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I ·

NOBERTO M. BLEICHMAR
CELIA LEIBERMAN DE BLEICHMAR

com a colaboração de
SILVIA WILKINSKI

A PSICANÁLISE
DEPOIS DE
FREUD
TEORIA E CLÍNICA

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B646p Bleichmar, Noberto M.


A psicanálise depois de Freud/ Noberto M. Bleichmar e Celia PREFÁCIO:
Leiberman de Bleichmar; trad. Francisco Franke Settineri. -Porto i( _ Q_,, R. Horácio Etchegoyen
Alegre : Artes Médicas, 1992.

1. Psicanálise. L Bleichmar, Celia Leibcrman. 11. Titulo iíliCíi5'f.wi~1'L/UEPB


~úO::~-~'Ir_ \ _TRADUÇÃO:
J . - - - - . Francisco Fronke Settineri
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CDU 159. 964.2 D/-1íA,. wlk.,3:=_ ,- --~o.J-0 .
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COM l'•f'.A: ...

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Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB IO/ 1023
PRêÇO; - - · · - - - - ·
ISBN 85-7307-832-4

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sº· ,) 0'\
) rJ];)' Porto Alegre, 1992
a tarefa de escrevê-los. A licenciada Guadalupe Sánchez colaborou em uma
etapa de sua elaboração. Devemos muito, também, aos pacientes que tive-
mos a sorte de analisar. Os Drs. Hugo Bleichmar e Emilce Dío de Bleich-
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mar nos ajudaram, generosamente, no começo de nossa formação.
Silvia Wikinski, por sua vez, deseja dedicar o trabalho que realizou,
inestimável em todos os sentidos, como já dissemos, a seu esposo e-a seu filho.
Por último, queremos agradecer a nossos filhos, que nos deram a vita-
lidade e alegria necessárias para as horas de estudo e trabalho. Eles nos acom-
panharam com generosa paciência durante o tempo que dedicamos a este livro.
AS TEORIAS PSICANALÍTICAS
DEPOIS DE FREUD

A grande quantidade de teorias que atualmente existem em psicanáli-


se e a variedade de enfoques técnicos apresentam, simultaneamente, um pro-
blema epistemológico e prático. Examinaremos algumas idéias sobre a ques-
tão. Enumera-las-emos, com fins expositivos, sem supor que sua ordem de-
termine uma hierarquia conceptual.

1. Os conhecimentos psicanalíticos não formam um todo unificado,


mas um conjunto de teorias e afirmativas que têm diferentes níveis. O títu-
lo desta introdução procura enfatizar a pluralidade de perspectivas e redu-
zir, no possível, a idéia de coerência ou homogeneidade. Na obra de Freud,
pode-se aplicar o mesmo critério de diversidade, mas nosso interesse é nos
dedicarmos ao que se passou depois dele.

2. As idéias de Freud sofreram uma evolução que corresponde, esque-


maticamente, a três destinos diferentes.
.F a) Algumas subsistem quase sem modificações, e são o "núcleo forte"
9a disciplina: inconsciente, transferência, sexualidade infantil, complexo de
Edipo e as bases da técnica psicanalítica, regra da associação livre, abstinên-
cia por parte do analista, interpretação como o principal recurso terapêutico (1).
b) Outras foram reelaboradas. Produziu-se um deslizamento de senti-
do: embora conservem a tenninologia inicial, seu significado profundo mu-
dou qu, pelo menos, deslocou-se tanto, que tem pouca relação com o origi-
nal de Freud. O narcisismo pode exemplificar esta situação. Melanie Klein
e Lacan o utilizam, integrando-o em contextos teóricos diferentes, varian-

