autoconfiança. A sua posição c, bastante
simplesmente, a de afirmar que cedas essas depreciações plausíveis
distorcem drasticamente o procedimento psicanalítico. Os analistas,
observa, são lãu céticos com as afirmações qtinnlo u são com us
negações; utna discordância de um paciente ent rol ação a umn inter­
pretação não c sempre um material que confirmo indiretamente u
conjectura do analista, ma* pede pcríeitaiiKiitc ser umn rcfulnção
válida c convincente daquela conjectura. De fato, como os psicana­
listas que escrevem sobre a técnica assinalaram repelidas vestes, o as­
sim chamado ’bom paciente’ pode resilmentc ser o mais intratável dos
analisando«. O paciente que nunca perde umn sessão, sempre dicgd
na hera. oferece livres associações sem parar, preenche a hora com
sonhos significativos c. acima de tudo, aceita sem hesitação todas as
interpretações do analista pode estar defendendo a sua neurose mais
tenar mente. porque de forma miiiln mais sutil, do que n de um ana­
lisando cuja resistência se manifesta mais abertamente
Afinal de contas, o que o psicanalista está ouvindo não c uma
docilidudc insinuante, mus mensagens, sem importar a forma que pos­
sam assumir, que conseguem se furtar à censura inconsciente do
puckiilc c atingem o nível dn proferição c, ele espera que. no término,
o da inteligibilidade. Podem tumnr a forma de um lapso, de umn as­
sociação, de um gesto, de um sonho, de um atraso liubitii.il, de um
erro ao preencher o cheque mensal — ou a maneira de nccitar ou
rcjciior as interpretações do annhiiu. A partir das revelações frag­
mentários. gcrnlmetilc involuntárias, o psicanalista progressivoinentc
constrói a sua compreensão sobre a neurose do paciente c decifra n

68
dinàmieu do scu caráter Como subamos, a psicanálise é a ciência da
suspciçâo: vive dn mnvicçâu de que as coisas nâu sûo u que patecem
ser. Mas rcccnhccc com freqtiéntm que. un »un forma confujj, os
ooisns tamhcm suo a que parecem ser. Como o historiador, o psica­
nalista deve admitir que « vida menial é excessivamcntc compli­
cada
Tudo isso signifier), certamento, que o psicanalista, do tnesmu
modo que o historiador, não deve jidgur tom precipitação. Á situação
psicanaliticn c simultaneamente um foro de franqueza c uma arena
de resistência. As raras intervenções do analista, e nicsmu u scu tom,
oIíaJ os si postura adotada pelo analisando e ás suas revelações con­
fidenciais, feitas IK> vazio, são planejados paru favorecer u moda
confessional. Ao mesmo leinpo, a relutância do paciente em revelar os
seus segredos c em desistir de sua doença interfere com u mio intenção
mais sincera c manifesta de revelar, sern hesitação c correções, tudu
o que lhe ocorrer Portanto, o processo dc descoberta psicnnnlítico é
umu uvcruura conjunta, mas sempre muito difícil e tortuosa. Tanto o
analista como o paciente, unta vez que cie icnlin sido iniciado nos
mistérios, devem 1er bs pistas indefinidas c devera, durante lungo»
meses, permanecer alentos aos seus significados C por issu que. nos
seus nrtigoc «abre ■ tácnira como nos vins cruns rlíniros. Freud
insistiu, cora propriedade que o pakanalisln è capar dc tudo, menos
de se furtar a erros, e que a maior parle du tempo está lunge de 1er
certeza. “ As ve2 cs‘'. escreveu Freud nu seu pequeno nrligo contra o
que chamou dc psicanálise "selvagem'*, "nós adivinhamos erradaincntc
e nmic.) estamos- em posição de descobrir Indu”. *' A vida interior de
um analisando t tão rica, c a sua capacidade pnm disfarçar Ião alls-
mente desenvolvida, que o diagnóstico mais Incontroverso pude estar
incompleto e revelar-se falso ao final. O consenlimcnlo du paciente
sobre urna interpretação potle mostrar que se alcançou o fundo, ou
que ele está sonegando iníurrruiçãi» problemática; a sun negação, que
u p>k.Miia lista treinado resume como rendo tocado um pim lu sensível
ou cumu estando longe dc té-lo feito. Uma interpretação c um pequeno
experimento, oferecido com toda a htra-fii — zurabnr não faz pane
do nrsennl psic.inulúico —, que. euntudu, nüo se perde, e é geral­
mente sugestivo, mesmo quando fracassa. " Tudo isso”, pura citar o
cliché favorito do psicanalista, “é águu para o moinho”.
linlrc todas linhilidadcs du analista, n de ouvir é a mais va-
lorizuda. e uqtií, conto c too frcqücntc, Freud liá muito permaneceu
como modelo para sua profissão. Os próprios casos iniciais que
publicou com Hreuor, cm IMS — os primeiros exercícios de ps>itu-
nálifc —, já documentam a sua passividade produtiva. Frnu Emmv
vou N. c Eniulcin Elisabeth vou R.. entre outras, ensinaram-no u orle
de ouvir, tins insi ruíram Freud cm esperar os contos mois enfado­
nhos. menos coerentes, por parle de seus pacientes, a racionar as
suas intervenções, o, acima de tudo, a ler n suficiente liberdade interna
para se espantar com o que estavam lhe contando.a> Manter esse
sentido de espanto vivo ú u ganho técnico mais valorizado pelo
psicnmdiMu: serve como antídoto contra os ulnques de infalibilidade.
Atinai de conlns, a situação psicanalfiica não <5 unia competição es­
portiva onde se visa marcar pontos, mas uma exploração conjunta
c plancjadn pato fazer descobertas. A proferiçào denegativa ocupa um
lugar visível e inseguru na psicanálise. mas. contrária à sun reputação,
o psicanalista pode receber um nãu como resposta.
Pode recebê-lo porque o pensamento psicnnulitico, apesar das
características que possa receber, aspira, dentro dos limites da psico­
logia profunda, a preencher as condições exigentes de unia compro­
vação fidedigna. Isto é verdadeiro u despeito de todas as aparências.
Considerem o artigo pequeno c importante de Freud sobre "Caráter
C Erotismo Anal", de 1*108. nn qual ele relata que descobriu que
muitos dos seus clientes eram simultaneamente metódicos, avarentos
e obstinados Embora essa conjunção de características possa vnrier
cm intensidade c em proporçâu relativa. Freud ncrcclilmi que
“era incontestável que de alguin modo as três se relacionavam''. To­
mou essa constelação como prova de uma experiência infantil coin um:
uma capacidade excessiva em manter a retenção anal ligada com um
prazer excotaivamente incomum decorrente Ja retenção. "A constância
dessa tríude de propriedades cm seu caráter’. Freud suspeitou, 'p^xlc
estar relacionada com o enfraquecimento do seu erotismo anal": o
caráter do adulto era. então, o herdeiro de certas fixações infantis,
incompleta monte superadas. Concluiu que "os traços permanentes de
caráter'* desses pacientes eram "continuações inalteradas He pulsõcs
originais ou de sublimações ou de formações reativas contra elas". al
Isso. admito, é umn asserção ntordonntc. uma c.ip.i vermelha dinntc
dos partidários du fulsenbilidade. O diagnóstico freudiano do erotismo
anal aplica-se u pacientes que exibem umn tríade de características
observáveis, a pacientes que exibem exatamente o oposto delas, e a
pucienles que exibem as suas transformações engenhosos. Freud parece

70
citar níirmnndo nada menus do que se o analisando é nssentlo, mês
quinliu c teimoso, isto indica uma fixação anal; se i sujo, generoso e
dócil. tnnibêm vale o m w diagnóstico; e se « feliz o suficiente para
inscrever u seu padrão de caráter ent esferns mnis dignas de atividade
como se tornar um projetista dos horários das ferrovias, o presidente
de uma caixa econômica on um corredor persistente da maratona de
Doston, todas essas adaptações adultas servem somente para documen­
tar a sim incapacidade cm superar us resíduos da sua resistência
infantil ao tremo de toalete c o seu prazer excessivo em reter os
suas fezes. Nesln versão, o diagnóstico de erotismo anal nunca pode
estar errado. I- se não o pode nunca, é sem sentido.
De falo, embora ú diagnóstico cubra uma grande área e se apli­
que a. um conglomerado de sintomas, não pretende ser nciu universal
nem infalível. Freud não propõe que o caráter anui esteja presente
em Indo mundo: diferente de alguns de seus discípulos mais entu­
siastas, prineipulrnenle íuni du campo psicanalflico, nem mesmo está
de acordo com a honra duvidosa do que o caráter nmil seja o traço
organizador do capitalismo moderno. A constelação é, p ara ele, umn
dos possíveis estruturas de caráter. Muitos indivíduos superam ade­
quadomente o seu erotismo anal no decurso de um desenvolvimento
mais ou monos sauriávH: riuiriK exibem apenas traços dele. que recuam
diante de outros mais proeminentes. O caráter <5 um resultado, algo
com múltiplas camadas, com uniu história própria, muito mais vnrindu
e menos óbvia do que uma doença definível como a tuberculose ou
n hipertensão. Pode-se entrar numa carreira bancária ou tornar-se um
corredor fanático pelas mais diversas razões. A lógica da caractcrio-
logiti freudiana, portanto, prevê muitas ocasiões cm que um diagnóstico
de erotismo anal poderia ser por demitis simplista ou errôneo. "Esta­
mos acostumados", escreveu ele no seu famoso caso clínico sobre u
"homem dos lobos". “a rastrear o interesse por dinheiro, na medida
em que ê libidinoso o irrudonal no sucr naiureja, no prazer fecal",
c acrescentou, com aquele senso comum resoluto que lhe ó frcqtlen-
temente negado: "Presumimos que as pessoas normais mantenham as
suas relações com dinheiro tolalmenlc livres de influências libidinuis
o que ns regulem de acordo com considerações realistas".9* Freud
mincn negou as pressões exercidas pelas realidades externas.
Por outro lado, apesar do sua capacidade duvidosa de abnr-
çar maiiifcstaçõc' contraditórias, o diagnóstico de “erotismo nnal"
é false ovei. Uma conjectura inicial nu decurso de uma análise, uma

71
espécie de predição oculta de que este é o padrão que u unálisc irá
revclur, pode niosrrnr-se simplesmente insustentável ii luz du exposição
d< mais mmcrial clinico. A pedra <lc toque desse diagnóstico, como
de outros, é n medidu das emoções presentes nos motivos, pensamentos
c ações do paciente "Um curso normal de pensamento", como Frcud
expôs uma vez, "não importu quão intenso, pode ser dominado nu
fim". Ele tem interesse para o diagnóstico somente se sc for incapaz,
"n despeito de todo esforço consciente c du vontade do pensamento1',
dc "dissolvê-lo ou dc sc desembaraçar dele". Se o pequeno Hans (paro
explorar uni dos casos muis conhecidos de Frend) 6 afeiçoado ao seu
pai, isto sozinho não c suficiente para dcsperlnr n suspeita do analista
dc que o amor demonstrado pelo pequeno esconde um ódio que o
contradiz. £ apenas "n medida exu»sivu e o caráter compulsivo da
lernurn" que “nos revelam'* que u amor e o ódio lutam pela pritnnzin
no inconsciente cie Hnns.,;i Onde há fumaça, nem sempre há fogo;
há lugar para umn indignação ou paru uma admiração apaixonada. As
pistas psicológicas dc que u cheiro de fumaça possa dc fnto indicar
um fogo abufudu são uma ngitação intensa, unui irritabilidade inapto-
priada, um fanatismo que a cultura em lurnu não autoriza. Um exem­
plo nítido do que Rreud chamou "a medidn excessiva e o caráter
compulsivo" de uma emoção é a manobra defensiva da formação
reativo, na qual um desejo agressivo ou erótico proibido foi enco­
berto por uma condutu cxagcrndii que upontn para a direção oposta.
£ bastante inofensivo sentir compaixão pelos animais, mas o anli-
vivisseccionisla furioso desperta u suspeita dc que alguma vez ele
obrigou o mais cruel sadismo infantil. O pacifista belicoso exibe, com
a Sua sinceridade, os traços de um passado inicial muito similar. Tais
estratagemas não são, para Frcud. objeto de uma reprovação; sem
eles. n limpeza nu a modéstia, dois hábito« culturais valioso«, difi­
cilmente poderiam surgir. Mus sc. eu com que força, esses estratage­
mas entram em operação vai depender da veemência e do obsessão
com que se sustentam luis crenças e se defendem tais convicções.
Goethe forçou-sc scriamcntc j subir a espiral du uiicilr.il dc Estras­
burgo c realizou n subida nãu para ler uma visão gloriosa e aprazível
da cidade e cie suas cercanias, mns, no contrário, poro curnr-se dc
umn vertigem, um« aversão que pesava para cie como uma repro­
vação à sun masculinidade c que diminuía a sua auto-eslima. .Assim
esse ato manifesto esconde o que o psicanalista ütlo Fcnichcl chnmou
de atitude eonlrufóbica, um esboço dc neurose escondido qnc poderio

72
despei Uir » atenção dc um psicanalista ou dc um historiador treinado
cm psicanálise, precisamcnlc porque Gucilic ocupuu-sc nesse aio de
bravata com num imensidade apaixunjda c inuimpalível com unia
procura simples dc prazer. A chave para casos questões. aborta à
comprovação — c ã falsificação — wmo as observações mais comuns,
esti nu presença ou uusêntio de excitação inacional, nn qualidade e
na extensão cum o que u xujcitii se ocupa cmociunalmcntc. nn dimen-
são du diferença entre o gasto real de energia c o que seria racional-
mjnte necessário. Kssas nau sno medidas muito exatas, o os julgamentos
podem diferir. Mas são Ião precisas e reveladoras como pode ocorrer
minin psicologia que trabalha com materinis mentais relevantes.
As descobertas da psicanálise falam diretamente à paixão do his­
toriador por complexidade. Isto c como as pessoas sáo: sacudidas por
conflitos, imibiviilcnies cm suas emoções, procurando reduzir tensões
através de estratagemas defensivos., e na maior parle vagamente, ou
nada. conscientes do que sentem e dc que agem como o fazem — dc
por que sabotam us suas próprias carreiras, repetem cases desastro­
sos, ninam e odeiam com uma paixão que nos momentos de sobriedade
simplesmente n.io compreendem. Os sentimentos e ns ações humanas
são em grande medida sobredelerminndos. inclinados a terem diversas
causas c a conterem diversos significados.” Como descobridores c
doeu mental is lus da sobrcdcicnmnaçúo, os psicanalistas c os historia­
dores, cadu um ã sua muneira. são aliados nu luui contra o reducio-
nismo. contra as explicações munocausais ingênuas c pouco elaboradas.
Minha nnálise da lógica da pesquisa psicanalftica e n minha cxpluração
dos estilos psicanaliticos dc pensar objetivam, p o rta n to , mais do que
a necessidade dc corrigir as caricaturas sobre a teorin e os procedi
mentos freudianos. O que esta cm questão c nndn menos do que n
visão psicnnalitica da experiência humana e. com ela. a sua relevância
parn o trabalho do historiador. Suo precisa mente a ausência aparente
du lógica uas observações psicanalíticas c u proeminência que dão às
tensões não a-solv idas que transformaram lJreud no gedgraío supremo
da mente. O homem, pura ele, c uma criatura com contradições e
segredos. Amor c údio. .1 ânsia de destruir c a necessidade dc preo­
cupar-se coexistem cm todos As posturas mais firmes c as convicções
mai$ doutrinárias mascaram dúvidas c ansiedades. Ron luflii temo r<
impotência, teme talvez o fato dc ser utn homossexuul recalcado. "An­
títeses". como hreud disse, “estão sempre intimumcnle ligadas c
firqüenlemente aparecem aos pares di* tal forma que se um prnvimmto

73
i muito nueiiuimente contcicmc, n rua contrapartida, contudo, scrd rc-
ceilcadn e inconsciente". ’ t esse vncuntroimicntu de contrários, de
emoções irreconciliáveis i|ue luma o complexo dc Édipo um paradig-
nin «la existência humana. O menino am.i c odeia o seu pai ao meitno
tempo: a menina abraça 'ornamente, h noite. ;t nine que cln queria
ver morta ít Ititile.
Todos esses tributos « complexidade, que desprezam 11 clareza t
parecem ofender o principio da parcimônia, são, repito, singularmente
apropriados para os historiadores, que devem lidar com pessoas —
indivíduos ou grupos — em ação todos os dias de sub vidn T m-
cunvenicntc que as pessoas devam abrigar conflitos, o que torna r,
comprovação pmp ocupação corajosa c atriscada, cspccialnicnlc a par­
tir du insistência dos psicanalistas sobre o tato dc que os batalhas mnis
interessantes ocorrem nu inconsciente e que deixam tipenns traços
fragmentários. Freud. u mensageiro das más noticias, tem sido tratado
como frequentemente «u-urre com mis mensageiros, como sc as tivesse
inventado, Mas isso c upenas uma defesa conirit ter que lidar com c
entrelaça mento sutil dc motivos c coerções, desejos conscientes
c obstruções inconscientes, realidade» objetivas e representações men
tais que constituem : vidn mental daqueles que o historindor tem n
inreFn de compreender
Muitos historiadores tem ouvido a música do pas.sndo mas j tem
transcrito para um »implcs nssobio. Certamente, turno já disse antes,
u» profissionais mais realizados e com maior sensibilidade histórica
apreciaram c procuraram reter a enorme diversidade da conduta hu­
mana, os encontros do homem com o poder, a tcciiulogiu. u natu­
reza — c consigo mesmo No máximo, têm sido eleguntes. comoven­
tes e penetrantes. Mas u história pede explorações mais profundas
até do que :i deles, ü que :i psicanálise pode trazer para a determi­
nação do passado <í um conjunro do descobertas e- uni método — falí­
vel, testado de form.i incompleta, ítindu difícil dc sct iiplicadn C nimla
assim, estou convencido, u melhor que temos no presente para
icgistrat as superfícies fragmentadas e n snm dns profundezas inex­
plorada» da natureza humana

74
3
Natureza
hum ana na história

1 . Contra os historicistas
Ao descobrir Sigmurul Freud no final de sua vida, William lu­
mes achou que ele era um “homem obsedado" com "idéius fixas' ,
com uma teoriu incompreensível sobre at sonhos, coai noções peri­
gosas sobre simbolismo c com uniii incompreensão preconceituosa so­
bre religião. Vias. no seu modo de ser caraclcristicamcntc aberto.
James desejou-lhe sucesso. “Espero que Freud e seus discípulos levem
ns situe idéius atá os seus limitei mais extremos“, ottevou, tnpii tur-
dc, cm 1909, "pnrn que possamos aprendê-las. Cena mente projetarão
alguma In? sobre a natureza humana“.1
Os historiadores têm sido gcrahnciitc menos generosos. Eles con­
cordariam que Freud era usn homem obsedado, mas duvidariam que
a psicanálise pudesse projetar alguma luz. sobre .i natureza humana.
Na medida cm que veem alguma pluitsibilidndc ncln.os historiadores
concedem no instrumental freudiano urn domínio confinado, cuida-
Juta me me demarcado de validade. A psicanálise nascida c desenvol­
vida cm Viena parcco-lhes ser a quintessência vienense. bustunte irre­
levante fora dn sun esfera definidn e altnmenie restritiva, suos teorias
valem (se 6 que são válidas) puro o paciente psiconcuróiieo arqueti-
pico, a judia vienense fltius/ruu, entediada, licu c recalcada, c apenas
paia ela — exceto lulver. parti n sun irmã americana "Frtutl". como
coloca Henri Kllenherger. o historiador da psicologia profunda, "ern
vienense até a raiz dos seus cabelos“. Outros
I historiadores têm reli-
rado as implicações dessa percepção. A "dependência lempoTpl" do
"mundo das idéias" freudianas tem sido frequentemente '’subestima­
da1'. segundo a queixa do historiador social alemão Hans-LIrkh

75
Welilcr. Ele acredíla que o "discurso científico' freudiano bnsem-sc
sobretudo nus "problemas ailamenle específicos ila burguesia auslrfa-
ca do lin-ttc-iiècie“. H pnr» David flnckett Fischer, a primeira das
"cinco fulhns substanciais da teoria freudiana c a dc que “cia, nu
sua conduce originária, é evircitamcnic dependente dn cultura". Law
rcncc Stone apenas nu aparência é menos severo; ele timplia a apreen­
são freudian» de Viena par.» a classe média européia no século XIX
apenas parti quase suprimir total mente u sua relutante concessão:
"Nada poderia ser mais falso", argumenta, "do que nfirtnar que ns
expc!Íiniiu> « as respostas sexuais des europeus ilu classe média nc
final do século XIX seriam típicas pura toda u humanidade no pits
sado, uu moma para os europeus nos três séculos anteriores, ou
uinda pura Iodas as classes no final da sociedade vitoriana".*’ Para
esses hisluriadot.es — c eles falam em nome dc um consenso Freud
preside um território diminuto.
Não tiã nenhuma razão para ser conivente com u liquidação do
império freudiano. Embora os historiadores tenham aderido e propa­
gado avidamente a lenda da juditt vienense «ano a analisando típica,
apesar do seu forte enraizamento, .1 sua rei avão com o estado de
coisas verdadeiro c tênue. FrcuJ necessariamente, e cm especial nos
piiineiius ui ms dc suu piáticu, ulitiicnluu u seu |>eiiMiiiiciilo e a sun
teorização com as revelações dos pacientes que vinham consultú-lu.
Só póde ampliar a sun base de prova quando a sua reputação difun­
diu-se c ele passou ri ter seguidores que, ao coletar material .1 p jr ti r
dc seus casos, puderam contribuir pata u rctk do conhecimento psi-
canalftico. Mas desde c inicio, conto já assinalei. Freud teve anali­
sando* mais diferenciados do que os indicados pela lenda. Mais tarde,
os pacientes de que tratou, ou sobre os quais se instruiu, vieram n re­
presentar um corte razoável das camadas média v alta dn civilização
ocidental; os adultos em número nèo inferior » 0 dc jovens, os homens
tanto quanto :ts mulheres, os gentios igual »0 de judeus, os leigos
ingleses e os médicos americanos. Infclizmcnlc. não temos nada pare­
cido com um catálogo exaustivo dos pacientes em análise com Freud,
mas os seus casos iiiqís ciltulos demarcam os horizontes amplos ilu
miséria mental: o pequeno Finns em um menino de cinco anos. o
homem dos lobos um aristocrata russo. Sohrcbcr uni jui/ alemão,
H.D. um pcetn americano, Marie Bonaparte uma princesa francesa.
Dora a irmã dc um amigo, c Sigmund Freud cerlutnenlc 0 seu pa­
ciente mais instrutivo não era nem entediado, nem rico. nem uma

76
mulher nem muito judeu. Após ;i Primeira Guerra Mundial. curau
Uhiis Suelis relutou. Ercud unulisuu muis em inglês do que cm alemão1
Embora u nossu informação a respeito du prática freudiana seja
fragmentária. sBbcinos o suficiente puni dizer que ele pôde basear-se,
para as suas idéias, cm um repertório relutivanienie grande. Apenas
isto, tericmunie. não é por si só nm.i garantia ou uma segurança d»
aplicabilidade du instrumental pticanalítico ;i> diversas culturas e épo­
cas, Mas Fraid uucdiiuvu que poderia fazer inferências justas, a par­
tir da sun experiência clínica, sobre seres Imnuinos afastados no (empo
c nu espaço, e isso por duns razões: os neuróticos, como os entendeu,
são, na maioria dos seus aspectos, pessoas normais — trio semelhan­
tes u elris que certa metUc pode-se d u v id a r da própria noção de norma­
lidade. Eles exageram, distorcem c selecionam icndcnciosamcnlc ca­
racterísticas que lodo ser humano possui, de modo que através disso
dramatizam dc forma conveniente as suas operações. Além do que,
essas características são. para Frcud, casos cspecinis. ou derivados, dc
disposições universais bastante estáveis que se poderiam apreender
sob a tubricu muito usada c abusada dc natureza humana.
Obvinmcnte. uma psicologia válida apenas para alguns vienen-
ses da virada deste século seria interessante só pnra alguns poucos
especialistas que estivessem escrevendo histórias sobre como era a
cidade por volta dc IMÜO. Unia psicologia que alega iluminar l natu­
reza humana deve ler relevância pnra toda a profissão histórica. Mas
a idéia de naturezn humana não é. pum os historiadores, de nenhuma
maneira unta idéia satisfatória. Hã muito tempo eles descobriram que
era necessário ruíletir sobre a questão de eomo poderiam defini-ln: se.
de fato, existe algo assim. A questão pode parecer abstrata, mas tem
sido totalmcntc familiar à profissão histórica. Eu disse no inicio que
os historiadores trabalham com uma teoria sobre n natureza liutnana.
mas que muito do seu funcionamento é secreto — mesmo para eles.
Certamenle, a questão se a nutureza humana existe foi uma que a
escola historicista, Rankc c seus seguidores, colocou durante lodo o
século XIX, menus como uma interrogação inocente c muis‘como un:
ato agressivo c polemico contra os filósofo», seus antecessores do
século XVIII. Nos seus escritos históricos, rie acordu com a argumen­
tação dos rankeunos, os. filósofos tinhum recontado aquela suprem»
ficção que chamavam dc natureza humana, um conjunto fixo de pai­
xões c motivos que declaravam que linhtim observado em funciona­
mento em todas as época» u em todas as civilizações Fssu invenção.

77
os hisloricistas insinuaram sombria mea te, tinha causado à historio­
grafia um prejuízo significativo no frustrar qualquer percepção ver-
dadeiramemc histórica du passado. Aquelas obras que tinham sido
famosas, as dc Gihbon. Voltaire e IJiirne, aparcccram-lhas como bidi­
mensionais, carecendo, dc imediato, de utna distância necessária e de
unta identificarão igualincntc necessária com os seus uiaterinis hu­
manos. 77«? decline a;ui /d l o/ l/us Romtm Empire, ou Lc siècíc dc
Louia X IV . ou Hisíory of England não ciam parn eles histórias mas
(como diriamos atualmente) exercícios de sociologia retrospectiva.
Essa denúncia aos historiadores do lluminismo mostrou ser mais
do que apenas unta plataforma du século XIX cm defesa dc um novo
início para uma velha disciplina. Foi um ato necessário dc parricídio
intelectual, mus que sobreviveu, enquanto crilica c postulado, até o
nosso século. R. U. ColliiiRwood na Inglaterra, Bcncdctlo Croce na
Itália, ürtega y Gessei na Espanha, Lueicn Ivhvre nu França, todos
difu nd iram a mesma boa nova: o iiomeiii (paru recordar Orlcgu) não
•cm natureza; o que ele tem c história. “Sei que a natureza essencial
do homem ô imutável no letnpo c no espaço", escreveu sarcastica­
mente Lucicn Febvre em 1925, com aquela veemência que o caracte­
rizava. "Conheço essa ladainha. Mas isso c um pressuposto, c posso
acTesccntnr, sem valor para o historiador, Para ele, como parn o geó­
grafo . . . o homem não existe, só liú homens."4 A história clássica
dessn postura, u obru Entstehung tfn Histarísmus, dc Fricdrich Mei-
neckc, publicada em I9>6, ern qualquer coisa menos uma avaliação
desvinculada c neulTa; era um repúdio categórico a própria idéia de
iiature/.a humana que, Mcitiecke linha cerlcza, havia obstruído lii
muito tempo o pensamento histórico.
Os dois princípios históricos que Meincckc consagrava na visão
c no pensamento Insluricista, facilmente ausentes tle todas as histó­
rias que trabalham com uma teoria sobre a natureza humana, eram
OS de individualidade e de desenvolvimento. Meinecke admitia "um
núcleo de verdade* no que chamou de “ponto de vista generalizador
titis forças histórico-humanas ’ dos filósofos. Mas insistiu que esse pon­
to de vista “fracassou em compreender as transformações profundos e
tt multiplicidade de fornias: a que são submetidas n vida mentol c espi­
ritual de indivíduos e ccmunidndcs, apesar da pcrsisl&ncia das quali­
dades humanas básicas", Para exibir os vieses anti-históricos do llu-
mintsmo cm tatb o seu nivclnmcmo funesto, Mcincvke lançou nulo dc
duas declarações de David Humer "A humanidade 6 dc tal fbrniB a

78
mesma, em tudos os lugures c era iodas as épocas, que 9 história nãu
nos informa sobre nadu de novo ou de estranho nesse particular' E
de novo: “O Reno vai para o norte, o Ródano para o sul: uind« assim
ambos originam-se na mesma mcnlnnho, e atun também sobre eles.
nas suas direções oposlas, u mesmo principio da gravidade. As dift-
rentes inclinações no terreno, sobre u qual correm, causam iodas as
diferenças entre os seus cursos". Essa íncntnlidadc tinha de ser ven­
cida antes que n disciplina histórica pudesse realmente se estabele­
cer. E foi conquistada, naluralmentc pelos pensadores alemães, que
atingiram "o estágio mais alto na compreensão dns questões humanas
que já havia sido plcançadoV
Era essência, o sistema Itisioricisin c um comentário dn célebre
máxima de Ranke: Toda época relaciona-se imcdialamcnle com Deus."
O que Ranke quis dizer foi que c historiador deve tratitr cada evento
c cada época como induplknvcl e deve permitir u enda uma os seus
próprios vedores, julgando não n partir du ponto de vista superior dn
posteridade, mas como deveria ter sido julgada a purtir dela mesma.
De forniu irônica, o próprio Meinecke. no seu orgulho, virou as cos­
tas para essa injunção por tolerâncin em momentos eriticos. Ele me­
nosprezou os filósofos, quase literal mente, a partir de um estágio
maia elevado de compreensão" que, um tanto compluccntemente, acre
ditou que haviu atingido: a época deles não estnvn, afinal de contas,
tão próxima de Deus quanto o sua própria. Certamente a justificativa
de Meinecke do historicismo documents involuntariamente algumas
de suas promessas não cumpridas, pois, de forma bastante curiosa,
enquanto cs hislurioisia.s elevaram u conexão enlre imparcialidade e
empatia a seu principio supremo, livremente u iruiisgrcdimm. Ao con
trário, os filósofos, emliora fossem homens dotados com uma missão,
algumas vezes realizaram exatamente aquele princípio. Voltaire reco­
mendava in sis tentem ente que "devemos estar em guarda contra o há­
bito de julgar tudo de acordo com os nossos costumes' Gibbon acre
ditava que o "espírito filosófico", que ele cnlendin no sentido de
espírito histórico, podia ser cultivndo pela “hábito de se tornar alter­
nadamente grego, romuno, o discípulo de Zenõo ou de Epicum F.
David Hume, o mesmo filósofo que insistiu cm ligar o Renu c o
Ródano, perguntou: “Você julgaria um grego ou um romano de acor­
do com a lei consuetudinária ds Inglaterra?", c respondeu' "Ouçam
no defender-se a si mesmo com as suas próprias max irons.. c cnlãú
deem o veredicto"/ Uma leitura tios escritos históricos dos filósofos
revelará que tais manifestos não eram ineramente utnn faln piedosa
uu simples boas intenções.
Meu propósito nõo &promover a reputaçãu dos historiadores que
trabalharam no sdculi» XVIII. cm detrimento daqueles do século XIX.
Os hisioricistas, apesar dn ingratidão, de toda sua auto-satisfação,
fizeram avanços, profissionais substantivos no método c na prática his­
tórica em relação aos do lluministno. A paixão deles pelos arquivos
era uma que não era partilhada com os filósofos. Os homens do Uu
minismo festejaram o drama clássico e instrutivo que, para eles. cons­
tituía o passado, e assim falharam cm fazer justiça á variedade com­
pleta da experiência humana. A Voltuire, como diz Stendhul. "faltou
(I {lima ."«M/ifWtt.viiYJ, um» qualidade necessária cm qualquer poeta. É
por isso que lodos os seus personugens assemelham se entre si“." Rlc
esiuvu referindo-se òs (nigedias de Voltnire; poderia ter dirigido a
mesmu critico ôs histórias de Voltaire. Mas o compromino profissio­
nal do historiador cotn u mudança não precisa cogi-ln para a univer-
salidude da estruture — que de qualquer maneira progride de uma
forma regular — mais do que o seu culto pela individualidade pode
eliminar a necessidade de fazer comparações ou gcneraliznções. O his­
toriador que iguala o seu oficio ao de contador de estórins é um pra
liennfe lüu unilmarnl quaulo o liietorindor impaciente cem 9 qu« ele
chama de Hiiuoirt Mnemcntielle. Soa quase banal dizê-lo, mas í
preciso que se diga mais uma vez: as agitadas correntes da mudança
recobrem, algumas vezes até a invisibilidade, as mudanças lentas e
profundas dos desejos, gratificações c frustrações persistentes do ser
humano. *0 sentido histórico", como T. S. Elliot uma vez. colocou
de forma conveniente. 6 "um sentido Ião ntcmpoml quanto tempo
r a l M e s m o Vloinccke, o sumo sacerdote historieis tu do desenvolvi­
mento e dn singularidade, sentiu-se impelido, afinal de contas, a reco­
nhecer algo semelhante cm suas concessões um tanto relutantes a um
‘ núcleo verdadeiro" na concepção do lluminlsmo sobre o passado,
c assim a uma certa "persistência" das "qualidades humanas básicas".
Há uma justiça poética nu fatu de Goctlic, que os hisioricistas con­
sideram como u seu santo padroeiro, algumas vcz.es ter dudo apoio
eloquente ■ uma postura anli-historicista. Na Noite Clássica de Vul-
púrglo, no Fttusiò, ele fu/, com que Mefistófclcs queixe-se de que tinha
ido às fantasias noturnas pura encontrar estranhes c só linha, que
tristeza, se defrontado com parentes próximos, lira. disse, tunn velho
estória das Montanhas Harz na Alemanha |u u u Grécia distante
rtndn nlétn de primor;

Hier ducln ich htuier Unbekannte


U n d lin d e ic h t e it ie r H a h v c r w a n d i e .
Ei isi mi ótica IfueJi zu blültem.
V a u IJ a n ha ll e i l t v t i n i i n c r V e i t c / n t

O porta-voz dc Cíoelhc ai, é claro, i um demOnie, entediado,


wtnstidc deste mundo, sarcástico.1" Mn? sua observação, induzida por
um desfile sedutor de vampiros eróticos c demônios femininos, sugere
uma verdade geral que os estudiosos da humanidade, de Goellie até
Frcutl, têm estado bastante conscientes: a* manifestações prementes
e insaciáveis das fantasias sexuais, apesar de suas fonnas individuais,
constituem uma família de deseju. Os historieis tas tendem a iluminar
casas semelhanças fundamentais
O mais enfático dos liiMuriudurcs sociológicos ccrininenie não
negará a realidade do movimento, nem o muis devoto dos discípulos
de Runke negará n realidade da pcrmnnSncin; o clichê grisio, “conti­
nuidade c mudança . gcrnltncuic usudo para funcionnr como utu cesto
que nbrien colecões dc ensaios heterogéneos, atcsiii isso. Ila lugar ua
profissão histórico seja puta aqueles que como Nninicr ou Hraudel
analisam estruturas, scj.i para a maioria que narra sequências. A
maior porte dos historiadores nôo pode deixar dc fazer umbus. Ccrtu-
mente, a questão c dc ênfase. Mas enfatizar produz uniit diferença.
Afinal dc coutos, o historiador que admite aberlamente que está trit-
halltsndo com a idéia de natureza humana invoca entre a maioria dos
seus colegas a visão inlvagavcl dc classificações anèmieus, c dc rei-
tcrftções estática« c monótonas que viciam o experiência do pussado
como algo divcrsiiieudu, em desenvolvimento c interminável. Vias de
fato a natureza humana tem n sua própria história; a mudança é uni
conjunto de variações sutis que o muntlo executa de acordo cum
lenias indefinidos c persistentes.
Se 6 a mudpnça, portanto, que tornu a história possível, é n per­
sistência que fundumentn u compreensão hinóricii. Como o jogo dc
xadrez, a natureza hutnuna constrói uma variedade dramática e ines­
gotável n partir de poucos, elementos e regras. Ainda assim as discri­
minações devem ser feitas c sno possíveis. A asserção dc David Humc
dc que 'a história nõn nus infonnu sobre nada dc nuvo nu de estra-

81
nhu" u respeito dre paixões c dos condutos humanas pnteee ser
indevidamente pessimista: para □ praticante experiente — como para
o psicanalista tarimbado — as histórias de vida retêm a sua capaci­
dade para gerar o novo e o estranho. Mos elas se inovem ao longo
de trilhas familiares, ocorrendo cm momentos mais ou menos anteci­
páveis. É por isso que a história — como n psicanálise — é parcial­
mente previsível e ainda assim invariavelmente fascinante. A natu-
ressa huninnn faz muito u partir de pouco.

2. As pul.sõcs e suas vicissitudes

As experiências du historiudur c do psicanalista com os seus


materiais humanos convergem e se sobTcpõcm; ninda assim a percep­
ção do psicanalista da nuturezu humana, obviomente, não purccv acr
útil para as preocupações do historiador. Sua relevância tem dc ser.
como sc pederia dizer, insistentemente destrinchada. A base sobre a
qual a teoria psicanalílica sc apoia para afirmar a continuidade du
experiência ó a alegação dc que todos os homens pnrtilhnm dc algu­
mas precon dições inevitavelmente universais. O homem entra na vida
como o mais incompleto dos animais, necessitando pateticamente dc
alimentação c proteção pur parte dos OULrOS; nasce com poucas pui-
sões inst intua is cuja plasticidade, com toda a sua tenacidade, é edu-
cável para rs hem ou para o mal. O inconsciente, Freud escreveu no
seu grande artigo de 1SJ15 sobre o tema, “está vivo, e c capaz de
desenvolvimento1’. A aprcndizngem realizo o trabalho sobre instintos
progmmndos com precisão, parte du legado partilhado com outros
serví sensíveis — c é por isso que o homem d um animal preponde-
ranleincnlc cultural. Muito da informação que outros animais trazem
em seus genes, n criança absorve de seu meio. Conto todos nós sabe­
mos, os modos nlimcnrnres e dc treinamento variam drasticamente
entre culturas, regiões, classes e mesmo, embora menos acentuada-
mente. entre famílias. Mas a necessidade dc cuidados c dc tutela du­
rante aitús c comum a todos os homens. O qtie Freud chamo de "a
longa dependência e desamparo du infância ' 11 c uma realidade bio­
lógica incscapávcl com consequências psicológicas variadas mas pre­
visíveis. Transforma o historiador moderno, o egípcio amigo, o indí­
gena kwekiull, para retornar ac mundo dc Goethe, cm primos.

83
Mas, embora seja muito mais livre do que outros animais nas
adaptações que ele possa construir c nas defesas quv possa desenvol­
ver, o homem não c um todo sem us pulsões inslintuuis, e estas, ma­
leáveis como são, assinalam as semelhanças de família que a sua tute-
lageiti prolongada acabou por impoi j ele em primeiro lugar. Entre
essas pulsões. a sexualidade e u agressão ocupam um lugar central
para o psicanalista. E essas duas pulsões, am ad u recid as, combinadas,
disfarçadas, servem como combustível pura a ação humana. Elas fa­
zem n história.
Seria ocioso alegar que a teoria freudiana dos instintos está total-
mente livre <le obscuridade*. O próprio Freud nunca se satisfez com
ela, e atribui algumas de suas dificuldades a posição precária que us
pulsões inslintUBis ocupavam na biologia c na psicologiu de sua época
A regi fio dos instintos, afirmou em 1932, i? uma região "na qual luta­
mos laboriosnincnlc por discernimentos c direções": para ele, n teo­
ria dos instintos era a "nossa mitologia”. Pulsões. disse, "sãti entida­
des místicas, esplêndidas na sim indefinição".111 Elo escreveu Isso uma
década após ter exposto a sun teoria estrutural na quul revisou u sua
concepção sobre as pulsões c deu ao seu dualismo final uma forma
tão decisivo que muitos psicanalistas rccusaraiu-se n segui-lo cm toda*
as suas consequências. Nos anos iniciais. Freud postulara dois con­
juntos de instintos — sexuais o cgúieos — um a serviço da perpetua­
ção da raça humana, o outro, d» do indivíduo. A seguir, no início
da década de 20, confrontou as poderosas eneregias criadoras de Kros
com energias igualmciiic poderosas e destrutivas, as do inslintu de
morte. Mas de nenhuma maneira a confusão foi feita por ele. )á citei
Lawrencc Stone. que assimilou, numa critica severa ,'t pretensa rigidez
freudiana, que "a pulsão sexual não é uniforme", mas "varia cnoime-
inciite de indivfduu para indivíduo'*. Na realidade, Freud disse o
mesmo c melhor.
De fato. disse-o com frequência e com clareza. 1;‘ Freud icconhc-
ccu que n constituição biológica varia de criança paru criança: suas
dotações inatns de forçn pulsicuiál ou sensibilidade à estimulação, ou
sua predisposição à ansiedade, são peculiares a cada uma. Não é
um problema paru a teoria psicanaÜiica que existam bebês serenos c
bebês agitados: analistas infantis já exploraram muito esse fato. Além
du tnais. os psicanalistas consideram que us pulsões não são simples,
meros impulsos manifestando uma necessidade simples c única, mas
conglomerados, feitos a partir de desejos frequentemente discordan-

83
les que lutem per smisíução. Situados no linha limítrofe “entre o
menta! u o somático”, us pulsõcs insliniimis diferem de acordo com n
ííUíi origem, sua pressão. seu objetivo c, eeitnn de tudo, seus objetus.
De fnto, o objeto. Freud argumenta enfaticamente, "é n coisa mais
variável a respeito de unin pulsáo: na sua origem cie não está ligado
a cls\. mas liic é atribuído na medido etu que se mostra adequado
para tornar possível n satisfação". No curso da sua história dc vida,
“pode frequentemente scr alterado à vontade*.14 Assim, a atribuição
de objetos eróticos, como suas vicissitudes — o amor por si mesmo
ou pela mãe, por um colega ou pela esposa — , «5 cm larga medida o
trabalho J u c u ltu ru trad u zid o em representações incutais n o indiví­
duo, O que eu disse unleriormeiite sobre a natureza liumaiin em geral
aplica-se às pulsõcs em ptntitulur, e pela tncsniu razão: elas lôm a
sua história.
Neste punlo a teoriu psietinulílica e a experiência du historiador
sobre u natureza humana podem convergir de maneira proveitos». O
pomo de vista psicunolílicu das pulsõcs dá conta tanto du sua unifor­
midade como du sua variedade; a proposição ele que as pultôes for­
mam um conglomerado unido em uma família dc impulsos que busca
satisfação oferece bons ra/.óes parn que o historiador reconheça e ana­
lise motivos h u m an o s de indivíduos o sociedades longínquas sem os
reduzir a cópias pálidas dc seus próprios troços culturais, O grupo
de pulsõcs conhecido coletivamente como agressão — um termo um
pouco menos solene através do qual u maioria dos psicanalistas tra­
duziu u instinto dc morte freudiano — revela um repertório aiuJj
mais amplo de campus possíveis paru ação do que 11 pulsilo sexual.
sem uciiltKf eumplcutmcnic u sim origem comum.
A mesma misttim dc plaslicicinde c similaridade caracteriza os
mecanismos de defesa. P. uma constante da vida humana — outra
experiência comum articulada em uma variedade impressionante de
formas embora não ilimitada — que n criança veja pelo menes
alguns dt seus desejos cento ameaças ã boa opiniftu que clu mu
dc si nu .ma às suas necessidade« de amor c dc aprovação pelos
outros, c nos casos mais extremos, à suu própria sobrevivência. O
psicanalista, no refletir sobre o funcionamento da mente, vê a fuga.
3 atenuação dc conflitos que nunca são completa mente dominados,
c inclina se a tratar a vida como uma tragieomédia de desejos insa­
tisfeitas e realizações urriscudus. dc advertências ansiosas c restrições

84
defensivas prubkmálieiib. A natureza luimitnu cm »vão parece cuit
vid.»r, dc falo impor. compromissos instáveis que estabelecem repeti­
damente e. quuse m m n mesmo frequência. se evadem :i acomoduções
frágeis entre as facções em liilsi nu mente. 'Se não existisse nmu coisa
torau natureza humana (uniu doutrina que ■> | decido profcHur Col-
lingvvoud estava ntuitu próximo de endossar)”, escreveu uma vez o
historiador inglês Richurd Pares em um ensaio criterioso sobre n pro-
fissfio histórica, “não se poderiam estabelecer com segurança quais­
quer leis pernis, nada poderia ser previsto, nem se poderia nté mesmo
chegar a detectar algo na história. Aindn assim a própria natureza
humana varia no tempo, como resultado elo processo histórico, c não
trutá-ln dessa forma rorna a história sem vida".15 Variedade tia unifor­
midade. uniformidade por trás da vnricdnde — não há nada no enun­
ciado de Pares que constitua uma exceção para o psicanalista.
A instancia mais reveladora (c a m ais problemática) sobre o fun­
cionamento da natureza humana é provavelmente a do complexo de
É.di|to."* Com um convencimento perdoável. Freud alegou que se sen­
tia orgulhoso pela descoberta, pois exibia com força excepcional as
vicissitudes das pulsões. .1 ntivitlnde propositada das defesas e o dra­
ma tlu desenvolvimento. Psicanalistas posteriores mio prlstatflm me-
no» esse triângulo, Aquclu incredulidade que Sidncy Hook cneommu
quando pedira 11 psicanalistas que imaginassem uma criança sem u
complexo, e que o tinha irritado tanto, é aliumente instrutiva: o com­
plexo ile lldipo é. pnrn eles. t> experiência critica do desenvolvimento,
n que tornn o homem humano. Ainda assim historiadores não hesi­
tam em rkliculuiizã-k>. Para A I. P. Tuylor, por exemplo, que ima­
gina em voz alta "Como alguém pode leni: Freud u sério?", o com­
plexo vle lalipu foi somente uma das idéias "brilhantes" de Freud. o
que significa para ele uma idéia ridícula.1*
Contudo, embora fosse uma idéia brilhante, não linha nada dc
ridícula. Era apenas bastante complicada. Freud não viu nenhuma
versão simples e dominante do complexo mesma entre us seus con­
temporâneos ou entre os seus compatriotas austríacos; e pensou, como
sabemos, que a formn em que ó resolvido ou recalcado depende fur-
temente da influência da autoridade, do ensinam ento religioso, dr-
educação, das leituras feitas". Estendendo-se através das épocas c das
culturas, suas voltas c reviravoltas quase desconcertam pela sun enge-
nhesidade. Cm poucas palavras, o triângulo edipico que Didcrol des­
creveu toscamente em lu1 iifvau dv Kunietin (uma descrição que Freud
citou mais de uma vez com prazer) pode ser o mois familiar, ruas 6
também a sua forma mais primitiva: "Se o pequeno selvagem" —
esta í a forma pitoresca com que Diderot se refere no filho do primo
de Rameau — ‘ fosse ciciando <1 si mesmo, ao preservar toda a sua
tolice c tio acrescentar, au pequeno sentimento de uma criança 11;»
berço, as violentos paixóes de um homem de trinta, estrangularia o
seu pai c dormiria com a sim mãe ’.'* Esse é o complexo de lldipo
sobre o qual as pessoas ouvem falar: no curso do desenvolvimento
psieossexual, v menino descobre desejes apaixonados pela tun mfic e
um sentimento igualmentc apaixonado de rivalidade cm relação ao seu
pui. As consequências dessa irrupção na vida juvenil são monumen­
tais, unto no memento como nus anos seguintes. O superego do me­
nino — a sua cotise iene iti c a panóplia de seus sentimentos de culpa
— c o herdeiro du complexo de (vdipo; amedrontado pela veemência
de seus desejos c ameaçada peins fantasias (e talvez pela rcBlidude)
da retaliação adulta, desiste de buscar a mãe, internaliza o údio c as
proibições do pai. e. quando crescer — se tiver sorte — vai procurar
objetos mais adequados, ou seja, não incestuosos, para gratificar as
suas necessidades erútiens.
A ninioria dos não analistas que define o complexo de Êdipo,
quer a aceite como uni fnto raxnAvel, qiu*r n rejeite mmo umn fieçãu
extravagante, pára por aqui. Para o freudiano profissional, contudo,
essa vtr.dk) do complexo é somente o seu começo. Ao perqttirir c ao
clarificar esse impressionante encontro domestico, Freud expandiu e
tornou o sen funcionamento complicado cm locliis as direções. Não
o limitou aos meninos: as meninas tnmbcm passam pclu fase edipianu,
ao adorarem os seus pais c ao antipatizarem com as suas mães. Neni
duviduu que as diferentes classes c culturas o cxperienciavam de uma
forma distinta. Mencionou explíciinmentc que o "complexo de Edipo
simples' não i "de nenhum modo o mais frequente’.18 Para ele, o
complexo i um exemptu poderoso da nnibivalcnck fundamental c
inerradicávcl tio homem — a coexistência frequentemente insolúvel
de autor e údio. A criança não apeiiBs'.odéia o seu rival sexuel, mas
o rima no mesmo tempo: esse é o esforço, tão difícil de ser manejado
peles jovens, que leva a fase edipiana à Mia pungência. O complexo
de Edipo tem sido chamado de maneira sensível de unta escola para
o amor;5“ pode ser chamado, com igual pertinência, de uma escola
paru o údio. Ambas as formulações enfatizam apropriadamente a suu
função pedagógica: o complexo do Edipo é no mtiximo uma escúla,

86
uma fase do desenvolvimento que serve não »penas para gerar neu­
roses, mas também pura domesticar emoções e canalizá-las para for­
mas legítimas. Simultaneamente expõe n criança ãs suas paixões e
ensinn-a a lidar com elas. E ramifica-se pelo campo dn vidn mental
desde os anus da infância, ao deixar os seus traços de ambição e re­
signação, ate os tabus mais energicamente protegidos peln cultura.
Não é fácil sentir a presença mnleasada dc desejos eróticos
veementes com desejos destrutivos. Sun energia, assim como seus
alvos, expõem a criança iis dificuklndes do destino humano desde um
marco muito precoce da suu vida, quando ela está tunl preparada
para a violência dc tais ataques. Tudo u que se sente, em uma caudal
dc sentimentos prementes c conflitivos. 6 a probabilidade — □ pró­
prio desejo - da derrota. Pois se está vaga mente consciente dc que,
se os desejos forem satisfeitos, as cunscqiicncins serão catastróficas;
sc forem detectados, a punição será terrível; se forem frustrados —
o resultado mnis provável — o desupontamento será agudo. Com cer­
teza. a criança na maioria das vezes exercita os seus violentos crimes
de paixão apenas na sua mente ou em gestos ocasionais c patéticos,
verbais ou físicos; demasiadamente pequenas e fracas, não podem
traduzir emoções incipientes cm ações explícitas. Mas isso não dimi­
nui o: nacos; paro a criança, desejar c fazer são idênticos, c cometer
assassinato ou incesto em pensamento c tão imperdoável quanto fazê-
lo na cama paterna. A fase edipiana pode ser uma escola, mas é
uma cscoln difícil, e suas lições podem nunca ser absorvidas de itmn
forma completa ou feliz,
Um dos uspccItK, mais proeminentes c ainda assim menos consi­
derados do complexo dc Êdipo c a sua interação continua com e cul­
tura: desde os primeiros anos de suas descobertas em diante, Preud
sublinhou a sua variabilidade através da sua comparação sugestiva
entre Oedipus Rex e Hamlef: “O tratamento diferente do mesmo ma-
tcrinT nessas duas peças, assinalou antes dc 1900, "revela toda n
diferença na vida mental dessas duas épocas culturais Ifto ampla-
mente separadas: o avanço secular do recalque na vida emocional da
humanidade". Enquanto que cm Ocdipus Re.r "a fantasia desejnnle
fundumenlul d» criança c trazid a ú luz do d ia c realizada como em
um sonho', cm "llam kl permanece recalcada; c só ficamos sabendo
tia sua cxistcnciu — semelhante ao que ocorreria cm uma neurose —
u partir das operações inibidas que decorrem dela".11 A leitura freu­
diana de Sófcclcs e de Shskespeare permanece aberta a discussões.’2

8?
Mas o ponto em questão aqui é que Breud, embom insista sobre .1
persistência 0 n proeminfincin tio complexo de lidipo ntravés dn ex­
periência humana, nunca desprezou o seu possíveL campo «ie expres-
.-uo ULi as suas dimensões sociais. Assim, esse próprio complexo, con­
trariando ri siui reputação de ser um ponto fixo ou rígido, urn itine­
rário invariante que lodos os homens em todus as épocas devem
atravessar, testemunha a orientação essc-ncialnienle histórica de Freud.
Bste rápido esboço sobre um dus disccrnintcntoi freud ianos mais
controvertidos deve corrigir leituras familiares c inadequadas. Deve
nfastnr de tirnn ver. por todas o mito popular de que ele é a encarna­
ção da Vienu du final du sendo XIX. Mas 0 registro das respostas
dos historiadores não dá muita razão pura ser otimista. Ao considerar
a proeminência que Breud deu ao complexo de Edipo, não é de se
espantai que ele tenha gerado um debute veemente alem de alguma
pesquisa sofisticada. Tampouco 6 espantoso que o controvérsia pública
lenha ocorrido com um completo desprezo pela literatura técnica. In
citei A. I. P. Taylor. De novo. u historiador populnr americano Page
Stniih deu precisamcntc 0 complexo de Edipo como "uma importante
nizãu pela qual a teoria psieniuililicn é basicamente uiililélicü com u
história1'. Sim objeção, como o entendo, parece ser uno a de que se
tenha mostrado que u “conflito pai-filho" é incorreto, mas que é
deprimente. ‘ Se tomado seriamente", escreve, a complexo de Edipo
"destruiria r história", pois "0 história escrita c em «UA essência o
esforço para passar paru os filhes j sabedoria dos pais, e assim pre­
servar, mais do que destruir, a continuidade entre u» gerações", dado
que Breud nno oferece nada mais do que "um processo eterno e ago­
nizante de rejeição". Realmcnlc s experiência edipinnn faz cxnttunente
o que Smith parece desejar: gera o tabu do incesto c as aflições da
consciência nu criativa, u assim pussa pnrn os filhos a sabedoria dos
pnis. David Hechett Fischer tem uma objeção uni pouco mais sólida:
no seu ataque sobre as falácias de outros historiadores. descobTc uma
falha no antropólogo inglês Geoífrey Gorer por ver "a relação histó­
rica entre a Anglo-Amérka c a Europa em termos de um complexo
de Edipo nacional*. c rejeito como cxcessivameme peculiares as ten­
sões político-familiares que Gorer desenterrou.®' Ele tem razão, mas
tal redueionismo viola o espírito não apenas da história mas também
da psicanálise.
Redueionismo 6 sem dúvida umu dns tentações constantes da psi-
co-história, c terei oportunidade de comentá-lo mais tarde.J' Aqui

88
queru npciiui ussinalur que <i evidencia predominante originada da
psicologia cxpcmncniul. da sociologia e da nuirupolugiti sugere Furie-
mculc, embora não prove de formo conclusiva, uma boa adequação
entre u teorin frcudinnn c a experiência humana - cm todos os luga
res. O triângulo edipiano aparece em lodut as culturas registradas,
mesmo nas illius Trubriand. esse esplendido laboratório natural dos
fintrupólugos no Sul du ratifico c que gerou lanln controvérsia entre
us cientistas sociais, incluindo o alcance do drama doméstico nmhiva-
lente que Freud descobriu inicialmcnlc cm si mesmo.3' O complexo
de fdipo parece ser o destino do homem cm todos os lugnrcs. c deixa
suas tnarcus tunto nos locais espetados torno nos exóticos: nu política
e nu religião, na educação c na literatura, mesmo no merendo. O
impacto do amor ilícito i* do ódio profundo no tabu do incesta tem
sido um temn ptocminenlc nos mitos antigos c nos romances tno
demos, e testemunha » vitalidade das paixões meio enterradas du
criança cm relação aos seus pais na vida posterior c no mundo cm
geral. As metáforas familiares que escritores tem utilizado durante
séculos para caracterizar a natureza da autoridade governamental, ns
relações de Deus para com o homem, u responsabilidade das danos
de fábricas paru com os "seus" empregados c uma série ilc outras
misturas de poder, amor e crueldade são rnais du que tropos literá'
rios. O debate sobre a onipresença c a central idade du complexo de
Êtiipo c tudo para o historiador, menos uma questão acadêmica As
metáforas podem tornar-se marcas lingiiisticas aviltadas, gostas pela
passagem do tempo e depreciadas por desvalorizações freqlienlea da
moeda retórica, Mas mesmo ni, talvez principnlmentc ai. suo pistas
esplendidas paro um aspecto universal do funcionamento da natureza
humana.

3 Anatomia do interesse privado


Umu ru/.ão poderosa, estou convencido, para que us historiado­
res tenham resistido à atração da versão psicanalítica da natureza
humana é o seu comprumetiincnto cum o domínio do interesse pri-
vtido nas questões huntamis. C) interesse piivado não invoca nada da
artilluuia pesado do complexo de F.dipo, dos desejos inconscientes,
des conflitos ocultos uu do resto tio nrsennl freudiano; rada disso
parece necessário para explicar pur que os industriais clamam por
tarifas niais altas, as cumpnnliias químicas sahotutn os inspetores de
saúde, os. especuladores imobiliários passam com o Irmcr sobre luga­
res históricos, os editores de revistos são favoráveis a tarifas postais
ituiis baratas ou os almirantes criam grupos de pressão para aumentar
o orçamento naval. 0 interesse privado explicit, pelo menos para a
salisfaçãu da maioria das historiadores, u desempenho de diplomatas
durante negociações, o movimento de tropos através de fronteiras, as
manobras políticas de grupos que competem ferozmente entre si, co­
nhecidos, de forma bastante significativa, como ’ grupos de interesse’'.
Explica por que os príncipes protegeram Lutem c Bismarck adulterou
despachos, os trabalhadores entram cm greve c os do campo esteire*
Icccm padrões sazonais de migração: o sobrevivência também é um
interesse. Os historiadores sobem, e podem reunir exemplos impres­
sionantes a qualquer momento de como os politicos querem ter poder,
os executivos empresariais ganhar dinheiro c os generais guerrear. Sc,
para a psicanálise, o homem 6 um animal descjnnte. ele é. puni o
historiador, um animal egoísta. Os dois não são idênticos: u primeiro
lulu pnrn redigir as suas tensões sob a pressão continua do seu in­
consciente; o segundo vive sob o controle do egotismo consciente.
Ccrtumciile os historiadores, há muito, têm razões suficientes
paru saber que o homem não vive apenas de um planejamento ten-
trado aob ele niQtmo. Elee c procuraram cxlr.iir o síeti*
lido du autoridade do costume e dn lealdade, do fervor suicida do
famílias c do ódio tenaz do sectário. Ficaram intrigados com a força
dos sentimentos religiosos e nacionalistas. Georges l.efòbvrc, com os
seus eidos de pânico, ressentimento c vingança, não é um estranho
solitário ua sua profissão.'" Lm historiador da cconontin. sofisticado
cotm» Th ornas Cochran, reconheceu que 6 prccisameiiie ent/uunio his­
toriador da economia que deve ultrapassar os limites tradicionais de
sua disciplina: "Cada cultura tem «s suas próprias formas de irracio­
nalidade ou inconsistência econômica. Em algumas, i uma responsa­
bilidade excessiva para a família do empresário. Em out tas. como nos
listados Unidos, uma forma pode ler sido a de um otimismo exagerado
ç persistente’'. Segue-se, para Cuehr.in, que “as decisões econômicas ou
’orientada.'' pelo mercado* não dependem de uma tenção automática,
nins da interpretação do empresário sobre as forças e tendências do
mercado". A necessidade de uma psieologin está implícita nessas afir­
mações. Toma-se explicita nos ensaios originais de Richard Hofstad-
ter, que se especializou sobre o latlo apaixonado da politico ameri­
cana. mas que nunca esteve, cio mesm o tempo, disposto a vòr n pelí-

90
tica simplesmente como um teatro. "Em lodos as épocas existem",
escreveu, "duas espécies de processo ocorrendo cm íntima conexão
um com o outro; u \xililica de interesses o cheque entre objelivos
materiais e necessidades tk» diferentes grupos c blocos; e a feiíítica
cie status, o choque entre as várias racionalizações projetivas que sur­
gem dc aspirações a xtalus e de outros motivos pessoflií”.3'
Alguns historiadores, estão agorn aceitando, como ponto pncífico,
essa psicologia discriminativa. Em um ensaio esclarecedor a respeito
do desenvolvimento económico durante a Monarquia dc lulho, Chris-
tophcr Johnson menciono, de pnssagcnt, a "pequena nobreza presun­
çosa" que. a versa à especulação, “pwcurou piincipa Invente rendas
estáveis c prestígio suciai a pnrlir dc suas propriedades fundiárias'*.
O modo pelo qual a pequena nobreza definiu u seu interesse privndu
catava longe de ser grosseiro; decidiu não arriscar nada e alem do
mais reduzir a incerteza — o adjetivo "presunçosa" oculta uma va­
riedade de manobras defensivas das qunis não cslíi ausente a ansie­
dade. De novo, lohrtson descreve outra força social poderosa, "la
fiuute himquc dc 1’aris". coma estando "dividida entre a defesa de
interesses corporntivislas (acima de todos, o do Ranço da França) e
os lucros a serem obtidos o purlir de investimentos em transporte e
nn indústria" Não estou propondo que nos sintamos tristes por esses
magnatas financistas alonnentados, mas c marcante como, ao sc de­
frontarem com sinais incertos c contraditórios, cucm vítimas dc um
conflito; suas estratégias de investimento uãu são simplesmente deci­
sões racionais »obre a vantagem máxima - embora também o fos­
sem. São também o produto de debutes privados nos q u ais a vonladi­
do jogar se opunha ao medo de ftncassni. Podemos ler n ensaio de
lohnstm como um psicodrumu. nu qual o assumir riscos iriunfti nn
finnl sobre a timidez: "Mais importante do que a fnrina dc fazer poli-
tiea e legislação foi a imagem dc uma monarquia burguesa" Fm
poucas palavras, us percepções contam mais do que us fatos, embora
seja suficientemente óbvio que us tatos forçosa mente impíem-se lis
percepções. No final dn décndn de IbdU, "cm todn a França, cantão
npús cantão", a maioria dos "empregadores como dos empregados,
lauto rurais soma citadina», linhoin adotado p idéia dc progresso eco­
nômico. Uma espécie de mania dc melhorar pnrccia ter dominado a
n a ç ã o S e m dúvida foi por isso que lohnson escolheu como sua epí­
grafe unta observação do influente banqueiro Êmile Péreire, "Le
crcdit, e ’cst lu eonilance", que liga os sentimentos às finanças.3* Uc
pvtidns vezes, o ensaio de fohnson recorre a linguagem du interesse
privado, c é. ccriamcmc. verdadeiro que a confiança, pelo menos em
pane. é filha du cálculo. Mus é um efeito que se torna uma causa.
Dizer, como lohnson f.i/, que durante os mios dc IMO os financistas,
os investidores, os industriais e os comerciante» francos» redefiniram
o que percebiam como sendo do interesse deles c convidar a uma
análise da motivação c dn conduta que vui alem do mero interesse
privado.
Certos historiadores, contudo, têm aperfeiçoado completa mente
as suas idéias simplistas sobre o primado da motivação autocentrudu
nu história. Mas muitos, mesmo entre eles. paru não falar dos outros,
acham irresistível o interesse privado. O que reforça o seu raciona-
lismo é sem dúvida encontrarem uma influência mais imperiosa do
interesse privado naquelas esferas que assomam mais no seu traba­
lho: na política e na ceunomia c. acima de tudo. naquela regido
amplo c limite onde n pulitieu c a economia misturam-se c fundem se
Os mundos do comércio e da indústria, da diplomacia c da guerra
são, nn maioria dos livros de história. selvas hcbbesiíinas. onde gin
dindones batem-se aberta c continuamente. Quanto mnis nltas us npos
tas em teimes do lucríis c poder, menos se oculta, aparentemente, a
doce de intereuse privado em nvõo E na nposuis nu verdade tuinun-x
muito allah. cm grande pune porque us recursos pelos quais os inte­
resses compelem sáo quase sempre escassos. Q interesse privado, o
historiador é levado a reconhecer, altera r.s coisas, mesmo quando
se mestra, no seu julgamento, mui concebido, vicioso e possivelmente
aurcdestruüvo.79
Qunlqucr que seja a política do historiador, n sua análise do inte­
resse privado Icm gcralniciiie algo de irônico, de ilusório neltr nume­
rosas vezes o interesse espreita, enquanto motivos torpes não reconhe­
cidos que aparecem cumo preocupações elevadas. Os sentimento» mo-
nifesinmenic morai» ou patrióticos nito podem afastar nn contrário,
estimulam — n curiosidade crítica do historiador a respeito do seu
cometido latente: a paixão por levar vantagem. Assim, na sua disseca­
ção celebre sobre os interesses que governavam os Pois du Pátria,
Charles liearei argum entou que o uivei elevado do debele n respeito
de um instrumento como n Constituição dos Estados Unido» era um
disfarce pura proteger investimentos "Diferentes uiveis c espécies de
propriedades existem inevitavelmente na sociedade moderna", afirmou
lleard: "doutrina* partidárias c 'princípios' ' — o llciml coloca “ptiu
cipios' entre aspas pjm subliithnr n sua dislnticin irônica em relação
aos heróis do folclore umcricruio — *'originam-se de sentimentos o
de pontos dc vista que a posse dc várius espécies de propriedades
cria nas mentes dus proprietários; divisões de classe e de grupo ba-
sendas nu propriedade estão na base do governo moderno; c a lei
política c a constitucional são inevitavelmente um reflexo destes inte­
resses em choque".*0
Oe forma muito semelhante, o dissidente radicai c historiador
alemão Eckarl Kchr descobriu lui mais dc meio século ns maquina­
ções dc interesses domésticos por trás da companha enérgica, desen­
cadeada na década dc 1891). para financiar o expansão da marinho
imperial. lisso programa ambicioso foi trnvestido na linguagem do pa
triotisriK), do orgulho pelo lugar da Alemanha ito mopn estratégico
c Ja preocupação com cs isfurços da Inglaterra para isolar o Império
Alemiio. Mas. Kelir acusou, cru nu verdade uma série ile manobras
sórdidas planejadas para ganhar dinheiro c influênciu. hr.inz Ncumann,
na trillin dc Kelir, resumiu o caso cm Rehttnoih, seu estudo influente
u respeito da Alemanha nazis In e de seus nnlçccdvmcs; o Império
Alemão fundado em 1871 foi um projeto imperialista qnc mebili/uu
suas forças ao expulsar os liberais da burocracia, ao transformar o
cxdiclto cm uma “furva rcadondrla" e, flnalnrenic. ao reconciliar os
interesses do "capital rural e do industrial“. Proprietários de terra
exigiam taxas alfandegárias pnrn melhorar n sua condição precária:
industriais exigiam um mercado livre para manter os matérias impor*
Inda» baratas c us salários bnixos. “'Dm acordo histó rico co n clu i
Ncumann. "acaba com u conflito. Os grupos industriais estavam im
pulsionundn uni grande program.i naval e os terratenentes, que antes
tinham sido hostis ou indiferentes, concordaram através do acu órgão
principal, o Partido Conservador Prussiano, cm votarem a favor du
orçamento naval cm troca do apoio dus industriais a laxas alfande­
gárias protcloras”:
Essa postura crftica não c de nenhuma forma nova paro os his­
toriadores: dois séculos antes, Kdward Gibbon teve o prazei in.li.v
farçávcl dc dctraAscarer os motivos ocultos dos estadistas romanos,
a íciu realidade político por trás du retórica constitucional.“ I sso gra­
tificação Icvemcnte lasciva, quase voyeurisin de descobrir o oculto
continua a desfrutar de uma prosperidade notnvel entre os his-tori.i
dores Não é por acidente que gostam dc ver o interesse privado,
uma vez que o tenham exibido, dç forma nua.** Ainda assim, apevir
de Ioda a fascinarão pclu inier esse privado, os historiadores ranime n-
te preocupam-se cm analisar u s ru estatuto psicológico ou investigar
a sua incidência real ru vida humant!
Prccisy siercsccnlur que, nessu questão crucial, os psicanulislas
lent sido de puuca valiu. lu t tint dos seus artigos soba* a psicologia
do ego. Heinz Hartmann enumera os '‘isfurços pclo que ê ‘útil’, o
egoísmo. a presunção" entre as “ futiçôcs du ego", e sugere de passa­
gem que são atividades importantes, especialmcnlc relevantes pat» os
cientistas sociais. Ele esté frlnndu n respeito da busco pelo intéresse
privado. Mas enquanto rcconhccc que "a importância dessns leiulin-
cins icm sitlo uni pouco negligenciada'. não faz iindR. sejn nesse .irri­
go ou cm outro, para repará-la.*1 ‘ Interesse'' ou "interesse privado“
ou mesmo “interesse do ego" não aparecem no índice remissivo da
antologia de artigos de Hartmann; tient a lit crut uni psicanulitic» reve­
la mais do que ztlgumas alusões pcríunctóriits àquilo que o liomcm
eoinum, u moralista, o cientista polilitu e o historiador — têm
tratado como o mais potente dus impulsos humanos. Em alguns dos
seus artigos metitpsicoldgicoc. Freud refere-se de forma easuial ao inte­
resse, e o liga, quase « identifica, ii libido ou ao investimento de
cncrgiiiK mentais, mas minea deu andamento u essa sugestão fértil.3’’
t) interesse ptisudo nSu tem sitio ulgo negligenciado. c o m o ub scisu u
Hartmann — tem sido total mente negligenciado
Lma exploração sobre como os historiadores podem legitima­
mente utilizar a idéia cie interesse privado c como os psicanalistas
podem contribuir para ela com os seus estudos dos impulsos c con­
flitos inconscientes está, portanto, por fazer hn muito tempo. Afinnl
de coiitns, como reçu rsu explicativo geral, o interesse privado é nutr
menlado por um dilema/” Definido de forma csireiiit. como ttititi
uduptaçüo piiranicntc rnciontil de meios paro atingir fins materiais,
seu úlcuncc é bastante restrito, pois lui muito poucas mlttplflções. sem
adulterações, desse tipo. De qiiitlqucr maneira, cálculos ,-t sangue-frio
que modelam ações são menus interessantes (e frequentemente a longo
prazo menos importantes) do que as paixões que, desde o início, pro­
duzem cálculos. Por outro lado. definido de uma formsi abrangente, o
interesse privado é pouen mais do que uma tautolugia; é, nc&Ui defi­
nição. tudo qnc os indivíduos ou os grupos afirmam ser, ou revelam
involuntariamente como sendo a partir de suas ações. Altruísmo ou
masoquismo, embora pareçam contrariar o interesse privado, são- nu
verdade exemplos disfot çudus dele. O preconceituoso que incita mas

44
sacrcs contra judeus, o mercador que maximiza os seus lucros, o saniu
que procura o martírio, lodos estão perseguindo o seu interesse pri­
vado. Assim, estender u interesse privado até um motivo universal
6 tomá-lo, enquanto diagnóstico, sem utilidade paru o historiador, qtie,
conto qualquer outro estudioso c analista das questões hunmuas, deve
discriminar se deseja explicar.
Pum começar com aa próprias superfícies da percepção, c no­
tei io que nem todo mundo percebe u seu verdadeiro interesse pri­
vado claramente; muitos sofrem daquilo que Leniu argumentou :i res­
peito da classe trabalhadora, deixados sem a liderança de uma dite
capuz, devem sofrer sempre de fulsa consciência. Homens — v mu­
lheres — podem estar cegos aos seus benefícios autênticos porque hn
muito habituaram-se à submissão e são mantidos afastados de apreen­
derem e persegui-los devido n "interesses” suficientemente ávidos em
monte-los de siuíor mudos c ptwsivos. Esses interesses, ccrlnmente, lôm
tudo a gauliar com a criação c n perpetuação da falsa consciência;
sejam homens que procuram persuadir as mulheres a permanecerem
domésticas e devotadas ou senhores que insinuam que u escravidão
é uma insliluição boa. A indústria publicitária está esseneialmente
construída cm (orno da intenção de despertar, ou de construir, dese­
jos que íinulmcnlc serão integrados nn estruturo social do coletiva
mente desejável, lunto com sociólogos e cientistas saciais, os histo-
rindores modernos aventuram-se u analisar essa espécie de manipu­
lação política, social c comercial. O que o psicanalista tem para ofe-
recet nessa exploração do interesse privado, genuíno ou artificial, é
explicar como os indivíduos c os grupos internalizam esses logrus c
os comum como sendo as. suas próprias idéias.
\ consciência falsj c a verdadeira são iguais, ceriamcntc. pnru
os olhos critico» e. pode-se esperar, imparciais do historiador; ele
está preocupado etn resistir :'i tentação de ser condescendente com us
seus objetos. Ao desejar que a classe operária seja rebelde, pode
Intncnlar "n danada dn falta de vonludc tios pobres". Mas o que os
homens pensaram como sendo os seus interesses, eoin sabedoria ou
com tolice, é uma informação histórico que ele não tem condições de
ignorar Charles Tilly. um estudioso dn ação coletiva na história euro­
péia moderna, sugeriu que o historiador deve "tratar as relações dc
produção como previscres sobre os interesses que as pessoas irão
perseguir, na média, e a longo prazo", mns no mesmo tempo, "basear-
se. tanto quanto fer possível, na própria articulação das pessoas a

95
rcspcilc» dos seus interesse» conto uniu cxplicrivio du acu comporiu-
mento n curto pr.vo*.” Ru acrescentaria que u historiador deve fnxci
ainda itirís: deve rasttear a percepção d«i interesse até as suas fontes
variadas e frequentemente cunflitivas.
Neste ponto, ccrtamcnlc. u historiador desloca-se pnra o domínio
que v psicunulislu transformou cm seu. Na extensão vm que OS his-
turiadores exploram desejos que, traduzidos rncioiialincnte cm planos
de ação. somam-se no interesse privado tlc indivíduos utt de grupos,
lidam cum manifestações conscientes. Mas esses programas otgnni-
zados de desejos são um resultado, o vetor de muitas forças, tanto
palpáveis quinto obscuras. Obviamente, são suficientemente fortes c
afastados de suas origens pata dcrroiur «i censura. Ainda assim, stifi-
cienietncntc próximos de seus genitores inconscientes, pennilem que
u historiador orientado pelj psicanálise descubra a sim árvore genea­
lógica. 13c furnin inevitável, o ego desempenha um papel dominante
no formaçio c nus formuluções dos interesses: disfarço, particulnrir.it.
orquestra sentimentos incompletos de necessidade até que amadure­
çam. clarifica equilo a que rcalmcntc equivalem, c planeja os meios
para atingir o« fins visados. Todos ns exemplos históricos que ofereci
incluem ações racionais com vistas a fins que envolvem planejamen­
tos, mobilizam n-curtov, antecipam rvtáclóncine. Reniizar vim inlctctw
6, cm mais tlc um aspecto, iimn atividade econômica; procura des­
pender a menor quantidade possível tle energia que obterá o resul­
tado mais favorável possível
Mus mesmo a cobiça polo our» esto longe de ser simples. Pode
set absoluta, uma obsessão como a que perseguia o velho Grundci
de Balznv; pode ser funcional, um meio peta facilitar o aquisição de
poder, arte ou amantes. Pode ser uni derivado de fixações unais de
retenção, um emblema de potência sexual, um triunfo edipiuno tardio
Pode manifestar-se iml ire lamento: b paixão pelo puder (cerniu os his­
toriadores argumentaram com frequência e rnzüo), pode ser um ins­
trumento para aquisição tle dinheiro que, por sua vez, pode grntifknr
uma variedade nmpla de necessidades, incltiindu a de aliviar 11 inv
gtistia. Uma vez analisado, o interesse privndo loma-se na verdade
muito complicado. e unia razão para n sua complexidade está nus
formas muilo peculiares em que o ego funciona como uni adversário
das puUõcs instinluiiis. O ego trabalha contra as exigências exccssivus
dclu* por umii descargo imediata, contra u sua iioihilidade em tolerai
postergação V1as tamltfm planeja para assegurar satisfação, se possível
um nível muis elevado do que aquele disponível par» o desejo primi­
tivo não atenuado. O interesse privado, parn colocá-lo numa. lingua­
gem psicannlilica. é u produto do principio da realidade a serviço,
enquanto o enfrenta, do princípio do prazer
0 psicanalista pode dizer mais ainda. Os desejos que resultam
no interesse privado podem ser instinluais ou deiensivos nn sua ori­
gem. Podem decorrer de pulxõcs eróticas uu agressivas que visam
alvos amorosos ou vitimas indefesas, podem constituir unia tentativa
de manter afastada a ansiedade — ou podem, cm proporções indefi­
nidas. decorrer de uma mistura de umbus. "Algum;** atitudes do ego,
que parecem sct instintuais". observou Oito Fenicbel. “servem, con­
tudo. u uma função defensiva. As exptcssòcs instinto' c ‘defeso’ sõo
relativas".*" Uma defesa, ern suma. é também um desejo. Procurar o
interesse privado inclui tanto obter como manter as gratificações.
lissn visão do interesse privado implica notoriamente uma inte­
ração contínua entre necessidade e controle. De funna muito seme­
lhante a um sintoma neurótico, o interesse privado á uma formação
de compromisso; e, como o ego, um interesse deve enfrentar três for­
ças gcrulmcnte hostis: o mundo externo (o depósito dos interesses cm
competição), o superego (qpc emite recordações desagradáveis de que
os outros também lèm reivindicações legítimas c dc que as próprias
são nu mínimo suspeitas), c o id (que gera incessantemcntc desejas).
I: per isso que n idéia de uni interesse privado totalmcnte racional,
percebido com clareza, e perseguido consislcnlemenlc, 6 em ampla
escala uma abstração. Contudo, não c unrm ficção. Servidores de uma
organização, como Reinhold Nicbuhr mostrou muitos anos atrás,
acham a procuni desapiedada dc vantagens por uma organização mui­
to menos problemática d<> que a sua própria; instituições como gran­
des empresas srtn lilcrulmcntc desalmadas, são máquinas pur.i realizar
interesses privados — embora mesmo essas máquinas, pelo menos
nesse uspeeco, demasiadamente humanas, lêem erroneamente as infor­
mações que Tcccbcm, entram cm pânico, c às ve/os também entrum
em colapso.
Tudo isso aponta para os domínios que o historiador precisa
conhecer mais — ;* extensão do interesse privado, o reeonhceiineato
e a reconciliação possível entre interesses coaflitivos. Os Joia estão
relacionados mas não são os mesmos. £ hastonte óbvio que os inte­
resses podem ser restritos ou nntplos. superficiais ou profundos, dc

47
curto ou longo pntzo. A mudança dc um desses modos para o outro,
puni expandir a percepção de alguém puro o seu "verdadeiro'' inte­
resse. pode ser a resposta a unin exigência moral, mus i objeto de
um cálculo: uma mudança que o psicanalista iluuiiu de passagem du
processo primai io de pensamento pum o secundário. Na virada paru
o século XIX, Icrciny Bcnthani tentou ate imaginar tint padrão de
medida, o seu difamadísximo cálculo du felicidade, que permitisse n
indivíduos, grupos e governos aumentar o rendimento geral de prazer
pela descobcrln das combinações de benefícios e malefícios que cadu
curso de ação poderia acarretar em pouca» palavras, pura servir
aos interesses de tudo» através da compreensão dos interesses de cada
um. Benihnm pixlc ter sido ingênuo. De fato, o seu esquema tem
recebido nomes mais severos do que esse. Ccrtnmcnlc. substancio a
mistURi dc utopisnio racionalisto que espreitava as suus esperanças
de unia ciência da sociedade. Segundo Bcnthani, ttnui pessoa poderia
calcular o valor do prtrzcr loti du dor) ao atentar para n sua imen­
sidade. sua duração, sua certeza, sua propinqüidadc, sua fccundidadc
c sua pureza, e, íinalinemc, para sua dimensão social: sua extensão.3*
O cálculo critica t> si mesmo; não lui nenhum modu fidedigno para
quantificar elementos individuais de prazer, nenhum modu racional

I
de comparados. E o» impulsos ocultos podem descarrilar, ou mesmo
estragar, uh planos mais cuidndoiamentc elaborado« Mjk n irlóin geral
de Benthnm era, acredito, hasUinte mzonvel. A indulgência ncgli
gente cm prazeres acarreta uma dor poslcriur, que a reflexão racio­
nal pode prever e possivelmente evitai. Ilctillium viu o homem como
uni animal governado pelo principio do prazer que poderia ser edu­
cado para obedecer iis iiijunções mais sóbnas do principio d» reali­
dade. Isso não era — certamcntc para Bcnthani — um convite puta
o ascetismo; ao contrário, cm um pedido para que sc dosasse u pra
zer cm benefíeiu de um ptrzer maior, e pnrn accitur algum despra/er
dc moda :i evitar um desprazer maior.
O cíikulo da felicidade dc Bentlum sugere que o que deveria
»cr a preocupação maior do historiador orienlndo pxicanaliticninenu
c u qualidade do teste de realidnde uinto em situações de quietude
como de efervescêncin, e o» mecanismos, consciente e inconsciente,
que TCgulnm o impulso pnra o ação. I n» poucas palavras, deveria clli.u
para u trabalho analítico, imegralivo c sintético du ego. para essas
capacidades que são pressionadas ao máximo pelas exigências que n
interesse privado puro impõe «obre elas São pressiomidns em larpn
r
98
nicdidn porque os interesses não expandem ou se contraem simples­
mente. Preqüentemente c dc fornia decisiva confliinm entrc si.
Um exemplo da prático ordinária podo esboçar .is ilimensões do
problema. Uni eonfljlo de interesses é umu experiência familiar para
um funciunáriu do governu que precisa epinar sobre o pedido das
empreiteiras c a qualidade do serviço uferecido. A sua lealdade prin­
cipal é p:tra euni u seu empregador, o Kslndo. mas o seu desejo priva­
do pede ser por um cargo cm um dos fornecedores que está ava
ILandc. Enquanto servidor público, sun obrigação ú a de ser desin­
teressado. de julgar sem medo ou favorcciuienlos; enquanto cidadão
privado, pode desejar simplesmente acumular riquezas. A situação é
despida de ambiguidades c o seu dever é duro, mas o seu apetite
ou sua ansiedade podem fazer com que » balança pese pnrn um Indo
ou paru o outro.
Ma superfície, cise dilema parece pertencer lulalmcnle ao domí­
nio da consciência moral. Mus suus raízes estão alojadas em uma
batalha cm grande parte ociillu entre desejos c inibições. O que túrmi
a falta dc cumprimento do dever impciatiYB. atraente ou mesmo con
tebívcl? Afinal de conlns. a necessidade dc dinheiro não c uma quan­
tidade fixa; o sentimento dc insegurança é altnuiente subjetivo. Esse
conflito privndu de interesses c utna batalha subterrânea entre o su­
perego cultural do funciunáriu, os vnloics do probidade c a objetivi­
dade com que c caucionado c o ego raciondl chcitando j perspectiva
<lc lucros, que. no final, podem anular as suas obrigações profissio­
nais. Tudo isso. é necessário recordar, tem componenles cm grande
parle inconscientes. O superego cultural do funcionário cavalga. por
assim dizer, o superego que clv formou quando era um menino; o
seu ego c um composto dc desejos c julgamentos, fantasias e refle­
xões, no qual o seu passado continua a desempenhar a sua parle
oculta. Qualquer que seja a decisão que finnlmentc tome, pode-se
esperar que ele pague u seu tributo ao conflito inconsciente sob a
fortnu dc dures dc cabeça, e, mais rara mente, dc uma noite insone.
Essa vinheta pode servir, cem as liberdades tomarias pelas idios­
sincrasias pessoais, como um modelo para interesses que se chocam
que todos os seres humanos precisam reconciliar, em parte abaixo
do limiar da consciência pensante, Ccriarncmc o próprio domínio dos
interesses humanos é umu fonte contínua dc hesitações c incertezas.
Atinai de contas, um ser humano c uma antologia dc ligações, c n
sun hierarquia dc importuneis iiün e sempre evidente Lealdades di­
versas (Ktdciii coexistir pacificaincuti lado 11 lado, crnboru tmnhêni
possam tomar-se causas dc decisões desagradáveis; pode-se ser uni
bom marido, um católico desolo, um apaixonado colecionador dc
selos, um mcilre no jugo dc bridge c uni soldado habilidoso, ludo ;to
mesmo tempo, sem ser forçada a escolher enire esses interesses -
ernboni suspeite que uma in teração fclir. assim represente n resolução
dc esforço» anteriores, o ajustamento .1 exigências cunflitivos dc tem­
po e atenção dc diversas pnixões. umti decisão p.ir.i imnleror as exi­
gências de nlgum prazeres em benefício de experimentai tndos eles.
Im a demonstração marcante tlc tais conflitos endêmicos dc in­
teresses está nas reivindicações incompmivcis do amor. Cottiu o ape-
iitc por dinheiro, a energia amoroso não tf uniu t|tiaiiiidade predeter­
minada. Mas isto c muito claro: c impossível atuar ludo c iodos com
o mesmo fervor. O nnrci&isla unta a si mesmo cm detrimento dos
outros: o marido exlrcmamcntc afc-içondo ii sua mulher » .mia cm
detrimento dc seus filhos: o chauvinista anui u acu pais em detri­
mento dc outros palies M.is nesses exemplos, o conflito já eslsi resol­
vido. ou colocado dc lado: o marido que ama a sua esposa a ponto
de negligenciar us seus filhos fez. uma escolha dc nenhuma forinit
consciente — entre os obictOs cm q u e investe a suu libido. Tais csco-
lhas podem gerar nado ulêm dc pontudas ocasionnis de um ciúme
monejávcl ou dc arrependimentos menores, uu pedem produzir ten­
sões severas, na pessoa uu na família. A psicanálise, cm suma. tem
ntuilu mnis a contribuir para u anatomia do in leres se privado do que
os psicanalistas têm reconhecido utê agora. Aqui está um Item exem­
plo de uma situação cm que os histuriodores podem pedir um auxí­
lio explicativo dos analistas maior do que o que lem sido iludo até
agora enthora não maior <!•> que aquele que poderiam dar.

in n
4
Razão, realidade,
psicanálise e o historiador

I . Dois m undos tensão

Por ludax as suas reverências às furçjs do irracional liberadas


no passado, o liii.iorindi.ir dificilmente escapa ii Impressão de que a
suu disciplina habita um território cstrilomentc separado daquele da
psicanálise. Os pontos onde se tocam, ao que parece, são pontos de
tensão. A psicanálise preocupa-se com paisagens de violações íaniii-
,'io<3n n tli« MxnniniUH mentais. de fantasius incontrotáveis c de sinto­
mas floreados, de sonhos, distorções e delírios. Parece apropriado que
o momento iiiuis heróico na carreira freudiana tivesse de ilustrar
simbolicamente esse ponto de vista aobtc a mente como tinia constru­
tora de ficções. Durante alguns anos. no infeio tios anus 1BÜU, Freud
avançou vagarosamente nu direção tlc uma psicologia abrangente so­
bre as neuroses. Ele fiava se, em grande parle, nas confissões cscan-
dulosas de suas pacientes; unta upós outra t cintava-lhe que hnvia sido
sctltirida nu infância pelo pai Mus no outono de 1897 Freud disse
:io seu amigo e único confidente, Wllhclm Fliess, que essa» estórias
tornaram-se inucreditávcis para ele. e que reconhecia que não snbiii
mais o que permanecia de pé na sua exploração ousada c solitária.
"Perdera-se", recordnva ninis turde. "a solo da realidade".1 O que
se hnvia ganho etn s-cti lugar era o solo da fantasio. Os pacientes elo
Freud haviam imaginado cm grande escalo esses assaltos ccmtctidus
pelos pais. e a compreensão freudiana da atividade imagiautivn deles
pôde dar à sua psicologia uma fundamentação teórica muito mais
extensa do que as revelações mais sensacionalistas que jr havia ofe­
recido. Foi sobre o sulo da fantasia que se construiu o edificio da
psicanálise

mi
I

IX.í inííK-w com muna naturalidade que a razão, a companheira


da realidade, não possn ser vista como alguém bem-vindo na situação
psicanalftica. Ao paciente no divã ordena-se que siga o único preceito
fundamental do tratamento: permitir que todas as associações tenham
livre acesso ft sua consciência e que as partilhe còm tão poucas revi­
sões ç correções quanto íor luimunumcntc possível. A regia fundn-
mciitíil deve ser lida como um insulto deliberado e provocativo ã
civilidade. Supõe-se que o paciente relata não apenas todas as triviu
lidades e obscenidades que os seres humanos sensatos gera Intente n i­
tram do seu discurso, c com freqticncia dos seus pensamentos, inns>
também as sinuosidade* mentais niiiis tihstudiis c menos consequentes.
Além do irijis. n transferencia, os sentimentos de ninur e ódio pelo
analista. cliciado* pela situução psicnnalítka. são cm lodos os seus
disfarces dcslucumcntus no tempo, de pessoa. e de sentimento. É como
se a psicanálise devesse desfazer-se da mais ulta aquisição do ego: a
capacidade para organizar c governar a mnssn desregrada de impulsos
c idéias que estão por baixo da superfície cln consciência humana.
Esta não é a paisagem mental com n qunl o historiador sente-se mais
confortável.
A incompatibilidade entre os mundos do psicanalista e do histo­
riador parece ter tâu mais gritante que qualquer pedido de reconci­
liação tem de soar utópico. Diferente do psicanalista, o historiador
lida com lenlidndes sólidas: escassez, de alimente aglomerações urba­
nas. inovações tecnológicas, territórios estratégicos, instituições reli­
giosas. Quando csiudu conflitos cm que o mente desempenha um pa­
pel — antagonismos uu cunflitos de eluve acha-os tão palpáveis,
ião materialistas, que chegam a ser quase tangíveis. O historiador
marxista, também, vive em um mundo :i luz do dia. firmemente deli­
mitado. li certo que o seu esquemn, no qual as classes c os indiví­
duos, ao procurarem sei vir apenas a si mesmos, servem inconsciente-
mente h astúcia dn históriri, assinala um espaça visível parn o fun­
cionamento de forças que operam por trás dos atores Vias confia
que poderá elucidar essas forças enquanto tlã especificidade à situa­
ção histórica concreta na qual esses atores devem atuar. Argumentei
que os, historiadores não tem sido negligentes a respeito de poderosos
irracionalidades no passado. Mas quando são impelidos u lidar com
o suhmundo sombrio de emoções escondidas e contraditórias, o pátio
de recreio favorito do psicanalista, fazem-no wm tuna itvcrsúo visí­
vel. e desviam-se «pós nlimcniarcm os seus leitores com ulguntar