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~o.seu significado. Em Klein (1946, 1957), o mecanismo de identificação pro- abordados os mesmos fatos clínicos, a partir de referenciais diferentes, crian-
Jetiva e o sentimento de inveja são a base do narcisismo. Este provém de do-se um problema semântico. Em nossa opinião, não é uma solução ecléti-
uma motivação destrutiva; os objetos maus são colocados no objeto exter- ca pensar que há muita correspondência entre a teoria kleiniana da inveja
n_o e o se/f se identifica, narcisisticamente, com o objeto idealizado. O narci- e o desenvolvimento lacaniano do narcisismo, baseado na noção de estágio
sismo, então, é entendido como tanático e não como libidinal; esta autora do espelho. Melanie Klein sustentou, em seu clássico trabalho de 1957, que
hierarquiza· a idéia de uma motivação inconsciente no processo narcisista, a inveja é uma poderosa força mental, que explica o ataque agressivo con-
não acompanhando a noção freudiana do narcisismo como uma reordena- tra os objetos bons internos e Pxternos. Em outras palavras, odeia-se não
ção da economia libidinal ou como regressão a uma fase primitiva do desen- por frustração, mas por uma diferença, baseada na comparação estabeleci-
volvimento pulsional. da entre sujeito e objeto. Lacan propôs o estágio do espelho como uma fa-
Lacan (1949, 1966) reformula a metapsicologia de Freud, e, embora se estrutural do psiquismo, em que a comparação de sujeito e objeto leva
os termos se mantenham, as coisas também aqui mudam de sentido. O nar- à_assimilação identificatória do outro _e,_ simul~~neamente, ª'}-;des_ejo destru-
cisi~mo é conceituado em referência ao estágio do espelho e ao complexo tivo . Para este autor, a base da agress1v1dade e Justamente o·Heseio de man-
de Edipo; no primeiro, o bebfe se identifica com sua própria imagem refleti- ter a imagem narcisista em comparação com o outro.
da no espelho; no início do Edipo, identifica-se com o objeto do desejo da A simbiose também pode ser entendida a partir de uma concepção evo-
mãe, seu desejo é ser o desejo da mãe, isto é, o falo. Em ambos os casos, a lutiva, como é o caso de Margaret Mahler (1968), ou dos mecanismos de
identificação narcisista é estruturante e, ao mesmo tempo, estabelece a iden- identificação projetiva, segundo Melanie Klein e sua escola (1946). Outros
tificação do sujeito com um imaginário que o aliena. Assim, adquire sua autores, como Eleger, J. (1967), fazem-no com ambas as perspectivas simul-
identidade, que lhe provocará um desconhecimento crônico de si mesmo. taneamente.
Não cremos, como diz Lacan, que ele inaugure um retomo a Freud, mas Estes exemplos sublinham os problemas semânticos criados pelo desen-
um novo enfoque psicanalítico. volvimento teórico da psicanálise. Obrigam o analista a ser "poliglota" e
c) Finalmente, há idéias que Freud valorizava em alto grau e que, atual- efetuar a tarefa de retraduzir internamente os diferentes nomes que aludem,
mente, muitos analistas já não aceitam. Alguns discutem-nas criticamente a partir de uma teoria, a fatos que já são conhecidos de outra .
e outros, embora não o façam explicitamente, na prática não as levam em
consideração. Assim, a teoria clássica e a metapsicologia foram revisadas 4. A proliferação de teorias não nos deve preocupar. Se bem que tor-
por autores de diferentes escolas (Gill, M.N., 1976; Holt, R.R., 1981; Scha- ne complexo o campo de observação e teorização, também o enriquece. Is-
fer, J., 1976; Sandler, J., 1969, 1970; Meltzer, D., 1973; Klein, G., 1976), to.também ocorre em outras disciplinas e é produto do crescimento. Na físi-
em pontos muito importantes: a teoria da libido, a pulsão de morte, o mo- ca, por exemplo, a luz é considerada como uma onda, em relação a certos
delo de conflito baseado na luta entre pulsão e defesa ou a teoria freudiana problemas, e como uma partícula, em outros. Ambas as teorias poderiam,
da sexualidade feminina. Como bem o disse Mclntosh (1979), o dominante à primeira vista, ser contraditórias.
na atualidade seria uma espécie de revisionismo que é, ao mesmo tempo, '""-t.'
Alguns analistas estudam problemas clínicos, utilizando conhecimen-
não secessionista e respeitoso da essência da descoberta freudiana. tos de diferentes corpos teóricos da psicanálise e ainda outras disciplinas.
Um exemplo é o estudo de Dío de Bleichmar, E. (1981), sobre as fobias e
3. Bion (1963a, 1974) refletiu sobre o problema da grande quantidade temores nas crianças. Lucidamente, a autora comenta: "A proposta que sus-
de teorias que existem em psicanálise, com a metáfora da Torre de Babel, tento não é um 'vale tudo' ou uma espécie de integração apoia~a no volun-
e descreveu acertadamente o caos de linguagens teóricas e clínicas que usa- tarismo da união das idéias. Pelo contrário, procuro refletir, do interior de
mos. Em muitas circunstâncias, o mesmo fato é designado de maneira dife- cada posição teórica, o porquê de cada uma delas, apelando para uma coe-
rente . ã primeira fase da análise, Glover (1955) chama de transferências li- rência que não repouse n·a fidelidade a uma doutrina, de maneira a restrin-
vres e Meltzer (1967), recolhimento da transferência. Winnicott (1965) des- gir a experiência, de tal modo que os fenômenos não explicados fiquem de
creve a função do analista, de tolerar a ansiedade do paciente como uma fora, mas recorrendo a uma observação cuidadosa dos momentos de fratu-
sustentação (holding) e Bion (1963a) como continente. O conceito que dois ra, dos fracassos dos casos que não se conseguem interpretar satisfatoria-
psicólogos do ego utilizam, Zetzel (1956a) e Greenson (1967), de aliança te- mente" (pp. 11-12).
rapêutica ou aliança de trabalho, tem semelhança com o que Meltzer (1967!, '· Dupetit, S.(1984) pensa que, atualmente, existem certas tendências no-
um autor pós-kleiniano, chama de cooperação da parte adulta da personah- civas que perturbam a investigação psicanalítica. Entre elas, menciona a
dade na tarefa analítica . Como conclusão, pode-se dizer que estão sendo obediência dogmática a um autor e o agrupamento por escolas, a avidez