I «->
obscrvuções emprestadas dit psicologia do senso comum. C significa­
tivo que n influente esctiki de historiadores franceses ngrupndn cm
tomo dn sua célebre revista, os Atmala, tenha ficado lolalmente
satisfeita com citações de seu psicólogo favorito Lucicn l;cbvrc, que
não era psicólogo, e tenha catalogado os estados mentais coletivos sob
o nome ressonante de tncnluiilát, sem se prvotupar em rastrear esses
estados até às sutis taínes nu mente inconsciente. ’ Os mundos do
historiador e do psicanalista mantêm-se separados.
I lã uma forma de reuni-los através dc uma pilada de filosofia no
ussinalar que uma fantasia ou um delfrio c umsi realidade pura aqueles
que os exp crie notam — ccrlainenlc Os indivíduo* agem .■ partir deles
Cume o sociólogo VV. I. Thomua observou urna ve?, em um aforismo
muito citado: "Se os homens definem situações como reais, elas sito
reais nas suns consequências". Essa definição ampla de realidade pode
soar como simplória, mas nfio 6 trivial. Sublinha a parle que o mis­
terioso c o inesperado desempenham nas questões Iiumanns; cia tenta
o historiador a parafmsuir o refrão inevitável dc Hamlct e dizer que
hú mais coisas no céu c na terra do que as que sáo sonhadas por
nossas histórias. Prcud, que certamcnlc conhecia bem Shakcspearc,
gostava dessas linhas, embora tenha escolhido, pura expressar □ sen­
timento, na pajavrn» de Leonardo dú Vincii a tiulurcza, escreveu, ‘está
cheia dc inúmeras cuusas que nunea ocorre rum nu experiência'.3 A
histeria dc conversão, na qual os afetos bloqueados e os desejos re­
cusados expressam-se através de sintomas físicos, é apenas a demons­
tração mais clnrn de que os sentimentos e desejos são Mificientememe
reais.
Temos uma oportunidade ampla, dentro c fora du psicanálise, para
apreender essas incontáveis causas em ação. O unulisandú, no pruciir.tr
que o sen ego auto-observador assista c às vexes antecipe o seu ana­
lista ao oferecer interpretações, e o historiador, que tenta afastar os
seus preconceitos e transcender às suas perspectivas grupais, procuram
dar sentido a atividades psicológicas ardilosas.4 Mas enquanto essa
promoção de eventos mentais obscuros a tenlidados internas compre­
ensíveis é impressionante, não é em si mesma suficiente, pois falha
em atingir o vasto arranjo de fatos objetivos e de condutas racionai»
que, juntos., são a principal ocupação do historiador As concepções
desenvolvidas por Frcud sobre os processos inconscientes parecem à
primeira vista bastante intransigentes, visando a frustrar iodos os
esforços de ecumenismo Nus suas profundezas, o domínio inconscieu-

lOâ
lç, como ele o descreve, c csitunhu u mordi o li lógica, reservado <
defensivo, com uma paixão terrível pela privacidade Freud estuv«
lolnliitciilc alento pnri» o (aito de que u sua teoria do inconsciente havia
despertado nu comunidade filosófica e científica um corto escândalo,
e durante leda a sua vida. enquanto udvugttdo enérgico da psicanálise,
nunca deixou do dcfendê-ln contra aqueles filósofos e psicólogos obs­
tinados c obtusos que persistiam em tornar a consciência igualada à
mente. Sua defesa era mnis do que uma nptidno defensivn Pura Freud.
como ele definiu numa metáfora uni pouco estranha, o inconsciente
é “a única lanterna itn escuridão da psicologia profunda".C erta men­
te, por vulto cie 1915, quando publicou o seu artigo mclnpsicológico
"U Inconsciente", adotou u concepção dc que as regiões inacessíveis
dn mente são mais numerosos, e sem dúvida mais iinpottaiites, do
que aquelas corn as quais estamos em contalu direto c ínlirno.8 Não
era o inconsciente, mas o consciência que era preeiso explicar.
O historiodor deve concordar que a consciência necessita dc uma
explicação. mos nno do maneiro que Frcutl pretendia dar. Sc Frcud
lupoii n sclinr que n própria existência da atividade consciente era
um pouco surpreendente. & provável que o historiador ficará Ião
surpreendido, c nõo menos frustrado, pela posição privilegiudu que a
iccria psicanalfticu confere nos processos mentnis mnis vtotárico« e
não comiinirmivut fnjslnulo c pronto pnra consultar outras escolas
psicológicas mais acessíveis. Mas :i psicanálise não é apenas o cslndo.
e muito menus a glurificnçnd. do inconseiente. Freud, é verdnde, viu
0 centro do inconsciente não upenas coma extraordinariamente pode­
roso. nuis também couto afaslndo do mundo; só os seus representantes,
ou derivadas, pedem vir h luz do diii. F.le linha certeza dc que alguém
somente pede abordar o id (que em 1920 chegou a chamar dc "parle
somhrtu. tnucessfvel dc nossu personalidade“) “através de analogias":
cie c os seus colegas analistas pensaram o id como "caótico, um cal­
deirão cheio dc excitações borbiillinnics".1 Mos dai nau se segue que
para Freud todos os eventos mentais que estão além dos olhos ob
scrvndnre? da consciência estão igtialmcme distantes dela ou relutantes
em sc expressarem. 11ó muita atividade mental, segundo ele, que esta
muito mais perto do uimpo de visão da consciéticin du que a que
í capar de set "trazida n kmbrançu" Além disso, mesmo essus ener­
gias que borbulham caoticamente no caldeirão devem peln sun natureza
forçar dc alguma forma um caminho pára a consciência. Seria um puro
unlioporruirfisniu rctrutá-las tomo clamando por expressão As itctcv

104
sidadcs somáticas do homem — fome, fadiga, luxuria — são surdas,
cegas « exigentes; <5 o seu porta-vo/. [>. teológico que chntrtB a atenção
uo exigirem, cm geral de foi ma pItumente específica, gratificação. As­
sim Fncud reconhece a pressão irresistível para o mundo que resulta
dos recessos mais secretos da psique. Os homens enganam a si mes­
mos e procuram conforto nos sonhos. Mas d .-impiamente nn lenlidnde
que a satisfação dev erá ser procurada e pctlc às vezes ser encontrado.

2. Â procura de representações

Freud também viu um movimento recíproco, da realidade para a


mente. Os estímulos físicos que penetram na psique, us injúrias
emocionuis feitas pelas figuras amadas. os problemas não resolvidos
postos pela sociedade, lodos aprcsenlam-se e devem ser dominados,
sujeitos a compromisso», adaptados ou negados. Estas forças externas,
cm cooperação ou em cunflitu coai os impulso» internos, modelam os
estilos funditmcninis eróticos e agressivos do indivíduo, suas escolhas
críticas, estratégias c fugas no amor. nos negócios e na guerra. Mesmo
o complexo de Edipo. como jü mostrei, deve sua história tanto às
oportunidade« oferecidas e is proibições que re-ullam rim nutros
como às pulsòes insümuais c às ansiedades. Em geral, o que aí ge­
rações atuais de psicanalistas vieram a chamar de “ relações objetais'
não são npenns fontes de perigo, de informação inadequada e d.
confusão, mas também, e significativamente, mestres da verdadeira
mundanidade. Do mesmo modo que a mente procura a realidade, a
realidade invade a mente.
O esboço psicannlilico da atividade mental, embora ancore fir­
memente a mente no mundo, dificilmente é ntraento. A mente humiinu
aparece nele como uma ditadura militar moderna, desconfiada nlém
do limite, viciada cm segredos, insaciável ent suas exigências, armada
uté 06 dentes, e não imiilo inteligente. Emprega batalhões de censores
para impedir que notícias locais vazem, e patrulhas n:i fronteira para
impedir que idéias hosti* cheguem ao alcance do seu povu c possivel­
mente o subvertam. Ainda assim, com froqüônc-ia, nem os censores
nem as patrulhas têm a iutcligêncin ou a agilidade paru desempenhar
adequadamente os suas tarefas. Especial mente á noite, mas também cm
momentos em que a guarda está baixa dtiramc o dia, mensagens.
disfnrçuduK como sonhos, lapsos de fnla ou sintomas neuróticos escn-
pam: c as percepções, disfarçadas em roupagens inocentes, adentram.
Cornudo, ambas pagam um preço pela sua penetração intrépida através
de fronteiros defendidos energicamente: são em grande parle distOTçl-
dus, traduzidas irnivoehamcnie, algumas vc/.cs deformadas ao pomo
de não terem mais salvação. No mínimo são pesadamente mascaradas,
de forma semelhante à dos libertinos de um caninval cin Veneza. que
só são reconhecidos (se o forem de algum modo) pelo intérprete trei­
nado c sensível. Ma v erdade, foi somente depois que Prcud des­
cobriu que essas mensagens <tw»í mensagens que se começou u
decifrá-las sistematicamente, apenas quando cie entendeu as injúrias
que us percepções sofriam nas mãos das defesas mentais que estabe­
lecemos com confiança e a sua relação desvianie c obliqua cm relação
à realidade.
Pior do que ser somente sem atrativos, essa realidade é uma
noile dc Valpúrgia, deprimente, obscena c enganosa, onde nada é o
que parece scr. Só pode repelir o historiador cujo personagem, não
importa quão vilão, vive geralmente de acordo com o código legível
dos motivos egoístas ou das pressões claras da necessidade mundana
As atividades mentais. valorizadas por Preud, soam suficiçntcmcnle
desconfortáveis conto desvarios dc psicóticos ou balbucio* de crianças
pequenas.
A literatura psicanalúica diariamente enriquece essa triste conta.
O inconsciente da teoria freudiana, que não foi questionado pelos
seus sucessores, é utn depósito bastante desarrumado que guarda
materiais infantis voláteis que nunca peneiraram na consciência, c
muitas outras coisas dc safra recente ou antiga. Inclui explosivos coirtu
os desejos eróticos c as prescrições murais, as fantasias sexuais mais
selvagens c us autoreprovuções mais severas. Uma vez que o incons­
ciente não tem sentido de ordem, guarda de vez em quando pensa­
mentos contraditório* uni no lado do ciilro; dado que não tem o sen­
tido do tempo, os resíduos infantis sito tão novos como os acréscimos
feitos untem. E grande parte dos resíduos são, nu verdade, muito
infantis. * As teorias freudianas das neuroses e dos sonhos podem ser
lidas coma explicações dessa asserção. As neuroses adultas são retomas
posteriores e nltnnicnte distorcidos de questões emocionais não resol­
vidas, c os sonhos são produções cuja origem última pode scr ruslreado
até os desejos infantis. Mas sc o grande amante está apenas seduzindo
a sua mãe repetidamente, sc o valentão musculoso testa ctcmamcntc
a sua pequena masculinidade pré-púbere, se o cientista racional acha-

106
se assaltado por superstições que preservou intactas desde os estágios
mais primitivos da sua organização mental — ou mais dlretaroente
ainda: se os políticos gratificam apenas ns suas próprias fantasias in­
fantis enquanto suscitam estas cm outros, então n história não c nada
alem dc umrr regressão infinita, cruel, com uma extensão interminável,
onde pequenos meninos c meninas envelhecidos jogam nova c sole-
nemenle os jogos dos primeiros anos. * Renlidnde e razão, nesse pesa­
delo freudiano, parecem ser eonlinuamente filtradas por camadas
quase impenetráveis de memórias não fidedignas c, mais injidioíomen-
tc, por material recalcado, listas, mais uma vez. seguramente não sãu
us realidades, ornamente não as realidades principais, que o historiador
encontra e deseja recontar e explicar.
A psicanálise tem uma réplica favorita para o célico que procura
desacreditar o seu reducionisinu através da exemplificação das glórias
d» arte c das sutilezas da filosofia: o fruto, dirão, não se assemelha às
suas raízes; jardineiros dedicados não cuidam menos dc suas adoráveis
flores porque crescem no estrume. C verdade que há um axioma freu­
diano segundo o qual o artista, o estndisln — qualquer adulto — ear-
rega para sempre, à sua volta, as suns necessidades e terrores infantis,
c que o caráter não é muito mais do que um agrupamento organizado
dc fixações. Mus isso não implica de forma alguma que o psicanalista
considere a descoberta das origens remotas como o equivalente dc uma
explicação exaustiva em psicanálise ou. no caso cm questão, em his­
tória . Pois está consciente de que a realidade externa, cada vez mais,
coloca-se se longo da trilha que leva à maturidade.10
Mesmo nus sonhos c nas psicoses, onde os poderes da razão e da
realidade são débeis e as suas faces encobertas, estes tcin umu auto­
ridade surpreendente. De fato, foi precisamente na vida noturna da
psique, seja na quietude da cama ou cm um hospital para doentes
mentais, que Frcud e seus colegas analistas descobriram a presença
insuspeita de nmbos. Na pesquisa exaustiva e competente sobre a
literatura científica com a qual principia o seu trabalho magistral so­
bre a interpretação dos sonhos, Freud assinala que muitos dos inves­
tigadores iniciais tinham visto pouco ou nada sobre o conteúdo objetivo
do sonho; haviam-no, ao contrário, considerado como uma produção
mental dc urna espécie inferior, guardando uma pequena relação com
os eventos externos c não recebendo qualquer auxílio dos poderes
imeleeluais mais elevados du homem. Os intérpretes oníricos, que. ao
contrário, haviam afirmado que os sonhos tinham um significado.

107
invariavelmente recorriam mo que o d e n Itua deve reconhecer como
pcctilial à "rcn lid ad e" d a lu p c r s tif io , na qual O sonho torna-se um
mensageiro sobrenatural ou um ugtnie profelito misterioso, A própria
teoria freudiana dos sonhos era. sem dúvida. decisivimcntc diferente
Partilhava dn convicção da empregada domestica mais analfabeta, que
acredita que os sonhos na verdade létn sentido, nuis achou-o no mundo
n atu ral c, ent particular, iro cruuntru entre o sonhador com as suas
próprias paixões e t» seu meiu imvdiuto, 1
\ leuria psicuiudílicu dos sonhos c dem a&iadam ente conhecida
para requerer umn discussão extensa: u sonliu manifesto — o sonho
que n pessoa ronha e do qual se recorda pardalrnenle au despertar
drama ti ru. de umn forma nlinnicnlc distorcido, um desejo oculto que
foi corrigido drasticamente de m odo n fortnr-sc a censura. Isso — o
núcleo dn teoria freudiana — mio me interessa aqui. Onero enfatizar
conlutlo, n sua lese de que os pensamentos latentes do sonho encon­
tram um lugar no sonho manifesto apenas através da utilização de
maicrinis acentos, quase insignificantes, retirados da vida comum de
quem sonha, qunsc invariavelmente elo din anterior. São os ''resíduos
do diet", que ligam os desejos mais distantes ao passado mais ime­
diato, mais “real".1'
A utilidade utiica dos resíduos diurnos c patente: são os melo»
através dos quais os pensamentos proibidos e os desejos recalcados
iluJeiu o censor; a sun utilização de memórias recentes e indiferentes
é um recurso político pura assegurar u difusão de idéias que são tudo
menos indiferentes. Mas os resíduos diurnos têm uma importância tiiiuin
maior: evidenciam o que foi habilmente denominado de procura mcntnl
por material representational.13 A mente humana não é nem tun atleta
nem um mhtico: mio pode saltar ginndes distâncias ou prescindir de
modos realistas de expressão. Suas inversões mais brilhantes « os seus
saltos mnis acrobúlicos testemunham, «través da análise, uma progres­
são solene, vagarosa ao longo de uma cadeia associativa firmemente
soldada — umn cadeia em largn medida invisível apenas porque ulpuns
ilj* seus elos cítfiu recalcados. Suas invenções mais bizarras naio são
lolidrnciilc tlerivadus du inuigitutvüo; são versões c fragm entos de
experiências. As aulo-rcvclnçãcs repentinas c dramáticas do incons­
ciente são ilusões: o inconsciente progride metodicamente desde ns
profundezas até n luz diurna da consciÊnein. e usa. com umn menção
pedante pelo detalhe, os materiais mentais comuns que colhe ao longo
do caminho Mais de tuna vei. Freud definiu os neuróticos como

108
aqueles que, por acharem o mundo insuportável, desvinnt-se da rea­
lidade.'* Mas estão lyngc dc desdenhar a realidade no se afastarem
dclu: não imporia quão desfigurado, quão irreconhecível. o mundo está
sempre presente neles.
O inundo está presente «té nos psicóticos, cuja fuga dn realidade
é muito mais nrrebalndu. Daniel Paul Schreher. o manual clássico do
patanúico, fiiosra com eloquência essa interação indireta. No seu
memorando exaustivo, uni pedido para ser libertado da instituição
mental em que eslava confinado, Schrebcr desenvolveu uma intrincada
teoria sobre o universo, completada com urna teologia madura, uma
missão messiânica que requeri» que ele sofresse uma ininsformação
sexual radical, e instrumentos engenhosos de loriurti nus quais tinliri
sido obrigado a se submeter. Apenas u aglutinação da língua alemã
pode faner justiça às suas invenções kafkianas; um testemunho disso
é a máquina miraculosa planejado por Schrebcr para manter u
sua cabeça conectada, n Kopjzuianvnenscfiniirungimajcftiite. Nada po­
derio parecer mais afastado dn vidn mal du que isso. Ainda assim,
u investigação psicannlilicu do apelo revela que o sou sistema religioso
c aquelas maquinas aterradoras repercutem os experiências infantis de
Sciireber.10 Seu pai, um ortopedista c na época urna celebridade, tem
sido elmuiodo de “reformador social, médico e pedagógico”: '* cm
outras palavras, era um excêntrico culto e um educador neurótico que
regularmente colocava o seu filho, Daniel Paul, e seus outros filhos,
cm aparelhos mcefinicos planejados paro melhorar a postura infantil.
Quando se compara a petição por livramento dc Schrebcr, ccmplcU-
menie insana, de urna lógica espantos anienle comovente c superlativa
com os tratados ilustrados graficamente de sou pai, fica-se menos
impressionado com a inventividade de Schreher c mais com a enge-
nhosidade de sua mente pnra incorporar c reconstruir todas as suas
atribulações, excessivamcnlc reais, em uma IVetlanxchaming coerente,
embora irracional. Schreher imaginou Vclutivaniente pouco: contudo,
distorceu quase tudo, com frequência apenas levemente.
0 modo dc proceder de Schrebcr está longe do sor ineomum
entre os pacientes de hospitais mentais. Os tributos quo os psicóticos
pagam à realidade, e para os quais Freud forneceu explicações impor­
tantes tanto teórica como clinicamente, estão suficientemente documen­
tados na literatura psiquiátrica. Assim, “pouco depois da Segunda
Guerra Mundial", August Hollingshend c Frederick Redlich relataram
que “alguns pacientes japoneses mudaram os seus delírios paranóicos

109
tk: scicnn □ imperador Uirchiio pura serem o general VlacArlhiir V
Fssa importância patética, au que parece, é comurn. Aqueles japo­
neses megalomaníacos, au csculherom para suas p.-rsonificaçócs deli­
rantes um conquistador americano que rcalmenie havia vencido u seu
próprio unperadoi divino testemunham dc forma impressiunanlc u
realismo invulgar, a completa racionalidade com ipie os loucos podem
"escolher" as formas que os seus sintomas tomarão.
Ccrtumentc. o peso que o neurótico confere ao desprezo sofrido
ou o estatuto que u psicótico dá as vozes ipie ouve nfio podem so­
briamente ser Juuiiaiks- dc realista*. Ainda assim, deverin estar claro
agora que as vidas mentais dos neuróticos c dos psicóticos são tape­
çarias que. embora torci d n . dcsculoi idas, sãu remendadas com uniu
costura inábil e retraiam cenas fantásticas, tecidas com fibras signi­
ficativas tiradas ila vida, de despreze* ç dc vozes reais. Seja demente,
neurótica ou esteja apenas adoimccida, a menie humana necessita c
avidamente procura representações renlistas que favoreçam a visibi­
lidade. a precisão e a nitidez pictórica, enquanto corpotificnções dc
seus impulsos e unsiedades c encontra o que precisa nns suas
vizinhanças imediutus. As pessoas lomnm-sc neuróticas, ou loucas, em
uma situação específica. Nunca são assaltados por alguma neurose ge­
ral ou fobia indefinida, mas tecem seus sintomas a partir de histórias
ouvidas, Incidentes vistos, ansiedades sentidas, todas expressas atra­
vés de um vocabulário pictórico c verbal que pnrlilhnm com cs seus
contemporâneos ronis afortunados. E tanto o situação como o voca­
bulário são o ingresso do historiador para entrar no mundo psica-
ruilitico.
0 que c verdadeiro paru os neuróticos e os psicóticos necessmia-
meute é ainda mais verdadeiro para aqueles cuja relação com o seu
meio humano 6 menos perturbada, ou seja, menos distorcido. Knquorco
as habilidades motoras e as capacidades mentais d» criança (lesctl-
volvcni-sc, ela passa, segundo a formulação freudiana sucinta, cio
princípio do prazer pura o ptincípio da realidade Ntt início. Freud
postulou que a criança procura satisfação ao alucinnr os seus desejos
imperativos. No começo, ignorante, e mais tarde, incerta sobre os
limites que a separam do mundo. «, por muito tempo, ineupuz de
diícrcnciaT entre pensamentos t atos, c levada a descobrir, através
dc desapontamentos dolorosos c repetidos, que us> desejos não >c tra­
duzem automaticamente em realidade e que a auto-suficiência menlul
é uma ilusão Assim, grodunlmunte e através de numerosas retrocessos.

110
o nparcihu psicológico «In criança decide per fim ver o mundo externo
como de é rcalmenlc, e com isso tentar realizai os seus desejas através
da modificação daquele Aqui. como em outros lugnres, Freud subs­
creveu a máxima baconiana dc que conheci mento c poder. A longo
prnzo v melhor enfrentar verdades desugrudÚYU* do que gozar ilusões
agradáveis. Esta «3 a lição dada pelo principio da realidade que n
criança aprende com tanta relutância. Kão é tle admirar que muitos
adultos recorram à auto-ilusão.
O animal humano não amadurece através dc um desdobramento
suave c coordenado de suas potencialidades. .Muito ac contrário, as
linhas tle seu desenvolvimento emocional e intelectual cslslu defasadas
da maneira muis problemática possível; em especial. us pulsões sexuais
resistem em abandonar o principio do p ra z e r .A in d a nssim. finnl-
nienle podem assimilar o mundo externo com seus recursos montais e
ffsicos completos, uma adaptação comprometida apenas pelas coerções
impostas pela sua neurose. Seus desejos sexuais, no início timamente
auto-eróticos c que então se organizam em torno do amor narcisista,
desviam suns intenções amorosas do sei] c procuram satisfação com e
através dos outros; ao desabrocharem os seus poderes de atenção,
juízo, recordação, pensamento — um ensaio prático para n ação —
exibem lodos u sua ligação crescente com unia apreensão racional da
rcalidude. Talvez o mais impressionante: ao desenvolver todas essas
capacidades, o piincipio da realidade ensina :i criança 3 pospor ns
gratificações A educação npóia essa busca pelo real íio postular ob­
jetivos c ao estabelecer limites, ao impor um reconhecimento compul­
sório dos outros: á “um incitamento*'. como Freud colocou literal-
mente, n vencer o princípio do prazer. Mesmo a arte, o refúgio hábil
dn realidade, retorna ac» oferecer timn nova visão da própria realidade.
Freud escreve que o srtislo "modelará suas fantasias cm novas espé­
cies dc verdades que encontram abrigo entre os homens enquanto
reflexões valiosas sobre n realidade".31
O historiador não tem ticnhumu razão para ser sentimental. mais
do que Freud teria, a respeito desses pequenos triunfos. Nunca são
puros mas sempre comprometidos por fracassos parciais. A experiência
dos historiadores com essas imperfeições inevitáveis sfio mais agudas
no seu próprio Irobulho; colecam-sc os ideuis recomendáveis dc obje­
tividade. imparcialidade c emputia. mas sabem que nunca pode tu atin­
gi-los. mais do que a psicanálise chega n realizar totalmcmc o sei: ideal,
a passou completamente analisada Além disso, as realidades que o
indivíduo toma como suas podem ser terríveis como podem ser as
razões que O levam a assimila-la* desde o início. A resolução do
complexo de Edipu está, como sabemos, lidada às ameaças (ou pelo
menos ao tticdo) de castração l’ior. umu apreensão cuidadosa da
realidade externa pode ger.ir táticas problemáticas assim como pro­
blemas cti-eos. Os prnzeres, como argumentou Heinz Hnrlmann. *ãu
"guardados para a criança que se conforma às exigências da realidade
c da socialização; mas estão igualmeme disponíveis sc esse conformis­
mo significa a aceitação pclu criança de pontos de vista errôneos c dis­
torcidos que os pais têm a respeito da realidade”.*' A criança na sua
situação domestica normalmente trocará os prnzeres da ação indepen
dente « do conhecimento ac u ra d o por aqueles que os pais prezam e
tem aceitação social; o filho de país preconceituosos descobre que é
recompensador crescer como um preconceituoso; o filho dc autoritá
rios crescerá como um conformista. Não ú dc sc espantar que Frcud
fosse um pessimista. Ele endossaria a observação de T. S. Eliol de
que a humanidade suporta apenas um pouco de realidade.
Dar aos pequenos sonhadores um pouco de juízo sobre os prazeres
maculados |>elo conhecimento mundano é em larga medida o trabalhe
do ego. O procedimento tpte as crianças desenvolvem enquanto cir­
culam em tomo. c cada vez mnis próximos, do principio da realidade
i o que Frcud chamou dc "teste dn realidade”, a construção dc juízos
imparciais que diferenciam fantasias de realidades ac cumparur as
idéias com as percepções — ao separar o que se deseja daquilo que
sc vi, ao set capuz dc \>cr o que sc vê, em suma, cm aceitar o universo.
Foi na sua últim a grande fase, durante a década dc 1920, que Frcud
dirigiu a .sua atenção paru a instituição que realizo esse leste. O ego
reage ao mundo externo, c sen agente c representante nn mente e às
vezes o seu mestre. F. a bate da razão. Mas realidade c razão são
amigos intimo« sem serem companheiros inseparáveis: o raciocínio
matemático ou a meditação lógica, que estão no ápice da atividade
racional, frcqüentcntente leram pouco em conta, ou nada, j cxpcrièn
etu; tecem padrões afastados dc» inundo. Mas, na sua maior parte,
n racionalidade desempenha u tarefa tle confrontar realidades de utn.i
maneira que não é feita p elo pensamento irracional- ohedeccr á evi
tléncia empírica, acatar as pistas objetivas, corrigir convicções. E na
sua mediação, conirolt. cálculo, uma atividade frequentemente ponde-
rada e sempre conturbada, que o ego fornece sua lista dc materiais
pjra o historiador Ouuivdo eti disse que os historiadores sentem-se
a vontade com as realidades tose«, é imo o que quero dizer: quando
lidam com <i mente, lidam piincipulmcnte com as funções egóicjis —
com o reconhecimento linmnnu de uma necessidade incscnpúvcl, com
os seus esforços propositais para adequar o meio aos seus desejos
com fazer as coisas em obediência às possibilidades impostas pcln
pressão do mundo sobre ele.
Portanto d importante ter cloro o que implica e o que não im-
plicn uma psicologia do ego psicanalítica. O seu nome d cm alguns
sentidos infeliz. Psicologia do ego não faz jus ao realismo sombrio
de Freud; não é de modo ulgum psicanálise sem psicanálise. Em«
bora considere o íuncionomcnto da razão como o seu domínio, a psi­
cologia du ego não se limita de nenhuma forma à ra/üo. Os estro
la geram defensivos — projeção, recalque, formação reativa, e outros
são funções egóicas quase lolalincnlc inconscientes c não racio­
nais. Assim como Freud nunca tomou como equivalentes "mental" e
"consciente", também não tomou como tais "normal" e * racional*. ■**
Isto somente sublinha o pomo de que as pesquisas dos psicólogos du
egu articulam-se cora u resto da investigação psicunalitica pnra traba­
lhar nn direção de uma teoria abrangente da mente. Não posso deixar
nunca de enfatizar te isto é importante paru u historiador) que Freud,
o médico e, mais ainda, o cientista, objetivou desde o inicio uma
psicotcgi» geral. Que ns mus teorias tenham se originado dos seus
encontros clínicos com uma diversidade variegada de neuróticos foi
um acidente histórico que. ele torfinvn. não deveria obscurecer o seu
acesso às leis que governnm o funcionamento normal

3. Urna escala de adequação

A ambição dominunte de Freud. ligada ao seu modelo desenvol-


vimcnlistii do conflito c ã siri insistência cm detectar componentes
neuróticos ocultos no mais frio dos cálculos, coloca cm sérias dúvidas
a percepção convencional de conto as suns idéias podem servir para
a investigação histórica. Poderia parecer que o senso comum dita unia
cacaln de ndcquaçãu: no esfera da racionalidade, n psicanálise deveria
permanecer muda. lim relação nos sentimentos c às condutas não
racionais, n vasta região de hábitos sociais e culturais que chamamos
de costume ou tradição, ela teria idéias esclarecedoras para contribuir,
dividindo os honms de umu disciplina auxiliar com a antropologia c u

in
sociologia. Portanto, Fietid estaria nc seu meio próprio pnnciprlnunu
com a irracionalidade, impondo um monopólio virtual dc competência
explicativa.
Mus aqui, como« tnu I requente. c senso comum crio. Os plica-
iialislas dcclnrnm com firmeza a sua competência cm explicar a
racionalidade, não apenas porque a veem emaranhada eoniiniumente
com o nau racional mas. acima de tudo. com ns fontes m acionais da
ação; também devido íio seu interesse nu íuncionamcntn do ego que
objetiva lumnt u liuinnnidiulc mcsirn du nutiinr/a c de si mesma. Nh
vcrdule. Freud cm 191+ repudiou, de fôrma vtificienlemente signifi-
caliva quando falava sobre aquela paixão Ifio interessante psicanuli-
liettmente, a da cobiça pelo lucro: "Ksptramos de pessoas normais ,
escreveu, "que mantenham u sua rciaçun com o dinheiro tolalmente
livres dc influencias liliidinais e a regulem per considerações n\ili>
ras". “ Isso d um fator revigorante e estratégico tle modéstia, mas,
corno n teoria psicanulítice poderia ler ensinado n Freud. as idéias
mais sensíveis c o comportamento dc "pessoa» norm ais', quaisquer
que sejam, são mui lo mais parecidos com sonhos manifestos ou sin­
tomas neuróticos: formações dc cumprotnisso compostas dc desejos
arcaicos e resíduos diurnos, gestos impulsivos c estratagemas ponde­
rados. Que medida de racionalidade liistõricu dá-se u certos atos
históricos - Napoleão invadindo a Rússia em 1812 ou a Inglaletra
abaiidonjindo c> padrão ouro cm 1951 — deve depender do ponio tle
visin a puilit do qual £ feito o jtilgaincnto sobre eles: se n partir du
percepção imediata do agente ou de seus objetivos a longo prazo, se
a paTtir do impacto que o seu ato causará no seu círculo intimo uu
em campos mais vastos de implicação, conto a sceiedude ou a
posteridade
litMTC o$ muitos exemplo» que ilustram u lug.tr problemático da
racionalidade na ação htitnnna. citarei apenas o do comerciante obse­
dado dc Max Weber. Essa própria encarnação tia ética protestante
penso apenns no seu negócio e cm ganliui dinheiro: não pode dar a si
mesmo um descanso, tnuilo menos apcsenlm-se.:k Na versão tle» sé
exilo XX, esse tipo tnuilo citado goea de um lugar privilegiado no
fulcbrv do masoquismo cupitulislu £ encontrado na literatura sobre
o burguês que pune a si mesmo enquanto gerente obsessivo cuja
conduta nu escritório ou na fábrica é impecavelmente controlada,
ainda que simples e gentil, mas cujas horas longas c intensos dc
uakilho são pontuadas com ansiedade c cujo vida privado é prova-

i i.i
vclmente, no mínimo. deínsltosn. Oprimido por úlceras, isolado por
:odn a sua sociabilidade compulsiva, sem amigos u»s momentos em
que sofre reveses, rieu g miserável. írcqiktitemcnlc serviu como prova
da desumanidade do capitalismo, mesmo pura os seus beneficiários.
Embora essa tendência moralizame realmente não nvance na aná­
lise do cenário emocional unde lais ações presumivelmente racionais
são desempenhadas, aponte para a sua natureza complexa. Cetinmeutc.
"racionalidade” í urn nome geral, demasiadantente indcLetininado, pato
discriminar entre operações mentais divergentes que se pretendem
descrever; a distinção clássica entre Zivedcrationaliiü/ c Wertrallona-
liiii! jtelo menos começa :i estabelecer diferenças salutares. A primeira.
racionalidade com vistas a propósitos, concentra-se exclusivamento na
adaptação dos meios ao fim, a aplicação de qualquer conhecimento
ou informação disponível pura Tesulvcr um problema ou realiznr um
desejo. Um ladrão de bancos que carrega o conjunlo mais avançado
de ferramentas c toma as mais euidudttsjs precauções está exercendo a
sim racional idade com vistas a propósitos n.i sua iorm.i mais pura. I5i>
mesmo inodu o diplomata que us luta mente engana seu par durante
negociações no oferecer concessões altissonantes mas varies. Atividades
como essas convidam a uma avaliação interna, técnica, preocupada
exclusivamente com os padrões que governam o oficio em questão:
arrombamento, diplomacia. Ttd avaliação não oferece ponto de jpoiu
para explicações psiciuiuliticas, mas é também, c do mesmo modo,
indiferente a Iodas as outras espécies de apuração externa, sejam
sociológicas, econômicas, políticas ou éticas. Os únicos julgamentos
relevantes para avaliar a racionalidade com vistas a propósitos são se
as intenções do «gente têm unia oportunidade razoável dc scr coroa­
das dc sucesso ou sc foram atingidas na sua execução.
Ê quando u historiador coincça a ciivolvcr-sc com as intenções
cm si mesmas, entrando assim no ictreno da racionalidade cum vislas
a vafores, que a psicanálise adquire uma função mais visivelmente
explicativa 1’ois os valores que as intenções eorporifioam perlem cm
si mesmos não ser lotai mente racionais. £ bastante óbvio que a con­
duta do negociante vvebetinno é simultaneamente racional, não racional
c itracional. É racional cm seus métodos: persegue, lucidnmcntc, com
todos os recursos à sua disposição, fins que não acha necessário
questionar, Ê tiâc racional cm seus objetivos: falha cm examinar os
seus fins em grande parle porque eles reativam hábitos c imitam
escolhas de outros que ele admira, f irracional nus suas origens: a
simplicidade tnnntica da seu planejamento. que o cega para as con­
sequências delas nié para si mesmo, pode somente se originar de
necessidades c ansiedades que escapam a qualquer consciência de si
que possa ler. O fracasso da sua razão cm jusiificar-sc. oculto poi
irás dc uma exibição ostensiva dc esquemas observados e alvos atin­
gidos, é apenas inuscurado pelo uplausu dus seus pares. A aprovação
deles, é um sinlumsi cultural. Ü q u e ocorreu (0, de acordo com Max
Weber, tinha de ocorrer nos dura tio capitalismo maduro) é que. ao
isolar a sua tiiça por lucros c poder do resto dn sua economia mentrd.
ele contaminou as suas percepções e corrompeu os seus ideais. O que
sc exibe como racional pode ser prufumlamente irracional. O psien
nnlistn pode- dissolver esse paradoxo aparente: endn uma das institui
ções fundamentais da mente — id, ego, superego — tem objetivos
própiios que muitas vezes, com dcntasitidn frcqiidiicin. miram em
conflito com os ubjelivos das outras. O velho lugar-comum psicaiia-
lilico, o ego c o inimigo do id. simplifica cm excesso uma cena
com plexa de combale na ipial as alianças se m odificam , os confrontos
aumentam c diminuem. 'r ‘ Muito da história pessoal é a somatória dc
tais conflitos.
A esfera não racional, pur sua vez. aprcscniu no historiador um
número muito mimo tlc enigmas intelectuais e um pedido muito mais
premente pnra n utilização do psicnnnlisfn. Os homens na maior parle
da sua vida. agem a partir dc pistas familiares t oricntnm-se por
iudicíidurcb habituais. Não criam e raramente luodificam o seu mundo,
e ocupam estruturas — morais, religiosas, legais — que conservam c
preservam u que tem sido Rsses ■'nulomaitisimis" culturais, para to­
mar emprestado um termo dc Heinz Harirrumn. dispensam o pensa
mento de muita fadiga. De uma maneira que não surpreenderá o
psicanalista. essas soluções socinis paro problcmns individuais tomam
u vida mais fácil. As pulsôcs. afinal dc contas, comu Frcud sustentou
consistcmeinente. sito conservadoras por sua própria natureza: mudan­
ça. mesmo para melhor, 6 propensa a suscitar ansiedade. O costume
c u trudivão. essas repetições organizadas, cvm j sua monotonia
tranquilizante. suu recusa axiumntica cm examinar as suas origens c
questionar as sutis operações, amerizam e moderam as ansiedades.
Km si mesmos, os hiibitos institucionalizados oferecem ao histu-
rindor um setn-íiin de materiais interessantes; desafiados pela insatis­
fação c pela inovação, tornam-se ainda mais interessantes. Muito seme
lhante ac que ocorre com o comportamento racional. o governado peio

116
costume pede para scr julgado, a partir de um contexto especifico,
at ui vês de experiências convictas. O que é adaplativo pota uma pes­
soa. uma classe, uma época, pode nâo ser pura outras pessoas, outras
classes, outros épocas. Em tempos dc insurreição, u recusa cm reformin'
estilos de pensamento e padrões dc autoridade pode favorecer o pânico
ou a mivn. v pode gerar, mais do que controlar ou resolver, conflitos
Durante esses momentos alegres c assustadores, que o historiador há
muito considcm tão absorvente», momentos quando u conjunto dos
costumes começa a se desagregar, o nãu-rucionnl projeta a sua sombra,
e c frequentemente superado pelo irracional. É aqui que as oportu­
nidades dc desempenho paru os psicanalistas enquanto especialistas
têm sido reconhecidas (pelo menos, por alguns historiadores) como
sendo quase ilimitadas. Afinal de contas, foi na irracionnlidudc coletiva
— nas respostas desordenada* dos homens às epidemias d: vast adorns,
aos líderes carismáticos úu às catástrofes econômicas — que William
Longer em seu famoso discurso presidencial elaborou o seu pedido
para que a profissão histórica encontrasse utos paia a psicunúlisc no
seu trabalho. Até historiadores inclinados a serem célicos cm relação
às ideia» freudianas têm relulniucmcntc reconhecido nelas uma certa
eficiência no campo da " psicopatulogin Melai*.*
Kxecpcioiialmente. as aptnCucias não são coinplctamcnlc engano­
sas. A conduta impulsiva, us cnlusinsmos auto-ilusórias. as ansiedade»
endêmicas parecem ser o domínio dc competência próprio do psicana­
lista. Aqui nos acenam discernimentos excitantes. Mas, prccisaincnlc
nessa conjuntura promissora, os que munejam o bisturi freudiano têm
muito frequentemente sucumbido a uma confiança iniipropriada c u
diagnósticos apressados: as tentações são pelas mesmas r.r/.ôcs tão
intensas quanto ns promessas que assomam. lí verdade que Frcucl
advertiu enfaticamente cuntra u convocação dn sua disciplina para
esses atos de agressão 'Em minim opinião", escreveu cm 1922 para
um correspondente americano, “a psicanálise nuncu deveria ser usada
como umn arma em polêmicas literárias, ou palilicas".sr Ainda assim,
uma vez suíicicnlcmcntc cnfurecidu, mesmo Freud podia não corr s-
pomlct aos sens rigorosos Ideais profissionais. No esludo psicológico
notório e |JÕstumo subne Woodrow Wilson, escrito na sua maior pinte
por William Bullit mas com a aprovação dc um Freud ideso, ele
permitiu que a sua aversão ao Messias nuto-intituladu e intruso du
Ocidente superasse « sua neutralidade analítica cuidadosnmcntc cul-
ti vitela«. Desde união, na sua sombra, n psicanálise dc politicos

117
cdisdo», vivo» oh mortas, tornou se unia pequena indústria inferior c
irritante.
Analistas, algumas veres, permitem-se esse jogo destrutivo. O
mesmo ocorre com historiadores. E I1. Thompson, em seu brilhante
c extrcmnmenic influente Makiitg of iJie eaglish workvig duas, mo
bilizou vingaiivttmcnlc u vocabulário psiumulílicu, fato que ele de­
plora quando usado por uulroti contra radicais que aprecia, contra
uma comunidade religiosa que ele detesta "O que não devemos fazer*’,
assinala, de forma suficienlcmcnle ponderada. ”6 confundir ‘excên­
tricos’ puros c aberrações fnmiticas com t>s imagens — da Hnbilõnia
c do exílio no Egito c a Cidade Cclcstinl e a luto com Sntã — ntrnvês
das quais os grupos minoritários articularam sua experiência c pro­
jetaram ns suas aspirações por centenas de anos*. Na verdade, "por­
que as imagens luxuriamos algumas vezes uponltmi para objetivos
claramente ilusórios, isto não significa que póssamos concluir npres-
sadcunciitc que indicam um ‘senso de realidade’ cronicamente defei­
tuoso''. Afinal de cotilns. o "o ‘ajustamento* ubjeto a sofrimentos c
carências pode indicar às vezes um senso de realidade tão falho como
aquele do mais quiliasta*. Mas essa precaução sensível contra a
redução de injustiças sociais reais a desordens psicológicas acaba por
se revelar politicamente prestativa para o autor, pois Thompson deixa
de estendê-la aos metodistas, cujo impacln nnii-rcvulucionétio sóbri­
as classes tr.ihalhadoms inglesas despertou a sua im. As fantasias
luxuriantes dos metodistas, escreve, mostram “meios-tons de histeria
e de sexualidade prejudicada ou frustrada'', uma ' preocupação mór­
bida com o pecado e com a confissão do pecador ', uiu "culto ao
Amor* que teme u expressão efetiva amorosa, seja como amor sexual
ou qualquer forma social que possa irritar as relações com a Auto­
ridade", e uma "preocupação com a sexual idade" obsessiva que
"reveln cm si mesma um erotismo perverso dns imagens metodis­
tas".-* Há bons razões paro supor que tanto a advertência de Tliomp
son contra o reducionismo quanta a sua análise das origens eróticas
subjacentes ns imagens metodistas são suficientemente corretas. Mas
n utilização impnrci.il de conceitos psicanalilicos c de métodos histó
ricos teria revelado que o quiliasmo das radicais apresenta raizes
eróticas não menos ocultas, nem menos "perversas*’ que as presentes
nos metodistas, e que eles. não menos do que os radicais, merecem ser
estudados com simpatia, mais du que serem sujeitos a «irnn intensa
procure pelft pstcopntolngin A psicanálise aplicada correinmcntc não
favorece padrões duplos desse lipo; sua contribuição para o liisio-
riador que visa n objetiv id ad e iS a de auxiliá-lo a detectar c o desarmar
us seus preconceitos, não dc íomccS Ios.
M u sc pode negar que arrancar a psicanálise da sua esfera habi­
tual, a siiuuyãu analítica, 0 uma tarefa arriscada. Mas u lucro que o
historiador pode ter ao explorar psicanaliticanienle a razão c seus
inimigos faz tom que os riscos valham a pena. Mostrei como Georges
Lefcbvre- lutou para dar sentido ao lado psicológico da Revolução
Francesa, com o seu emaranhado sutil dc idealismo fanático, sua
resistência conservadora e o planejamento cuidadoso que caracteri­
zou as percepções e as políticas de seus participantes. U instrumental
freudiano poderia ter amenizado ns suas perplexidades, pois expõe os
produtos mentais a partir de explicações dinâmicas, dotadas de múl­
tiplas camadas c maia adequadas para a sua natureza composta e
intrigante do que as grandes simplificações que a maioria dos histo­
ria d o re s sente-se levada a acatar como satisfatórias.