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d~ con~ecimento pouco sustentada no tempo e na experiência, e a reitera- 5. Uma maneira de nos situarmos, quanto às diferentes teorias psicana-
çao e h1perprodução de "descobertas". Considera, com razão, que muitas líticas, é pensá-las em relação aos grandes problemas que a psicanálise se
vezes falta verificar a hipótese, apelando-se para o barroquismo no discur- propôs, para compreender o psiquismo humano. Consideremos alguns dos
so, para causar impacto nos interlocutores (pp. 24-25). mais importantes.
Há diversas soluções epistemológicas para situar a psicanálise no con- a) Natureza versus cultura. Este problema esteve presente na teoria freu-
junto das ciências, assim como para assegurar sua coerência interna e a vali- diana desde sua origem, com a noção de trauma e sua posterior subordina-
dade de suas afirmativas. Junto com as críticas habituais do empirismo con- ção aos conflitos pulsionais da sexualidade infantil e à idéia de fantasias se-
tra a psicanálise, surgiu uma corrente amistosa para esta disciplina, que a xuais nas pacientes histéricas. Freud optou, com sua hipótese das séries com-
propõe como usuária de concepções positivistas do estilo de Popper. Ou- plementares, por uma solução que combinasse os elementos pulsionais com
tros enfoques (Ricoeur, 1965) consideram a psicanálise como uma ativida- as experiências da infância. A questão novamente se apresenta muitas ve-
de hermenêutica, de interpretação e revelação de sentidos sucessivos. Final- zes, ao examinar as teorias pós-freudianas. No extremo "natureza", que acen-
m~nte, há a~ueles que, como Guntrip (1967), a concebem como uma disci- tua a importância dos fatores constitucionais para o desenvolvimento psí-
plina que es'tuda o ser humano, com sua própria metodologia científica, quico, estaria a teoria kleiniana. Esta destaca a relevância dos componentes
não comparável completamente nem à tradição empirista nem às ciências agressivos do ser humano para a constituição do mundo interno e o equilí-
sociais. E um modelo epistemológico próprio à psicanálise, que investiga brio a alcançar entre os impulsos tanáticos e os libidinais, que propiciam o
de dentro da relação bi-pessoal entre paciente e analista. amor, a gratidão e a reparação, para integrar os objetos bons internos e ex-
Estamos acostumados a pensar que existem os fatos, por um lado, e a ternos. Melanie Klein admite a importância dos fatores reais, principalmen-
reflexão, que o observador faz sobre eles, por outro. Esta foi a aproximação te o vínculo emocional do bebê com sua mãe, como moderadores da ansie-
das ciências naturais com sua intenção de descobrir propriedades objetivas dade e para favorecer a instauração de um circuito benéfico, que estabele-
da matéria, em níveis cada vez mais profundos. Os trabalhos de Claude ça os objetos bons, internos e externos, necessários para a estabilidade men-
Bernard são um exemplo privilegiado desta atitude. Porém, a epistemologia tal. Categorias tais como a inveja e a tolerância à frustração relativizam o
tradicional é questionada. Outra vez, a física nos dá um exemplo: o estu- peso dos fatores ambientais. Alguns pós-kleinianos, como Bion, com sua
do das partículas subatômicas descobriu novas unidades, à medida que o teoria do continente-conteúdo, Bick (1968) e Meltzer (1975), com a identifi-
instrumento de observação mudou. Assim, desvanesceu-se a idéia de que cação adesiva, voltam a acentuar a importância da mãe real como neutrali-
deve-se procurar uma última partícula; muitos pensam que tal elemento não zadora das ansiedades do bebê.
existe e que novos métodos de observação "criam", dentro do. continuum A psicologia do ego e a teoria lacaniana também coincidem com Freud
da energia, agrupamentos especiais (Arden, 1985). A interpenetração inexo- e Klein, em aceitar um aspecto pulsional interno para a constituição do psi-
rável entre o fenômeno em estudo e os instrumentos que são usados, dimi- quismo. Não obstante, Lacan (1966), com um enfoque diferente, acentua
nui a esperança de encontrar o último "tijolo" do universo. · que a constituição do sujeito é excêntrica, a partir da linguagem e da cultu-
Em psicanálise, operou-se uma mudança semelhante, com a -idéia de ra. ·com seu gráfico L, define a identidade, a partir do imaginário do outro.
que o observador é parte constitutiva do campo de .estudo. Um d9s.grandes No extremo "cultura" do espectro, estão os autores que inclinam a ba-
progressos, neste ~tido, foi o uso da contra-transferência como instrumen- lança para a hierarquização dos fatores ambientais, para explicar a forma-
to técnicq,, e não itpenas como pert,urbação. ção da personalidade e a origem dos sintomas. Winnicott, com sua idéia
O~vemos indagar se uma téoria psicanalítica é um instrumento de ob- de."mãe sufiç,ientemente boa" e a importância do holding materno, que pos-
servação que define o campo em estudo. Não há dúvida de qp,e .c ada teoria sibilita a primeira diferenciação ego-não ego, estabelece uma seta unidirecio-
possibilita ollse:rvar alguns fa_tps e não outros. A experi~nçi~,qiniéa ta:nbém nal de fora para dentro, do ambiente para a criança. Nesta mesma linha,
nos permit~ supor_<4lle algumas teorias resolvem melhor cer,tos pr_Qbl~as. pode-se situar o pensamento de Kohut. Balint, Fairbairn e Mahler também
Freud passou do método da hipnqse ao da associação livre e ps1caQáhse, hi~~ quizam irnport~cia decisiva dos fatores externos, em especial as ca-
porque se achou em dificulda~es que imp~am ~a.mudan~a, c~mo o,.,re- radeásticas da personáliqade da mãe.
aparecimento do sintoma ou o caso dos su1e1tos nao influenciá~eIS pela. s~- b) O problema da,agressão. Está intimamente relacionado com o ante-
ges~Q. Preferimos algumas teorias a outras porque nos parecem, na práti- rior. Existem autores que, com diferentes fundamentos, sustentam a existên-
ca, supêriores. cia de uma agressividade intrínseca à constituição do sujeito, que é autôno-
ma nijQ redp Uvel ao conceito de frustração. Tampouco pode ser atribuí-
da exclusivamente ao tra ...ma. Aqui situamos Freud, Hartmann, Klein e La-

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'

( can. .Umd segundo


pel _ grupo de teonas· consi·dera que a agressão é provocada
a m~t equaçao do~ fatores ambientais. Winnicott, Mahler e Kohut são
blemas das origens, não deixa de surpreender a convicção com que cada au-
tor defende sua própria explicação genética. Assim, Melanie Klein propõe
antes desta lmha de pensamento; nota-se, neles, uma ênfase em re- a existência de um ego incipiente, desde o começo da vida, que possui rudi-
~oonar a agressão com as características reais do ambiente e as experiên- mentos de processos mentais e defesas que o protegem da ansiedade e que
oas traum' · a ti <:_as infanti~,
· tais
· como as perdas precoces ou a patologia dos pais.
se expressam em fantasias inconscientes primitivas. Anna Freud, Margaret
di c) ReJa_çoes ~e obJe~o p_recoces. [!m~ boa pa;te da psicanálise pós-freu- Mahler e Winnicott acreditam que existe uma primeira fase de narcisismo
ana en~atiza a 1mportanoa dos pnmeiros penados da vida (um a dois primáriq, com uma indiferenciação ego-não ego, produto da imaturidade
anos de_idade), para a estruturação da personalidade e, simultaneamente, biológica do bebê ao nascer. Um mesmo fato da vida adulta pode ser usa-
a _n~1~de de estudar estes processos precoces do bebê, incluídos na rela- do em apoio de uma ou outra teoria . A ênfase no aspecto genético também
çao d1adica com a mãe. Esta interação determina grande parte da vida men- pode ser percebida nos modelos que Rapaport (1967) utiliza, acerca do pen-
tal, destacando-se o aspecto emocional do vínculo. Os autores que se desta- samento e afetos, baseados nas idéias de Freud sobre a experiên_çia de satisfa-
cam nesta linha de pensamento são Klein e os pós-kleinianos, Mahler, Win- ção. Há um "realismo" que acentua o mito das origens; em ldgar de usá-lo
nicott, Kohut e Fairbaim. como uma metáfora, é tomado "ao pé da letra". 4
As hipóteses das diferentes teorias não se agrupam sempre da mesma Uma possível solução do problema, embora parcial, é renunciar à nos-
forma , o que pode fazer com que alguém prefira um aspecto de uma teoria sa possibilidade atual de comprovação das hipóteses genéticas, que deveriam 4
para um problema e outros pontos de uma teoria diferente, para a resolu- ser estudadas com enfoques interdisciplinares, limitando-nos às possibilida-
ção de outra questão. Para dar um exemplo, é adequada a ênfase dada por es inerentes ao método psicanalítico. Nosso objeto de conhecimento é o pa- 4
Winnicott à capacidade de sustentação e compreensão emocional da mãe. ciente na sessão analítica, com sua realidade psíquica acessível à nossa meto-
Esta preferência estaria apoiada pela observação clínica freqüente de patolo- dologia e estes são os únicos fatos que podemos comprovar, independente- <li
gias graves nos pais de doentes psicóticos e limítrofes. Simultaneamente, mente de sua gênese e de seu desenvolvimento anterior.
pode-se julgar incorreta a conceptualização que o mesmo autor faz da agres- 41
são, como resultado da frustração ambiental, o que leva, na clínica, a um 7. A adesão de um psicanalista a determinada teoria, em detrimento
ambientalismo exagerado. Então optaremos por outra teoria que ofereça de outra, deve-se a muitos fatores, alguns geográficos, como o meio em que
novas categorias para a explicação do mesmo fenômeno. Do mesmo modo, se forma e realiza sua prática; outros afetivos, como a filiação analítica,
pode-se concordar com o conceito de holding, na situação analítica que transferências pessoais e institucionais e posturas ideológicas ou filosóficas.
Winnicott elaborou, sem que isso nos leve a compartilhar sua idéia de regres- Não temos provas absolutas das vantagens de uma teoria sobre outras, além
são terapêutica . de nossas preferências pessoais. O psicanalista não possui, como no caso
Esta posição permite múltiplas combinações e, ao mesmo tempo, exi- do médico, a evidência empírica que incline a balança para um método de
ge o esforço de manter uma coerência entre a teoria e a técnica, entre o que tratamento e não para outro (2) .
se pensa e o que se faz, e entre as hipóteses básicas, dentro das pespectivas Nossa convicção pertence mais a uma área intuitiva ou da experiência,
que escolhemos. não quantificável, nem passível de ser verificada pelos meios habituais a ou-
tras disciplinas. No consultório, o analista está sozinho, a cargo de sua pró-
6. Um problema que apresenta divergências entre as teorias pós-freu- pria mente e, em boa parte, da do paciente, acompanhado interiormente,
dianas é o das hipóteses genéticas. Cada autor, que elabora um modelo ori- até certo ponto, por suas teorias e sua experiência analítica e de ~upervisão.
ginal, formula, a partir dele, uma hipótese genética. Muitas controvérsias Não se pode julgar ou aceitar uma teoria, como às vezes se faz, por
psicanalíticas têm esta questão co~o ponto de part~da. _As s~bre os um adepto em particular. Bion (1963b) e .Meltzer (1967) referiram-se a esta
primeiros processos do desenvolVImento mental nao sao venficaveIS p~a questão, destacando a distância que existe entre o que ocorre em uma ses-
o bseivação direta, nem por sua aplicação para compreender a patologia . são e o que o analista fala com seus colegas fora dela, ou escreve em suas
posterior, nem pelos resultados terapêuticos obtidos ao preferir uma ~- publicações científicas.
plicação genética sobr.e outras. Toma-se uma questão de fe ou de dogmatis- Diante da proliferação de teorias, costumam-se produzir duas posturas
m o . O pensamento baseado em con~ões ge~~tica~ lev? ao Cfl;'e ~ n n extremas. Uma seria o ecletismo, como respeito "político" ao narcisismo
(1964) agudamente denominou de falaoa genetica: mfenr, apnonstrcamen- alheio e ao próprio, com a conseqüente evitação da crítica ou discrepância.
te, q ue se encon~os tal estado em um adulto, isto repetirá uma etapa A outra é o problema do dogmatismo, a aceitação incondicional e sem criti-
;m teríor, de maneira direta e mecânica. Na leitura psicanalítica destes pro- ca da teoria que se sustenta. Neste caso, ameaça-nos o perigo de acreditá-