A pertinência para o historiador dn íornm psicanalítica dc lidar


com a realidade externa 4 menos definida. Sabemos que, pum o ana­
lista, essa realidade é claramcnte secundária cm relação à realidade
psicológica elas fantasias e d as representações mentais. Os mundos díi
psicanálise c da história, eu disse no início do capitulo, süo mundos
diferentes. Eles devem e irão permanecer assim. Mas do mesmo modo
que o historiador pode. sob o impacto da psicanálise, ampliar c
enriquecer o seu sentido sobre a realidade histórica, os psicanalistas,
atentos no que os historiadores têm descoberto sobre os eventos pas­
sados, pedem ampliar c enriquecer o seu sentido sobre a realidade
psíquica. Mesmo o indivíduo isolado q u e o psicanalista encontra nu
situação clínica c, afinal de contos, um animal social que povoa o
seu inconsciente, constrói os seus sonhos, alimenta as suas ansiedades
com experiências que rctirn do mundo que habita. Mas isto merece
um capitulo próprio.
5
D o divã
para a cultura

Em iy 15, ao fazer um levanlamcnla »obre as coriiriliiiiçõcs que


n suo disciplina já havia dado ao estudo da cultura, Preud especulou
sabre as maneiras através das quais u sua psicologia individuul poderia
contribuir pum a exploração dn experiência coletiva. "Psicanálise*,
escreveu, 'estabelece umj conexão íntima' entre as ‘ aquisições psi­
cológicas de indivíduos e dc coletividades ao postular a mesma fonte
dinâmica paru ambas. Parte du idéia fundamental dc que a função
principal do mecanismo mental é o de aliviar a pessoa de tensões
crindns nela pelas necessidades. Uma parte desta tarefa pode « r
realizada através da obtenção de satisfação no mundo externo; patn
este propósito é essencial ter um domínio sobre o mundo rcnl'. Mus
desde que. acrescenta, ‘ a realidade regularmente frustm n salisínçàn
dc oulrn parte destas necessidades, entre os quais, significativamente,
estão certos impulsos afetivos", o animal humano confrouta-se com
uma "segunda tarefa, a de encontrar algum outro modo de liberar os
imptiIsGs uno satisfeitos*. Persuadido de que u psicanálise já tinha pro­
jetado brilhantes fachos dc luz sobre as origens da religião u du
moralidade, tia justiça e du filosofia, l-reud conclui que “toda a
história da culiura demonstra apenas os métodos que a humanidade
adotou para dominar os seus desejos insatisfeitos sob condições mu­
táveis. ainda mais modificados pelo progresso tecnológico, desejos
algumas vezes admitidos, nlguinai, veves frustrados pcln realidade".
Essa passagem, penso, d nada menos do que um programa ambicioso
p:mi historiadores. uni convite cujas implicuçõcí nem psicnnnlibiua
nem ImtoriaduTO começ-ninm nindn a explorar. 1

121
Kxisicin culros cm abundância nos- escritos freudianos. I>c ím-ma
bastante concreta. Kreud pensou a consciência como um legado sociul
que o indivíduo internaliza c portanto o torna próprio. " 0 gunrdiflo"
do ego ideul Foi imcialmenic transmitido pela “influência crítica" dos
pais. acrescida, mais tarde, pelo* "educadores, professores", para não
faiar do “enxame* interminável das influências culturais que incluem
"os homens, a opinião pública”. Em um dos seus últimos ensaios,
provavelmente o niais citado n respeito da cultura. Civilizaiion and i/s
disca trlcnis. ele desenvolveu, em alguma extensão, a ideia de um
superego cultural. Mesmo de forma mais geral, cm Totem atitl Tabco.
já havia argumentado que a explicação completa de um problema
'deveria ser histórica e psicológica ao mesmo tempo”. Suu proposta,
embora aqui restrita espcctíkumcntc ao totemismu, icivindicu validade
para todo um entupo da experiência luimami que precisa ser expli­
cado. Novumente, no nbrir n sua monografia sobre a psicologia dns
mossas, Ereud sustenta cnfnticamentc que o contraste “entre indivi­
dual e social OU psicologia dos massas*, aparentemente tão i n t r a n s ­
ponível, “perde muito de sua agudeza após um exame mais acurado“.
Afinal de eontns, “ iid vida mental do indivíduo, o Outro ó com bas-
tanto regularidade tomado como um modelo, um objeto, um auxiliar
c um adversário. Assim a psicologia individual é. no seu sentido
extenso, mas totalmente juetiiicado, desde o início c, nu mesmo
tempo, uma psicologia social”. s Para Kreud. sociologia e outras ciên­
cias sccinis são parasitárias da psicologia.
Essas são propustçõcs audaciosas, mas o leitor destas páginas mio
pede achá-las patliculurmenie inesperadas. De direita e de falo, este
capitulo deveria ser menur; ele somente extrai as implicações do que
eu já disse sobre a concepção psicjnulíiiui da natureza liunuinu. sohre
ns dimensões saciais do complexo de f.dipo c sohre o homem enquanto
nnlmal cultural cm geral. Vias a dúvida do historiador se, no limite, a
psicanálise pode mesmo aplicar-se a mais do que o vida individual
justifica uma exploração ntais extensa sobre o meu tema “A história
psicaiudíliou' , argumentou Donald B. Mcycr. "deve ser biográfica na
sua orientação*.s Ê hem verdadeiro que qunlquer umhiçno freudiana
cm fornecer unia iluminação mais ampla suscita algumas questões
difíceis. Afinal de contas, os íiltimos esboços de nuçõe» freudiunus
-obre a mente “rucial' ou sobre ,i> disposições psicológicas e coletivas
heredinínux que frcqiicnium o seu trabalho lém sido extirpados pelos
seus sucessores cumo redundantes, vestígios quase embaraçantes de

122
superstições científicas do século XIX a respeito de uma ''alma gru­
pai". As portas duplas do psicanalista que protegem o seu consul­
tório, a sua resistência a experimente»* com grupos terapêuticos, a
sua paixão devotada à confidencialidade, comprometida npcnns pelas
publicações ocasionais de malcrinis clínicos cm artigos científicos, trv
tulmcntc disfarçados — tudu centraliza n atençãu cominuaincntc purn
o paciente isolado, sozinho consigo mesmo, com seu inconsciente c
com seu analista. De qualquer maneira, o diálogo entre o analista c
o analisando é uma espécie de conversa eonsigo mesmo, na qual um
parceiro fica caludo quase lodo o tempo. Nas mãos do psicanalista,
generalizações extensas sobre "a" experiência de toda uma classe ou
cultura provavelmente se dissolvem em asserções cuidadosas c dis­
criminativas sobre experiências no plural.
Pott&mu, uno &um acidente que tenha sido um sinal de raridade
o falo de a American PsychoanalytiG Associalion, durante eu seus en­
contros de outono cm 1977, ler oferecido um painel sobre o *coube
cimento psteanalilico de processos grupais”; seu coordenador, llurness
E. Moorc, encerrou-o com a tênue esperança de que nnnlistas pode­
riam doravante “discutir processos grupeis com mais frcqiicnciu do
que unin vttr em caria 21 anos".4 Nem é um acidente que quando
historiadores utilizam-se de Kreud para nnttlisnrem a conduta coletiva,
quase invariavelmente ampliem as metáforas retiradas da terminologia
psicanalíticj c originarinmenie planejadas segundo propósitos mais
estreitos e muito menos elásticos. Isso foi o que Riduird llofstadter
fez no seu ensaio sobre o estilo paranóico na política americana; isso é
o que alguns outros historiadores têm feito nos seus esforços para lu­
rem revoluções diretumenio como combates cdípicos, levemente dis­
farçados, ou pnra apreender unta época ao rotulá-lu de época do
narcisismo. A idéia freudiana central de que todo ser humano está
contínua c inextricável monte envolvido cem outros c de que 3 psicci
logia individual c a social são no fundo n mesma é uma versão
moderna e sofisticada da velha idéia — tão antiga quanto Platão —
de que o indivíduo é a cultura escrita cm tetros minúsculas, e a
cultura, o indivíduo escrito em letras maiúsculns. Usada sem precau­
ção, essn assimilação imaginativa de duas entidades muito diferentes
pode levar n simplificações excessivas c patéticas. Freud não era um
pensador simplório. Mus as suas proposições relativas à psicanálise
da cultura requerem análises mais meticulosas, demonstrações mais
sólidas do que aqueles feitas até agora — incluindo as freudianas.
I Além da biografia

Sipmuiid Preud não fui de nenhum modo n primeiro » observar


que lk corpos coletivos — a turba em revolta, um exército em batalha
timu liarão em gtiurrn - suhmetem-se a impulsos que os seus mem­
bros normnlmcnle controlnniinr. provavelmente repudiariam, quando
min «lesfrutam da presença envolvente dc cultas pessoas com a mes­
ma crença it sua volto. Por razões cvidciucmeiitc políticas, a conduta
impredi/ivcl c inquietanfe do ‘ rebanho ' humano começou a ser estu*
dada com intensidade c preocupação :i punir da metade do século
XIX. Observadores saciais inquietos cunte Thoiais Carlvlc au
Miuthcw Arnold. encorajados pvr um pequeno grupo dc historiadores
tendenciosos e *psicólogos elas massas’ Hippolytc Tninc, (inbricl
Tarde. Gustave LeBon. e roais tarde Wilfred Trotter —. inquieta­
ram-se com u democratização du ctiiium inodenia enquanto unia
ameaça crescente ú coudulii ordeira dos negócios públicos c ã solução
racional dc problemas sociais. Nunca deixaram dc oferecer como
evidência as paixões odientas desencadeadas pelas fournécs cxaltndns
c sanguinárias da Revolução Francesa como um aviso sombrio contra
as explosões selvagens c irracionais de massus oprimidas e furiosas
A análise frvudionu, embora comece com um comentário cobre o
trabalho de l.eRon, que forn anlcriormcntc a maior autoridade sobre
a psicologia das. massas, amplia dc forma significativa o campo dc
pesquisa ao explorar os fundamentos ocultos da conformidade coletiva
em tinia organização tão disciplinada conto o é ti Igreja Católicn Ro­
mana.8 Seus resultados eram proriaórios e parciais, mas, ao ligar
eonvinccntementc o indivíduo nos seus parceiros cm emoção, Group
psychology wiíi i)ie wiulysis o[ ihrr ego. de Krcud. contém algumas
propostas informais bem-vindas que podem servir para melhorar as
relações não totalmentc satisfatórias entre a biografia e a história.
I. quase proverbial que todo historiador leni algo de biógrafo, c
todo biógrafo, algo de historiador. Ainda assim. Itú divergências mar­
cantes entre as dua-. ocupações, c u sua interação, embora flores-
centc, é frcqüentemente tensa. Ião mal definidos como possam ser
as fronteiros entre cios. algumas biografias suo inequivocamente n
trabalho de um hiMuriador, outras não. Isto não é uma questáu de
qualidade. Parece um exagero sugerir que. se l.yllon Slrachey tivesse
sido tim pouco mais historiador, os ataques felinos, dele conlra os
figurões vitorianos leriam sido mais justos paru com os seus objetos.

i ->i
Teriam sitio menos caricaturais se ele tivesse sido um pouco mais
biógrafo. Nem u diferença entre história c biogrnfio c medida pela
alocação relativa de espaço. A distinção é mais sutil do que cuia- a
historiador truz para a vida sobre u qunl está escrevendo, eu pura as
passagens biográficas que ajusta à sua nnrralivu uu nnálisc, um com­
prometimento com o meio social relevante. uma sensibilidade infor-
mndu ç treiniidu sobre os mundos nos quais o seu objeto viveu. K\pc-
rn-sc que possua, c exiba, um sentido firme, profissional mente disci­
plinado sobre o espaço c o tempo, suba* as possibilidades c coerções
peibliens. Obviamente, não se pode usar uma psicologiu que o dei­
xaria melado nos domínios esotéricos do pulsões fnntaxmáticas c cm
dramas mentais misteriosos que devem ser decifrados. Mas a psico­
logia pMcnnulítici). embora às vezes possa set pensada assim. 6 tudo
menos isso.
1'reud construiu as trilhas que ligam a biografia à história a
partir dos materiais humanos mais fundamentais: omur e ódio. Esses
upenas. ncreditou. permitem uos grupos imporem laços sólidos que
tornam os seus membros submissos, ativos c intolerantes. Lcllon,
sugeriu Freiiri. havia observado habilmente e descrito de forma inte­
ligente us características comporta mentais de multidões, mas fracas­
sou cm detectar os causas dc sua coesão. Os estudiosos du sociedade,
sem excluir os escritores imaginativos, téiii, ccrtnmcntc. sabido há
bastante tempo que, em grupos, os indivíduos podem retomar u esta
dos primitivos da mente, sujeitar a sun vontade n líderes, desconside­
rar restrições c o ceticismo sensível que a educação cultivou neles
tão dolorosamcnle. Há páginas em Guerra e paz. dc Tolstoi, que
ilustram alguns desses mecanismos de forma perfeita: o jovem cemlc
Nicltclas Uoetov, junto com os seus companheiras, apaixona-se à pri­
meira vista pelo czar Alexandre I: "Rostos que estava nns linhss
de frente do exercito dc Kutuzov, visitudu pelo czar cm primeiro
lugar, expcrienciou o mesmo sentimento que todos os outros homens
m> exército: uin sentimento de perda de si. uma conscicnríu orgu­
lhosa dc poder e uma atração apaixonada por aquele que em causa
desse triunfo". Kcstov, quase foro dc si, "sentiu que :i unw simples
palavra daquele homem tuda aquela vasta massa (e ele mesmo etn
nela um átomo insignificante) atravessaria ferro c fogo, cometeria cri
tnes, morreria ou realizaria façanhas do mais alto heroísmo, c pur
tanto Uetnia, com o coração punido, na iminência daquela palavra".
Fstar pctlo do imperador era a fclicidnde real pum o jovem entusinstu.

I2r»
“Estnya feliz coinu um amante para quem chega o momento de um
cnconlro há muito nnsiadu." Tolstoi, de (alo. c bastante explícito so­
bre as emoções tie Rostov: " Ele estava reel mente apaixonndo pelo tacar
c pela glória das atinas russus e pclft esperança tlc um triunfo fiimro”.
'Jem — e isto é o mais significativo era ”o único n ter aquele
sentimento durante os dins memoráveis que antecederam a hatalhn de
Auslerlilz: cada nove homens etn dev no exército russo estavam apai­
xonados, embora menos nt rehai adam ente, pelo seu czar e pels glória
das armas russas",' Pede-se entender por qtte Frcutl leria dito que
invejava os romancistas c os poems pur chegarem, através de pura
virtuosidade, a certos discernimentos psicológicos que lhe tomavam
anos para extrair de seus pacientes
Ainda assim, o que Freud fez ao analisar esses fenômenos à luz
da siu psicologin posterior do ego nno foi apenas encontrai um novo
vocabulário pura cenas familiares. Ele cxplicuu-us “ Nn reunião do>
indivíduos na massa, desaparecem todas as inibições individuais, c
os instintos ciuéis, brutais, c destiulivos, adormecidos ent cada um
como relíquias de uma era mais primitiva. «sã:» despertados purs pro
curar uma livro satisfação pulsional.' A caça guipal fornece ;i es
peei« de prazer que a supressão das inibições gcralmcme favorece,
gera um sentimento de segurança c diminui o perigo de colocar-se em
oposição com o poderoso, l au d entendeu esse abandono dns perspec­
tivas e controles adultos como umit orgia luxuriante c regressiva. Mus,
apesar de todos os seus prazeres sedutores, esse (criado moral carte
guilo de afeto nmintcntc c destinado n se tornar permanente. I’lcpois
de prolongados reveses ou cm momentos de pânico, os laços libidi
nosos que mantem a multidão coesa podem cnímquecer-se. c o grupei
pode então fragment ar-sc ou desintegrar-se.
A formação grupai, .irgirmenm Freud, envolve dui> conjuntos de
identificações inconscientes: «s membros do giupo iilentifieum-sc entre
si e, colelivnmcnte. com o líder. Isto nãoó invariavelmente um retomo
a fnnnas eompletamente primitivas de sentimento e conduta: o líder
não precisa ser uma pessotu pode <c> uma idéia. Além disso, os
grupos, ligados por laços invisíveis de Icaldndc amorosa c fé inques­
tionável. pedem viver de m o rd o com ptidtòcs nitrais mais elevados
do que aqueles que os seus membros atingiriam individualmente. K
na medida ern que se tnitti de desempenho iiilclcctual”. Freud es
crcvcu, “permanece cerlamente verdadeiro que os> mature* realizações
intelectuais, as descobertas importantes e as soluções de problemas
.sno passíveis npeims piirai o individuu, que Irohallui solitariamente.
Mas mesmo a mento da nmiM <5 capaz dc criações mentais geniais,
ccmo comprova, ncimn de tudo, a própria linguagem, ou a música
popular, o folclore, c outros. Além disso’\ ncresccntou, em um da­
queles apartes ponderados nu qual reüne, de novo, a psicologia mdi-
vidual com a social, “permanece indccidívcl quanto O pensador indi­
vidual uu u poeta devem aos estímulos dtt multidão nu quul vivem,
se não são mais do que us aperfeíçoadures de um trabalho mental
no qual outros participaram simultaneamente”.
Diferente de outros psicólogos sccinis cie sua época, Freud con­
siderou a total dificuldade dc seu material. "Se se pesquisa hoje a
vida individual do homem", escreveu, qunsc resigmido etn frncnssnr.
" levando em conlu as descrições mutuametue complementares dos
escritores sobre a psicologia tia multidão, pode-se, ao considerur as
complicações que surgem ai, perder u coragem para fturer uma expo­
sição abrangente". Afinal dc conta,s. tios tempos tnodetnos, “todo in­
divíduo c uma parte composta por muitas multidões, ligado de diver­
sas maneira« através de identificações, c que construiu o seu ego ideal
tt partir dos modelos nuiis variados". Pertence n sua raça, à sua classe,
h sua religião, ã sua unção e a grupos estáveis, talvez menos proemi­
nentes do t|tio aquela« multidões «NpetíMUiUiius muito mnis barulhen­
tas, mas niw menoe significativos paru a sua formação tnenlal. Ante-
riormente, no seu artigo sobre o narcisismo, breu d já havia exposto
a mesma tese a partir de uma perspectiva diferente "A partir do ego
ideal”, eseteveu ali, "uma trilha significativa leva » compreensão da
psicologia du multidão", pois esse ego ideal, que ele chamada mais
lorde dc superego, tinlin “ lornbém. além do seu componente indivi­
dual, um social“, desde que *é igual mente o ideal comum de uma
f.imtli.i, dc um estamento, dc tuna nação''.’'
As ligações intensas que constroem esses agrupamentos, menores
ou maiores, irrompem com ressentimento c raiva. As brigas familiares
podem tornar-sc tão amargas quanto as que ocorrem entre clãs; hos-li-
lidukh íntimas, cuidudue-uincnlc sepultadas. equivalem eo ódio que
frequentemente estimula um grupo que $c defronta com estranhos.
“Toda religião", cscrcvc Freud, 6 "uitu religião de amor para aqueles
que cs adotam, c mclinuda ò crueldade o à intolerância para aqueles
que estão cxcluídõs dela”.11 C’omo o arncir. o ódio iuicia-sc no lar c-
não termina nele.

127
Au propor uma tcoriu social ião pessimista, Fremi eslnvn escre­
vendo ileniro de uma grande tradição de teóricos sociais que antes
dele havia cntreviMu essas verdades monumentais. Tliomus Hobhcs. u
mais decididamente coerente dos seus antecessores intelectuais, jn
havia arg u m en tad o , m ais de dn/:cnlos imos. nirós. que "o homem
nunca pode estar livre de um incômodo ou uutro“, e investiu contra
"a condição dissoluta de homens sctit mestres'’ cm uma guerra civil
anárquica, unia condicão que Hobbcs descreveu tom uma série de
adjetivos incomparáveis e potentes como “solitária, pobre, sórdida,
brutal c breve". Na própria época de Freud, em 1901, u perspicaz
economista inglês e crítico social ]. A. Ilobson pôde reafirmar essa
triste dclerminnvão numn lingungem que revela quão de pertu as
idéias psicaiialfricas podem cortesponiler ao pensamenln sociológico
avençado de sou época: ”ti objetivo principal da civilização c do
governo é reprimir" os "anseios de sangue e de crueldade física"
A contribuição peeuliarmente freudiana fui a de fornecer as razões
psicológicas para essa percepção um tanto triste do homem em socie­
dade e da sociedade em relação ac homem. Civilização, corno a enleti
deu. é unta multiplicidade de coisas uma areno para a criação artís­
tica, para ,i busca científica, para o cultivo das paixões, paru o ganho
de dinheiro. Mas c também, c dccisivnmcnle, uma defesa coletiva
contra u assassinato c ti incesto. onde cada cultura rcali/a a sua fórum
própria de defesa e adnpla o seu estilo n condições mutáveis.
Pois, como os h istoriadores têm rnzões particulares para reco­
nhecer, as instituições tuio podem permanecei imunes às pressões do
tempo c do poder. Só se necessita ler o instrutivo livro de Oliver
MneDonagh, Early victoriun gpvenmtenl, ou a esplêndida história da
administração americana. The m iófe hand. para reconhecer que elas
continuamenlc tateiam põr nyvas soluções, emancipam-te dc suas ori­
gens primitivas em necessidades psicológicas inconscientes pum adqui­
rirem uma dinâmica única c servirem a interesses próprios. Os histo­
riadores marxistas não foram os úniius a «ssiiiuliir que ns instituições
podem scr presas dc interessei especiais, corrompidas petas classes
dominantes, e distorcidas por umu retórica criada para servir uo>
seus próprios propósitos. Ainda assim, como mostrei, a busca dc um
interesso privado racional tem componentes não racionais F.m I «50,
a luivu constituição dn Prússia continhu ti notória lei clcitural dns
três classes que «grupavn os votantes de ucordo com u valor dos im­
postos diretos devidos individualmente por elns kso significava que

128
aqueles que, juntos, pagavam um terço des impostos diretos na Prússia
elegiam tantos dcpntiicloa quanto aqueles que pagavam o segundo terço
e os que pagavam u terço restante. As consequências, como o emi­
nente historiador alemão Httjo Holbom expôs taxulivamentc. foi "um
sistema abertamente plutocrálico".11 Assegurou quase que o mono­
pólio do poder político para vs jw tk m e uultos proprietários de
terra, prulicumcnle garantindo para os grupos que tinham interesses
próximos e comuns todas as recompensas que um sistema, político
pode fornecer. Ora, esse fragmento de sofisma eleitoral elevado a
princípio constitucional foi, ao mesmo tempo, um artificio defensivo
astuto. Sensíveis às possíveis ameaças de cidadãos dn classe média,
confiantes cm si mesmos, c de uma consciência política que surgiu
vagares ameiite nas classes trabalhadoras urbanas, c sensíveis às inti­
midações das democracias externas e da revolução interna, os autores
das três leis eleitorais ajudaram a exorcizar as ansiedades de prussia­
nos ricos v influentes. Não d suficiente desconsiderar esse estratagema
político corno uma defesa tutnlmcnle consciente de privilégios estima
dos. Um mudo de vida. prazeres domésticos c saciais, tradicionalmcnte
assegurados, pareceu estar em perigo. Negligenciar a política para con­
centra r-sc na ansiedade é reduzir indeviJamente a história a um mero
psicodrama; negligenciar a ansiednde parn wnccnlrar-se nn política
— que. de longe, 6 o que mais ocorre enlre os historiadores — é
empobrecer indevidamente a percepção que se pode ler do passado.

2. A partilha social
A descoberta de quão profundameme ns emoções privadas estão
investidas na Yida pOhlicn c apenas uma das formas ntravés dns quais
as teorias freudianas podem levar a história para nlém da pura bio­
grafia No capitulo anterior sobre a natureza humana jã indiquei algu­
mas das outras. Os ingredientes básicos que constroem a experiência
possível, disse ali, estão esiritameute limitados, lissa economia funda­
mental mantém-se. apesar de as pulsões componentes, como a tios im­
pulsos lihidinais. irem junta r-sc em cada pesson de acordo com o seu
rirmo particular c com a suu força de coesão distinta. Cadn uma delas
sofre uma evolução única, dando lugar a essas variações impressio­
nantes na conduta c nu cultura, simultaneamente encantadoras e assus­
tadoras. que estão longe de serem prcdizívcis c que formam o material
da história. Com o seu humor amargo e diabólico, o cartunista Peter

12<i
Arno registrou uma vez essa unidade na diversidade humana ao mos­
trar um pequeno grupo de beldades curvilíneos, individualizadas atra­
vés de quadrinhos, c proclamando-se "Vliss Suécia", ou "Miss T«s-
m ênia'; das apresciu.im-sc cm traje dc banho diante dc juizes lascivos,
um dos quais diz conridciicialnicnic para o outro: "Lma coisa como
esln mostra corno as pessoas são as mesmas em tudos os lugares“.11
São — c não são.
hm poucas palavras, as experiências humanas, embora ricas e
fascinantes, tendem a ubscivur certos padrões temporais de desenvol­
vimento que apresentam semelhanças inarenntes um em relação aos
uutros. Tudo historindor trabalhando com ordens hierárquicas, com
u> diferentes igrejas cristãs ou culmrns. completas reconhece implici-
tameute que pode permitir-se agrupar os conglomerados que estuda
enquanto conglomerados sem necessariamente violar u individualidade
dc seus membros Fstá certamente consciente de que nomes coletivos
como "católicos romanos" ou “burguês” ou “norueguês'' são amplos,
com frequência canoas furadas que devem ser abastecidas com cui­
dado c com "nr sentimento agudo sobre u sua utilidade limitada, Ele
acha salutar recordar que todo católico, burguês. norueguês não é
exatamente idêntico a todos os outros soh u mesma rubrica. No mn-
xirau. todos esses rótulos são enunciados abreviados de probabilidade:
os indivíduos identificados como membros dc q u a lq u e r entidade pro­
vavelmente partilham convicções morais c crenças religiosos, expec­
tativas dc sucesso c temores dc fracasso, com us seus colegas. Sc não
o fazem, então o histuriador tem rebeldes interessantes diante dc si.
Classe, como K. I’. Thotnpson colocou no prefácio, jimpltimentc citado,
do seu .Wrtfcóig iht e>\glith ■vOrking cUm$, não c uma coisa, nem um#
caixa apertada na qual se espremem homens e mulheres apenas para
esquecer a sua individualidade. Ao contrário, classe ií uma relação
que "deve sempre corporificar-se em pessoas reais e em um contexto
renl". A classe "ocorre quando nlgtins homens, enquanto resultado
de experiências comuns (herdadas uti partilhadas), sentem e articulam
a identidade de seus interesses, taniu entre eles mesmos como contra
outros homens, cujos interesses são diferentes te gemlmente opostosl
nos seus”. A classe é uma experiência que massas dc homens sofrem
a partir das “relações produtivas' nas quais “nasceram — ou eulta-
rain involuntariamente“.1* E, corno a classe, podemos acrescentar,
outros inslituições ciicariiimi sentimentos em regras, construções, em
blemas,

130
Uma fábula instrutiva, que Sigmund Freud contou nas suas Li­
ções Introdutórias na Universidade de Viena em 1917, demonstra que
não há nada na psicanálise que obstrua o reconhecimento do experiên­
cias coletivas deste tipo nas histórias dc vidu dos indivíduos. Freud
imaginou duas meninas pequenas que vivem numa mesma casa, uma
fillia do zelador, a outra filha du proprietário. As duas. a pequena bur­
guesa e a pequeno proletária, brincam livremente uma com u outra, e
SCuS jogos assumem logo uma feiçãú erótica. A excitação gerada pela
sua intensa fantasia, geralmente iniciada pela filha do zelador, que já
viu mais dn vidn do que n sua companheira, é destinada n transformar-
se cm masturbação. Mas depois disso as histórias sexuais das duas
amigas irão diferenciar-se, e n divergência é pnedizível pura qunlquer
um familiarizado com a natureza classista da moralidade. A jovem pro­
letária continuará a maslurbur-se sem sentimentos dc culpa e mais tar­
de abandonará a prática; provavelmente se tornará uma artista, terá
uma criança ilegítima, casará com um aristocrata. Mas, independente da
sua carreira definitiva, "de qualquer muiieiru, realizará u sua vida
sem danos causados pela atividade prematura da sua sexualidade, sem
neuroses", A filha do proprietário, contudo, lutará com o seu “vício",
cheia dc culpas, c provavelmente se desviará de informações sexuais,
com uma repulsa real. "inexplicável’', apenas para adquirir, enquanto
jovem adulta, uma neurose completa, a recompensa patética pelos seus
recalques dc classe mediu.1* A reputação da psicanálise coroo respon­
sável por um modelo estático e indiferenciado da natureza humana,
vendo os atores, seja de tanga, togados cu dc terno, recitando as mes­
mas linhas tediosas sobre amores ilícitos e ódios inconscientes, é to-
talmcntc imerecida. Fura Freud, a experiência c governada pclu pas­
sagem do tempo, pelo estigma du classe c pelos acidentes dos eventos,
que modelam us ingredientes tia natureza humana em configurações
dramáticas, nunca completamentc repetidas.
Embora os psicanalistas sejam às vezes um tanto desdenhosos
sobre a relevância do mundo externo pura o seu trabalho, a teoria
psioanalílica rcuinhoee firmemente que na construção dn história men-
rnl do indivíduo n experiência cultural deve sempre reivindicar um
lugar im portante. Esse reconhecimento reforça o argumento freudiano
dc que a psicolugin individual c a social são. paru todus os propó­
sitos práticos, idênticas, e isto por sua vez leva-me a fazer unia breve
incursão pelo modelo psicanalítico do desenvolvimento hiunnnu, que
assinala aquele trabalho da cultura ao longo da trilha da maturação

m
pessoal Não é segredo que eles de o momento tio seu nascimento a
criança está cm interação contínua com o mundo dos outros. 1’ode
ser conveniente, e hú nuiito tem sido usual, compartir :i história da
vida humana tt um rio que nasce como um fino filete, que ;e nlarga
c sc_ aprofundu na medida em que vai recebendo os tributários no
longo tio seu curso, Mas a metáfora, embora atraente, uno faz justiça
às massas de experiência social que se chocam com a criança desde o
inicio. Corredeiras culturais caem torrencial mente sobre elo. A crinn-
çn, inicialmentc um me™ feixe de necessidades, lolnlmente devotada
no sono. à amamentação, n eliminação, não tem nenhum modo de
libertar o seu pequeno self de seus protetores. Mas então o infante
pateticamente dependente iiansformit-sc, mês a mês, às vezes, dia a
dia, em umn criança: aprende a scpnnir-se de seus pais, irmãos, es­
tranhos, algo como uma diminuição de suas fronteiras pessoais. De
forma relutante e com sucesso parcial, desiste do seu sentido quase
alucinatório de onipotência cm fuvur de utiiu autoperccpçãu que gros­
seiramente se assemelha às suas dimensões reais. Mas esse recuo da
fantasia paru um certo real is-mo não implica uma diminuição da sua
ligação com as suns vizinhanças Ao contrário, o próprio progresso
da criança em relação u competência — sua aquisição gradual da
motilidade, da falo, dn confiança nu persistência das pessoas amadas,
das paixões tempestuosas pclus outros c as defesas euutru a doi —
envolve-a com realidades externas mais irrevogáveis do que nunca.
O "ego", çomo Freud resumiu o seu pensamento no seu último livro,
sofre um "desenvolvimento especial”, e o faz "sobre a influencia do
mundo externo n nossa volta".u A extensão da amamentação, a seve­
ridade do desmame, o modo do treino de toalete, o eslilu dos pois de
manifestarem aprovação c desaprovação, c uma série de pistas sutis,
são todos mensagens enérgiens do mundo externo, moldando materiais
vivos e maleáveis em formas reconhecíveis como pequenos arisiocra-
Ins, protestantes tm espanhóis, Os pais da criança, afinal de contas,
cm geral a influência dominante na construção do caráter, não são
eremitas. Sua maneirsi de educar os seus rebentos tí. certnmcnte, mo­
delado sem consciência pelos seus hábitos e neuroses pessoais: a maior
parte da educação, como Freud insistiu, é » repercussão de um incons­
ciente sobre outro. Se os pais cantam paru n sua criança uu ficam cm
silêncio, lidam com ela de forma consistente ou no acaso, admilem-na
cm seu quarto ou n interditam, dependo cm grande pnrtc das lições
que eles mesmos absorvernm. bastante involuntariamente, quando por

li?
sua vez eram imaturos. Ao mesmo tempo, g seu estilo de pedagogia
deve unto, ou talvez mais, nos mundos religioso, social e cultural 110
qual estiveram mergulhados durante toda a Mia vida. Nos tempos
mudemos, pelo menos, e com frcqiiência antes, a fatnilia nuclear
atuou conto um agente preferencial da cultura; transmitiu e distorceu
imperativos sociais, definiu os limites do pemii-s&ÍYcl, ditou us nomiâs
sociais. C a primeira, c nornmlmente n decisiva, cultura, escola, es­
tado c religião da criança.
A fase cdipica adequa-se perfeitamente a esse padrão. Representa
Incito o parentesco essencial a ioda experiência humana privada como
n sua natureza cssencialmentc social. O triângulo familiar é uma pe­
quena sociedade cm nçào, completa com afirmações dc autoridade t
tentativos de rebelião; o modo pelo qual os pais lidam com as emo­
ções imoderadas c frequentemente intrigantes dc seus lillios está no
fundo de uma decisão social feita em ampla medida por forças que
estão por trás dela. II o superego emergí: de uma interação ainda mais
visível entre um indivíduo em crescimento, aprendendo, c as loiças
sociais que o pressionam sob u forma do substitutos adultos. A criança
absorve os comandos c as proibições paternas, seus desejos c ansie­
dades frequentemente* inconscientes, e os traduz em exigências estritas
de contormtdude c de padrões uceitãvcis de conduta, sem importar o
quão incompreensíveis ou mesmo injustas elas possam parecer, A
própria obediência torna-se um valor, umn fonte de recompensas e
uma proteção contra punições. Adequar a criança à sua sociedade
através dc diretivas autoritárias no lar, nos jogos, na igvcjn inicie-se
cedo c somente se intensifica quando os puis julgam que os seus re­
bentos estão prontos para o controle c a disciplina. Na época cm que
as crianças entre um a três anos começam a ir para a escola, a mais
jovem entre elas já está totalmcnte aclimatada ao espaço social que
ela, seus pais, vizinhos c companheiros dc brincadeira ocupam natu-
mlincntc, sem se darem çonta.
Freud pintou um quadro um tanto sombria a respeito do preço
que custa ao jovem essa socialização. Poderia endossar cor dial mente
o “protesto contra o luuvor comum e excessivo da felicidade dc nos­
sos. anos infantis, que se propaga uirn tanta afeição no mundo*
dc Gibbon. Sem diividn, a infância tem Os seus prazeres intensos:
a ternura do amor mptcrno, n segurança dada pelo cuidado paternal, a
alegria da descoberto do poder efetivo e real, e não ilusório, sobre os
elementos do meio. Mas o principal é a sobriedade da escola da vida.
«trt
cheia d« desapontamentos, renúncias c conflitos. O Sim do seio ma-
terno que alimenta d inseparável do Não da mãn materna que pune.
As autoridades externas laxem exigências sobre a criativo que se opõem
ao seu desejo natural por uma gratificação imediata e sem restrições.
Itcler a urina t* as fer.es até que se chegue ao local apropriado que
utna vez atingido exige que não se retenha mais, adiar a alimentação
ale- o horário estabelecido para as refeições, nbandonar n sensação pra­
zerosa de tocar os próprios genitais, moderar a paixão par um dos
pais são apenas algumas, embora ccrtamcntc as piores, dos privações
que pais amorosos ou babás são levados u impor e u fazer respeitar.
A exigência firme pnrn u obediência, para ficar cm silencio quando os
adultos falfltn, para estudar quando se deseja brincar $ã» derivados
sofisticados de regra* essenciais que cercam a criança quase que desde
o momento do seu nasci mento, regras que ela aprende a assimilar,
embora não sem protestos. Cara tomar sua realização ainda mais abor
recicla c repulsiva, us adultos não pedem n criança apenas que adie
Ou fique sem gratificações ncalentndns; insistem «pie aceite o seu câ­
non, com bosta maneiras, como justo v eurreto, e que veja a sua trans­
gressão como uma ofensa, talvez como uma fumin de ir para u inferno
e de se perder, o que, para n maioria das crianças, significa a perda
do amor dos pais. A criança é forçada a internalizar a cultura: aprende
muito cedo que o que mais anseia é proibido, provavelmente ruim,
Civilizar uma criança é constatar isso u cada momento. £ por isso
que seus desejos, suas concupiscências c raivas são suhmersos nu in­
consciente; que ela os recalca e armazena, abrindo u caminho para as
suas dificuldades posteriores na sim vida erótica, profissional ou po-
lilie*.
Desenhei esse esboço do desenvolvimento para sublinhar a mi
nha convicção de que irnin sociologia do inconsciente c agoru umii pos­
sibilidade renlista.17 Tal sociologia — c história — nãti negligenciará
aquelas seduções c terrores que bombardeiam o indivídua quando se
confronto com seus pais, irmãos, colegas de escala, amigos de tra­
balho, para não dizer nudu sobre os padres c políticos, todos atuando
sobre de, Meu esboço deveria confiminr que a cultura não c uma
roupagem superficial no homem, mas é parte integrante da própria
definição de sua humanidade.'*
Sem dúvida, os materiais de construção mais interessantes para
uma história desse tipo sã a o que Atina l-reud chamou de mecanismos
de defesu. São interessantes assim porque, embora sejam manobras

134
psicológicas profundnmentc pessoais. desenvolvem-se prinoipiilmente
cooiu umu resposta is realidtKlçs coletivas extern t», e permanecem em
contato íntimo c contínuo corn elas. Ubíquus. veisáteií. inventivos,
esses estratagemas inconscientes- tornam a civilizarão posstvei c su­
portável.'1 localizadas no ego, aumentando em tamanho e em efe­
tividade enquanto n criança vai crescendo na sua cultura, as defesas
protegem contra ti dor ou o perige de fontes externas c mnis ainda
das internas.'0 Atunni de modo a reduzir, uu a elidir. as ansiedades
cliciadas pelos cultos, pelas situações ou eventos, que dcspcrlnm —
ou melhor, despertam de novo — impulsos proibidos, memórias into­
leráveis. fantasias aterradoras ou sentimentos de culpn impiedosos. O
repertotiu de csli atégias defensivas evolui, »pós alguns anos, p»rn
unta armadura quase impenetrável. As defesas nfaslsun d» consciência
conflitos e desconfurtos potenciais ou negam a sua existência, domes­
ticam ns ânsius, primitivas de modu que sirvam a iitividncl« culturnis
mais elevadas, convertem agressão em afeição, atribuem sentimentos
feios que uno sc ousa confessar n outros. Procuram gamnlir n inte­
gridade, a próprin sobrevivência tio indivíduo, c assim alcançar o
núcleo da experiência huninna. Mas. embora pTotcjuni a vida c a inte­
gridade do sujeito, são Inmbém um aliado bastante inconveniente c
inconstante. V1ais de uma vez, goram mnis problemas do que resolvem:
u maioT pune do sofrimento mental pode ser ntribuíd» u defesas que
se tornaram selvagens.11’ Ao responder a alarmas desnecessários, ito
tralar impulsos eróticos normais ou agressivos como se fossem crimes
reais c horrendos, as defesas podem erigir muralhas protetoras que se
tornam prisões que confinam fobias, gestos obsessivos ou inibições
paralisardes.
As mesmas inconsistências problemáticas perseguem as defesas
que se desenvolvem na c através da cultura. Cerliimcntc. no sentido
exato da palavra, us defesas são mubükadns pelos individuos c a
serviço deles. He into, hahiliialmcntc. uma fonte dc de.sconfurto contra
a qual u indivíduo se defende são as exigências estritas da cultura,
que o pressionam n realizar tarefas desagradáveis e a adiar ou a de­
sistir dc seus desejos mais caros. Como Freud nunca se cansou de
dizer, "tudo indivíduo é yirtualmcnte um inimigo da cultura".- Vias
as instituições, adversárias e opressoras do indivíduo, sãu também
planejadas e, com o passar do tempo, aperfeiçoadas para trabalhar
em seu benefício. Ficud, como sabemos, postulou iinin única "fonte
dinninicn" parti ns aquisições tanto Individuais quunto sociais, c en­

I iS
controu cssu fome ik» v|ue considerou como a tarefa principal Jc
aparelho nieniai. a de "aliviar .1 pessoa tias tensões criados pelas suas
necessidades".'3 O modo mais satisfatório de aliviá-las é certamente
contmlnr t> mundo, extrair dele ns gmlificiiçõcx almejadas pelos indi­
víduos. através da criação de universidades e laboratórios, planejn-
menlo de sistemas bancários e tle leis de concessão de patentes Outro
modo — c é esta a tarefa apropriada das defesas culturais — 6 obter
couipromi&svs sustentáveis, tréguas icmponúias mus renováveis, entro
desejos ininterruptos e os temores gerados por esses desejo*, em si
mesmo e nos outros. Com esse objetivo, as defesas culturais constroem
cúdigus legais, injunções morais, ritos religiosos, costumei matrimo­
niais e foryas policiais.
As instituições sociais são agonies de satisfação, mobilizam enei-
gjtts paca assegurar dominação c mnnlci soh controle rivais queixosos.
Mas lambem fornecem uniti cobertura defensiva puru fj.ilitur tis vidus
dos que vivem sub a sua égide ao construir as fortificações proibidas
da honra 0 da indignação, inundando os rios da vergonha c da auto-
reprovação um sem-número de estratagemas que servem pnra con­
ter a invasão de paixões desordenadas possivelmente destrurivns. Mais
positivamente, essas instituições defensivas permitem paixões que po­
deriam. sem u seu beneplácito, sei guindes gctadtnns Jc ansiedade,
fornecem imerpreinções du mundo que lhe emprestam uma aparência
resseguradora de ordem c estabilidade; abrem espaço pnra excêntricos
que seus contemporâneo* poderiam, nti ausência de tul refúgio, estig­
matizar corno criminosos ou loucos. A instituição dn guerra torna o
assassinato digno de meritu; a religião recompensa o êxtase; as cadeitts
de tomando simultaneamente controlam e liberam a ãnsin de exerce
u poder sobre os oulie* Inevitavelmente, como as defesas dos indi­
víduos. o» sistemas defensivos sociais c culturais podem preencher u
sua atribuição dcinasiadanicnle bom e exacerbar as próprias ansieda­
des que presumivelmente foram criadas para desarmar. Mas. apro­
priadas ou inaprepriadas. racionais ou irracionais. as defesas culturais
trabalham constantemente p.irn definir o redefinir ns áreas de liber­
dade dentro das quais os indivíduos encontram o seu caminlK)3*
Aqui, suspeito forlcmcntc, posso espreitar (.para falar come
Wiliiam imnper) a próxima atribuição do historiador. Poderia set
uma tarefa nobre a de escrever uma história sobre as defesas, traçai
as suas origens, analisar as suas transformações pessoais e sociais
alocar para endn época e clossc as defesas que achou mais adequadas.