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la ao pé da letra e não considerá-la justamente como o que é: uma teoria canálise, com seus próprios conceitos, como o de narcisismo ou ansiedade
q~e, ao longo do tempo, se irá provando, com suas vantagens e suas limita- depressiva, pode fazer uma contribuição original à epistemologia, ao estu-
çoes. Freud foi um exemplo de atitude verdadeiramente científica: observe- dar causas emocionais que perturbam a racionalidade.
Guiados por nossa convicção de que é muito importante, para todo
se que, durante sua vida, criou sucessivamente duas teorias das pulsões
duas estudioso da psicanálise, conhecer os diversos esquemas referenciais que ne-
. _ d a angus
' tt· a, d ms
· mod eIos de aparelho psíquico e novas edições ou re-'
visoes sobre seus pontos de vista. la coexistem, organizamos na Associación Psicoanalítica Mexicana, sob os
auspícios da Comisión de Divulgación, dois ciclos de conferências sobre o
Chama a a~enção que sejam poucas as reformulações feitas pelos adep-
tema "Os modelos teóricos da psicanálise" . O primeiro se realizou em 1983,
tos de ~a teona, sobre suas próprias hipóteses. Geralmente, progride-se
com a ajuda dos Drs. Federico San Román, então Diretor de Divulgação,
por um sistema de aposição ou de descarte de conhecimentos.
Dificilmente uma teoria pode suportar a crítica, feita de dentro de outra. e Manuel Isaías López, Presidente. Participaram nesta apresentação e discus-
são das diferentes teorias psicanalíticas os Drs. J. Vives, V. M . Aiza, A .
P~demos ~mpre acusar cada teoria de esquecer ou não hierarquizar deter-
Mendizábal, H. Solís, M . l. López, A. Palacios, M. Salles, F. Cesarman e
rrunado prpblema . Rapaport (1967) e, depois, Gedo e Goldberg (1973) che-
os autores. O segundo ciclo de conferências, com uma temática similar, efe-
garam à mesma conclusão: não há teoria que possa resolver todos os problemas.
tuou-se em 1987, com a colaboração dos Drs. David López Garza, da Co-
A obra de Freud contém muitas mudanças teóricas, dada a heteroge-
missão de Divulgação e Marcelo Salles, Presidente da APM. Pudemos discu-
neidade e vastidão dos temas que abordou. É tão freudiana a preocupação
tir os fundamentos de cada escola psicanalítica, junto com os Drs. R. Par-
de Hartmann pelas funções egóicas como a de Klein a respeito dos objetos
res, F. Martínez Salazar, M . l. López, M. A. Dupont, J. C. PláeA. Santamaría.
intemalizados, ou a de Lacan, sobre a função da palavra . Podem-se citar
O ego e o id (1923), em apoio de Hartmann, Luto e melancolia (1917) pa-
8. As produções teóricas pós-freudianas podem se dividir em:
ra fundamentar Klein e várias passagens de A interpretação dos sonhos a) as teorias gerais, que propõem uma mudança conceptual mais ou
(1900), em favor de Lacan .
Temos que nos acostumar a pensar no ponto de vista a partir do qual menos radical;
b) os modelos que reformulam ou desenvolvem aspectos parciais do
se observa um fenômeno . Uma casa pode ser definida de várias maneiras:
sistema psicanalítico e que, portanto, não introduzem uma mudança em
de seu uso como lugar para viver, segundo sua localização geográfica, de
acordo com sua estrutura ou estilo arquitetônico. São níveis diferentes de suas idéias básicas;
c) finalmente, existem contribuições que designam de maneira diferen-
análise e enfoques operativos para certas funções. O problema crucial, em te fatos já conhecidos. Trata-se, então, de novas denominações, isto é, de
psicanálise, é que se deve optar por uma teoria e por uma técnica.
Na tarefa de estudar as dificuldades de uma teoria ou a zona de super- problemas semânticos.
Podemos estabelecer três grandes linhas no desenvolvimento da teoria
posição e contradição entre várias delas, o psicanalista "marginal", isto é,
psicanalítica, depois de Freud: os trabalhos de Melanie Klein, os de Lacan
aquele que não tem uma adesão completa a nenhum esquema referencial, e os de Hartmann. Estes autores introduzem uma mudança original, e os
pode ter um lugar interessante e útil. O criador de um modelo teórico está enfoques que propõem modificam os fundamentos da psicanálise clássica.
mais preocupado com a consolidação ou defesa de sua descoberta do que A psicologia do ego, desenvolvida por Hartmann, nas décadas de 40
em encontrar seus pontos fracos. Isto é totalmente compreensível. Os segui- e 50, teve várias metas, algumas ambiciosas, como o projeto de criar, a par-
dores, às vezes, são um tanto apressados na teoria original que aceitaram, tir da psicanálise, uma psicologia geral que integrasse aquela disciplina à
recusando as críticas ou as modificações. No grupo kleiniano, como bem psicologia acadêmica. Cremos que esta iniciativa não foi alcançada até ago-
destaca Me~ (1981), utilizou-se principalmente o conceito de identifica- ra, em boa parte por dificuldades metodológicas talvez invenáveis. Referi-
ção projetiva, durante trinta anos; apenas na dêcada de 70 foram aGtéscenta- mo-nos ao fato de que a psicanálise opera com seu próprio método, basea-
dos n ovos conhecimentos para a compreensão ,do material clínico. do na clinica da sessão analítica e que dela tira suas conclusões mais fecun-
Outro problema é o das "modas" psicanalíticas. São determinadas por das. Tal méto~o é difícl de compartilhar com investigadores de outras ciên-
vários fatores. Alguns deles escapam a este trabalho e à psicanálise em ge- cias ou com psicól0gos experimentais. Atualmente, a psicanálise é mais acei-
ral. Interessa-nos acentuar que, nestas modas, não apenas intervêm elemen- ta pela comunidade científica, mas talvez não melhor compreendida.
tos autenticamente epistemológicos, ou seja, que tal teoria se mostrou insa- A psicologia do ego ajudou a psicanálise a progredir, quanto à compre-
tisfatória para resolver certos problemas, mas também aspectos afeti:vos, ensão de importantes problemas, como o narcisismo (Hartmann, 1964), os
amiúde irracionais, e fatores políticos. Uma teoria pode ser usada para con- processos defensivos (Hartmann, 1964; Anna Freud, 1936; Kris, 1952), as-
_Huistar determinadas posições dentro do movimento . Por outro lado, a psi-
A Psicanálise depois de Freud / 31
30