I sh
Ê impressionante ver cjiião poucos historiadores, sem serem psieo-his-
toriudorc-s, têm de fato começado a discutir o atividade defensiva como
pialuA valiosos sobre o paüodo. LscoLbü, como o melhor exemplo que
conheço, o livro iVfan atuí thc natural world, dc Keith Thomas, um
estudo sobre as mudanças nas atitudes inglesas em relação aus. ani­
meis, aos seres Immnnos, íis árvores e a grama, Em meia dúzia de
capítulos fascinantes, rrumivilhasntiienlc documentados, Thomas esbo­
ça uma mudança mntcnntc de um estilo cultural para outro — de
postura arrogante ile que o homem, possuidor privilegiado e dirigente
de ioda a natureza, pode lazer com seres inferiores o que quiser, para
um sentido mais medesto e generoso de si mesmo enqunnto adminis­
trador dc tudo que examina. Essa mudança nos sistemas de defesa
social, cm grande parte ocorrido entre os séculos XVII c XIX. signi­
fica uma ampliação progressiva da responsabilidade humana cm reln-
ção n natureza animudu e inanimada, uma diminuição no limiar de
repulsa e um sentimento mais preciso de compaixão. As crueldades
mais devassas em relação aos. uni maia, como Thomns demonstra, eram
bastante irrefletidas, permitidas não apenas pela convicção orgulhosa
de um domínio inquestionável, mas também pela conveniente noção
de que nninini; e passam»; não tinham sentimentos e assim não podiam
sofrer. Aos poucos, os ingleses aprenderam a discriminar as suas ngres-
soes legitimas contra animais: somente os que fa/cm parte da dieta
humana ou estão cm galinheiros pedem ser assassinados som remor­
so«.. A pr.ítica defendida anteriormente dc torturar c matar animais por
esporte, comu na lutn de galo ou nn caça de ursos, com cães. tomou-se
gratuita, vulgar, indecente c inumana.
Themas traça essa impressionante reorienlaçSo da sensibilidade
inglesa tradicional ao oferecer uma série dc exemplos esclarecedores
Também propõe uttna série dc causas: a difusão do conhecimento cien­
tifico, n seculariz-açoo incipiente da* visões do inundo, n emergência
do culto nos sentimentos, originado no século XV111. Esses impulsos
para o humani turismo, que chegou a incluir animais ao lado de ho­
mens famintos, prisioneiros, crianças e nativos remotos, todos reunidos
em um nbraço lacrimoso de simpatia, foram apoiados por desenvol­
vimentos práticos. A industrialização tornou mais desnecessário do
que jamais havia ocorrido antes o trabalho animal; c aumento da
autoconfiança c da maturidade política dti laboriosa classe média in­
glesa deu um ferie impulso à propaganda umiaristocráliea dirigida
contra n caça, aquele esporte privilegiado e cruel de ricos indolentes.

117
Nu século XIX, a época tios bichs.>^ do estimação, <Jus refúgios do
vida selvagem. du vegetarianismo estava ã disposição mas eunin
Thumas conclui — sem deixar de colocar para os ingleses um tlilemo
que ainda pesa schre nos Atualmente. 'tomo reconciliar os requisitos
físicos dn civiliza çã o com os novos sentimentos c vnlores que a mes­
ma civilização havia gerado A exploração moderna da natureza pro­
duziu uma civilização desconfortável consigo mesma c com uma in­
ventividade tecnológica que gera bens e difunde prosperidade, “llimi
mistura de compromisso c de ocullnittenio*'. observa Tbomfis. "tem
até ogcnn impedido este conflito de ser tulalmcnlc resolvido. Mas nãn
se pode escapar complcinmcnic u questão c pode-se estar certo (le­
que ela retomará".-3 Ao descrever t civilização como um tlilemo
permniienic no qual não liú soluções definitivas e onde cada avanço
tem o sO» piCçú, Kciíh Thomas p.irecc-sc demais com Sigmuncl Freud.
U livro de Thonins. letia sido diferente se ele tivesse aceito Freud
mói* cxplicilninentc du qoc o fez? A questão transcende a si mesma,
e u resposta suscilnrá problemas mais amplos do que os deste cnpímlu.
E tentador sugerir que o ganho ao introduzir as categorias psicanali-
tiens nesse estudo solidamente eunsiruido seria no máximo marginal
c provavelmente ctmtntbelançado por unta certa perda de clcg&ncui
c cIcLczn. Kcjlmcnic (e acredito não catou sendo- indulgente »obre
um trabalho histórico magistral), Tltoniit» nessa ohra esteve falnndo
de Freud sem conhecí-lo. Cita Freud apenas uma vez. c a sua ciência
auxiliar, sabemos, nno é n psicanálise tuas ;i antrepologin. a quu! iõ
linha usado do forma inspirada no seu Religion and Ihe divUiu' oj
inagic, publicado cm 1971. Alem disso, cxpltcilamente negou que ti­
vesse recorrido conscientemente uu instrumental psícunslllico1'1 Mus
há cm Fhomas evidências dispersas ele que está muito familiarizado
com o domínio freudianu. rodos nós vivemos nesse domínio, mais
Ou menus, comu mostrei, mus Thomas sm-sc muito hem nessa ntoradi:i
que n.to escolheu. Emprego conceitos psicnnalíticos. como obsessivi
tladc c ptojeção. cnlpu e defesa; analisa o medo simbólico presente
na luta de galo ao rcconlreeer o douhlt’ entmdw sexual Mibjacente òs
atrações manifestas dessa ave belicosa '-'T
Ainda assim, há unia diferem,a entre visitar <• pais psicaiuililico
c tornar-se cidadão dele. O leitor alento não terá deixado de notm
que o vocabulário freudiano que introduzi possibilita unta série de
redcscrições. Mas as descrições pedem cuntcr explicações, e as cate­
gorias freudianas podem servir comu muitos outros indicadores pum
realizar diagnósticos cm profundidade de indivíduos ou do grupe» so-
i ciais; são pistas para dimcroõçs ocultas dc motivos inconscientes e
conflitos recalcados. Lm historiador que se ccupa da psicanálise no
trabalhar com os materiais que Kcilh Thonias revelou iria além ao
seguira trilha :inaIfticri onde Thomas já deu os primeiros, pnssos. Tal
historiador se questionaria o tentaria descobrir provas no detalhar
fftntúsias como a dc alunos jovens ingleses que atam um galo n uma
estaca, c u apedrejam ale n morte, ou a ilc cavadores que nbatem
veados dornestiendos que guardu-caças colocam ao alcance dc suas
armos. Ele suspeitaria dn posição cortês e indulgente com que os
ingleses bem-nascidos tratavam os povos coloniais como exibindo os
troços dc estratagemas psicológicos primitivos. Descobriria, transposta
para o século XIX, u manobra defensiva clu formação reativa —
recusa inconsciente c enérgica cio sadismo através cia prática exage­
rada do oposto no anlivivisxeccionisla virulento e intolerante. Po­
deria detector (espera-se com prudência e com o devido respeito às
nmhigiiidades d-o desenvolvimento humane) ns semelhanças signifi­
cativas entre uma visão cientifica do mundo, endn vez mais influente,
que vê n natureza não como uma serva do homem mas como total-
mente indiferente a ele, e o processo doloroso da maturação psico­
lógica wi qusil a erinnçfi cresce ao aprender :> sepamr-se dos seus
protetores e ao afastar-se do seu sentido dc onipotência precioso c
tvtalmçmc fantástico. À idade da violência c da crueldade ingênua
assentei ha-sc à fase na qual os impulsos agressivos são liberados em
parle porque muitos vivem à margem da subsistência e assim não se
dão ao luxo de sublimar os seus ódios, enquanto poucos que vivem
soberba monte como guerreiros mio precisam sublimá-los. A época de
unia humanidade c dc uma gentileza maiores, quando .1 afluência c
difundida c os valores aristocráticos estão em questão. 6 uma época
na qual a sublimação lomn-sc tanto possível quanto necessária .**
Tais paralelos, sem dúvida, teriam encorajado o historiador psicana­
lista a refletir sobre a partilha das forças sociais nas representações
mentais, que Tliomus explorou tão habilmente it sua própria maneira

i O self obstinado

O argumento que apregoa a natureza cultural do homem encerra


uma importante verdade, mas. como Freud afirmou mais de uma vez.,
nàe contém todo a verdade. Os psicanalistas nunca desviaram sua

m
atenção dn singularidade do indivíduo, da su.i brava lula pela inlogií
dado. Seus argumentos em defesa do um v.*f/ obstinado têm sido quis
liunjdos energicamente cm décadas recentes, cm alguns craiins des
laçados, c cu os defendi na minha discussão sobre us pul mV« c os seus
destinos. Vias. desde que o> historiadores tem permanecido à margem
do debate motivada por esses ensaios, é apropriado repelir aqui a sua
argumentarão. Provavelmente ít abordagem mais provocativa c para
* historiadores, suntamente utilizável entre us que buscam uma
apreensão justa sobre u natureza huutunu na cultura apareceu cm um
artigo de 1961 do sociólogo Dennis Wrong sobre n “concepção hipci-
socializada do homem" que ele constatou entre us seus colegas. Seu
título, que acrescentou um termo no voeahulãfio da ciéneiti social
conivtttporánca. indico suficicnlcmcntc o argumento que ele apresenta
de formn tão persuasiva: enquonto existiram uiguns dissidentes com­
petentes da ortodoxia, a teoria sociológica reinante em nossa época,
melhor exemplificada pelos escritos de lakolt Parsons, prccunuu ex
pliear n existência da ordem social mruvés de capacidnde du homem
para internalizar as normas du suu cultura. O homem, nessa visão,
í lotalmcnlc modelado pelas instituições que o cc cam c o oprimem.
Natural men te, icspontlc às forças externas, õ poli lieu de podei das
ouloridndcs que lhe inrpirum medu c o compelem p**n> a mbmicsAo,
mas. inais du que isso. internaliza us regras sociais. Assim se* fosse
cksobedecé-lfls, então se senliriu culpado.*''
Mas nessa concepção liipersociulizada de homem, Wrong quei­
xa-se de que o processo psicológico de "íntcinalização foi ixualudo
sub-teptkiamenlc no de ’aprendizagem', ou mesmo no de 'formação
de hábito' no sentido m.iis Irivinl". Rssn simplificação excessiva c
desastrosa desconsidera “a ênfase completa“ dn psicanálise “no» con­
flitos interno* n tensão entre impulsos poderosos c controles do
superego Para Freud, nrgumcnin Wrong, esse conflito é de impor­
tância crucial, e mostrou-se muito mais sutil, muito mais próximo da
experiência humana do que ü defendida pelos sociólogos criticado*
por Wrong. E les veem o indivíduo que se conforma sentindo-se hem:
mas os psicanalistas demonstraram que tal indivíduo |wdc sofrer muito
mais fortemente do que o dissidente não conformista, contestndor
' Segundo Freud, é prccisamenic o loniem que tem o supetege mais
severo, u que internalizou mais completamentc c que se conformou
ns normas societárias. o mais torturado pela culpa c pehi ansiedade." *’

ia.il
iiSííi realidade sociológica sombria. irônica c inacessível para os
cientistas sociais que .-.c impressionam indevidamente com « capaci­
dade da cultura pum integrar us seus diversos componentes. Por esta
razão ;i uhiqiiid.ide do conflito lauto na sociedade como no individuel
deve permanecer um mistério paru eles. ser negada ou deixnda de
Indo. Na verdade, o que Freud viu, e o que aqueles sociólogos não
vêcm, é que o conflito é n no mui, c riéo a anomalia. Eles fediam os
alhos, quase que voliininrinmeiilc, ils pressões dns ncccssidndcs in­
consciences. às impertinências do princípio do prazer. O "discerni­
mento mais fundamentar' d» psicanálise é o de 'que a desejo, n emo­
ção e a fantasia são tão imporIunies quanto os atos na experiência
dos homens Ao insistir sobic u maleabilidade humana, nu sua lume
poi aprovação dos outros, a maior parte dos cientistas sociais des­
considerou o sei] obslinado. I- assim. Wrung conclui, "quando Freud
definiu a psicanálise como o estudo das 'vicissitudes dos instintos',
estava confirmando, c não negando, u ‘plasticidade' dj nu tu reza hu-
mnrui sobre a qual os cientistas sociais insistem. As pulsôcs ou 'ins­
tintos' dn psicanálise não são disposições fixes para comportar-se dc
uma forna particular; são lotalmcntc sujeitos n serem canalizados c
transformados socUlmentí, c não se revelariam no comportamento
sem o moldura social" Não hi dúvida de que para a ' psicanálise o
homem é nu verdade um animal social; sua natureza social está
profundumenlc refletida na sua estrutura corporal*. Mas as diferenças
entre a concepção freudiana e a da maioria dos sociólogos permanece
profunda. “ Para Freud o homem é um anima! social sem ser um .mi­
mai inleiramcnle socializado. A sua natureza social é em si mesma a
fonte tle conflito» c antagonismes que criam resistências <t socialização
através de normas de qualquer sociedade que possa ter existido nu
curso da história humana." *’ O que torna a leitura sociológica dn
natureza humana errònca a tão parlicularmetitfi irritante é o fato de
cia fazer uma leitura errônea da psicanálise, uma violação de Freud
cm nome dele, que .1 maioria denses cientistas sociais achn que estudou
ccim cuidado e proveito.
Cerco de seis anos antes de Hennis Wrong publicar o seu pro­
testo jrgumenurde e ultuincntc cfieaz cuturu uma teoria tio homem
que simplesmente mergulhava 0 indivíduo no seu siinbicntc social.
Lionel Trilling chegou às mesmas conclusões por via literária. Ao
meditar sobre o papel destacado de Freud nn definição da idéia mo­
derna dc cultura. Trilling npkmdiu o comprometimento de Sigmund

141
Freud cum a biologia, que ele vê corno algo que oferece uniu ajuda
incomparável ao indivíduo ameaçado. Com certeza, Trilling escreve,
Freud ‘ deixou claro como a diluira difunde-se ale as parles mais
remotas da mente individual, sendo considerada quase literal mente
cume u leite materno". Mas, enquanto Freud descreve a pessoa como
invadida pela sun cultura até es ossos, "há nu que dir. sobre a cultura
um acento firme de exasperação c resistência". Sua "concepção de
cultura c marcada” por uma 'consciência adversa“ poderosa, uma
"percepção indignada", por um "trágico arrependimento’ . Embora o
seiI para Freud seja "formado pela cultura”, ele "lumbõm vé o self
como um conjunto contra a cultura, lutando contra ela, relutante
desde u inicio cm entrar nela”.aí Em poucas palavras, u cultura i
indispensável e sufocante ao mesmo tempo. O que pode resgatar o
indivíduo do seu abraço fatal são os impulsos instintuais: a insistência
freudiana na procura ininterrupta de prazer, ancorada nn sua consti­
tuição essencial, "longe de ser uma idéia reacionária, c real mente um a
ideia libertadora. Propõe pura nós que a cultura não c total mente
puderes«. Sugere que hú um resíduo da qualidade humana para além
do controle cultiirnl". A sede pela comunidade que fascina «té as
pessoas cultas, a sua necessidade consumisl» de sermos ‘ todos juntos
não conformistas", deve ser corrigida por umu resistência firme n essa
"onipotência cultural*.
Essa resistência retira a sua força da reflexão freudiana de que,
"em algum lugar nn criança, em algum lugar no adulto, há um niidco
duro, irredutível, obstinado de razão biológica, que a culiura não pedo
alcançar e que se reserva o direito, e o exercerá mais cedo cu mais
tarde, de julgar a cultura, de resistir e de revisá-la"/“ Isso é algo
mais do que elegante c enfático; enquanto uma exposição sobre as
convicções firmes de Freud a respeito da interação dialética entre
indivíduo e sua cultura, está totalmente correta. Hasta ler os ensoí
clínicos freudianos para reconhecer a Legitimidade das avaliações de
Lioncl '1 rilling c de Dennis Wrong sobre o pensamento freudiano
n respeito tia nutureza humana; para tu dos os seus analisando«, Freud
achou que vulia a pena escrever igual mente sobre js experiências que
eram deles mesmos e sobre ns que eram impiamente partilhadas; eles
eiam ao mesmo tempo vítimas dos outros c de si mesmos.
Prccisamcnlc como us psicanalistas, embora por razões profis­
sionais próprias, os historiadores cnconlmm-sc traçando u fia da indi­
vidualidade na tapeçaria da sociedade. Não impona quão incerto um

142
historicista du história moderna possa ser. ele tende n comprometer-se
com o individualismo, a procurar o que é único em cada personagem
histórico, cm cudu evento histórico, cm cada ópoca histórica. Tudo
mais, dirá, i sociologia. Mas o seu individualismo está sob um desafio
permanente; a sua necessidade de generalizar, de supor e de exibir
a realidade de entidades mais amplas — clãs, profissões, classes —
pesá continueinentc sobre ele. £ neste momento que as experiências
partilhadas sobre as quais falei exigem ser reconhecidas c descritas
coletivnmenlc.M Mesmo o historiador da história comparada, amol­
dando o seu olhar abrangente c treinado sobre os diversos materiais
diante de si, deve estar tão preocupado com o que os vários elemen­
tos em comparação têm cm comum quanto com o mostrar o que os
diferencia, ücm dúvida, o historiador considera as generalizações uma
conveniência; poupam trabalho na pesquisa e facilitam a comunicação
dos resultados. Mas se são mais do que artifícios retóricos, devem
estar baseados na convicção de que capturam similaridades substanti­
vas, mesmo identidades parcinis, e. ao tnesnio lempn, nmn interação
continua — e passível de ser descoberta — entre os indivíduos que
constroem a coletividade e a própria coletividade.
Seria niuilu tentador desconsiderar essas preocupações historio-
grtifions como uma brincadeira coro questões banais que lodo historia­
dor resolve quase inliiilivamente consigo mesmo ao reco rrer à sua
experiência profissional. Mas os problemas são sufieientemcnie ge­
nuínos. c não menos prementes pura serem ignorados em geral. Sur­
gem com particular insistência na análise das crenças comuns uu dos
ideais prevalecentes. Com certeza, n realidade difundida pelas noções
dominantes sobre homem, natureza e destino, e o seu impacto trnns-
gressivo sobre os homens que as têm absorvido enquanto disposições
culturais desde os primeiros momentos que as sentiram, parece estar
além de qualquer desmentido: a voga atual do termo francês mtnitulilá.
que c apenas o Zcil^isJ atualizado, testemunha isso. A contribuição
peculiar da psicanálise ao estudo da Mentalité — unin generalização
notavelmente abrangente — ó a sua descoberta de conflitos ocultos
e dc pressões invisíveis na construção das mentes humanas. Crenças
compartilhadas, o psicanalista dirá, são no mínimo, em parte, ilusões
e fantasias compartilhadas"
As questões que essa discussão suscita são táo delicadas e tão
importantes, que quero passar cm revista os modos através do quais
os cientistas humanos c sociais podem realizar com vantagem o ir

143
c vir entre a psiculogia social e u individual. O historiador pude
elHhorar c clarificar a psicologia social freudiana, um tanlu rudimcn-
lar, que explica n coerência e as ações grupais através de identifica­
ções mútuas, pelo efeito liberador que a pura existência coletiva leni
subre o* impulsos noi mal mente colocados cm xeque, c pelo modo que
os grupos libcranvsc de seus prupósilus originais pata petseguir obje­
tivos próprios. Pode, em seguido, recorrer à perspectiva psieanolíiica
sobro u natureza humana que vê o natureza cuinu oferecendo um
repertório impressionantemente vnrindo mas cílritumenle limitado tle
desejos, sentimentos e ansiedades possíveis, nssim permilindo ao his­
toriador predizer prudentemente, sempre alerta cm relação aos
desvie» — como as coletividades estão propensa? .1 pensar c a agir
em conjunto. Pode. também, seguindo o esquema desenvolvimentista
freudiano que analisa como u indivíduo internaliza os costumes, ns
crenças c as proibições sociais, c como a suu cultura, agindo princi-
palmerile através da mediação do que lhe é mei» próximo, fornece
direções para as suas pulsões cruas, desejos ocultos c ansiedades flu­
tuantes. Pode, além disso, seguir os procedimentos iniciulmcnlc deli­
neados e popularizados por Hrik Hrikson no seu Yiiung Mim Luther:
conecntrarsC no ttaáter c acuso5 de um personagem influente que, o
autor pressuporá, reflete c articula ns tensões mais profundas de sua
época e do lemperamcntu subjacente de wui euiitciupuinncus tom
uma lucidez exemplar tiu com utiiii intensidade neurótica porém ins­
trutiva,
Esse estilo criksoniano dc análise, no qual o historiador 16 a
cultura atrnvcs dc um indivíduo, tem seus riscos c suas vantagens:
sua eficácia depende muito mais dc uma exploração histórica) cuida­
dosa do mundo social dc grandes personagens do que do diagnóstico
de sua cstrutuin de caráter. Unw des pçrspOçtivus mais arrojadas é,
no meu julgamento, a tle Ailliur Mitzman em lrvn cage, que rculiza
uma interpretação histórica c psic analítica dc Max Wcber. De acordo
com a leitura de Mit/nian sobre n vida psíquica atormentada dc Wcber.
que inclui uma dolorosa rebelião eontrn o seu pai e um surto psicótico
duradouro, seus dilemas mais internos refletem >* dilemas da sua
cultura rígida e tfpressoni que. pelo menos para um inlclcclu incan­
sável e fnquicilivo como o de Wcber, convida imediainmente a unia
desobediência radical i autoridade que « pune sem piedade, Final-
mente, o historiador psicanaliticu h procura dc uma psicologia social
pode rnslienr a cultura do indivíduo e 0 indivíduo em sua cultura, ao

144
explorar as defesas que o ajudam, c a sua cultura, a atravessai n
1 vida.3*
Citei Freud, confiante de <juo as suas descobertas abrem o ca­
minho para uma compreensão da sociedade ao oferecerem explicações
sobre o funcionamento das mentes individuais. Disse-o de novo perto
do fiiuil da sua viela, no pús-escritu ijue acrescentou cm 1935 à sus
pequena autobiografia, publicada de/ unos untes. Tinha quase oitenta
anos, c podia olhar rctrúspcctivaincntc para quase meio século de
pensamento original sobre o homem nu sua cultura. "Depois de um
desvio nu longo de uma vida através da» ciências naturais, dn medi­
cina e da psicotcrapia", escreveu, "meu interesse retornou àqueles
problemas culturais que haviam fascinado o jovem apenas despertado
para o pensamento”. Tão cedo quanto 1912, Tccordou, investigara as
origens da religião cm Totem and Tobvo a partir de uma perspectiva
psicanalllica; nos unos I92U, prosseguira o seu trabalho cm The Juture
oj a Ulusion e CívUization and its disconlenls. Tinha sido ajudado
pelo "reconhecimento, enda vez maior, tie que os eventos da história
h u m an a, as interações entre a natureza humano, o desenvolvimento
cultural c os precipitados das experiências primevas — a partir de
cujos representantes a própria religião & impulsionada pntn » frente
— são apenas o espelho de conflitos dinâmicos entre o ego. u id c o
superego que a psicanálise estuda nu indivíduo, os mesmos eventos
repetidos cm uma escala mais ampla' 3r Freud nunca duvidou de que
a estrada que leva do divã para a cmItura está aberto. O historiador
simpatizante, ao refazer os passos freudianos, concordará, mas está
obrigado a acrescentar que :i psicanálise o deixou cora muito trabalho
para ser feito. Sua estrada não está completnmenle pnvimentada nem
mapeada odequadamente. O que o historiador tom à sua disposiçfio
é um esboço sugestivo que deve ser preenchido com as suas próprias
pesquisas, usando as suas próprias habilidades. Talvez seja suficiente
para n sua moral saber que o instrumental freudiano forneceu-lhe o
mapa e os meios e que, na difícil área fronteiriça onde se encontram
a psicologia individual c a social, a psicanálise preocupou-se cm man­
ter um balanceamento saudável entre u parle social da mente do
indivíduo de um lado, c o self único c ubstinado, do outru.

145
6

ü programa cm prática

1 . Pensamentos siccrca <lc registros

Ainda é preciso disparar, no bssalto freudiano, sobre uni bruvu


tiolsão dc resistência, após lerem sido vcncidus tedas us furtificnçõo
defensivas dos historiadores c invadida a sua fortaleza do senso co­
mum: u pruposta de inserir st psicanálise im pesquisa c na interpretava«
histórico pode ser. no fim das contas, impraticável. Mesmo o historia
dor que se confessa lolalntcnlc persuadido pelos capítulos anteriores
tem bons razões paru ter reservas cm rcloçno a esta dúvida derradeira.
Ele pode reconhecer que b sua disciplina pode lucrar cum uma psico­
logia fidedignii; que a percepção psieinalíties da natureza human» c
em úlrinta análise compatível cm grande medida com os seus próprios
pontos de vista tácitos: que a psicanálise pode ngtiçar a sua sensiliili
dade «üo apenas' cm relação no pensamento e à conduta ligados á
tradição c no irracional, nins também ao egoísmo racional; o que o
individualismo proverbinl da psicanálise, longe de ser frustrante. pede
instruir a investigação histórica u respeito de fenómenos coletivos
Ainda assim, tendo concedido tudo isso, ele pode persistir ao recordai
mais uniu vez a nisi reserve favorito c (segundo ele) devastadora: nõo
se pode, aftnnl de contas, psicanalisar os mortos.
Desde o inicio acreditei que isso c mais do que apenas uma
objeção perspicaz e ehstrutivu 0 passado, individual ou coletivo, não
d um paciente. Clict no divti nik> responde às interpretações item de
senvolve transferências cm relação ao seu analista. III» está apenas .ili
Nús descobrimos as implicações dcsalentadoras da sua passividade
obstinada. Frustrante, espalhadas pelas páginas tios escritos jKico-hisló
ricos. Ceriaraente. é inegável que os registros que os historiadores
freudianos, u começar pelo próprio Freud. têm compilado não inspi

147
tom muita confiança. Duvid Slunnnrd aslutnincnlc devotou o capitulo
ilc abertura do seu ataque h psico-história — e à psicanálise — no
ensaio de Freud sobre Leonardo da Vinci. Os defeitos desse artigo
cxplicilaineiilc exploratório já foram expostos: ao analisar uma memó­
ria única c aflitiva tia primeira infância de l^eonardo narrada por ele
em suas anotações. Freud fez inais do (|tie traduzir erroneamente uma
palavra-chave, ü pássaro que. Leonardo recordou muitos anos mais
Ifirde, vtern até ele quando era ainda uma criança de berço, abrira a
sua boca com a cauda, batendo nos seus lábios repetidas vezes, não
era um abutrC, conte l-reud supôs, mas um milhafre. KsUi parte isola­
da do intrincado novelo do raciocínio freudiauo sobre o desenvglvi-
íncnlo psicológico de Leonardo: o abutre, um pássaro associado na
mitologia egípcia à malcmitladc c à androginia, levou Freud a algumas
especulações de longo alcance; n milhafre era somente um pássaro. E
ao fazer inferências biográficas íntimas da aparência jovem de Santa
Ana na célebre pintura da Virgem com a tnàe c a criança, d e não
levou em conta n convenção nrtíslicji da época de Leonardo de reju­
venescer Santa Aua.
Tudo isso forneceu aos críticos da psico-história uma munição
muito bem-vinda. Mas. enquanto Freud linha a sua curiosidade des­
pertada pura escrever um artigo sobre l>connnlo devido à história
interna, fnceinanie e misteriosa do um artista que cio admirava muitu,
seus impulsos originais decorrem do seu interesse sobre u formação
do carálcr c subre as otigens da homossexualidade. *'Leonardo da
Vinci c uma Memória infantil" rão se propõe a ser uma psicobiogra-
fiü, c assim está longe de poder ser um teste conclusivo sobre us
usos que o historiador pode dor h psicanálise.1 Fntretnuto, não é um
começo promissor.
Tampouco as últimas aventuras feitas pelos psicanalistas são indi­
cadas para silenciar todas as dúvidas. A psicobiogrnfia de Lutero por
Erik Erikscn, quo serviu como modelo, c cotno observei antes, real-
mente estabeleceu a psico-história nos meados da década de ãU, é
uma obra comovedora de erudição literária: Erikson ofereceu refle­
xões madurns sobre um adolescente, o jovem Lutero, a partir da pers­
pectiva dc um analista profissional culto e dedicado que procura
aliviar os tormentos e inspirar uma série dc jovens dotados e profuti-
dnmcuie perturbados. Ccrtaracmc o programa pata uma aliança que
funcione entre o psicanalista c o historiador é um modelo do tipo
que Erikson propõe no seu capítulo dc abertura. Ao mesmo tempo,
Martinho Lutero era uma escolha pouco feliz, embora atraente, para
exemplificar o programa: não podemos ter certeza de que os episódios

148
críticos dc Luteru. subrc os quais princlpHhnenic se baseou n -»ou
biógrafo psicanalítico, aconteceram do iiiudu comu tonim rcpistiudu-.
posferiormente. ou mesmo se realmente ocorre rum2 Além disso, faltou
aos inúmeros epígonos de Erikson. na s-ua mnior parte, ti energia inte­
lectual e o seu dom para uma exposição clcgnnle.
Para tornar o trabalho dos historiadores freudianos aindii nuns
problemático, e manter o ceticismo dos historiadores célico. a> expe­
dições nioconvincente»dos psicanalistes na história psicnnultiica foram
combinadas com ns incursões dos historiadores no mesmo terreno
sombrio e perigoso. Nãu há grande proveito em se fazer uma critica
dos escritos psicanalfticos desde os meados da dócttdu de 50; cies
soniatn realizações muito variadas e náo sno. em suma. cotnplclumen
te desuniinadoras. Aludir, mesmo rapidamente, aos fiascos cln psico
história não é ceder, mas limpar o terreno. Por sun vez, os historia
dores deleitam-se em achar essa literatura suficiemenicnlc prose.uduru
para manter viva a suu resistência. Na suu leitura preconceituosa, cs
psico-histotifvdorcs são culpados dc interpretar teorias políticas cuida-
dosamente organizadas como reflexos puros de identificações sexuais
ambíguas, ou de degradar mudanças significativas nas seleções fami­
liares a orgias do combati! edipiano. Na realidade, cssns psico-hislúrias
rar.imentv são tão espalhafatosas, tão vulgares como os seus rcscnlm-
103 in lindos c Impacientes gosUiii dc se queixar. Mesmo quando us
psico-hisloriadores desaprovam seriamente qualquer com prometi mento
com o rcducionismo.3 suas monografias c sínteses frequentemente
acnbnm por sucumbir a essn tcmaçno. O rcducionismu porcce ser um
defeito Ião constante dos psieohistorindorcs que os híslurindores o
veem entrelaçados com a sun própria estrutura, tomo utnn falh i
inerradicãvel e fatal.
Mas o reducionismo é mais um acidente da história psicanalítica
do que a sua essência É u mais pnlpóvcl entre as aflições crescentes
de urna disciplina que tem sido jovem já há algum tempo mus que
pode continuar a solicitar u tclctâucia devidu u umu discipline que
está ainda numa fase exploratória. Reconhecidamente, a história | sica
nalftica c siiiguluniicntc suscetível uos flagelos dos entusiastas. Os >cus
produtos mais infelizes tem muitas causas, como aquelas pcrpctt.id.us
cm outros domínios da história. Mas. como os críticos têm insistido
com justiça mas não sem malícia, um mitncro exagerado de psico-his
toriadores tem cedido às atrações da simplicidade e da simetria, a
seduções que historiadores que lidam com uni instrumento intcrpiv
laiivi» novo e excitante tèm achado peculinmientc irresistíveis. Entre

149
tanlu, temos «ntidolos teóricos c prático* pura imunizar o historiador
contra tais engodos.
ÍZssa afirmação confiante ínlguns poderium dizer indulgente) exige
alguma qualificação. "Rcducionismo" é, como sabemos, um termo
ofensivo. Fníbera n redução, urna forma racional de dissolver umu
teoria ern uintt outra mais ampla, abrangente, seja um procedimento
cientifico lotalmente respeitável.4 Ele deriva sua legitimidade de uma
regra de parcimónia, a navallia de Occam, que ensina ao cientista que
ele não deve multiplicar as leis e as teorias sem necessidade. Na medi­
da em que os pensamentos conscientes e os eventos palpáveis podem
ser exauslivsmenle explicados através de vontades ou conflitos em
grande parte inconscientes, » redução psicnnnlítica nno é um redu-
cionismo. A questão c totalmente concreta: na prática histórica, só
podemos decidir se uma interpretação cruzou a linha que separa tuna
economia aceitável do terreno proibido da ingenuidade dopei» que u
dnburamus, c caso a coso. Não há nnda que sejn inercntcmcnle inv
plausivcl cm urna explicação histórica que de primazia aos fatores
psicológicas. Como outros cientislns, o historiador anseia por oferecer
uma explicação no lugnr onde antes existiam duas. c isso apesar do
comprometimento do historiador, cuidudu.suincntc cultivado, pela diver­
sidade. Tem sido a sun procura por um esquema explanatdrio preciso
<• i’lnrn qin* diriga os psien-liislnríatlores pata uma psicologia iln id.
deliberadamente primitiva, e insensível ac trabalho, feito pelo ego, de
testar n realidade, e pura degradar us atores históricos adultos a um
feixe de sintomas infantis não resolvidos e persistentes. Km poucas
palavras, eles tem atuado contra o sábio conselho de Whitehcad para
o investigador: procurar u simplicidade mas desconfiar dela. Freud
não eslavo persuadido cerno cies: cie objetivava submeter o carilci c
a conduta individuais n leis psicológicas que os subsumiam e ao mesmo
tempo estabelecer a singularidade de cada pessoa, longe de destruir
a celebração da variedade humana e dn especificidade histórico, ele
leria trazido mais champanhe para comemorá-la.
Tê-lo-ia Feito ein nome da sobtedelertntnação. Algumas vezes, us
críticos lêera este princípio psicnnalítico fundamental como uma fuga
prüden : á responsabilidade. Mas então, aqueles que querem encon­
trar un defeito cm Freud irão cnconliá-lo. Uma vez que eles não têm
escrúpulos em acusá-lo de ser umu monte simples c unilatcrnlmente
dogmática que recomenda um epente causal prcdizivelmcntc ubíquo,
a sexualidade, e, ao mesmo tempo, dc sc refugiar, na sua confusão
sobre o drama htnnntio, numa vaguldade resplandecente dc umn causa
çiio múltipla. Sobrcdcterm inação. de feto, não é nada mais do que

150
um reconhecimento sensmo dc que uniu variedude dc csusa» vm;
voiiedudc c não uniu infinidade atuu no tunstruçá« dc todo» os
eventos históricos, c dc que cada ingrediente nn experiência histórica
pode ser contado como tendo uma variedade — c não uma infiiiidade
de funções.' O historiador, ao irabnlhiir com umn riqueza de agentes
causais sutis c grosseiros, imediatos e remotos, c ao pretender não
suprimir nenhum deles e ao sujeitá-los a uma ordem, só pode colocar-
sc de aeordu e aplaudi-la. Procurar a complexidade, historiador e
psicanalista podem dizê-lo em uníssono, procurar ti complexidade c
domii-hi.

2 . Modos c meios
Cm momentos dc uutodeprcciação bene vo lente, os psicanalistas
.ilgurnas vezes nruildosamcnlc previnem-se contra fazer inferências
apressadas: "Não generalize u partir de um caso apenas", dirão, ‘‘ge­
neralize a partir dc dois" Iclizmente, a literatura histórica recente
oferece m us du que dois exemplos dc como as percepções psicanu-
liticas podem atuar eotno auxiliares pora descobrir e interpretar. U
elenco de instrumentos fretidiaiius tem. afinal de contas, tinta gradua
ção fina e uma versatilidade notável. Aprendi em meu próprio irsibn
lho que o historiador pode agrupar as percepções freudianas tle medo
j descobrir temas sohre fatores críticos embora Itá muito mnrginali
zados no estudo histórico — os programas escondidos que quase imper
ceplivelmente dominam a infância, a família, e .1 cultura como um
todo, e os fluxos libidinosos c agressivos que em segredo mas irresis­
tivelmente invadem a vida social e politien Pode ficai mento às me­
táforas que colorem o discurso cultural. Pode observar os ódio« apai­
xonados. segui (lamente escondidos, que deixam seus traços nos jogos
e nos festivnis e que vão desde a hostil idade grosseira dos charivaris
até ms mensagens oblíquas dos ritos dc iniciação. Além disso, pode
jnalisar os silêncios reverberntivos c reveladores da sociedade. Para o
historiador psitnnalilico, como pain Sherlock Holmes, o cachorro que
não ladra durnitie a noite pode ser chamado u depor enquanto testo
munha relulatilc mas informada A psicanálise oferece idéias e. na
situação adequada, com its suas próprias restrições auto-impostas, até
algumas técnicas que podem dor acesso inesperado a fantasias popu­
lares, &sonhes c lapsos c u cultos ulus sintomáticos, e ,1 táticas defen­
sivas que indivíduos c instituições utilizam de forinn bastante invu-
luinúriu. Alerta o histuriador para documentos que. na ausênem de
suas teorins, são inúteis, silenciosos c despidos de sentido
Au analisar as campanhas ansiosas contra a prostituição para o
meu estudo sobre o amor na ctillura du séculu XIX, fiquei impres-
sionndo com o desejo latgomenic difundido de salvar as 'mulheres
decaídas” e de reivindicar para elas uma vida pura e respeitável Fbi
intenso o comprometimento com essa reabilitação c, para a maioria
dos reformistas, consciente. Estimulou o formarão de comissões de
especialistas nas grandes cidades em Ioda a civilização ocidental no
Final do século XIX, corno havia ocorrido anteriormenie com «s orga­
nizadores de casas de recuperação c de abrigos para prostitutas arre
pendidas! monopolizou as simpatias imediatas de Charles Dickens e,
mais notoriamente, as dc William Ewart Gladslonc. que atravessava
as ruas noturnas de ixaidres para abordar jovens prostitutas com
panfletos, discursos bem-intencionados c convites pura visitar a sua
esposa no lar. Todos esses esforços benevolentes estão de acordo com
a mentalidade mais ossistencial dtis classes médias do século XIX,
tonto piedosos quanto leigas. V1as convenci-me do que elos tir.iram
muito dn sua energia de ume idein inconsciente, o fantasia <lc recupe­
ração, o desejo dc reabilitar estranhos, um disfarce para um desejo
hem mais potente de restaurar n purezn tnatcnm que. embora ofiuiil-
mente fosse um aujo, fazia coisas misteriosas e terríveis cum o pai
por trás das portas trancados do quarto de dormir. Se não tivesse
estudado Kreud. não teria mo dado conto da ação da fantasia de
recuperação, nem encontrado a sua altíssimo utilização em utnn cultura
pronta para ter compaixão.
OuLros discernimentos e práticas psicanaliticas permitiram-me
seguir pistas que não leria reconhecido, c confiar cm interpretações
que não teria imaginado, sem u seu auxílio. Ao ler as referências em
diários privados como se fossem cadeias de associações — unta espécie
de ziguezaguear desimpedido que se pede a todo analisando que realize
no divã vi-mc trotando os salto* abrupk* dc um Icmn pare outro
não como urna digressão casual ou como desvios acidentais da aten­
ção. mas como padrões de processos mcnlais coerentes, surpreendeu
temente legíveis. Manter um diário c cscrcvê-lu. algo apreciado, espe-
cialmente tio século XIX. por pais e professores, há muito tinha as
suas convenções; saúde, o clima e os pensamentos profundos sobre o
amor c a religião eram temas quase que obrigatórios. Eles. também,
podem tomar-se sintomas reveladores de uniu sociedade preocupada
excessivamcnlc eom o estado mental e do corpo. Mas além disso, as
mudanças curiosas e frequentes na sucessão das observações e con­
fissões particulares revelaram nté nmis, através dos suas conexões
inconscientes, do que o próprio escritor p oderio revelar inlencion.il

152
menu:. IX- novo, no estudai os sonhos que os memorialistes c ns cacri-
lores de catlas pensaram que cram suricicnicmcnic interessantes para
registrarem c. n partir da *ua própria maneira amadora, interpreta
rcm. pude extrair dos seus sonhos latentes pensamentos eróticos bem
camuflados e material agressivo tie que -as superficies su a m de cultos
testemunhos que sobreviveram não deixaram qualquer traço. Além
disso, os conglomerados dc símbolos no sonho manifesto ou de outros
dclalltcs que parecem ocorrer com maior frequênciu em certas cultu­
ras cm dades momentos dcrsm-mc pistus valiosas, cm alguns casos
inaplicáveis, para conflitos mais gerais mas pouco percebidos. IX
modo similar, pura dar um outro exemplo, tornei-me consciente de
como os documentos estéticos acessíveis cm uma sociedade — seus
romances, poemas, ou pinturas - revelam, sub as lentes psicanaHticas.
a maneira pela qual aquela sociedade procura resolver, ou recuse-se
,-i reconhecer, questões que nclin muiiu dclteadas para discutir franca-
mente. A inclinação denissiadmnente humana para o incesto, os peri­
gos e «s promessas do corpo humano exposto, o medo subjacente dos
homens (enqunnto diferente ilu manifesto) em relação its mulheres,
ou O tncdu das mulheres em relação aos homens, tudo água para O
moinho do analista, pode tornar-se um m aterial esclarecedor paru
historiadores.'
Naa décadna mni» recentes, alguns hiágraíoa c liLtoriudores. intv
p.raratn com sucesso esse modo de leitura aos seus métodos costumei­
ros. teslndcs pelo tempo. Nem sempre mencionaram o nome de Freud:
por exemplo. Edmund Morgan sugeriu que. se não houvesse se utili­
zado de Freud cnqunmu escrevia a siib dissertação sobre a vida fami­
liar purituiui nu Massachusetts do século XVII. terin escrito um livro
bastante diferente.7 As vezes, contudo, o débito tem sido reconhecido
explicfismente. Nnda c mais instrutivo do que o livro magistral de
lí. It. Dodds The greeks <iiid the irrational/ Vale a p e n r examinar
aqui liinto o seu procedimento quanto os seus resultados
Dodds inicia o seu livro turn uma descrição intrigante, algo ten­
denciosa, sobre o modo que o levou a escreve-lo: uma exploração
sistemático nn qual as proposições freudianas não funcionam como
objetos decorativos c elegantes, mas são disponíveis paru o pré-cons-
ciente, c servem para organizar ns percepções suhre as experiências
passadas e lra7XT tie novo õ vidn conhecimentos eruditos empoeirados.
Lm dia. Dodds recotda, ao olhar para as esculturas do I’artcnon no
Museu Britânico, encontrou por acaso um juvem que olhava para as
mesmas esculturas mas au contrário de Dodds — não estava nada
iniprcssionndo com elas Os dois começaram .1 conversar e Dodds

155
perguntou uu jovem se ele pedia explicar o seu desinteresse. '‘Bem",
ele aventurou-se. depois de refletir um pouco, ‘‘d tudo tão terrivelmen­
te racional, sc vocc entende u que eu quero dizer”. Dodds achou que
entendia. Levou-o a pensar: “Seriam os gregas assim tão cegos pnra
a importância de*. fatores irracionais siihrc n experiência e o compor­
tamento humanos como supuseram tento os seus apologistas como os
seus críticos?*'. Os mais em inentes estudiosos do classicismo, colegas
de Dodds. incluindo Gilbert Murmy e Maurice Howra, tendiam a
desconsiderar ;« irracionalidpdc dramática da religião grega como uma
pura gBlhofii, conto mera literatura. Assim, esse encontro au acaso,
acrescido da recusa dos estudiosos de levar n serio a religião grega,
definiram para Dodds "‘a questão a partir dn qual surgiu o livro”.* O
livro foi a resposta que ele deu.
C sempre nrriscado para os leitores substituírem as suposições
do uutor a respeito da gênese peias suas — ele. afinal de contas,
estava tá. Mas sustento que o esplêndido estudo de Dodds sobre u
experiência grega não surgiu apenas :i partir de uma questão — ou,
pclu menos, ela não se colocou no inicio dn investigação, fcxistiu uma
história considerável por trás dela.'“ O investigador profissinnul, afinal
de cunlas, aborda a tarefa escolhida com técnicas Icslndus. pontos de
visto articulados, informações abundantes, c algumas idéias sobre as
controvérsias de panln na sua disciplina. Não imporia quão proviso­
riamente posso colocá-la. mesmo para si próprio, ele irá fantasiar
sobre et descoberta de um novo fato. sobre o desenvolvimento de timn
nova linha de raciocfnlo, talvez trinndo uma nova teoria que lhe trará
senão fama. dinheiro e u amor de mulheres maravilhosas, |>e!o menos
» atenção de seus pares. O estímulo para a aufodisciplinn. o hábito de
colocar dúvidas vagas às suas noções mais valorizadas e aos seus epi­
gramas mais mcticulosnmenle afiados, e de confrontá-los com a evi­
dência quando ela surge — tudo isto é posterior.
A explicação de Dodds. corno a formulou após o seu encontro
eus uai, acarretou algumas conclusões que ele desenvolveu, com a
paciência e a base informativa de um estudioso, após décadas de tra­
balho sobre textos antigos. L'm demônio exigente, embora de nenhuma
íornin malévolo, acompanhou fl sua carreira; um fascínio pelo lado
irracional du experiência liuniunu. Nu suu muruvilhusa autobiografia,
publicada em 1977, dois. anos antes de sua morte, ele descreve esse
"elemento recorrente*' que governou a sua vida "por mnis de sessenta
anos como um fio de cor distinta cm um trabalho de remendo” , como
“n tentativa de observar c, se possível, de compreender alguns dentro
dnquele vasto campo de fenómenos peculiares que ocupam o terreno