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1 ~~os ~a técnica analítica (Kris, 1952; Zetzel, 1956a; Greenson, ·1967) e a
utihzaçao do modelo estrutural da segunda t6pica (Hartmann, 1964;. Arlow
e Brenner, 1964). Tratou-se de passar de uma psicologia do id, baseada no
por sua situação na estrutura interpessoal e ante a cultura. O falo, como sig-
nificante primordial, e a metáfora do nome do pai dão o lugar e a identidade.
Cada enfoque, em sua perspectiva, soluciona alguns problemas e dei-
•..,-
.,.,
es~do das pulsões, a uma psicologia do ego, enfatizando os aspectos da re- xa outros em aberto, ao mesmo tempo que apresenta dificuldades internas,
alidade externa e a adaptação do sujeito a ela. A idéia de autonomia primá- recebendo críticas externas.
ria e secundária de Hartmann quis mostrar os componentes do ego que não Os problemas que a teoria de Melanie Klein apresenta seriam, entre
se originam no conflito, nem ficam imersos nele. O preço que, em nossa outros, sua ênfase exagerada no ponto de vista genético, que a leva a conce-

.,
opinião, esta corrente teórica paga por suas intenções, é que diminui a im- ber toda fantasia do adulto como uma repetição do estado que o bebê atra-
portância do desejo humano e da fantasia. A psicologia do ego é, por assim vessou, nas primeiras etapas da vida; podemos levar em conta a descober-
dizer, hiper-realista, o que1limita a compreensão da complexa subjetivida- ta kleiniana, sem aceitar a linearidade do enfoque evolutivo de origem dar-
de humana e das motivações. Pressupõe uma realidade externa ao psiquis- winiana, que Melanie Klein tomou de Freud e Abraham . Outr9 aspecto que
mo, que é "objetiva", e uma adaptação "realista" a ela. Na clínica, o concei- pode suscitar problemas é o papel das pulsões de vida e de morte como de-
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to de adaptação tem o perigo de normativizar a decisão ou ponto de vista terminantes quase absolutos dos acontecimentos psíquicos, sem lhe dar um
do observador; além disso, é difícil sustentá-lo, a partir de uma perspecti- maior equilíbrio ou modulação recíproca com a influência da mãe ou do
va metapsicol6gica. ambiente. Quanto à técnica psicanalítica, deve-se assinalar o avanço alcan-

...-.
Para resumir, em breves palavr;,s, quais são, a nosso critério; as mu- çado por Klein em muitos aspectos. Ao insistir, para mencionar somente
danças conceptuais que vão de Freud a Melanie Klein, destacaremos as se- algumas idéias, na necessidade de analisar a transferência latente do mes-
guintes. mo modo que a explícita, e dar tanta importância à análise da transferência
Em primeiro lugar, a estrutura da mente é concebida como um siste- positiva quanto a da negativa, resolve muitos problemas clínicos.
ma de objetos internos produzidos por transações de relações objetais e da Lacan é outro dos grandes pensadores pós-freudianos e suas contribui-
fantasia inconsciente. Em segundo lugar, propõe um sistema de relações ções reformulam, com um alto nível de complexidade e sofisticação, os pró-
emocionais, reunidas nos conceitos de posição esquizo-paran6ide e depressi- prios fundamentos das categorias psicanalíticas. A incorporação da lingüís-
va, que organiza as atitudes, vínculos e, de maneira geral, todo o funciona- tica estruturalista, sobretudo de Saussure, e a antropologia estrutural lhe


mento psíquico. permitiram reconsiderar quase todos os aspectos da metapsicologia e da prá-
Com estas categorias, Klein sustenta que o conflito mental está basea- tica psicanalíticas. É uma obra formidável por sua envergadura, erudição e
do na luta de emoções e fantasias inconscientes com os objetos internos e

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originalidade. A teoria tem um alto nível de formalização, rigorismo e coe-
externos. É uma ótica diferente da noção clássica de conflito concebido co- rência interna. Gostaríamos de destacar, no entanto, que uma vez que se
mo luta entre a pulsão e a defesa. O enfoque kleiniano é personalístico, a supere o deslumbramento inicial e se estude desapaixonadamente a teoria
mente é um espaço onde "habitam'" objetos internos, à maneira das pesso- de Lac;an, não é nem mais coerente nem mais completa do que as demais.
as que vivem no mundo, ou dos atores que se movem em um cenário. Não obstante, resolve muito bem certos aspectos essenciais da psicanálise,
É oportuno mencionar, já que estamos comentando ·a1guns dos proble-
mas da teoria kleiniana, que existem, até o momento, três grandes enfoques
acerca da estrutura da mente: um, como o que Freud utilizou no capítulo
tais com9 o do narcisismo e a relação entre o sujeito e a cultura, fornecen-
do modelos apropriados para pensar a estrutura do inconsciente e a cone-
xão entre a base biológica, as representações psíquicas e o ambiente. Suas •
VII de A interpretação dos sonhos e, posteriormente, em O ego e o id, a
concebe com o modelo de um aparelho. Primeiro foi o modelo neµronal,
depois um telescópio e, finalmente, a estrutura tripartite do id, ego e mpere-
go, à maneira de uma vesícula.intercomunicante.
Ao segundo enfoque para criar modelos da mente, designaremos de
principais dificuldades têm a ver com a convicção de tomá-la como o úni-
co sistema psicanalítico aceitável, um déficit na conceptualizaçãp dos afetos
e as conseqüências técnicas, especialmentre o papel errado que, em nossa
opinião, dá à interrupção (escansão) da sessão. Cada tese de Lacan pode
'-
·. ser discutida, tanto no nível da disciplina externa à psicanálise que utiliza,
personalístico. É este que Melanie Klein utiliza. Destacam-se as relações de por exemplo, a lingüística ou a antropologia, como no pr.1priamente psica-
o bjeto, personalizando-as. Sua formulação mais desenvolvida é a teoria do nalítico. Lacan é um' extremo na polêmica ambiente-indivíduo, no sentido
m undo dos objetos internos. de que o lugar em que fica situado o sujeito é inapelável. Seu seminário so-
Finalmente, o enfoque de Lacan, que é posicional ou estruturalista. Pa- bre a carta roubada, o conto de Poe, é um exemplo de engenho e, ao mes-
ra este au tor, há um sistema relacional intersubjetivo que define o sujeito, mo tempo, de reducionismo. Bem se entende porque o significante, a carta,
ordena as posições de cada um dos par.t icipantes, porém não o problema

32 A Psicanálise depois de Freud / 33


da motivação, isto é, o que impulsiona cada personagem a ocupar um ou
outro sítio na estrutura. A teoria lacaniana, em sua perspectiva de um sujei-
to que se constitui de fora para dentro, não parece dar resposta a esta pergunta. 3
Melanie Klein propõe um sistema de amor e ódio, lutando dentro da
mente; Lacan define o homem como prisioneiro da estrutura que o determi-
na; a psicologia do ego descreve um ser humano que luta por se adaptar à
realidade, devendo, para tanto, encontrar um equilíbrio entre suas pulsões
e suas defesas. Talvez possamos dizer, usando-metáforas demasiado sim- HARTMANN E A PSICOLOGIA DO
ples, que o modelo da psicologia do ego é o de um organismo biológico, o
de Lacan é estruturalista e o de Klein, uma "ética" dos objetos internos. EGO. PROPOS'IR DE UMA
PSICOLOGIA GERAL.
NOTAS
O EGO FUNÇÃO. APRESEN'IRÇÃO
(1) Entre aqueles que seguem fielmente as idéias de Freud, estudando-as com precisão. podem ser
mencionados Avenburg R. (1981), Brudny G. (1980) e Carpinacci ).A. (1980).
(2) A Asociación Escuela Argentina de Psicoterapia para Graduados publicou, em 1985, um núme-
ro de sua revista sobre critérios de cura e objetivos terapêuticos, segundo as escolas psicanalíticas.
Nele podem ser lidas as diferenças notáveis que existem entre os diferentes autores.

1. Panorama geral
A psicologia do ego teve suas origens nos anos 30, e seu ápice nos 60,
nos Estados Unidos, país para o qual emigraram muitos analistas europeus,
devido à Segunda Guerra Mundial e à perseguição nazista .
Encabeçamos este capítulo com o nome de Hartmann, pois, sem dúvi-
da, ele foi o mais importante dos teóricos da psicologia do ego. Seguiremos
especialmente suas idéias, mas é imperativo dizer que assim se faz uma in-
justiça, já que é realmente notável a quantidade de pensadores que esta esco-
lha inclui. Seria uma tarefa impossível mencionar todos os nomes e idéias.
Pense-se, por exemplo, que o Psychoanalytic Study of the Child, onde a
psicologi13 do ego teve uma acentuada influência, tenha publicado, até o pre-
sente, mais de quarenta volumes. Nossa síntese procura respeitar o espírito
geral do grupo. Para ampliar seus conhecimentos, o leitor interessado po-
de consultar a primeira página de nossos comentários no próximo capítulo,
/ onde se incluem alguns nomes e obras.
Do ponto de vista teórico, os fundadores desta corrente, e Hartmann
principalmente, basearam-se nos últimos trabalhos de Freud, em particular
os reft:rentes à formulação da segunda tópica (estrutura tripartite da mente:
id-ego-superego) e se dedicaram a continuar tais teorizações.
Esta linha de trabalho obedeceu a duas categorias de motivações: uma,
de índole teórica, outra de tipo prático . O interesse teórico que os guiou foi
o de transformar a psicanálise, que até então se tinha dedicado a estudar o
conflito mental e os fenômenos inconscientes, em uma psicologia geral. Pa-

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