154
disputado entre o ciência c a superstição" Pelizmcnte. ele aprendeu
a usar o oculto sem que o oculto o usasse; definiu-se como um “ inves­
tigador psíquico" cauteloso atraído pur fatos iitexplicados, porque
"acredita que podem c deveríam ser explicados como fazendo parte
da natureza tanto como quaisquer outros fatos", O "objetivo a longo
prazo" do “ investigador psíquico", assinalou Dodds, “ nãuc o dc glori­
ficar ti 'oculto', mas de aboli-lo ao trazer para n luz o seu vvrdudciur
vnlor c no njustã-lo uo seu lugar cm unia visão cocTcnte Jci mundo.
Longe de desejar derrubar u edifício imponente da ciência, u sua
ambição maior c construir um modesto anexo que servirá, pciu menos
provisoriamente. para abrigar t» seus novos (atos com um mínimo de
perturbação para a planta original da construção",1
Essa passagem poderia ler sido escrita por Sigmund Freud, lie
forma muito parecida com a dele, Dodds exibe urn interesso npnixo-
nado peias crenças, práticas e modos dc condutu que colegas rueio
nulisiss desconsideravam como superstições, como sintomas dc per­
turbações ou como um jogo imaginativo que pilorescamcnte cscondr
por bnixo dc si o pensamento racional Dc forma muito parecida com
n dc Freud. Dodds considerou scrinmentc os sonhos, a loucura c o
transe, e teve tuectso em revelar aspectos da mente grega que sons
antecessores dc forniu bastante literal não haviam visto. Permitiu que
cie rccotiliccctuc o hábito grego dc ntrilioir oa acus estados mentais à
intervenção divina, náo como uma deseulpn estereotipada ou um»
fuga ú responsabilidade. mas conto um tipo tie projeção, ";t expressão
pictórica dc umn advertência inlcma": foi a partir dc tais sentimen­
tos internos, depositados nos deuses, que "se desenvolveu a maqui­
naria divina” Então, em algum ponto no final do século V a.C essa
projeção, na qual “ os impulsos não sistemáticos, não racionais, e os
atos resultantes deles, tenderam a ser excluídos do se}} c atribuídos
n umn origem alheia" grsidunlmcntc deu lugar a uma "exigência nas­
cente «le justiça social", a umn certa " 'intemnlização' da consciência".
O falo de Dodds valcr-se de uma terminologia técnica permitiu
lhe avançar duas teses infimamente relacionadas. Tomou a atividade
projetiva antign como uma pista para estilas arcaicas dc pensamento,
e náo como um tique misterioso, fortuito. E. sto reconhecer n trailii
çno de impulsos indesejáveis cm intervenções perniciosas de deidades
captlc lioettt como um mecanismo dc defesa, pode colocar-se acima dc
uma postura moralista. Ú que outros estudiosos, com menor ireino
cm formas psicanaliticus de pensar, teriam visto como uma peça arqui­
tetada de soHstica — se vissem algo — Dodds pôde interpretar como
uma atividade mental quasi* totalincntc inconsciente na sua muiircza
Cum n sua prudência costumeira, d e nau se aventurou u dar uma
completa explicação pura essa mudança (lc un "cultura da vergonha
para uma cultura da culpa". Citou a teoria de Mnlinowskn segundo a
qual as crenças irracionais ocupam um espaço no qual o controlo ra­
cional humano não se aventura, ou ik> qual de sc retira: e refete-se
fts sublevações suciais disseminadas que podem ter "encorajado a rea-
puríção dc vdhos padrões culturais". Mas, como um bom freudiano,
.'icha que tais explicações são incompletas, e sugere que os historiado-
res considerem atais dc perto u ridu domestica grega. A situação
familiar na Grécia antiga" deu lugar ao "surgimento de conflitos in­
fantis cujos ecos prolongam-se na mente inconsciente do adulto*'.
Afinal de comas, “os psicólogos nos ensinaram" — e por "os psicólo­
gos" leia-se "Freud c seus seguidores’’ — “quão potente é a pressão
de desejos desconhecidos, enquanto fonte de sentimentos de culpn.
desejos- excluídos da consciência exceto nos sonhos e nos devaneios,
e ainda assim capazes dc produzir no selj um sentido profundo de
desconforto moral”. Completando o argumento, assinala como t>
Zeus de Homero era 'próximo" do "modelo dado pelo pa/er famílias
homérico”.1*
"Os psicólogos" íigiiçaram, dc outras maneiras decisivas, a per­
cepção de Dodds sobre os gregos e o inacion.il, ülc vc os ritos dioni­
síacos e o culto a Apoio como opostas, um par onde um é igualmente
necessário ao outro: "cada um administra à sua maneira as ansiedades
característicos dc tuna cultura da vergonha", pois. enquanto Apoio
"promete segurança”. Dionfsio "oferece liberade".13' Por outro lado.
reconhece no Fros de Platão um ‘ precursor da libido freudiana", uma
filiação que Freud comentara antes.H Ou interpreta Innro a rnzonbili
ditde dos sonhos Tclatadas. como a espantosa impropriedade do senti
mento recordado, com um vocabulário e percepções retirados da lutar
preiação dos sonhos: a primeira, Dodds sugere, era vun exemplo de
"elaboração secundária", a segunda, um exemplo de "inversão de
afeto". Final mente, explica a renovação dc superstições antigas durante
o declínio da era clássica, o recurso desesperado, novo cmborti tão
antigo, à cura mágica, através dn regressão, o que acarretou no finnl
regressões ainda mais primitívas, fórmulas encítntatórins consistindo
em pragas mágicas planejadas para destruir inimigos.15
Ilegressiio, certainente, envolve um retorno às fases iniciais da
organização mental, e Dodds aceita a metáfora freudiana que descreve
a mente como um depósito geológico que preserva n e.imrida mnis
antiga sob as mais recentes. "Um padrão novo de crença". escreve
Dodds. fazendo ceo tanto a Gilhsrt Murray como a Freud, "raramente

156
desfaz pwr completo o anterior: ou o mitige- sobrevive como uni
elemento «lo novo ns vezes utn elemento ineonfessado e meio
consciente — ou os dois persistem lndu a lado, incompatíveis logic u
inente. mas aceitos conlcmporanctimenic por indivíduos diversos ou
até pelo mesmo indivíduo' * Portanto. seja através <le exemplos con­
cretos como de interpretações gerais. Freud deu n Dodds uni modo de
ver e de fazer leituras surpreendentes a partir de textos familiares.

De vez em quandü, a psicanálise não apenas lem solucionado mis­


térios hi-stóricoK Mas descoberto tpie o mistério é intrigante r pleno
de possibilidades explicativas. A biografia dc I.udwig vau Beethoven
por Muynard Solotncn c um exemplo desse tipo dc liubiilhu detetiveseo
c imaginativo Beethoven passou a sua vida ucrcdiliindu obstinada-
mente. c despendendo umn energia valioso para tentai provar que não
havia irnsddo cm dezembro dc 1770. mus cm dezembro dc 1772 O
seu ecrtiricadu de batismo, que ele pediu aos seus amigos que encon­
trassem muts de uma ve/., declarava inequivocudnmeiiie ti data ante­
rior. 1770. como sendo a corneta. Mas Beethoven rccusava-se u aceitar
a evidência cabal posta diante dele. Fm 1977. Solomon. um musicó-
logo touilmcntc treinado na foi ma ftcitdiann dc pensar, resolveu o
vulpina a traves dc um disecmimertlú psicatinlúico chamado romnnee
familiar. Esta ftintasia, amplnmcnlc difundida, em especial entre os
jovens, imagina um dos pais como sendo apenas um pai postiço, ou
o pai como sendo o padrasto, e o verdadeiro pai como alguém impor­
tante e nobre. A função psicológica dessa ficção, parciolmentc incons­
ciente. é dsr um aval aos impulsos agressivos da criança e. priticipal-
mente quando .i vítima ú um dos pais, do mesmo sexo que n criança
permitir o acesso ao outro, que c adorado, mesmo que apenas nn
imaginação nmplamcntc recalcada. Os biógrnfob anteriores dc Beclho
ven certamente não desconsideraram o seu empenho irrtreional em
estabelecer umu dam dc nascimento imaginária para st mesmo, e
experimentaram uma série de explicações superficiais e implnusiveis.
Sdomon. equipado para a tarefa com instrumentos intelectuais mais
aguçados, ligou a defesa obstinada «lo Beethoven de suo fantasia a
iimu infância dcsnlcntadotn. nrniirmdn pcln irresponsabilidade. deso­
nestidade e nlcoolismo cie srti pai. Beethoven. pode-se pensar linha
boas razões conscientes para detestar o seu pai Mas sua fmitusiu. que
sc tornou um ingrediente permanente e ativo em seu caráter, foi nlcm
dc uma crítica racional ou dc um desapontamento, pore ligur-se a
desejes c ódios ocultos que Becthnveu nunca pôde satisfazer ou cxorci-

t xt
/.ar. Assim, as percepções freudianas de Solomon dão um sentido
agudo iiu que havia parecido aos seus precursores um delítio estranho
ou umu mistificação cgolstica.11
Cum igual penetração, Solomon teve sucesso em solucionar um
drama doméstico dcíngradávcl. cxtreinumailc intrigante que obscure-
teu os últimos tinas dc Ikcthoven: os seus esforços infatigáveis para
garantir u guiudu. quase raplur o seu subrtnhtt Knrl. filho do seu fale­
cido irmão Caspar. Kle difamou lohanna van Beethoven, a mão do
menino, junto aos seus amigos e ás autoridades: recorreu aos tribunais
iliversns vezes, expôs-se no processo a interrogatórios embaraçosos e
penosos, tudo par.i ganhara guarda de Karl. Repetidamente. referia-se
n st mesmo como se fosse o pai do menino, como se através da repeti­
ção pudesse converter n verdade metafórico cm litcrnl. Miami a vun
llccthuvvn. muito menos rclueionadu <Ju que o seu famoso cunhado, c
às vezes umu niullicr impudica, vulnerável & acusações dc umrt mura
Iidade que deixava uni pinico u desejar, contra-atacou, tendo o seu
filho decididamente no sen Indo. Esse estranho duelo familiar arrastou-
se durante anos c foi pontuado pelas fugas de Knrl do seu sufocante
tio até culminar, nia muito antes dn morte dc Beethoven, numa tenta­
tiva dc suicídio.
lisse caso desagradável gerou unia quantidade enorme dc um
iirme montllsmo ao lado dc um número riflo inferior dc firmes apolo­
gias: tem side visto como uniu prova du inadequação de Mmnnn vnn
Beethoven como mãe. ou. inversnmenlc. como um sintoma trágico do
colapso mental de Ludwig van Beethoven. Solomon, trabalhando a
partir do ditado psicanalílice dc que uma paixão excessiva assimila
um conflito siibjr.eerue no qupl uma paixão oposta esl» operando cm
segredo, argumenta persuasivnmenle que Beclhovcn eslnva defenden-
do-íc contra os seus fortes desejos eróticos em relação à sim cunhado
e que mascarou a hostilidade em relação ao sen sobrinho. Essas
p rapas las, c ou tins que aparecem no biografia de Solomon, enriqoe-
cem considerável mente o nosso sentido sobre a vida interior c tem­
pestuosa de Beethoven, e habilmente vão além du xuo surdez, pum
exibir algumas das cousas obscuras que o tornaram imprediz.ivel. rude.
desorganizado, uma pessoa desleixada bastante familiar para os seus
contemporâneos indulgentes c memorizados. Solomon é modesto o sufi­
ciente pura nunca afirm ar que fev nrwis do ipie loenr no segredo supre­
mo dc Bcethpvçn, a sun genialidade cnqunntc compositor. Mus nos dá
um Beethoven mais digno dc crédito, mais verdade iramente humano
que os seus biógrafos que o idolatram, c mesma es mais eruditos,
rinhnni dsdo antes dele.
Ouïra biografia psicannlínes que pertence ao încu catálogo de
sucesso: c u estudo ik Frederick Crèves sobre Hawthorne. The stW'
of the lathers, publicado em 1*566. Crews explicita u seu argumento
“ repreendendo" os biógrafos anteriores tie Hawthorne por confiarem
cm 'uma psicologia simplista que olha apenas para a superficie'', uti­
lizada em grande medida para transformar Hnwlliorne em um mora
lista respeitável. "cliato" ou em um crente piedoso. Ele admite que
se possam citar passagens cm apoio no “que se poderia chumiir de
cristianismo rudimentar“. Mas. acrescenta, como um bom freudiano,
“o biógrafo d responsável tanto pelas contradições de seu sujoilo como
pelos seus enunciados elevados”. O Hmvlhomc do Crews c assaltado
pela ‘ mania da diivida" e perseguido pela “ambivalência“ O que
toma Hawthorne intetvssniitc. ele argumenta, não é alguma explica
ção itripla u siv cl e transcendental, runs o falo ele ele ser “ meio dividido,
atormentado".’* Crews If o esmero c piedade, st aparente inocência
nas superfícies lilerprins de ilsiwilionie como estratagemas defensivos,
simultaneamente culturais no lorota O possuais na origem
O ganho com essa forma de leitura d acentuado. Crews permit
nece Fiel nos textes de Hawthorne e clarifica muito daquilo que intri
gou outros estudiosos. Embora seja um escritor dcmasiadíinicntc es­
crupuloso pura cair no iargão c use a linguagem técnica parcimonio­
samente."' retira as >nns armas intelectuais inlciramcntc do arsenal
psicanalílico, priiicipalmentc de Freud, c de bandor lerenezi. Karl
Abraham, e do Erik Erikson de Yiu/nfi Man Luther. Isso é u biografia
freudiana no seu esplendor.** Descobre precisam eme O que Hawthorne
linha em mente quando chnntou n si mesmo um escritor “ que «c tefu
gin. no limite das suas capacidades, mis profundezas da nossa uniu
reza comum, coto os propósito», do romance psicológico", que pretende
"alcançar o núcleo lerrívçl do ser humano“.' E instrutivo constatar u
frequência com que Crews proclama a sua intenção de levar a serie»
os textos que explora, eu as menores pisias que Hawthorne deixou
para cs seus leitores refletirem. Estai d outra conli ihitiçâu freudiana,
aplicada com sensibilidade: olliiir de perlo, vem desprezar nadti.
Uma questão critica que Crews nau despreza é u fato de que
Hawthorne estava muito nnsiosu para poder rcnlizur o seu programa
sem hesitações c prevaricações frequentes. “Sun penetração un culpn
secreta é oemprometida não apenas pelas su.»-, ambiguidades celebres
cm relação j técnica mas peia suu relutância c desgosto.' Não poJciit
ser de outra maneira: apoiando u seu trabalho "em urupiu medida
na suj própria natureza" c “ perturbado pelo que descobriu“.“’
Hawthorne scntia-se compelido a resistir, ou a sunviznr. us suas des­
cobertas aterradoras.
Assim equipado, levando "a sírio as teoriu* psicológicas moder­
nas” , Crvws tcintei preta o "The Maypolc of Merry Mount”, um ''dos
contos mais familiares c aparentemente mais superficiais de Hawthor-
nc” Longe de ser ‘'banal*’ tut “óbvio", revela-se nu análise de Crews
como um conto erótico bastante incômodo, no qual “u elemento nega­
do reaparece Mib-repliciamenic etn imagens e alusões", um conto inun­
dado por "sugestões de impotência e castração’’, enquanto a “super­
fície narrativa permanece convencional mente 'p u r a ”. Portanto, essa
estória bcm-conhecidn e inócua dá acesso ii “configuração secreta'
que instrui as suas tramas, que explora quase todos “os conflitos
definíveis de desejo, na verdade, clássicos".*1 Reconhecem«« nesse
clássico conflito mídu mais do que o drama familiar freudiano submer­
so no inconsciente, só que ufbrado, rceslllizado, e com as suas paixões
disfarçadas, nn ficção de llawthornc.
Nos últimos capítulos. Crews trabalha esses discernimentos eom
uma impressionante ousadia. Afasta n interpretação geralmente aecita
sobre Hewthornc como um celebrante, suavcittenlc crítico mas em
g ran d e medidu chauvinista, de seus antepassados du Nuvu Inglaterra.
Sua preocupação uim a Massachusetts colonial "d aumente um luxo
particular do seu interesse cm pais c filhos, culpa c castigo. Instinto c
inibição”. O que permeia os seus contos históricos, Crews mostrn. é
"o sentido de ora conflito familiar simbólico escrito cm maiúsculns".
Os "puritanos são o lado repressivo de Hawlhome".** Ao procurar
expor os acus ancestrais. Hawthome acabou por expor principalmcnic
a si mesmo
Crews investiga o ato constanlemente repetido por llawthornc
üc expor-se em uma análise cronologicamente aproximada dc seus
contos c romances. Ele demonstra a preocupação dominante dc Hnw-
thome com u incesto entre irmão c irmã ussint como eom u incesto com
conotações leve mente kísbicas: com enredes ndomüsoquislas; eum a
procura de um pai idealizado; com o funcionamento compulsivo de
um superego vingativo, impiedoso, que pune desejos dc morte ímpios.®
Tudo isso em uma atmosfera dc ambiguidade, dc curiosidade sexual e
de anseios refreados pelo medo sexual.*’" Esses conflitos inconscientes,
cenamcnte. não estão camalmente lado a lado. São ingredientes essen­
ciais do triângulo edipiuno, que Crews acha que é dominante nos per­
sonagens de Huwthorne durante toda n sun carteira literária.

I ISO
A obra-prima duradoura de I lawllionic, lhe scarlel leitet, per
mile uma leitura muito similar; Crews a vè como um romance cm
que u desejo libidinal. coexistindo com sentimentos de culpa, deve
combatê-los permnnentemente até n niorte.'; The scvritl lener resul
tou, em grande parte, nãu da imposição de uma sociedade puritana
de ideais sociais falsos sobre os três personagens principais, mas du
seu próprio mundo interno de desejos frustrados” . Hawthcirne deixa
os seus leitores "com um conto de paixão ntraves do qual vislumbra-
mos" uniu verdade trágica. "a terrível certeza dc que. conto Prcud
colocou, o ego nãu é o mestre na sua própria casa" Isto nãu que:
dizer que Crews despreza o cultural ein favor do mundo psicnnalítico:
o que o interessa sobremaneira quando teima os elementos ocultos na
arte dc Hawthornc é de falo "a conjunção dos temas sexuais c so­
ciais”. lile se move. durante lodo u lempo, habilmente entre a biu
grafia e n história, a meine e a cultura. A visão de Crews do homem
enquanto animal cultural equipado tanto com um potente inconscien­
te, quanto com uma capacidade igualmcnte potente para jprendci
do mundo e tentar dominá-lo, é congruente com b teoria psicanniftic«
do mente que desenvolvi nestes capítulos.™

A tentativa ruais sistemática, inuU qualificnda intelcciualmcnte,


p tu a Im iiiit co n v in cen te o uso du p sicu im lix e nu liiv .ú tiu . e que. au
mesmo tempo, insiste na sua particularidade e na sua abrangência, c
provavelmente a obra EiHeriaiiiing Safan. de John Pu Inani Hemos. uni
estudo sobre a bruxaria no século XVII na Vova Inglaterra. Os delí­
rios das bruxas, de suas vitimas e de seus juizes estavam assentados
em bases sociais, em expressões inliiiicionulizados. c bnseavnm %e em
crenças gerais e rnromenle questionadas. Aindn assim os conflitos
mentais que deram l u g a r a s u s p e i t a s , a c u s a ç õ e s , confissões, u r t o > d c
vingança c expiação, furam experiências individuais Demos Irabulhtt
hnbiiidosnmente pant separar, e simultaneamente combinar, esses du
minios público e privado, as mareas respectivas da neurose particular
e das tensões comunitárias, que juntos constituem o sen lernt. Pura
exibir e dramatizar essa inultiplieidade necessária de perspectivas.
Demos dividiu o seu livro em quatro seções: biogrnfin, psicologia,
sociologia, c, nu final, história, pura assinalar a crunolugic dos even­
tos mentais c públicos como u ascensão e o declínio dc um» curva
de perseguição.™
O estudo de Demos apoia-se solidamente no seu controle seguro
sobre as formas tradicionais tle escrever a história coloninl nniericawi

161
Mas vi, ou tumente. o seu comprometimento inovador cum a psicanálise,
que alterna ecleticamenlc as diversas escolas psicanalilicas, que se
sobressai c que causou as discussões mais intensas, c elas são de
particular interesse para estas páginas. 'Junca se afastando do elenco
do seus personagens, Demos joga sobre eles os setts holofotes psica-
nalíticos, como histeria de conversão, conflitos adolescentes, tendên­
cias cxibicionislas, raiva narcisista, projeção ou defesas correlatas
contra impulsos problemáticos, poro dnt couta do compor lumen lo
que aparece not conlcmporâticos eonio sendo desviante e muito peri­
goso. f . com grande eficácia, gira essas luzes para tis vítimas das
bruxas c dc seus perseguidores. Em um aspecio. ao conceder fi psico­
logia apenas uma seção em qimtn), a estratégia impnrcin! de Demos
trabalha contra cie. Pode-se argumentar que ele poderia ter encon­
trado uma solução formal mente mais elegante, mas o que importa t'
que n psicologiti instrui todo« os quutro aspectos du liistúriu iimign de
Massachusetts que ele escolheu para examinar. As duos primeiras
contêm perfis psicológicos substanciais c minuciosos das bruxas, e
nas duas últimas, devotadas ã experiência coletiva através do espaço
e do tempo, Demos conscientemente retorna nos casos individuais,
àqueles fragmentos da cultura simultaneamente únicos c llpieos. “ Bio­
grafia, psicologia, sociologia, história", assim ele tunclui suas obser­
vações programáticas, "os quatro lados da bússula du estudioso, quatro
perspectivas que examinam uni único campo du experiência passada.
Cada um deles capture unta pune. porém dc nenhuma maneira. □
lodo", mas juntos, embora as conexões estejam longe dc sct suaves
e a tarefa seja penesa". a experiência da história lotai aparece no
horizonte: "Ver tudo isto a partir de lados diferentes d mover-se, pelo
menos, dc alguma maneira rumo :i uma compreensão completa e defi­
nitiva".*-’ Isso, parece-me, são pistas atraentes c prudentes na direção
dc uma ambição apropriado para a história psicaiiíilíltca, enquanto sua
contribuição potencial pura :i busca do historiador pelo todo

3 . A Itistóriii total
A aspiração u uma história lotai c mnis antiga, por vários séculos,
do que a sua primeira formulação expressa. Os ingredientes de qual­
quer programa pura npoderar-ce da estêiicin completa do pasendo, que
simclizassc as descobertas circunscritas dc estudiosos j partir dc
muitas monografias c muitos arquivos, naturalmcnlc varia cie acordo
com ti definição que cada historiador cl;í sobre o que ela é c sobre o
que é mais relevante e que, ;i sua luz. merece ser incluído no seu rico

ib2
cenário. Se ele cré que o mundo £ movido piincipulincntc pela mau
da Providencia, pela força d>t inovação tecnológica, pelas pressões du
inconsciente, estas irão determinar os conlumus da suti história tolnl
e os materiais que. cm última análise, ele ncha que merecerão ser
incluídos neta. Com certeza, o ideal não pode racienalmentc implicar
umn apresentação exausiivumcnte detalhada de cada minuto que com­
põe um evento ou uma época, em todos os aspectos de seu meio e
em todas as suas precondições que recuam auí as hrttmus de tempos
imemorial». IJinu história total du Ralnlhn de Waterlon que registre os
sentimentos, ns ações e os destinos de todos os soldados (mesmo pres­
supondo que tal descrição fosse fisicamente possível) cairia nus iibsur-
dos típicos de um colecionador obsessivo: um catálogo, não imporia
quão exaustivo, não equivale n uma história abrangente, muito menus
a uma inteligível.
Ao contrário, o pedido por uma história total tem sido. por mais
de dois séculos, uma crítica da prática histórica uficial. um pedido
por luz e ar cm tinta atmosfera pedante e nbnfadn. Voltam- ao argu­
mentar que "iinui eclusa cm um cantil que junta dois mares, uma
pintura do Poussin, unia ótinin tragédia” são “um milhão de vezes
mui? preciosos do que todos os anais da corte c todos os relatos de
campanha juntos", estava seguindo o seu instinto paru a substancio-
lidada do vida, enquanto instava oi historiadores n te afastarem du
hagiografia, da genealogia e dos foíoeas de salão.31 Um século depois
dele. |acoh lãurckhardt achou espaço no seu retrato exemplar du
Itdliu renascentista para o unnportaincniu dos festivais, o renascimen­
to do erudição, n posição das mulheres, as carrcirus dos literatos, as
fantasias dn personalidade. O seu contemporâneo próximo. Tltomas
Babirgum Mucaulay, ofereceu, no célebre terceiro capítulo da sua
Hiitory of Englattd, umn pesquisa empolgante h respeito dux háhitos
culinários e de viagem dos ingleses em IbfSõ. da eliqueln. dn saúde
ptíblica, das atitudes em relação aos pobres, dos letreiros nns estala
gens. O grito de guerra por uma história total, como viemos a usá-lo,
expressa uma cort.i Impaciência com os historiadores que continuam
.■pegados íis superfícies brilhantes c notáveis dos eventos, á política,
« diplomacia c às vidos dos grandes homens. Cum certeza, os histo­
riadores sociais que dominaram a profissão por bem mais de um
quarto de século demonstraram forçosanicntc que os dias de concen­
tração exclusiva cm dntas e dinastias acabaram definítivamente. Mas
enquanto o seu trabalho tem forçado novos materiais n atenção séria
dos seus colegas histOriadores, seria um erro »legar que cm consequên­
cia iodos nós somos agor.i historiadores totais, llinn transferência

1 63
nas preocupações tiüo é o mesmo que a sua expansão. A procura por
uma história lutai prossegue, e nela a história psicanalílica leni muito
n renliznr.
Qm 1966. na sua exploração maciça sobre o Languedoc desde o
início do século XVI até o começo cio século XVIII. Emtnanucl Le
Roy Ladurie deu uma ampla circulação a esse grilo programático. Ele
“arriscou-se", escreveu, “a fazer a aventura de umi história tolnl".
Sua trilha havia sido suavizada por dois poderosos exemplos, os de
Mure llluch c Lucicn Fcbvre, cuja influência sobreviveu a ambos
através dc heranças admiráveis como os trabalhos dc Fernand Urjutkl
e os dn rcvisln. Aimales, que haviam fundado três décadas antes. Le
Roy Ladtiric pretendia que a sua tese expusesse “o referencial cincuns-
crilo dc um grupo humano" em Iodos os seus mundos, sem esquecer
o eliniti prevalecente c as principais colheitas regionais, os padrões dc
migração e as mudanças populaeionuis. a riqueza rara e a pobre/a
endémica, u resignação impassível c os momentos clevnstadures dc
descontentamento explosivo. Em algumas páginas inspiradas, cm es­
pecial naquelas que ele devota à rebelião sanguinária dc 15.80, u
Carnaval dc Homens, Lc Roy Ladurie até chega u tocar, levemente,
na “ psicanálise histórica’1,83 ao aludir às fontes inconscientes du scl-
vageria que hs vezes irrompe entre os camponeses do Languedoc após
iinid piavvx.tiv.5o piolongndii. Ao guiar-se pela esplêndida Soeu'te jcvJu-
ie, tlc Mnre llluch. ele asiuciosamcnte colucn cm funcionamcntu o seu
caclre limite pant delinear o seu rclalo dc acordo com a série tempo­
ral. Ccrlamcnte, pelo menos naqueles dias. Lc Roy Lndurie não parti­
lhava o desprezo dos seus colegas por 1'hitíofre événetnentielle: a estru-
turn não exclui o desenvolvimento: a unálisc c compatível com a
narrativa. Em ies paysaiu de Langiieduc, uni historiador total esboçou
uma ampla rede.
Se tivessem vivido puni ler o seu livro, os pais intelectuais dc Le
Roy Ladurie teriam achado que ele era a realização de seus desejos
mais caros. Afinal dc contas, Mate Bloch já se havia aventurado em
domínios du experiência eslreilameute análogos: em /.es rois iJiattina-
turges, havia tranafurntado um tema especializado cm mitologia me­
diai. muito distante dc ser promissor paru uma monografia (presumia-
se que os reis ingleses e franceses tinham o poder dc curar escrófula
ao tocarem o enfermo), cm uma história absorvente sobre os estilos
mentais. Mais tarde, em l.u société féeiiale, essa síntese insuperável,
deixou para trás os inedievalistas a respeito das convenções políticas
e legais ao reconstruir o inundo feudal cm seus ensaios concisos acerca
do seu sistema de parentesco, o seu sentido peculiar sobre n história

164
e o tempo. o seu folclore uiiru foi preservado iin poesia épico, e
extraiu uma informação ricn o insuspeitadu a partir dos hábitos liii
güisrieos c dos nomes de lugares. Entrementes, Lucieti Febvre. o por-
ceiro polémico «este par harmonioso de historiadores criativos, it»
limidava os seus colega» com Mina persistência admirável, para que
desprezassem especialidades históricas paroquiais que, segundo ele. só
impediam n compreensão da experiência do passado. Lamentava o
fracasso de sua profissão cm escrever histórias dc itmur e morte, dc
piedade, crueldade e alegria. Emotivo, melodramático, sempre um
lurador auloconsciente por uma nova históriR. Febvre queria que a
sua profissão se banhasse no passado.” De acordo com o seu convite
mais de um historiador poderia mergulhar aí.
Mas as águas, embora turbulentas e fortificantes, revelaram-se,
tudo dito. não serem tão profundas quanto os seguidores intrépidos de
Febvre haviam suposto. Afinul dc contas, o que um historiador saúdu
como uma realização admirável da história total outro pode qualificar
dc um exercício cm prudência comparada. O historiador da historio­
grafia deve registrar a sua gratidão em teluçoe a Bluch e Febvre c a
escola dos ;\nrtales que fundmnm: após ns suas expedições ousadas,
a nossa profissão nunca será a mesma. Ainda assim, em suma, eles
não chegaram lá. )á citei Mnrc Hloch, que pediu ao historiador que
explore "as necessidades secretas do coração'’, mus definiu-as cumu
necessidades alojadas na “consciência humana".*' Fsse c o ponto onde
a história psieanulítica pode entrar pura expandir a nossn definição de
história lolnl decisivnnienle ao incluir o inconsciente, e o incessante
trafico entre a mente c o mundo, no território legitimo de pesquisa
do historiador.
Uma das consequências mais infelizes du rcducionisino qnc segue
os passos de muitíssimos psico-historindorcs é a de ter obscurecido n
promessa inerente à histórin íreudimin. Pois eles tèm, muito â maneira
dos novos historiadores sociais, apenas alterado os horizontes da pro­
fissão seni ampliá-los de forniu upreciável. Negligenciar n ego em
favor du id í semelhante a negligenciar a burguesia pclu proletariado.
Nem se tem nvençudu a causa da história psicannlítica, dada a sua
reputação, quando se fornece um alivio emergericial em momentos
dc perplexidade. I id nquclcs que vécin o historiador freudiano como
um especialista a que sc recorre cm último caso. chamado ú cabeceira
do passado apenas quando todos os outros diagnósticos revelaram sua
incapacidade cm extrair um sentido du quadro clínico. Mesmo histo­
riadores relutantes cm reconhecer o vulur da psicanálise como uma
disciplina auxiliar encontraram usos para cln quando falharam cm

165
descobrir causas racionais para situações de pânico ou de motim, para
irrupções dc preconceitos, ou comporimnenlus auludestmtivos. Mas
enquanto o historiador que foi nprender com Freud poderia grossei-
ramente recusar assistência cm adequar o que os seus colegas pensa­
ram como algo confuso e impenetrável, ele tem credenciais parn
aspirar a coisas maiores do que a de sua posição aproprindn de espe­
cialista. Os psico-historiadores tem sido criticados com justiça por
saltarem direlamcnlc para tu conclusões, mas. paraduxalincnle, têm
sido menos culpados de arrogância do que dc modéstia imerecida.11’
1’recisamcnte por lignrem-se a psicopatologia, por converterem seus
sujeitos cm espécimes neuróticos, deixaram dc lado a oportunidade
única, dado pelu trabalho freudiano, di* caminharem cm dircçüo a uma
psicologia geral
Pois a ninior ambição da teoria psicanulftica é scr uma orientação
e não uniu especialidade. Nunca 6 demais reiterar que u psicanálise
nâu oferece um livro dc receitas mos um estilo de ver o passado f.
por isso que u história freudiana 6 compatível com todos os gêneros
tradicionais: militar, econômico, intelectual — assim como com a
maior parle dc seus métodos. Inevitavelmente irá provocBr conflitos
apenas com historiadores que abertamente desconfiam dos discerni­
mentos freudianos ou que se comprometem com psicologias compor
lamentais. A psicanálise deveria iiisliuii o u tra s ciências auxiliar»,
outras técnicas: deveria enriquecer, sem problemas, a paleografia, a
diplomacia, a estatística. a reconstrução familiar. Tampouco é preciso
ser reducionists. Mergulhar em Fnr.nl não abriga os historiadores u
verem somente n criança no homem: podem inmbém observar o homem
desenvolver-se a pnrlir du criança. O historiador que persiste em eu
falizar o impacto causal dos motivos econômicos, dus inovações tecno­
lógicas, ou das lulas de classe não precisa deixar dc lodo a ação dessas
influencias objetivos pelu argumento duvidoso de que são fenôme­
nos triviais c superficiais. A vidu. como o historiador estuda sejn no
individuu ou cm grupo, cm eventos singulares uu cm longas exten­
sões de tempo, é umn série dc compromissos nos quais as pulsôcs
irrecnlcáveis. os sinais indicativos dc ansiedade, os estratagemas de­
fensivos. as perseguições do superego, lodos desempenham um papel
dc liderança sem serem exclusivos. A história é mais do que um
monólogo do inconsciente, mais do que uma dnuça ele sintomas
Ao dizer tudo isto. mio proponho que se desconte ou dc qualquer
maneiro se minimize a qunlidudc rudicnl da forma dc pensar psicana-
lítica com a sub perspectiva única e subversiva. Qualquer tentativa
dc assimiln-la , u u , pior ainda, de misturar o mitndu psiciinalitica com

Ihh
o histórico, só poderia comprometer as contribuições características
que cada uni tem para oferecer. Ao contrário, n questão é facilitar
o trânsito entre eles, desfazer as barreiras de desconfiança e de igno­
rância oulo-impostas que tt*m impedido o historiador de se sentir,
senno confortável, pelo menos razoavelmente seguro dentro dos do­
mínios do analista. O historiador, escrevi em 197t>. ’‘coleta e no máxi­
mo corrige a memória pública".3' Nessa tnrefa assustadora, a psica­
nálise pode prestar uma ajuda monumental, pois não apenas analisa
0 que as pessoas escolhem para recordar, mas revela o que elas
foram compelidos a distorcer, u esquecer.
Nada c ninis sedutor do que fazer, sem garantias, analogias entre
a psicanálise c outras disciplinas, um pouco diferentes dela. Tnnto u
história como a psicanálise sâo ciências dn memória, ambas estão
profissionalmeme comprometidas com o ceticismo, imibas rastreiam as
causas no passado, ambas procuram penetrar por Irás de confissões
piedosas e evasões sutis. A história e a psicanálise parecem, assim,
destinadas a colaborar em uma pesquisa fraternal pela verdade no
passado. Ainda nssim, fraternidade, é necessário insistir, nuo c identi­
dade, A ansiedade que invndc us historiadores que se vécm dc frente
ucm a presença freudiana c perfeilamente justificável. Eles tôni exce­
lentes razões paru suapeiuir que abraçar as idéias psieanalitiens c
mergulhar em um mundo estranho. Ir um mundo dc ambivalências,
recalques c conflitos, onde se lem poucn certeza, onde ainda sc é
menos seguro e tudo 6 imune a uma prova conclusiva e ê aberto a
interpretações conlruditórias. Scr persuadido por Ereud necessariamen­
te forçnrá os historiadores n mudarem, frequentemente, dc forma
drástica, o modo pelo quul fazem a história, irá forçá-los a abandonar
convicções estimadas e a revisar as suas conclusões preferidas. Os
riscos são imensos, as perspectivas de fracasso agourentas, as promes­
sas dc recompensa incertas. Mas o que acena ao final da jornada
perigosa pode rcvelnr-sc merecedor de tudo: uma apreensão, mais
sólida do que nunca, da totalidade da experiência humana.
Notas

Prefácio

1. Gostaria, de assinalar enfaticamente. desde o início, que por "psicanálise"


entendu maia do que o conjunto de trabalho* re&Htftdo* apenas ro r Sigimind
Frcud e por teus discípulo* imediato*. Incluo também o dos seta sucessores
que. embora tomando, cm aipim» aspeitos, um caminho próprio c tendo
capcriSneiat clínicas não disponíveis paia treud. ccrlamente fiutem parte
do seu campo, Lníitizo isso aqui porque alguém poderia çnganur-se dnvitlo
uo titulo do ir cu livro c ao enfoque necessário sobre as idéias freudianas
durante torto o texto. Lertartieitle. os psicanalistas do ego, como Heinz
Hnrlrnann. ürncst Kris c Riidolpb UKWcnstcin. mine» pcnsainnt que c»U-
vessem fazendo outra coisa além de elaborarem aquelas idéias sobre »
citrulum niealul que FrcuJ começam a explorar nu início dos unos 211
Sui mito-avaliação parece-nte ser eucncialmcnte correta. A escoln ittplcs-i da»
i r a b j c t n i s , mais notoriamente W. K D. F.iiibakn e D. W. Winnicoll.
representam uni cavo ntenoa nítido, f-sprcinlnicnlc Inirhtirn que diverge
de algumns da» formulações freudianas. Mos ao sc concentrar sobre nv
relações pré-edipnoia» d.) criança com o sen mural» íntimo, p articula emente
com n s u a mãe, nmpliou a análise dn* relnçnes nbjet:»«. e assim complicou
vem alterar matcrialmenle o campo de cisão freudiano. Não tenho nenhuma
intenção de excluir uma historiadora psicmialtlka como Jmtilh Hughes,
qtte sc ttpóia íortemenle na escola ingleso, ou um biógrafo kleinimio corno
■’byllis GtossVurth. Deixando de Indo os principias sobre os quais não é
possível transigir, a psicanálise não i unta coleção fixa de doutrinas, mas
unm disciplina que evolui cm pesquisa e em teorização.
2. I m nlguntn medida, a tilvoroço do* meados da década de HO t "culpa
dc tlguns ettwios brilhantes de Jsinet M akulm cm The .Vcv Ynrter, mai«
tarde íraiisfnrm ados em livros (ffryvhooetedysls: l h e hnpmjihle piafttiiAH
[ 1 9 8 1 ] , c ! n l h e T r e u d a r t h i y e i í 1 9 1 -1 1 ). No primeiro. Malceilm combinou
unin introdução lúcida c informal sobre a teoria c a técnica pvicnn.ilflica
com um perfil penetrante, que eslá longe dc scr antipático. sobre a polilka
no New Y otk Psychonnalylfc Instilule, m> segundo, tornou um amplo público

I k U
fnmili irizruln com doas [ler&onnlidjdc- extravagante». .unhas admiradoras
desapontadas com Frcutl: primeira. a Jc Jeffrcy Mottcsriefl Macxt.n, por
um peiíodo brcvt c tumultuado. diretor ilc projetos do breud Arcbives
u segunda. j tk- 1'ctcr Swalcs. um pcsquisadai amador realiraitdu ;-.p,ixn-
tuiitamctite um Iriikilhit dctclivcsco sobre Fremi c o km tinindo. c icu
encontro com Kutt Kfcsler. n guardião dos púpéis Je Freud. O tratamento
Jc Malcoim da pxir.máh«* c rias «ms espetaculares vtctcsiludes é tão geiiml
quanlo informal iro, iimx despertou ■ matilha. pouco adormecida. do contin-
Kcnic .inliircudinno.
3. Ver Malcoim, /» thr Frvu J w rh tyrt, o," cif., reluto sobie Miisson c Svides;
c espceiilmenle Jeffrcy Moussaicí Movam, The auüult nn Iriilh, FretttTtt
eiiprexslon o/ th r sritiêellon lheory 119841: I redcrick Crewt, T h e Freud ian
vnay o f k n o w led fe”. The nem críitrion ijtin. 1 9 84), 7-23 l-ran k Cioffi. T h r
cradie c f ncurosís", The Times Uteruiy Sttppfrtntnt. n." *240 (6-7-1984 l.
743-4. *llã uniu relutância compreensível", conclui Cioffi ert sua icscnha.
"em Se iliir crédito n extensão do ci|viiliiimo-.is Freudiano, portanto seii
necessítio mie paste algum tempo para que poremos de ouvir 'l-reud. o
infatigável investigador à procura «In verdade'. (Etttboru alguns de seus
mais sofisticados admiradores já estejani preparando uni abrigo tmnjs idc-
qtuulu e altcrantivo — Freud, um perjuro justificado por uma causti nobre.)
Os que não acreditam nem na integridade frendiam neni na nobreza «I
sua c.iusa podem consolar-sc- peta futilidade ilo curta diirnvão de suas tento-
livi-.s dc colocar as coisis cm ordem i partir Uc uma reflexão do próprio
Mestre: *A voz da rnzne é suave mas i ir.si.sicr.lc (p, ?*-l|.

C ap itu lo I

I . Hloch. The h iiw rtaift rrn.fr (1949. itad. 1'cter Putitaiti. 1954 t o r g j . 1*64).
131. CurioMtueiite. uri Insto: itJ c r um tatu a diferente, R khurd Cobli
utilizou de Iimsi m etáfora »drmravçlnKnvc vciikIIuuiIC. "Deve e.xiilir uinu
grande pane dé .diSinltíicio n:i Inntórei social, f como lotii.it seguro
o t|iK- 6 insegura e penetrar nos Keprtdrw do coruçrin hum u n o '' Parte
uihi ia pro/íiMrT. /792-/t802 11973). 117,
2 "Mrs. Etldy throttph n divorted lense-. resenha dc lulius Silbcrgcr. J r ,
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GcsshichlvwisscnxchBfl in d ISy-choanolvs*". 1 lislorisehe Z t in c h 'iji CCVII
(19691, 329-34. um pru ro revisado uo (Tnehlchre u h Wtnorivchr Soríal-
wissenschnjt 119731. «5-123. Embota seja famoso pot virtualmcnlc nfugnt
os seus leitores com notas <lc rodip i. <j trabalho sic Wclilcr sobre FrcuJ
t bsrsinnle discutível.
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afetivo do Lynn rein >na nictáfora desagradável e pelo ataque intempestivo
que ele lança numa mesma c única página tie dialrihc contra ti liixtoi kidor
americano Rieliard llofstndter, que linha, tic acordo com Lynn, descido por
volta dos meados da dccad.i de 60 a muniptilssçô«'* "irresponsiveis“ do
“jtirgúo psicológico'', embora se aventurasse i e-petar que Hofstadtcr final-
mcnce iria livrar-se ile todos esses absurdo* — isto c o n t r a tint das estilistas
mais pereeptivos t sensíveis do ofício histórico (3 que de-per um psmcular-
mente o despru/er de l.ynn foi a aplicaçáo por parte tie Hofsladlcr do
termo "estilo paranóico" pira tlcsercvcr as convicções c a relõrica dc alguns
homens trados da política americana, uma cunhagem viva c esclarecedora,
que Hofstadtcr desde o inicio ccrcuu corn os mais elaboradas precauções.
Isso. dc acordo corn Lynn, não fez toai* do que “empenar as reputações
dc certos grupos de americanos de que ele desconfiava ou que temia'.
12. “From lhe Facts to the heelings", resenha de Joswph F. Byrnes, dc The
Virgin of Chartres: A n intellectual oral psychological history of the Wetrk
of H tn rg Adams, e de Charles K. Hod mg. Cutler and the IJttir Rig
Jfo/.a: A psychobiagrnphical inquiry, em The Times Literary Supplement
f2J-I0-19SI). 1241.
13 G. Kitson Clark. The critical historian 11967). 21.
14. Asgitti Alan Macfarlanc. u resenhar Entertaining Satan cm lh e Times
Literary Supplement ( I3-5-I9S3), 493. ehantu-o "dc lint lisru iniercssjnk.
provocante e legfvel", runs imagina sc u falo de Demos “falar de alclos
e defesas, de amliil-ulo e pralidadc. dc narcisismo c projeção real mente

17
»jiidn. AfuíUt-rwíi sltn iinli>Mu«i c dc st tu «onlcMUN. p»nt especulações
abstratas, obscuras • cnt última análise insatisfatória"- Minha lese, certa-
mcnlc. c a tvpsisl.i: projeção c defesa, c O festo do arsenal frclldi.ino.
mnnej.ido com seriedade e tnidin.li>, .ilaMa-nos de espccultaçóee obscuras
c abstratas paru o centro da dinâmica psicológica.
15. Tliomas, comunicação pessoal, 3 1-3-1984; Cobh, Reaction* lo lhe French
Revolution (1972), 6; Fitou, Practíte of history, 81, 88, 5B. O liixtorixJor
americano da Renascença, 'William J. Bouuisnin, ao negar tiue o sen artigo
sensível c inclusivo sobre "Anxiety nnd formation of early modern culture"
(em Barbam C. Malnmcnt (org.), After lhe Reformai loa- Eásays tu honor
of J. I I lle tle r 1 1 215-46), tenha sido influenciado Hiret imcntc pel»
psicanálise, acrescenta que "Freud c rqpura em geral parle da nosSn cultura
eonsum . . que s sun jirosensn no iuiuln do meu pensamento foi im por
lanle". ComunicítçSo pcssoul, 10-4-1984.
16. Tnitnbacli, The rite of the tgatttaritn fa m ily Aristocratic kinship a n j
rlnmrrtic relatione in eighteen I h-ecniary Englt; oh (1978), 9-10.

17- Bowlby. Attachment (1909. 2.“ ed., 1982). XV.


18 Bowlby iifirtna-ti cxlcn same MIC durante ti série de quatro volumes.
Attachment tniA loss (d.i qual Attachment i o primeiro), e mais urns
ver, após vinte anos de trabalho intenso na obra à qual conssgrOII u SUu
vida: "O ponus-clme de minba tese é o de <|tic hft uma relação causal
forte entre as experiências de uni indivíduo com os seus pais e a sua
capacidade posterior para canlntir laços afetivos". "The making and breaking
of nffeclional toneis" (1976-77), cm The making a n J breaking a) nffeclional
honAst (1979), 135. Ver também, cm rdacio a esse "ponto-chave”, no
in estuo volume, “Effect* m behaviour of disruption of an arfcctional
bond" f 15167-1969«). e "Separation and has* within the family" (1968*1970).
19 Donald M. tew e, History of the Irooegeois perception (1982), 25. Como
outros historiadores, I ov.e também tun os tcrmos '‘irconsicierle" e "subcoiN-
create' nltcrniidamenle (p. 14). (Juuniiu uni IristoriadiM comenta as idéias
Freudianas sohre “»ubcouscicnle". geniltrtcnlc revel«, com o seu aparente
lapso actual, que falhou cm nprender, on nionio cm olliar dc relance
pans O' escritos psk analíticos, nos qiinis o próprio lermo aparece apenas
no início c com extrema raridade. 1-. quniulo Freud usou o, tie-.o o Iratou
co-mo si rami mn d< "inconsciuufo".
10 Slone, lire family, set unit marriage In Engfuntl, 1300-1 MM (1977), 52-3,
572-99.
21. rbiJctn, 15.
22. IhiJem. 15-6
23. Freud. "Zur Dymrnik der Uhertuiyung" (1912) ISinrHennungahe] II v„
Alexander Mitscherlich rt alii (1969-1975), Ergsiuuirgshtintl, I59n. "Tlie
dynamics of transference" [Sltnutanl etlitkm of the totnpirte ptyehologttal
'forks of Slgaiurtrf FremT\, lr. e org. James Straehey et alii, 24 v. ( I"153.
1975), XII. 99n.

172
14. Freud, Orei Ahhendliigcn zur Seruuhficoiie (1905), n l. m i ., V. 113. Three
essays on the theory of srxunlir:, e>i. stand,, VII, 210-1; "A»« der Ge-cbkli'.c
finer infantil en Neurose“ (1918). eJ. tit., VIII. 188, "From the history
of an Infantile neurosis”, cd suutd., XVII, 72: Thu Ith tmil áar Fj 1 1923 I.
n l rst., Ill, 302, The ego emit the til. n l. JKMr/.. XIX. 34.
25. Ver nteU cm iio “Freud and freedom’1, in Alan Ryan (org.), The him of
/rentalrr Essays in honour of fstiu/i Herltn (19791. Numa conferencia
que festejara o centenário chi nascimento de Freud em 1836. John Bowlby
disse; “Talvez nenhum outro campo rln pensimento conieniporãnco imntrc
mats claramente a influfncUi do trabalho Irvu0ir.no «lo que o du educação
infantil. Kmboia lenha veinplc exi-lido aqueles que saibam que a criança
t o pui do adulto e que o amor materno dã algo indispenidvel pára u
criança em crcscimcnlo, untes de Frcud csbm verdades antigas não eram
objeto dc uma investigação científica", um veredicto com o qual eu concorda.
“Psychoanalysis and Child Care" (1958), em Bmvlby, Af.iing oiut breaktug
°Í afjetioiwl hands. I.
26 Ver adianto, cap. 5.
27. Freud, "Die Vcrdrãngnng" (1915), td. ctt., Ill, H I, ‘■Repression1, n l.
stand.. XIV, 150. Triebe ur.ri I riehschleltsale’ (1915), ed. ert., Ill, 94,
"Instincts and lheic vicissitudes1*, eil. shunt., XIV, 94: P at Vnhelmiten in
der K uitur (1930), ed es/.. IX, 197, C M Iliatlaa and itr discontents, n l
eland.. XXI, 64.
28. "Children and the family" (196), resenhado por Stone em The past and
the present 11981), 216-7. Ver Mlianie. p. 16.
29 Macfarlane, The family life of Ralph Jossciln: A sovcntecnlh-cenliiry
clergyman (19701, 183n. Notar oov.imentc o ubiquo “subconsciente“.
30 George e George. Woodrow Wilson and colonel House: A pcrsimallty
study (1965, cd. 1964), 43. Ver bibliografia, pp 193-4
31. llavély, EtlffUnJ in IS 15 (1913. Uod. E. I. Wallin c D A. Barker,
1949). 47. 65.
32 Weber, Peasants info (rtnctimen: The modernization of ratal France
J 870-19 N (1976). 277.
33. Ver Peter Gay. “On the bourgeoisie: A psychological interpretation”.
(it lohn M. Mcrriman (org.), Consciousness and class experience is
nineteenth-eentury Europe (1979), 187-203, « The bourgeois experiente;
Victoria lo Frcird, V. 1, Education of Ihe senses (1984).
3*. II ioin is. Responses to industriaHznlicnt (7 SO -M U) (1976). 140.
35. Olsen, The growth of i ieluriait l.ondmt (1974), 23.
16. Lefèbvre, ‘ Foules rcvoltitionnaircs'* (1934). in Lefèbvre. Etudes me let
Revolution Françalse (1954) 278-82. E ver "Le meurlre du comic de
Dnmpiernc 122-7-1791), ds Lcfcbvrc. Undent, 288-97.
37. Dodds. The grreks and the irrational (1951), 49. Para umu discussão
mais detalhada, ver mlianie. pp. 153-7.
Capitulo 2
3. O historiador Sim! I-ri eJIdnder, »impatizanlc da .ipl-.cjMlmi ilc Ji> p tie v
n alise A hitfórin, oN eivou qiie "a gr.intlc rrmioria dos psicanalista*
independente da « c o la ’ a que pertençam — consideram >ue inlcrprcliçâu
do pensamento fieudiino como u n conjunto irmlacivcl c monolítica, c
qtl.ilquít ICIItaüsii dt k Ii ^ huu i Imx*c-sc com »uns nfxniçiio fero/, nuts
apropriada aos adeptos de intui witn do que » t representantes tie uni
domínio científico ainda em viris de elaborioAn U h la n ami psycho-
analysis: An inquiry into Ifit p iu if M t if f am/ fhniu a! psycIto-Jifsloes i 117/,
trad. Susan S.iloinur. IV78), 6,

2 . Harcun. C'iin uml llir tiaehus. F.ncho-liiuoty. qaanlo-hislmr A M ila n


1 19741. 6.

3. "Krcntl psiru R osen/w if" 28-2-t934. reeditada no original eat David


Shakpsv C D tvitl Rnpnporl, Tfcr iiil/ueacr of f'reml im amerimn peyrkology
(1964), 129«. Vci comentário« delalhndr*. ibhlrnt. 13Cln.
4 Fm c« R. llilgnrd. '‘Psychoanalysis: Experimental slndtes“. International
encyclopedia of the cartel sciences. David I . Sills (m g ). 17 v. 11968).
XIII. 39

.4. Freud, Traimulentnng I 19001. r el. erf.. II, 483. 73u. 122n. The inlrr.orr-
union o] dreams, r ii stand.. V. 503; IV, 4Vn, I02n. I’aiu Sillxiei t
Pi»!/1, sci adiante. |i. HP.

6. Vcr cspcc. I’iiill Kline, l-act mu I lanteuy in Irtndinn th tory (1972; 2.* cJ ,
1981), cap. 1 “Freudian thorns anil scientific method"; c Dnvid Rapopor«,
T he etn e c tm e n / psychoanalytic theory. A ./im n a W iiiW attem pt, prychu-
Ivyiat! fnvei, Monogiaph 6 (19611). uni t leniaiivu audaciosa t supernsa
<lc reduzir as leu ; ohserviçócs mulufárini do instrumental psicanalltico
a ii ai sistema
7. No mu 7 hr standing oj psychoanalytic theory 11981). o filósofo cctko
ingle« 8. A Knrrell argumentou. pot exemplo. <)uc oh csliidos o n tlcfcsa
perceptual não são tic nenhuma maneira sobre o recalque; para uma icpUea.
vcr Klitic. P it t and fantasy, 210-28
H Sohte u complexo de f-dipo. »cr adiante, pp. 85-9. A previsão desenv
penlm uni papel rckitivainenlc nicxksto na. comprovuvio pskanalilicu desje
que, etedccendo no principio da sobreJeterm muví o, uns simples, coiiglo
meratlti dc causas pode t«r unit saricJadc de efeitos. Ver adiante, pp. 1501.

9 Paul Fn iliu e Roland N. Stromberg, The heritafe n n j challenge o/ history


( 1971h IS5, 170

10 Freud, .Vrnr Polge Jet 1'orltswtgen znr Einfiihrnng \n die Psyritn snatyrr
(1933). r J . ear., I. S07. New intreJW lerv feeinnt on psycko-anolysit.
ed. M n d .. XXII. 69
11. "N.’iO i inconium, meimo atualmente". obv.rvuu o eminente piicanalidx
MarkKunzer cm 1980, ’descobrir urn» veneração que corromps o verdadeiro
legado freudiano, que íoi o de explorar, inovar c tomar decisões próprias
sem sc deixar intimidar nem pela tradição nem, nu mesma direção, pelas
opiniões anteriores". "Concltisiorr eni Mnrlc Knnxcr ç Julçs Calem lorgs,),
Freud and hir (WftMIí (1981», 429. Provavelmente a autocrítica mais
severa dessa atitude dentro cio oficio pdc.mil!lii.u que encontrei i h do
Edward Glover. Research methods in psycho-analysis" (1952), teeth tudo
cm C>»i the cvrly dttcloptncnl o f ntind (1956). 390-405, espec. 391-2.
12. Masur não texts escrúpulo« cm chamar o pequeno pnipn de seguidores
intimas que Freud reuniu no seu lula de “oti*a espécie de comitê cerurni
psiCAiMlílico' Sua descrição geral dus ideias freudianas está no mesmo
tlivel. Prophctt uj yesterday: Studies ir. eitropeun culture. !890-1014 (1961 ).
298-317. capec. 312.

13. Hughes. "History and psychoanalysis: ITw explanation of motive". Ifiilnry


nx art wrui nx u i a m ÏKin vistas on th* pest 11964). 42-67. De fnlo, a
proposta de ul lulies, utna vex que senha per eu ki cm slats implicações,
es lá de acordo cam a forma do historiador profi«ionxd de donu'mtr as suas
disciplinas auxiliares e. neste sentido, seu insteri.il em geral: í um convite
para garantir a espécie de competência que ele considera completi mente
sem objeções sc outras disciplinas estivessem cm questão. Experiendar a
situação psicanalítica. com n »u» relação carregada entre analista e anali­
sando e n sua prossSo par uma regressão, c wmcillante il iUi Historiador
dr»s vLigens de Colombo que atmvess.i as mesm.is rotas, sob as mesmiis
corailçoes cnconlrtulas por Colombo — semelhante, embora aimJ.i mais
dificil. Para uma perspectiva ilifcrcnlc, ni en os csigrntc, ver Fneil Weinstein
e Cera Id M. Platt, Psythoviialylic sorialow•' ••fri essny on the Interpretation
of historical lin f. r antl the phtrunru nu of caUeeüwr behavior (1973), In

14. l'ara ose ponlo, ver Peler <îay, “Sigmund Freud; À gentian and Fi»
disconl entî", cm Freud, jetés and otite rx périmais: Masters tnui vhtitns in
modennst enflure (I97S). 39-92, «spec. 82-8.
15. Freud para Bonaparte, II-I-I9 Ï7 , Ernest Jones, Th r IIje and work of
Sipminòf hr suif f9 l9-l939: Vite tant phare 119571, 13 1.

16. Palre, llebtr Banttlle mui die SltltJittrderhniss tmserer Zcit (1845). 4Hn.
17. A mats recente d iscut-sóo sobre os débitos freudianos c j Je Frank J.
Siillovvay, hr end. binlopisi o f the iniutf: lievand the pifchoanalylit Irynni
(1979), que. a despeito du sua alla insistência subie a dependência de
Freud em relação » Fl icss (ta! see por causa delà) uebei pouco convincente.

18. Freud, Ore H'itt un il wine Deuahuns turn Vnhmnusten ( 1905 I. cd. cri,,
IV, 13n, Joker nnd rheir relation ta tilt un çonre lotis, cd, stand., V lll, 9n
19. Freud deu u mn de seus filhos o nome de Ernst poe causa île Ernst Br iicke.
e il outro o de Martin devido a Jean-Martin Charcot, dois dos sais colegas
mais velhos, que efe mais admirava Ver Peter Gay, “Six Names in Search

175
of ail Inlcrprcl.tlioii. A Conuibulion lo the Debate over Sigmund Freud'«
Jovialities«", Ifrbre »• IIninn CetHege Annua I. LIU (19X2.1, 29S-J01.
20 Oerrinente piietmahsia Leo Stone ‘.cm qiwtlionado ft categoria tie 'agressão
enquanto uma idem unit.irin i ‘Reflection« on the Psych «inalylic Concept
of Aggression", Thr PrychiMiiuilync QteatUly, XI. Inhril, 19711, 195-244);
arlrricriucnic. Ottn Fenishcl, vnija ;.u:u:id.iJ.- junto •« >mt!tiii;õcs psimna-
II litas permanent forte, lesaniuu aêrúia questões a respeito tin tcoriu
(liialisia. freudiana «los inSlinUS* ("A critique of the dentil instinct" [1953).
cm Col/echJ paper! erf turn Frnithi'l, lir a series IIVÍJ1. 363-721:
enqtittnlo um grupo de psicanalistas e tie psicólogos tic oricnt.ivão analitie.t
reapcilatlus lent pedido InsisleitMflMntt a. eliniiniiyBO sJ t ntetnpaicoloeia do
tot pin Jos trabalhos ftcudi.itios loeW vck (Assinado em especial alguns
Jos .tiligos Je fteoree S. Klein, lais como *Tw© Theories or Ona? ' | 19701,
cm Klein. Psychoanalytic theory • An rjr/tfewil/iMl o/ etseiitluls 119751. 41-71,
e aqueles reunidos por Merton M. Gill c Philip S. Hul/.mun em meritória
dc Klein, 1‘rrycftolagy vrriiu arrttiptsycMatrr 119761)
21 Stannnrd. Shrinking hisuire. On f'rtktl anti rhe failure of jupcJtet-binary
(1970), f 7; Barron, C lio tout tin- doctor*. 33.
22. Kttrl It. Puppet, ' I*hBvsopliy of science: A personal reporl". cut C. A
Mace (otg . ), Hellish p/n'Jnjeipfey in in id-century 11957). 156-K. cimfertncia
tic 1953. lantbéni reeditada tm Conjectures and rcfaiatlonr: The trewtii
n j scientific á/to* Infer 11963: 2 * ttl 1965), 33-65; Sidney Hook, “Science
anil mythology in psythtKinalyais , in Ht>ols (org.), Psychoanalysis, scienit/c
in c tW mtui irhilovophs. .4 ■yiwpftiitMti 1 1959 1. 214-5. 773 I*.ipp.-’ ntincsi
tillero-ii a sm posição. "Nenhum lipo de descrição“. escreveu ele rtwn
recíiilemenle, “do qutilqiici cumporuincnlo logicamente posvivel podc set
dado que se revele incttmp.itfvcl com tia teorias psi c.iiij lit teas «tc Ftcud,
Adler ou lung". O h jn ll IV knotrUdgt A n evolutionary approotii (19721,
Vin. O seguidor ntaia enfático tic Popper tie««» questão (fnta David
Statin »rd) é Sir Peter Medawtir. qne tern zombado muito dm asseiçõet
freudianas: vtr o sen The art of the wlui/lr (1967). H-5. 62 4, c Inanition
unit intinlion in ideniiflc thtnijthi (1969), 6-7, 49-50.

23. A i|ttcslãij é complictulit. isw c tcstent unhado pelo comentário competente


dc I rn l Nagel, filósofo da ciência, dificilmente um pirlid.it io da psica
nálisc: ‘ Dr. Medaivar nparcnlcineme end os*, i a ntegnçfMi poppenaru tk
que enquanto ncriliuma teoria cientifica pode ser verificada tie forma
conclusivo, ns teotias vão dcfinilivaniciKc refutáveis. Sem duvido, há uma
awimclri» formal ettlie os enunciados universais que verilicani e t» qlic
rcftiii.il). Mas í ii alem do ponto umtcnttir que ns le«)tias .vão portanto
tonelusivjnicnic falseáveis Poiv enquanto unta simples instância que entrn
cm comr.idivio com timu trori i i tefnla, ve um falo r.purentnnenle
reenlciiranic é real mente incompatível com ,t icoria tó p»dc sei decidido
A |U7. cie vários pressupostos »cellos como sólidos (dc qualquer modo no
contenta dc unia dada Investigação)". "3Vh«t is inte and false in setercc*.
Encounter, XXIX (se t 1967), 70. P a u iiimi refutação cscliirccedom d i
vis:in pepper am no contexto da argumentação psk.inuliliai, scr Clark

I7h
<il yincur. ' 'Freud, Kepler. and the clinical evidence" (1974), in Richard
Wollheim e lames Hopkins (oigv). Philosopldca! essays cm Freud ( 1982).
12-31, c II R. Co-Jn, C. F, Freeman e N. II. Freeman, "Critical empiricism
cri liei/ctl: The case o f F icimI", ihitlem. 32-59.
24. Sherrill, "How Reagan not that way", resenha de Da lick, litmatd K u nvu r
The in ! itles o j symbolism (1984), The Atlantic. ( C LUI. J tm.ir.
19*4). 130,

25. Frcutl, "Konstruktion in der Analyse" (1937), tel. est., KigihaimgrtanJ,


395. "Construction* in analysis^, Ctl. stand, XXIII, 257; "Die Verneinung"
(1925). cd. est., n r, J73, •'Negation*, ed. stand. XIX. 213.
26. Freud, “Verneinung", ed. en., Erÿnntritiythnntl. 395; "Negation", ed. stand .
XIX, 235.
27. O arligo clAssico desse lipo, que ainda merece ser lido, é o de Karl
Abraham, “Uber eine besondere Form des neurotischen Widerstand gegen
die psychoanalytische Methodik. (1919). Abraham. Gesatn mette Schriften
in cwri lliittirn. Johannes Cremerius (org.), 11971; «d. 1932), I, 276-83.

21. Vet cepec. Matdiall F eleison, "Is testing psychoanalytic hypotheses in the
psychoanalytic situation really impossible?" PSC, XXXVIII (1983), 61-109.
29. "Uber Vilde’ Psychoanalyse" (1910), td. n i., Ergänz*n g& tw l, 14P; "Wild*
psycho-antilysis', cd, stand., XI, 226. E sk pequeno m ig o i allamcitle
recomendado como um remédio contra diagnósticos irresponsáveis e nprcs-
Mldur, Ver trunbgm Freud, "tCoaUnjletîon**, ed e tl. FryiranrarcAiiad. 400:
"Constructions", cd. stand.. XXIII, 262
30. As passagens mais reveladoras estio e n Freud t Ureiier. Studies ntt hysteria
(1895). cd. stand. 61, 63. 129. 138. 172. « Freud. "The neuropsychoses
of defense" (1894). ed stand.. Ill, 52-3.
31. Freud, “Ohsrnkter und Analerotik" (1908), cd a l . VII, 23. 26. 30;
•Character and anal erotism", etl stand.. IX. 169, 171), 175
32. Freud, "Au» der Geschichte einer infantilen Neurose (“Der Wolftmanu" )"
(1918), ed. est.. VIII, 188; "From the history of an infantile neurosis",
td. sfur.it.. XVII, 72. O* grifos s&o mein.

33. Freud. ' Urochstilck einer Hyslerie-Amilysc" (19051. cd. est., VI, 128.
"Fragment of an analysis of a ease of hy.slcria", ed. stund. V3I, 54;
"Hemmung, Symptoms und Angst" (1926), cd. eit., Vl, 247, Inhibitions,
symptom!, and aasiety", cd. stand. XX, 102 Sohto b questão da causarão
múltipla cm história c sua análise, ver Peler Gay, A r t n n j act On causation
in history — Manet. Urnpius. Mondrian (1976).

34. Algumns dessus causas c significados são sociais: não estou argumentando
que os motivos e atos individuais sozinhos determinem o curso da história,
ou que os conflitos em que o historiador estl especial mente interessada

177
sejam prcosatnenic 01 conflitos que o psictinalista encoiiua durijnientc.
Sehr« o signiticudo social dns proposições ficiKlimtas, ver «diurne, cap. 5.
3S. TVcud.'Hnichstuck einer Hyslcrie-Analyse'' ( 1905). r.i , ■/ , VI, 139:
"Frngmenl of art analysis of a case of ItysierfcT. trd i M , VII. 55.

Capiiulo 3

1. Willi tri James para Ihecitore Hournoy, 28-9-1909, Henry lames i.org. ).
TJte teilets o f IyUllûM James. 2 v. (1920). U. 327-3.

2. Herr)' F. Ulcnttcrfter, The tfbrover. o j liie uitcunscions. The liislory umt


tytrlunan tri tlyrtantk- psychialry »1970, 464-5; Hans-Ulricli Webler,
"C!esch:ehl»wi«s.cnschnfl iiik) 'l'sychotiisturie"*, hmsbritckei Historische
Siudirji, I (1978). 201-13; David Hticketl fischer. Uhlarim it' Uillneiei:
Tvwant u lonic ot historien! ihoiiyhl. 11970). 1*9; Lawrence Siore. T!le
Jumiiy. sex rmd marriant tn Englanet HOQ-ltlIAf »19771. 15-6. Na polémica
história do sen movimcnlo, mima pa*sageni sarti-rlka, Treuil confronto»
a si rresmo cism esta asserção: "Tories n*Vs inivinmis falar a rcsprilo iln
leniitivn iniereisante de explicar o aparecimento da psicanálise rt partir
«lo ambiente vienense. lanei, ião recenienrente quanto IVI3, não leve
CtcidpllkH eni usá-la, embuta certainenlt: ele se orgulho de ser parisiense,
c Paris dificilmente pode ukpar que sem uma cidade eom nnorc moral
mais «veia do que a de Viena. De nenrdo com o seu apperçu. a psicanálise,
especmlmente na sua asserção d< que as neuroses decorrem de perturbée «set
nu v nl.i sexuul, só poderia 1er surgido numa cidade como Viena, rtntn.1
alniasferu dc sensualidade c imoral idade estranha n outras cidades, e qnc
simplesmente- representa o refltao. por assim dizer, a pro.itçãu em uma
leorin. dessas condições e»pceífic.is de Viemi Oro. não sou mesmo Ksirrista,
mas essa teoria sempre me pareceu exccpcionalmcnte nbwirda. ião absurda
que algumas vezes inclinel-nie a supor que i reprovação dc ser vienense
é npcrias um ciifcmisinu que stitaliuii outro, daquele tipo que não sc
poda dc tentar público, Sc sts premissas fossem as opostas, çnlüt) lalvc?
* desse a pena ouvi-la*... O* vicnCmc* liãõ *áú nein mais abstinentes
nem mui» neurótico* do qtte oulros que livettt em cidade* grande* As
ralações sexuais são mn pouco menus embaraçosa*, o recaio é menos
acentuado do que nas cidades do Oeste « do Norte, que se orgulham de
sua castidade" "Zur Geschichte dei psychoanalytischen Bewegung" (1914),
Ceumnictle Werke. X, 80-1; 'O n thé hictory of Ote psycbo-analytic
nui vertiert I“. et), nanti. XIV. 49-dD.
3. Peter Guy. "Sigmund Preud: A gerttun und lus discernent*”, Freud. jeu',
tuai îjliiert newwns M a n n aiul sictims In m odnniit culture (1978). 29.
Mc.into se as prova« freudianas tivessem sido retiradas dc urna nmuslrngcm
tão pequena com» a que seu* de tu tores gostam de afirmar, a verdade de
«lias alegaçScs permaneceria incólume, embora ecrlamente fosse menos
plausível De fato. como ocorre, n variedade de seus casos í impressionante.

17«
A impossibilidade dc estabelecer um completo recenseamento dos casos
■freudianos é, certamente, dev.dn u restrições dc n c isu a,in arquivos encon­
tradas pelos pesquisadores.
4- lucien Febvre, U fe in Renaissauce France. org. e trad Marian Rolhsteir.
(I?77). 2.
5. Friedrich Meinecke, Die E u tM im n t des Histarismiu, 2 v numerados
continuarpente (1936), 2-3, 203-3, 4.
f>. Pcler Uay, Style In hàtory ( lí>7-l), cap. 2.

7. Ver Peter (Jay, The enlightenment' An interpretation, y. II, The science


«>/ freedom (1969), 380-5.
8 GeafTrey SlrickUmd. Stendhal: The education of n novelin (1974). 2*.
9. fcliot, ‘Tradition and die individual talent" (1919). Selected essays
(1932) , 14.
10. Oocthc. Few si. D er Ttagõdit /.wetter Tell, ato II, linhas 7740-3.
11 Freud, ‘ Djs Unbewusstc” (1915). ed. err.. 111. 149. “The Unconscious",
erf. Hand., XIV, 190; Das ich and daj fit (1921), «1 t-sr., III. 302,
The ego ««</ the id, ed, stand., XIX, 35. Para mils {nfcurnaqftcs .» respeita
do desenvolvimento, ver adiftnle, pp. 129-34.
12 Frctlil, Neue Folge der I'nrleumnen zttr F,!nfiihriinit in die Psychoanalyse
(1933) . cri eet.. I. 529; iVen1 introductory lectures on psyehnemalysis. eel.
stand.. XXII. 95.

lí Tem os de lornar claro para nós mesmos que todo sít humano adquiriu
uma forma especifica, própria If/n r bestitniiire Bígenertl, de condurir a
sua vida cr<5lie* n partir do trabalha combinado dc dispo»àjôeu inata»
e influSncias sofridas durante os piimeiin» anos da infância“ "Zur r>)n.mnk
der llbertr.uptn?" (1912). rd eel.. FrgBntinuheind, IÍ9 (ver a lor.pn nota
de rodapé na mesma página); 'T he dynamic* of transference", eel. stand,
XII, 99 (e 99n).
14. Freud, "Tricbc und Trtcbschicksale“ (1915), ed. rat. III. 86; “Instincts
and their vicissitudes", cd, stand., XIV, 122.

15. Pares, T h e historian’s bttsincss" (1953). in the historian's business and


others essays, P. A. c Fiiiabeth Humphreys (ergs.), ( IS 6 l). 7.

16. £m um artigo convincente, "Tlic waning of the Oedipus complex" (1979),


o eminente psicanalista Hans W. I.pewuld argumentou qtic enquanto tem
ocorrida um certo “deCliitio na interesse psicanalítica pela fase edipiana
e pelos conflitos edlpisinos“ em fnvor tios “primeiros cslágias du üiferen-
cUv'ãw entre o n l f o objeto. da scpar.tcão-iiulividuaçáa. das ortgcns primi­
tivas das relações objetais" uma "compreensão ircsccnU das questões
pré-ediparuu, longe dc desconsiderar as cdipi.in.is, pode, no final das coutas,
ajudar o obter uns discernimento maior a respeito delas". Loewakl. Papers

t7<)
uti ptytho-tinaiytit (19*0), 3K4--KJ4. A passagem cilada está nro pijunai
386-7. Kssj forrniiliçfio cauteloso é congruente coni a minha própria virão
(ver acima, p. 13) ilc que 11 escola das relações objetais p*'rn»reiv
firmemente dentro do meio freudiano.
17. Kesenlui de AViIliam BuHill c Sigmtird FrçuJ, Tkamas Woatfrow WJhron:
A fvycftolo/iicul view (1967), cm I h r AViv Sla/esH>ari mui Nntion.
12-5-1967. 6Í3-4
18 Ver. a respeito d a passttgeui dc Diderol. Ercud, iniroductiiry In M m v i i
iriycho-tiruitysii (1910-1917), eJ iland.. XVI, 138; “The « p e rt opinion in
llic HaJsntann Ceve” 11931), ctl. iu n d .. Xf, 251; An uutilne of psydur-
anxlysú (!!>•«>). ed. *UmJ„ XVIII, 192
19. Freud. V a i leh u n j dos Es (1923). ed. et/. III. 300. The if p und rtir ui
erf. afane/.. XIX, 33.
24. Devo e u s (clir. fot imitação ao Dr Ueorge Vtahl (comunicação pessoal
cm 1977).
21. Frciíd, V it TianntdtnuwH (1900), n l esl., II, 268-9; The intcrpreialion
o/ drcinns. n i tland., IV. 264.
22. Ver E. R. Dodds, "The ntisunderslanding of 'Oedipus comple*"' (1966).
ler Tile tiicienl concrpt oi proxre.v and olhrr essa\s OK u rre i lIltraMre
und M ie f (1973), 64-77.
23. Slinlb, The túMarian n n j hislory (1964). 130-1. Kixcher, Hhtojitia*
lotlo rj,,. 192.

24. Ver adiante, p. 13.


25 David Stannrrd deu granito impoilSnci» aos artigos que parecem lançar
dúvidas sobre o complexo dc Fdipo c Iralu dc forma cólica um que n
defende. Não omile (e sente satisfação cm citar) a crítKa muito debatida
ile Dionislau Mntinowski n respeito ctcvsc complexa freudiano nuclear entre
in lrobriandcs.es. ShrrnJtinjt hisle/ry: Ou Tremi ttrui lhe fniiure o) psycha-
Itislory 0 9 8 0 ), *5-93. Mas considerem o ensaio brilhante de Melford
E. Spiro. Oedipus in lhe Trobriendi (1982) que demonstra dc fornia con­
clusiva que Malinovxski leu muito erroneamente os seus mntermis, c que
esses mesmos irvUenni-< oferecem fortes meões paia ntnKnr o eomplc-vo
de Cdipo aos 1ro6nmulcv.-s O debate continua. mm a descoberta frcuJfcoia
in:, fitem a sua MilurixLide — « o seu caráter tugwl ivn para o hittnrindor.
26. Ver. como outro exemplo, H. H. I iddell Hart condensar is 'atinas fun­
di incuta is" da Prirnciru Ouerra Mundial "em trOs palavras meda, fome,
orgulho”. H htnry o] liic F im Iporld tfVw (1930; ed. 1972). 1. Tratarei
dessa questío adiante, do capitulo 4.
27. Coehnm, ’ Eoonotoic hislory, old and nexx", American Hislúrienl fletie k*.
LXXIV (jun. 1969), 1567. Hofxtadtet. 'T he pseudocoroervalisc rcvuli"
(1954). in The jwiranoid sl\lr lit itnitrictiri paUlics and othet esjay.1
(1963), 53.

i u.i
ift Cluhtophcr H Jchmon, 'T he Rcsolulion of 1830 i(i frencli economic
history", m folin M. Momrrr.r (org. I. IS iO In brnnrr (191? !. 139-89.
fXfSi/w.

J’> f-csa continiK* no interesse privndo como i mais potcnlc das fontes pare
a açio não ve dcbilitn mesmo cnlrc os marxistas. pero oi <|uab o interesse
privado Jc indivíduos ou «1« ginpoi está. como »abemos, lig a d o íls »uns
relações com os mefc» de produção c com 9 slKi ptViçf.o D época. Como
os hiitorí.idores nurnislos o ví em. os ngemes mais utaltndos do processai
hi-itõrico dominante têm os interesses i)uc devem ler, imis vão iricrevscv
que eles tem. ou. talvez rnniv prccia.inicriCc. estes os têm
30 lle.irj, An rconvmtc ime/firi imio/i a.t ihr Constltalio/l of lhe V n ih -J Stulti
(I9 J3 ), 13-6; ver Richard Hofstadtcr, "thr progrtxslvu hjtittrhm.f Tnrnrt
B estti, Airdsilin ( 1948), 207-4J.

31. Ncurnum. Bthtmoih. The Urutlnr* <mJ procllte ol <inUmwl «eieViiN,


1933-1944 (1942; 2.» ed., 1944). 3-6. O volume de K fhr i Srhlothilltuitn-
hiiu im3 PÒrtelpulilll, 1X94 !901 (1930).

32. V « Peter Cia». Sryle in hístojy. eap. 1.


1] . Assim Kideartl Cobb: "As pessoas r: o estão dispostas a confe.u.r franca
mente nem as vantagens iln seu puro interesse privado". Rtnctujni tn ihr
Frendi Rtioliillon (1972), 177.

34. Hnrtmilin. ' ( imnnientj on tlic Djychcniuilytic thcor> of lhe ego" (19301,
In E ra m ou ego pjvcAoíojrv S t ln in i prnbirnn In paycSotinfjllç tJimry
(1964.1, 133.
35. Ver Friuvl, "On narckdsin An imretkKlion” (1914), eJ. xtnnJ., XIV. B2:
“Inslincts and dicir vicissitude'.", ibtjern. 1)4-5; ‘ Itcprcsvwin” (19131.
ibtJein. ISO Fss* palavra infelix "inglesa" cúlherls que tem vido usada
para Intelurir n termo freudiano pcrfcil.miente comum tfrsrtmng — carga,
investimento — poderia (conto o psiquiatra Dr. Frnvl Prcliiigcr sugeriu
me) « r pcrícilaiucnlc transmitido par "interesse". A perda veria mínima
i O ganho significativo. Ver »diante, pp. 96-7.
36 Paia uma cxplomção fascinante sobre as confusões inerentes a essa idéia,
ver a devastadora resenha de Mneaulay. "James Mill s estay on govern-
ment: Utilitantn logre and rolities". Edinbnrgk K evie». n.® XCV1I (mar
1829). reimpressa orortunemcnlc cm J.nck U vdy c Jebn Rees (w gt.),
Ullllutrltin logic and peAltic-s (1978), que Ijnitéin inclui o c-nsaio original
de Mill, a polêmica subsequente r uma introdução esclarecedora
37. Tilly, Frm u imdviuotton lo m ídvfiou (1978), 61. Tilly define “Interesse1
conciijiiiciitc, sem referência .V dimensões scmãnlteas, como "as vanta­
gens partilhadas ou desvantagens propensas n acumulnretn-sc nu população
em questão cnmn uma conscqiiêncin de viria» inurnçãec possiven com
outras populações" (54). Ver Fretl Weinsrein. "Th« problcm of vubjcxli-
vity in sociology" (artigo inédito. 1980), 2-J.

ta i
1« Feakfiel, Tfa* pttychoanalflic theory oi n in i f l i 119451. 475. Para m j U a
res peno <lc defcsn. w r ad iatitc. pp. 1)4-1'.

3V. Ver feretny lieniliuin. Imtodraiion la the p/im-irfej a! month and Ugtthi-
t'on (17891, c li lie ll.ilévy, The growth eij piillowphir rcujicaliint (1901-
1904; lead. Mary Morri». I95SV, rape.* 56-30.

Capítulo 4
1. ‘Vur (leschiclitc der rsychoanolylischc» Be>vcgun8*, (tesanuneile Werkt,
An na l-reiid levrg ) et rrfír. 18 V. (1940-1968), X. 55*. "On lhe hixlory of
lfie rtythoanrt lytic niovenieiit", etf. rtuntl., XIV. 17. Ver lanihcni Freud
pura Flicvs, 21 •9-1H97. The urigins of i<%ye(totmrdyià: Letten ra Wilhrhr,
Filete, drajts and notei: IS 8 7 -IW 2 , M aik Uontiparle (cig.i et atií (1950;
Irad. I’ríe Miaihachcr e Jrunes Strachey, 1954}. 215 * Freiid, certnmenu,
nunca ahandonon n idéia de uma crduçáo pelos paia nos Threr euayi cm
jnim tJty, para mencionar apenas nrn lugar enlre os vários presentes nos
rcus curilov ele cnftiticanicntc iiMinsla que. enquanto C-Uigeroo a «ia
impoiljncia paia a evolução da constitua;ãsi sexual do indivíduo. ela per­
maneceu tuim ameaça muito real, c-pecmlmente p-ua meninas (rd. stnnd.
VII. 190-1). Já havia feito um rascunho tio presente capitulo muito antes
que Jeffrey Motistnieff Mosson. no inicio de 1984. criasse um certo alvo­
roço com o seu polemico c «nsncionaitsta The axsaalr wt t rullt. Frtu tfs
jfHppentlon o/ tire tcdticiltnr ifteory, m> qunl denunciou Prciod psn ter
covardemente ahandonndo a sua teoria correlíi de que as neuroses são
cs usadas por ntcntndos sexush feitos pelos pais contra os filhos, por uma
teoria mais segura, menos ofensiva, de qne esses relatos eram fantasias.
Não fui t> únkn rcsrnliisui a nalktilui que cs.vu Icitum da Iro: ia pskraialitiv.il
i timn cekçüo dc abaurdov fv tr Peter 0ay, The PhihtdrtpJiia Inqulrr,
5-2-1984). The Complete Icttere etf Siptriand Feetrd to Wiljteltn Ftiefs, 1887-
1904. orp. c irad. psu Macson (1985) apareceu quando est estava lendo
av provas do presente livto.
2. O capitulo per (unitário de Georges Dtiiry sotsre "Hitloire des inertalités"
no volunioio Lhistoire cl ws ntflhodes, uri loino da EncyclopFdle de itt
FléJitdf, Charles Sun anui to r j.l, (1961), 9Í7-66, c um exempla revelador.
Tntrc os historiadores franceses recentes, que de nenhunia ntnneir» se vol­
taram para Preud, F.mntnnuel l c Koy Ladurie (ver 6 seu clássico í e i
tvrysrl/ar ele LrmçiW rv. 2 V. I 1966). espec. I. 394-9). t Altutt Besançon
eepec nos seus ensaies em liistoérc et expéikttce du nw i 11971J são excep-
rninai- Mas ver lambem rcccnlcmcntc as poucas — mas promissoras —
páginas yotire sonhos de Jncqiies te làoff, Tinte, nwA, nirt titllure m th*
M kU le Aitett (irad. At th tu GoMhumnicr, I9S0), 201 *4.

3 “Hínç Kiudfcitçrmnerens des Leonardo da Vínci" (1910). ed. ra/., X,


159, “Leonardo da Vinci uiaJ ■ metnoty of his thiljhood". ed. rtnitd,
XI. 1)7.
4 A respeito tlu ego obscrvMlor, ver u luligo famoso, coin justiça, dc Richard
Stcrba, "The fate of the ego in analytic therapy", Jai J Psycho-Anal., XV
(1?34>, 117-36.
5. Freud. Day lch ton! dor Fj 0 9 2 5 ), ed. est.. I If, 2X7; The <no nnd the id.
eJ. stand., XIX, 18

6. Freud, 'T h e unconscious", r<f. j innA., XIV, 159-315, c-rpee lf»7.

7. Freud, S tu c Fotge dtr P orlcsungen i f ' tiinffhrung In J ir Psychoanalyse


11933 ), crd. csi., t, i l l ; New utlroJuetory lectures an psycho-unaljtsis.
e j. stand., XXII, 73. Os dois cmincnlcs. psicanalistas M;>< Scbur. cm The
id nnA the regulatory principles of menial functioning (1966). e Roy
Schafer, era Aspens of inter ceil izatlnn (1968). espec I*18-9. assinalai im
Ilitre ocrtH cslrulura ineipicnle c fluid» no id. Mas lambem porn ties, «
scu aspecto permaneoe indefinível c tniakrioso.

8. "O inconsciente na vid a menial c o infjnlil". Freud. Porlejiuryen znr Fin-


führung in die Prychty-Annlyit (19160917), td. est., I, 214: Introductory
lecturet on psycho-analysis, ret stand, XV, 110.

9. “Nenhuma depicti«ç3n n rcspcilo da influências das eipetic-iiciss poste­


riores 6 ret)uetida pela ênfase (dos psiciinnlistas] nas mais primitivas; mas
ui impressões posteriores tlu vida (alam suííciciitcmcnte alto nti análise
.V.ravói da bottt dos pacientes, assim o médico deve aumentai a sua voz
a favor d»s Ceivitidica(des da infância". Fremi. 'T in Kind v i d gesclrlngen'
(Ucitrng zur XennlnK der Fnlwrhimj - r tnriler PerveiKwinaii)" I I 9191.
ed est.. VII 23S; '“A child i? being be aleu'. A corlnltiitum lo lhe study
of lhe origin of sexual perversions", etl. Jlnnd. XVII. 183-4.

Its. Georges Deveram«, Dreams lit greet tragedy (1976), XIX. e Samlor Fe-
renezi. "Stages in lhe development of the sense o f reality' 11913), First
contributions to psyi-luvmalysis (I952J 213-39. I: ver lulinnte. p. 1S3.

II Freud. The interpretation of dreams, Cup. 1 (19(10), ed. stand.. IV. A res­
peito de projeções do primilivos em sontlos. ver espec. E. R. Dodds, The
greets and the irrational (1931). livro que diuuto cm dclnlhcs. atljinte
pp. 1Í3-7.

12, Ver Freud, Interpretation of th r e e ; \ ed \tiled . IV. 165-88.

1). Devo essu percepção e a frnse no dr. Ernd Prelmgcr.


14 "Nu neurose, um fragmento da realidade é evitado através de uma evptccic
tlc fuga, na psicose ele é reconstruído." Kreud, "Der Rcnlitaiverlust bei
Neurose und Psychose" (1924), cd. est, UI. 359. T h e loss of reality in
neurosis rind psychosis", ed. stand, XIX. 185

1Í. Ver l-'reud, “Psychoanalytic notes on an aulobiogrnphical account of »


case of paranoia" 11910), eA. stand. XII. 3-83.

185
16 William N tester laud. ih r .Sehr,hrr n u r 11974). A l-csc revisionista de Har
lan d s, Schreber. father ttt’J ton (IMXI) fornece um rnnteri.il novo e fas­
cinante e cor rive numerosos equivoco»-.
17 August H. Ilollingahead and Frederick C Rcdlidi, Stxmi r.'nxt tutet nirnlai
illttcu (19181. 359.

18 I-rci:>1. "Formulierung übet die envoi Prinzipien d » psychischen tiescltchen»


(1911), cd. n t. Ill, 18; "FsmmilBlions un Ute ivr« jitliKiplei of menial
functioning.'’, rtf. s t u n t XII. 219
19 Ver Anna Freud, 7/ir «go tnut the uttcluudstUJ of defense (IWfi, truJ
Cecil Haines. 1937). cup II.
10 Freud. •Fotniulierunu über die zwei Prinzipien', r.l eff. Ill, 21; "l-armti
laliuns on tire two principles ', n l xt,m ( , XII. 224 .
21 Hartmann. 'Notes mi the reality principle' (1956), in Kunys on tun pny-
t (iMo*I Setected protsii >rir In psyihinnntiylfc theory (1964), 256.
22 “O cuim« está entre cs estados afetivos que, tic furna semelhante .«o Into,
podc-sc descrever a i m .sentlo normal.' Mas. 'ctriborn o chumenics ik
noiri.il ciúme ruo c tic ncrthi.m» ftirma tolalnientc racional, ou seja,
originado n partir de cmhIí s k i reais" Freud, "Obet einige neurotische
Mechanismen bei Hifcrsnchl. Pattinoii und HomosexualiMI* (19231. tii
e u , VII, 21V; "Some non d ie inechamuns m jealousy, paranoia ar.rl hemos-
sexuality , eti. \tnnd, XVIII, 223.
23 t rend ‘Aus Jet CJcjlIiilIUc silier iufciinik.ii Neniwc' 11914, pulilisuslJ cm
191«), cd. n t., VIII. 188, "From the history of an infantile neurosis'.
<tf. stand.. XVII, 72. Ao discutir os honorários do analista, Fneud oferece
timo síntese Jtscontplicnda e concha sobre os domimns mistos do pens i
mtnlo racional t não racional :uraves de um exemplo a rrxpeilci da forma
de ns I omens lilnrcm coin dinheiro ‘O analista não ncgti qnc n ilinhdro
seja cut primeiro Jugur i m mein de m loprescrv.ivfi» c ik o«<iiwriir-vc do
poder, m.i* ele siistenla ijuc fature, scsuais poderosos purticipam na valrs-
rizafãa do dinheifn'. "Zur F inlei lure der lleli.tndlunif (I 9 IJ ), ,-d. est.,
Urgtinzjinnsbitiul. 191, “On beginning Ihc treatment*', n f Uttml . X tl. 131.

24 O I'niin I Iturtrits 6 Mux Weber. The prnm iunl ei/v't nnd the \ptiit t»/
tapflaltnn (1904-1905: trad Till CMI Parsons, 19301.

25. S i l gral» node patigiafct c nesu arção no mo in it lodo a urn amgu r e ­


queiro e estimulante, “Pat adoxes of ii rationality". Je Don aid Drividson. cm
Pfiilnsoplikal f'says sin F/ruii (1982), Richard Wnllhciin e la m e s Hopkins
(org».>, 289-305.
26 David X. Ian id,- e ( hartes Tilly I or g I. History tu so« ini science ( 1971 I. 70.
27. Freud pant William llaynrd Hale. 2-1-1922. Cópia J ililtnjrafiid» de urna
carta nüo publicada dos Mar user in is de William H u tan Hale, na RiNio-
teca da Universidade de Vale.

184
28 As revenhas mais perspicazes (e compreensiva-, J Ue um ir<halbo feito con-
■m Freud, não inteira mente injusto, consistem em mm par de erasau» «te
Hrik Fiikson « Richard Hoíst.idlcr. “D ie UrníifK case iif Fiem). Btillit. and
Woodrow Wilson: I. If", The New York F i - i r » til fíooki, VIII, 2
«>-2-1967). 3*.
29 Ihump'Ofi, The nwking o j tue rngfitlt working einer (1963). ->0-50 -40,
3711.

Capítulo 5

1. *T>ai Interesse .«n der Psychoanalyse“ (1913), Ucnammehr W ake, IX v.


<19441-1908), VIII, -415; “The claims of psycho-analysis I* scientific inte­
rest”, rtl ittuul., XIII, 185-6. Peter Cay. The bourgeois e r pert ente. I icJarin
to Fremi, v. I. I duc.ition of the senses (198-11. 14.

1. Freud, /.hr FinWhrunp dev AFirtitmtvs (1914), «i/. r.rr.. Ill, 62, ffarciuim.
A n htiriHluctioei. rtl. stand , XIV, 96; Pits Unbehagrn in iter Knlini (1930),
td. eil.. IX, 266-9, Civilization umJ its i/mviiienis, ed worn)., XXI, MI-1;
relent und T a iu (1912-1913), ctf. tst., IX. 394. Toteni amt taboo, rtl
.iram/., XIII, 108, Mancnpjychologie tutd leJt-Anttlyse (1921). ril. r i I., IX.
<5. Group peyetiology and the analysis n) «hr ego, rtl. eland. XVIII, 09
3. Meyer, u.s man ttmpálicn de lodas ns rcsettluis sobre Erikvon, History and
theory I. 3 11961). 291-7. David Hacked Fischer citou esse ponto de
«bi t mas iidaptouo a tuns ndvcrlcucia seven. l l !Horton/ fajlacirt: Toward
a logic oj historical thought (1970), 19J.

4. Moore, / rimer. Psychoanal. dim ., XXVII U 979), 156


5 Na sua inlrwluvúo critérios» no The crowd Jc Felton (1X95; uad. 1896.
«I. I960). Robert K. Merton us.dttala tju-s Fremi não foi complelamenle
justo com o desígnio tie LeHon (ernhora tifto com g sua aspiração); Freud
iisou o ptinicno clássico dt l.cRon conto um estimulo para o k u próptki
pensamento. A respeito «los psicólogos das mas«», ser Susanna Barrows,
Distorting mirrors. Fislont of the crowd In late nineteenth-century T ranee
(IÍ>ÍI). A obra lúctdn de Robert BoeocV. Freud and matterII society. An
a/nliiic and analysts of Fiend'it sociology (1976), é congrtlenle lorn os
m«us pontos de vista.
6 . Tolstoi. War and pence (1868-9; trad. I onise c Aylmer M iudc. 1922-1923;
puMicnslo cm dob volumes. niimcr.Hlot conliiuiamcnlc. 1983 1 , I, 256, 265.
268 (livro 1, parte 3).
7. Freuil, Memeitpsychologle. at. o r I X . 73, Group psychology, rd. stand..
XVIII. 79.
8. Ibidem, rd, e rr., IX, 78, 1 2 0 rd. s t a t u ! , X V I I I . 8 3 . 1 2 9 ; 'N a r y is s n iiis -, ed.
tst.. rtl, SB, “Narcissism”, etl Hand . XIV. 101.

IBS
•>. Ibidem, rif rjf., IX. W; ict. .tltuld.. XVIII, 'IK.

I(>. Uobbei. I.ninth an (1651; Micnaci (taken holt ion:, I. IM 7). 120. >2:
H o lis m , The /Ufchr.lojiy of hoj-i.ii,>,» ( 1 * 1 1 >, !9 . IlhiCdtU ci u n i s H id e o
sivtcriui cultural dc riclctas. pp. 115 1.
t l . Ilollwn r. A hi ,l,i. \ of modern Ciernuitiy, v, III, fPdOI945 (151661, 56.
12. Ainu, The inan in Air ilicmrr (19443. scin i nit. ptiei r.i
11 Tl lum pen. 'I he »taking o/ flit i-nyUrh Mrnriirrp tltu\ 119611. V

14 Irccid, I'orleutni/tn cur liinfUlvmig in iHe Pm htm iktlyie ( IV IM V I7), «r/.


»•«..I, 346; fnirodnctem lettnrre on [vyeho-anvlytu. rtf. ifuinl.. XVI, 3 5 H ,

15 Freud, Abeljs ,lrr f’-m lKkunilnc (194U), UcuirunrtUr iir r k t XVII. 68;
A n o u / l i n e o f f i s y e i i a a n a l y s i s , r t f . ' i t , r t l , XVIII. 145.

16 Gibbon, Aatohtoxrifyjiy, Dcro A. Sounder* (erg. I, (1961). (id.

17 O polido foi feito inkiiliucnte pelo cseinirico psicanalista Wilhelm Reich.


Vcr piigiiu, valiosas cm Bocock, hr etui and modem lotieiy. h -17.
IK Is*o cxplica o profundo (raensso de ivdj tentative dc isulfir a qulnlcssincii
da Millii'ezn lilt rill mi miles que u pintum mJelcvcl dia culll'rst tenha sido
aplicrula — aquele prujclo tie pcsqnisn lUKt.llgico tine remiml.t a Hcródolo
c uuc ncsuluni muna Is «.in.irão ninplamente Jifuml da aim "gnralos cel
vagens" on "mcninovlotos" rocsnio nn rrn freudiana.
16. A tiniest rn.ua liicul.t. c anulri n mais cilada, i o clássicu tie Anno I rctiil
The ore o>fit tire ineclumUnu of Jrfctu r (1636. Inul, Cecil Haines 19371

211. "O hchi v a cnriiKii, equipados mi nascimento iipenat com nlguns nnxa-
nhmot outomdtioos pam munlcr n si niesmo cm equilíbrio cum tt mcio,
confront»-» crrscenlcarcnte com irt condiyõc* cMtrmtS dc O ltu ru a e.\lrc
mfirrenie complexa. Faso* tomliqõcs cjilcrnns compk-xas nS» são iipcnas
conjuntci tie evenlos 'biológicos', nuts cs-tnlos tie diferentes ordens de
nicBi.icio que diamuma? tic psicológica, cultural, social.'' Haris IV. I.oe-
wnlil, 'T he problem of defense and the neurotic inlerpreialion of renlilv”
(1652), ftiperj an pyycfmanatysis < IVhll), 21-2.
21 “Os mccancMnos de defesa do ego" vmi instrumental protetores contra
ruptura e Ucsurç.inuasâo, pro levies que frcqtrciite mente tlltrapojam o sell
ub ctivo car continuam a funcionai quando min são mais ueccssáiins c
assim tornam-se putuluf kus, «o interferir coin u orgaaunvdo poster .cu do
v I I e do mundo de objetos” Loewald, 'ligo-erganiration and defense",
Paper i an psythoanaJyth, 177.

22. l-reird. Die /.nkinifl rir.ee Illation (1627), n l n r.. IX. 140: Thr future
ot an iJin Aon, rrf. iland., XXI. 6.

23. Vcr scinan p 121.

186
24. O eler.co de trabalhos mais interessante a respeito tios mccanbniov cullu-
iais de defesa foi até tguia ti re a ta d o pelos kleinianos ingleses. Ver Hllioil
iaques ‘Social System* as ilefcnsv’ agatmt perseculory and drprevsive
ansieis. A «ontríbuliu n of lhe psycho-oiudylical siady of soeittl proces­
ses", Mel mie Klein et uJii. Séh> Airectioos In pjydw-analyàs <19JJ), 478-
98. e um folheto esplêndido de Isubcl E. P. Vtcnzics, The tuiiilmn oi
rotltd sfji rim as a defense agaiasl anriely: A repeti ou a snidy o/ rhe
nuuirig Service oj a general hcnpJivl (1970), que csninina o modo pelo
qual um» instituição (as regras sob as quais ns enfermeiros lidam com os
pacientes) pskle na verdade muar para estimular ansiedades que cia £ pla­
nejada pata amenizar, Enquanto um tratamento sobre os fatores culturais
e individuais, esse ensnfci é exemplar. Ver üunbéni, a partir de unta pers­
pectiva. bastante diferente, Melford F. Spiro, “Religious syslensS as cultu-
rally oonslittitcd defense meclirnlsms'’. eni Spiro (mg ). Conter/ and mea-
níitp tu cultural anlhropnlagy (I9(ÍS). 100-1 3.

25. Thoni.*». Mar, and lhe nálnrilt \terld: C hanginf itlhlndes In Ungltind 1)00-
iUno (1983). 301. 303.

26. “Nunca p roeu rei aplicar conscientemente os conceitos psicanalilicfK si histó­


ria Quando cra jovem li bastante Krcud (penso que Civlliputlon atuí /iv
ctisconlenls foi o livro que mais me intercetou) Mus a minlia ntlnuru-
çstt» pelo próprio Freud sempre foi muito condicional. Serli que ele cru
um produto da sua epoc-u c nunca me convenci de que os seus discerni­
mentos tivessem validade universal, embora niucni como um cslimulu
poderoso pura u imaginação. Uso não qticr «li«r que eu náo lenha sido
influenciado, em parle, alnxvés de formas tlc que dificilmente lenho cons­
ciência . . . Mas o meu uso cOnteUnTe da teoria psic.analítica tem sido
mínimo.” Comunicação pessoal. 31-3-1984
Um lesto importante, muito mais dentro do ambiente psicanalllico. é.
ceriamenle, o iiabalho de Norhcrt filias sobre o «lesenvolvimento dos
costumes modernos, cscrilo Inicial mente na década de 30 m»s que *6
teve umn acolhida geral nos meados da década tle 60 The civUlziutr prr>-
*v j i, 2 v. {1976; Irrtd Hdmtind Jephcoit, v. I. The devtUtptnem ai irtmncrr
[19781. ir, Power and n rilily ÍI9 8 2 |).
27. .Wirir and lhe ttahirnl tf aríd, 50. 183.
28. Essas especulações psic.uulíticoí não sío tencionadas como apoios paru
imloccsnlenlamento. O hicinrtsalo: não é um juic moral, emboro não haja.
ornamente. nenhuma razio pela qual cie r i o deveria acolher n Jifusáo
de decêncin e hurnsnnUitlc. Mn», qualquer que seja o lugar apropriado do
historiador na imlognçSo ética, 6 sempre verdadeiro, «amo Thomns não
dei ta tlc observar, que « subltnsação pode fracassar, que a rnaluridude seja
menos atnienie do que a jnvcnmdc. A mndnnça m s atitudes inglesas cm
relnçio aos animais nf.o foi dc nenhumn maneira uma bênção despida dc
nmhigttidado. Autocontrole c preocupação com a sofrimento dos outros
exigiu que ac pagasse o set» preço através de itm certo estado do censura,
uma nrtedidn dc puritiutismo. que Charles Diifcens êrts Hlenk house chamou

187
»OCOqtnieiilc ilc fil.mliwpia tcle*c.ípioi * profusão dç ntcnyOcs caridosas
e pias para com trlhoc dittanto«, geralmrnlr indiferentes, cnquntito s* ne-
pliícr-ciavi; o pobre da «equina. Os psicanalistas só podem concordar:
Premi, que iã o era inimigo nem tin civili/açSo nem d.i sublimação das
pulsòce instiniuai*. acreditava firmemente que a cultura Ja classe média tio
século XIX havia Jc fato levado o seu *ulocouirole t- ascetismo vestia 1
até II ponto da doeiu.-« neurótica um argumento quo qualifiers no meu
Edticathnt nf the trim s.

29. Dennis H. Wrung. ‘The owiMcillÍMd conception of man in modem «o-


viologr“ (19611, cm Stcgllcul smkdogy »19761. 3I-4A, rvi 37. Ver tam­
bém o “PostScript 1973“ de Wrong c t> seu ensaio associado ''Human na­
ture and the perspectivo of sociology'' l 1963), ibhlrm, 47-34, 55-7<1. W iw g
auinaliMi uni pouco tris-tc? spue j primeiro J u te s ensaios, com o sm titulo
nlrstcnlc. chamou innis a atenção tin que qualquer coita qtle ele in escre­
veu. H» nlgunia razüo puni essa (setn dúvida irrílaniel ctcolhs: tt teu
artigo sobre n coacepqfio hipertocmlizadu do Itunicm i um corretivo aigni-
(icnlivo para lodo sociiMogo e historiador.
3(1 Ibidem. 36. 37.
31. Ibidem IS.
32. Trilling. Freud and lhe 1 HJ1I it/ out lulinrr ( I955), 36, 38-9,
33. Ibidem, 48, S2, J3-4. Ver Inmbini «r emaiu autobiográfico dc Mellnrd K
Spirn. “Tilllure mui hirmin nnlitrí”. am George D. Spindter (org.l, The
milling nl iisychologict:i uiitrnpolot.s I I978», 330-60. no quel. Spiro «lain
a sua sjr I i gr.nl mil dc um determinismo ciillnral tlojtmácico. em inala
entre os antropólogos. pura um determinismo muito maia sulil que ele
eneontrou ens Frcud, uni Jcicrmínismo que dá um papel proeminente e
na verdade indelével aos elementos permanentes n* natureza buima na. Pum
uma ilcscricio demolidora du deterntinumo que Spiro comeruiu topemr.
ver a dissesaçõo mfarmrda crnboiu um tinto vigorus.» do u.ih.ilho ite
campo dc Margaret Mcad feita por Dcrck Freeman tm M o rrem M eaf
nilrf Sunirkf Thr maliun uirif rarmuling nf nn atttbtopolngiced m yth (19B31.

34. Ao refletir sohrc a questão, o eminente MiOoriadoí da Anliguiduitc, Cheslet


Ci Starr, escreveu: “Quando se liga uma massa dc «vento« dc diferentes
lugares t épocas atrase, de um tecido conjuntivo de generalizarão, m singu
lanitnde destes avcnUrv históricos c desse ir.ndo limitada, pois li Rcncrrtli
nação sô i poasivcl ac pudermos esuhetccei a prevençn dc unta similaridade
válida" “Reflections upon ihc l*roblepi of Gencnilixuiion'', em Louts (inll
sdtalk (iirg), Gvnemtttatíoti in tire writing nj blilory (1963). 3.
3-V V«r D. W. AVtnntcoll. 'Transitional Objects and Troieinon.il Phenomena”
(1V3U, em Through potrhalriei io pjg.ehn-*molysn (1938: ed. 1975), 229-42
36 Ailhur MilJinnn, The Iron cage: An hisletrical interpretation nf Afuv W eber
(197U). Para um outro exemplo, pruriente, desse procedimento, ver Thrv
m v A Kohul. "Kaiser Wilhelm II aod hiv p a re n t' an inquiry into the

I XK
fnycliological root» of Oerntan policy towards linn land before i ic First
World War", em lolin C. G. Rohl « Nicolaus Somhart turps.), Kaiser
Withetm II. Mew interpretâtions (I9 8 Î), 63-89. Paru um esforço ainda
•nais ousado e asst ni mais vulnerável de deduzir » politic.« « i n n g t in it
partir da personalid sdc Jos político» que a governam, ver ludilh M. Hughe*,
/fin orion unit high politics: J‘crsotitil relation r lu larc niiwtecnlh-ceitmiy
firtiain tir.il Germany (198%) A questão i discutida dr forms acral por
John E. Mack. "Psychoanalysis and historical hw grafh'/', ). A nier. Pry
choonnl. A un. XIX (1971). M3-79.

37 Frettrl, "Selb»ld.ir*tellung: N.ichsrhrift 1935" (1934). G u a m n ie tle Werie.


XVI. 32; “An autobiographical studs; Postscript (1935)”, n l stand.. XX. 72

Capilulo 6
1. "Onde Freud Interpretou erroneamente Leonardo, c elc iidrnitc mais J r
lima vez cm seu livro quão eiprculativn era a sun tcntaliva, fm cm parte
porque ele tgnoron oil leti inadequadamente rertos falos As sous conclu-
sfies falsas n3o implicam que a teoria pskanalític.i esteja crnula; o livro
sobre Leonardo, uni hrilhnnte Jen tTesprit. nfin c um teste real para essa
scoria, que foi aplicada aqui dcfeitiH>».imcnic". Meyer Schapiro, "Lecwmrdo
and Freud: An Art-Historical Study", Journal t>( llie H illa ry of Ideas,
XVII, 2 (nbr 1956), 178. A critic* brilhante e respeitosa d? Schapiro
provocou uma réplica substanciosa, sic modo nlgtint impertinente apesar
etc GMXssIvimento tailU-YI (c usniiii eralin.r), Leonardo I/■■ Wrick fixycho-
a’tulytic note* on ihr enttfmu (1961) do psicanalista Kurt Ksslcr. Para
aima discussão lúcida sobre o artigo dc Frond, incluindo o desastre
»nilhnfre-abulre. ver a “Editor's Note" ao "I con inlu" cm Freud. etl. stand..
XI (1937), 59-62.
2. Ver Roger A. lofatsoil (org.). Psytkohlslory mui religion. Tht cose t>l
"Ynunx Man P ulha” (1977) que inclui. entre oulriw artigos, a resenha
cstcns.i c devastadora dc Roland Uainler. sobre u livro dc Erikson.
3. Assim Isaac Knnrick escreve, no prefácio ao *cu The m tt of Edmund
tlrirlc .- Porirult o/ an unihivafenr conservative (1977): “Será isliul.id.i oqui
H relação entre a lida, n personalidade c o pensamento social dc Burke"
II Bruce MazliUi, ao introduzir o seu Jivre i and John Stuart M ill: rather
m d sou In the nineteenth century (19751, fi, inside; “lolin SunrI Mill
não i tint paciente, e a psico-hfctitrii. c o m a praticamos. nSo deseja
tiuli-lo como tal". O leitor não pude *er culpado Jc ficar inmgioundo sc
essas intenções meritócias sío levadas até o rim. (Ver o meu Education
of lhe j tnset. ■165.}

4 Kcdiiçõo i “unta car30tcr1slicji inegável o freqilenle na história da ciínci»


moderna. Tém-se twins ns nizócs para supor que a redução continuará
a ter Mm Jogar nu fiiiuru". Ernest Nagel, The structure of science: Prtvhlernò
In the topic nf jrlentifle rrphnwfiim (1961), 33(*-7.

189
3. '£ conveniente nssinabu qiic a subredeternunação núa implica que o sintoma
ou o K>nho prcjicmse n um nin:cn* indefinido de interpretações." Mem.
cm relação a cvsii questão, que “a sobredcierminaçáo implique a ii.de
pendcndii. o paralelismo de diversas nan if ionqõe< pars tint incem« lenò-
mero". J. Laptundie c I. H Punluli*. Vocahulmrt ilc fg psytiioiuivte
(1967). 4«B.
6 . lincunliam-se aplicações detalhadas em 1'cter íiav. The b o erfn iu n p rriri<
c*: Vklt/riu to Fremi. y. I, education o i seitm 11984), c v. II. The lender
passion (19KA)

7. Coniunicaçfiu pessoal cm 15-10-198)

8. Ver acima, pp. 48-9. As resenhas lum n altiuuccuc elogiosas c extre-


mamente numerosas, tanto em revistas sobre estudo* clássicos como
historie.is. Mas enquanto os resonhistas de Dodris admiraram prodigamente
a sua obra-prima, revelaram pouco interesse em seguir, a seu exemplo
uni outro caso dc como n nossa profissão resiste & história psicannlíticu
mesmo quando algvfn) demonstra que ela rode ser bem-feita.
9. IMultl*. The grteky and lhe imitia not <1951). 1,
1(1. Pnru a formulação mais conhecida c n n u convincente ilcssn Icic. ver
Kurt Popper, Conjectures tuui rrfrnnttons- The growth o f sciennilc
klUiietfelgf <l% 2).

11. Dodds, Musing persons < 19-77J, 97S. Uni ano untes de sua autobiografia
ser public win. iIksu a reqvnln ila Fry nil qiw> "ele não via nenhiimn iniliitnili
cm comemorar forças irracionais ou para uru primítivismo que se furtaria
A dinléricn da civilização nlravãs ilu uUindono definitivo da civilização
Hlc não trabalhara nu enfermaria du mente tiumana para tomar o partido
da doença: não descera ao esgoto da natii-c/at humana para rolar nu quilo
que descobrir* alí". Dodds pertence n essn escola de pensamento.
•Introduction bretiti For the Marble Tablet", tttrggrvse IV. hignumri
Freud’s home and offices, K ln m IVJS ; The photographs of Ftlmand
till grim til; (I9?S), 4 |,

12. Dotld.*, The greekv Olid lhe Irrational 14, 17. 32, if , 44-5, 47.
13. Ihidcin, 76-8.

14. IhiJent. 213. 218. ver Prcud, "Preface to tlx fourth edition" (1920) Three
essays an sexuality, id . stood,. VL1, 124, e Croup pryshology arid the
analysis of the ego Í1921), «I stal’d , XVII1, 91

15. Dodd-, The precis and tht lirullar.ul. 114. 123. 193-4.
16. thiileni, 179.
17 Vcr Solomon, tterlfiarei i 11977), cspcc. its, 21-2. Pur a umu udnuruvcl
lenlaliva Je alcançar ns fontes da criatividade, ver Mary M tiedo, Fknsuo
A rt as autobiography (198ft)

190
18. Frederick C. Crews, T h r sins of I he father*, liens tin t nr \ piyehesiapical
themes <1966). 6 -in.

19. Assinalo entre iwilios, "retorno do recglcmlo", ‘deslocamentos." c “subli­


mações", ibidem. 17: ' inibição”. 24; "Centura". 25: "ansiedade", 34. ' pro­
teção". 46. ‘ego". 74; ‘ rcoilquc’’, 150.
20 Sins of the fathers não está bento de ctrus. A fluência do Cre'ss tentn-o
cons deduções precipitados. c n desprezar algumas pistas psicanalíticas.
A lent disso, cie revela um.v certo credulidade » respeito da cultura "eito-
rtíinii". A esposa de Hawthorne, .Sophia, não era nem tio angélica nem
lán asséptica quanto cie a fit/. parecer, non a cultura dos Hawthorne tão
falsa c puritana a lenda frcqUentemente repetida ric que as sersh-onts
americanas nem tina.vam as pernas de seus pianos com Kiinluis pequenas
e recatadns (uma lenda que ele aceita sem eontctliir [ver p. 14], revelou-Se
como um« lenda ou como um acidente único. Ver Cari N Dcglcr. "Wliat
«mgh lo be anti what was: Women’s sexuality in the nineteenth century ’,
el tn m a t it Historical It crisis', LXXIX, 5 (dcr, 1974), 1467-1490, e Peter
C a y , The huasgeois erperience: l*'tc/ivm to Freud. V. t, Education of
the senses (1984).

21. Ibidem, 10-1.


22. Ibidem. II.
23. Ibidem 16, 17-21». 24-26.
24. Ibidem. 29. 60. S I ,
25 Na ontem fbltlem. caps III. VI. VII IV V
26. findent raps. VI, VII. XII.
27 Ver Ibidem. 79
28 ibidem, 142. 153. lit». A história posterior tin relação dc Crews com
psicanálise 6 curiosa e pitta mint tun poucu Irisle. Vet adiante pp. 211-3.
29. A respeito da recepção do !im> tic Demos, ver nciimi. p. 32,
Sit. Demos, Unit stain mg Satan: Witchcraft and the cailrire of casts hietc
England 11982). 15. Só e precis« let *s livro de Demos após o ensaio
conciso e item-conhecido- tie H. K. Trevor-Rorer sobte I he ettmpean
witch-craze of the sltlccnth and seventeenth centuries" 'fitligioti, the
/Itfottiktlti/it and social change and other essays [1967], 9U-19Í) pur.i
reconhecer a vantagem da mentalidade psicatiaiflka cm explicar ,1 fenômeno
esqui vo da caça às bruxos. Trevor-Roper i na minírro sofisticado: ele
associa tt "brinari,i-iitaunidade" .■ rinncrovas c a u u i psicossociológicas
como a mi seria geral, urn nial-evtnr axial, a necessidade de fazer inimigos,
c reconhece que não era npcnns a tortura que eliçiav-.i aquelas confissões
horrendas, frequentemente obscena*. C o m as quais os qneimadorc* de bruxa*
etohoiuvani a sus acusação. Ele escreve com um sentido do que o eslutln
da psicopalologio pode contrthiiii paru Jitri compreensão dessas perse-

■ IV I
(uifúea. Ylns a prcce.io. a lume uprccnsáo da dinâmica inurna. que
caracteriza o estudo psieínulílicn de IVmui es li apenas vngamenlc pre­
sente, pemlmcntc ausente. na uai »prewrUflçío de Trevor-llopcr
31 J. Ilniintill, Vollaite historian 11958), -16; ver Peler Gay. 1 ht e/lKnhtenmem.
nn hUerprttarlon, v. II. Tlie Science nt Fretntoj» (1169). V93

32. l e Roy I uiliitic. Les povsans tie h in g u a /a c . 2 v. ( l‘Jfift). II, 399.


33. Hara nni.i breve ilesciM od.i escol.t ikm Armalrs t de seus du* fur.ilatUiici.
ver H. Smart lluylics. The oOurucleJ path. it emit social lliuugjil In 'hr
years oj dt.'fti ration 1PJ0-196S) ( 19 (8 ), cap 5. “"I he historians nod Ibe
■octal order", cspec pj> 44. (0.
34 Vcr acimn, p. 26
3$. Neste parágrafo e no proximo, eslou recorrendo a idem* e formnlajõcs
que apresentei tnicialnicnie alguns anta u n it etn A n n n tfm i: On causes
in history —- Manet (irvpsus. Mondritiit (19761, cspcc. 21-32.

36. Ibidem, 2.
Bibliografia

Par« cfcilCM Je clurcxn c conveniência, agrupei os titulo* rsesln bibliografia


por capítulos, nriolando. com poueas ftorções. «wln item nt» capitulo em qnr
cie npnrcccu pels primei m ver. Acrescentei jlgun* oultns liuilos in leres sanies
que não live n ciportiinialiule dc comentar no leslii Não ptcdso acresccnlar
que e«le rol não pretende set oonipletu

Capítulo I

AS NECESSIDADES SECRETAS DO COUAÇAO

N a literature rapidamente crescente que conical* FrouJ, tnnin c> Itomcm


como I sua ohm. o livro do Dasid L SOunnrd Shrinking history. On Freud
t r a i the Jallttre p{ gsrcJtohistnry (1980) merece uma a tenção particular, desde
que clt modelou a fornia dc pensar e falar «los Imtorijdore* sohre a psicuná-
lise enquanto disciplina muiliar. Bem udoquadn pela sua ecoftnmn de cxpies-
sús», fludneia de estilo « unta abstenção eritericssi de qualquer difamação
pessoal, o seu esforço para destruir ü criação do Fiend 6, eunludn. comprome­
tido pcl.i soa lendenctosidade FJe não é confiável nas suas tilaçOei dc lotto:
itssim. Starmar d cila umn pus'-agem substancial do inllurnlc filitsofo inglês
Gilbeil Ryle pura desacreditar «i inconsciente IrriKlinnu No seu livro engenhoso
rhe i v w w r>/ ntiiul (, 1949; o i port.. O contrito itr r.spínfo, Iraii. M. Luiza
Nunes, lúsboa. Montes. 1971»), Ryle ccrlatncnk: ulacou o ttudieiorud diiíillsmo
mcntc-corpo ao criliatr o que ele chamou *o «lopnt.i do Faatesmu n* M iqnin»'
Agorj. no apoiar-ae -ubtc c-ist critic.i, Stnnu.ii d explicitmuenle diz. que Rylc
“relerin-se à ideia pstennaHlica dc inconsciente', e inscreve Ryle como adepto
da sua própria cousa ao tcjciiar tudo aso corner unta ' abcrruçio lógica"
(ídannnrd. 55). Ccinludit Ryle não visava n concepção psicfiniilílka do incons­
ciente. nets o dusdisrno «lc Descartes. e de fato «lí d n m a l;tetid tie ’>i ur.ico
paicélcgo de Bè"'*»' iRyle. 324). um tributo que nSo >c espera a pnttír das
paginas de SliiniKird. Vovmnenle. Standard cila Hrtigoy t(wnú o r n iíúc longa
c simpaliuiisic de Atine IVir loot sobre o complexo de ft dip o it leferexe n c.e
como um “iralamenio hastnntc pcncpica/’ (Slannsrd. 172. n. 15) sem intc
grá-lo .i sua argiiitscni.icfio ou conlttr .tos vein kslorcs u que Paraon* dc falo
slinc. I>c novel, ao tentar itepir it pakanübe quiriquei base cientifica. stunraiJ
a |'V i-v m autoridade de (Icm te Klein, tem informar sos rent Icstore* que j
pai vi yam que ele cita no contexto original não r ato nenhuma forma uma
critica a Freud, ou que Klein cia um desuteado psicólogo freudiano IStíiiinuut,
p 137: ver George S. Klein. Ptrteplion, ntaiircs unJ /vrjaneiity í 1 9 7 0 ) Hão
ac pode esperar dac pigiiius Je Sl.snrard nenhuma tentativa equilibrada que
faya justiva às complexidades da pesquisa c expelitneniaqío psicsu.ilílic».
A rospeilo da controvérsia cm loenu tie Woodrovt Wilson, vct untes de
maw nndtt K-rvidrw* Wilson tini! ciAuiirl 7/tiiur u penim tlily Uuity (1956;
«ri. 19641 de Alexander L. George e Julicllc L. George. Os George são pre­
cavidos e um poucos cclfliu». e esquivam-se dchttcrmUmciur de usar i>rni>
lirpuiípcni técnica (ver p. 317) n que torna dilieil a identrfivr>qSo prcciia de
MJit Visio psJeamsJíttca; (Mhle-sc inferir que icmpcrnm a sou abordagem fresuliana
clássica com lima pitada dna iiléiax udlenanns sohrc coinpensncio dcvitlo a nm
sentimento de irsuicqiuivâs*. I) material molificinle que uprcscnlam poderm
permitir uma leitura psicuniililLn ntnis ntdical do que m| uel:i que eles fi7cram.
tiras cerlttmonic teria aumentado o risco ilc rejeição por puric ria insanidade
histórica O esforço dos historiadores cm rcluvão á catrcira problemática dc
Woodrow Wilson é itll.iincute cscLucvcdot. Áridos em negar qualquer «liologiu
psicológica pelo menus para s» fracassos porei «Intente nuro-mdtiriilo* p.sr Wil­
son quando era reitor da Pr inicion University e, mais tuteie, numa repetição
quase patética, como picsidenle doa Kstndcw Unidos, os m ik eminentes estu­
diosos de Wilson descobriram qsie era necessário carregur o hnmciii com umu
térte de derrames — copai se foste also niai* lopcitével para Wilson ler
cafrio cm des grava em conscqilfncin de tansas fisicus c não nienlaia. Ver Eds»in
A Weinstein, Janes William Anderson c Arlhut S. Link. “Woodrow Wilson’*
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tein expandiu a soa lose snbre ox del mines em um livro, h 'l.m /n u Wilson.
A metUcal .mri psschuiottlcai M ognpky ( 1981) que. a meu ver, não refers,a
muito o seu ponlo de vista. Vcr. nlcnt divsu. Juliette George. Michael F. Mxr-
tr.trr c Alexander L. George, "Research note Armies in Wilson scltolarship:
Rsifcrcnces to early ‘strokes’ in lhe papers of Wood.'ow Wilson”, com limn
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6 urn enoiio ctiidadosatnente pundcrailii c docum entée cm antropologia cultural
comparada que conclni que, apesar Ja natureza cm senti indircm ria prova
etnográfica, “a evidência rnaciï» ni« deixa margem para m uitas décida*. A
probabilidade c alto Je que «saa hipótese (o complexe de Fiiipo fremlian«),
incorporando diversos dos pressupostos cent n r s d» teoria psicanalitiea, seja
nproximadantente válida" íp. 185). Os seis nrligus que Seymour Fischer e
Kogcr P. Greenberg scleiionnnun para o seu livro eclético de leituras, The
scientific çrulituTtttn of Freud's theories and therapy (1978), dcliberaJaniente
feito para representar uni espectro de opiniões tendent n eontrxdizer-se entre
si, e a deixar a questão ent uhettn. Mus «tn seu ótimo exame. Fuel end
phantasy in freudian theory (1972; 2." cdH 1961). Paul Kline conclui que Itú
uniu evidencia muito forte para a tcotia. freudiana (c-pcciilrrcrlc o capítulo 6,
c pp. 290-5). O artigo espirituoso « penelruntc Je Han.» \V. Loewald. 'The
u inira o f the Oedipus complex'' (1979). em Papers ha ptvchoanalytiT (19X0).
pp ÍXc-404. é indispensável, tanto sobre o decrescente intéresse sobre o com­
plexo na profissão psicológica (injustificável) cotnn sobre o desenvolvimento
individual (dcsciúvcl), MdlforJ F Spin». Oedlpaus in the trobrinnds (1982)
4 uma. l-rilbanta rcfi,t»y»« da filrgv.-ûo A* M v lir a w .ti d e que a t lm)»ri:,n.jtetr«v
não revelam o complexo de ÈJipo
A questão Jo interesse privado merece um estante maior a partir de uma
perspectiva psicarnlititM do que o que já foi feito. Há, além du artigo tie
Hartmann sobre teoria psicsnalitica do ego. ci tudo nesta obra (p. ), Fdifh
lacúbson. The seif and the object -world (1964), que fax obscrvaçPei contun­
dentes, csprcúdricnlc pp. 75-93, 136-55 e 2(15-8 Ver Itmhém Mark Kuii-rer.
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The pnnsloiui nnd the Interests, political arguments for la/rt.ii'iTfi i t tore its
triumph (1977: cd. brut., As ftiixriei e us interesses. Rio de Janeiro. Pur c
Terra. 1979). Albert O. Hirschman mostrou que quando a idéia dc interesse
npaxccxii pel.t primeira ver. n i Renascença. foi vista como poderoso contrapeso
(te paisèc.-s humanas (Pane 1, “How lltc interests svxrc called upon to counteract
the passions"). Hirschman também demonstra quo a enicrgctlCÍA d l “vantagem
eeofiômic«'”. como o "núcleo do significado" ile interesses. resullo.de um desen-
vulvimrnlo rciallvamentc tant w; não c cunto Maqtiovcl ou Fspinoza usaram
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Capítulo 4

KAZAO, REALIDADE, PSICANÁLISE P O HISTORIADOR

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realidade ns*. representações mentais, vtr. stem dos títulos tic (iccrcc Devtrcu»
e Sandor Pcrcuczi citados no ttalo, os Jc David Berts < ndw orj D. loscph.
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M in i. v. XXIII, pp. 205-7; <<|, bras., I I M ,le peVfj/nntjt,1. v XXIII:
e uni Jo t srtijos maic imaginativos Je D. W. Winnieott. "The location of
eolluml esperien«?". Jm. J. PiythOmnet., v. I ll 11466». pp 768-72. G. R, Kllon,
The prurtku nj hiilnry (1967). confim algumas pastagens bastante (oMinfem
em clcícsa da habilidade do liittwiador para aprender n realidade Unia
posição sensata que não c cie im do nlgum compnrlilhatla universalmenle pelo
oficio histórico. A defies mais vigorava do pmpol desempenhado pela realidade
na nicnlc surge por patlc dos freudianos ortodoxos, críticos das idrins Ideiiiianos.
Vrr rspccialnccllc Ou» F. Kcrnlscrg, *A cunliibinicn lo the v-go-psychological
critique of lhe Kleinian School, Ini J. Pty choanal.. vol. I. (1969). pp J17-1J.
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P P. 55-70.

Capitulo 6

O PROGRAMA CM PRATICA

Já citei o magistral The g rcrks nm l tlie Irtallvntfl II9 5 II dc Dotldt, mas


quero cilá-lo dc novo aqui. A respeito dm resenhas cnlusiiNkrs. ver, entre
muitas cutuas, James A. Nowppulos, cm The Classknl Joirmul, s. LU (1952-
53), pp. 373-79; \V. Edwnrd Hmwn, Yuie Kteleie, v. X X X X I (1951-55), PP.
47-74; cu as referências a Dodrls em W. J. W. Kosler. i r in.vl/it de P intou.
At fcraltuinstra , i des Chnldéeni Pliitle crithinc rur Itsr relntions inlellerlnettes
entre P laton et rO tic n t. em htneinosyne. Supplemenmm I crtiram (19 51). As
Conferências de Wilcs de 1)inld ctu 1962-63, Puttm t and Cimivian ln age of
e m ticty (1965) são menos memoráveis mas mostram, novanicntc, quão pro-
(unJ.fflKn'e um cuud.snte seguro e soberba tucnte insvuido sobre o posando

■st i
pmle investigar com us irairunietiloi freudianos. A autobiografia concisa »k
Oodili M ia m g perrtvu ( 1977). é suplemento comover le A sua erudição
Na que dir. respeito a Frederick Crew? cm 1970. ele publicou itmtt aniu-
logia volumosa, Pj\chvuniii\sii mui Itleiary protêts. que ele inlroduïi.t umn
uniu ilcfeso enérgica tic Freud c a n in , ciKrc outros, » aipílulo confuso e indi­
ferente de Rere Wellek e Austin W nrtcr «Are "l iterature mui psychology"
(p. 8) da sun Theory of literature (1949; cJ. port.. Traria «At literatum, Irtid
lose Palin e Cnrmo. I.ishoa. PubHcuCtes F.mopu América. 19761. Não fat
menos severo com crilicos que "hiMtiutn-sc a unir nry.nn tennn convenci onitis
contrit Freud " (p. 71, mi nqirelcs que ofcrecctn apc nas titulações '*rctdciCM"
ntnilo «iperiki-u» sobre u controvetItdo IJamUt a n j Oetllptts, tic Kmcst Joncs
(p. I6n; ed bras. Hvmiel r a complexa tir fuilpa, trad Alvaro Cabrai. Ricr
de Janeiro. Zahar. 1970). Keconhccc prunlamcmc que “a aquistç;u> freudiana
e Má emaranhada cm unit tradiçfui cientifica cmb.iractrsHmcnlc descuidada*
(p. 17) c que os estudiosos paie,mit líricos de literatura tint reel ira Jt> ulgum
Irabathu problemático. AI ntl. ■ attaint, d e permanece firme e explicitemente tnn
"critico freudiano* (p. 17). I-'lc nSo randau de paduru durante anus. Eut unis,
coleçãc» agradável de e maios parcial menu- canfcssionus. dnlamlo de 1967 n
1975, Ont ot nty syttrnu r 19751. elc ratificou os seus ctnnpromis-sos want Frciitl,
embortt cors ni prunes — toliliierite raeoiveis reserves Fie qncslinnoit
que chaîna "relntivamcnle "ideológico*” enquanto opâslts » rcUtivnmcntc cic-ti
lifico co aao colocando obstáculos rua pertcrtmenio pcicttnulflion". Via problemas
na versão ipom lipticj de Norms n O. Broun sobre u psk.it nàlhc. Mus. mesmo
nesse último uriijjo, d e ittclni “redite liunittm and its disc on tenu" com Ioda n
sua prudência, sensibilidade e precauçâ» contre "os perigos do rcducionisnio1*
(p. 167), e déclara firmemente que es!à entre aqnelïs que acredtlam que "ex
princípios tin psicanálise frcudiiiiui podem ter aplicados iiiilinente A crítica lite­
rária" (p. 166). Devo assinalar que compartilho unalmcnlc estas ubjcçõcs.
tlificaIdades s picvuuçôcs. Então algo aconteceu. Em 198ü, Creses publierai
"Analysis terminable”, um assalto veemente contra h psicanálise enqtianlw tera-
pin nas páginas de Comettlory (julho), e. em FJtCJ. com ataques maiores t
mais violentui, Tire freudian nay of kriiwlcilgc". The New Crtieiloti (junho),
pp. 7-25. no qual ele calunin Freud, cliumnndo-o tie mentiroso, inononurnlaco,
maluco, viciado, e conclui que e)e tem u esperança de que unta nova geração
possa ser “cnpct? de entender m a is complet* me rite como. nn atmosfera moral
confusa de nosso século, chegamos a embriagar-nos com o insólita e cnm a.
delirias ainscqiicrics da pensamento freudiano (p. 241. tlncidcnlnlmcnlc c
rntiiln instrutivo 1er o aitigo de Henry |- Fllcnhcrgcr "The story of "Atui O
A critical review with new JttlV, JcNTiUtf of thr llitrar r a] thr flehatltoal
Science«, v. VIII, 3 tjul. 1972), pp. 267-79. no qual Crews recorte, mas que
nos conta tuna estfnin tact ante diferente, tnuilo menos am if reu (liana do que
aqttda que Ctews usa - ou abusa.) A única alusão de Crews an scu priipriii c
eJlcnv» patsttdo freudiano — "As peasants cacm p ro a s de encanlanunto, comv
ocorreu contigo uiesino'' (p. 24) — c dcnutsimbtnscnlc furlniltt para slat coula
tie mais de unm déçut!» c tncia de publicações conipniutclidas com a psic.mi-
lise. A estridência de « n s »tuques, it vigor de suas acusações, tt sua tendênciu
pui,« interpretar além do permitido - para não faliu n.ts suas interpretações
inadeqtiudi* — furem corn que sinta saudade da elegância e da racionalidjdr

212
presume tios escritos iniciais. Netn a iüa de Crews a Cart*»« desacredita o
sen Jr/ir o! lin' fathers ( 1966) mais do nuo o repúdio por Tolstoi ilc seen ira-
Ntlhus litcráriuv pode diminuir a estatura dç Guerra r Pai ou Je J uki k'arr-
rinu. A explorarão psícanalinra de Crows sabre « fieç&û de HnsviilO rr.e man­
ié™ o scu «liai de estudo por si só. t cnmo um« prova cm favor dî, psicanálise
aplicada. Não posso deixai de imaginar, contudo, como o Crews de I984 rese-
nliaria a f’-rews de 1966, 19711 ou 1975.
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